Moonen - 1983 - Pindorama Conquistada
Moonen - 1983 - Pindorama Conquistada
Moonen - 1983 - Pindorama Conquistada
www.etnolinguistica.org
EDITORA ·
ALTERNATIVA
PINDORAMA
CONQUISTADA
REPENSANDO A QUESTÃO INDÍGENA
NO BRASIL
.•
..
COLEÇÃO CI2NCIAS HUMANAS
•
CONSELHO EDITORIAL:
DAMIÃO RAMOS CAVALCANTI
FRANCISCO MOONEN
LUIZ DIAS RODR IGUES
Próximo volume:
PINDOR'AMA
CONQUISTADA
REPENSANDO A QUESTÃO INDÍGENA
NO BRASIL
EDITORA AL'rERNATIVA
19 8 3.
•
EDITORA AL'l'ERNA'l'IVA
CAIXA POSTAL 5002 .
CAMPUS UNIVERSIT.ARIO
58000 JOÃO PESSOA · PB
BRASIL
PRIMEIRA PARTE
1 - PINDORAMA CONQUISTADA
a) Os brasileiros e os índios . . . . . . . . . . . . . . . . 11
- b) A ocupação dos territórios indígenas . . . . . . . . 15
c) O colonizador e os territórios indígenas . . . . . . 21
3 - DEPOPULAÇAO E GENOCIDIO
a) Guerras tribais . . . . . . . . . . . . • • .. • • •• • • • • 39
b ) Doenças . . . . . . . ~ . . . . . . . . • • • . ..• • .• • . 42
e) Genocídio . . ... . . . . . . . . . . . . • • • • • • • • • • • 46
4 - DECULTI]RAÇAO E ETNOCIDIO
1
a) Deculturação e aculturação . . . . . . . . . . . . . . . 51
b) Etnocidio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 ,
e) O fim dos povos indígenas? . . . . . . . . . . . . . . . 61
SEGUNDA PARTE
5 - POLtTICA INDIGENISTA: 1500 A 1900
. a) O perfodo de 1500 a 1750 . . . . . . . . . .. . . . . . 63
b) O perfodo de 1750 a 1900 . . . . . . . . . .. . • • • • 69
6 - O SERVIÇO DE PROTEÇÃO AOS tNDIOS .
a) A origem do SPI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
· b) O SPI em ação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
e> O fracasso do SPI . . . _ . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
7 - A FUNDAÇÃO NACIONAL DO tNDIO (1)
a) A F'UNAI e a tutela .política . . . . . . . . . . . . . . 83
t
TERCEIRA PARTE
9 - ANTROPOLCXK>S E . tNDIOS
a) Indiologia e incligenismo . . . . . . . . . . . . . . . . 105
b) Antropologia a serviço do colonialismo e do
imperialismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O
.
10 - ANTROPOLOGIA DA COLONIZAÇÃO INDtGENA
NO BRASIL
a) Colonialismo e colonialismo interno . . . . . . . . 121
b) Colonialismo e depri.vação indígena . . . . . . . . 124
ANEXOS
a) Os brasileiros e os índios
- 11 -
só falam o português, que vest.em calça e camisa, possuem
relógio de pulso, assistem a jogos de futebol e a novelas de
TV, andam de bicicleta ou têm carteira de motorista. Há
índios que pilotam avião, outros possuem títulos universi-
tários e em 1982 um deles foi eleito deputado federal. São
pessoas que, quanto a seu comportamento e muitas vezes
também em sua aparência.. em nada düerem do brasileiro
comum, mas que nem por isso deixaram de ser índios. To-
dos eles se enqúadram na definição usada pelos antropólo-
gos, segundo a qual "índio é todo individuo reconhecido co-
mo membro por uma comunidade de origem pré-colombia-
na que se identifica como etnicamente diversa da nacional e
é considerada indígena pela população brasileira com que
está em contato" (Ribeiro 1957, 1970.).
Entretanto, deve ser lembrado que os descendentes das
comunidades pré-colombianas só pass.a ram a ser fNDIOS a
partir da conquista do Novo Mundo pelos europeus e que
nunca antes se auto-identüicaram como tais. Os portugue-
ses e outros europeus vieram para o Brasil com a ordem ex-
pressa de dominar e explorar todos os povos que porventu-
ra encontrassem. tNDIO é, portanto, um nome genérico pa-
ra qesignar todos os indivíduos aqui colonizados pelos in-
divíduos genericamente chamados "europeus", os coloniza-
dores.. que depois passaram a importar escravos "africanos".
Na realidade, termos genéricos como índios, europeus ou
africanos só localizam o indivíduo geograficamente, mas não
o identificam politicamente. Ninguém se identifica como eu-
ropeu, mas como italiano, alemão, etc.; ninguém diz que é
africano, mas que é cidadão da Nigéria, de Angola, ou de
outra nação africana qualquer. Da mesma forma, só o ter-
mo fNDIO não basta para identificar alguém, a não ser que
seja acrescentada a identificação política: índio potiguara,
índio xavante, índio ·y anomami, que são tão diferentes entre
si -como um egípcio, um nigeriano ou um moçambicano, to-
dos "africanos". Yanomami, brasileiro ou japonês são iden-
tidades políticas, indicam a Nação a que a pessoa pertence.
Em outras palavras: O fNDIO NAO É BRASILEIRO~ MAS
TEM UMA IDENTIDADE POLfTICA PRóPRIA. Dentro do
território brasileiro não existe apenas a Nação Brasileira,
mas há ainda inúmeras Micro-Nações Indígenas, as nações
colonizadas, po·r motivos históricos localizadas dentro deste
território da macro-nação brasileira,. a nação colonizadora.
Com isto não estamos dizendo nenhuma novidade. Já
em 1889, a Igreja Positivista elaborou um projete de Cons-
-12-
'
.
tituição Federal que dizia: " A: República Brasileira é cons-
tituída: 1.0 - pelos Estados do Brasil ocidental sistematica-
mente confederados, os quais provêm da fusão de elementos
europeus com o elemento africano e o aborígine americano;
2.0 - pelos Estados americanos (indígenas) do Brasil, em-
piricamente confederados ... " (Otávio 1946). O projeto não
foi aprovado, mas a idêta básica continuou viva e foi ~pla
mente discutida no iiúcio do século seguinte, nos debates
que antecederam a criação do Serviço de Proteção aos ín-
dios, em 1910. Nesta época já se afirmava que "as tribos
selvagens constituem Nações livres ... cuja autonomia deve
ser respeitada como se se tratasse das nações mais podero-
sas" e que "não devemos ter a preocupação de fazer (dos
índios) cidadãos brasileiros. Todos entendem que índio é
índio; brasileiro é brasileiro" (Arnaud 1973 ). Entretanto,
parece que apenas umas poucas pessoas entenderam a ques-
tão da nacionalidade indígena. Na legislação posterior. os
índios continuaram a ser considerados unilateralmente como
cidadãos brasileiros, embora apenas de segunda categoria,
apenas parcialmente capazes e por isso precisando de tutela
oficial.
