A Doenca Como Simbolo de Transformacao Pub
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Abstract
Analytical Psychosomatics is introduced as an approach to health and disease
as part of the same process. The discussion of health as something more than
an unpleasant accident is brought forward. The human being is faced as a
whole, with the assurance that there is no separation between body and mind;
the psyche is in the body as the body in the psyche. Therefore, disease is faced
as a representation of the psychic energy which did not find any other way to
express itself, because the diseased person did not find out another way to
symbolize his or her unbalance. The symbol is considered as a machine that
transforms psychic energy, trying to find the nucleus of the complex where an
archetype lies, which could enlighten both the meaning of the disease (what it
is) in the life of that individual, and the direction (which way it will go through) it
will take. It is concluded that the direction rendered to life by disease is given in
the measure of the encountered meaning and that is what disease serves for:
discovering oneself (as a part of the process of individuation) and that all
depends on how much one can take of such discovery.
Key-Words: Psychosomatics; Analytical Psychology; Disease; Symbol;
Individuation.
1
Artigo extraído da Tese de Doutorado “A descoberta dos Significados da Doença e Processo de Cura: Um Estudo
Fenomenológico” PUC Campinas, SP, 2003.
2
Docente Unifenas. Doutora em Psicologia – Psicologia como Profissão e Ciência pelo Centro de
Ciências da Vida, PUC Campinas. Analista do Instituto de Psicologia Analítica de Campinas, Filiado a AJB
e IAAP – Internacional Association of Analytical Psychology – Zurique – Suíça .
INTRODUÇÃO
vidas. Ao abordarmos o ser humano como um todo, podemos afirmar que não
existe separação entre corpo e mente; a psique está no corpo como o corpo
(Silveira, 1997).
conforme foi desde os seus primórdios e que deveria prevalecer até os dias de
hoje. A Psicossomática hoje não necessita ser mais uma especialização, mas
afetivo, lutar por algum desejo, ou ainda, enfrentar alguma dificuldade. Isso
mostra que não se pode contar com o ego como senhor de si. O ego é
que isto seja feito da forma menos racional possível, pois o símbolo só é
um retorno ao início para dar um passo à frente. Sabemos que, por meio do
psique para onde tenderá o ego, sempre. Desta forma, afirmamos que a
precisamos ou queremos algo num certo sentido. Que existe uma consciência
paralela muito mais poderosa do que nós mesmos e que tudo que nos
acontece tem um sentido nem sempre conhecido. Isto parece difícil de aceitar,
para a maioria dos cientistas, pois significa perder, por assim dizer, sua
pretensa autonomia.
momentos cuja mudança de hábitos e formas de pensar são tarefa difícil. Mais
p.XII)
poderá dar luz tanto ao significado (o que é) que a doença tem na vida daquele
indivíduo, quanto ao sentido (qual a direção) que a doença tomará na sua vida.
Isso nos proporcionará saber, portanto, o lugar que a doença ocupa e qual a
coisas ou a direção de toda uma vida e que o ciclo de uma vida pode ser
caso das psicoses e das neuroses, mas também nos casos das doenças
orgânicas. Seja qual for o caso, trata-se de uma completa, mesmo que
forte carga emocional, essa perseveração do afeto constitui uma razão para o
continua por tempo indeterminado. Por isso, nunca sabermos ao certo o quanto
somos atingidos, mas sentimos, inclusive no corpo, que somos. O que não
lado, um complexo não resolvido pode atuar sobre a psique sem ser
reestruturando a psique.
Ego pode assumir uma das seguintes atitudes com relação aos complexos:
físicos, psicológicos, ou ambos. Jung (1971) alerta para o fato de que isso é
exemplo.
tomando um lugar nas malhas intrínsecas dos complexos, ou seja, nas teias
inconscientes. Todo este processo faz parte daquilo que Jung chama de efeito
Ademais, Jung (1971) diz que estímulos diversos podem sempre atualizar
emoção está resguardada, como carga afetiva que continua "afetando" o corpo
inconsciente, seu efeito será nocivo. Quer dizer que o complexo tem duplo
quanto ao funcionamento do seu ego. Isto nos leva a crer no seguinte: se, por
analista junguiano, indicam que a doença era vista como castigo ou punição
dos deuses, por erros e pecados cometidos, ou como sacrifício aos deuses. Já
coletivo.
