Calvinismo - Uma Introdução em Breves Lições
Calvinismo - Uma Introdução em Breves Lições
Calvinismo - Uma Introdução em Breves Lições
1- Somente a Escritura
2- Somente Cristo
3- Somente a graça
4- Somente a fé
5- Glória a Deus somente
Parte V – Os Sacramentos
18- O Batismo
19- A ceia do Senhor
Conclusão
Parte V – Apêndices
A- O problema do mal
B- A Ordem dos Decretos
C- O Credo Apostólico
Calvinismo
Uma introdução em breves lições
As velhas verdades pregadas por Calvino, como também por
Agostinho, são as verdades que eu devo pregar hoje; doutra
forma, trairia a minha consciência e o meu Deus. Não posso
moldar a verdade; não sei nada de lapidar doutrinas. O
evangelho declarado por John Knox é o meu evangelho. Aquilo
que trovejou através da Escócia precisa trovejar de novo através
da Inglaterra.
C. H. Spurgeon
Prefácio
“Eu pessoalmente acredito que não seja possível pregar a Cristo e Ele crucificado, a
menos que estejamos pregando o que hoje é conhecido como calvinismo. O calvinismo é
apenas um apelido; o calvinismo é o evangelho e nada mais”1.
As palavras supracitadas são de C. H. Spurgeon, famoso pregador batista, que ficou
conhecido como o “príncipe dos pregadores”. As palavras desse mestre do evangelismo
denunciam a profunda reverência e convicção que ele tinha a respeito da importância de
uma vertente do cristianismo histórico conhecido como calvinismo. Para Spurgeon,
calvinismo é apenas outro nome para evangelho.
Faz alguns anos que estudo teologia. Tenho lido obras de diferentes confissões
doutrinárias, comparando com a Revelação. Estou convencido de que Spurgeon tinha
razão. A meu ver, o que hoje é conhecido como calvinismo é o sistema de teologia que
mais se aproxima das verdades contidas na Escritura.
Os calvinistas acreditam em muitas coisas que os demais cristãos também defendem.
No entanto, existem algumas doutrinas que são essenciais, sem as quais o calvinismo não
seria calvinismo. A minha intenção, neste livro, é apresentar, em pequenas lições, algumas
dessas doutrinas. Embora não se trate de um estudo abrangente, os escritos que se
seguem podem servir como um guia para o crente que deseja se aprofundar na teologia
reformada, cuja riqueza doutrinária parece ser incomparável. O objetivo primário é, portanto,
despertar o interesse.
Embora eu tenha em mente qualquer leitor não familiarizado com as questões
teológicas, originalmente estas lições foram idealizadas para que a minha esposa, Ednária
Batista, tivesse acesso a uma espécie de manual de doutrina calvinista de leitura rápida.
Por causa de suas múltiplas atividades, um estudo aprofundado dos temas apresentados
nos próximos capítulos se tornaria, para ela, uma impossibilidade prática. À minha esposa,
no entanto, devo muito mais do que a ideia de escrever um livro de teologia de fácil
entendimento. Sem ela a minha vida seria mais difícil, meus passos mais vacilantes, e
minhas decisões menos acertadas. Ao Deus gracioso, que fez seres humanos capazes de
amar, seja dada toda a glória.
1
- Spurgeon, C. H.; Verdades chamadas calvinistas – uma defesa, p. 11.
Introdução – O que é calvinismo?
Faz alguns anos que escutei pela primeira vez a expressão teologia calvinista. Ela
estava associada à ideia de predestinação, ideia esta que, pelo menos a princípio, me fez
recuar. Não tenho, definitivamente, boas lembranças daquele primeiro contato. Hoje, anos
depois, penso no calvinismo como a vertente do cristianismo histórico que mais se aproxima
da teologia dos autores do Antigo e do Novo Testamento. As pessoas mudam, e a forma
como vemos os sistemas de teologia também.
As origens do calvinismo
O calvinismo tem a sua origem na reforma protestante do século XVI, historicamente
iniciada no dia 31 de outubro de 1517, quando um monge agostiniano e professor de
teologia afixou na porta da igreja de Wittemberg, na Alemanha, as famosas noventa e cinco
teses de Lutero. Para algumas pessoas, no entanto, a reforma começou algum tempo atrás,
quando Lutero foi convencido da doutrina da justificação pela fé somente, o carro-chefe das
mudanças religiosas e teológicas que se desenrolariam a partir daquela data.
Uma verdade que algumas vezes é ignorada é que Lutero não tinha intenção de se
desligar do catolicismo romano. Ele era um padre convicto de que a doutrina da salvação
da Igreja Católica era equivocada, e que mudanças deveriam ser feitas. As suas noventa e
cinco teses não eram uma carta de divórcio, mas um convite para a reflexão sobre os
abusos da igreja instituída. Lutero não imaginava que as suas teses mudariam o curso da
história, e que Deus, a partir delas, conduziria um movimento que resultaria na redescoberta
de verdades essenciais que estavam obscurecidas pela tradição.
