PETITAT, André. O Surgimento Dos Sistemas Escolares Estatais
PETITAT, André. O Surgimento Dos Sistemas Escolares Estatais
PETITAT, André. O Surgimento Dos Sistemas Escolares Estatais
DA ESCOLA
'
PRODUÇÃO
DA SOCIEDADE
Análise sócio- histórica de alguns
momentos decisivos da evolução
escolar no ocidente
mm Tradu çã o:
EU NICE GRUMAN
edi ção:
Consultoria , supervisão e revisã o t écnica desta
TOMAZ TA DEU DA SILVA
B
ir.
P489 p Petitat, André
iilh
- -
Produçã o da cscola / produ çã o da sociedade: an á lise sócio histó ri
ca de alguns momentos decisivos da evoluçã o escolar no ocidente /
André Petitat ; trad . Eunice Gruman.
1994.
—
Porto Alegre : Artes Médicas,
5
medicina . Paralelamente, as parteiras autodidatas passam a ver exigida uma certa baga -
gem teó rica . Cf . HUARD, P, "O ensino m édico-cirú rgico", em TATON, R., (ed ), Ensino e
Difusão das Ciências na França do S éculo X V I I I , Paris, Herman, 1964, pp. 194 a 203.
33. LEON, A ., " Uma forma típica de ensino técnico no final do século XVIII: as escolas de
desenho", no Boletim do C.E.R.P., 1963, XII, n° 1, pp. 67 a 79, e também BIREMBAUT, A .,
" As escolas gratuitas de desenho ”, cm TATON, R., Ensino e Difusão das Ciências na Fran ça
do S éculo X V I I I , op. cit ., pp. 441 a 476.
34 . Moreau de la Rochette vai buscar seus 24 primeiros alunos no Orfanato da Piedade, em
Paris. Em seguida, sã o mais 50 meninos abandonados que tomam o rumo da sua escola . O surgimento dos sistemas
Quando esta foi suprimida em 1780, havia formado "400 jovens que dela saíram na
qualidade de bons jardineiros, plantadores e desenhistas de jardins" ( BUISSON, 1% Dici
onário de Pedagogia , op. cit ., verbete "Moreau de la Rochette").
- escolares estatais: premissas
35.
que n ã o sobreviveu à Revolu ção
-
O cavalheiro Paulet preocupa se com a educa çã o dos órf ãos de militares. Sua escola
— —
formou cirurgiões, escultores, alfaiates, sapateiros,
marcineiros e alguns outros artesãos. Parece ter sido uma das primeiras escolas a aplicar
e contradições
sistematicamente o ensino m ú tuo, no qual alunos monitores instruem os colegas mais
novos sob a orienta çã o do professor, o que já acontecia na França do século XVIII, porém
de forma parcial e limitada . Sabe-se que este método, importado da Inglaterra no prin-
cí pio do século XIX (conhecido como monitorial systern, de Bell, ou mé todo lancasteriano,
de l.ancaster ), confere ao ensino uma postura r ígida e mecâ nica. Acerca deste ponto, um Nb Antigo Regime, o Estado, a princí pio, domina o ensino (através de
artigo de Pictet de Rochemont, publicado no Jornal de Genebra de 5 de janeiro de 1788, autoriza ções para a abertura de escolas, cartas-patentes, etc.), mas nã o chega a
fornece alguns detalhes interessantes: um dos alunos monta guarda diante do estabeleci - formar um corpo administrativo permanente encarregado de exercer plenamente
mento; os alunos podem obter cargos de oficiais e de suboficiais; eles próprios exercem as suas prerrogativas. Se a soberania teórica do Estado é incontestá vel, na rea -
-
a justi ça com base em regulamento, e dedicam se a exerc ícios militares: "Encontramos
todos os alunos em posi ção de sentido, em um alinhamento, imobilidade e silê ncio per-
feitos."
lidade sã o outras entidades
ensino.
— principalmente religiosas — que gerenciam o
Os filhos de nobres são "privilegiados para os estudos. Os filhos do povo, que são Esta espécie de divisã o de poderes entre Estados e Igrejas irá desintegrar-
destinados a um of ício mecâ nico, n ã o aprendem mais do que a ler, escrever e contar". se rapidamente nos séculos XVIII e XIX. As medidas contra os jesu ítas revelam
Todavia, quando Paulet descobre um talento excepcional, encoraja o aluno plebeu a per- as novas ambições do Estado nesta á rea . R ússia (1719), Portugal (1759), França
severar para al é m deste programa m í nimo. (1762) e Espanha (1764) expulsam, cada um por sua vez, a Companhia de Jesus.
