Maria A Mulher Que Acreditou - Carlos Carretto
Maria A Mulher Que Acreditou - Carlos Carretto
Maria A Mulher Que Acreditou - Carlos Carretto
CARRETTO
MARIA, A MULHER
QUE ACREDITOU
Introdução
O Concílio Vaticano II
com sua visão centrada em Cristo,
obrigou-nos a rever nossa piedade mariana.
A devoção a Maria,
tida durante muito tempo em grande consideração,
passou a um segundo plano.
Em alguns lugares chegou a desaparecer.
Via-se em Maria a Rainha,
mas não se via a mulher, a mãe, a irmã.
Carretto, neste livro,
nos conta como redescobriu,
em sua experiência de contemplação,
Maria como mulher, mãe e irmã.
Maria se torna de nós,
porque também ela teve que gerar Cristo na fé.
ÍNDICE
I. Maria, a mulher que acreditou
II. Ave Maria
III. Meu Deus, meu filho
IV. Raquel chora seus filhos
V. Nazaré
VI. Fazei tudo o que ele vos disser
VII. A vida e a dor
VIII Ressuscitou
IX. Rezar com Maria
Rosário
1º dia: Maria, minha irmã
2º dia: Ave Maria
3º dia: Meu Deus, meu filho
4º dia: O caos da história
5º dia: Nazaré
6º dia: Fazei tudo o que ele vos disser
7º dia: A morte de Jesus
8º dia: Ressuscitou
9ºdia: Com Maria
X. Cantos
I
MARIA, A MULHER QUE ACREDITOU
Irmão! Irmã!
Eu tinha 36 anos quando o papa Pio XII me chamou a Roma para
dirigir a Juventude da Ação Católica. A tarefa então não era nada fácil.
Hoje, o movimento católico acha-se fracionado em milhares e milhares
de grupos. Naquela época, porém, a organização era única e reunia meio
milhão de jovens, possuía catorze jornais e mais de vinte mil associações.
Senti-me esmagado com o peso da responsabilidade e foi, nessa
ocasião, que realmente conheci a angústia, principalmente quando eu
viajava para Roma.
Sim, porque Roma era a causa de minha angústia: o trabalho
parecia-me superior às minhas forças. Um mistério indizível emanava
daquelas pedras da capital. Olhar para a praça de são Pedro, que ao
turista só falava de estupenda harmonia, a mim causava um sofrimento
indescritível que, às vezes, me deixava paralisado.
Eu tinha em casa uma cópia de um quadro bem famoso1. Prezava-o
muito, não só porque gostava dele, mas também porque ele me dizia
muita coisa. Nos braços de Nossa Senhora estava o Menino Jesus que
segurava um passarinho. O quadro era atribuído a um autor anônimo do
século XIV.
Não sei explicar como, num dos meus momentos de angústia, me
veio a ideia de substituir o passarinho por uma pequena carroça, em
italiano carretto, símbolo do meu nome de família. Da ideia passei logo
à obra, como que impelido por uma força estranha. Tomei os pincéis e,
no lugar onde se achava o passarinho, pintei uma carrocinha, como se
fosse um brinquedo, que são José houvesse preparado para o Menino
com um pedaço de madeira.
1A capa deste livro, em italiano, traz a reprodução da imagem de Nossa Senhora de que fala o autor, Já modificada
por ele. (N. do T.).
Ao fazer esse desenho infantil, experimentei a sensação de estar
dizendo a Maria: "Escuta bem. Presta atenção. Para que eu fique
satisfeito basta que eu seja um brinquedo nas mãos de teu filho,
principalmente agora que me encontro em meio a tantas dificuldades. E
isto porque tenho a certeza de que permanecerás atenta, cuidando de
mim e protegendo-me'.
Não me passou de todo a angústia que eu experimentava quando
me via diante de Roma. O que é certo, porém, é que, quando sentia o
coração apertado, ao pensar que eu me considerava como parte
integrante daquele quadro tão sereno, eu acabava conseguindo
acalmar-me e encerrava o dia gozando de paz de espírito.
