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Artigo de Revisão

Fisioterapia no paciente com asma: intervenção


baseada em evidências
Physiotherapy in asthma patients: evidence-based intervention
Fernanda de Cordoba Lanza1, Simone Dal Corso1

RESUMO ABSTRACT

As intervenções fisioterapêuticas destacam-se como tratamento Respiratory physiotherapy stands out as a nonpharmacological
não farmacológico e são coadjuvantes no tratamento da asma. approach and is an adjuvant intervention in the treatment
O tratamento fisioterapêutico só deve ser iniciado quando o of asthma. Physiotherapy should only be initiated when the
indivíduo estiver com a medicação ajustada para sua condição medication is adjusted to the patient’s condition and when the
e em acompanhamento médico regular. Como a asma é uma patient is under regular medical follow-up. Asthma is a chronic
doença crônica com episódios recorrentes de sibilância, tosse e disease with recurrent episodes of wheezing, cough, and dyspnea,
dispneia, ocorre aumento do trabalho respiratório e da percepção resulting in increased respiratory workload and perceived exertion
do esforço, podendo levar a alterações da mecânica respiratória, and potentially leading to changes in respiratory mechanics,
função muscular respiratória e do descondicionamento físico. Os respiratory muscle function, and physical deconditioning. The
objetivos da fisioterapia são: reduzir o desconforto respiratório e objectives of respiratory physiotherapy are: to reduce respiratory
a dispneia, melhorar a mecânica respiratória, melhorar a força distress and dyspnea, to improve respiratory mechanics and
muscular respiratória nos casos de fraqueza desta musculatura, respiratory muscle strength (in cases of muscle weakness), to
melhorar o condicionamento cardiorrespiratório, promover higiene improve cardiopulmonary conditioning, to promote bronchial
brônquica, quando necessária, e melhorar a qualidade de vida. hygiene when necessary, and to improve quality of life. Previous
Estudos prévios investigaram os efeitos dos exercícios respirató- studies have investigated the effects of breathing exercises,
rios, do treinamento muscular respiratório (TMR), da reabilitação respiratory muscle training (RMT), pulmonary rehabilitation
pulmonar (RP) e das técnicas de higiene brônquica em pacientes (PR), and bronchial hygiene techniques in patients with asthma.
asmáticos. Não há evidências de que os exercícios respiratórios There is no evidence that breathing exercises can improve lung
melhorem a função pulmonar, embora reduzam os sintomas function, even though they reduce symptoms and the use of rescue
e a medicação de resgate e melhorem a qualidade de vida. O medication and improve quality of life. RMT reduces dyspnea,
TMR diminui a dispneia, aumenta a força muscular inspiratória e increases inspiratory muscle strength, and improves exercise
melhora a capacidade de exercício. O treinamento físico, que é o capacity. Physical training, the main component of PR, leads to
principal componente da RP, leva à melhora dos sintomas respira- improvement of respiratory symptoms, functional capacity, and
tórios, da capacidade funcional e qualidade de vida. Por fim, não quality of life. Finally, there is no scientific evidence supporting the
há evidências científicas que suportem a realização de técnicas use of manual bronchial hygiene techniques. Nevertheless, the use
manuais de higiene brônquica. No entanto, o oscilador oral de of oral high-frequency oscillators could be a strategy for mucus
alta frequência pode ser uma estratégia para eliminar secreção clearance in adults and children with pulmonary infection.
de adultos e crianças na vigência de infecção pulmonar.
Descritores: Asma, exercícios respiratórios, músculos Keywords: Asthma, breathing retraining, respiratory muscles,
respiratórios, tolerância ao exercício, função pulmonar, qualidade exercise tolerance, pulmonary function, quality of life.
de vida.

1. Fisioterapeuta, Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo, Professora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação
da Universidade Nove de Julho, São Paulo, SP.

Submetido em: 10/01/2017, aceito em: 15/02/2017.