36. -
A Escola de Rochefoucault-l .iancourt destina se também aos ó rf ã os de militares. Em 1790, Na França , La Chalotais justifica esta medida com palavras que traduzem bem
ela conta com 130 alunos que se iniciam em diversos of ícios. Sobreviveu à Revolu çã o e os sentimentos da é poca: "O ensino das leis divinas é assunto da Igreja, mas o
-
transformou se cm Escola dc Artes e Of ícios, a primeira da Fran ça, oferecendo uma pre-
para çã o completa para diversas profissões. ensino da moral é atributo do Estado. (...) Como se pode ter pensado que
37. A estes estabelecimentos é conveniente acrescentar o pensionato dos lassalistas em St . homens que n ã o sã o vinculados ao Estado, que estã o acostumados a colocar um
Sulpice. G. Martin assinala, ainda no século XVIII, duas escolas de fiaçã o em Aumale e religioso acima do chefe de Estado (...) seriam capazes de educar e de instruir
em Bayeux , assim como uma escola de relojoaria em Bourg (1750-1776 ). MARTIN, G., A a juventude de um reino? (...) Assim, o ensino de toda a naçã o, esta porçã o da
Grande Ind ú stria na França sob Luiz XV, Paris, Thorin, 1900, pp. 187 a 192. II . Chisick legislaçã o que é a base e o fundamento dos Estados, permanece sob a direçã o
contabilizou ainda outras. CHISICK, IT , "Institutional Innovation in Popular Education in imediata de um regime cujo centro se encontra para além dos Alpes, necessa -
Eighteenth Century France: Two Examples", em Frendi Historical Studies, vol. X, nG 1,
primavera de 1977, pp. 41 a 73. riamente inimigo das nossas leis. Que inconsequ ência e que escâ ndalo."1
38. Cf . MARTIN, G., op. cit ., pp. 174 a 185, e DA UM AS, M., op . cit ., t. I, p. V. Quase todos os fil ósofos franceses compartilham desta posição, mesmo
39. Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências , Jas Artes e dos Ofícios, 35 vol ., 1750-1780, quando divergem da política educacional a seguir: Voltaire, Diderot, d ' Holbach,
verbete "Arte", ( D. Diderot ). d ' Alcmbert, Condorcet, Rousseau, os fisiocratas e ainda muitos outros.2 Na
40. D' ALEMBERT, Discurso Prcelitninar, na Enciclopédia..., op. cit ., t. I, p . V. Á ustria, Maria Teresa toma as rédeas da instru çã o p ú blica após a expulsã o dos
41. .
Ibid., p VI. jesu ítas (1773). Sua obra, que inclui a instru çã o primá ria obrigató ria, foi consoli-
42. DA UM AS, M ., Flist ória Geral das Técnicas , Paris, PUF, 1964, p. XVII.
43. Esta invençã o é consequ ência das pesquisas acerca da temperatura (Fahrenheit, Réaumur ), dada por José II, o imperador filósofo. Na Pr ússia, cm alguns pequenos Estados
da pressã o e do vácuo (Torricelli , Otto de Guericke), da elasticidade e compressibilidade alem ães, na Dinamarca , na Su écia e na Noruega, são realizadas tentativas no
dos gases (Mariottc e Boyle). Denis Papin foi assistente de Huyghcns c colaborou com R . mesmo sentido. Em Portugal, após a expulsã o dos jesu ítas, o ministro Pombal
Boyle; Savery inspirou-se nas descobertas de E. Somerset; enquanto que o relojoeiro Watt cria uma direçã o geral dos estudos clássicos e abre escolas prim á rias p ú blicas.
fabricou e consertou instrumentos de f ísica para a Universidade de Glasgow. Este exemplo Uma grande parte da Europa encontra -se engajada nesta corrente de pensamen-
é significativo, e anuncia novas relações entre conhecimentos e atividades produtivas; to e de reforma, da qual designaremos rapidamente as ra ízes e as principais
rela ções profunda mente diferentes das que ainda dominam as corporações.