Posso afirmar que sempre, nos momentos duros, meu pensamento
se voltava para o quadro, onde Jesus apertava a sua carrocinha de
madeira, símbolo de outra carrocinha, que andava circulando pelas ruas
poeirentas do mundo.
* * *
* * *
2
Bacia rochosa de onde brota água.
3
Religioso, homem de Deus, segundo a terminologia islâmica.
Qual o motivo?
Antes do matrimônio descobriram que ela estava grávida, e a honra
da família traída exigia tal sacrifício.
Senti um calafrio pensando na jovem morta por não ter sido fiel ao
seu futuro esposo4
À noite, em Completas, sob o céu do Saara, eu quis reler o texto de
Mateus sobre a conceição de Jesus em Maria.
Acendi uma vela porque estava escuro e a noite não era de luar.
Li: "Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes
que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu esposo,
sendo justo e não querendo difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo"
(Mt 1,18-19).
Em suma, José não se fizera de delator, e Joaquim, pai de Maria,
não assumira o papel de Khomeini, por sua vez apedrejando Maria, como
a lei teria exigido. "Moisés disse-nos que estas mulheres devem ser
mortas" (Dt 22,24).
Lembro-me como se fosse hoje. Senti Maria pertinho de mim,
sentada na areia, pequena, frágil, indefesa com o seu ventre aumentado,
com a sua impossibilidade de abaixar-se, silenciosa.
Apaguei a vela.
Na noite escura, eu não via as estrelas.
Eu via em torno de mim muitos olhos, que brilhavam como os olhos
dos chacais quando se põem à espreita dos cordeirinhos.
Eram os olhos de todos os habitantes de Nazaré, que espiavam
aquela jovem mãe, e que lhe perguntavam com toda a força da
4
A nossa surpresa diante desses fatos relativos à morte por causa de adultério deve-se à nossa ignorância a respeito da história.
No passado, a defesa da castidade matrimonial por parte da sociedade era terrível. O próprio Moisés estabelecera: "Mulheres
deste tipo sejam mortas" (Dt 22,24; Jo 8,4) .
Khomeini no Irã deixa-nos estupefatos com a sua política sócio-religiosa, quando manda fuzilar as adúlteras. No fundo, ele não faz mais do que
retroceder até a época em que a própria lei punia de tal modo o adultério. O Islã, que não teve Jesus para corrigir as leis mediante a misericórdia,
sofre sempre a tentação de retorno à integridade primitiva da lei.
incredulidade de que os homens são capazes, e, mais ainda, as mulheres:
"Que fizeste para arranjar este filho, desgraçada, corrupta! "
- Que noite!
- Que responder?
Que é Deus o pai desta criança?
Quem me há de dar crédito?
Prefiro calar.
Deus sabe.
Deus provê...
- Pobre Maria... doce Maria, jovenzinha e já mãe.
Começas mal a tua carreira!
Como haverás de enfrentar tantos inimigos?
Quem acreditará em ti?
* * *
II
AVE MARIA
* * *
* * *
Que coisa estranha para não dizer maravilhosa: mal pronunciei com
todas as minhas forças a palavra "creio", vi a noite tornar-se clara.
Agora, fecho os olhos justamente porque é ela, a noite, que me
ofusca com sua luz, superando qualquer outra luz.
Sim, nada é mais claro do que esta noite escura, nada é mais visível
do que o Deus invisível, nada está mais perto de nós do que este
infinitamente longe, nada é menor do que este Deus Infinito.
- De fato, ele conseguiu ficar no teu pequeno seio de mulher, Maria,
e tu pudeste aquecê-lo com teu corpo delicado e belo.
Maria!
Minha irmã!
Feliz és tu que creste, digo-te eu esta noite, com entusiasmo, como
to disse tua prima Isabel, naquela tarde quente em Ain Karim.
III
MEU DEUS, MEU FILHO
* * *
* * *
* * *
Até ontem eu estava acostumado a dizer "Pai nosso, que estais nos
céus". Convenhamos: nem mesmo isto é assim tão fácil de ser dito.
