Os Mais Belos Poemas Que o Amor Inspirou

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"Conquista"

Stecchetti (Olindo Guerrini )


( 1845-1916 )
Tradução de Hilário S. Soneghet

Muitas vezes contemplo o seu semblante


torturado por grave desalento
e lhe vislumbro sob o peito arfante
a incontida emoção desse momento.

Um dia a timidez venço, e, triunfante


confessarei num arrebatamento
com toda a força do meu ser amante:
- acabemos por fim este tormento!

Já que me queres quanto eu te desejo


esqueçamos o mundo, meu amor,
e vamos celebrá-lo num só beijo.

Que nada se interponha entre nós dois


pois o arrependimento é um dissabor
que só foi feito para vir depois.

Stecchetti
(Olindo Guerrini )
( 1845-1916 )

"Beijo Póstumo "


Tradução de Baptista Cepelos

Eu morrerei: a grande noite austera


vem chegando com o tempo que não para;
já a cova negra minha carne espera
e, abrifauce e faminta, se prepara...

Quando tudo renasce à primavera,


eu só não tornarei da terra ávara;
e, do meu corpo, que não chão se altera,
brotará a mangerona, humilde e rara.

Em nome deste amor, vai lá, querida,


e sobre a tumba compassiva e pura,
colhe uma planta de meu ser nutrida.

Beija-a, porque aos teus beijos de ternura,


logo os meus ossos, como outrora em vida,
palpitarão de amor na sepultura!
obs.:Com o título “ Eterno Amor ” ha outra
tradução deste soneto feita por Othon Costa

Francesco Petrarca
(1304-1374)

“Vós Que Ouvistes As Minhas Poesias”


- Soneto-
Tradução de Waldemar De Vasconcelos

Vós que ouvistes as minhas poesias,


com que eu nutria outrora o coração
nos juvenis e suspirosos dias,
quando aquele que eu fui tinha ilusão;

se conheceis do amor a reflexão


e o pranto, entre esperanças fugidias,
piedade espero achar, mais que perdão,
para as dores das minhas fantasias.

Agora vejo bem que longamente


em mim falou-se, e ria muita gente,
e de mim mesmo, às vezes, me envergonho.

Amargo fruto que colhi sonhando,


já sei, - me arrependendo e envergonhando –
que a sedução da vida é breve sonho.

Gabriele D'Annunzio
( 1863-1938 )

"Canção De Amores"
- Soneto –
Tradução de Edmundo Moniz (Inédita)

Entoa o mar uma canção de amores


durante o plenilúnio à selva quieta.
Vejo descer do zênite os fulgores
animando a penumbra mais discreta.

Trás o vento gregal frescos olores


das marítimas águas de Impruneta.
E dou-me às fantasias e aos ardores
dos desejos nostálgicos do poeta.

E mais amante e generoso acento


ouço se alçar do mar. Sons cristalinos
de um lindo nome me repete o vento.

E se perde nos altos diamantinos


um fantasma de vôo manso e lento,
com olhos grandes, ternos e divinos.

William Shakespeare
(1564-1616)

“Um Dia de Verão”


- Soneto XVIII -

Tradução de
Anna Amélia de Queiroz. Carneiro de Mendonça

Se te comparo a um dia de verão


és por certo mais bela e mais serena.
O vento espalha as flores pelo chão
e a demora do estio é bem pequena.

Às vezes brilha o sol em demasia


outras vezes desmaia com frieza.
O que é belo declina num só dia,
na eterna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,


esse encanto que tens não perderás
nem chegarás da morte ao triste inverno.

Nestas linhas, com o tempo, crescerás,


e enquanto sobre a terra houver um ser
meus versos, vivos, te farão viver.

William Shakespeare
( 1564-1616)

“Busco a Noite o Meu Leito ”


- Soneto XXVII -
Tradução de
Anna Amélia de Queiroz. Carneiro de Mendonça

Cansado de lutar corro ao meu leito


para o repouso a que meu corpo aspira
mas minha mente, à hora em que me deito
trabalha em mim, quando o trabalho expira.