44. Cf . 2 - parte, capí tulo II. caracter ísticas.
45. Enciclopédia..., op. cit ., verbete "Arte". Em primeiro lugar, a estatizaçã o da escola é indissociá vel do movimento
secular de emergência dos Estados- Na ções, que desabrocha nos séculos XVIII e
XIX. J á no século XVI, J. Bodin deseja que a soberania n ão partilhada do Estado
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146 / André Petilat Produ ção da Escola — Produção da Sociedade / 147
dominante no século XIX. A histó ria da escola p ú blica elementar fomece- nos populares, um buscando a submissã o passiva, outro propondo uma integra çã o
um exemplo esclarecedor. mais ativa , com a perspectiva de um certo espa ço pol í tico e a esperan ça de
Paradoxal mente, por razões de reproduçã o econ ó mica e ideológica , a revo - mobilidade social.
-
luçã o industrial em regime de laisser -faire implica um sistema de ensino estatal.
A ascensã o dos Estados-Na ções e a tend ê ncia à seculariza çã o da vida social se
-
A quarta contradiçã o refere se à redefiniçã o social e cultural do secund á
rio. Temas como a tradu çã o escolar da cultura moderna e científica, as divisões
constituem em duas outras condições favorá veis à designação do Estado como institucionais a realizar, as distinções em rela çã o ao ensino clássico, a moderni-
instâ ncia educativa . za çã o destes ú ltimos, sã o objeto de amplos debates e conflitos. A redefini ção
A possante renovaçã o do pensamento pedagógico na segunda metade do cultural da elite está em jogo. As violentas críticas aos colégios clássicos no
século XVIII está impregnada pela ideia de Estado. A estatização supõe uma século XVIII anunciam estas lutas que sobreviriam.
certa centraliza çã o e uma abordagem global dos problemas educativos. Bom A quinta contradição vincula -se à articula ção entre o secund á rio e a escola
n ú mero dos planos de reforma formulam proposições de instrução p ú blica abar
cando todos os graus do ensino. Esta abordagem globalizante se opõe às abor-
- prim á ria. E missã o desta ú ltima preparar o acesso para o segundo grau , ou ter
(como instruir e moralizar o povo )? Este quinto ponto
á
finalidades próprias
dagens parciais do Antigo Regime que refletem a dispersã o das inst â ncias conflituado confirma em parte os outros e ilustra a indissociabilidade da seleçã o
educativas. As preocupações propriamente pedagógicas, culturais e religiosas do dos conteúdos escolares e dos indiv íduos escolarizados. Dois pólos tornam se -
passado cedem lugar para inten ções mais ambiciosas, reflexões de conjunto sobre n ítidos desde o século XVIII: um prega a escola ú nica (corrente babovista ),
o futuro da nação, nas suas dimensões pol ítica, social e económica. Ao Estado outro a manutençã o de duas redes distintas de escolas primá rias, uma encerran-
educador é confiado um papel regenerador, civilizador e moralizador. Diderot do um ciclo e outra servindo de prepara ção para os estudos cl á ssicos. Entre
espera in ú meros benef ícios da difusã o geral das Luzes.26 Helvetius liga a adoçã o estas duas posições extremadas, o século XVIII fervilha de teorias intermediá ri-
de uma verdadeira instru ção p ú blica a uma mudança de regime.27 Condorcet as. Diderot, por exemplo, propõe um ensino prim á rio p ú blico, laico, gratuito e
eleva o debate ao nível do progresso geral das civilizações. obrigatório. Em seu espírito, o acesso ao secund á rio baseia-se somente no suces-
Esta globalizaçã o dos problemas do ensino, a ê nfase nas rela ções entre so escolar, com um sistema de bolsas permitindo às crianças pobres mais bri -
instrução p ú blica e os aspectos sócio- pol í ticos e económicos da na çã o antecipam lhantes o prosseguimento dos estudos. Diderot imagina um sistema escolar
uma transforma çã o capital trazida pela estatiza çã o: a modifica çã o em profundi- hierarquizado, no qual a seleção dos indiv íduos pretende ser independente das
dade da própria din â mica das reformas escolares, focalizando as interven ções desigualdades de fortuna e de nascimento. Muitos outros o acompanharã o
28
pol í ticas ao n ível do Estado central. O Estado deve pronunciar-se acerca dos neste projeto de igualar as oportunidades escolares para indiv íduos com iguais
programas e dos mé todos, sobre os tipos de estabelecimentos e suas rela ções capacidades.