Crer que Deus criador, poder infinito, seja pai, e um pai cheio de
amor, já é fruto de um longo caminho percorrido na fé.
No passado, sob o estrondo dos trovões e no meio dos raios e
relâmpagos, era mais fácil pensar num Deus "padrasto", isto é, num Deus
que incutia medo em você.
Não foi sem motivo que a preocupação com o inferno e com as
penas eternas já perseguiu e perturbou as noites que nós, pecadores,
temos passado.
É quase natural ter medo de um Deus criador.
Um Deus incomunicável, justiceiro, único.
Diante dele, que é tão poderoso, não nos resta outra coisa senão o
cairmos em terra de joelhos.
A unicidade e a transcendência de Deus são a primeira fonte do
temor. Ao ler o Antigo Testamento, ouvi o eco profundo e percebi o
caminho que o Povo de Deus percorreu, no seu longo êxodo da
escravidão para a terra prometida.
Volta e meia, surge a voz do profeta que já anuncia o amor: "Pode,
porventura, uma mãe esquecer-se de seu filho? Pode uma mulher
abandonar o fruto do seu seio? E, ainda que esta o esquecesse, eu jamais
me esqueceria de vós" (Is 49,15).
Mas há também a voz do legislador que diz: "Deus não deixa sem
punição e castigo a culpa dos pais nos filhos, e nos filhos dos filhos até a
terceira e a quarta geração" (Ex 34,7).
Leiam o Levítico, o livro dos Números e principalmente o
Deuteronômio, e vocês se convencerão de como é verdade que "O
temor é o princípio da sabedoria".
Esta noite, porém, estou aqui, e não penso mais nem no Levítico
nem no Deuteronômio.
Estou aqui numa esteira, ao lado de Maria, e mergulho no
Evangelho. E o Evangelho me diz: "Maria deu à luz o seu filho
primogénito" (Lc 2,7).
A transcendência tornou-se encarnação, o temor transformou-se
em suavidade e a incomunicabilidade passou a ser abraço.
O distante fez-se próximo, Deus tornou-se filho.
Vocês percebem a inversão que se realizou?
Pela primeira vez uma mulher pôde dizer, com toda a verdade:
"Meu Deus, meu filho".
Agora não sinto medo. Se Deus é aquela criança colocada em cima
da palha da gruta, Deus não me mete medo.
E, se eu também posso sussurrar ao lado de Maria: "Meu Deus, meu
filho", então o paraíso entrou em minha casa, trazendo-me
verdadeiramente a paz.
Posso ter medo de meu pai, sobretudo quando ainda não o
conheço, mas de meu filho não.
De um filho que tomo em meus braços, cuja pele delicada roça em
mim, um filho que me pede proteção e calor, não.
Não tenho medo.
Não tenho medo.
Não tenho medo. A paz, que é a ausência de medo, agora está
comigo.
Ora, o único esforço que me resta fazer reside em crer.
E crer é como que gerar. Na fé, continuo a gerar Jesus como filho.
Maria fez assim. Por certo foi-lhe mais fácil gerar Jesus na carne:
para isto bastaram-lhe nove meses.
Para gerar Jesus na fé você precisa comprometer a vida inteira,
desde Belém até o Calvário.
* * *
Maria, creio, como tu o crês, que esse menino é Deus e é teu filho.
E eu o adoro.
Adoro a sua presença na teca que trago sob o manto, onde ele está
oculto sob o sinal fragílimo do pão, mais frágil ainda do que a carne.
Ouço-te, Maria, que de vez em quando repetes como em Belém:
"Meu Deus, meu filho".
E eu te respondo: "Meu Deus, meu filho". É o terço que rezo esta
noite.
Como então.
A respiração dos animais aquece a gruta como então.
IV
RAQUEL CHORA SEUS FILHOS (Mt 2,18)
Como Deus quis, a tempestade de areia serenou, e Ali retomou o
caminho dos pastos com seu bastão e suas onze ovelhas. Fiquei sozinho
em Ouarourout, limpando o esterco da gruta e aquecendo meus ossos
ao sol.
