ATMABODHA Português Sesha PDF
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de Sri Sankaracharya
Conhecimento de Si Mesmo
Sesha
Editado por
Associação Filosófica Vedanta Advaita Sesha
www.vedantaadvaita.com
Qual é aquela resposta que impede
o surgimento de toda nova pergunta?
Sesha
Índice
Prólogo do autor
Prólogo do colaborador
Introdução
Primeira Parte
Atmabodha e comentários
Atmabodha e comentários
Figura 1: O universo causal
Figura 2: O universo sutil
Figura 3: O universo denso
Tabela 1: O antakarana e as gunas
Tabela 2: Constituintes de jiva
Segunda Parte
Atmabodha
Epílogo
Atmabodha de Sri Sankaracharya
Prólogo do autor
Descobri o livro Atmabodha após meus 20 anos. Inicialmente
sua leitura me pareceu complexa, pois a terminologia e o con-
junto de ideias expostas eram completamente novos. Naquela
época recém iniciava minha aproximação ao vedanta, razão pela
qual o gênio de Sankaracharya, escritor do texto que nos ocupa,
era para mim completamente desconhecido.
Os anos seguintes se converteram em uma enxurrada de
ideias que avivavam completamente meu interesse por tudo o
que era relacionado com a meditação. Buscava entre os mais
dignos expoentes da cultura indiana, textos que pudessem
mostrar uma via clara ao incerto caminho da busca interior. No
entanto, me encontrei com textos tão abstratos e com ideias tão
etéreas, que com eles não se podia encontrar um padrão prá-
tico com que fosse possível seguir. Os autores anônimos dos
Upanishad, o Bhagavad Gita, assim como os conhecidos sutras de
Patanjali se converteram em um eixo central de reflexão sobre
um mundo que cada vez menos entendia.
Os anos se sucediam lentamente um após o outro e a semente
plantada pelo contínuo estudo começou a brotar. Naqueles dias
me dedicava quase que diariamente ao ensinamento e aprendi-
zagem da filosofia oriental e intercalava todo este estudo com
meus estudos de engenharia. Tornou-se manejável o jargão que
buscava descrever o mundo a partir da visão oriental e busquei
continuamente clarear as ideias que levaram ao aspecto prático
que revela o mistério do Ser.
Sete anos de práticas ininterruptas sobre os mais variados
cenários possíveis de meditação se converterão em uma decep-
ção constante devido a frenética atividade mental. Busquei de
mil maneiras possíveis encontrar um caminho que pudesse me
levar a quietude mental. Experimentei todo tipo de práticas
meditativas, dos mantras aos kirtans e destes aos biyans1, passan-
do naturalmente pelo controle da respiração e a “indagação do
eu” que propunha Ramanamahashi, por todas elas sem encontrar
o qualquer mínimo alivio.
Momentos excepcionais de quietude mental ocorreram tam-
bém neste período, mas a perda rápida daqueles instantes obti-
dos devido ao torturante movimento da vida me fazia duvidar
inclusive da veracidade destas experiências. No entanto, nunca
detive a indagação interior; não importando que ao sentar-me
e buscar praticar a meditação na postura, caia continuamente
para o estado de sonolência e a dormir ou que a dor nas pernas
e costas se apresentavam como torturas insuportáveis. Apesar
da ignorância que me cobria e a dor habitual quando me senta-
va a meditar, lutava por encontrar o silêncio que tantos livros e
mestres formulavam como fruto desta prática interior.
Como um caminhante perdido no deserto, busquei beber
com desespero o néctar de um conhecimento que me superava.
Memorizei inteiramente muitos livros, disciplinei minha mente
e corpo de maneira espartana. Tudo exclusivamente para pre-
parar minha mente a um encontro que jamais se apresentava.
Assim, estudei profundamente muitos dos prakaranagrantas
ou livros introdutórios ao vedanta, entre eles o Atmabodha,
com o simples desejo de encontrar aquele ensinamento que
me oferecesse a resposta a minha desesperada busca de se
saber o que é o Ser.
Aos 26 anos, no dia 12 de maio, ao entardecer, finalmente
aconteceu o que tanto busquei e jamais tinha imaginado que
chegaria de maneira tão franca. Durante horas, e finalmente
dias inteiros, a mente mergulhou no mais profundo e inima-
ginável infinito. Milhares de segredos que nunca foram segre-
dos foram encontrados. Inimagináveis galáxias e universos se
Atmabodha
e comentários
Atmabodha
e comentários
Sloka 1
“Eu componho o Atmabodha, o conhecimento de Si Mesmo,
para servir as necessidades daqueles que, tendo se purifica-
do mentalmente através de práticas e austeridades, e haven-
do adquirido paz interior, carecem de inquietudes e buscam a
Liberação”.
Sloka 2
“Como o fogo é a causa direta da cocção, assim a compre-
ensão que outorga o Conhecimento, e nenhuma outra forma de
disciplina/prática, é a causa direta da liberação, porque a libe-
ração não pode ser obtida sem o Conhecimento de Si Mesmo”.
Sloka 3
“A ação não pode destruir a ignorância porque a primeira
não está em conflito com a segunda. Apenas a compreensão que
outorga o conhecimento é capaz de destruir a ignorância, como
apenas a luz é capaz de diluir a densa escuridão”.
4. O gnana yoga representa o aspecto do Vedanta Advaita que busca, mediante o discer-
nimento aguçado, uma compreensão que outorga a experiência da Realidade não-dual.
Enquanto que, o bhakti yoga busca, mediante a vivida experiência devocional, uma com-
preensão de integração entre Deus e seu devoto, entre aquele que ama e o amado.
Quando Sankara menciona a palavra ignorância, agnana
busca mostrar não uma falta de conhecimento, mas sim um
conhecimento real, mas errôneo. Por exemplo, ao observarmos
durante uma noite brilhante uma concha na praia, se é possível
supor erroneamente que ali existe uma moeda de prata. Agnana
implica tomar como real algo inexistente. Outro exemplo possí-
vel seria o de repreender qualquer pessoa em um sonho. Quan-
do na realidade ela não existe, parece ser real quando dormi-
mos. Não se conhece nada em sonhos que repreenda o erro, mas
assumimos como uma percepção válida. Ver o ilusório como
sendo real é agnana, ignorância.
A vida nos impulsiona continuamente a ação. O ato de
estarmos vivos comporta a responsabilidade de interagir com
o meio através de nossas características pessoais. É nesta inter-
-relação de situações pessoais e do meio aonde se requer manter
um processo que metaforicamente Sankara denomina de “coc-
ção”, ou seja, é necessário atender aos eventos que se apresen-
tam a partir de uma atenção livre de inquietudes e de desejos. O
segredo do tema se encontra em que o corpo e a mente respon-
dam exclusivamente aos eventos que fazem parte do momento
presente, do aqui e agora. Quando a percepção e sua resposta
são exclusivas ao presente e esta interação é continua, ou seja,
permanece em “cocção suficiente”, se estabelecerá uma com-
preensão que culminará nos estados superiores de Consciência:
Concentração, Meditação e samadhi. Esta experiência superior
de compreensão pressupõe a destruição da ignorância, agnana.
O Ocidente tem tratado de abordar ao longo do tempo o pro-
blema da aproximação a Verdade, ao Real, mediante a categori-
zação da ação em um plano moral. Assim, se tem configurado
ao longo das épocas diferentes pautas éticas que, dividindo as
ações ou compreensões em “boas” e “más”, pretendiam consti-
tuírem-se em modelos estáveis de referência na busca interior.
Independentemente se seu valor relativo como fator de coesão
social, o tempo tem demonstrado fartamente a futilidade de tais
tentativas como possível via de acesso as realidades superiores.
A partir do vedanta se estipula que são o Conhecimento e o
Amor as vias por excelência idôneas para percorrer o caminho
a liberdade. Assim afirmamos que a atividade moral por si mes-
ma não pode ser agente que induza a liberdade pessoal. Então,
não é a ação como tal o que vale, mas sim a compreensão asso-
ciada a ela, pois sem esta compreensão a ação e a ignorância
podem coexistir indefinivelmente por muito “virtuosos” que
sejam nossos atos. Mas além de qualquer ética relativa está a
compreensão que surge em forma de liberdade.
A ação não tem que ser a escala através do qual se dará uma
solução ao problema do encontro com o Real. Associar-se as vir-
tudes não permite encontrar uma condição que seja consistente
para a busca interior. O que vale das coisas é a compreensão que
delas temos.
Após o estabelecimento da importância da continuidade na
compreensão presencial, se entende a insistência em instaurar
a atenção como sadhana principal, e como esta atenção tem que
ser realizada sem esforço, isto é, sem um sentido volitivo asso-
ciado. Propõe-se permanecer atentos sem esforço ao mundo
que aparece, a realidade presencial que acontece; sendo assim
que o único mundo que aparece sem esforço é este que surge
no aqui e agora, por isto afirmamos que todo nosso sadhana5
implica em estar continuamente atento ao momento presente.
Sloka 4
“É apenas devido a ignorância produzida por uma equi-
vocada compreensão que o Ser não-dual aparece como finito
e delimitado a “nome e forma”. Quando a ignorância é des-
truída, o Ser não-dual, que não admite nenhuma multiplici-
dade, revela a Si Mesmo cuja verdadeira a natureza é não-
-dual, tal como o sol se revela quando as nuvens se afastam”.
6. Aconselhamos ao leitor a ler o capítulo de Beleza e Simetria do livro “Quântica & Medi-
tação”, texto de Sesha editado pela AFVAS, agosto 2012 (www.vedantaadvaita.com).
Considerando que a própria Terra como planeta que se apre-
senta como sendo um campo fechado, tal como se apresenta a
termodinâmica, temos que afirmar que sua energia total sem-
pre se conserva. Os variados ciclos das estações da climatologia
são as respostas da natureza diante das variáveis que se apre-
sentam como temperatura, velocidade da terra, luminosidade,
gravitação lunar, etc. Os ciclos das estações e as variáveis que
os criam são entre eles diferentes, no entanto, a soma de tudo
o que acontece sempre permite manter o equilíbrio termodinâ-
mico de todo o sistema, ou seja, da terra. As forças da nature-
za são em essência expressões das quatro forças fundamentais,
razão pela qual podemos supor que estas forças promovem um
caráter compensatório para que os sistemas fechados se conser-
vem diante as alterações constantes que ocorrem. Simetria é o
sentido de unidade que existe na aparente mudança. Assim as
forças modificam-se incessantemente compensando-se umas as
outras, mas o sistema aonde elas atuam sempre está em equi-
líbrio. Este é o encanto da simetria: permitir as mudanças sem
jamais perder o equilíbrio.
A simetria pode também expressar-se na atividade psicoló-
gica do ser humano. A mente produz imensuráveis simetrias
que, no fundo, são estados de compreensão em constante movi-
mento com o fim de manter o equilíbrio do sistema mental. A
partir desta perspectiva, os diversos padrões psico-afetivos que
apresenta o indivíduo não seriam mais que as simetrias que por
uma única identidade base se estabelece no comando de seu
comportamento. Esta simetria se expressa mediante a diversi-
ficação das condutas psíquicas que oferecem uma riqueza de
atributos a personalidade. Assim, a base psicológica de todo ser
humano se sustenta no desejo de existir como um eu7. São as
diversas simetrias que emergem dos diversos aspectos de um
impulso primitivo e básico as que levam a uma individualida-
de em permanecer-se como uma unidade psico-cognitiva. As
diversas simetrias são a diversificada expressão dos hábitos
7. Os budistas geralmente nomeiam a esta condição básica e primária da mente como
tahna, o desejo de existir como um eu.
mentais e de sua aparição como resposta a qualquer atividade
cotidiana. A partir disto é fácil então converter o amor em ódio
e vice-versa ou o cansaço em força ou a esperança em decepção,
inclusive o prazer em dor.