Arq Asma Alerg Imunol. 2017;1(1):59-64

http://dx.doi.org/10.5935/2526-5393.20170008

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Introdução Uma revisão sistemática em adultos com asma


Asma é uma doença pulmonar crônica de pre- teve por objetivo identificar os benefícios, principal-
valência elevada que afeta entre 12% e 20% das mente na qualidade de vida, desses indivíduos ao
populações infantil e adulta1-3. O tratamento da asma realizarem exercícios respiratórios8. Foram incluídos
visa alcançar o controle da doença, reduzir o número 13 ensaios clínicos randomizados (ECR), totalizan-
de exacerbações, a limitação ao fluxo aéreo e os sin- do 906 pacientes com asma moderada/grave. Sete
tomas4. Para alcançar esses objetivos recomenda-se deles realizaram exercícios respiratórios praticados
o tratamento farmacológico e o não farmacológico, na Yoga, variando de duas a três sessões semanais,
sendo que ambos devem ser continuamente revistos por período de dois a quatro meses. Os demais seis
e ajustados para alcance e manutenção do controle estudos utilizaram exercícios respiratórios com res-
da doença. piração nasal profunda e com padrão diafragmático.
O tratamento fisioterapêutico é considerado uma O questionário de qualidade de vida Asthma quality
intervenção não farmacológica4. O mesmo deve ser of life Questionnaire (AQLQ) e de controle da doença
instituído quando o paciente está em acompanhamen- Asthma Control Questionnaire (ACQ) foram os des-
to médico regular e com tratamento medicamentoso fechos mais utilizados nos estudos. As escalas de
adequado. Os principais objetivos da fisioterapia depressão e os questionários genéricos de qualidade
aplicada aos pacientes com pneumopatias em geral de vida também foram desfechos utilizados em alguns
são: reduzir o desconforto respiratório e a dispneia, estudos. Em seis estudos foi documentada a melhora
melhorar a mecânica respiratória, melhorar a força na qualidade de vida, em cinco no controle da asma
muscular respiratória nos casos de fraqueza desta e em um estudo a redução nos níveis de ansiedade
musculatura, melhorar o condicionamento cardior- e depressão. Os autores concluem que os ensaios
respiratório, promover a higiene brônquica, quando clínicos apresentam resultados satisfatórios em rela-
necessária, e melhorar a qualidade de vida5. ção aos exercícios respiratórios na asma. No entanto,
a grande heterogeneidade entre os estudos (tipos
Diversas são as possibilidades de intervenção
de exercícios, tempo de intervenção, entre outros)
pela equipe de fisioterapia aos pacientes com doença
dificulta indicar ou refutar a eficácia dos mesmos no
pulmonar obstrutiva, sendo o tratamento de escolha
tratamento de pacientes adultos com asma.
dependente da fisiopatologia da doença e do quadro
clínico do paciente. Nessas condições, os pacientes Os exercícios respiratórios também foram alvo
com asma têm a possibilidade de receber as seguin- de estudo em população infantil. Em outra revisão
tes intervenções: exercícios respiratórios, treinamento sistemática, os benefícios de diferentes exercícios
muscular respiratório, reabilitação pulmonar e técni- respiratórios em crianças e adolescentes com asma
cas de higiene brônquica. Nesse texto serão apre- e com idades entre 6 e 13 anos foram investigados9.
sentadas evidências científicas sobre a intervenção Apenas três estudos clínicos randomizados foram
fisioterapêutica ao paciente com asma. incluídos nessa revisão, compostos, no total, por
112 crianças com asma moderada/grave. Nenhum
estudo avaliado teve o exercício respiratório como
Exercícios respiratórios intervenção isolada, sendo que todos foram associa-
Os pacientes com asma experimentam episódios dos a outros tratamentos como técnicas de higiene
de aumento da frequência respiratória, principalmen- brônquica, treinamento muscular respiratório ou
te em momentos de piora da obstrução brônquica. reabilitação pulmonar. A associação entre interven-
Assim, os exercícios respiratórios que promovam ções, embora limite a interpretação específica dos
redução na hiperventilação, e consequentemente, a resultados dos exercícios respiratórios, resultou em
hipocapnia, são estratégias interessantes. favor destes. Foi descrita a melhora na qualidade de
Há evidências de que a hipocapnia favoreça a vida em um estudo, mas o escore utilizado não foi
broncoconstrição, enquanto que a hipercapnia aja mencionado. O mesmo ocorreu com a avaliação do
diretamente no relaxamento do músculo brônquico controle da doença, no qual foi descrita a melhora,
causando a broncodilatação6,7. Por isso, exercícios porém sem utilizar questionários específicos. Embora
respiratórios que favoreçam a respiração tranquila existam evidências científicas sobre os benefícios do
contribuiriam com o aumento no CO2 alveolar e con- exercício respiratório na população infantil com asma,
sequente redução do broncoespasmo, minimizando os estudos apresentam limitações, e não é possível
o trabalho respiratório e a dispneia. constatar implicações clínicas.
Fisioterapia no paciente com asma – Lanza FC & Dal Corso S Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 1. N° 1, 2017 61