necessidades, por isso ultrapassa sempre seus limites. Entendemos que isso
seja uma forma de reagir culturalmente valorizada, que está, por assim dizer,
seria uma recusa à saúde e nem a ausência de saúde, mas algo produtivo.
mesmo, que pode ser uma estratégia para parar, respirar, forçar uma mudança
de ritmo (que o indivíduo não consegue por outros meios), ou provocar uma
doenças que dele advém, simplesmente para descansar, dar uma “paradinha”.
da vida. Neste caso, a doença funciona como defesa que impede o indivíduo
de enfrentar os conflitos, também o impedindo de reconhecer seus conflitos
brilhante como do seu fim trágico. Mas, ressaltamos que, tanto um fim como o
nossas vidas. Assim, deixamos de observar o que está a olhos vistos: que se
p.16).
nós soa "como antigamente". Talvez isso se deva ao fato de que estas
alguns valores. Em vista disto, tudo indica que parece necessitarmos perder,
insignificantes.
relação do homem consigo mesmo, com o outro e com o meio que o adoece.
sua etiologia.
sabemos mais parar para descansar sem culpa, conversar na porta da casa
tudo”. Assim, perdemos o jeito de brincar, dançar, rir, pular, sentir, cantar,
fazer coisas que são "normais" ou "naturais" na infância, mas que, no fundo,
unilateralidade da psique.
Para Quê Serve a Doença?
descritos pelos doentes são claros para o bom escutador. Isso nos remete ao
que Ávila (1997) concluiu sobre a linguagem doença, vista como hieróglifo
Quero descobrir, quero me curar. Ah! Quero me curar, quero ir até o fim, quero
descobrir o que é que pode ser isto. Uma gastrite ou um começo de câncer?
Nem que o meu fim ‘tá perto’, mas eu quero saber o que é que pode ser isto, o
que é que pode estar me prejudicando (...) (...) Eu quero que a médica me diga
O indivíduo doente quer um parceiro que escute o que ele tem e que o
ajude a decifrar essa linguagem apresentada pelo seu corpo como signos
Assim, por meio desta relação, ele tem a oportunidade de atualizar o Arquétipo
sobre o que pensa da sua doença, o indivíduo faz uma revisão de sua vida.
erros (Eu até hoje, me arrependo, no caso, de muita besteira que eu fiz).
“cravar a sua espada”, trazendo para a consciência o significado que está ali
algo além, daquilo que promove a conscientização e que pode ser incorporado
à sua personalidade.
negativos, do que deixou de fazer, dos seus sonhos não realizados e do por
veneno”, “não bebo mais daquele jeito” ou “não arrisco tanto a vida como
Mostramos até aqui que a doença funciona como uma linguagem, mas
poderá ser feita. Nessa batalha, a doença poderá vencer, ou encontrar espaço
para se instalar com todo seu poder. Como foi dito, sabemos que um dos fins
que esperam o Herói é a morte. Isto faz parte de sua trajetória; só não morrem
como herói invencível ou imbatível (no futebol, na natação, nos esforços para
baixo, porque a brincadeira estava fácil demais), teve o devido limite. O que
queremos dizer é que algum acontecimento (lei) realmente o fez parar, seja o
tombo da goiabeira que o fez parar a escola, o pai que não permitia que ele
medo da morte. Diante de uma simples e pequena gastrite, cada uma destas
coisas, mais a fragilidade diante da morte da avó, o coloca no seu devido lugar
de humano e falível. Agora tem sua vida limitada, não pode beber a cachaça ou
a cerveja de que gosta, comer ou dormir fora de hora, comer na beira do rio ou
galinhada e carne de porco das ceias. Definitivamente, não pode fazer o que
fazia e isto inclui "(...) sair sem rumo, me divertir com os amigos. Agora, com a
vida de casado, não posso fazer o que quero, faço sempre as mesmas
coisas(...)" (Silveira, 1997). É daí que podemos constatar sua culpa do que já
querem que o médico escute e traduza a sua dor. Os médicos sabem disso,
dia desta pessoa, definindo estruturas e metas. Sentindo-se mal, o doente vai
que é para isto que serve a doença, para “vizualizarmos” o que pudermos
REFERÊNCIAS