com a divisã o do trabalho. E sua obriga çã o legitimar escolhas sobre as quais
tem inteira responsabilidade. Políticas educacionais gerais sã o elaboradas; parti-
Juntamente com a segunda metade do século XVIII, entramos eni um novo
per íodo da histó ria do ensino, sob o signo do Estado. Contudo, as rupturas que
dos, igrejas e grupos de pressã o diversos medem suas forças permanentemente a intervenção estatal ativa ocasionam nã o perturbam o conjunto da estrutura
a respeito destas questões. escolar. Os Estados educadores sã o herdeiros do dualismo escolar do Antigo
A partir do final do século XVIII, as grandes linhas contraditórias que Regime. O ensino prim á rio p ú blico apresenta-se basicamente como uma instru-
dominarã o os choques e os debates no século XIX já se encontram determina - çã o moralizadora para o povo, e o ensino secund á rio e superior como uma
das. Elas referem -se diretamente à definiçã o da escola como articula çã o formaçã o para a elite. Sem d ú vida, este esquema vir á a complicar-se, mas sua
selecionadora entre grupos sociais e conteúdos escolares diferenciados. continuidade em relação ao Antigo Regime é evidente. A articulaçã o escolar
A primeira contradiçã o refere-se à pró pria definiçã o do poder escolar, à p ú blica entre culturas e grupos sociais torna -se dualista, tanto nos fatos reais
designa ção das instâ ncias que presidirã o à seleçã o da cultura e dos p ú blicos quanto no esp í rito dos principais protagonistas das reformas.
escolares. As sociedades religiosas evidentemente recusam-se a se deixar despo- Esta persist ência de uma caraeter ística antiga comanda a organiza ção dos
jar de suas prerrogativas. Uma vez estabelecida a estatiza çã o, a questã o ressurge cap í tulos seguintes. O cap ítulo seis dedica -se a estudar a generaliza çã o da alfa -
sob outras formas: liberdade de ensino opondo-se a monopólio do Estado, ba - betiza çã o entre as classes populares. Procura descrever as rela ções, pouco a
talhas a favor e contra as subven ções p ú blicas às escolas privadas, etc. No pouco institucionalizadas pelo Estado, entre uma cultura escrita elementar e o
século XVIII, a expulsã o dos jesu í tas de diversos pa íses representa o episódio " povo". No século XIX, a cultura escolar para o povo se apresenta como uma
principal desta luta . , cultura de depend ê ncia, de coloniza çã o interior, como um projeto de integra çã o
A segunda contradiçã o confirma a primeira e se articula em torno da ideológica e pol ítica . Ela inclui duas definições irreconciliá veis: uma que se situa
definiçã o dos conte ú dos morais do ensino. Os defensores das morais religiosas, no prolongamento da antiga sociedade de ordens ( Deus, rei, família , respeito
agrupados em volta das igrejas, opõem -se ao movimento crescente que pede
uma moral natural, liberada das cren ças particulares. No século XVIII, as per-
pelas distinções sociais, enfraquecimento do Estado, autoridade de direito divi-,
no), e outra que se inspira no ideal laico e republicano (sociedade republicana
seguições e os processos contra diversos autores constituem as preliminares de autoridade do Estado, ciência, família, pá tria , esperan ça de mobilidade, Estado
um enfrentamento muito mais vasto. educador ). Por fim , desde a segunda metade do século XIX, as correntes soci-
A terceira contradiçã o vincula-se à extensã o do ensino primá rio. No século alistas passam a definir uma terceira via , que se afirma, enquanto que a primei-
XVIII, ainda existe uma corrente retrógrada de pensamento que procura excluir ra se esfuma. A definição de uma nova cultura para o povo e de uma nova
da alfabetiza çã o as camadas mais carentes, tanto da cidade quanto do campo.
