Gestão Financeira - Aspectos Introdutorios
Gestão Financeira - Aspectos Introdutorios
Gestão Financeira - Aspectos Introdutorios
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
Professor:
Me. Julyerme Tonin
DIREÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Definir os conceitos de função financeira, gestão financeira e análise
financeira, destacando a importância do gestor financeiro para a empresa.
•• Mostrar os principais riscos existentes decorrentes do ambiente econômico
e financeiro no qual a empresa está inserida.
•• Evidenciar que o fluxo internacional de capitais e a volatilidade presente
nos diferentes mercados bem como alterações na taxa de câmbio, na taxa
de juros e inflação são fontes de risco para as empresas.
PLANO DE ESTUDO
introdução
6 Pós-Universo
IMPORTÂNCIA
E PRINCIPAIS
FUNÇÕES
DA GESTÃO
FINANCEIRA
Dentro da vasta área das finanças, Weston e Brigham (2000) destacam que existem três
áreas correlacionadas: mercado monetário e de capitais, investimentos e administração
financeira. O mercado monetário é composto por bancos, companhias de seguro, de
poupança e de empréstimo; associações de crédito coexistem, no qual os agentes se
preocupam com aspectos relacionados à taxa de câmbio, taxa de juros, regulamentação
das instituições financeiras.
O mercado de investimentos é composto por bancos, fundos mútuos ou
companhias de seguros que administram carteiras de investimentos. Por fim, tem-se a
administração financeira, a mais ampla das três áreas segundo o autor, que envolve
decisões desde a expansão de uma fábrica, estoques, capital de giro até a distribuição
de dividendos (WESTON; BRIGHAM, 2000).
Para Gitman (2004), a administração financeira compreende as mais diversas
tarefas financeiras, avaliação de projetos, planejamento financeiro, captação de
recursos, concessão de crédito a clientes, entre outras. Para Ansoff (1977), as empresas
têm que tomar decisões estratégicas, administrativas e operacionais. As decisões
estratégicas referem-se às relações entre a empresa e seu ambiente, e são decisões
da alta administração que geram atos com efeito duradouro.
Pós-Universo 7
reflita
O procedimento natural de uma pequena empresa é esquivar-se do
planejamento. Sendo que o planejamento financeiro nas pequenas empresas
é caracterizado pela informalidade, com uma tendência de que os objetivos
e procedimentos sejam focados no futuro próximo. Como as pequenas
empresas não têm a prática de contratar um gestor financeiro, qual seria o
caminho para a implantação de um planejamento financeiro “formal” que
atenda às necessidades dessas empresas?
Por sua vez, as decisões administrativas ou tácitas ocorrem no nível gerencial, produzem
efeitos a médio prazo e estão relacionadas com a estruturação dos recursos da
empresa visando ao melhor resultado possível. As decisões operacionais estão ligadas
ao dia a dia da empresa, e são tomadas para alcançar padrões de funcionamento
preestabelecidos, com o intuito de criar as condições adequadas para a realização
do trabalho diário da organização (ANSOFF, 1977).
Esse tipo de decisão permite a geração de um nível detalhado de informação
de tarefas ou atividades possibilitando a criação de indicadores plausíveis sobre a
situação da empresa. Essas decisões são inerentes ao gestor financeiro, destacando,
assim, a importância desse profissional para a empresa e como a gestão financeira
está intrinsecamente ligada às demais atividades da empresa.
fatos e dados
O painel “Os desafios dos grandes empreendimentos e importância da
engenharia de projetos no Brasil”, apresentado na edição 2012 da Rio Oil e
Gas, no Rio de Janeiro, destaca que o foco em ferramentas de gestão é um
dos destaques do Plano de Negócios e Gestão 2012-2016. Nessa ocasião,
após sete anos da primeira descoberta de petróleo na camada pré-sal,
ocorrida em 2006, a Petrobras atingiu a marca de 300 mil barris por dia. Na
porção americana do Golfo do México, por exemplo, foram necessários 17
anos, depois da primeira descoberta, para se alcançar a produção de 300
mil barris de petróleo por dia. Nesse contexto, o equilíbrio entre os Ciclos
Operacional Econômico e Financeiro é de fundamental importância para
essa empresa. Leia o artigo na íntegra em: <http://www.conselhos.org.br/
site.aspx/Detalhe-de-Destaque-COG?codNoticia=uPVzULtLj70=>.