Pois já meus pensamentos bem despertos


correm, ciumentos para a tua busca,
e conservo os meus olhos bem abertos
olhando a escuridão que o cego ofusca.
Minh'alma em sonho vê tua figura
que, como se essa sombra me cegasse
- jóia brilhando sobre a noite escura

faz bela a noite e nova a sua face.


Assim de dia o corpo e à noite a alma
por ti, como por mim, não acha calma.

William Shakespeare
( 1564-1616)

“Busco a Noite o Meu Leito ”


- Soneto XXVII -
Tradução de Gomes Filho

Busco, à noite, o meu leito, exausto da labuta


pois é justo um repouso aos membros fatigados.
Nova jornada, entanto! É meu cérebro em luta
com o pensamento vivo, e os sonhos, acordados.

Romaria ou vigília?... Eu sei que não me escuta


tão longe de onde estou, por mal dos meus pecados,
aquela por quem vivo. E o coração disputa
às estrelas do céu seus olhos encantados.

Bem abertas mantendo as pálpebras dormentes,


cego, na escuridão, sinto mais que os videntes
que falta em sua face a luz do mar que é puro.

Assim, de dia ao corpo, e de noite, à minha alma,


por que hão de me roubar ao espírito a calma
que esse amor não me deu porque foi tão perjuro?

Obs.: Transposição para a forma petrarqueana,


e em versos alexandrinos.

William Shakespeare
( 1564-1616)

“A União dos Corações”


- Soneto CXVI -
Tradução Heitor P. Fróes

Nada infirma a união dos corações,


quando sincera; o verdadeiro amor,
posto à prova, resiste às provações
e arrosta dos contrários o clamor.
O amor é um marco que não perde o prumo,
nem o abala o furor da tempestade;
é uma estrela em que o nauta encontra o rumo,
sem que possa medir-lhe a intensidade.

Não se altera com o tempo, muito embora


ande às voltas com lábios de carmim;
não muda dia a dia e de hora em hora,

antes resiste do princípio ao fim.


Se alguém negar tudo o que aqui foi dito,
é que não sou poeta... e o amor é um mito!

Elisabeth Barrett Browning


1806-1861

“ Ama-me Por Amor Somente ”


- Soneto-

Tradução de Manuel Bandeira

Ama-me por amor do amor somente.


Não digas: "Amo-a pelo seu olhar,
e seu sorriso, o modo de falar
honesto e brando. Amo-a porque se sente

minha'alma em comunhão constantemente


com a sua". Porque pode mudar
isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade


de tuas mãos enxuga, pois se em mim
secar, por teu conforto, esta vontade

de chorar, teu amor pode ter fim!


Ama-me por amor do amor, e assim
me hás de querer por toda a eternidade.

Christina Georgina Rossetti


(1830-1891)

"Remember"
Tradução de Manuel Bandeira

Recorda-te de mim quando eu embora


for para o chão silente e desolado;
quando não te tiver mais ao meu lado
e sombra vã chorar por quem me chora.

Quando não mais puderes, hora a hora,


falar-me no futuro que hás sonhado,
ah! de mim te recorda e do passado,
delícia do presente por agora.

No entanto, se algum dia me olvidares


e depois te lembrares novamente,
não chores: que se em meio aos meus pesares

um resto houver do afeto que em mim viste,


- melhor é me esqueceres, mas contente,
que me lembrares e ficares triste.

" Moderação "

Paul Marie Verlaine


(1844 - 1896)
Tradução de Baptista Cepellos

"A batalhas de amor campo de pluma."


(Gôngora)

Languidez, languidez! Tem paciência, formosa!


Acalma esse febril e indômito desejo!
A amante deve ter, no embate mais sobejo
o abandono da irmã, tímida e carinhosa.

Em teus afagos, pois, sê branda e langorosa,


como do teu olhar o dormente lampejo,
que embora fementido, um prolongado beijo
vale mais que a expressão da carne luxuriosa.

Tu me dizes, porém que no teu seio ardente,


ruge a fulva paixão, famulenta e bravia;
pois deixá-la fugir, desenfreadamente!

A fronte em minha fronte e a mão na minha presa


choremos, doce amor, até que venha o dia,
jurando o que amanhã negarás com certeza!