Estudo recente avaliou a utilização de incentivador manovacuômetro14. Na presença de fraqueza, geral-


respiratório associado à válvula de PEEP (pressão mente quando a pressão inspiratória máxima (PImax)
expiratória positiva final) e constatou melhora na é menor do que 70% do valor previsto15 ou maior do
qualidade de vida de adultos com asma10. O ins- que -60 cmH2O16, o treinamento muscular respiratório
pirômetro é um equipamento utilizado para auxiliar é realizado com instrumentos que geram resistência
o paciente a realizar exercícios, pois apresenta um à inspiração do paciente, sendo os mais utilizados
retorno visual para que os mesmos sejam melhor o Threshold® e o PowerBreath®. Os benefícios do
realizados (feedbkack visual). Tem como nome co- treinamento serão o aumento na força muscular e na
mercial Respiron® e Voldyne®. A válvula de PEEP espessura do músculo.
mantém as vias aéreas abertas ao final da fase Cinco ensaios clínicos randomizados foram inclu-
expiratória pela pressão positiva exercida, o que ídos em uma revisão sistemática e metanálise sobre
facilitaria a expiração dos pacientes com asma. A treinamento muscular respiratório em adultos com
hipótese dos autores foi que o uso de incentivado- asma17. Um total de 113 adultos foram analisados,
res, associado à PEEP, poderia resultar em melhor sendo o treinamento muscular realizado com carga
controle da respiração. Dezoito adultos com asma entre 40% e 60% da PImax, com sessões diárias
grave (VEF1/CVF 55%) foram randomizados, sendo que variaram entre 3 e 12 semanas de intervenção.
11 no grupo intervenção (duas sessões diárias de Embora grande heterogeneidade entre os estudos
20 minutos de exercícios) e oito no grupo controle. tenha sido observada em relação à gravidade da
Houve melhora no escore total do AQLQ e também doença e a porcentagem de ganho da força muscular
no controle da asma (ACQ). respiratória, houve aumento na força dos músculos
Em linhas gerais, os exercícios respiratórios, com inspiratórios em todos estudos e redução na dispneia
predomínio de inspirações lentas e profundas que foi descrita em quatro deles. Resultados semelhantes
promovam a redução na hiperventilação pulmonar, foram observados por Shei e colaboradores18 em
parece ter bom nível de evidência na melhora da uma revisão recente que incluiu 10 estudos clínicos
qualidade de vida e no controle da asma em adultos randomizados sobre treinamento muscular respira-
(nível de evidência nível A e B). O mesmo não é pos- tório em asma moderada. Observou-se aumento na
força muscular respiratória e redução na sensação
sível afirmar na população infantil.
de falta de ar.
Turner e cols.19 concluíram que o treinamento
Treinamento muscular respiratório muscular respiratório em indivíduos com asma inter-
mitente aumenta a força muscular e reduz a dispneia,
O músculo diafragma é o mais importante, em-
como descrito por outros autores17,18. Adicionalmente,
bora não seja o único, responsável pela inspiração.
o estudo de Turner e cols.19 descreveu o aumento
Os músculos respiratórios podem sofrer hipertrofia
de 22% (8,5 para 10,6 minutos) na tolerância ao
(aumento de fibras tipo I e recrutamento de fibras tipo
exercício, avaliado em teste de carga constante no
IIa) caso sejam devidamente treinados11.
cicloergômetro, após treinamento de seis semanas
Alguns aspectos corriqueiros aos pacientes com dos músculos inspiratórios com carga de 50% da
asma podem contribuir com a redução da força dos PImax.
músculos respiratórios, como a hiperinsuflação e a
Na população infantil com asma, os estudos sobre
utilização de corticosteroides. Cerca de 50% dos as- treinamento muscular respiratório são escassos. Lima
máticos, que não têm controle adequado da doença, e cols. avaliaram 50 crianças com média de idade de
cursam com hiperinsuflação pulmonar12. Esse estado 9 anos e diagnóstico de asma, mas sem tratamento e
resulta na retificação do diafragma, e consequente, acompanhamento prévios20. Foi realizado treinamento
redução na força muscular pela desvantagem na muscular respiratório duas vezes na semana, por sete
mecânica respiratória13. Sabe-se que a utilização semanas, associado ao tratamento medicamentoso
crônica de corticosteroide oral é fator de risco para regular. Os autores não descreveram a intensidade
a redução da força de músculos esqueléticos, sendo exata de treinamento, sendo mencionado apenas co-
essa medicação utilizada no tratamento de exacer- mo treino de força (alta intensidade) e de endurance
bação da asma13. (baixa intensidade), e concluíram por aumento na
A detecção da redução na força dos músculos força muscular respiratória e no pico de fluxo expira-
respiratórios é feita pela fisioterapeuta com o uso do tório nas crianças com asma.
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Sumarizando, há evidências científicas adequadas observada mudança na função pulmonar, como já