8 Pós-Universo
No âmbito dessa área das finanças, denominada por Weston e Brigham (2000) como
administração financeira, é necessário definir alguns conceitos: função financeira,
gestão financeira e análise financeira. Para Ferreira e Esperto (2007), a função financeira
compreende um conjunto de atividades relacionadas com a gestão dos valores
movimentados por todas as áreas da empresa, e engloba a preparação, execução e
controle das decisões financeiras da empresa.
Ou seja, trata dos meios para que a empresa compre, produza, venda ou
simplesmente troque recursos financeiros. Encontrada em diferentes tipos de empresa,
a função financeira tem um papel importante no desenvolvimento das atividades
operacionais, assegurando que a soma dos resultados obtidos nessas atividades
contribua para o sucesso do empreendimento.
Ferreira e Esperto (2007) destacam que a função financeira conduz os responsáveis
da organização e outras entidades no processo de tomada de decisão. Dentre os
objetivos da função financeira, podem-se destacar: assegurar os fluxos econômicos
e financeiros da empresa, maximizando o resultado obtido; adequar as fontes de
financiamento minimizando os riscos; elaborar estudos avaliativos sobre a situação
econômico-financeiro da empresa, e disponibilizar informações para todos os
envolvidos no processo decisório.
Ademais, a gestão financeira consiste em um conjunto de rotinas, centralizadas
hierarquicamente ou não, que preocupam-se com a mobilidade funcional do capital,
tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo da empresa. Para Ferreira e
Esperto (2007), a gestão financeira envolve aspectos relacionados ao passado (registro
e monitoramento), ao presente (controle financeiro) e ao futuro (planejamento
financeiro) da instituição. Dentre os objetivos da gestão financeira, podem-se citar:
assegurar a estrutura financeira mais adequada; manter a integridade do capital e
promover o seu reforço sempre que possível; assegurar a rentabilidade e solvabilidade
da empresa.
Na gestão financeira de uma empresa, é possível identificar qual é o montante
de recursos disponíveis; o que se pode fazer com os recursos disponíveis perante
as alternativas de investimento; qual o recurso necessário para um determinado
empreendimento, no qual é possível obter os recursos necessários.
Pós-Universo 9
saiba mais
Silva (2002), em seus estudos sobre pequenas e médias indústrias de confecção
no Paraná, concluiu que os instrumentos de gestão mais utilizados são:
administração de caixa, de contas a receber, de estoques, de contas a pagar
e de custos de produção. Segundo o pesquisador, os gestores financeiros
responsáveis pela tomada de decisão nessas empresas classificam como
informações importantes: o ciclo financeiro, o prazo médio de recebimento,
o prazo médio de pagamento, a necessidade de capital de giro. Enquanto
que informações sobre prazo médio de estocagem, ciclo econômico etc.
são variáveis menos valorizadas, com base nos resultados do estudo.
Fonte: SILVA, A. A. (2002).
Pós-Universo 11
Até aqui foram apresentadas várias terminologias (função financeira, gestão financeira,
análise financeira, decisões financeiras e informação financeira). Conhecendo essas
terminologias, destacando que as mesmas são indissociáveis, doravante, trataremos
do termo Gestão Financeira. O próximo passo da análise é apresentar os diferentes
ciclos da empresa e sua relação com o processo de gestão.
Para Hoji (2009), o Ciclo Operacional de uma empresa compreende o período
que se inicia na aquisição da matéria-prima para produção (empresas industriais)
ou na aquisição de mercadoria (empresas comerciais), ou na prestação de serviços
(empresas de serviços), e se finaliza no recebimento pelo produto ou serviço final.
Para o autor, o ciclo operacional é a soma do prazo de rotação dos estoques e prazo
de recebimento da venda.
Por sua vez, Assaf Neto e Silva (1997) dizem que o Ciclo Financeiro mede
exclusivamente as movimentações de caixa, abrangendo o período compreendido
entre o desembolso inicial de caixa e o recebimento da venda do produto. Ou seja,
representa o intervalo de tempo de que a empresa irá necessitar efetivamente ao
financiamento para suas atividades.