Graças a elegância do conceito de simetria podemos descar-
tar os julgamentos de valor sustentados nas apreciações anta-
gônicas e diferentes como “boas” e “más”, e gerar assim um
profundo e eficaz entendimento dos processos mentais que
adornam o comportamento humano.
A simetria como ferramenta teórica, nos permite afirmar que
a ignorância, agnana, surge com a aparição do ato volitivo8 na
cognição. Esta volição imprime um sentido de diferenciação na
natureza não-dual da Realidade, criando uma aparente delimi-
tação de inumeráveis simetrias que a mente adverte mediante
a diversidade de nomes e formas. São os nomes e formas quem
se relacionam através do raciocínio e criam a distinção entre
os diferentes conteúdos mentais, inclusive entre o perceptor e
o percebido. No entanto, devido ao surgimento das simetrias
duais em um sistema eminentemente não-dual, que se requer
uma compensação na própria cognição do sistema fechado, se
fazendo necessário a aparição de karma e maya como elementos
equilibradores da equação que produz a dualidade. Devido a
novidade das presentes ideias, solicito ao leitor paciência. Nos
parágrafos seguintes se explicará detalhadamente o desenvol-
vimento de abordagens que esclarecerão as afirmações prévias.
O vedanta cunhou os termos karma e maya como forças que
imperam na natureza psíquica, tal como a ciência cunhou os
termos “força forte” e “força fraca” que subjazem no átomo.
Karma tem relação com a força de causalidade, com o contí-
nuo dinamismo que induz o impulso de nascimento do eu.
O objeto essencial do karma é, mediante o intercambio e a
ação, induzir o sentido de permanência da própria mudança
9. Regiões do espaço-tempo aonde as leis da física não funcionam. Por exemplo, o Big
Bang ou grande explosão a que se referem os astrofísicos como sendo a origem do uni-
verso, é uma região aonde as leis da física não funcionam ou simplesmente são diferen-
tes das convencionais.
Sloka 5
“O praticante, devido as repetidas compreensões que dia-
riamente outorgam as experiências, purifica sua mente que se
encontra envolvida pela ignorância; a compreensão desfaz a
ignorância tal como o pó do kataka desaparece depois que se
tem limpado a água lodosa”.
10. São a diversificada coletividade dos devas que coloca em movimento as engrenagens
que provê a aparição do corpo físico.
comportamentos em situações coletivas no nível de família,
raça, cidade, pais, etc.
O prarabdha karma , ou seja, conjunto de ações-consequências
que se desenvolvem ao longo da vida, desde o nascimento até
a morte, pode apresentar-se como individual ou coletivo, tal
como se explicou no parágrafo anterior. O karma prarabdha esta-
belece certo grau de denominadores comuns em nossos siste-
mas físicos enraizados na presença da genética ou nas condutas
coletivas mediante costumes grupais. Estamos programados
para responder sob simetrias de conduta que são semelhantes e
por isto vemos o mundo se forma parecida, pois os parâmetros
sob os que se configuram nosso corpo físico, energético e men-
tal são altamente semelhantes em função do karma prarabdha
estabelecido antes do momento de nascer.
Nossas respostas físicas e mentais as ações cotidianas que
realizamos estão sempre sujeitas aos condicionamentos genéti-
cos e culturais que assumimos como válidos em função de nos-
sas próprias tendências inatas. Vemos a dor de uma maneira e
encaramos a felicidade de outra também pessoal. Não somos
livres de reagir: nossas tendências, nossos samskaras11 nos obri-
gam a interpretar o mundo de uma maneira peculiar. Por isto o
samsara, como roda de mortes e renascimentos, é o final da dua-
lidade: um universo sempre em mudanças, em evolução, que
tende a um aperfeiçoamento ainda desconhecido, nele é apenas
possível mover-se entre os opostos de prazer e dor.
Estar submergido nesta continua mudança, sem poder
encontrar uma solução a esta impermanência é como dormir
sem notar que o universo onírico apenas existe na mente do
sonhador. Enquanto o sonho da dualidade perdurar graças a
ignorância do indivíduo, o universo se vê como real graças a
maya, tal como os eventos do sonho eles aparecem como sendo
reais para quem dorme. No entanto, basta uma correta cognição
para revelar o mistério da ilusão e do sonho; basta despertar
Sloka 7
“O samsara parece ser real tanto tempo quanto o Brah-
man não-dual, que é a base consciente e substancial de tudo
o existente, permaneça incompreendido. Isto é semelhante a
ilusão de se ver o metal prata em uma concha de ostra”.
Sloka 8
“A percepção das múltiplas e diferenciadas “formas” existe
exclusivamente na mente de quem percebe, sendo seu substra-
to o eterno e todo abrangente Vishnu, cuja natureza essencial
é Existência e Consciência. “Nomes” e “formas” são como as
pulseiras e braceletes, e Vishnu como sendo o ouro”.
12. Tatva é uma expressão que denota certa categoria de matéria. Assim, os tatvas são:
akasha, vayu, agni, apas e pritivi, os cinco elementos (éter, ar, fogo, água e terra, respecti-
vamente). Perceba que se chamam semelhantes aos elementos densos e que os sutis e
eles causam confusão ao leitor não habituado.
13. Guna se traduz como “atributo”. Talvez o mais parecido a este conceito seja o que
chamamos de “informação”. Guna é uma qualidade de matéria que, ao entre mescla-
rem-se com similares, oferece potencialidade de vida, semelhante a informação que ao
entre mesclarem-se induz em energia, matéria ou qualquer outro tipo de substância.
Para se aprofundar nestes conceitos aconselhamos o livro “Quântica & Meditação”,
Sesha, editado pela AFVAS, Espanha, agosto de 2012. (www.vedantaadvaita.com).
14. Também chamado hiranyagarbha ou “ovo cósmico”. Este mundo é sutil, semelhante
a matéria constitutiva das ideias ou do prana, vitalidade que desprende o sol.
individual (antakarana); que por sua vez formam o mundo ener-
gético ou prânico individual e coletivo. Estes cinco elementos
sutis, por sua vez, se entre mesclam através de um processo
denominado panchikaranam, ou quintuplicação, dando nas-
cimento aos cinco elementos densos. Estes elementos densos
serão por sua vez a base substancial constitutiva dos objetos
densos do corpo humano e do universo15.
Akasha se traduz como “éter” e possui duas variantes, depen-
dendo se há referência a sua representação em estado sutil ou
denso. Se for akasha em estado sutil, fazemos referência a uma
substância permeável e sutilíssima que favorece a possibilidade
de que nasçam nele os demais objetos. A água induz o nascimen-
to de todo tipo de vida orgânica; por exemplo, a sua umidade
favorece a aparição de moldes; também produz chuva, oceanos
e mil coisas mais. Akasha é um material que, diferente da água,
favorece a presença da vida sutil em qualquer uma das condi-
ções que este se apresente. Akasha é o sustento espacial das ideias
e das emoções, semelhante como é o espaço, o substrato que sus-
tenta os volumes, assim akasha é o sustento dos materiais e das
formas ideais. Quando akasha faz referência aos mundos densos,
tem a ver com o som, com a vibração como atividade presente
em toda a matéria. Deste modo, quando Sankara usa um compa-
rativo a akasha, busca expressar que a Consciência Absoluta con-
tém todas as coisas, semelhante a que o incomensurável akasha
contém espacialmente a criação sutil e densa.
Por outra parte, denomina-se de upadhi a todo sistema par-
ticular ou individual. upadhi é sinônimo de individualidade,
mas a usamos com uma conotação mais estrutural. Por exem-
plo, upadhi é o corpo físico, uma montanha, um objeto qualquer
ou qualquer sistema independente que possua substância,
inclusive ao próprio indivíduo ou qualquer de suas partes.
Todo upadhi pode ser expresso mediante nome e forma. Todos
15. O corpo denso do universo geralmente se denomina de virat; o corpo físico humano
se chama stula sharira (corpo físico), anna maya kosha (corpo ilusório de alimento), chaya
(sombra), e de muitas maneiras mais.
os upadhis estão distribuídos em “oni-abrangente akasha” e se
percebem diferenciados uns dos outros apenas a partir da pers-
pectiva de outro upadhi chamado “eu”.
Os upadhis formam toda simetria cognitiva, e que são instáveis
e impermanentes. As fronteiras que delimitam um upadhi jamais,
em nenhum deles, se mantém. O devido a impermanência, ins-
tabilidade e fugacidade do upadhis que cedo ou tarde as pessoas
terminam fadadas a evidenciar o caráter ilusório da percepção.
Os upadhis evoluem em função da mudança que sofrem as
fronteiras que os constituem. Assim, pois, carece de sentido
apresentar perguntas sobre a origem do universo. O sentido de
tempo e espaço acontece exclusivamente na mente de um per-
ceptor que detecta upadhis diferentes uns dos outros. A situação
é semelhante ao que acontece em um sonho enquanto dormi-
mos. Note o leitor que o sonhador pode perguntar-se sobre a
origem do universo que experimenta, pois detecta como sendo
real enquanto dorme. Pode apresentar o sonhador o nascimento
do universo a partir de um Big Bang ocorrido a treze milhões de
anos? Sim, com certeza. No entanto, ali as coisas são na medida
em que o sonho representa a percepção. Ao despertar, qualquer
pergunta sobre a origem deste universo onírico realizado no
próprio sonho carece de sentido, é completamente fútil. Nun-
ca nada nasceu; e mais, jamais realmente nada evoluiu, nem
sequer nada realmente morreu, apenas foi a mente experimen-
tando um mundo sob certos cânones que favoreciam a presença
de um universo particular.
Os upadhis são tão reais como qualquer evento de um sonho
enquanto se dorme, ou tão válidos como em ver a uma serpente
inexistente, por falta de uma correta cognição, ao observar a
uma corda enrolada no caminho, ou seja, são reais e ilusórios
por sua vez. A solução ao problema do que é Real não tem saída
se buscarmos encontrar um tipo de categoria especial de upadhi.
A solução válida implica em estabelecer uma forma de cognição
aonde todo upadhi e os restantes existentes possam ser experi-
mentados de maneira simultânea e onipresente. Esta atividade
cognitiva que revela esta opção denomina-se de “não-dualida-
de”. Ali o perceptor do universo, que é a própria Consciência.
Não se diferencia da substância universal que experimenta. Um
upadhi é simultaneamente ele mesmo e os restantes; experimentar
esta afirmação implica em desdobrar o marco espacial-temporal
e criar um contínuo como a base essencial da compreensão e
do saber. O marco de desenvolvimento deste novo marco de
cognição se denomina de “não-dualidade”. O nome com que a
tradição vedanta expressa a Consciência conhecendo-se de forma
simultânea e onipresente no universo inteiro denomina-se de
Brahman. Brahman se assume como a Realidade não-dual Abso-
luta, é Consciência, Existência e Bem aventurança Absolutas.
Sloka 10
“Devido a incessante atividade mental do perceptor, pos-
suidor de consciência individual, os diversos upadhis (formas
diferenciadas) como casta, cor e etapa de vida são sobrepostos
ao Atman tal como o sabor e a cor podem sobrepor a água”.
Sloka 11
“O corpo denso, provido de karma, é consequência das ações
passadas e está formado pelos cinco grandes elementos sutis, que
se tornam densos quando a metade de um dos elementos sutis se
une com a oitava parte de cada um dos outros quartos. O corpo
denso é chamado de “sede” da experiência do prazer e da dor”.
18. O material causal que servirá de base substancial pela própria entre mescla se deno-
mina de gunas e se traduz como “qualidade primária” ou “atributo básico da matéria”.
Deve-se entender que a substância guna não possui ainda a qualidade densa, como a
uma pedra, um quark ou um átomo físico. A matéria guna se parece ao que substancial-
mente se constituem um sonho quando não há imagens nem recordações dele, é maté-
ria nitidamente causal. As gunas denominam-se como: satva, qualidade equilibrante,
rajas, qualidade ativa, e tamas, qualidade conformadora.
