Sistema Agroflorestal
Sistema Agroflorestal
Sistema Agroflorestal
Agroflorestal ou
Agrofloresta
Agricultura agroflorestal ou agrofloresta
ISBN-978-85-92913-01-4
CDD 634.99
3ª edição
Série Conhecimentos; v. 06
Centro Sabiá
2016
Agricultura
Agroflorestal ou
agrofloresta
Índice
Apresentação .................................................................................................. 5
3. A agrofloresta ................................................................................................. 10
Esperamos que essa reedição, agora inclusa na Série Conhecimentos, cumpra seu
papel educativo e político de colaborar para que agricultores e agricultoras fa-
miliares continuem plantando mais vida para um mundo melhor. Nosso objetivo
maior é contribuir para o desenvolvimento da agricultura familiar agroecológica
e para a cidadania de mulheres, homens, jovens e crianças do campo.
Boa leitura!
1.2 O Caatinga
O Centro de Assessoria e Apoio aos trabalhadores e Instituições Não Governa-
mentais Alternativas (Caatinga), é uma Organização Não Governamental fun-
dada em 1988, que tem sua ação direcionada para o desenvolvimento humano
e sustentável de famílias agricultoras do Semiárido brasileiro e, para isso, tem
como missão Semear a agroecologia para uma vida digna no Semiárido.
O Caatinga desenvolve projetos que contribuem para a sustentabilidade dos
agroecossistemas locais e de educação agroecológica em parceria com agên-
cias nacionais, internacionais e com programas de Governo. Além de contribuir
para a formulação de políticas públicas adequadas e articulação de parcerias
para a definição de estratégias e propostas técnicas capazes de dar dignidade
às populações do Semiárido.
Para o desenvolvimento de suas ações, o Caatinga organiza seu trabalho no
Programa de Incidência Política e no Programa de Agroecologia e Convivência,
para defesa de Direito à Alimentação, Segurança Alimentar e Economia Fami-
liar, Direitos das Mulheres e Equidade de Gênero, e, Cidadania Ambiental e Edu-
cação Contextualizada.
Atualmente, o Caatinga atua em 11 municípios da região do Sertão do Araripe
em Pernambuco incluindo o município de Parnamirim, no Sertão Central. De
forma indireta, sua ação se estende a todo o Semiárido brasileiro, através da
participação em articulações e fóruns.
As terras estão ficando cada vez mais fracas por causa da forma de fazer agricul-
tura. O desmatamento, a “broca”, as queimadas, o plantio morro abaixo, o mo-
nocultivo e o uso de venenos, provocam erosão, estragam a terra e diminuem
a produção ano a ano, além de contribuir para o processo de desertificação de
algumas áreas na região.
8 Série Conhecimentos
Questões
para
debater
• O jeito que você
faz agricultura tem
“Há agricultores e agricultoras que usam veneno e contaminam as terras, as la- aumentado a vida no
vouras, os alimentos, as águas dos rios e dos riachos”. solo ou a terra tem
ficado mais fraca?
• A produção da
Muitas lavouras que eram colhidas nos roçados das famílias em um tempo não agricultura na terra
em que você trabalha
muito distante, hoje não existem mais. Há exemplos disso como o algodão, o
tem aumentado
arroz, o café, a mamona e alguns tipos de milho e feijão. ou a cada ano está
diminuindo?
As famílias agricultoras que ainda conseguem produzir dessa maneira enfren-
• A renda que você
tam problemas para vender a produção. Elas são obrigadas a vender aos atra- tira da sua produção
vessadores por não estarem organizadas e por não existirem outros canais que tem melhorado?
facilitem a comercialização.
• No seu roçado tem
os mesmos tipos de
Diante desta realidade, conclui-se que o jeito de praticar a agricultura familiar plantas que existiam
convencional tem trazido maus resultados, como o empobrecimento de quem no passado ou algum
mora no campo, a insatisfação de fazer agricultura, o desgaste dos solos e, em tipo desapareceu?
muitos casos, o abandono da terra por parte da família. • A quantidade de
água das chuvas,
Mas outras práticas têm demonstrado que existem formas capazes de fazer com riachos, rios,
que o agricultor, a agricultora, os jovens e as crianças vivam com dignidade barreiros ou cacim-
no campo. É possível escolher este caminho, conhecendo e testando um outro bas da propriedade
jeito de fazer agricultura, que é a agricultura agroflorestal. diminuiu ou au-
mentou nos últimos
anos?
Assim, fazendo parte deste sistema estão o agricultor e a agricultora. Eles con-
tribuem para a recuperação e a conservação do que Deus criou: a vida. Esse
novo jeito de fazer agricultura, que é a agrofloresta, tem produção diversifica-
da, de boa qualidade, mais e melhores alimentos, que estimula o beneficiamen-
to, a comercialização e melhora a renda da família. A agrofloresta permite o
envolvimento de toda a família na realização do trabalho, com atividades para
o agricultor, a agricultora, os jovens e também envolve as crianças.