A partida do rebanho privara-me do sinal de Belém, e eu imaginava
Maria e José na estrada para o sul, com o menino Jesus nos braços.
Mas por que partiram tão depressa? Por que enfrentar a estrada
tão difícil com uma criancinha ainda tão pequena?
Em Mateus eu lia: "O anjo do Senhor manifestou-se em sonho a
José e lhe disse: 'Levanta-te, toma o menino e a mãe, e foge para o Egito.
Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para
o matar'
Ele se levantou, tomou o menino e a mãe, durante a noite, e partiu
para o Egito" (Mt 2,13-14).
Mal nascemos, começam logo as dificuldades. Parece incrível, mas
como é difícil viver nesta pobre terra!
E agora Jesus está sozinho na estrada amarga, e esta noite talvez
não encontre nem mesmo uma gruta onde proteger-se do frio.
E Mateus continua: "Herodes, percebendo que fora enganado pelos
magos, ficou muito irritado e mandou matar em Belém, e no seu
território, todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo
de que se havia certificado com os magos.
Então cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias:
Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel
chora seus filhos, e não quer consolação, porque não existem mais" (Mt
2,16-18).
Parece até impossível que alguém possa atingir semelhante grau de
ferocidade.
Assim é o poder, e não há limites para a sua prepotência.
E os humildes, os pobres é que pagam.
Portanto, Herodes, na tentativa de assassinar Jesus, organizou um
dos inúmeros massacres da história.
Imagino bem que noite não deve ter sido essa! Os soldados
cercaram o território de Belém e começaram a carnificina ha escuridão.
Eles tinham a relação dos recém-nascidos e foi fácil arrombar as portas
de tantos pobres.
Oh! No meio da noite, que uivo o dessas pobres mães!
Oh! Que horror o sangue inocente derramado!
Por quê?
Por quê?
Por quê?
E tudo isso de nada serviu, porque Jesus havia escapado.
A rede estava com uma das malhas solta, e o menino fugira como
"O pássaro da rede dos caçadores", conforme diz o Salmo 124.
Que fazer para impedir que se propague uma tal notícia?
O deserto possui o telégrafo sem fio, e as notícias espalham-se com
a velocidade do vento.
Um camelo, que também ia para o sul, encontra a pequena
caravana que leva Jesus, e as palavras que ardem dentro das pessoas
comunicam-se como fogo.
Já sabem da notícia? Herodes mandou matar todas as criancinhas
de Belém. Não escapou uma.
Foi uma coisa horrível. Vieram de noite, cercaram as casas.
Maria escuta em silêncio e aperta o filho contra o peito, onde seu
coração bate com uma velocidade inverossímil, como se fosse
despedaçar-se.
José olha para Maria com um frêmito.
- Bem que eu te dizia. Eu estava com medo. Não me sentia tranquilo
ali dentro. Eu percebia que devia fugir, percebia sim. E depois... aquele
sonho!
O guia de camelos chicoteia a cavalgadura, e os dois esposos
permanecem atordoados um ao lado do outro. O próprio Jesus olha para
o sol em silêncio.
Meu Deus, por quê?
Meu Deus, por quê? Meu Deus, por quê?
Que noite!
Que noite! Que noite!
Pensar em Deus quando tudo vai bem é fácil. Mas pensar nele nesta
escuridão, como é duro!
Maria, dize-me alguma coisa.
E Maria se cala.
Ela sente como que uma espada aguda penetrar-lhe o coração.
Voltam-lhe à mente as palavras do velho Simeão no templo, quando
tomou nos braços Jesus para a purificação: "Eis que este menino foi
colocado para a queda e para o soerguimento de maitos em Israel, e
como um sinal de contradição, e a ti uøaa espada transpassará tua alma"
(LC 2,34-35).
Maria revê tantos rostinhos de crianças conhecidas em Belém,
filhos da mesma tribo de Davi, que nasceram na mesma época que seu
filho.
A ponta da espada penetra cada vez mais fundo no seu coração de
mãe.