Ao entre mesclarem-se as gunas, dão nascimento ao universo
sutil. Ou seja, ao combinarem-se e preponderar satva nasce
akasha, éter; ao preponderar rajas emerge agni, fogo; ao prepon-
derar tamas, surge terra, pritivi; quando preponderam conjunta-
mente satva e rajas emerge vayu, ar; quando preponderam con-
juntamente rajas e tamas nasce a apas, água.
21. Os talas ou mundos superiores são em ordem ascendente: bhur, bubha, svaha, maha,
yanaha, tapaja e satyam. Outros estudiosos incluem mais dois, vaikunta e goloka, a morada
dos grandes devas.
22. Os patalas ou mundos infra-humanos são em ordem descendente: atala, vitala, sutala,
rasatala, talatala e patala. O leitor perspicaz poderá detectar a imensa relação que existe
entre este ancestral ensinamento a os diversos círculos de vida que expressa Dante Ali-
ghieri em sua “Divina Comédia”.
e tamásicos. São as entidades que possuem como fim a criação
e promoção da vida através do estabelecimento de funções e
órgãos que se ajustam as necessidades que por prarabdha karma
se requerem nos mundos existentes humanos e não humanos.
Como reflexão final, cabe assinalar o surpreendente grau
de semelhança que este modelo apresenta com os postulados
da física de partículas. Durante muito tempo se considerou o
átomo como o elemento de base da matéria, posteriormente se
descobriu que estava ele configurado por prótons, nêutrons e
elétrons. Resultando que no final estas partículas subatômicas,
junto as outras mais que seguem aparecendo sob a observa-
ção dos físicos, nãos seriam na realidade mais que modos de
integração dos chamados “quarks” que, de forma análoga aos
tatvas, são elementos praticamente sutis considerados como as
unidades básicas que, por agrupação, formam as estruturas
materiais.
Sloka 13
“Avidya ou ignorância, base do estado causal, é indescrití-
vel e sem origem; é um upadhi sobre-imposto a Atman. Sustenta-
mos seguramente que Atman é diferente dos três upadhis”.
25. O conceito mais próximo da divindade cristã denominado de Deus recai sobre seu
semelhante Ishvara, o senhor criador. No entanto, a expressão não-dual de Brahman
como Realidade total não possui modelo no pensamento cristão.
eu da percepção sem eliminar as restantes funções mentais que
servem de suporte ao reflexo da Consciência na mente.
Resulta ser um paradoxo que o ramo do conhecimento
que mais tem buscado descrever a natureza do universo tenha
sido a física; uma de suas ideias maravilhosas é a inter-relação
das forças através da apresentação de simetrias. Este conceito
de simetria, ao que temos definido como sendo “sentido de
identidade na diferenciação”, permite entender que os pla-
nos de existência a nível tanto individual como coletivo, ou
como descrição densa, sutil ou causal, são diversos modos de
expressão de um substrato básico comum que se desenvolve
de diversas maneiras através de múltiplas opções de combi-
nação. O elemento essencial e comum do qual toda a simetria
nasce é a força da Consciência, não apenas como uma expres-
são ideal, mas sim como regente da força necessária que cons-
titui e da vida ao universo.
Nesta linha, o surgimento de diversos estados de consci-
ência não é mais que o resultado de diferentes simetrias que
surgem dos diversos modos em que se pode estabelecer-se a
inter-relação sujeito-objeto no mundo da percepção; todos os
diversos estados de consciência possuem em comum a condi-
ção não-dual da Consciência como base primária da realidade.
Diferentemente da filosofia e da psicologia, a física tem se
aprofundado em suas investigações em parâmetros que desa-
fiam o modo racional de pensamento; conceitos como: “sime-
tria”, “simultaneidade”, “incerteza” e outros; Fazem parte há
tempos de seus postulados. Seria interessante que essa audácia
da física na hora de indagar e configurar modelos que impli-
cam em uma mudança total de paradigma se movesse a outros
ramos do conhecimento acadêmico, para que seja possível ini-
ciar a ser palpável sem temor, por exemplo, o conceito da simul-
taneidade na cognição mediante a experiência não-dual.
Sloka 14
“Devido a Consciência não-dual ser a base das cinco
envolturas (koshas), o Atman não-dual aparece com atributos
diferenciados, como ocorre com um cristal que parece dotado
de cores tal como o vermelho ou o azul, quando este está
sobreposto as cores vermelho ou azul”.
26. A contaminação se refere as porcentagens de tamas e rajas na matéria sutil que forma
o antakarana ou mente. Na medida que uma mente é mais primária, a presença de tamas
se faz mais evidente, o que leva a um estado de identificação com qualquer ação física
ou mental que realize. Por sua vez, na medida que rajas impera na mente, o impulso a
ação faz com que a mente saia em busca de um saber que ainda não reconhece que já se
encontra nela. Finalmente, a presença de maior quantidade de satva na mente provocará
compreensão e desenvolve claramente o intelecto. A sadhana, o trabalho interior de todo
o ser humano que busca um desenvolvimento pessoal, tem como raiz em transformar
os hábitos mentais tamásicos e rajásicos em sátvicos.
5. Anandamayakosha. Envoltura ilusória de bem-aventurança.
Corresponde a envoltura individual humana que faz par-
te do corpo causal do universo. Como já se tem comentado
previamente, o corpo causal corresponde a uma região de
existência formada pelas gunas em estado de equilíbrio, ou
prakriti. A Consciência associada a este corpo é semelhante a
quando em sonhos a mente encontra-se imóvel. Neste estado
não há formação mental alguma, por isto não há experiência
de existência de um sujeito neste nível. Semelhante também
ao momento de um desmaio, aonde parece que o universo se
resume em sua própria potencialidade de ação. Normalmen-
te, ao regressar deste estado a sensação de tranquilidade é
tão intensa que se nomeia de estado de “bem-aventurança”,
como se tivessem passados séculos ou milênios descansando
em um sonho sem imagens. Ao corpo causal do universo se
denomina de Ishvara.
Sloka 15
“Por meio de budhi, que é a função discriminativa da men-
te, se e possível distinguir a Brahman não-dual das envolturas
sobre impostas que o tem encoberto, da mesma maneira em que
se separa o grão de arroz da casca que o encobre, golpeando-o
com uma pedra de moer”.
27. Quando falamos da mente nos referimos necessariamente ao aspecto sutil e a sua
contraparte física cerebral. Toda atividade mental sutil possui uma contraparte física
que serve de intermediária a experiência do mundo denso. Sem a participação cerebral
se é impossível destacar qualquer atividade cognitiva.
28. Kutasta Chaitania.
29. Chidabaasa. Assim, budhi é o órgão em que se assenta a Consciência refletida ou
individual. Budhi é o órgão que está em contato com a Consciência não-dual, Kutasta
Chaitania e reflete por limitantes impostos em sua formação material, a consciência indi-
vidual ou Chidabaasa.
atividade denominada sínteses aonde floresce o saber. Assim,
a atividade budhica é a que permite reconhecer os objetos no
momento em que se produz a síntese dialética. A este processo
de comparação ou contraste “tese-síntese” para gerar uma sín-
tese se chama no vedanta “determinação dos prós e contras das
coisas” ou faculdade determinativa.
Por isto budhi é a faculdade mais propicia para discriminar a
realidade, devido a que nele se assenta a Consciência individual
e por fim o saber. Toda a compreensão é um ato budhico, seme-
lhante a todo o instante aonde exista a aprendizagem. Budhi á
como um reflexo quieto que se projeta em um lago cuja superfí-
cie se assemelha a um espelho. A atividade budhica não afirma
que todo evento conhecido seja real, não. A atividade budhica
apenas apresenta sentido de validade entre o objeto percebido
e a contraparte existente na memória. Afirmar ter visto uma
imagem de um cachorro verde implica uma realidade para o
perceptor, semelhante a alguém que devaneia por ter tomado
uma droga e faz das alucinações que experimenta algo valido.
O nível de realidade de uma percepção se determina em fun-
ção de que o objeto se reconheça e simultaneamente, se perceba o
seu complemento. Ou seja, uma percepção é Real quando, soma-
dos ao objeto conhecido, simultaneamente se experimenta os
objetos restantes que compõe o universo. Sob esta apresentação
o conhecedor não é diferente do conhecido. Quando o perceptor
se faz não-diferente do conhecido, a cognição adota uma condi-
ção não-dual; esta é a experiência que acontece na Meditação.
A expressão mais clara da função do intelecto, budhi, é o surgi-
mento do ato da compreensão; “saber”, é o resultado do ato budhi-
co que opera na mente. É por isto que Sankara relaciona a função do
intelecto com a causa que induz o conhecimento de Brahman não-
dual, que não é mais que a Consciência não-dual. Quando budhi
alcança um nível de “purificação” graças ao qual a Consciência
não-dual é coerente totalmente com a imagem refletida no antaka-
rana, mente, então a compreensão que surge permite ao conhece-
dor ser consciente da Realidade, o conhecedor é a Realidade.
É importante pontuar que a Consciência é essencialmente
um mar não-diferenciado de saber, é uma “multisimetria”
aonde todos os objetos estão em todos os lugares de forma
não-diferenciada. As diversas simetrias que de forma aparente
se estabelecem nos diferentes modos de percepção nos quais
o ahamkara, egoísmo, subsiste, se convertem nos objetos que a
mente comumente detecta sequencialmente. Assim, na simetria
da cognição que comumente experimentamos e que se deno-
mina “estado de Pensamento”, nos é permitido experimentar
sistemas separados, eventos ou campos fechados independen-
tes uns dos outros. Budhi, neste caso é a faculdade que deter-
mina que este campo fechado seja coerente com o previamente
registrado na memória; budhi outorga sentido de consciência ao
elemento percebido, graças a isto o experimentamos como real.
E por último, além da faculdade determinativa que temos
explicado, existe uma faculdade superior no antakarana que é
capaz de estabelecer os “prós e os contras” das coisas que São
em relação as que não são, ou seja, é capaz de discernir com
absoluta precisão o que É Real daquilo que não é. A esta capaci-
dade discernitiva geralmente se nomeia de viveka. Assim, viveka
á o ponto alto de budhi, a capacidade que outorga o saber que é
Brahman e distinguir o experimentado de maya, a ilusão.
Sloka 16
“Embora o perceptor individual não reconheça ao Onipotente
Atman não-dual como base substancial em todas as coisas dife-
renciadas, Ele se manifesta na mente associado a budhi, seme-
lhante a um reflexo nas águas claras ou em um espelho límpido”.
Sloka 17
“Graças a atividade de viveka é possível dar-se conta de que
o Atman não-dual é não-diferente do corpo denso, dos órgãos
dos sentidos, da mente, de budhi e de prakriti, e que é a testemu-
nha destas funções, comparável a um rei”.
Manas
Chitta
Ahamkara
30. Vritti é a agitação mínima por excelência, aquela simples porção de matéria mental
agitada. Se traduz vritti como “pensamento” ou “agitação da matéria mental”, manas.
de ahamkara, ou seja, quando existe budhi não há eu. Semelhan-
te como, quando existe a atividade manásica não há presen-
ça búdhica, de igual forma quando há budhi não há ahamkara.
Busca-se então perpetuar uma modalidade de percepção que
seja o suficientemente estável para que não nasça o sentido de
associação, do ahamkara. Ele se alcança quando a reação cogni-
tiva acontece relacionada ao presente, ao aqui e agora. Quando
a atenção se firma em uma exclusiva e continua reação presen-
cial, então o sentido de ahamkara desaparece, introduzindo-se a
cognição em um novo estado de Consciência.