Por fim, Hoji (2009) destaca que o Ciclo Econômico inicia-se com os desembolsos
ou gastos na compra da matéria-prima (esses gastos podem ser feitos antes da efetiva
obtenção da matéria-prima) e encerra-se com o recebimento pelo produto fabricado.
Para Assaf Neto e Silva (1997), o ciclo econômico não leva em conta os reflexos de
caixa verificados em cada fase operacional, ou seja, os prazos de recebimentos das
vendas e os pagamentos dos gastos incorridos. A Figura 1 apresenta a relação entre
os ciclos econômico, financeiro e operacional da empresa.
12 Pós-Universo
O gestor financeiro pode avaliar a dinâmica desses três ciclos por meio do cálculo
de alguns indicadores de prazo médio. O prazo médio de estocagem da matéria-
prima é dimensionado levando em conta o custo de capital, custo das instalações,
custo dos serviços e risco de estocagem (BRAGA, 1995).
O prazo médio de fabricação depende do ramo de atividade da empresa, e o
prazo de venda depende das características do mercado em que a empresa atua,
sendo variáveis exógenas ao gestor, ou seja, na maioria das vezes, o gestor não tem
como promover alterações nesse prazo.
O prazo médio de cobrança ou recebimento indica o tempo decorrido, em
média, entre a venda de seus produtos e o efetivo ingresso dos recursos. Esse prazo
é afetado pela política de crédito da empresa. O prazo médio de pagamentos
representa o tempo decorrido, em média, o prazo que a empresa vem obtendo de
seus fornecedores para quitar suas obrigações advindas da compra de matérias-primas
ou serviços (BRAGA, 1995). Esses prazos são indicadores muito importantes, sendo
utilizados pelo gestor para aumentar a eficiência da gestão dos recursos da empresa.
Enfim, esses distintos ciclos são utilizados para mensurar o tempo em que cada
atividade da empresa é desenvolvida. São úteis na medida em que refletem a cultura
organizacional da empresa, sendo que o entendimento desses ciclos é um ponto
primordial na elaboração do orçamento, para projetar as necessidades de capital de
giro e entender o fluxo de caixa da empresa, elementos que serão analisados nas
próximas aulas.
14 Pós-Universo
saiba mais
Quando temos problemas de saúde, procuramos um médico, relatamos
os sintomas da doença que nos atinge. Em seguida, esse médico irá fazer
uma série de perguntas, tais como: idade, hábitos alimentares, prática
esportiva, aspectos laborais etc. Essas informações, juntamente com exames
laboratoriais, ajudam no diagnóstico para que o médico recomende um
tratamento. Após algum tempo, retornamos ao médico para avaliação, se
o tratamento foi adequado, ficaremos curados e felizes.
No campo empresarial, a situação é quase idêntica, você sabia? Quando uma
empresa está com alguma dificuldade ou “doença empresarial”, procura ajuda
de um consultor ou um profissional qualificado, selecionado normalmente
por intermédio de boas referências e experiências na resolução de problemas
empresariais. No primeiro contato, o gestor da empresa expõe o problema,
e o consultor, por meio de técnicas e procedimentos adequados, avalia a
situação apresentada, efetua um diagnóstico e propõe um plano de ação
visando solucionar os problemas empresariais apresentados.
A decisão é do gestor da empresa de aceitar ou não o plano de ação
proposto. Caso concorde, o passo seguinte é a implantação do plano de
ação e avaliação dos resultados. Com essa abordagem ilustrativa, o SEBRAE
lançou a série Guia do Empreendedor, composta por cinco fascículos,
que traz informações para a gestão de micro e pequenas empresas, sendo
que um desses fascículos trata de uma maneira simples e direta a Gestão
Financeira.