Renúncia"

Musset ( 1810-1854)
Louis Charles Afred de Musset
Tradução de Hélio C. Teixeira
Mesmo quando o pesar, que fere tanto,
renascer neste morto coração;
mesmo quando, trazendo-me acalanto,
a esperança me der nova ilusão;

mesmo quando o fulgor do teu encanto,


procurando acalmar minha razão,
com ternura e pudor secar meu pranto,
nem assim te direi minha emoção!

Mas, no futuro, certamente, a vida,


que hoje em teu sonho bela continua,
há de deixar-te, enfim, desiludida!

Terás, então, o amor que se escondeu:


a minha mão há de suster a tua,
meu coração há de escutar o teu!

Mallarme, Stéphane.
(1842-1898)

"Angustia "
Tradução Luís Martins

Não venho aqui vencer teu corpo, oh! ser obscuro


que os pecados de um povo juntas, nem desejo
revolver tristemente teu cabelo impuro
sob o incurável tédio oriundo do meu beijo.

Quero um sono sem sonhos no teu leito, insano


sono que os panos dos remorsos envolveram
e que podes gozar, após teu negro engano,
tu que o nada conheces mais que os que morreram.

O Vício que polui minha nobreza inata


pôs em mim como em ti, um selo condenado.
Mas enquanto o teu peito pétreo é habitado

por um tal coração que nenhum crime mata,


eu fujo atormentado, envolto em meu sudário,
com pavor de morrer se dormir solitário.

Gerard de Nerval
(1808-1855)
" El Desdichado"
Tradução de Raymundo Magalhães Junior

Eu sou o tenebroso, - o viúvo, - o inconsolado


Príncipe d'Aquitânia, em triste rebeldia:
é morta a minha estrela, - e no meu constelado
alaúde há o negror, sol da melancolia.

Na noite tumular, em que me hás consolado,


o Pausílipo, a Itália, o mar, a onda bravia,
dá-me outra vez, - e dá-me a flor do meu agrado
e a ramada em que a rosa ao pâmpano se alia . . .

Sou Biron? Lusignan? Febo? O Amor? Adivinha!


As faces me esbraseia o beijo da rainha;
cismo e sonho na gruta em que a sereia nada . . .

Duas vezes o Aqueronte, - é o grande feito meu-


transpus a modular, nesta lira de Orfeu,
os suspiros da santa e os clamores da fada...

" El Desdichado"

Je suis le Ténébreux, - le Veuf, - l'Inconsolé,


Le Prince d'Aquitaine à la Tour abolie :
Ma seule Etoile est morte, - et mon luth constellé
Porte le Soleil noir de la Mélancolie.

Dans la nuit du Tombeau, Toi qui m'as consolé,


Rends-moi le Pausilippe et la mer d'Italie,
La fleur qui plaisait tant à mon coeur désolé,
Et la treille où le Pampre à la Rose s'allie.

Suis-je Amour ou Phébus ?... Lusignan ou Biron ?


Mon front est rouge encor du baiser de la Reine ;
J'ai rêvé dans la Grotte où nage la sirène...

Et j'ai deux fois vainqueur traversé l'Achéron :


Modulant tour à tour sur la lyre d'Orphée
Les soupirs de la Sainte et les cris de la Fée.

Charles - Pierre Baudelaire


1821 - 1867

"Tristezas da Lua "


Tradução Martins Fontes

Hoje, a lua, a sonhar, mais pálida e mais fria


tem, reclinada sobre os coxins siderais,
o langor feminil de quem acaricia, i
antes de adormecer, os seios virginais.

Sobre o fofo cetim das nuvens, desmaiada,


nos céus, passeando o olhar, vê surgirem visões,
que argênteas, no palor da noite iluminada,
ascendem para o azul, como alvas florações.

Quando às vezes, na terra, amorosa e discreta,


ela deixa cair uma gota de opala,
uma lágrima irial, de tons de catassol,

sobre a concha da mão, notâmbulo poeta


toma-a, para, furtiva, ir piedoso guardá-la
dentro do coração escondendo-a do sol.