A prática de uma reação presencial constante e contundente
a um presente contínuo vai desenvolvendo categorias de men-
te irreconhecíveis para a maioria dos seres humanos. Uma das
consequências mais comuns que tende a despertar em quem
alcança uma percepção continua ao momento presente é a apa-
rição de viveka, ou a qualidade discernitiva metafisica. Viveka é o
aspecto metafisico de budhi, e manifesta a qualidade de compre-
ender a natureza do Real mediante uma via intuitiva e direta.
O budhi está preparado para realizar determinações de prós
e contras, sobre os eventos profundamente mutantes e móveis,
ou seja, outorga a capacidade de ser consciente de objetos con-
dicionados pela atividade incessante de manas. Quando a ativi-
dade manásica se desacelera e se habilita a opção de aquietar
a mente, a qualidade determinativa búdhica da passagem ao
nascimento de uma contraparte “discernitiva”. A função discer-
nitiva, viveka, outorga a compreensão de realidades metafísicas
que derivam no entendimento do que é o Real versus aquilo
que é ilusório.
Sankara estabelece, portanto, que a faculdade discerniti-
va chamada viveka é o meio adequado para se compreender
a verdadeira natureza de Atman e conseguir diferenciá-lo cla-
ramente dos restantes upadhis ou estruturas aparentemente
limitadas.
Sloka 18
“Da mesma maneira que a lua parece mover-se quando as
nuvens se deslocam sobrepostas no céu, assim também é para
a mente carente de viveka, discernimento, o Atman parece estar
ativo, quando na verdade a percepção do mundo é apenas uma
sobreposição mental no qual intervêm os sentidos”.
Sloka 19
“O corpo denso, os sentidos e budhi se ocupam cada um de
sua respectiva tarefa com o suporte da Consciência inerente a
Atman, semelhante aos homens que trabalham com a ajuda da
luz que é inerente ao sol”.
31. Devido a faculdade ahamkara que faz parte de sua mente, antakarana
possui atualmente esta circunstância; sua mente tende ao pro-
fundo egoísmo que geram os ingredientes tamásicos que a com-
põe. A constituição material do antakarana estabelece funções e
características que determinam peculiaridades em cada indiví-
duo; cada mente é como uma presença digital, única e pessoal.
O corpo denso possui a faculdade de interatuar com os
sistemas constituídos de semelhante condição material. Atua
de maneira natural reagindo com saúde ou com enfermidade
segundo sejam as variáveis da comida, exercício, etc. soma-
dos isto ao equilíbrio do sistema de quem psicologicamente o
comanda. Os corpos físicos a maioria das vezes se autorregulam
se lhes é dada a oportunidade de fazê-lo; se não, respondem a
remédios, massagens, e dezenas de terapias que lhes permitem
voltar ao equilíbrio.
Da mesma maneira ocorre com os sentidos: sua atividade e
respostas se desenvolvem segundo as diretrizes de sua estrutura
material. Um sentido não se cansa por si e nem renega sua natu-
reza. Sempre estão dispostos a ser intermediários da informação
que por eles circula. Qualquer deficiência geralmente genética
ou fruto de excessos ou de deficiências em seu funcionamen-
to, jamais será decisão deles mesmos. A mente do ser humano
está cheia de confusão devido ao egoísmo que sente. O faz ver
modificadas e contrarias as coisas, levando seu corpo e sentidos
ao excesso ou as deficiências que não são parte de sua natureza.
O ser humano, por sua vez, conta com uma ferramenta
maravilhosa para conhecer-se: a capacidade de compreen-
são estabelecida no aspecto budhi de sua mente. Possuímos de
forma natural o don da atenção. A atenção é a faculdade que
direciona a consciência e permite estabelecer o conhecimen-
to. Aquilo que se atende se conhece, aquilo que não se atende
se desconhece. Graças à atenção, que é o aspecto dinâmico da
Consciência, podemos determinar julgamentos e reconhecer a
existência do meio que nos rodeia; graças a atenção conhecemos
e aprendemos. Esta capacidade de atenção é natural, flui desde
nossa mente e retém os objetos materiais ou ideais dando-lhes
sentido de existência e de realidade. Graças a atenção somos
conscientes de nós mesmos e do mundo que nos rodeia. A rea-
lidade se revela em sua verdadeira magnitude graças ao Saber
e ao Amor. Quem é destro na atividade inegoista do Saber e
do Amor consegue ver que todas as coisas fazem parte de uma
rede que interatua além do tempo e do espaço. O grande pro-
blema da percepção é o egoísmo, ou seja, experimentar as coi-
sas como múltiplas e diferenciadas umas das outras, o egoísmo
sobrepõe nossa realidade pessoal à realidade natural, fazendo
ver as coisas desde uma ótica relativa e equivocada.
A Consciência não é uma atividade fracionada nem dife-
renciável, por ser um contínuo; se assemelha ao espaço, cuja
natureza não apresenta partes. Basta sustentar a atenção sobre
qualquer evento que seja parte de um contínuo presente para
que este objeto revele de maneira espontânea as diversas sime-
trias de sua natureza, ou seja, se experimenta como a si mes-
mo e, simultaneamente, como seu complemento. Esta forma de
percepção é a mais amorosa, a mais inteligente. Permite ver a
tudo em todas as coisas; reconhece que o conhecedor do todo é
não-diferenciado do próprio todo conhecido.
De forma análoga a uma boneca de sal se diluí e se distribui
uniformemente no mar ao ser lançada a ele, as diversas modali-
dades de consciência individual que surgem nos diversos cam-
pos de percepção se resume por fim na Consciência não-dual,
que é seu substrato essencial, graças a sustentação da atenção
em qualquer evento que faça parte do momento presente.
É a função que temos denominado de budhi a que, em sua
condição de suporte, receptáculo ou reflexo da Consciência,
induz a aparição da consciência individual, atividade que
outorga compressões momentâneas e sequenciais associadas
aos instantes no qual a flutuação da matéria mental se detém,
fato que sucede quando há coincidência entre o percebido e o
previamente arquivado na memória. Enquanto manas não for
detido, se está no que chamamos “estado de dúvida”, e neste
estado não se pode gerar nenhuma compreensão.
A presença de atividade consciente, budhi, que ocorre no
momento em que se produz a quietude de manas e, assim, a
inibição do ahamkara, se explica pela alta qualidade rajásica que
opera em manas. As naturezas rajásica e tamásica possuem pre-
cisamente o poder de impedir que se vislumbre o reflexo pleno
da Consciência quando estas fazem parte integrante do antaka-
rana. Apenas budhi, por sua condição de induzir no sistema a
aparição da qualidade sátvica, se é possível conter e refletir em
forma de compreensão a força inerente a Consciência.
Sloka 20
“Alguns, por falta de discernimento, viveka, sobrepõe a
Atman puro, que é Existência e Consciência Absolutas, as carac-
terísticas e funções do corpo denso e dos sentidos, tal como as
pessoas comuns atribuem as características de ‘côncavo’ ou
‘azul’ ao céu”.
Sloka 21
“Assim como o reflexo da lua sobre as águas parece mostrar
que está se encontra em movimento, da mesma forma, devido
à falta de discernimento, viveka, o atuar, o regozijo e todas as
limitações que pertencem apenas a mente são falsamente sobre-
postas ao Atman”.
Sloka 22
“Apegos, desejos, prazeres, sofrimentos e outros, se perce-
bem como existentes enquanto perdurar a função budhica da
mente; deixam de ser percebidos no estado de sono profundo,
quando a mente deixa de funcionar. No entanto estas funções
diferenciadas que operam na mente pertencem apenas a ela e
não a Atman”.
Sloka 23
“A natureza de Atman é Eternidade, Pureza, Realidade,
Consciência e Bem-aventurança, assim como a luminosidade
é a natureza do sol, o frescor é a natureza da água e o calor é a
natureza do fogo”.
Sloka 24
”Noções tais como ‘eu sei’ ou ‘eu conheço’ são produzi-
das pela atividade do antakarana associada a dois aspectos de
Atman: Existência e Consciência”.
Sloka 26
“Quando se confunde o Atman com o indivíduo, como ao
confundir uma corda com uma serpente, tem-se medo; quando
‘Isso’ sabe que não é o indivíduo, mas penas o Atman Supremo,
não se tem medo”.
Sloka 27
“A realidade da mente, dos órgãos dos sentidos, etc., é ilu-
minada por Atman, do mesmo modo que uma jarra ou um pote
são por uma lâmpada, mas estes upadhis não podem iluminar
por si mesmos seu próprio Ser”.
Sloka 28
“Assim como uma lâmpada iluminada não necessita de
outra lâmpada para manifestar luz, assim Atman, sendo Cons-
ciência em Si Mesmo, não necessita de nenhuma outra Consci-
ência para manifestar seu Ser”.
Sloka 29
“O discernimento, viveka, direcionado a negar a realidade
dos upadhis, ajudado pelas sentenças das escrituras que dizem
de Brahman:’ nem é isto’, ’nem é isto’, permite, junto aos grandes
aforismos védicos, reconhecer a identidade da alma individual,
jiva, e o Ser Supremo, Atman”.
Srada
Nididhyasana
Sloka 30
“O corpo físico, junto com os elementos sutis diferencia-
dos recriados por avidya, a ignorância primigênia, e por prakriti,
cuja natureza ilusória é idêntica aos objetos diferenciados, são
impermanentes como bolhas. Perceba que, através do contínuo
discernimento, viveka, que é o Imaculado Brahman, completa-
mente distinto a suas envolturas diferenciadas”.
Sloka 31
“O que Realmente Sou é livre de mutações tais como nasci-
mento, senilidade e morte, porque o que Realmente Sou é distin-
to deste corpo; o que Realmente sou está desapegado de todos
os objetos dos sentidos, tais como o som e o sabor, porque em
Minha essência careço de órgãos sensoriais”.
Sloka 32
“O que realmente Sou está livre de apegos, de tristeza, de
malícia e de temor, porque o que Realmente Sou é algo distinto
da mente. O que É carece de prana e de mente, é puro, é mais alto
que o elevado e imperecível”.
Sloka 34
“O que realmente Sou carece de atributos e de ação, é eterno
e puro, é livre de mácula e de desejo, não apresenta modifica-
ções; devido a isto, realmente carece de forma e faz com que Eu
seja sempre livre”.
Sloka 37
“A impressão cognitiva ‘Eu Sou Brahman’, criada por uma
ininterrupta compreensão, destrói a ignorância e seus deri-
vados, da mesma maneira que a medicina rasayana destrói as
enfermidades”.
Definir a mente adequadamente nos permite estudá-la
com maior facilidade e com isto, poder chegar a predizer as
consequências em seu funcionamento. Para isto é necessário
apresentar um modelo que defina inteiramente suas funções
e qualidades. O vedanta, para tal efeito, estabelece a condição
sutil de sua substância mental e as quatro faculdades que esta
combinação gera. São budhi (intelecto), manas (flutuação), chit-
ta (memória) e ahamkara (sentido de identificação), os elemen-
tos fundamentais para investigar um modelo que sirva para
predizer processos cognitivos.
Nos slokas prévios, temos aprofundado sobre cada uma das
quatro funções que constituem o antakarana, a mente, por isto
no caso de dúvida por parte do leitor, o remetemos a leitura do
respectivo parágrafo32, se assim necessitar.
A mescla das quatro atividades obtém diferentes caracte-
rísticas da mente e a mescla dos constituintes materiais primi-
gênios de satva (equilíbrio), rajas (atividade) e tamas (inércia)
oferece, segundo o grau que se estabeleça, condições que se
exemplificam no quadro seguinte. É possível, segundo seja a
preponderância de substância sutil e a atividade cognitiva que
está em funcionamento, estipular diversas características da
mente. O quadro mostra algumas funções da preponderância
de cada um dos constituintes mentais associados as funções
básicas do antakarana.