Fonte: SEBRAE (2014)
Pós-Universo 15
ANÁLISE
DOS RISCOS:
CONTEXTO
HISTÓRICO
As finanças das empresas já são elementos de estudo da Ciência Econômica desde
os primórdios. Para Assaf Neto (2007), a Grande Depressão da década de 1930, a
influência de diferentes vertentes teóricas, a crescente complexidade dos negócios
possibilitaram a criação e a expansão da teoria das finanças. Nesse contexto, as
décadas de 1950 e 1960 foram prodigiosas para o ramo das finanças, sendo que os
gestores financeiros da atualidade se beneficiam das inovações de autores, como
Harry Markowitz, William Sharpe, Franco Modigliani, Merton Miller, Eugene Fama,
entre outros.
fatos e dados
Os cientistas já citados receberam o Prêmio Nobel de Economia. Franco
Modigliani, em 1985; Harry Markowitz, William Sharpe e Merton Miller, em
1990; Myron Scholes, em 1997; e Eugene Fama, em 2013.
Para saber a lista completa, acesse:<http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/
economic-sciences/laureates/>.
16 Pós-Universo
Na década de 1950, surgem duas correntes com forte influência sobre as finanças
modernas: Markowitz, em 1952, e Modigliani e Miller, em 1958. Harry Markowitz lança
as bases da teoria do portfólio, avaliando a relação risco e retorno, sendo seguido por
autores como Tobin (1952) e Sharpe (1964), mas a importância dos seus estudos só
foi reconhecida a partir da década de 1970. Por sua vez, no teorema Modigliani-Miller,
esses autores desenvolveram a concepção de que o valor da empresa independe de
sua estrutura de capital (SAITO; SAVOIA; FAMÁ, 2006).
Nesse sentido, a moderna gestão do risco, especificamente o risco financeiro,
ganhou ímpeto com a teoria do portfólio de Markowitz (1952). A contribuição
desse autor, com a teoria do portfólio, se baseia na redução do risco por meio da
diversificação de ativos, rejeitando a hipótese de que os investidores devem formar
o seu portfólio embasado somente no maior retorno esperado. A partir de então, a
relação risco e retorno foi avaliada por outro prisma; deixou-se de avaliar unicamente
o risco isolado de cada ativo para avaliar os resultados de risco e retorno inerentes
a uma carteira de ativos.
De uma forma simplista, seria o equivalente ao ditado popular “não coloque todos
os ovos em uma cesta só”. Entretanto, o autor alertou que somente a quantidade de
ativos não mitiga o risco, é necessário escolher ativos pouco relacionados. O ponto
aqui é que com a sistematização matemática da teoria do portfólio, a escolha dos
ativos que compõem essa “cesta” ou portfólio passou a ser um passo importante para
a gestão de qualquer patrimônio. Bernstein (1997, p. 257) destaca a importância da
contribuição de Markowitz:
““
O artigo Portfolio Selection revolucionou a atividade de gerência de
investimentos, ao elevar o risco à mesma importância do retorno esperado.
O artigo, junto com o livro de mesmo nome que Markowitz escreveu em 1959,
foi a base de quase todos os trabalhos teóricos de finanças que se seguiram.
atenção
Cabe destacar que tal teoria leva em conta o retorno esperado, a correlação,
a volatilidade e as covariâncias entre os ativos que compõem a carteira, e
toda uma construção matemática que não será abordada neste livro.
Fonte: o autor
Pós-Universo 17
Com base no exposto, Tobin (1952) contribui com essa vertente teórica, demonstrando
que o investidor toma suas decisões combinando um ativo livre de risco com o
portfólio situado na Fronteira Eficiente. Em outras palavras, esse autor criou a Teoria
da Separação, demonstrando que o investidor primeiro determina o portfólio de
ativos mais eficientes, e depois determina a proporção de recursos a ser alocados
nos ativos livres de risco e nos ativos de risco. Em última instância, para o autor, o
grau de diferenciação vai depender da maior ou menor tolerância ao risco (SAITO;
SAVOIA; FAMÁ, 2006).
Por sua vez, William Sharpe (1964), aprofundando os conceitos da teoria do
portfólio, criou um índice para avaliar a eficiência dos investimentos, para então
classificar diferentes ativos levando em conta a relação entre o retorno esperado e a
volatilidade do ativo (RENNER, 2010). Esse autor, de certo modo, simplificou a teoria
do portfólio ao demonstrar que o risco total é composto do risco sistêmico e do risco
não-sistêmico (ou diversificável).
quadro resumo
• Risco diversificável é o risco que pode ser total ou parcialmente diluído
pela diversificação de carteira.
