O Uso Das Bebidas e A Confecção Do Aluá

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O USO DAS BEBIDAS E A CONFECÇÃO DO ALUÁ

A bebida é um estimulante. É por isso que em um dos rituais do


candomblé se canta: Oti wa ti xô fê rê, querendo dizer que a bebida nos
anima, ela nos encoraja a encarar os dias difíceis de maneira renovada.
Entretanto, “como tudo demais é sobra”, a bebida, a comida e até a
alegria não deve ser vivida em excesso. Oti é a palavra yorubá quea é
usada para qualquer bebida que embriague a mente. As religiões, em sua
maioria, não são contra as bebidas, e sim ao uso excessivo delas.
Nos rituais do candomblé, as bebidas que embriagam devem ser usadas
de maneira comedida, com o intuito maior de despertar a alegria. Essa
religião se utiliza de bebidas profanas e sagradas. O champagne e vinho
do ritual de bori, a cachaça e vinho do ritual de axexe e a cachaça de Exu
são consideradas profanas porque não foram preparadas em ambientes
divinizados, nem foram preparadas por sacerdotes consagrados. A bebida
sagrada do candomblé é o aluá, uma bebida fermentada que é oferecida
aos deuses e homens com o objetivo de aumentar o axé de quem a
ingere, seja de maneira concreta (humanos) ou simbólica (divindades).
O aluá é uma bebida fermentada tipicamente brasileira, uma vez que tem
relação com os índios, os portugueses e os africanos. No Brasil do 1º
Império era moda servir aluá na corte de D. Pedro I. Em Portugal, era uma
bebida feita do bagaço da uva, por isto conhecida como bagaceira. Os
índios da Amazônia faziam uma bebida com abacaxi que ficava durante
três noites fermentando ao luar, razão pela qual o folclorista Luís da
Câmara Cascudo sugere ser o nome aluá uma corruptela de “ao luar”.
Na verdade, aluá é uma palavra yorubá (lú, em yorubá, significa misturar)
que é usada em um ritual onde se movimenta e mistura a água com a
bebida aluá, visando agitar o que está parado, a fim de que a purificação
seja favorecida e que o que está velho possa ser renovado através do
movimento.
Esse ensinamento nos é transmitido através dos cânticos do Ritual das
Folhas, mostrando para os sacerdotes do candomblé a importância de
eles conhecerem a língua religiosa que fazem uso, assim como a
simbologia dos elementos usados em todos os atos ritualísticos. O aluá
que herdamos dos africanos, por exemplo, é feito de raspadura, milho
branco e gengibre. O doce normalmente chamada de rapadura é um dos
subprodutos da cana-de-açúcar (Ikesen), cujo nome correto é raspadura,
pois esta espécie de doce é feita das raspas das crostas do açúcar da
cana que ficam presas às paredes dos tachos.
A palavra yorubá que designa o gengibre é atale, planta que tem o poder
de aquecer e iluminar, dando-nos alegria. O milho branco, relacionado aos
orixá do branco, indica ainda paz, suavidade e proteção dos seres
superiores. O aluá é uma bebida fermentada, por isto seus ingredientes
aumentam o axé de doçura, através do açúcar feito de cana (raspadura);
o axé de alegria, que é transmitido pelo gengibre; o axé de tranquilidade
fornecido pelo milho branco.
Boa ressaca, palavra que na língua yorubá é ìbilù-oti. Interessante
entender que ìbi é infortúnio, mal estar; lù é mistura e ìbilù significa
multidão, o que indica que muita gente junta pode causar ressaca e mal
estar. É por isso que digo que três pessoas para mim já é multidão e
muita alma junta se perde. Se essa ideia é necessária para qualquer
pessoa, para os iniciados ela é ainda mais.

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