Solve Et Coagula Razão

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Solve et Coagula —

A Sabedoria dos
Alquimistas
Julio Wandekoken
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Apr 27 · 5 min read
Alquimia é sobre a geração de uma
construção psíquica, uma
totalidade, uma coisa que tem
muitas propriedades, que é
paradoxal, que é mente e matéria,
que pode fazer qualquer coisa. —
Terence McKenna

Terrence McKenna
Solve et Coagula, diziam os antigos
Alquimistas. Significa “dissolver e
coagular”, uma frase, que para o
observador atento, faz alusão a um
processo que ocorre em toda a esfera
da manifestação. Aquele que analisa
a realidade com extrema
honestidade intelectual logo percebe
que nada possui existência
intrínseca, separada das demais
coisas. Todo objeto de análise é
composto por partes que se
relacionam entre si. Até mesmo o
que chamamos de uma pessoa, um
indivíduo, não passa de um sistema
composto de outros subsistemas,
composto por infinitas partes,
físicas/biológicas e psíquicas,
modelo este muito bem apontado
por tradições orientais como a
budista.
Portanto, a própria existência é
dependente deste processo de
“dissolução” e “coagulação”,
“destruição” e “criação”, “morte” e
“nascimento”, o processo de
decompor aquilo que era composto,
para que ocorra postumamente um
novo arranjo. A Alquimia, vista nos
círculos científicos contemporâneos
como produto da fantasia da mente
de criativas mentes do passado,
guarda, para aqueles com olhos
treinados, sábias conclusões e
insights.

Carl Jung foi um dos primeiros a


desmistificar a “arte Alquímica”.
Para ele, os alquimistas estavam
falando em símbolos que
representavam a “alma” ou a
“consciência humana”. O ouro que os
alquimistas estavam tentando
produzir não era o ouro vulgar, mas
sim o aurum non vulgi, ou o aurum
philosophicum, o ouro filosófico.
Eles estavam comprometidos com a
criação do Homem Superior, com o
aperfeiçoamento de suas naturezas.
Conforme Jung disse certa vez, “As
operações alquímicas eram reais, só
que essa realidade não era física,
mas sim psicológica. A Alquimia
representa a projeção de um drama,
drama este tanto cósmico quanto
espiritual, em termos de uma
operação de laboratório. O Opus
Magnum, A Grande Obra, possuía
como objetivo o resgatar da ‘alma’
humana.”
A existência humana, não diferente
da existência de toda coisa
manifesta, é absolutamente
dependente do conceito dualístico
de Solve et Coagula. O próprio
conceito de existência só faz sentido
em um contraste com o conceito de
“não existir”. Mas não só a existência
humana é dependente desta sábia
colocação alquímica, mas também a
experiência humana o é.

Conforme apontado anteriormente


de forma breve, o indivíduo é
composto por infinitas partes que se
relacionam entre si, sejam elas
partes físicas ou psíquicas. Você já
tentou localizar onde se encontra
“você”? Onde encontra-se o núcleo
daquilo que você chama de “eu”?
Não faz parte do escopo deste texto
uma extensiva análise ontológica a
respeito da natureza do Homem,
ainda assim, é um interessante
exercício. Nos atendo aos aspectos
psíquicos que compõem a
individualidade humana, podemos
concluir que aquilo que você chama
de “eu” não passa de um conjunto de
sistemas de crenças, um conjunto de
ideias, memórias, juízos de valores,
em suma, diversas ideias e agregados
psíquicos compõem aquilo que
chamas de “eu”.
Ao longo da existência de um
indivíduo, nada permanece estático.
Ideias e crenças antigas dão origem a
novas, quando as crenças antigas
não mais são um modelo preciso da
realidade, e isto ocorre quando as
crenças de outrora entram em
contato com a realidade e se
mostram inaptas a representar a
realidade percebida. Isto é Solve. É a
destruição necessária para que
venha ocorrer um novo Coagula.
Passamos por momentos como este
infinitas vezes ao longo de nossas
vidas, estamos a todo momento
praticando essa alquimia interna,
dissolvendo os antigos e inaptos
conceitos e crenças para que seja
possível a aurora de novos conceitos
e crenças mais precisos, capazes de
construir aquilo que almejamos em
nós. Estamos nos destruindo e nos
construindo a todo momento, uma
eterna epopeia alquímica.

E não só internamente na psique do


indivíduo ocorre o processo
alquímico de Solve et Coagula. A
própria sociedade humana passa
pelo processo. Arranjos antigos são
destruídos para que possa vir a
surgir novos e (nem sempre) mais
adaptados arranjos sociais. O
processo ecoa em toda a
manifestação. A existência pressupõe
tal processo, Solve et Coagula é uma
premissa das coisas manifestas.
A realidade muitas das vezes nos
inputa situações em que devemos
aceitar a dissolução de um arranjo,
tal é a natureza da existência. Ser um
Alquimista é compreender a
natureza da existência como ela é,
compreender as leis que regem o
universo e aceitar a dissolução de
bom grado quando ela vir, pois
lembremos, a dissolução é necessária
para a criação, separar e juntar é o
processo através do qual pode
ocorrer coisa manifesta, é o processo
que possibilita a existência e a
evolução de sistemas mais adaptados
e complexos. Portanto, compreender
o conceito de Solve et Coagula é
compreender a real natureza da
existência, é lograr êxito em elevar a
“alma”, a consciência humana ao
nível da Correta Compreensão, e a
correta compreensão é, na visão
deste que vos escreve, o
verdadeiro aurum
philosophicum dos alquimistas,
a Correta Compreensão e
a Consciência de Ser fruto desta é a
verdadeira Pedra Filosofal, o
verdadeiro Ouro dos Filósofos.
Portanto, meus companheiros, Solve
et Coagula, e que seja realizada A
Grande Obra.

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