• Risco sistemático é o risco que está sempre presente na estrutura do
portfólio, é o risco decorrente das mudanças do sistema econômico
como um todo (ASSAF NETO, 2007, p. 236).
r − rf = β(rm − rf)
em que,
r é a taxa de retorno do investimento, ou taxa mínima de atratividade;
rf é a taxa de retorno de um investimento livre de risco; e
rm é a taxa média de retorno do mercado
ß é o beta
Como já disse Albert Einstein, “para descrever a verdade, deixe a elegância para os
alfaiates”. Então, essa fórmula aparentemente simples nos leva a uma importante
conclusão: o prêmio de risco esperado de um determinado investimento (r - rf) é igual
ao beta multiplicado pelo prêmio de risco esperado no mercado (r - rm). Por exemplo,
um prêmio de risco esperado por um investidor com um beta de 0,5 é metade do
prêmio de risco esperado pelo mercado (BREALEY et al., 2008).
Já os investidores Modigliani-Miller seguiram outra linha. De acordo com Oga
(2007, p. 13), em 1958, Franco Modigliani e Merton Miller demonstraram que, sob
certas condições, as decisões reais são separadas das decisões financeiras. Nesse
sentido, esse teorema demonstra que as empresas não têm que ajustar suas decisões
às preferências de risco dos diversos investidores e que a política de dividendos das
firmas não afeta o seu valor de mercado.
Pós-Universo 19
reflita
Não há a possibilidade de eliminar, mas sim de reduzir o risco. O grande
problema não é conviver com o risco, e sim não percebê-lo. Por isso, quanto
maior o risco percebido, maior será o retorno potencial.
Fonte: o autor
Caro(a) aluno(a), findamos a primeira etapa dessa aula apresentando uma concepção
histórica da análise do binômio risco X retorno, mostrando um pouco da metodologia
existente para a avaliação do risco existente. Seguindo em nossa análise, é necessário
definir adequadamente o termo risco e identificar as principais fontes de risco.
Até aqui, utilizou-se o termo risco, mas para um gestor financeiro, é de fundamental
importância que ele entenda a diferença entre risco e incerteza. Para clarificar essa
questão, abaixo seguem algumas definições.
20 Pós-Universo
Para Knight (1972), risco é uma contingência desfavorável e pode ser medido
em termos de probabilidade objetiva, e a incerteza refere-se a situações singulares,
em que não há a possibilidade do cálculo, a priori, de algo acontecer. Para Crouhy,
Galai e Mark (2004), riscos são fenômenos que se podem identificar e medir, avaliar
e minimizar por meio de uma gestão técnica, enquanto que incerteza é todo evento
derivado do desconhecido, de uma fonte sem controle. Para Gastineau e Kritzman
(1999), a terminologia risco expressa, de uma maneira geral, um fenômeno que
expõe o agente econômico a mudanças por conta da adversidade que ocorre em um
mercado ou até mesmo um país. Também, para Garofalo Filho (2004), o risco indica
perigo, sobretudo, possibilidade de perda financeira ou econômica.
Portanto, existe uma percepção do risco por parte dos agentes, em que se pode
antecipar uma série de decisões, podendo até se tirar proveito desse processo.
Enquanto que a incerteza está ligada a fatos futuros desconhecidos, não passíveis
de perfeita mensuração e quantificação, por força da sua própria particularidade.
Desse modo, risco e retorno são variáveis financeiras indissociáveis. Dessa análise,
criou-se o jargão “quanto maior o risco, maior o retorno”. Então, a essa altura, você já
deve ter percebido que estamos abordando dois pontos distintos: risco e incerteza.
Na existência de incerteza, vamos corrigir essa máxima para “quanto maior o risco
percebido maior será o retorno potencial”.
Embora as incertezas possam ser ainda não conhecidas, no entanto, podem
ser minimizadas, tornando-se, assim, um grande desafio dos gestores, diretores,
investidores etc. Então, caro(a) aluno(a), saber que existe incerteza já é um primeiro
passo, pois assim a atuação profissional será realizada buscando “aparar as arestas”, para
evitar surpresas, derivadas do desconhecido, e para antecipar decisões minorando
os riscos conhecidos e até tirar proveitos de certas situações.