Na literatura antropológica, os povos indígenas são cha-
mados grupos,. tribos, etnias, grupos étnicos, etc., mas siste-
maticamente os antropólogos têm evitado falar de Nações. A
nação seria um tipo mais evoluído e mais complexo de orga-
nização política. Sempre se afirma que em 1500 este estágio
ainda não havia sido alcançado pelos índios no Brasil. Exis'"
tiam nações em outras regiões das Américas, colonizadas
pelos espanhóis e ingleses. As mais conhecidas são as dos
Maias, Incas e Aztecas, que formaram verdadeiros impérios.
Também nos Estados Unidos, as tribos foram reconhecidas
como Nações soberanas, com as quais eram feitos os conhe-
cidos Tratados, nunca respeitados pelos colonizadores.
No Brasil, os portugueses teriam encontrado povos cujo
nível de organização geralmente não excedia os limites da
aldeia, ou de algumas aldeias. No entanto, muitos cronistas
dos Séculos XVI e XVII se referem às tribos como Nações
e tratam-nas como tais, com todo o respeito. Uma destas
Nações, por exemplo, era a dos Potiguara, com dezenas de
milhares de súditos, que ocupavam todo o litoral do Nor-
deste, da Paraíba até o Maranhão. Documentos históricos
falam dos Potiguara como "o maior e mais guerreiro gentio
do Brasil" e o cronista Gouveia informava, na época, que
somente na Serra da Oopaoba havia ''cinquenta aldeias po-
-13 -
tiguara, todas umas pegadas nas outras e a Vista o seu celei-
ro era de infinidade de mantimentos e algodões" . Qutro do-
cumento, de 1601 (dois anos depois do massacre dos Poti-
guara por doenças e guerras) , fala de 14.000 Potiguara assis-
tidos pelos franciscanos, somente .na Paraíba. Para se :ima-
ginar a real força da nação potiguara, deve-se sorru~r a estes
as dezenas de milhares que não eram assistidos p~~los fran-
ciscanos e aqueles que moravam fora da Paraíba. Os Poti-
guara lutaram contra os portugueses até 1599 quando, após
25 anos de guerra praticamente continua, foram finalmente
vencidos, não pelas armas portuguesas, mas pelas doenças
trazidas pelos colonizadores. Para resistir durante tantos
anos. evidentemente era necessário um nível de organização
que excedia o nível de aldeia.
. Nas outras regiões do Brasil existiam outras tantas na-
ções indígenas, algumas maiores, outras menores do que a
nação potiguara. Muitos dos seus lideres políticos e militares
são nominalmente conhecidos e se ~ornarão famosos quando
os índios começarem a escrever a sua própria História.
Sob o impacto da violência colonizadora1 'nações intei-
ras foram extintas. Outras ficaram fragmentadas em aldeias
isoladas, sem possibilidade de contato entre si. De muitas
nações, hoje só sobrevivem uns poucos remanescentes. Os
índios perderam seus territórios, sua autonomia política,
sua nacionalidade. Com tudo · isto torna-se düícil aplicar o
termo nação, ou até tribo, a certos grupos indígenas atuais.
No entanto, deve-se ter em mentia qqe, mesmo quándo fala-
mos de grupos, etnias ou tribos, sempre estamos falando de
unidades políticas, de micro~ões, embora estas nações
não sejam reconhecidast como tais pela nação colonizadora.
a macro-nação brasileira.
É por demais reconhecido que a História de um povo
sempre é contada do ponto de vista da párte dominante e
que esta História pode ser reescrita de uma maneira com-
pletamente diferente quando esta parte muda. Não ·existe
"A" História do Brasil, a única verdadeira. Existem várias
histórias do Brasil, cada qual com uma interpretação dife-
rente da Verdade. Os historiadores falam do Brasil Colônia,
Brasil Império. Brasil República e nos ensinam que o Bra-
sil foi descoberto em 1500 e se tomou independente em 1822.
Se esta história fosse contada por um índio, seria outra his-
tória. Talvez o historiador indígena fizesse uma divisão em
quatro períodos: (a ) o período pré-colonial, até 1500; (b) o
-14 -
periodo do colonialismo português, de 1500 a 1822; (c) o
. . período do colonialismo bra&ileiro, de 1822 até hoje; (d) o
período da Pindorama Liberta, ou Independência Indígena,
a partir de um ano ainda ignorado, provavelmente no final
deste ou inicio do próximo século.
Ao fazer esta divisão, o historiador indígena tem plena
razão. Do ponto de vista indígena, o Brasil não foi descober-
to, mas invadido. No Século XVI, .a ocupação era quase que
exclusivamente litorânea, mas nos séculos seguintes, os por-
tµgueses penetraram .sempre mais no interior, subjugando
as nações indígenas que encontrassem pela frente ou expul-
sando-as para outras regiões. Ainda no início do Século XX,
governos sulistas contratavam caçadores de índios para
"limpar" as terras a serem ocupadas por imigrantes euro-
peus, convidados especiaiS do governo brasileiro. A partir
de 1910, com a criação do Serviço de Proteção aos índios,
passa-se a usar termos como "pacüicação" e "atração" pa- 11
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- Século XVI
~ Século XVI 1
~ Século XVI 11
~ Século XIX
c::::J Século XX
culo XX.
A colonização propriamente dita do Brasil iniciou a par-
tir de 1530, quando a Coroa portuguesa, temendo a concor-
rê11cia francesa e inglesa~ dividiu o país em capitanias, doa-
das a donatários. Mas . como estes sozinhos não podiam ex-
plorar tantas terras, introduziu-se logo o sistema de sesma-
rias, que eram terras cedidas, pelos donatários ou pela co-
r oa portuguesa, a pessoas interessadas e com recursos para
cultivá-las. Este sistema existiu durante três séculos e só
foj abolido em 1820.
Nos documentos coloniais, o problema da terra é abor-
dado frequentemente mas sempre concedendo· aos índios
j
-21-
terras como uma espécie de favor, terras em posse, e
não em propriedade. Uma carta régia de 1691, por exemplo,
proibiu que os posseiros se apoderassem também das aldeias
dos índios existentes no distrito das sesmarias (Tavares
1910/ 11 ) . E em 1700, o rei de Portugal decretou a seguinte
lei: " ... hei por bem e mando que a cada uma missão ( = al-
deamento) se dê uma légua de terra em quadra para susten-
tação dos índios e missionários; com declaração que cada
aldeia se há de compor ao menos de cem casais. . . e as tais
aldeias se situarão a vontade dos índios com aprovação da
.Jttnta das Missões e não ao arbítrio dos sesmeiros ou dona-
tários·, advertindo-se que p.a ra ca.d a aldeia, e · não para os
missionários mande dar esta terra, porque perteQ.ce aos ín-
dios e não a eles (missionários)" (Naud 1970). Esta· última
advertência. era necessária porque já então foram denuncia-
dos casos de venda de terras indígenas por missionários, em
benefício próprio.
Nestes aldeamentos só podiam morar os índios e seus
administradores, numa total segregação dos portugueses.