Durante alguns anos o movimento de reforma permaneceu unido. Tempos depois,
no entanto, por causa de uma divergência de opinião a respeito da Ceia do Senhor, os
reformadores se dividiram em dois grupos distintos: luteranos e calvinistas. Os luteranos
acreditavam que Cristo está presente fisicamente nos elementos do pão e do vinho. Os
reformados (ou calvinistas), por sua vez, defendiam que era impossível que o Cristo
ressurreto estivesse fisicamente nesses elementos. Para eles Cristo certamente estava
presente no pão e no vinho, afinal, a ceia era do Senhor, mas de forma espiritual, e não
literal. A partir dessa desavença, os dois movimentos, embora contrários à teologia católico-
romana, tomaram rumos distintos.
João Calvino e o calvinismo
A teologia reformada, ou calvinismo, está ligada a pessoa de João Calvino,
reformador de Genebra. Apesar de levar o seu nome, no entanto, Joao Calvino não
inventou o calvinismo. Em sua obra-prima, As Institutas da Religião Cristã, ele apenas
sistematizou a doutrina que, apesar de mudanças e discordâncias, atravessaria os séculos.
Calvino, no entanto, estava convencido de que ele era apenas um intérprete da Escritura.
Ele não criou, por exemplo, a ideia de predestinação, tão ligada ao seu nome, mas seguiu
a opinião de homens como Agostinho (e também Lutero) que, assim como ele, acreditavam
estar expondo a doutrina do apóstolo Paulo e de Jesus Cristo.
O nome calvinismo não foi cunhado por Calvino ou por algum dos seus seguidores,
mas por um luterano chamado Joachim Wesphal, de Hamburgo, em 1552, e ele fez isso
com intenções que não eram, por assim dizer, das mais nobres. Os luteranos
provavelmente deram essa nomenclatura aos reformadores influenciados por Calvino para
identificar influências não luteranas dentro da Alemanha2. Chamar esses pensadores de
calvinistas não foi um elogio, e nem uma referência à genialidade do sistematizador da
doutrina reformada.
Muitos autores reformados antigos não chamavam a si mesmos de calvinistas. Hoje,
algumas pessoas têm dificuldades em utilizar essa nomenclatura. Isso não me surpreende,
afinal, o próprio Calvino não se sentiria orgulho de ver o seu nome associado à um sistema
de teologia, como se ele o tivesse inventado. Falando de modo muito pessoal, no entanto,
não vejo problemas em ser chamado de reformado ou calvinista. Em relação à essa
questão não tenho motivos para não usar expressões como calvinismo e reformado de
modo intercambiável. O calvinismo, como salientou Spurgeon, é apenas um apelido. O que
realmente importa é que as ideias defendidas pelo calvinismo histórico são escriturísticas,
e a referência ao maior teólogo do cristianismo depois dos autores do Novo Testamento
está longe de ser algo de que me envergonhe.
2
- Ferreira, Franklin; Pilares da fé, p. 28.
3- Qual foi a doutrina que serviu como carro-chefe da teologia dos reformadores?
4- Qual foi a contribuição mais significativa de João Calvino para o calvinismo
histórico?
5- Como C. H. Spurgeon, o príncipe dos pregadores, reagiu diante da expressão
calvinismo?
3
- Ferreira, Franklin, Pilares da fé, p. 23.
ao mundo a sua vontade, bem como seu plano de redenção. Em teologia essas pessoas
são chamadas de agentes de revelação. Esses meios de Deus apresentar-se ao homem é
o que chamamos de revelação especial. A forma mais sublime de revelação especial foi a
vinda de seu próprio Filho, Jesus Cristo. O mundo nunca recebeu um visitante tão ilustre
quanto Cristo, pois ele era o próprio Deus encarnado. Se alguém quiser saber como é Deus
basta olhar para Jesus. Ele mesmo declarou: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9).
Os registros das várias formas de revelação especial estão contidos na Escritura.
Homens inspirados por Deus, como profetas, estadistas, médicos, pescadores, etc.
receberam orientação do Espírito Santo para que a Escritura fosse produzida de uma
maneira que fosse cem por cento confiável. Embora os modos de revelação especial
tenham cessado, a Bíblia é a nossa revelação especial. Tudo o que Deus quer que
saibamos está em suas páginas. Não há nada nela que não seja de grande proveito para
todo aquele que deseja se aproximar de Deus: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil
para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm
3.16-17).
4
- Calvino, João; A Instituição da Religião Cristã Tomo I, p. 67.
Se os agentes de revelação falaram da parte de Deus, a Escritura é tudo o que precisamos.
Isso quer dizer que não necessitamos de novas revelações. Elas são, na verdade,
desnecessárias, e um atentado à ideia de que na Bíblia temos tudo o que precisamos saber.
E não apenas isso. Toda e qualquer doutrina tem de estar submetida ao conteúdo da
revelação especial de Deus. Foi por acreditar que a Bíblia é realmente a palavra inspirada
pelo Espírito Santo que Calvino disse que a doutrina da fé só está estabelecida quando
estamos persuadidos de que Deus é o seu Autor5. A Escritura é o padrão para qualquer
crença ou sistema de teologia. Uma doutrina, por mais bem formulada que seja, se não
estiver em conformidade com o que Deus disse, deve ser considerada falsa.
5
- Calvino, João; A Instituição da Religião Cristã Tomo I, p. 73-74.
2-Somente Cristo
Bibliografia
Calvino, João. A instituíção da religião cristã. 2 vols. São Paulo, SP: UNESP, 2008.
Spurgeon, C. H. Verdades chamadas calvinistas - uma defesa. São Paulo, SP: PES, s/d.