Por que estes e não ele?
Por que o Onipotente permitiu este extermínio?
Por que não os defendeu?
Por que não imobilizou com a morte o cruel Herodes?
Por quê? Por quê?
Não há resposta para tanta dor.
Maria está sentada e inclinada sobre a estrada árida. José está como
que esvaziado nas profundezas de suas entranhas.
Jesus, enrolado em alguns paninhos, olha, estático, o sol que se
deita no horizonte entre chamas avermelhadas.
O asno morde a ponta de uma vara fincada na estrada.
Sim, crer em Deus não é fácil, esperar na sua presença que tudo
ordena é ainda mais duro, amar os homens quando são assassinos é
sobre-humano.
Que devo fazer?
Amanhã virá uma nova aurora e a vida continua.
- Como é possível recitar contigo, Maria, a tua oração de júbilo, o
teu Magnificat, agora que os meus e os teus olhos estão cheios da
tremenda visão do massacre consumado por Herodes em Belém?
E foi justamente por causa dele, do teu filho!
Dizer contigo: ' 'A minha alma engrandece o Senhor" como é
possível? Como é possível dizer contigo: "Depôs poderosos de seus
tronos, e a humildes exaltou"?
Como é possível?
Tu estás no sofrimento e Herodes no seu trono.
Tens o coração despedaçado e os pobres são desprezados.
O poder domina a tua história?
* * *
Todavia...
Todavia, as coisas não são assim! Podemos dizer que ele próprio, o
detentor do poder, foi burlado.
Porventura, obteve êxito no seu intento de matar Jesus?
De que serviu a astúcia? De que adiantou cercar a cidadezinha, à
noite, com tantos soldados?
Bastou uma das malhas ter escapado, para a cilada não funcionar.
Justamente o que procuravam lá não estava.
Que escárnio para o poder!
Sim, é verdade: "Dispersou os homens de coração orgulhoso" (Lc
1,51).
É verdade: seu plano fracassou.
Mas os outros?
E o sacrifício de tantos inocentes!
Apesar de tudo, podemos dizer que combateram o seu combate,
que cumpriram a sua missão.
E é isto o que conta. Recebendo na própria carne os golpes que
receberam, evitaram que atingissem o Cristo que fugia. Atraindo a
atenção dos soldados para seus corpos frágeis, deram tempo ao Messias
para que este se afastasse da carnificina. Ocupando os peritos em
matança com o tempo empregado para matá-los, proporcionaram a
Jesus a salvação.
Era necessário que Jesus não morresse naquela noite. E a eles foi
necessário que pagassem em lugar de Jesus.
A hora da morte não tem importância. O que tem importância é
cumprir a nossa missão.
Jesus cumprirá sua missão mais tarde no Calvário. As crianças
inocentes cumpriram-na naquela mesma noite.
Os poderosos não conseguiram desviar o curso da história da
salvação. Tentaram apenas fazê-lo, mas seus pensamentos foram
dispersos (cf. LC 1,51).
Sim, Maria, dize também esta noite o teu Magnificat, à beira da
estrada amarga. Dize-o inteiro, em plenitude. Dize-o porque também
nesta noite estás envolvida no grandioso desígnio de Deus, e ninguém
poderá tocar-te se Deus não o quiser. Dize-o !
Dize-o, porque ninguém pode tocar o teu Jesus, mesmo sendo ele
tão pequeno e tão fraco.
Dize-o, porque a história está nas mãos de Deus e não nas dos
homens.
Dize-o, porque os faraós foram vencidos, um por um, e os pobres
foram libertados. Dize-o!
E até eu quero dizê-lo junto contigo.
E estou certo de que, enquanto o dizes, como anjos, um por um, os
pequenos mártires virão colocar-se em volta de ti, já transfigurados
como habitantes do Reino de luz, pelo qual combateram,
testemunhando com a morte, mais do que com a palavra, a chegada do
Salvador.
Como eu quisera ser um deles!'
"A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito exulta em
Deus, meu Salvador, porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim!