Um regimento de 1722 ameaça inclusive, com punições se-
11
- 24-
CAPÍTULO 2
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Rondonia 2 10 1
Acre 8
Amazonas 4 1 35 1
Roraima 1 1 7
Pará 3 6 3 2 4 5
Amapá 3 1 2
Maranhão 3 1 1
Paraíba 1
Perna.m buco 5
Alagoas/ Sergipe 2
Bahia 1 1 4
Minas Gerais 1 2
Espírito Santo 2
Rio de Janeiro 1
São Paulo 3 1 l
Paraná 3 2
Santa Catarina 2 2
Rio G. do Sul 2 4 1 2
Mato Grosso 10 2 6 2 5 2
Goiás 1 1 2 1 1
TOTAL 26 20 28 6 72 15 14
- 36 -
cundário no drama histórico atual dos povos indígenas do
Brasil. o. que nos importa no momento· é a garantia de nos·
sas terras, nossa herança e berço de nossas tradições cul·
turais".
-37-
I
'
CAPfTULO 3
DEPOPULAÇÃO E GENOC1DIO
- 41-
pressões psicológicas são ainda tnais fortes pois o fracasso
· na execução de uma vingança afeta a posição do homem
que falhou em seu dever e ainda expõe toda a sua família
à retaliação por parte dos espíritos, o que acarretará más
colheitas, doenças e mesmo· a morte".
Guerras tribais sempre existiram no Brasil, antes e de-
pois da chegada dos colonizadores. Não sabemos o· número
de vítimas destas guerras, mas de qualquer modo não deve
ter sido pequeno.
b) Doenças
'
-50-
CAPfTULO 4
DECULTURAÇÃO E ETNOCÍDIO
a) Deculturação e aculturação
- 54-
trocas econômicas com tribos vizinhas que dest.e môdo fica-
rão dependendo delas para a obtenção dos artigos industria-
lizados.
Por conseguinte, novos utensílios serão facilmente in·
corporados à cultura indígena, não somente por ca11sa de
sua utilidade, beleza ou raridade, mas também devido às
vantagens econômicas, sociais e políticas, ou, em outras pa-
lavras, por causa de sua maior produtividade, prestígio e
poder, dentro ou fora do grupo. Para exemplos práticos de
aculturação indígena, recomendamos a leitura de Schaden
( 1969) .
b) Etnocidio \
-- 56 -
um outro índio denuncia que as missões "nos matam
por dentro, esquecem as nossas tradições, cultura e religião.
Impõem-nos outra religião, desprezando os valores que já
possuímos. Isso descaracteriza-nos a ponto de nos envergo-
nharmos de sermos índios"· (Boletim do CIMI 47) .
As missões protestantes não são melhores do que as
missões católicas. Nos anos 50,. um pastor dizia que os. ín-
dios eram "um bando de desavergonhados,. especialmente as
mulheres. A visão de sua nudez provoca o despeitar dos
desejos da ca;rne entre os homens. A primeira parte do nos-
so trabalho consiste, naturalmente, em levá-las a usar rou-
pas apropriadas. Elsperamos que dentro de um ou dois anos
nenhuma m11Jher exponha mais seus seios pela tribo·. . . De-
vemos concentrar nosso trabalho sobre as mulheres, pois
são elas a causa de todo o pecado" (Frikel 1971 ) . O pensa-
mento de muitos pastores protestantes não estará longe dis-
to. Daí porque a catequese protestante introduziu entre os
Tirijó as seguintes mudanças: '' 1) os índios não fazem mais
as suas festas tradiciona.is; 2) não dançam mais nem para
se entreter à noite; 3 ) não cantam mais as s11as cantigas ·de
festas, de bebi~, etc.; 4) não fazem mais, nem bebem
mais caxiri, sua bebida tradicional; 5) não fumam mais,
nem os cigarros de estilo antigo, de tauari, nem os de fabri-
cação importada; 6 ) não contam mais as suas lendas; 7) não
falam mais dos pajés ou de s11as atuações, do mundo dos
espíritos e dos ancestrais, porque todos ele$, espíritos, pa-
jés e ancestrais já foram parar no "grande fogo" que é o in-
ferno, ·por não terem conhecido e observado a Bíblia" (Fri-
kel 1971). Com razão, Frikel fala do "terrorismo espiri-
tual", que também proibiu o preparo e o consumo do caxi-
ri, bebida fermentada que continha as vitaminas necessá-
rias para o organismo dos índios. O resultado tem sido avi-
taminose em muitas pessoas, às vezes chegando a anemia
profunda.
Estes mesmos Tirijó, antes disto, já foram alvo da ca-
tequese franciscana. Esta cuidava inicialmente da acultu-
ração material, para só depois iniciar a conversão religiosa.
Logo nos primeiros anos de contato, os missionários cons-
truiram um campo de pouso para aviões da FAB, uma ofi-
cina mecânica, uma serraria, uma olaria, introd11ziram dois
veículos "Uninlog't. um trator, uma draga, uma turbina, uma
farmácia, wna padaria, 12 máquinas de costura, luz elétri-
ca, água encanada, frigorUico, d11as geladeiras, vaca.S, búfa-
-57 -
los, jwnentos, cabras e carneiros. ~ naturalmente não po-
diam faltar uma capela e uma escolinha. Tudo isto para fn.
dios que pouco antes viviam iSC>lados da sociedade brasilei-
ra. O impacto sobre a cultura indigena deve ter sido enor-
me e destruidor (Frikel 1971).
O antropólogo Nimuendaju teve em 1940 contato· com o
pastor protestante Banner, que ele descreve como uma óti-
ma pessoa. amável, calmo, sincero e atencioso, e que tinha
os índios em alta consideração. Depois de ter citado estas
e outras qualidades de Banner, escreve o .antropólogo:
"Que conhecimentos etnológicos preciosíssimos este· ho-
mem não deverià possuir! Infelizmente, isto não se dava,
antes pelo contrário. Porque Horace Banner não era ne-
nhum etnólogo, masJ exclusivamente, missionário . . . (Ele)
via nos Gorotire (Kayapó) pouco mais do que um mero pa-
no de fundo para a experiência religiosa DELE. Tinha-os em
conta de seres humanos e não de "bichos", mas as manifes-
tações da cultura indígena lhe pareciam na melhor hipótese
disparates CEloprichosos que não mereciam atenção nem se-
rem tomadas a sério, sendo preferível varrê-las o quanto an-
tes para o lixo do passado tenebroso destes futuros cristãos.
Para dizer a verdade, ele só notava aquilo que se chocava
com os seus sentimentos cristãos" (Nimuendaju 1952).
Não é de admirar que Banner, depois de ter descrito
amplamente a casa-dos-homens gorotire como a base de to-
da sua vida social, tenha proposto substituir a força e o do-
mínio desta casa pelas influências cristãs e de matrielilar
os jovens numa escola (Banner 1952).
Embora nem todos os missionários católicos e protes-
tantes tenham uma mesma mentalidade etnocêntrica e tama-
nha falta de conhecimentos antropológicos, infelizmente is-
to acontece com demasiada freqüencia. Sem conhecer e sem
reconhecer a cultura indígena, os missionários, em seu zelo
religioso, muitas vezes substituem-na pela assim chamada
cultura cristã. A destruição de casas-de-homens, a retirada.
de crianças da coletividade tribal para educá-las em inter-
natos, a substituição de malocas por pequenas casas, de al-
deias redondas por casas situadas ao longo de ruas retas. o
uso obrigatório de vestuário, mudança de dieta e dos mé-
todos tradicionais de trabalho, ·a proibição de festàs ou ce-
rimónias religiosas, a expulsão de pajés, a proibição de de-
terminados tipos de casamentos e a introdução de outros
proibidos pela tradição tribal, são apenas ·a lguns exemplos
- 58-
.
de mudanças cultura.is impostas ao índio por estes represen-
tantes da cultura cristã, que prega o amor e o respeito ao
próximo.