10 Série Conhecimentos
Joelma e Roberto - Sítio Pedra Branca - Cumaru
Vanuza Gomes
Barbosa da Silva
Sítio Feijão 2, Bom Jardim/PE
Os quatro estágios da sucessão natural: (1) mato rasteiro, (2) mato maior,
(3) capoeira fina e (4) capoeira grossa ou floresta
Observe uma área que foi abandonada pelo agricultor porque estava esgotada,
que não produzia mais. O que a natureza faz?
12 Série Conhecimentos
Todo esse processo lento de recuperação natural é chamado de sucessão natu-
ral. Os matos e as plantas que aparecem na capoeira dependem de cada lugar,
é o que se chama de vegetação nativa. Assim, a natureza, bem devagarinho,
faz esse trabalho de recuperar o solo e a vegetação nativa. Isso tudo é feito
sem usar adubo químico. É que as folhas que caem das plantas, os troncos, e
também as raízes das árvores, apodrecem pela ação dos bichinhos que vivem
na terra. Esses bichinhos, como a minhoca, o tatuzinho, os fungos (“mofo”),
transformam todo esse “basculho” num adubo natural de ótima qualidade,
também chamado de adubo orgânico.
Antônio Sabino
Sítio São Bento – Santa Cruz da
Baixa Verde/PE
Assim sendo, a maioria da vegetação que cresce na Zona da Mata (Mata Atlân-
tica) não cresce no Sertão (Caatinga) e vice-versa. Portanto, a identificação da
vegetação de cada lugar se faz necessário, sendo um dos primeiros passos para
o trabalho com a agrofloresta.
14 Série Conhecimentos
6. como Implantar uma
Agrofloresta
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Para se implantar uma agrofloresta tem que se observar algumas condições im-
portantes como: o que o agricultor ou a agricultora quer produzir de acordo
com as condições do solo, o calendário agrícola e a vegetação que cresce no
lugar. É a partir dessas observações que se faz o planejamento da propriedade
e o desenho da área onde será implantada a agrofloresta.
Esse desenho tem como principal finalidade uma boa organização do trabalho.
Quanto às condições do solo, é importante plantar o que a terra pode produzir
para a lavoura não ter problemas de desenvolvimento na produção. Os agricul-
tores e agricultoras sabem qual é o solo que consegue produzir a maioria das
lavouras e o tipo de árvore que ali consegue crescer.
Adubeiras e Forrageiras
Fruteiras (Goiaba,
(Leucena, Gliricídia, Papoula,
Manga, Graviola, etc)
Sombreiro, Capim-elefante, etc)
Nativas Tubérculos
(Jurema, Cumaru, Cedro, (Mandioca,Macaxeira,
Pau d’arco, Angico, etc) Batata-doce, Inhame,
Cará, etc)
16 Série Conhecimentos
Assim, o desenho e a implantação da agrofloresta partem da realidade das
famílias agricultoras, do que elas costumam cultivar. Para exemplificar melhor,
lembre-se das culturas que normalmente se planta no roçado, que podem ser
o milho, o feijão, a fava, a abóbora. Além dessas culturas, pode-se plantar
espécies produtoras de forragem para os animais, como a palma forrageira,
e espécies para adubação do solo como o feijão-guando, o feijão-de-porco, a
leucena, o sombreiro, a gliricídia, o nim, e o crote, pois são essas plantas que
vão deixar o solo forte e produtivo. Essas adubadeiras podem ser plantadas em
fileiras, assim como as espécies nativas que sejam adaptadas a sua região, como
o pau-d’arco, o cedro, a sucupira, a baraúna, o frei-jorge, a piaca, a aroeira, a
umburana, o mulungu, entre outras.
É importante que, para cada tipo de lavoura plantada para produzir alimentos
para a família, deve ser plantado um tipo de planta adubadora. Por exemplo:
para o milho, planta-se o feijão-de-porco; para a fava, planta-se a leucena;
para a palma, planta-se o feijão-guando e assim por diante.
“Na agrofloresta aprendi muita coisa boa: preservar mais o meio am-
biente, ter mais amor à terra e às plantas. Na agrofloresta nós estamos
nos rejuvenescendo, plantando mais vida pra nós e pro futuro. A natu-
reza só tem a nos ensinar. Ela transforma o homem.”
Esta é uma proposta para uma área onde poderá ser implantada uma agroflo-
resta. Outras propostas podem ser construídas. Existem outras experiências de
plantios consorciados que os agricultores e agricultoras já conhecem e prati-
cam em suas propriedades.
18 Série Conhecimentos
7. Práticas Agroflorestais
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Quando a área a ser plantada está cheia de mato, pode-se usar a enxada para
fazer a capina, tendo-se o cuidado de deixar as mudas de árvores que ali nas-
ceram, que formarão as plantas do futuro, e em seguida fazer o plantio consor-
ciado denso.