Das quatro funções do antakarana há uma que estimamos
muito que é a atividade budhica, o intelecto, pois ela possui a
grande qualidade de ser a base da natureza consciente e refle-
tir a consciência individual. Imagine o leitor que budhi é como
um metal cuja forma está pintada de negro, o que lhe permite
absolver calor; imagine também que budhi é como uma paisa-
gem onde as águas cristalinas e quietas da superfície de um lago
refletem o firmamento e demais objetos. A capacidade de reter e
de refletir são condições de budhi, graças ao excesso de satva na
33. O termo “Consciência”, com “C” maiúscula, indica a atividade do saber de maneira
genérica ou daquela que induz uma percepção não-dual. Por sua vez, o termo “consci-
ência”, com o “c” minúscula, implica a capacidade do saber que se aplica um indivíduo
cuja apreciação cognitiva é dual. Assim, a Consciência se assenta em budhi, mas, reflete
a consciência individual, de maneira semelhante a que um espelho reflete apenas duas
das três dimensões de um volume qualquer.
Quando se tem a destreza na percepção sem movimento
mental, como é o caso da pratica meditativa interna, ou a rea-
lização da ação sem identificação com ela, como é o caso da
pratica meditativa externa, então florescem formas de cognição
nunca antes experimentadas. A simples condição de ser teste-
munha ininterrupta de um evento existindo, sem que este se
modifique, induz um sentido de enaltecimento interior desco-
nhecido; a viveza do saber se revela e o sentido de imensidade
se apresenta como algo cotidiano.
De todas as coisas que inquietam pelo surpreendente nos
estados de percepção superiores há uma que se caracteriza
sobre as demais. Referimo-nos ao fato da continuidade do saber
sem que exista nenhuma atividade de movimento mental. Algo
assim como uma conversa que não termina como um assombro
que pode durar minutos ou horas sem que se modifique. É como
experimentar um mundo totalmente novo e que a surpresa nos
leva a uma viveza absolutamente única e viva. A continuida-
de da atividade budhica é a mais surpreendente das surpresas.
Notar que se é possível conhecer sem que interfira um processo
reflexivo, ser testemunha de uma realidade sem que exista um
processo dialético, se parece a estar fluindo em um constante
estado intuitivo que não cessa e que não se detêm; como cair em
um precipício sem jamais chocar-se com o solo.
Por isto Sankara enaltece em grande importância a constante
percepção de budhi. Simplesmente a contínua percepção de budhi
sobre um objeto interno ou externo conduz, finalmente, não apenas
ao conhecimento do próprio evento, mas também a de seu com-
plemento cognitivo, o resto do universo. Assim, então, se estabele-
ce o conhecimento de Brahman, o contínuo não-dual, cuja essência
é Bem-aventurança, Existência e Conhecimento Absolutos.
Sloka 38
“Sentado em um local solitário, liberando a mente de todas
as dúvidas e desconectando os sentidos, deve meditar com imó-
vel atenção no infinito Atman, que é Um-sem-segundo”.
A filosofia vedanta advaita dispõe, em sua variante ortodoxa,
que se deve seguir certas etapas ou períodos de vida especí-
ficos: brahmacharya ou etapa de aprendizagem; grihastra, etapa
mundana, como um pai de família e atendendo as obrigações
comuns; vanaprastha, o retiro com o companheiro/a em soli-
dão, e sanyasin, traduzido como “renunciante”, para quem o
isolamento é total. A etapa de sanyasin pode apresentar-se em
qualquer momento da vida e é independente da casta ou da
condição a qual pertença o indivíduo. Qualquer pessoa pode
alcançar a condição de sanyasin, inclusive sem passar pelas eta-
pas prévias.
A experiência de sanyasin, cuja renúncia ao mundo é total,
permite ao buscador a obtenção ininterrupta do Nirvikalpa
samadhi34, experiência definitiva que, ao realizar-se de maneira
ininterrupta com no mínimo de vinte e um dias, dota de liber-
dade final que permite alcançar o status de jivanmukta35. Estes
personagens possuem a tendência de isolar-se em lugares soli-
tários, em bosques ou em cavernas, e eles impedem que o gêne-
ro humano os conheça.
Na conquista deste estado, seu compromisso ou responsa-
bilidade com respeito à socialização com o mundo cessa, pois
o universo passa a ser percebido claramente como sendo uma
ilusão. É como ter um compromisso sólido com as situações que
emergem em um sonho, sabendo que se está imerso nele. Esta
experiência de compromisso onírico não possui sentido, pois se
sabe que o mundo que ali se apresenta é completamente ilusó-
rio, irreal.
Por sua vez, existe outra série de mestres heterodoxos cujos
alinhamentos dos ensinamentos estão definidos também a par-
tir do vedanta advaita, mas que não seguem muitas das regras
sociais ou ritualísticas que os cânones orientais marcam. Sendo
Sloka 39
“O homem sábio que possui forte discernimento, viveka, ao
atender constantemente ao Atman funde o mundo objetivo na
Realidade não-dual, em Atman”
Sloka 40
“Aquele que tem obtido a Suprema Bem-aventurança dei-
xa de lado os objetos, seus nomes e formas, e reside no mundo
como se fosse a personificação ou a encarnação da Consciência
Infinita ou a Infinita Felicidade”.
Sloka 41
“O ser Supremo, cuja natureza é idêntica a da Bem-aventu-
rança infinita, não admite a distinção entre e conhecedor, conhe-
cimento e objeto de conhecimento. Ele É Compreensão Pura”.
Sloka 42
“Por meio da Meditação constante, comparável ao atrito
das lenhas para acender o fogo, eleva-se a chama do conheci-
mento e da permanência da compreensão, que reduz a ignorân-
cia completamente a cinzas”.
Sloka 43
“Assim como ao amanhecer aparece o sol após a destruição
das trevas, assim Atman surge logo após a destruição da igno-
rância diante da contínua compreensão do Ser”.
Sloka 44
“Enquanto Brahman é uma Realidade sempre presente, ain-
da assim e devido a ignorância produzida por maya, A Reali-
dade não é captada. Com a destruição da ignorância Atman se
revela. É como o caso do ornamento que se leva preso ao pró-
prio pescoço”.
Sloka 46
“O conhecimento que se alcança pela realização da verda-
deira natureza do Real destrói imediatamente a ignorância que
se encontra caracterizada por noções como “eu” e “meu”, seme-
lhante ao sol que dissipa o erro sobre o caminho a seguir”.
Sloka 47
“O yogi dotado de completa iluminação vê através dos olhos
do discernimento, viveka, a totalidade do universo em seu pró-
prio Ser e considera a todas as coisas como sendo tudo e uno”.
Sloka 48
“O universo tangível é realmente Atman; nada do que existe
pode ser outra coisa que Atman. Semelhante a um pote e a uma
jarra que não são apenas que argila e não podem ser nada mais
que argila, assim para um iluminado tudo aquilo que é percebi-
do é o Ser e nada mais que o Ser”.
Sloka 49
“O jivanmukta, dotado do conhecimento do Ser, abandona
a identificação com seus upadhis porque com o conhecimento
da sua natureza e percebendo que ele é Existência, Sabedoria e
Felicidade Absolutas, surge Brahman de forma natural, como a
larva que ao crescer alcança a natureza da abelha”.
Segundo a tradição, quando um discípulo alcança perma-
necer de maneira continua por vinte e um dias em profundo
estado de Meditação adquire a desidentificação consciente e
inconsciente com os seus upadhis, com os corpos que geram sen-
tido de identificação. Sob esta prerrogativa a mente não adver-
te nunca mais o sentido de meu, tampouco existe identificação
com tenho vida ou energia; além, cessa a identificação com sou
meu corpo. Este extinguir com qualquer conteúdo mental, ener-
gético e físico jamais volta a se repetir, devido a isto que geral-
mente denomina-se de liberado a quem consegue este estado.
Esta condição se assemelha na tradição budista ao alcance da
iluminação alcançada por Budha.
O processo de desprendimento que produz a contínua Medi-
tação é realmente um estado de descondicionamento da mente.
Todo hábito que surge como recurso de sustentação mental do
eu cessa, com a subsequente reorganização do comportamento
habitual. Um liberado, um jivanmukta, já não adverte sentido
de temor nem de dúvida. A mente fica impossibilitada de dis-
trair-se em momentos que não sejam presenciais. O que geral-
mente denomina-se como sendo “emoções” e “sentimentos” se
extingue semelhante a ela o “prazer” ou a “alegria”. Os estados
mentais ficam para trás e são modificados por um estado seme-
lhante a uma atenção constante e profunda. Nunca mais um só
pensamento se intromete em um instante que não seja adequa-
do a uma reação natural presencial; jamais a mente volta a sen-
tir o jugo da angustia e do desespero. A continua atenção, que
se mantém de forma ininterrupta e sem esforço volitivo algum,
forja estados de exaltação desconhecidos para o gênero huma-
no. A alegria sem objeto, o ato alegre de profundo contentamen-
to e a exaltação de simplesmente existir se convertem na base
de qualquer ato, de qualquer rotina ou atividade.
A desidentificação com o corpo conduz a um total contro-
le das atividades físicas. É comum nestes casos o recurso de
manejar a vontade o ritmo cardíaco e demais funções invo-
luntárias. A dor, quando se sente, simplesmente ocorre. As
ações se advertem sob uma ótica excepcional e a intensidade
de qualquer evento permite contemplar as coisas de uma for-
ma sempre nova e única. O silêncio interior se assemelha a um
imenso bloco de aço incólume, mas cheio de vida. O sentido
de exaltação que provê a presença constante faz com que o
mais simples movimento ou reação ofereçam um sentido de
concordância com todas as coisas. É fácil não pensar; e mais,
pensar sem razão é algo que incomoda.
A erradicação do eu e a ausência de identificação com a vita-
lidade, retira a importância da vida ou da morte. A enfermida-
de ou a saúde são elementos que simplesmente acontecem em
função de uma ordem que jamais se põe em questionamento.
A simplicidade diante da ação e a ausência de excesso na pala-
vra fazem de qualquer comentário um ensinamento ajustado
e válido. Morre toda expectativa, tal como se desfazem os rios
no mar. Não importa mais nenhum saber, sua consecução ou
sua perda. A experiência de Ser é tão intensa que opaca qual-
quer busca e qualquer necessidade mental. O jivanmukta é livre
de sua mente, de seus condicionamentos físicos, energéticos e
mentais. Finalmente, quando a vida chega a seu fim, se alcança
o nível de videhanmukta, ou seja, liberado e sem corpo algum,
alcançando assim a liberação total.
O videhanmukta é como o espaço no espaço, sua Consciência
é o Saber que flui no universo, seu corpo é a própria criação. Seu
status jamais é modificado com o nascimento nem com a morte
de um universo. Ele é o tempo e sua ausência, ele é o que tem
sido e o que será, é o ser e o não ser. Livre de qualquer categoria,
pois as possui a todas; livre da individualidade é Tudo.
Sloka 50
“Um yogi que é jivanmukta, liberado em vida, depois de ter
cruzado o oceano da ilusão e ter matado os monstros da dúvi-
da e da aversão, se une com a paz e descansa na felicidade que
apenas provém da Realização do Ser”.
Sloka 51
“Absolutamente desligado de todo apego ilusório e de toda ilu-
sória felicidade externa, ele jivanmukta, que reside no Ser, se satis-
faz com a felicidade proveniente de Atman que brilha ininterrup-
tamente, como a uma lâmpada colocada dentro de um cântaro”.
Sloka 52
“O sábio, ainda que resida nas limitações de seus upadhis,
não está impregnado de suas qualidades. Conhecedor de tudo
vive como um ignorante; desapegado, se move como o vento”.
Sloka 53
“Com a destruição de seus veículos no momento da morte,
ele, o sábio contemplativo, o jivanmukta, se funde totalmente
em Vishnu, o todo-poderoso espírito, como a água na água, o
espaço no espaço e a luz na luz”.