Não é nossa intenção culpar os missionários e pastores
por todos estes fatos que expusemos acima. Acreditamos
que qt1ase todos eles agem com boas intenções e que são
incapazes de,. propositadamente, maltratar um índio. O erro
está na instrução por eles recebida, que não lhes ensinou a
respeitar as culturas alheias e nem a perceber as conseqüên-
cias nefastas de seu zelo religioso. E talvez não seja exage,.
ro afirmar que a maioria deles, por ca11sa de sua falta de
conhecimentos antropológicos, nunca será capaz de reco-
nhecer ou remediar os danos por eles causados, não só no
campo biológico, como na cultura indígena.
Outro elemento etnocida é o administrador colonial, ho-
je representado pelos funcionários da FUNAI. A primeira
coisa que o colonizador tira logo ao colonizado é a sua li-
berdade. No Brasil, a escravidão indígena tem sido regra
praticamente até o presente século. Veremos ainda que mes-
mo na att1alidade, os índios não têm a mesma liberdade dos
brasileiros, mas que estão sujeitos ·a uma legislação espe-
cial, chamada Estatuto do fndio, e que mil e uma coisas per-
mitidas aos brasileiros simplesmente são proibidos aos ín-
dios. Por exemplo: sem licen~ da FUNAI, o índio não pode1
- 60 -
.
por completo as culturas indígenas. outros exemplos dis-
to serão citados no capítulo dedicado especüicamente à
FUNAI.
- 62-
CAPtTULO 5
- 63-
J
t
. . .
Apesar dos constantes protestos e reclamações dos je-
suítas. a escravidão indígena era praticada em todo o Brar
sil. As vezes eram publicadas leis favoráveis aos índios, mas
·estas leis eram logo revogadas quando os colonos reclama-
vam e mostravam que elas prejudicavam a economia colo-
nial, e que sem índios não haveria lucros para a Coroa por-
ít uguesa. Leis1 que proibiam qualquer tipo de escravidão
foram publicadas, por exemplo, em 1605 e 1609. E em 1570,
1580, 1595 e 1611 foram editadas leis que permitiam apenas
a escravidão de índios aprisionados em guerras justas. Mas
estas leis eram abertamente desobedecidas ou interpreta-
das como os colonos bem entendiam.
As questões· dos aldeamentos e do trabalho indígena es-
tâo intimamente relacionadas, porque os aldeamentos ti·
nham dupla finalidade: facilitar a conversão dos índios ao
c1!stianismo e o uso dos índios livres como mão-de-obra pa-
ra os colonizadores.
, Os primeiros jesuítas desembarcaram no Brasil err1 1549,
junto com o governador geral Tomé de Sousa, trazendo as
recomendações do rei de que "seria grande inconve-niente
os gentios que se tornarem cristãos ·morarem na povoação
dos outros e andarem misturados com eles". Por isto, os je-
suítas deveriam separar os índios cristãos e fazer tudo ·para
que eles fossem morar perto das povo·ações portuguesas.
No início os jesuítas parecem ter praticado as missões
volantes, nas próprias aldeias indígetµlS. Mas logo viram que
este método não dava bons resultados e passaram a seguir
as ordens reais. Surgiram assim os primeiros aldeamentos
jesuíticos (no Sul mais conhecidos como "reduções"), aldeias
artificiais, localizadas perto das vilas e fazendas portuguesas
De acordo com as instruções, deveriam ter entre 150 e 300
famílias indígenas. ·Teriam terras próprias, para que os
índios pudessem cuidar de seu sustento e do dos padres.
Nestes aldeamentos se fixavam os índios cristãos, por·
vontade própria ou forçados pelos padres, além de
muitos que neles se refugiavam para escapar dos mas-
sacres ou da escravidão pelos portugueses. Isto por-
que era proibido escravizar índios residentes nos aldea-
mentos. Entretanto, fugindo deles ou permanecendo fora
deles durante mais de um ano, podiam ser capturados
e escravizados, da mesma forma como os índios do interior.
N-0s aldeamentos os jesuítas exerciam a administração
espiritual, em todos os assuntos referentes à religião, como
-66-
também a administração temporal, em todos os assuntos ci·
vis. Em favor dos aldeamentos deve ser dito que evitavam,
em parte, o genocídio e a e&lravidão de milhares de índios .
Em parte, porque mesmo os jesuítas não puderam evitar su-
cessivos ataques a aldeamentos. Para sua defesa contra os
portugueses, os jesuítas chegaram até a armar os índios com
armas de fogo. Porém, a administração jesuítica significava
invariavelmente o etnocídio, pois as mil e uma proibições e
prescrições levaram ao fim das culturas indígenas. Os aldea-
mentos reuniam índios de várias aldeias e, muitas vezes, até
de várias tribos. Na nova vida. sedentária havia hora certa pa·
ra tudo: para acordar, dormir, rezar e trabalhar. Trabalhavam
em atividades estranhas à economia tribal, como serviços
nas oficinas da missão, cuidar de gado, serviços de pedreiro,
carpinteiró, oleiro e outros. Foram impostas novas regras
matrimoniais, de acordo com a moral cristã, que também
proibia as festas e práticas tradicionais. Um quadro "feliz"
das reduções no Sul nos é apresentado pelo padre Lugon.
Em quase cada página de seu livro podem ser encontrados
exemplos do etnocidio jesuítico, que o padre prefere ignorar
ou, o que é mais provável, simplesmente não vê, como não
o viam os jesuítas da época. A vida organizada a modo eu-
ropeu, a constante fiscalizaç~o pelos padres, as punições se-
veras e os trabalhos forçados, fizeram com que muitos fn..
dios fugissem para o interior.
Por motivos de segurança, uma lei de 1611 recomendava
limitar o número de famílias indígenas a 300, pois maiores
concentrações poderiam constituir um perigo para as peque-
nas vilas portuguesas. A população normal dos aldeamen-
tos deve, portanto, ter sido em torno de 1000 a 1500 índios.
Excedendo este número. deveria ser fundado um novo aldea-
mer.:.to. Não sabemos se este conselho era seguido. De qual-
quer modo, no Rio Grande do Sul, onde trabalhavam jesui·
tas espanhóis, as reduções eram bem maiores. Em 1729 exis-
tiam no Rio Grande do Sul sete reduções, das quais a de
São Lourenço contava com 6.215 fndios, São Miguel com
4.710, Santo Angelo com 4.745, São Luiz com 5.984 e São Ni-
colau com 7 .335. As outras - São João e São Borja - de-
viam contar com cerca de 4.000 indios (Lugon 1968; sobre
as reduções, veja também Hoornaert 1982). Para a época,
eram verdadeiras cidades, com igreja, praça, escola, hospital
e oficinas. Ainda hoje, as ruínas da igreja de São Miguel são
atração turlstica e muitas cidades modernas devem sua ori·
gem às reduções indígenas.
-67-
' .