Doravante as gerações todas me chamarão bem-aventurada, pois o
Todo-poderoso fez grandes coisas por mim. O seu nome é santo, e sua
misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o
temem. Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração
orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou.
Cumulou de bens a famintos, e despediu ricos de mãos vazias. Socorreu
Israel, seu servo, lembrado E sua misericórdia, - conforme prometera a
nossos pais - em favor de Abraão e de sua descendência, para
sempre!"(Lc 1,46-55)
* * *
* * *
* * *
* * *
VI
FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER
Quando lhe perguntávamos se já chegara a sua hora, ele se calava.
Dir-se-ia que ele próprio não podia fazer outra coisa a não ser esperar.
A frase transcrita por Marcos (13,32): "Daquele dia e da hora
ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho; somente o Pai", eu
mesma a escutei dele muitas vezes.
Ele vivia de espera como nós todos. Não atribuía nada a si, mas
tudo esperava do Pai.
Era a única coisa que contava: o Pai.
Mas sentíamos que as coisas estavam amadurecendo. Ele havia
feito os primeiros amigos em Cafarnaum, para onde descia de vez em
quando. Em Nazaré ficava isolado, e eu percebia muito bem que, quando
"batesse asas", ele escolheria Cafarnaum como lugar de pouso.
Um dia, disse-me ele que queria que eu conhecesse os seus
primeiros amigos. Esperava apenas que surgisse uma ocasião para isto,
e a oportunidade apareceu quase espontaneamente.
Em Caná da Galiléia, ia realizar-se um casamento, para o qual tanto
eu quanto ele estávamos convidados.
A ocasião pareceu-lhe boa para um primeiro encontro. Desceu a
Cafarnaum e reuniu todos os seus amigos. Caná ficava à beira da mesma
estrada, e lá nos encontramos na hora das núpcias.
Fiquei admirada do grande número de amigos que Jesus trouxera
consigo.
Era quase de levar à falência o dono da casa...
Mas... há males que vêm para o bem... Pareceu-me que um
número tão grande de pessoas era um tanto exagerado para uma família
tão pequena como a que nos convidara.
O barulho era enorme, e não se entendia bem que tipo de
linguagem eles usavam, nem de que espécie era a sua conversa.
O evento das núpcias era apenas uma desculpa; os companheiros
de Jesus estavam todos ocupados e entretidos nas suas conversas sobre
o Messias e sobre o Reino. Parecia haver um clima de exaltação, e o
vinho ajudava e aumentava a excitação.
Dir-se-ia que haviam tomado o Templo de assalto: os olhos dos que
se achavam mais perto de Jesus brilhavam.
Agora Jesus era o chefe.
Naturalmente que, com todos aqueles convidados beberrões e
festeiros, a primeira coisa que veio a faltar foi o vinho.
Notei, de repente, uma preocupação nova nos esposos, que
continuavam a sorrir, mas que faziam perguntas ao responsável pelo
serviço da mesa, que era um parente nosso.
O fato era este: não havia mais vinho. Eu, pela primeira vez na
minha vida, me senti invadida pelo mesmo entusiasmo dos discípulos. O
céu e a terra estavam-se encontrando naquele pequeno pátio, onde se
realizavam as núpcias dos amigos.
Não, o vinho não haveria de faltar porque entre nós estava alguém
que nos daria o vinho do Reino.
Com ele, tudo era possível. Os gritos, os cantos, a alegria subiam
até as estrelas.
Aproximei-me de Jesus, com o coração batendo forte, e disse-lhe
segurando-o pelo braço: "Eles não têm vinho" (Jo 2,3).
Jesus olhou-me com certa dureza, e pareceu-me perceber nele um
momento de hesitação.
Entretanto, eu estava tão entusiasmada que nem levei em conta
aquele olhar, nem as palavras um pouco duras que ele me disse. Eu
queria forçá-lo a agir.
Meu entusiasmo era tão grande que eu sentia segurança no que
dizia.
Minha cabeça parecia estar pegando fogo.
Aos servos eu disse com firmeza: "Fazei tudo o que ele vos disser"
(Jo 2,5).