Esta corrente reduz-se no século XIX, retornando com posições menos radicais: -
articula çã o sócio cultural (estudo gratuito, laico, obrigatório e estatal ) traduz bem
a indissociabilidade dos processos de produ çã o e de reprodu çã o sociais por
recusa o ensino gratuito, nega-se a enriquecer o programa das escolas prim á ri-
as... Por tr á s destes conflitos, opõem-se dois modelos de integraçã o
das classes
meio da escola: produ çã o de uma nova cultura
da moda, de um novo paradigma s
" ó cio- ——
cultural"
ou, para empregar um termo
e reprodução da domina-
148 / Atuiré Petitat Produção da Escola — Produção da Sociedade / 149
çã o das classes burguesas. Este per íodo també m demonstra a permeabilidade 12. J á em J. I .ocke descobrimos uma subordinaçã o da liberdade à propriedade privada ; cf .
dos educadores aos conflitos sociais e às ideologias. VACHET, A, A Ideologia Liberal, Paris, Anthropos, 1970, pp. 500 a 504. Mercier de la
O capí tulo sétimo refere-se a um aspecto particular do ensino secund á rio. Rivière é muito expl ícito neste ponto: " A liberdade social se encontra naturalmente cir-
No princí pio do século XVIII, abstra ídas algumas exceções, não se encontra cunscrita dentro do direito de propriedade. (...) Atacar a propriedade é atacar a liberdade
(...), alterar a liberdade é alterar a propriedade". MERCIER DE LA RIVI ÈRE, A Ordem...,
nada entre as escolas elementares e os colégios clá ssicos. Incentivada pela in - op. cit., p. 615.
dustrializa çã o, esta zona intermediá ria irá pouco a pouco ser preenchida com 13. LE TROSNE, Ordem Social , p. 25, citado por VACHET, A., op. cit ., p. 328.
diversas instituições. Trata -se de um solo f é rtil para o desenvolvimento de uma 14. DUPONT DE NEMOURS, op. cit ., p. 363.
nova cultura escolar, centralizada nas l ínguas modernas, nas ciências ''puras" e 15. QUESNAY, Fr O Direito Natural , em DAIRE, E., op. cit ., p. 54.
aplicadas. Este novo campo se organiza a partir de determinados cortes e ajus- 16. Ibid ., p. 53.
17. MERCIER DE LA RIVI ÈRE, Da Instrução P ública , Obra Encomendada pelo Rei da Su écia ,
tes cuja lógica social e articula çã o com os grupos sociais esforço- me por desta- Paris, Didot O Primogénito, 1775, p. 62.
car. 18. Abade BAUDEAU, Primeira Introdução à Filosofia Económica ou Análise dos Estados Civiliza -
O exame deste per íodo põe a nu as fragilidades da an á lise funciona lista, dos, em DAIRE, E., op. cit., pp. 781 e 782.
uma vez que esta nova cultura e suas subdivisões nã o sã o mais do que efeitos 19. SMTrH, A, Pesquisas Acerca da Natureza e Causas da Riqueza das Nações , reimpressão de
da revolu çã o industrial. Podemos observar as classes dirigentes procurando 1843, Zeller, Osnabríick, 1966, t . II, p. 443.
preservar as suas posições, discordando a respeito de sua própria definiçã o 20. Ibid ., p. 442.
21. SAY, J. B., Catecismo de Economia Política, em Obras Diversas, Paris, Guillaumin & Cia ., 1848,
cultural, esforçando-se por se adaptar a transforma ções sócio- históricas impos- pp. 100 e 101.
síveis de ser controladas. A cultura escolar moderna diferenciada é uma produ
çã o que contribui para criar novas distinções sociais, ao mesmo tempo em que
- 22. M1LL, J . $., Princí pios de Economia Pol ítica (1848), Paris, Guillaumin & Cia. 1873, t . II, p.
529.
reforça as classes dominantes em suas posições. Também aqui, produ çã o e re- 23. C. Dunoyer parece ser a exceçã o à regra. Intransigente partidá rio do laisser-faire, ele chega
produçã o parecem indissoluvelmente unidas dentro do processo hist órico. a colocar ern d úvida a utilidade do ensino prim á rio estatal. Dentro de um obscurantismo
de tradi çã o voltairiana, ele vê na ignorância a melhor garantia da ordem social. Segundo
ele, é preciso "deixar o progresso de sua (das fam ílias pobres ) educação subordinar- se ao
progresso de sua riqueza", cm lugar de colocar-lhes obrigatoriamente "em comunicação
Notas de referência com essa mistura de bons e maus sentimentos que a imprensa não cessa de gerar ". Cf .
DUNOYER, C, Da Uberdade do Trabalho, 1845, cm Obras, Paris, Guillaumin & Cia ., s.d ., t.