Para os colonizadores, a principal função dos aldeamen-
tos era fornecer a mão-de.obra necessária. Há várias leis que
regulamentam o assunto. Em resumo, estas estabeleciam:
(a) que os índios dos aldea.mentos era.m livres; (b) que, por
isso, deviam receber salários, em dinheiro ou em espécie, e /'
cuja importância às vezes era fixada por lei; (e) que os "ín-
dios de administração", como eram chamaé~os estes ·índios-
operários, só podiam trabalhar para os portugueses durante
um período limitado por ano (geralmente 3 a 6 meses) , por-
que no outro período deviam cuidar de suas roças e do sUS-
tento de suas famílias. Cabia aos jesuítas fiscalizar o cum-
primento destas leis, como também fornecer os índios soli-
citados pelos portugueses. Para os índios este trabalho era
obrigatório. Podiam ser empregados em qualquer serviço.
Também eram recrutados para executar serviços públicos ou
para o serviço militar. Evidentemente, eram obrigados tam-
bém a trabalhar nas fazendas agropecuárias dos padres, na
construção de igrejas e escolas e em outros serviços qtiais·
quer. Estima-se que para a construção. da igreja da redução
São Miguel, foram necessários mil índios durante dez anos.
Na qualidade de fiscais, os jesuítas constantemente re-
clamavam à Coroa portuguesa o não cumprimento das leis .
Era comum os índlos não receberem os. salários devidos,
trabalharem além do prazo estipulado ou serem maltrata- .
dos. Os documentos da época deixam claro que o tratamen-
to dado aos "índios de administração" era pior do que o
dos índios escravos. fndios de administração havia semprPi
em abundância e eram praticamente gratuitos; índios escra-
vos custavam dinheiro e eram mais escassos. A fiscaliza-
ção e as reclamações dos jesuítas desagradavam aos portu-
gueses que, por sua vez, reclamavam ao rei. de Portuga1 de
que os padres estavam prejudicando a economia colonial.
Por isso, várias vezes os jesuítas perderam a administração
temporal dos aldeamentos, que então era confiada a portu-
gueses nomeados para tal fim.
Já em 1566, o rei ordenou a Mém de Sá nomear "capi-
tães" portugueses para os aldeamentos; algo qu~ o governa-
dor. anos antes, já tinha feito por conta própria. Mas pouco
depois, os jesuítas retomaram o poder temporal, alegando
que os capitães abusavam dos índios e das índias para ser-
viços particulares. Uma lei de 1596 estabelece, outra vez, que
· "o governador elegerá, com o parecer dos religiosos, o pro-
curador do gentio de cada povoação que servirá até três
anos... Haverá um juiz particular, que será português, e o
-68-
qua.1 conhecerá das causas que o gentio tiver com os mora-
dores ...". E em 1611 novamente a lei fala do capitão do al-
deamento, que devia residir n~le com sua mulher e fanúlia.
O que se vê nestes primeiros séculos da colonização. é
uma luta constante entre a Igreja e o Estado, entre os jesuí-
tas e os colonizadores. As vezes venciam os interesses por-
tugi.:.eses, mas geralmente os missionários conseguiam impor
suas exigências. O resultado é um grande número de leis
contraditórias sobre como tratar o índio, leis feitas para se-
rem desobedecidas e isentas de punições. De 1500 a 1750 pu-
blicam-se nada menos do que 155 cartas régias, decretos e
leis que regulamentam a política indigenista. Porém, ne-
nhuma delas conseguiu evitar o genocídio e o etnocídio dos
povos indígenas.
b) O período de 1750 a 1900
- 72-
CAPfTULO ~
a; A origem do SPI
1
1
1
!
cando tão baixos que, no ano de 1957 ... wn braçal do SPl já
precisava trabalhar seis meses para ganhar um salário-mini-
mo e, um encarregado de posto, dois meses e meio". Acres-
centa-se a isto, ainda, que normalmente as verbas chegavam
com muito atraso. Não é de estranhar que, diante disto, os
encarregados dos postos indígenas começassem a explorar
os índios e as terras destes, em proveito próprio, para com-
pletar salários, da mesma forma como outrora fizeram os
diretores de índios.
O que sempre faltou ao SPI foram profissionais capa-
citados. Hoje em dia, os antropólogos são as pessoas indi-
cadas para ORIENTAR a assistência ao índio, para orientar
os trabalhos práticos de agrõnomos, médicos, educadores,
administradores e outros técnicos. Entretanto, quase sem-
pre faltaram ao SPI não somente os antropólogos, como tam-
bém os técnicos.
Quando o SPI foi criado, a antropologia era uma ciên·
eia ainda jovem e puramente teórica, sem utilidade prática
alguma . Só por volta de 1940 começou a se desenvolver a
antropologia aplicada, principalmente no México e nos Es-
tados Unidos. Mas, ainda levaria muito tempo para este
tipo de antropologia ser conhecido e reconhecido no Brasil.
Só agora, alguns cursos de pós-graduação em antropologia
começam a incluir a disciplina antropologia aplicada em seus
currículos. Por causa do desenvolvimento tardio da antro"'
pologia no Brasil e de seu caráter quase que exclusivamente
teórico, o SPI, salvo raríssimas exceções, sempre teve que
trabalhar sem antropólogos e apenas com· amad.qres., sem o
devido preparo científico e profissional pe,ra sua düicil ta-
refa e, muitas vezes, também sem o idealismo necessário.
Já em 1962, Baldus co·m parava os funcionários do SPI
com "cirurgiões que nunca ouviram falar em anatomia e
nunca tiveram bisturi na mão. Ignoram corpo e alma de
seus "protegidos" por não serem nem médicos nem etnólo-
gos. Não tendo aprendido a vencer os próprios preconcei-
tos etnocêntricos, fecham-se num complexo de superiorida-
de que, no melhor dos casos, os deixa considerar os índios,
ao modo dos missionários, como "crianças". Assim, o en-
carreg~do de um Posto não consegue ambientar-se e se não é
levado e elevado por algum ideal religioso ou científico, fa-
cilmente chega a cobiçar dinheiro ou entregar-se à bebida".
Que a situação tenha chegado a tal ponto, deve-se, in- ·
clusive, às mudanças constantes do SPI de um ministério
- 80 -
..
'
,
- 82 -
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
CAPfTULO 7
- 85 -
.. • • ~ • • f ~ • ..
...
preenchidos outros tantos fonn11tãrtos e diariamente há
dUBIS v~ comunicação radtofônica com a III Delegacia Re-
gional do Recite, para que a FUNAI fique atualizada sobre
os problemas locais".
No Sul .. a situação não é muito düerente. Segundo San·
tos ( 1975); "as atividades da maioria dos funcionários en-
gajados nos Postos são as de solucionar pequenos proble-
mas imediatos: curar um doente, atµeiliar ·alguma viúval
. doar alguma ferramenta, fa?..er a escola funcionar no tem·
po minimo previsto ou atender às solicitações da bur<;>cra·
eia, com o preenchimento de fichas, atestados ou relatórios".
No Posto Indígena Potiguara, dos mais de dez encar- .'
regados que conhecemos desde 1969, pelo menos um era
realment.e bem int.encionado. Por isso não conseguiu ficar
muito tempo. Para a FUNAI, estes. idealistas devem ser in- 0
assistindo à 'FUNAI.