que o treinamento muscular respiratório traz benefí- descrito para outros tipos de doenças pulmonares
cios aos pacientes adultos com asma. Cabe ressaltar crônicas, os autores recomendam que pacientes
que os pacientes com alteração na mecânica respira- asmáticos devem ter incluído no seu tratamento o
tória decorrentes da hiperinsuflação, ou da fraqueza exercício físico regular.
dos músculos respiratórios, apresentarão melhores Wanrooij e cols. realizaram uma revisão siste-
resultados na redução da dispneia e no aumento mática sobre exercício físico em uma população
da força muscular respiratória após treinamento. específica: crianças e adolescentes com asma23. O
Portanto, sugere-se que o treinamento muscular
objetivo principal foi identificar a melhora na condição
seja feito nos indivíduos que apresentem redução
cardiorrespiratória, a redução do broncoespasmo
na força muscular. Não há evidências claras sobre
induzido pelo exercício (BIE) e dos sintomas da
os benefícios do treinamento muscular respiratório
asma após realização de protocolo de reabilitação
em crianças com asma.
pulmonar, em pacientes entre 6 e 18 anos. Foram
incluídos 29 ensaios clínicos, com total de 1.045
participantes. Sete estudos utilizaram a natação
Reabilitação pulmonar
como treinamento aeróbio e os demais tiveram
Define-se por reabilitação pulmonar a intervenção como atividade o basquetebol, corrida (ao ar livre
ao paciente com doença pulmonar crônica que inclui, ou em esteira), futebol, e Tai Chi Chuan. A duração
mas não é limitada a exercícios físicos, educação dos programas variou entre seis a 20 meses, com
sobre a doença, e mudança de hábitos para melho- frequência entre um a sete dias na semana, com
rar a condição física e psicológica21. Está indicada duração entre 20 minutos e duas horas. Seis de 10
para pacientes sintomáticos e/ou com redução na estudos identificaram a melhora no VO2  max e na
capacidade funcional e na qualidade de vida em carga do teste de exercício cardiopulmonar. Sete
decorrência da doença crônica, desde que estejam
estudos avaliaram o BIE, e a redução do BIE foi
em devido acompanhamento médico. É uma inter-
observada nos pacientes com asma grave, mas sem
venção realizada por equipe multiprofissional e com
diferença naqueles com asma leve/moderada. Houve
enfoque interprofissional.
melhora nos sintomas de asma e na qualidade de
As causas da limitação ao exercício e redução vida em três estudos. Os autores concluem que o
na atividade física na vida diária de pacientes com exercício físico reduz o BIE e melhora a condição
pneumopatia está relacionada à limitação ventilatória, cardiorrespiratória, mas que deve ser devidamente
alteração nas trocas gasosas, disfunção muscular acompanhado por profissional habilitado para pres-
periférica em decorrência da inflamação crônica e crição devida do treinamento.
possíveis complicações cardíacas.