"Sed Non Satiata" (01)


Charles Baudelaire
Tradução de Jamil Almansur Haddad

Ó bizarra deidade, escura como os lutos,


de perfume que junta almíscar mais havana,
obra de algum obi, o Fausto da Savana,
sombria feiticeira, a dos negros minutos,

prefiro ao vinho, ao ópio, ao absinto, o remédio,


elixir ou paixão, que de meus lábios mana;
meus sonhos para ti partem em caravana,
teus olhos são cisterna em que bebe o meu tédio.

Nos teus olhos, tua alma encontra desafogo,


ó Demônio cruel! amortece o teu fogo;
nove vezes não posso como o Éstige obscuro

abraçar-te, e não posso, ó hedionda libertina


para quebrar-te o brio e pôr-te contra o muro,
no teu leito infernal tornar-me Proserpina!

" A Fonte de Sangue "


Charles Baudelaire Tradução de Ivan Junqueira

Sinto por vezes que meu sangue corre em fluxos,


Assim qual uma fonte em rítmicos soluços.
Eu bem que o escuto numa súplica perdida,
Mas me tateio em vão em busca da ferida.

Pela cidade vai, como entre espessos buxos,


As lajes transformando em ilhas e repuxos,
Matando a sede em cada boca ressequida
E a paisagem deixando em púrpura tingida.

Muitas vezes pedi a um vinho caviloso


Aplacar por um dia o horror que me domina;
O vinho aguça o ouvido e os olhos ilumina!

Busquei então no amor um sono descuidoso;


Mas o amor para mim é um leito de suplício
Que a sede há de saciar a essas ninfas do vício!

" A Fonte de Sangue "


Baudelaire
(francês - 1821 / 1867 )

Muitas vezes parece jorrar o meu sangue


como uma fonte - então me sinto vago, exangue;
ouço-o como um murmúrio surdo em minha vida
mas me atormento em vão, sem achar a ferida.

Pela cidade inteira a escorrer, vai formando


sobre um campo fechado, ilhas de vez em quando,
e vai matando a sede a cada criatura
pondo em tudo o que toca uma rubra moldura.

Tenho pedido sempre aos vinhos capitosos


esquecer, por um dia, essa angustia tão rara,
- o bom vinho que à vista e que ao ouvido aclara.

E só no amor achei os sonos generosos,


mas o amor para mim a um leito em brasas, feito
para um sofrer cruel! E um inferno em meu peito!

" A Uma Dama "


Ricardo León
(espanhol – 1877 / 1943)

Do instante em que vos vi, minha Senhora,


fiquei cativo à vossa formosura,
e nas entranhas dessa noite escura
que é a minha vida - amanheceu a aurora!

Piedade! pois minha alma vos adora


prisioneira em dulcíssima loucura,
e amor eterno nestes versos jura
com essa ternura que em meu peito chora !

Não vos ofenda, pois, o meu carinho,


que os vossos claros olhos, possa tê-los
como luz a guiar o meu caminho...

Foi minha doce predição mirá-los


pois se a amá-los cheguei, tão-só por vê-los
certo, Senhora, hei de morrer, de amá-los!

" Adormecido No Vale "


Rimbaud
( francês- 1845 / 1891 )

É uma clareira verde, onde canta um riacho


prendendo alegremente às ervas seus farrapos
prateados; onde o sol da orgulhosa montanha
brilha. É um valezinho a espumar claridades.

Um jovem soldado, a boca aberta e a cabeça


descoberta a molhar-se na erva fresca, azul,
dorme; está estirado ao chão, a céu aberto,
pálido, no seu leito verde, à luz que chora.

Os pés nos lírios roxos, dorme. E sorri como


sorriria uma criança enferma, em sono leve.
Natureza - aconchega-o bem: ele tem frio!

Os perfumes não mais lhe excitam as narinas;


dorme ao sol; tem a mão abandonada ao peito.
Dois rubros orifícios sangram-lhe a direita.

" Ela "


Guillermo Valencia
(colombiano - 1873-1942)

Escondida nas sombras da pedreira


de minha mente calcinada, pura
como o diamante no carvão, fulgura
seu rosto como o vi a vez primeira.