- 93-
l
CAPíTULO 8
. . ~ ,.
1960 1978
México 3 .030 . 000 8 .042 .000
.r
Peru 4 . 838 .000 6 .025 .000
" Guatemala 1.497 .000 3 . 740 .000
Bolívia 2.180 .000 3.S26.000
Equador 643 .000 2.564 .000
Estados Unidos 550.000 1.568 .000
Outros países . 1 . 437. 000· 3.011 .000
TOTAL. 14 . 175 .000 28 .476 .000
Estes dados mostram claramente que a pOpUlação in-
dígena está crescendo. Porém, apesar da recuperação demo-
gráfica, sua situação não está melhorando em nenhum des-
tes países. Sempre mais os índios estão perdendo suas ter-
1
- 104-.
CAP!TULO 9
ANTROPÓLOGOS E fNDIOS
a) Indiologia e Indigenismo
. '
Porém, nesta 'situação particularmente difícil' para àS
ciências sociais, muitos antropólogos parecem ter optado
pela neutralidade científica e política, como mostra o seu
profundo silêncio sobre a política indigenista. Apesar de
constatar em s11as pesquisas casos de genocídio, etnocídio
e outros crimes contra os índios~ raras vezes têm a coragem
(e a oportunidade) de torná-los públicos. Raríssimas são as
críticas à FUNAI e à política indigenista em geral. Porém.
mo com razão afirma Berreman _( 1969 ): "não dizer nada não
co-
significa ser neutro. Dizer nada é um ato tão signüicativo
como dizer algo. Ser descomprometido não é ser neutro,
mas é ser comprometido - conscientemente ou não - com
o status quo".
Como antropólogos teremos que escolher: ·o u servir aos
índios ou aos não-índios. Não será possível servir aos dois,
porque ambos têm interesses opostos. No Brasil, ·a esco-
lha de servir aos índios exclui automaticamente a, possibi-
lidade de servir à FUNAI que, como vimos nas páginas an-
teriores. defende mais os interesses dos nãe>-indios.
Independentemente disto temos a nossa obrigação co-
mo cientistas sociais e esta obrigação é dizer a verdade e
desmascarar as mentiras, seja de quem forem. Ou, nas pa-
lavras de Mills: "A política do intelectual é a política da ver- ·
dade ... O princípio básico de sua política é descobrir tanto
da verdade quanto· puder e dizê-la às pessoas certas, na ho-
ra certa e da maneira certa ... O intelectual deve ser a cons-
ciência moral de sua sociedade" (citado em Berreman 1969).
Na realidade isto não acontece. A maioria dos antropó-
logos prefere ficar calada. Alguns não falam porque sim-
plesmente nunca se interessaram no destino dos índios por
eles estudados. Muitos silenciam porque estão com dúvidas
sobre a hora certa e a maneira certa de falar e escrever.
outros sentem a falta de apoio moral por parte de colegas
que criticam seu trabalho como sendo sentimental, român·
tico, utópico e acientífico.
A Associação Brasileira de Antropologia só agora está
pensando em elaborar o seu código ético. Como modelo pro-
vavelmente adotará o código ético da Associação America-
na de Antropologia que, como já vimos, não conseguiu evi-
tar o envolvimento de antropológos em atividades escanda-
losas e nada científicas. O código ético será inútil se não
mudar a mentalidade dos antropólogos, se a mentalidade co-
-118 -
lonialista não for substituída por uma mentalidade anti-eo-
lonialista e anti-imperialista. Para conseguirmos isto, será
necessário quebrar o nosso secular silêncio e finalmente fa-
lar ·e escrever a verdade. Hoje, os índios ainda não criticam
o nosso silêncio, mas algum dia o farão. porque não são
apenas as armas e as doenças que matam os índios. Tam-
bém o nosso silêncio mata.
119 _ .
CAPfTULO 10
ANTROPOLOGIA DA COLONIZAÇÃO
INDÍGENA NO BRASIL
- 131 -
ANEXOS
-133 -
ANE:Xô 1
CAPtTULO 1
1. Definição de índio:
1.1. estereótipo popular: índio é um indivíduo primitivo, selvagem,
o antigo habitante do Brasil.
1.2. definição científica: índio é todo indivíduo reconhecido como
membro por uma comunidade de origem pré-colombiana que se
identifica como etnicamente diversa da nacional e é considerada
indígena pela população brasileira com que está em contato.
1.3. definição política: índio é todo indivíduo dominado, no passado
e no presente, pelos colonizadores do Brasil (e das América~ em
geral).
- 135 -
4.2.1 em 1850 faz-se a divisão em terras públicas, da União, e terras
particulades, de propriedade individual·
4.2.2. muitos grupos indígenas perdem ·suas terras por não as registra-
rem confarme as exigências da lei.
4.2.3. outros grupos têm suas terras vendidas a não-índios como terraF
particulares.
•
4.2.4. muitas aldeias ainda habitadas por índios são consideradas deso-
cupadas e suas terras declaradas devolutas.
4 ?.5· a partir de 19 10, os índios obtêm a posse e o usufruto das terras
que ocupam, mas a União se consiqera proprietária das terras.
CAP tTULO 2
- 136 -
8.4. em todos os casos de expulsões de inva&ores, a iniciativa foi
tomada pelos próprios índios, sem o apoio da FUNAI.
8.5. o que levou este órgão a s~licitar apoio militar e policial para
proteger os invasores con tra os índios (enquanto deveria ser o
contrário) .
8.6. para o índio, a terra não é apenas um meio de produção de ali-
mentos e riquezas, mas é antes de tudo um territó rio, uma Pátria.
'
CAP fTULO 3
10.3. Doenças :
l 0.3.1 · doenças: contagiosas contra as quais o índio . não possuía anti-
<..orpos, come. gripe, saran1po, bexiga, tuberculose.
10.3.2· transmissores de doenças :
missionários
administradores coloniais (atualmente funcionários da FUNAJ'
frentes econôm.icas
viaiantes, turistas. cieoti&tas, antropólogos.
10.3.3. agravantes:
sistema de internato nas missõr.~
- 137
subnutrição (importação de alimentos descônhecidos; mudança de
vida nômade para sedentária; imitação do branco que tem aver-
são de certos alimentos indígenas)
uso indiscri.rrúnado de remédios indus~rializados, sem acom-
panhamento médico
· - falta de assistência médjca pela FUNAJ
10.4. Genocídio:
10.4.1. no passado (genocídio consciente)·
guerras de extermíruo de índios hostis
expedições para captura de escravos
guerras •justas" (por qualquer motivo'
t0.4.2. na atualidade (genocídio por omissãQ)·
massacres de grupos indígenas (força arn1ada, envenenamento
guerra bacteriológica)
impunidade de crimes contra os índios
deportação de índios para lugares inadequados para sua sobre-
vivência física
redução de territórios indígenas para abaixo do mínino nece.o-
1>ário para !'Ua sobrevivência física.
CAPITULO 4
\
11. Deculturação: perda total ou parcial da cultura sem uma substituição
satisfatória por outra, geralmente por causa de repentina ou ex-
cessiva mortandade.