De maneira geral, o exercício físico há muito é
Uma revisão sistemática buscou identificar a
recomentado com excelente nível de evidência aos
eficácia do treinamento físico em pacientes com
pacientes com doença pulmonar crônica, o que in-
asma (crianças, adolescentes e adultos) incluindo
clui a asma23. O consenso de asma4 recomenda o
21 ensaios clínicos randomizados com 772 parti-
treinamento físico como terapia não medicamentosa
cipantes22. Os desfechos estudados foram: capaci-
aos asmáticos de todas as idades. Cabe ressaltar
dade de exercício, sintomas relacionados à asma
que a prescrição do treinamento deve ser adequada,
e função pulmonar. As intervenções deveriam ter,
com a intensidade recomendada para promover os
no mínimo, de 20 a 30 minutos de treinamento
benefícios da atividade aeróbia sem os riscos de BIE.
aeróbio, entre duas a três vezes na semana, por,
Para crianças e adolescentes com asma, o exercício
pelo menos, quatro semanas. Os autores concluem
físico deve ser sempre supervisionado.
que o programa de reabilitação pulmonar é benéfico
ao paciente com asma, pois melhora o consumo
máximo de oxigênio (VO2max) e a carga máxima
atingida no teste de exercício cardiopulmonar, além Técnicas de higiene brônquica
de melhorar os sintomas da asma. Importante des- As técnicas de higiene brônquica têm como ob-
tacar que não foram descritos efeitos adversos em jetivo eliminar secreção das vias aéreas. Pacientes
qualquer estudo durante a realização do programa hipersecretivos com inabilidade de expectorar pre-
de reabilitação pulmonar. Embora não tenha sido cisam ser auxiliados na higiene pulmonar.
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De acordo com a fisiopatologia, comumente os de falta de ar, melhora na tolerância ao exercício e


pacientes com asma não apresentam hipersecreção na qualidade de vida desses pacientes. Para ambas
pulmonar. Durante a exacerbação, na vigência de intervenções, a prescrição e acompanhamento do tra-
infecção pulmonar, há possibilidade de acúmulo de tamento deve ser feita por fisioterapeuta devidamente
secreção. Não há evidência científica que sustente treinado e especialista na área, garantindo assim a
a utilização de técnicas manuais de fisioterapia res- segurança do paciente, e evitando efeitos adversos
piratória tais como tapotagem, vibração e vibrocom- como broncoespasmo induzido pelo exercício. Não
pressão em pacientes adultos com doença obstrutiva há evidências científicas para as técnicas manuais
internados por infecção pulmonar24. de higiene brônquica para o tratamento rotineiro de
pacientes com asma.
A utilização do oscilador oral de alta frequência
(OOAF), equipamento que promove mobilização
de secreção pulmonar associado à fase expiratória
do paciente (nome comercial Flutter®) mostrou-se
eficaz em pacientes adultos com asma na coleta
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