A classificação dos riscos é conhecida na literatura como tipologia de exposição
ao risco. Utilizando as definições de Gitman (2004, p. 185), os riscos podem ser
caracterizados conforme o Quadro 1.
Pós-Universo 21
ANÁLISE DOS
RISCOS NO
AMBIENTE
EXTERNO DA
EMPRESA
Para administrar financeiramente uma empresa, tem que se ter em mente um
conjunto de decisões. Partindo da análise, planejamento e controle financeiro, onde
o orçamento, o fluxo de capital e a identificação da necessidade de capital de giro são
variáveis importantes, o gestor se defronta com duas decisões importantes: decisão
de financiamento (captação de recursos) e decisão de investimento (aplicação de
recursos).
O gestor sabe que além do ciclo financeiro, deve levar em conta os ciclos
econômico e operacional da empresa, que a percepção do risco e a precaução são
condutas adequadas em suas decisões. Além disso, seu grau de aversão ao risco e à
informação incompleta sobre todas as variáveis que afetam sua empresa vão afetar
os resultados das suas decisões.
Aqui temos um ponto importante em nossa análise, o gestor não tem uma
informação completa, o pleno conhecimento de todas as variáveis que afetam a sua
empresa ou empreendimento. Até aqui falamos dos principais aspectos do ambiente
interno que afetam a tomada de decisão. Mas há uma série de variáveis relacionadas
ao ambiente externo da empresa, que serão avaliadas nesta aula.
Pós-Universo 23
reflita
A ordem liberal das finanças internacionais caracteriza-se pela expansão
do capital financeiro nos mercados globais e pelo enfraquecimento do
poder regulatório estatal. Desse modo, as crises financeiras recorrentes e
cada vez mais intensas na economia global devem-se ao processo natural
de expansão dos mercados financeiros ou devem-se à falta de regulação?
Fonte: BELLUZZO, L. G. M.; COUTINHO, L. (1996)
Logo, uma determinada empresa, ao fazer suas projeções de vendas e receitas, tem
que levar em conta que o ambiente competitivo está em constante mudança. Nesse
ponto, pode-se distinguir a gestão financeira doméstica da gestão financeira
multinacional. Weston e Brigham (2000) destacam que a tarefa de um gestor de uma
empresa multinacional é mais complexa, pois envolve o conhecimento de: diferentes
denominações monetárias, das ramificações econômicas e legais de uma determinada
operação, diferentes idiomas, diferenças culturais, diferente papel e atuação dos
governos e o risco político.
Para Hoji (2009), em uma operação comercial internacional, surgem dois outros
tipos de risco, o risco de cambial e o risco político. O risco cambial pode ser definido
como a variação inesperada e não quantificável da moeda estrangeira em relação
à moeda local. Para Gitman (2004), como muitas empresas atuam também em
mercados estrangeiros, parte das suas receitas e de seus custos está atrelada à moeda
estrangeira, desse modo, o risco cambial é causado pela oscilação da taxa de câmbio
entre as moedas doméstica e estrangeira, causando assim oscilações na receita e
nos custos da empresa.
Para reduzir o risco de câmbio, são adquiridas divisas no mercado a termo ou é
realizado hedging no mercado futuro (HOJI, 2009). Na gestão internacional de caixa,
uma empresa multinacional pode reagir aos riscos de câmbio existentes protegendo
(fazendo hedge) suas exposições indesejáveis em termos de caixa ou realizando certos
ajustes em suas posições (GITMAN, 2004, p. 661). O Quadro 2 apresenta uma lista de
ferramentas para redução do risco de câmbio.
Pós-Universo 25
Por sua vez, o risco político existe quando o governo do país devedor não permite
a remessa de divisas para o exterior, em determinadas circunstâncias. Hoji (2009)
destaca que para reduzir o risco político, são exigidas cartas de crédito, seguro de
crédito para exportação, fianças bancárias internacionais e garantias de agências
oficiais de fomento. No Quadro 2, é apresentada uma lista de medidas para mitigar
o risco político
fatos e dados
Em 1944, celebrou-se o Acordo de Bretton Woods, que deu vida ao que
muitos consideram o mais bem-sucedido arranjo institucional das finanças
internacionais dos últimos 150 anos. Dele emergiu uma nova ordem financeira
internacional, que procurava combinar a estabilidade propiciada pelo regime
de câmbio fixo do antigo padrão ouro com a flexibilidade necessária no
período pós-guerra. A partir de 1973, findou-se esse acordo e as moedas
dos diferentes países passaram a oscilar livremente, sendo a taxa de câmbio
uma importante variável nas análises econômicas, a partir de então.