11.1. Exemplos:
na organização social: desaparecimento das rei;(ras matrimoniais
tradi cionais ou da divisão em grupos de idade.
na organização econômica: impossibilidade da antiiZa divisão
de trabalho, formas de cooperação ou de distribuição de bens.
na religião: desaparecimento da mitologia e de práticas reliiiosas.
- 138 -
-- na organização política: mudança de critério~ para a e1colhe
d0t lfderes, aceitação de autoridade política externa.
tl. Etnocfdio: proibição de viver de acordo com os padrões culturais
tradicionais, com ou sem imposição de uma outra cultura
13.l. Exemplos:
- na cultura - material: uso obrigatório de vestuário; imposição de
novos padrões habitacionais.
na língua: uso obrigatório da língua portuguesa
- na religião: proibição de práticas religiosas tradicionais e im-
posição de uma nova religião; perseguição de líderes religiosos
tradicionais
na economia: imposição de novas atividades econômicas; im-
posição de horários de trabalho; . proibição de atividades econô-
micas tradicionais; substituição forçada de vida nõmade. por
vida sedentária.
na organização social: imposição de novas regras matrimoniais,
proibição de fe~tas e divertimentos tradicionais, retirada de
crianças do convívio · tribal.
- na organização política: imposição de novos líderes e de novos
critérios para a escolha de líderes políticos; submissão compul-
sória a autoridades políticas externas; proibição de encontros
políticos indígenas.
14. O fim dos povos indígenas?
14.t. a sobrevivência biológica está garantida. porque a população in-
dígena está aumentando sempre e quase duplicou de 100.000
para 210.000 pessoas entre 1957 e 1978.
14.2. embora as culturas indígenas estejam desaparecendo sempre
maia. nio estj ocorrendo a assimilação de tribos. porque todas
elas preferem· manter a sua identidade indígena.
CAP.fTULO 5
- 139 -
vàtitagertS! eViUlránt o geoocídío total
desvantagens: etnocídio
15.3. a questão do trabalho indígena:
os índios dos aldeamentos eram livres
mas tinham que fazer trabalhos f0tçados para os colonizadores
pelo que deviam receber salários ~em dinheiro ou espécie);
só podiam trabalhar durante um certo período por ano e
trabalhavam também, forç11damente, para os padres e em ser
viços públicos.
CAPITULO 6
- 140 -
19. Realizações do S P1:
19.l. pacificações de tribos indígenas, seguida peÍa
19.2. criação de postos indígenas, que davam uma
19.3. assistência muito precária aos índiOi
CAPITULO 1
- 141 -
23.2. ii8$istêttciu ptüti<latttéb.té auê~ttte ou 8ótnettte t'ílra sõ1ucionar pe
quenos problemas individuais ou locais
23.3. falta de apoio financeiro e material aos encarregados bem
intencionados
2.3.4. desvio de verbas assistenciais para a sede em Brasília e para as
Delegacias Regionais
23.5. política de ' "promessas", sem intenção ou possibilidade de
cumpri-las
23.6. assistência do 'índio pago pelo próprio índio.
CAPtTULO 8
- 142 -
- ~ -----
._ poderiam ser enquadradas na Lei de Segurança Nacional.
contrário à Convenção n.0 107 da Organização · Internacional cC'
Trabalho, que proibe o uso da força e da coerção na ·integração
de minorias nacionais.
- 143-
•
ANEXO Jt
SUGESTOES PARA LEITURAS COMPLEMENTARES
- 145 -
OS tNÕIÓS DO BRASIL, Rio de Janeiro (Zahar), 1978. Trata da mÔ:
dema ocupação econômica da região amazônica e seu impacto sobre
as tribos indígenas.
,.
- 146-
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Composto e impresso em
A UN IÃO CIA. EDITORA
BR·101 - Km. 03 - João Pessoa - Paraíba
POVOS INDlGENAS NO BRASIL
1978
AMAZÓNIA
1. Amazonas
01 Diahói 13 Humaitá
02 Parintintin 255 Humaitá
03 Jamamadi 450 Boca do Acre-Pauini
04 Apurinã 1.750 Boca do Acre-Tapauá
05 Juma 9 Canutama
06 Mura 'Pira hã 243 Manicoré
07 Numbiá 50 Manicoré
08 Tanharim 130 Manicoré
09 Paumari 250 Lábrea
10 Baniwa 2.440 São Gabriel
11 Kuripako 340 São Gabriel
12 Barassano 43 São Gabriel
13 Baré 23 São Gabriel
14 Buapé 25 São Gabriel
15 Buígana 46 São Gabriel
16 Seuci 403 São Gabriel
17 Siriano 33 São Gabriel
l8 Yepá-Matso 55 São Gabriel
19 Pacu 120 São Gabriel
20 Urekema 338 São Gabriel
21 Patotapuya 135 São Gabriel
22 Karapanã 35 São Gabriel-Pari-Cachoeira
23 Miriti 92 São Gabriel-Pari-Cachoeira
24 Maku l.777 São Gabriel-Pari-Cachoeira
25 Tuyuka 473 São Gabriel-Pari-Cachoeira
26 Tukano 2.422 São Gabriel-Pari-Yauareté
27 Kubewa 688 São Gabriel-Yauareté
28 Arapaso 308 São Gabriel-Yauareté
29 Tariana 1.583 São Gabriel-Yauareté
30 Piratapuya 782 São Gabriel-Yauareté
31 J uriti 35 São Gabriel-Yauareté
32 Wanana 623 São Gabriel-Yauareté
33 Dessana 1.040 Ya ua.reté-Pari-Cachoeira
34 Tukuna 11 .132 São Paulo de Olivença
35 Deni 600 Carauarí-Tapauá
36 Kanarnari 350 Eirunepe
37 Mayonina 700 Jutaí-Atalaia do Norte
38 Wai-wai 1.500 Urucaré-Faro
39 Tx.ikariana 185 Urucaré-Faro
40 Sateré-Mawé 3.010 Barreirinha-Maués
34.466
2. Pará
41 Munduruku 3.637 Ma ués-I taitu ba
42 Arnanayé 50 Moju
43 Assurini-Aka\vá 153 Tucuruí
44 Anambé (Turiwara) 35 Mocajuba
45 Goro tire 52 1 São Felix do Xingu
46 Kokraimoro J 20 São Felix do Xingu
47 Kuben-Krã-Keng 385 São Felix do Xingu
48 Kuruayá 100 São Felix do Xingu