36. Forma de existência que denota alcançar o conhecimento direto da Realidade, seme-
lhante a que no vedanta denomina-se de samadhi.
Quando o momento de trânsito acontece e a morte se impõe
ao corpo físico, então o jivanmukta realiza sua viajem final a disso-
lução na Consciência Absoluta. Seus upadhis, seus corpos físico,
energético, mental, de conhecimento e bem-aventurança37 se
desintegram, sem que exista um núcleo kármico que sirva de foco
para a permanência de suas identidades, tal como a uma boneca
de sal que se desintegra na totalidade do oceano que a acolhe,
quando é lançada a partir da praia nas ondas que a absolvem.
Diante da presença da morte e extinto todo o karma, não
existe razão alguma pela qual as matérias física ou sutil se asso-
ciem a um centro individual de funcionamento. Desintegrado o
corpo, diluído o prana, dissolvido a mente, a Consciência adota
sua condição natural não-dual. Esta condição não-diferenciada
jamais tem sido modificada, nunca realmente tem sido outra
coisa, nem se tem modificado ou transformado. A Consciência
não-dual sempre se tem mantido como sendo o substrato e a
essência de qualquer ato individual, tal como a corda é a causa
eficiente da falsa serpente que é percebida.
Na maioria das pessoas, após a morte do corpo físico se
segue a diluição do corpo energético ou prânico. Assim, envol-
tos na matéria mental que formam suas próprias mentes, fazem
parte de um mundo de ideias tão sólidas, como são os even-
tos que formam um sonho. Devido ao karma inacabado, suas
mentes persistem criando um centro individual que forja um
sentido personalístico. É justamente a causa das tendências
físicas, energéticas e mentais, que fazem parte dos condiciona-
mentos mentais que perduram como foco da existência, pelo
que se determinam as premissas de nascimento e as condições
primárias que se estabelecem ao redor dele, para dar início ao
desenvolvimento de uma nova configuração de upadhis para a
seguinte vida terrena.
Contudo, um jivanmukta, devido a não possuir um prarab-
dha karma inacabado, após a morte e devido a decomposição
Sloka 54
“Brahman deve ser concebido como aquela conquista que
além Dele não há outra conquista superior, como a felicidade,
além da qual não há outra felicidade superior, como o conheci-
mento, além do qual não há outro conhecimento superior”.
Sloka 57
“Brahman deve ser considerado como aquele irredutível
substrato que os Upanishads definem por descarte do que ‘não
é’: não é transitório, não é uma felicidade destrutível”.
39. Os devas, em todas suas diversas graduações, desde a trimurti inicial de Brahma,
Vishnu e Shiva até os devas secundários e demais, são gerados pelo pensamento de Ishva-
ra, o Deus criador. Quando Ishvara pensa, o universo se põe em movimento; os devas são
simplesmente as inteligências diretrizes deste movimento e se resumem e assemelham
ao que poderíamos de chamar “as forças inamovíveis” da natureza.
40. As mentes dos devas são altamente sátvicas, ou seja, canalizam pureza consciente,
o qual os leva a não reagir mediante atos egoístas, já que esta atividade reativa é
inteiramente tamásica, ordem da matéria preponderante na mente humana. É correto
criatividade, da manutenção ou da destruição, em função do
que corresponda cada caso.
A partir desta perspectiva, a vida é um processo que se agita
continuamente, que pode ser explicado desde uma visão mito-
lógica como uma constante batalha entre as diversas forças que
lutam por expressar sua própria natureza e condição. Por isto se
apresenta que se é possível interatuar com estas forças inteligen-
tes através de específicos mecanismos de comunicação plasma-
dos nos ritos. Sejam estes gestuais, visuais ou sonoros, os ritos e
os sacrifícios, ações sagradas, tratam de estabelecer uma ponte
comunicativa com alguma divindade, como inteligência reitora
a fim de se obter o resultado favorável, desejado pelos humanos.
Se tudo é maya, ilusão, qual sentido possui o de dedicar a
atenção aos devas que também formam parte desta mesma rea-
lidade? O “pensamento” de que tudo é ilusão é muito diferente
da “clareza” de que tudo é ilusão. As vezes, o único que se pode
pensar é que tudo é ilusão, sem mais assertividade do que a
própria instantaneidade do pensamento que se está emitindo. A
partir da não-dualidade é perfeitamente legítimo atender a força
e a expressão da divindade, como evento não-diferenciado do
próprio universo criado. Partir da experiência não-dual deno-
minada de Brahman, o universo é um contínuo cujas partes são
simultaneamente um todo sem fronteiras. A existência de devas
não desatende a Realidade não-dual, pois quem possui “olhos”
para ver o Real adverte que os devas e demais entidades são
simplesmente um contínuo de Consciência não diferenciada.
Sloka 59
“Todos os objetos estão impregnados por Brahman. Todas
as ações vão acompanhadas de Consciência, tal como o leite
impregna a manteiga”.
apresentar que as leis de gravitação universal ou a ordem que impera na mitose celular
são expressões inteligentes das leis da natureza; o Oriente simplesmente antropomorfiza
mediante a mitologia estas condições e as chama de devas.
Perceba o leitor como, que mesmo querendo se é impossível
deixar de conhecer. A atenção pode rondar outras esferas, mas
inclusive ali sempre algo se está conhecendo. Nele o saber se
parece ao existir, pois desde o nascimento até a morte perma-
nece a existência associada a um corpo físico. Saber e existir são
atividades que continuamente acontecem sem deterem-se em
nenhum momento.
O leitor pode inclusive deslizar-se ao sonho, mas ainda ali
novamente estará conhecendo eventos que formam esta reali-
dade. Pode afirmar-se que não se sonha, mas também pode afir-
mar-se que simplesmente não se recorda. E por fim, a atividade
do saber se parece ao ato de existir: perdura, se mantém a todo
o instante. Se estiver distraído, atento ou dormindo, sempre a
atividade de conhecer se mantém como um fluir contínuo.
Considera-se a Consciência como a atividade produtora do
saber. A experiência mental requer da Consciência para conhe-
cer, como as plantas do sol para sobreviver. A partir do vedanta,
a Consciência e a mente são atividades complementares dife-
rentes. A Consciência se assenta na mente como o fogo solar se
assenta no metal para aquecê-lo. Assim como o sol ilumina a
lua e esta reflete uma fração de sua luminosidade, semelhan-
temente a Consciência não-dual ilumina de saber a mente que
reflete uma consciência41 individual.
Por esta razão, Sankara estabelece no presente sloka que a
Consciência prevalece a qualquer mudança e também é a base
sob a qual ocorre esta mudança. Para o Ocidente é difícil de
entender esta apresentação, pois a consciência individual se
apresenta como uma atividade própria da mente, tal como a luz
de uma vela que inclui em si mesma o calor que emite enquan-
to, por sua vez, irradia seu brilho. Esta divergência de apresen-
tações produz modelos em ocasiões totalmente desencontradas
e leva a definições sobre a mente e o comportamento humano
sob um modelo surpreendentemente oposto. A teoria ocidental
Sloka 60
“Temos que compreender que Brahman não é nem sutil nem
denso, nem é pequeno nem grande, que não possui nem nascimen-
to nem modificações, que carece de forma, qualidades e cores”.
42. Georg Cantor, matemático russo introdutor do termo “transinfinito” para referir-se a
qualquer tipo de números que, agrupados, formam um tipo próprio de infinito. Cantor
argumentava que o termo infinito possa aplicar-se sem distinção a qualquer tipo de con-
juntos não finitos, revelando assim uma diferença entre a infinitude dos conjuntos finitos.
“flores” ou “frutos”. O que o vedanta apresenta é que cada cam-
po de informação possui por si, infinitos campos de informação
intrínsecos, a tal ponto que qualquer campo de informação, por
definição, possui infinitas informações.
A toda agrupação limitada de números, usualmente chama-
mos de “conjunto finito”. Assim todo o campo de informação,
enquanto é limitado, possui infinitas informações; a este cam-
po lhe outorgamos o atributo de fechado, pois possui fronteiras
especificas como é o caso da paisagem que buscamos advertir,
pois na realidade não buscamos detectar visualmente a cidade,
nem os carros, nem mentalmente as lembranças, apenas exclu-
sivamente a paisagem. Chamamos no vedanta de Realidade ao
conjunto de informações que se ativa quando um campo fecha-
do se abre e permite a inclusão das restantes informações dos
restantes campos de informação.
Outra diferença com a teoria de conjuntos é que um cam-
po de informação possui características semelhantes as que o
vedanta atribui a Consciência43. Por exemplo, a Consciência não
é fracionável, nem existe nela um elemento primordial que sir-
va como eixo de sua constituição; assim, igualmente, a informa-
ção é adimensional, isto é, não possui uma categoria especifica,
mas, ao associar-se em campos, criam-se todas. Graças a esta
simbiose entre informação e Consciência se é possível converter
um campo de informação em um de cognição.
Um campo de informação é idêntico a um de cognição
quando ao primeiro lhe adicionamos a propriedade consciente.
Assim, podemos relacionar a epistemologia e a metafísica, ou
seja, podemos inter-relacionar uma teoria que explique o que
são as coisas e o que é o conhecimento delas. Portanto, defini-
mos como sendo o Real a qualquer campo de cognição aber-
to. Todos os campos de cognição fechados que se consiga abrir
mediante uma cognição correta é Real. Quando ao se reconhecer
Sloka 61
“Brahman deve ser considerado como sendo a luz que ilumi-
na o sol e os demais astros, mas que não é iluminado por eles.
Brahman é Aquilo pelo qual tudo brilha”.
Sloka 62
“O Supremo Brahman brilha por Si Mesmo e impregna o
universo internamente e externamente, tal como o fogo impreg-
na por dentro e por fora uma bola de ferro em vermelho vivo”.
Sloka 63
“Brahman é distinto do universo, mas não existe nada
diferente de Brahman. Se algo aparece distinto de Brahman é
como uma falsa miragem no deserto”.
Sloka 64
“Tudo o que é percebido, tudo o que é escutado é Brahman e
nada mais que Brahman. Ao se obter a compreensão do Real, se
experimenta o universo como Brahman não-dual, Existência –
Conhecimento – Felicidade Absolutas”.
Sloka 65
“Apesar de Atman ser Realidade, Consciência, Bem-aventu-
rança e está presente em todas as partes, ainda assim é percebi-
do apenas pelos olhos da Compreensão. Mas aqueles cuja visão
se encontra obscurecida pela ignorância, agnana, não veem a
Atman todo-luminoso, semelhante ao cego que não pode ver o
sol resplandecente”.
Sloka 66
“O jiva livre de impurezas, tendo sido iluminado pelo fogo
da compreensão, ao escutar os ensinamentos de um mestre
esclarecido brilha por Si Mesmo como o ouro”.
Sloka 67
“Atman, que é o sol do conhecimento, se eleva no firmamento
do coração e destrói as trevas. O Onipenetrante e Sustentador
de todos é quem ilumina a totalidade e inclusive a Si Mesmo”.
Sloka 68
“Aquele que, renunciando a toda a atividade, rende culto
no sagrado e imaculado santuário de Brahman, que é indepen-
dente de tempo, lugar e distância, que se encontra presente em
todos os lugares, que é o destruidor do calor, do frio e de todos
os demais opostos e que é o doador da felicidade eterna, surge
onisciente e Onipenetrante e obtém a imortalidade”.
Existem aqueles que renunciam a ação e há aqueles que
renunciam ao fruto da ação; são duas situações completamente
diferentes. Aquele que renúncia ao resultado da ação os sábios
o chamam e karmayoguin, mas aquele que renúncia à própria
ação o chamam de gnanayoguin. O vedanta advaita geralmente
estipula que o primeiro passo para se alcançar o gnana, o Sende-
ro do discernimento, é a vivência do karmayoga. Ninguém pode
renunciar a ação e por ela o mundo, sem antes ter a suficiente
preparação para isto.