1. CARADEUC DE LA CH A LOTAIS, L. R . de, Ensaio de Educação Nacional ou Plano de Estudos II, p. 402.
para a Juventude, Genebra, C. e A. Philibert, 1763, pp. 17 a 19. 24. MILL, J S., Princí pios..., op. cit ., p. 315.
2. Cf. TR É NARD, L., "Ensino e instrução cívica na França de 1762 a 1799", em Atas do 25. Ibid ., p. 524.
Colóquio Internacional das Luzes . Modelos e instrumentos para a reflexão pol í tica no S éculo das 26. "A ignor â ncia é atributo do escravo e do selvagem . A instru ção confere dignidade ao
homem, c o escravo nã o tarda a perceber que nasceu para a servid ão. (...) A instruçã o
Luzes , Lille, Public, da Univ. de Lille, 1977, pp. 401 a 407; DOLLE, J . M., Política e Peda
gogia , Didcrot e os Problemas da Educação, Paris, J . Vrin, 1973, pp. 13 a 31; MARONGI Ú, A .,
*
- suaviza os carateres, esclarece acerca dos deveres, toma os vícios mais sutis, sufoca -os ou
Stato e Scuola, Milã o, A . Giuffré Ed ., 1974, pp. 319 a 325. os vela, inspira arnor pela ordem, pela justiça e pela virtude", DIDEROT, D., Plano de uma
3. "Que cargo se poderia qualificar de p ú blico nesta Cidade, se recusarmos o título a este? Universidade para o Governo da R ússia (1755-1776), em Obras Completas , Paris, Garnier, 1875,
"BODIN, J ., Discurso ao Senado e ao Povo de Toulouse sobre a Educa ção a ser dada aos Jovens t . III, p. 429.
na Rep ública ( 1559 ), em Obras Filosóficas , Paris, PUF, 1951, p. 40. Para Bodin, se por um 27. " A arte de formar homens encontra -se em todos os pa íses t ã o estreitamente ligada à
lado a soberania do Estado é indivisível, por outro ela continua a ser um atributo pessoal forma de governo, que talvez n ã o seja possível fazer nenhuma mudança considerá vel na
do monarca. Conforme MESNARD, P., A Explosão da Filosofia Pol ítica no S éculo X V I , Paris, educação p ú blica sem realizar outra na pró pria constituiçã o dos Estados" HELVETIUS, Do
J. Vrin, 1969. Espírito, op. cit ., p. 181.
4. A tendência a dissociar o Estado da pessoa do soberano tem suas ra ízes em um passado 28. Cf . DIDEROT, D. Plano..., op. cit ., pp. 433-134; DOLLE, I. M., Pol í tica ..., op. cit., pp. 70 e
longínquo. Duas diferentes manifestações desta tend ência são os movimentos democrá ti - 79.
cos nas cidades livres e a Revolu çã o Inglesa .
5. Cf . DERATH É, R ., "Patriotismo e nacionalismo no século XV1 ÍI", em ALBERTINI , M. e
outros., A Idéia de Nação, Paris, PUE, 1969, pp. 69 a 84.
6. KOUSSEAU , J. ) ., Considerações sobre o Governo da Polónia e sobre seu Projeto de Reforma ,
Paris, Maisonncuve, 1791, p . 292.
7. Estas aspirações de Rousseau rclacionam -se com certos movimentos já perccpt íveis no
ensino francês do século XVIII. Encontra em certos colégios uma abertura para a atuali
dade, para a l íngua francesa, para a histó ria como fonte dc reflex ã o a respeito das nações
-
e dos governos, para a geografia como conhecimento do próprio pa ís. Cf . TR É NARD, f ..,
op. cit ., pp. 407 c 408.
8. ROUSSEAU, J. |-, Émile ou da Educação, Paris, Garnier, 1951, p. 279.
9. HELV ÉTIUS, Do espírito, Ed . Sociales, Paris, 1959, p. 112. Em seu Discurso Preeliminar à
Enciclopédia , d ' Alembert considera que a noçã o de hem e de rnal deriva da desigualdade
social.
10. MERCIER DE LA RIVIÈRE, A Ordem Natural e Essencial das Sociedades Polí ticas , 1767, em
DAIRE, E., Os Fisiocralas ( 1846 ), Genebra, Slatkine Reprints, 1971, p. 615.
11. DUPONT DE NEMOURS, Da Origem e do Progresso de Uma Nova Ciência , 1768, ern DAIRE,
E., op. cit., pp. 347 e seguintes.
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