49 Kaxuyãna 50 Obidos
50 Tyrió 1.200 6b rdos
51 Kararao 29 Altami.ra
52 Mankronotire 283 Altamira
53 Mudjetire (Suru O 72 São João do Araguaia
54 Mudjetire (S uruO 74 Marabá
55 Pukobié 174 Marabá
56 Xikrin 298 Marabá
57 Parakanã 170 Portel
58 Tembé 281 Ourém
59 Warikyana 300 Orixirninã
60 Wayana 150 Almerim
61 Apalaí 175 Almerim
62 Apiaká 150 Itaituba
8.407
3. Maranhão
63 Urubu-Kaapor 446 C. Mendes -Tariaçu
64 Guajajara 5.000 Grajaú-Barra do Corda
65 Cartela 950 Grajaú
66 Guajá 100 Alto Gunipi
67 Krikati 312 Montes Altos
68 Gavião 250 Amarante do Maranhão
69 Tembé 124 Gurupi-Gurutapé
7.182
4. Acre
70 Kaxinawa 2.035 Sena Madureira
71 Kulina 864 Sena MadUieira
72 Maniteneri 400 Sena Madureira
73 Jaminawa 410 Assis Brasil
74 Kampa 345 Feijó-Tarauaca
75 Katukina 697 Feijó-Tarauaca
76 Papavó 100 Feijó-Tarauaca
77 Poyanawa 140 Cruzeiro do Sul
78 Amawaká 228 Cruzeiro do Sul
5.211
5. Rondônia
79 Kawahib 500 Porto Velho
80 Kaxarari 100 Porto Velho
81 Karipuna 150 Porto Velho
82 Karitiana 84 Porto Velho
83 Urupá 150 Porto Velho
84 AIara 105 Ji-Paraná
85 Kanoé 150 Ji-Paraná
86 Gavião 100 Ji-Paraná
87 Digüt (Gavião) 95 Ji-Paraná
88 Mondé 60 Ji-Paraná
89 Suruí 314 Ji-Paraná
90 Cinta Larga 1.750 Ji-Paraná
91 Zoró 350 Ji-Paraná
92 Jabuti 10 Guajará-Mirim
93 Makurap 54 Guajará-Mirim
94 Tupari 56 Guajará-Mirirn
95 Pakaa-Nova 990 Guajará-Mirim
5.018
6. Roraima
96 Waimiri-Atroari 950 Caracaraí
97 Awake (Orotani) 17 Boa Vista
98 Makuxi 12.740 Boa Vista
99 Taurepang 1.4 28 Boa Vista
100 lngarikó 314 Boa Vista
101 Wapixana 4.800 Boa Vista
102 Mayongong 80 Boa Vista
103 Yanomami 8.400 Boa Vista
20.729
7. Amapá
104 Galibi 770 Maca pá
105 Karipuna 580 Macapá
106 Palikur 515 Macapá
107 Oiãpi 210 Macapá
2.075
BRASIL CENTRAL
8. Mato Grosso (Sul e Norte)
108 Apiaká 150 Porto dos Gauchos (MT)
109 Karajá 1.720 Luciara-S . Felix (MT)
110 Nham bikwara 7 86 Diamantino (MT)
111 Rikbaktsa 370 Diamantino (MT)
11 2 Iranxe 150 Diamantino (MT)
113 Münkü 28 Diamantino (MT)
114 Pareci 685 Diamantino-Cáceres (MT)
11 5 Tapirapé 158 Luciara (MT)
1 16 Bakairi 349 Nobres (MT)
117 Bororo 700 G. Carneiro-Rondonópolis (MT)
118 Salurnã 130 Aiipuanã (MT)
119 Umutina 140 Alto Paraguai (MT)
120 Xavante 4.500 G. Carneiro-Barra do Garça (MT)
121 Kayabi 390 Parque do Xingu (MT)
122 Aweti 4 Parque do Xingu (MT)
123 Tapayuna 45 Parque do Xingu (MT)
124 Juruna 55 Parque do Xingu (MT)
125 Kalapalo 100 Parque do Xingu (MT)
126 Kamayurá 123 Parque do Xingu (MT)
127 Krê-Akarore 75 Parque do Xingu (MT)
128 Kuikuro 156 Parque do Xingu (MT)
129 Matipuny 55 Parque do Xingu (MT)
130 Menihaku 7 Parque do Xingu (MT)
131 Suyá 91 Parque do Xingu (MT)
132 Trumai 25 Parque do Xingu (MT)
133 Txikão 55 Parque do Xingu (MT)
134 Txukarramãe 250 Parque do Xingu (MT)
135 Waurá 83 Parque do Xingu (MT)
136 Guató 220 Corumbá (MS)
137 Kadiwéo 740 Porto Murinho (MS)
138 Guarani-Kayová 8.000 Dourados (MS)
139 Guarani-Nhandeva 1.830 Dourados (MS)
140 Terena 10.300 Miranda-Aquidauana (MS)
32.47 8
9. Goiás
141 Apinayé 450 Tocantinópolis
142 Avá-Canoeiro 5 Formoso do Araguaia
143 Krahõ 880 ltacajá •
144 Xerente 711 To cantina
2.046
BRASIL ORIENTAL
10. Nordeste
145 Xokó 170 Porto da Folha (SE)
146 Xokó-Kariri 700 Porto Real do Colégio (AL)
147 Xukuru-Kariri 512 Palmeira dos Índios (AL)
148 Atikum 1.289 Serra de Umã (PE)
149 Kambiwá 252 lnajá (PE)
150 Pankararú 2.300 Petrolândia (PE)
151 Fulniô 2.874 Águas Belas (PE)
152 Xukuru 3.000 Pesqueira (PE)
153 Potiguara 3.500 Bai'a da Traição (PB)
14.597
11.Bahia
154 Pataxó 1.800 Monte Pascoal
155 Hã-hã-hãi 2.000 ltajú da Colônia
156 Kiriri 1.310 Ribeira do Pombal
157 Kaimbé 630 Euclides da Cunha
158 Pankararé 1.200 Brejo dos Burgos
? Paulo Afonso
159 Truká
160 Tu xá 480 Rodelas
7.480
REGIÃO SUL
13 . Região Sul
166 Kaingang 70 Braúna (SP)
167 Kaingang 200 Tupã (SP)
168 Kaingang, Terena, Guarani 315 Avaí (SP)
169 Guarani 100 Peruibe (SP)
170 Guarani 86 Santa Amélia (PR)
171 Guarani 3 Tomazina (PR)
172 Kaingang 300 São João dá Serra (PR)
173 Kaingang 360 Londrina (PR)
174 Kaingang 87 Ortigueira (PR)
175 Kaingang 150 Cândido de Abreu (PR)
176 Kaingang 350 Guarapuava (PR)
177 Kaingang 542 Manoel Ribas (PR)
178 Kaingang, Guarani 1.250 Laranjeira do Sul (PR)
179 Kaingang, Guarani 550 Mangueirinha (PR)
180 Kaingang 350 Palmas (PR)
181 Kaingang, Guarani 1.400 Xanxerê (SC)
182 Kaingang, Guarani, Xokleng 800 !birama (SC)
183 Kaingang 370 Santo Augusto (RS)
184 Kaingang, Guarani 1.780 Miraguai (RS)
185 Kaingang , Guarani 1.450 Nonoai (RS)
186 Kaingang , Guarani 610 São Valentim (RS)
187 Kaingang 800 Tapejara (RS)
188 Kaingang 370 Caciquel)oble (RS)
12.293
DIVERSOS
Grupos arredios 15.000
Índios destribalizados 30.000
TOTAL GERAL 209.183
'
FRANCISCO MOONEN nasceu em 1944, na Holanda.
Veio para o Brasil em 1964 e desde 1969 é professor titular, de
Antropologia na Universidade Federal da Paraíba. Doutorou-se
em Antropologia, pela Universidade de Nijmegen (Holanda) e
realizou pesquisa de campo entre os índios Potiguara da Paraí-
ba. É autor de uma Introdução aos problemas dos índios no
Brasi 1 ( 197 5) e de vários artigos sobre a questão indígena.