Quantos homens tem buscado renunciar ao mundo, impul-
sionados por uma busca interior equivocada e ao final sim-
plesmente buscavam esconder o mundo e a si mesmos, suas
próprias misérias interiores! Quantos homens renunciam ao
mundo sem estar prontos para isto e ao final se convertem em
presas de suas próprias necessidades pessoais! Existem efeti-
vamente dois tipos de renúncia: a renúncia ao fruto da ação,
circunstância que libera graças a que se impede o surgimento
de um novo karma agami46 e a renúncia da ação, que a realizam
apenas aqueles que têm o ininterrupto vislumbre da Realidade,
aos que também geralmente são chamados de sanyasin.
Nossa cultura ocidental tem oferecido e ainda oferece rei-
teradamente o isolamento da sociedade aos buscadores do
divino, para que se dediquem constantemente a si mesmos.
Inumeráveis monastérios são a prova do afã desmesurado de
se criar um ambiente distante do ruído mundano. No entanto,
o relaxamento da mente tem levado a numerosos buscadores
a serem testemunhas impotentes de seus próprios infernos,
devido à própria ingenuidade de se acreditar que basta se
desejar ao divino para alcançá-lo. Centenas de expiações, cas-
tigos e leituras se acumulam por anos a quem busca preparar-
-se para servir ao divino, quando realmente apenas buscam
46. O karma agami é um dos três tipos e karma que geralmente se estuda na tradição hin-
du. Karma agami é aquele que nasce quando um sujeito encarnado em um corpo físico
se identifica com as ações que realiza. Ao identificar-se projeta ao futuro sua preferência
pessoa, seu sentido de eu, graças ao qual se estabelece um círculo vicioso impossível de
evitar ao que geralmente denomina-se de samsara, ou roda de mortes e renascimentos.
uma maneira de sentirem-se bem consigo mesmos. Não há
pior ego que daquele que busca a santidade. Buscar fazer com
que dois políticos se coloquem de acordo quando suas posi-
ções são contrárias é impossível e finalmente os eleitores servi-
rão de balança para que algum dia se chegue a algum acordo.
Mas coloque dois religiosos de distintas tradições a dialoga-
rem e jamais chegaram a nenhum encontro, pois acreditam
serem eles os donos do Deus que representam e do poder que
ostentam por máximo merecimento.
O vedanta busca o infinito no próprio ato de conhecer. Aden-
trando-se no mistério da percepção o discípulo aprende a vis-
lumbrar que o universo apresenta um tom diferente quando o
observa a partir da quietude mental. Ali, estabelecido na contí-
nua simplicidade do momento presente, poderá ser testemunha
de que toda mudança flui na quietude, tal como a onda que
oscila no imóvel oceano. Testemunhar a força do Ser através
da constante atividade do autoconhecimento os levará algum
dia a compreender que vocês são os deuses, que em seu cora-
ção bate o sentir desinteressado do Amor que integra todas as
coisas e que em sua cabeça se desdobra o infinito na forma de
Compreensão.
SEGUNDA PARTE
Atmabodha
de Sri Sankaracharya
Epílogo
O Atmabodha é um dos mais conhecidos clássicos livros do
vedanta advaita e em sua relativa simplicidade, possui uma des-
crição maravilhosa através de exemplos, muito simples e poéti-
cos sobre a natureza da cognição não-dual e a realidade do Ser.
Ao longo de seus slokas, Sankara realiza um pormenoriza-
do detalhe da natureza da Consciência e descreve todo tipo de
relações com situações simples e acessíveis a qualquer leitor.
Constituí, neste sentido, em um mapa muito detalhado e
profundamente alentador para introduzir-se na natureza da
Consciência.
As ideias que expõe são excepcionais, mas descritas sempre
com exemplos e situações comuns e frequentes. Isto é o que faz
grande o Atmabodha e a Sankara como mestre e pedagogo.
É na verdade, assombroso ver como o gênio de Sankara
penetra em realidades tão profundas e elevadas através de uma
linguagem tão Elemental, tão de todos os dias.
Resulta certamente especial o modo como trata os elemen-
tos fundamentais que abordam o vedanta, especificamente no
que é referente a natureza da Consciência, o tema de Brahman,
o da conotação não-dual de sua natureza e o de sua realidade
primordial como Existência, Conhecimento e Bem-aventurança
Absolutas.
Atmabodha
de Sri Sankaracharya
Sloka 1
“Eu componho o Atmabodha, o conhecimento de Si Mesmo, para servir as
necessidades daqueles que, tendo se purificado mentalmente através de práti-
cas e austeridades, e havendo adquirido paz interior, carecem de inquietudes e
buscam a Liberação”.
Sloka 2
“Como o fogo é a causa direta da cocção, assim a compreensão que outor-
ga o Conhecimento, e nenhuma outra forma de disciplina/prática, é a causa
direta da liberação, porque a liberação não pode ser obtida sem o Conhecimento
de Si Mesmo”.
Sloka 3
“A ação não pode destruir a ignorância porque a primeira não está em
conflito com a segunda. Apenas a compreensão que outorga o conhecimento é
capaz de destruir a ignorância, como apenas a luz é capaz de diluir a densa
escuridão”.
Sloka 4
“É apenas devido a ignorância produzida por uma equivocada compre-
ensão que o Ser não-dual aparece como finito e delimitado a “nome e forma”.
Quando a ignorância é destruída, o Ser não-dual, que não admite nenhuma
multiplicidade, revela a Si Mesmo cuja verdadeira a natureza é não-dual, tal
como o sol se revela quando as nuvens se afastam”.
Sloka 5
“O praticante, devido as repetidas compreensões que diariamente outor-
gam as experiências, purifica sua mente que se encontra envolvida pela igno-
rância; a compreensão desfaz a ignorância tal como o pó do kataka desaparece
depois que se tem limpado a água lodosa”.
Sloka 6
“O mundo do samsara, cheio de apegos, aversões e dualidades é como um
sonho: parece ser real tanto tempo quanto nos mantenhamos dormindo, mas
apresenta-se como irreal ao despertar”.
Sloka 7
“O samsara parece ser real tanto tempo quanto o Brahman não-dual, que é
a base consciente e substancial de tudo o existente, permaneça incompreendido.
Isto é semelhante a ilusão de se ver o metal prata em uma concha de ostra”.
Sloka 8
“A percepção das múltiplas e diferenciadas “formas” existe exclusivamen-
te na mente de quem percebe, sendo seu substrato o eterno e todo abrangente
Vishnu, cuja natureza essencial é Existência e Consciência. “Nomes” e “for-
mas” são como as pulseiras e braceletes, e Vishnu como sendo o ouro”.
Sloka 9
“O oni-abrangente akasha parece ser limitado devido às diversas formas
nele contidas e por serem experimentadas como sendo distintas das outras,
mas o akasha torna-se sendo não-diferente diante da destruição do sentido
de limite contido nas formas mentais. Semelhantemente, estas formas (upa-
dhis) delimitadas mentalmente por “nomes”, fazem perceber a Brahman
não-dual como diverso, mas Brahman surge finalmente como sendo uma rea-
lidade não-dual mediante o ato da atenção sustentada nos mesmos upadhis
diferenciados”.
Sloka 10
“Devido a incessante atividade mental do perceptor, possuidor de consci-
ência individual, os diversos upadhis (formas diferenciadas) como casta, cor
e etapa de vida são sobrepostos ao Atman tal como o sabor e a cor podem
sobrepor a água”.
Sloka 11
“O corpo denso, provido de karma, é consequência das ações passadas e
está formado pelos cinco grandes elementos sutis, que se tornam densos quando
a metade de um dos elementos sutis se une com a oitava parte de cada um dos
outros quartos. O corpo denso é chamado de “sede” da experiência do prazer e
da dor”.
Sloka 12
“O corpo sutil se encontra formado pelos cinco pranas, pelos dez órgãos,
por manas e budhi, todos formados pelos elementos primários antes de sua
subdivisão e sua combinação entre si. O corpo sutil é chamado ‘intermediário’
da experiência do prazer e da dor”.
Sloka 13
“Avidya ou ignorância, base do estado causal, é indescritível e sem origem;
é um upadhi sobre-imposto a Atman. Sustentamos seguramente que Atman é
diferente dos três upadhis”.
Sloka 14
“Devido a Consciência não-dual ser a base das cinco envolturas (koshas),
o Atman não-dual aparece com atributos diferenciados, como ocorre com um
cristal que parece dotado de cores tal como o vermelho ou o azul, quando este
está sobreposto as cores vermelho ou azul”.
Sloka 15
“Por meio de budhi, que é a função discriminativa da mente, se e possí-
vel distinguir a Brahman não-dual das envolturas sobre impostas que o tem
encoberto, da mesma maneira em que se separa o grão de arroz da casca que o
encobre, golpeando-o com uma pedra de moer”.
Sloka 16
“Embora o perceptor individual não reconheça ao Onipotente Atman não-
-dual como base substancial em todas as coisas diferenciadas, Ele se manifes-
ta na mente associado a budhi, semelhante a um reflexo nas águas claras ou
em um espelho límpido”.
Sloka 17
“Graças a atividade de viveka é possível dar-se conta de que o Atman não-
dual é não-diferente do corpo denso, dos órgãos dos sentidos, da mente, de budhi
e de prakriti, e que é a testemunha destas funções, comparável a um rei”.
Sloka 18
“Da mesma maneira que a lua parece mover-se quando as nuvens se des-
locam sobrepostas no céu, assim também é para a mente carente de viveka,
discernimento, o Atman parece estar ativo, quando na verdade a percepção do
mundo é apenas uma sobreposição mental no qual intervêm os sentidos”.
Sloka 19
“O corpo denso, os sentidos e budhi se ocupam cada um de sua respec-
tiva tarefa com o suporte da Consciência inerente a Atman, semelhante aos
homens que trabalham com a ajuda da luz que é inerente ao sol”.
Sloka 20
“Alguns, por falta de discernimento, viveka, sobrepõe a Atman puro, que
é Existência e Consciência Absolutas, as características e funções do corpo
denso e dos sentidos, tal como as pessoas comuns atribuem as características
de ‘côncavo’ ou ‘azul’ ao céu”.
Sloka 21
“Assim como o reflexo da lua sobre as águas parece mostrar que está se
encontra em movimento, da mesma forma, devido à falta de discernimento,
viveka, o atuar, o regozijo e todas as limitações que pertencem apenas a mente
são falsamente sobrepostas ao Atman”.
Sloka 22
“Apegos, desejos, prazeres, sofrimentos e outros, se percebem como exis-
tentes enquanto perdurar a função budhica da mente; deixam de ser percebidos
no estado de sono profundo, quando a mente deixa de funcionar. No entanto
estas funções diferenciadas que operam na mente pertencem apenas a ela e não
a Atman”.
Sloka 23
“A natureza de Atman é Eternidade, Pureza, Realidade, Consciência e
Bem-aventurança, assim como a luminosidade é a natureza do sol, o frescor é
a natureza da água e o calor é a natureza do fogo”.
Sloka 24
”Noções tais como ‘eu sei’ ou ‘eu conheço’ são produzidas pela atividade do
antakarana associada a dois aspectos de Atman: Existência e Consciência”.
Sloka 25
“Atman não-dual nunca experimenta qualquer mudança, assim como
tampouco budhi se encontra jamais dotado de Consciência. O homem ignoran-
te, no entanto, acredita que Atman é idêntico a budhi, e assim cai sob a ilusão
de considera-se a si mesmo como se fosse ele quem vê e ele quem conhece”.
Sloka 26
“Quando se confunde o Atman com o indivíduo, como ao confundir uma
corda com uma serpente, tem-se medo; quando ‘Isso’ sabe que não é o indiví-
duo, mas penas o Atman Supremo, não se tem medo”.