E qual paciente lapidário, espera


meu amor a visão humilde e pura
em que hoje envolvo a sua ideal figura
de artista, de mulher, de feiticeira.

Se algo palpita no meu poema, gota


d'água no areal, pegada de alguma ânsia
que ainda agita e refaz minha alma rota,

se rasga as sombras a centelha bela


de um verso - luz que brilha na distancia –
e sua ardente irradiação - é ela!

" Epitáfio de Elizabeth Ranquet "


Corneille
(francês - 1606-1684)

Não chores ao passar junto a esta sepultura:


é um relicário, sim, do mais nobre valor;
nela há mais do que um corpo, há uma alma que foi pura
e pulsa um coração em eterno fervor.

Antes de se quitar com a terra fria e dura


aos altos céus erguia um gesto de louvor,
mas aos pés do Criador, era a humilde criatura
a espalhar pela terra as graças do Senhor.

Com o pobre partilhou toda a sua riqueza,


o trabalho e a bondade eram sua nobreza,
seu suspiro final foi como um ai de amor.

O passante! Que tal exemplo alto o transporte!


Que a vida que aqui jaz nao te fale de dor
pois não morre jamais quem trazia tal sorte!

O Poeta Exige que o


seu Amor lhe Escreva "
Garcia Lorca
(espanhol - 1899-1936)

Amor de minha carne, viva morte:


espero em vão tua palavra escrita,
penso com a flor já seca, na desdita,
que se vivo sem mim, que importa a sorte?

O ar em torno é imortal. A pedra, inerte,


a sombra, não conhece, nem a evita.
Coração sem, ninguém, não necessita
o mel gelado que a alta lua verte.

Eu te sofri, rasguei as minhas penas;


tigre e pomba envolvi tua cintura
num duelo de carícias a açucenas.
Enche pois de palavras tal loucura,
ou deixa-me viver minha serena
noite de mágoa para sempre escura.

" Soneto XXIX "


Shakespeare
(inglês - 1564-1616)

Quando em minha desgraça e sem fortuna sigo


dos homens desprezado, e minha sorte choro,
praguejo contra os céus insensíveis, deploro
meu destino, e em protesto inútil me maldigo.

E os ricos de esperança invejo, e, num momento,


anseio ter também prazeres, alegrias,
tudo o que, à alma nos traz algum contentamento
e de amizades enche o decorrer dos dias...

Mas se assim desolado estou, e penso em ti,


tal como a cotovia ao vir da madrugada,
canto à espera do sol, à luz que ainda não vi,

e me sinto feliz, e sou rico talvez,


pois tendo o teu amor em minha alma encantada,
nem troco o meu Destino e nem invejo os reis!

Um Fundo Sentimento de Ternura "


Daniel Laínez
(hondurenho, contemporâneo)

Um fundo sentimento de ternura


por ti, mulher, meu coração abriga
- que outra, tal como tu, querida amiga,
soube aliviar a minha desventura?

Como num leito de infinita alvura,


com a água fresca que o calor mitiga,
em teus braços deixei minha fadiga
e adocei, com teus beijos, a amargura.

Ja tenho a boa e terna companheira


a quem posso confiar minha alma,
inteira, nas horas de tristeza e desencanto;

e nos jardins do nosso amor ardente


esvoaçam, coloridas, febrilmente,
as tontas borboletas do meu canto!
Velhas Cartas de Amor
Hector Pedro Blomberg
(argentino - 1890)

Ah, queima-las não pude... É que elas - quem diria?


guardam murchas assim tua morta paixão
- a febre de uma noite, as lagrimas de um dia -
como o eco já sem voz de uma ultima canção.

Tuas cartas! - num tempo a que eu retornaria –


fizeram palpitar de amor meu coração...
Depois, veio o silêncio, a distância, a agonia,
e o bálsamo do tempo - a cruel consolação!

Vivem nelas ainda um romance apagado,


a luz da mocidade, o fogo de um passado,
a gloria de uma vida aos vinte anos em flor...

Ontem, contava-as, sim - com um gesto indiferente...


Mas sobre elas caiu uma lagrima ardente ...
... E não pude queimar tuas cartas de amor...

( Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro


"Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou"
Vol. IV - 1a edição 1965)

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