Fonte: CUNHA, A. M., 2006, p. 483-501.
Pós-Universo 27
1
∑
n
S= (ri − r−)2
n−1 i=1
em que,
s é a volatilidade histórica;
n é o número de variações nos preços (logo, n+1 é o número de observações de preços);
ri = ln ( Si ) , sendo si o preço do ativo que está sendo analisado, com média r .
Si-1
Enfim, incorporamos novas variáveis relacionadas à decisão de planejamento e
controle financeiro do gestor público. Em um ambiente cada vez mais competitivo,
o gestor público se defronta com variáveis que estão fora do seu controle e uma
dessas variáveis é a concorrência. Como o ambiente competitivo está em constante
mudança, o gestor deve considerar esse ponto em sua análise. Em uma estratégia
de longo prazo, esse ambiente competitivo conduz à busca de economias de escala,
maior eficiência administrativa, novos insumos, diversificação etc., fato que faz com
que o gestor cogite a possibilidade de atuar em novos mercados, especialmente em
mercados internacionais. Nessa esfera, identificamos novos riscos, o risco cambial e
o risco político e os instrumentos utilizados para reduzir esses riscos, demonstrando
que o simples crescimento do mercado financeiro propicia um maior movimento
especulativo dos ativos e, consequentemente, atribui uma maior volatilidade do
mercado. Saber calcular e interpretar essa volatilidade é uma ferramenta importante
na gestão financeira de uma empresa.
atividades de estudo
A classificação correta é:
a) I- incerteza; II - risco; III - risco; IV - incerteza.
b) I- risco; II - incerteza; III - incerteza; IV - risco.
c) I- risco; II - risco; III - incerteza; IV - risco.
d) I- incerteza; II - incerteza; III - risco; IV - incerteza.
e) I- risco; II - risco; III - incerteza; IV - incerteza.
3. O risco pode ser classificado de acordo com as suas fontes e os agentes que são
afetados por esse risco. Quanto à tipologia dos riscos, é correto afirmar:
No campo das finanças, a administração financeira é uma ampla área que envolve decisões
estratégicas, tácitas e operacionais da empresa. Nessa área, podemos ilustrar os conceitos de
função financeira, gestão financeira e análise financeira. A função financeira engloba a preparação,
execução e controle das decisões financeiras da empresa.
Por sua vez, a gestão financeira é um conjunto de rotinas relacionadas a aspectos do passado
(registro e monitoramento), do presente (controle financeiro) e do futuro (planejamento financeiro)
da instituição. E a análise financeira engloba um conjunto de instrumentos, técnicas e métodos
necessários para gerar informações úteis à gestão financeira.
As decisões são tomadas levando em conta três ciclos que coexistem dentro da empresa: ciclo
operacional, ciclo econômico e financeiro. Esses ciclos refletem a cultura organizacional da
empresa e afetam decisões, como a estocagem e a política de crédito, além de influenciar aspectos
relacionados ao fluxo de caixa e capital de giro da empresa.
Para entender o estado da arte da gestão financeira, apresentamos alguns fatos históricos e teorias
que foram responsáveis pelo arcabouço institucional da gestão financeira moderna. Porém, como
ponto de partida, focamos na década de 1950, período em que foram formadas as bases das
finanças modernas. O passo seguinte é mostrar os riscos decorrentes do ambiente econômico
no qual a empresa está inserida.
Com a análise do binômio risco-retorno, reescrevemos um conhecido ditado popular para “quanto
maior o risco percebido maior será o retorno potencial”, identificando assim a importante diferença
de risco e incerteza. Posteriormente, classificamos os diferentes riscos existentes: financeiro,
operacional, liquidez, mercado etc. Posteriormente, vamos realizar uma análise do ambiente
institucional, apresentando os conceitos de Sistema Financeiro Nacional, Mercado Financeiro e
Mercado de Capitais.
referências
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