Sloka 27
“A realidade da mente, dos órgãos dos sentidos, etc., é iluminada por
Atman, do mesmo modo que uma jarra ou um pote são por uma lâmpada,
mas estes upadhis não podem iluminar por si mesmos seu próprio Ser”.
Sloka 28
“Assim como uma lâmpada iluminada não necessita de outra lâmpada
para manifestar luz, assim Atman, sendo Consciência em Si Mesmo, não
necessita de nenhuma outra Consciência para manifestar seu Ser”.
Sloka 29
“O discernimento, viveka, direcionado a negar a realidade dos upadhis,
ajudado pelas sentenças das escrituras que dizem de Brahman: ’nem é isto’,
’nem é isto’, permite, junto aos grandes aforismos védicos, reconhecer a identi-
dade da alma individual, jiva, e o Ser Supremo, Atman”.
Sloka 30
“O corpo físico, junto com os elementos sutis diferenciados recriados por
avidya, a ignorância primigênia, e por prakriti, cuja natureza ilusória é idên-
tica aos objetos diferenciados, são impermanentes como bolhas. Perceba que,
através do contínuo discernimento, viveka, que é o Imaculado Brahman, com-
pletamente distinto a suas envolturas diferenciadas”.
Sloka 31
“O que Realmente Sou é livre de mutações tais como nascimento, senilida-
de e morte, porque o que Realmente Sou é distinto deste corpo; o que Realmente
sou está desapegado de todos os objetos dos sentidos, tais como o som e o sabor,
porque em Minha essência careço de órgãos sensoriais”.
Sloka 32
“O que realmente Sou está livre de apegos, de tristeza, de malícia e de
temor, porque o que Realmente Sou é algo distinto da mente. O que É carece de
prana e de mente, é puro, é mais alto que o elevado e imperecível”.
Sloka 33
“Daquilo que Sou nasceu o prana, a mente e todos os órgãos dos sentidos,
o éter, o ar, o fogo, a água e a terra, porque Aquilo é a substância e o suporte
de tudo o diferenciado”.
Sloka 34
“O que realmente Sou carece de atributos e de ação, é eterno e puro, é livre
de mácula e de desejo, não apresenta modificações; devido a isto, realmente
carece de forma e faz com que Eu seja sempre livre”.
Sloka 35
“O que Realmente Sou preenche todas as coisas diferenciadas, tal como o
espaço (éter) preenche por dentro e por fora todos os objetos diferenciados. O
que Realmente Sou carece de modificações e é o mesmo sempre. O que Real-
mente Sou é puro, desapegado, imaculado e imutável”.
Sloka 36
“O que Realmente Sou é aquele Supremo Brahman, que é Eterno, Imacu-
lado e Livre, que é Uno indivisível e não-dual, cuja natureza á a felicidade, a
Bem-aventurança, o Conhecimento e o Infinito”.
Sloka 37
“A impressão cognitiva ‘Eu Sou Brahman’, criada por uma ininterrupta
compreensão, destrói a ignorância e seus derivados, da mesma maneira que a
medicina rasayana destrói as enfermidades”.
Sloka 38
“Sentado em um local solitário, liberando a mente de todas as dúvidas e
desconectando os sentidos, deve meditar com imóvel atenção no infinito Atman,
que é Um-sem-segundo”.
Sloka 39
“O homem sábio que possui forte discernimento, viveka, ao atender cons-
tantemente ao Atman funde o mundo objetivo na Realidade não-dual, em
Atman”
Sloka 40
“Aquele que tem obtido a Suprema Bem-aventurança deixa de lado os
objetos, seus nomes e formas, e reside no mundo como se fosse a personificação
ou a encarnação da Consciência Infinita ou a Infinita Felicidade”.
Sloka 41
“O ser Supremo, cuja natureza é idêntica a da Bem-aventurança infinita,
não admite a distinção entre e conhecedor, conhecimento e objeto de conheci-
mento. Ele É Compreensão Pura”.
Sloka 42
“Por meio da Meditação constante, comparável ao atrito das lenhas para
acender o fogo, eleva-se a chama do conhecimento e da permanência da compreen-
são, que reduz a ignorância completamente a cinzas”.
Sloka 43
“Assim como ao amanhecer aparece o sol após a destruição das trevas,
assim Atman surge logo após a destruição da ignorância diante da contínua
compreensão do Ser”.
Sloka 44
“Enquanto Brahman é uma Realidade sempre presente, ainda assim e
devido a ignorância produzida por maya, A Realidade não é captada. Com a
destruição da ignorância Atman se revela. É como o caso do ornamento que se
leva preso ao próprio pescoço”.
Sloka 45
“Brahman parece ser jiva, individualidade, devido a ignorância, maya, tal
como um tronco de uma árvore que pode a distância ser considerada como sen-
do um homem. Esse jiva é destruído quando se percebe a sua Real natureza”.
Sloka 46
“O conhecimento que se alcança pela realização da verdadeira natureza do
Real destrói imediatamente a ignorância que se encontra caracterizada por noções
como “eu” e “meu”, semelhante ao sol que dissipa o erro sobre o caminho a seguir”.
Sloka 47
“O yogi dotado de completa iluminação vê através dos olhos do discerni-
mento, viveka, a totalidade do universo em seu próprio Ser e considera a todas
as coisas como sendo tudo e uno”.
Sloka 48
“O universo tangível é realmente Atman; nada do que existe pode ser outra
coisa que Atman. Semelhante a um pote e a uma jarra que não são apenas que
argila e não podem ser nada mais que argila, assim para um iluminado tudo
aquilo que é percebido é o Ser e nada mais que o Ser”.
Sloka 49
“O jivanmukta, dotado do conhecimento do Ser, abandona a identificação
com seus upadhis porque com o conhecimento da sua natureza e percebendo que
ele é Existência, Sabedoria e Felicidade Absolutas, surge Brahman de forma
natural, como a larva que ao crescer alcança a natureza da abelha”.
Sloka 50
“Um yogi que é jivanmukta, liberado em vida, depois de ter cruzado o oce-
ano da ilusão e ter matado os monstros da dúvida e da aversão, se une com a
paz e descansa na felicidade que apenas provém da Realização do Ser”.
Sloka 51
“Absolutamente desligado de todo apego ilusório e de toda ilusória felici-
dade externa, ele jivanmukta, que reside no Ser, se satisfaz com a felicidade
proveniente de Atman que brilha ininterruptamente, como a uma lâmpada
colocada dentro de um cântaro”.
Sloka 52
“O sábio, ainda que resida nas limitações de seus upadhis, não está
impregnado de suas qualidades. Conhecedor de tudo vive como um ignorante;
desapegado, se move como o vento”.
Sloka 53
“Com a destruição de seus veículos no momento da morte, ele, o sábio
contemplativo, o jivanmukta, se funde totalmente em Vishnu, o todo-poderoso
espírito, como a água na água, o espaço no espaço e a luz na luz”.
Sloka 54
“Brahman deve ser concebido como aquela conquista que além Dele não há
outra conquista superior, como a felicidade, além da qual não há outra felicidade
superior, como o conhecimento, além do qual não há outro conhecimento superior”.
Sloka 55
“Brahman, o Absoluto não-dual, tem de conceber-se como Aquilo que,
uma vez visto, já não fica mais nada por ver; Aquilo que, uma vez sido, já não
fica mais nada por ser; Aquilo que, uma vez conhecido, já não fica mais nada
por conhecer”.
Sloka 56
“É preciso entender que Brahman é Existência, Conhecimento e Felicidade
Absolutas, que é um contínuo não-dual, Infinito, Eterno e Uno e que alcança
a tudo que existe, o que está acima, o que está abaixo e o que existe no meio”.
Sloka 57
“Brahman deve ser considerado como aquele irredutível substrato que os
Upanishads definem por descarte do que ‘não é’: não é transitório, não é uma
felicidade destrutível”.
Sloka 58
“Deuses como Brahma e Indra participam apenas de uma partícula da
ilimitada Felicidade de Brahman e desfrutam proporcionalmente apenas da
parte que lhes corresponde”.
Sloka 59
“Todos os objetos estão impregnados por Brahman. Todas as ações vão
acompanhadas de Consciência, tal como o leite impregna a manteiga”.
Sloka 60
“Temos que compreender que Brahman não é nem sutil nem denso, nem
é pequeno nem grande, que não possui nem nascimento nem modificações, que
carece de forma, qualidades e cores”.
Sloka 61
“Brahman deve ser considerado como sendo a luz que ilumina o sol e os
demais astros, mas que não é iluminado por eles. Brahman é Aquilo pelo qual
tudo brilha”.
Sloka 62
“O Supremo Brahman brilha por Si Mesmo e impregna o universo inter-
namente e externamente, tal como o fogo impregna por dentro e por fora uma
bola de ferro em vermelho vivo”.
Sloka 63
“Brahman é distinto do universo, mas não existe nada diferente de Brahman.
Se algo aparece distinto de Brahman é como uma falsa miragem no deserto”.
Sloka 64
“Tudo o que é percebido, tudo o que é escutado é Brahman e nada mais que
Brahman. Ao se obter a compreensão do Real, se experimenta o universo como
Brahman não-dual, Existência – Conhecimento – Felicidade Absolutas”.
Sloka 65
“Apesar de Atman ser Realidade, Consciência, Bem-aventurança e está
presente em todas as partes, ainda assim é percebido apenas pelos olhos da
Compreensão. Mas aqueles cuja visão se encontra obscurecida pela ignorân-
cia, agnana, não veem a Atman todo-luminoso, semelhante ao cego que não
pode ver o sol resplandecente”.
Sloka 66
“O jiva livre de impurezas, tendo sido iluminado pelo fogo da compreensão,
ao escutar os ensinamentos de um mestre esclarecido brilha por Si Mesmo
como o ouro”.
Sloka 67
“Atman, que é o sol do conhecimento, se eleva no firmamento do coração
e destrói as trevas. O Onipenetrante e Sustentador de todos é quem ilumina a
totalidade e inclusive a Si Mesmo”.
Sloka 68
“Aquele que, renunciando a toda a atividade, rende culto no sagrado e
imaculado santuário de Brahman, que é independente de tempo, lugar e dis-
tância, que se encontra presente em todos os lugares, que é o destruidor do calor,
do frio e de todos os demais opostos e que é o doador da felicidade eterna, surge
onisciente e Onipenetrante e obtém a imortalidade”.
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A AFVAS nasce como meio de aproximação dos ensinamentos que
Sesha tem apresentado pelo mundo, assim como para poder deixar
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artigo 3 dos estatutos da Associação:
Artigo 3: A existência desta Associação possui fins: O estudo e a
divulgação dos ensinamentos do Vedanta Advaita do autor denomina-
do de Sesha, assim como qualquer outro ensinamento deste mesmo
autor, incluído as que se referem a filosofia oriental em geral a prática
da meditação e a física quântica e relativista.
Esta associação de encarrega principalmente de transmitir, corri-
gir, revisar e editar os textos, áudios e vídeos dos diferentes cursos
e eventos realizados, para que finalmente se possa colocá-los a dis-
posição púbica na Web criada para isto (www.vedantaadvaita.com).
Assim mesmo, se realizam outras tarefas que facilitam a expansão de
seus ensinamentos, como podem ser as traduções, Power Points, bole-
tins, livros, etc. no artigo 4 dos estatutos se refere a este ponto:
Artigo 4: Para o cumprimento destes fins se realizam as seguintes
atividades: a transcrição, edição e tradução de textos, áudios, víde-
os e de qualquer outro suporte tecnológico deste mesmo autor, assim
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15 euros (com possibilidade de fazê-la efetivamente em quatro moda-
lidades diferentes; mensal, trimestral, semestral ou anual) e com o
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