Claro! É importante falar que as plantas têm ciclos de vida diferentes. As raízes
de algumas plantas são mais rasas, outras mais profundas. Umas precisam mais
de certos alimentos, outras de alimentos diferentes, e daí por diante.
20 Série Conhecimentos
Rafael Justino - Sítio Feijão - Bom Jardim
O roçado deve conter plantas de ciclos curto, médio e permanentes, tanto nati-
vas e adubadoras, como as produtivas.
A poda deve ser realizada em momentos certos para contribuir com o desenvol-
vimento do sistema. Em relação às frutíferas, é feita logo após a colheita.
22 Série Conhecimentos
8. Desenvolvimento e
Crescimento da Agrofloresta
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Entre o terceiro e o quarto mês é preciso dobrar o milho, para evitar que entre
água e estrague as espigas, e para facilitar a produção da fava. É necessário
observar, durante esse período, se tem algum mato maduro. Se tiver, é neces-
sário fazer mais uma capina seletiva, ou até cortar alguns galhos das plantas
que estejam atrapalhando o crescimento de outras.
ser deixado para produzir grãos para o próximo plantio. O material da poda
também deve ser colocado no solo. No oitavo mês, colhe-se o feijão-guando
e em seguida faz-se uma poda cortando-o aproximadamente a meio metro de
altura. Com esse trabalho, o agricultor ou a agricultora, estará estimulando o
crescimento das outras espécies adubadeiras, das forrageiras, das frutíferas e
das nativas que foram plantadas, e que produzirão nos anos seguintes. É im-
portante que com o material da poda, seja feita uma cobertura ao redor das
espécies frutíferas plantadas.
No roçado ficam outras plantas que ainda produzirão, como: palma, leucena,
feijão-guando e as árvores, a exemplo da umburana de cheiro, do cedro e do
pau-d’arco.
24 Série Conhecimentos
Família sentada à mesa consumindo os produtos da sua lavoura
Em relação às plantas sugeridas nesta área, elas deverão ser escolhidas pelo
agricultor ou pela agricultora dependendo do seu interesse, das condições da
terra e do lugar. Pode ser um roçado mais diversificado do que este, dependen-
do da disposição do agricultor ou da agricultora e também da disponibilidade e
diversidade de sementes na propriedade.
Como as frutíferas e as nativas plantadas ainda estão pequenas, elas não atra-
palham o desenvolvimento das lavouras. Em seguida é o momento de fazer o
plantio considerando as mesmas observações feitas no início da implantação
da agrofloresta.
Feira Agroecológica
9. o significado de algumas
palavras
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ADUBO ORGÂNICO:
Resto de plantas e animais que se misturam à terra naturalmente para fer-
tilizar o solo. O adubo orgânico favorece o desenvolvimento das plantas.
EROSÃO:
Processo de desgaste do solo através da chuva, do vento, e também da ação
do homem, com o uso de queimadas e do desmatamento.
ESPÉCIES ADUBADORAS:
Plantas que produzem matéria orgânica (folhas, raízes, frutos, galhos que
se desmancham e viram adubo orgânico).
MANEJO:
O jeito de trabalhar a agricultura.
PLANTIO DIVERSIFICADO:
Muitos tipos de plantas no mesmo roçado, tudo misturado.
PODA DE REJUVENESCIMENTO:
É um tipo de manejo onde as plantas são cortadas e desgalhadas para que
possam rebrotar vigorosas.
PODA DRÁSTICA:
É um tipo de manejo onde a planta é cortada pelo tronco sem deixar galhos
ou folhas.
SINCRONIZAÇÃO:
Jeito de podar todas as plantas do roçado em um mesmo tempo para que
elas cresçam juntas e se desenvolvam conjuntamente.
SUCESSÃO NATURAL OU SUCESSÃO VEGETAL:
Processo da natureza em que umas plantas substituem as outras recuperan-
do o solo e recompondo a vegetação.
VEGETAÇÃO NATIVA:
São plantas que nascem e crescem naturalmente em algum lugar ou região.
SISTEMA:
Nesta cartilha a palavra sistema corresponde a forma como as famílias tra-
balham a agricultura. Neste caso específico, no Sistema Agroflorestal.
26 Série Conhecimentos
10. mapa de atuação do
centro Sabiá e do caatinga
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Ipubi Exú
Bodocó
Araripina Moreilândia
Trindade
Granito
Ouricuri
Parnamirim
3ª Edição
Recife/2016
28 Série Conhecimentos
Agricultura Agroflorestal ou Agrofloresta 29
Secretaria de
Desenvolvimento T erritorial
RONMEN
VI T Ministério do
N
Desenvolvimento Agrário
GLOBAL E
FA
CILITY