Depois, procurei ocultar-me no meio das pessoas, de modo que
ninguém notasse n a minha presença, e comecei a rezar com todas as
forças.
Tudo é possível a Deus.
Tudo é possível a Deus.
Tudo é possível a Deus.
Era sempre esta a frase que me ocorria desde o dia em que o anjo
do Senhor me dissera que Jesus ia nascer. Sim, tudo é possível a Deus.
Foi um dia memorável, e todos transbordavam de alegria.
Parecia que aquele vinho provocava até vertigens.
Sim, tudo era possível a Deus, e aquele rio de vinho que corria era
o sinal da alegria que decorre do encontro com Deus e do júbilo causado
pelo seu abraço.
Gritava-se, dançava-se; o casamento dos nossos amigos tornara-se
o sinal de um outro matrimônio bem mais radical e jubiloso: as núpcias
do homem com Deus.
Sim, João teve razão de apresentar as bodas de Caná como o
primeiro encontro repleto de alegria da Igreja com Jesus.
Foi festa, porque o encontro com Deus é festa.
Mais tarde vivemos um outro tipo de entusiasmo no dia de
Pentecostes, mas já ali, naquele pequeno pátio de Caná, nas encostas do
Tabor, nós nos sentíamos felizes porque Deus estava conosco.
A solidão de Israel terminara.
A viuvez de Israel ficara esquecida.
* * *
Uma outra coisa que aprendi naquele dia em Caná foi a alegria.
Se bebes o vinho que o próprio Deus te oferece, permanece na
alegria.
Oh! Não se diga que tal alegria seja sempre fácil, isenta de dor e de
lágrimas. Mesmo assim, porém, é alegria.
Pode até acontecer que bebas esse vinho da vontade de Deus sob
os golpes da contradição e da amargura. E ainda assim experimentas
alegria.
Deus é alegria.
Deus é alegria mesmo quando está morrendo.
Deus é alegria sempre.
Deus é alegria, porque sabe transformar a água da nossa pobreza
no vinho da ressurreição.
Nada resiste a esse poder transformador, a essa capacidade infinita
de renovar as coisas, a essa perene novidade dos céus novos e da nova
terra.
Para nós basta crer, esperar e amar, que o milagre sempre se
realiza.
E a nossa alegria é a resposta impregnada de gratidão que devemos
dar.
Sim, o discípulo de Jesus deve viver na alegria, deve difundir
alegria, deve inebriar-se de alegria.
E este há de ser sempre o seu apostolado.
* * *
E aquele vinho, dado por Jesus com tanta abundância, recorda-me
ainda uma coisa: a extrema igualdade do Povo de Deus.
O vinho do Reino era bebido por todos sem distinção, alegrava
todos e era doado a todos gratuitamente.
O último podia consegui-lo tanto quanto o primeiro. A realidade
divina era de todos, a profecia era de todos, a santidade era de todos, o
sacerdócio era de todos.
Ora, compreendi tudo o que Jesus me dizia, quando ele me falava
do Reino e me afirmava que todos os homens redimidos formariam um
povo de santos, um povo de profetas, um povo de sacerdotes.
As castas, com seu orgulho inconfesso, estavam acabadas. As
exclusões e as marginalizações também. Os pobres bebiam ao lado dos
ricos na mesma mesa.
A Igreja que se rejubilava com aquele vinho era uma Igreja
universal: não há homem nem mulher, nem grego nem xiita.
Cada um podia profetizar, animado pelo espírito que aquele vinho
lhe transmitia.
Cada um devia ser santo, porque santo era aquele que o havia
saciado.
Cada um era sacerdote, já que aquele vinho era bebido pelo
sacerdote eterno.
* * *
VII
A VIDA E A DOR
Mal Jesus iniciou a sua vida pública, começaram as contradições.
Mal fez menção de distribuir a vida, começou a sofrer.
As duas coisas se achavam ligadas. Não se pode dar a vida sem
sorver a taça da dor. O parto é sempre doloroso.
O ambiente oficial era-lhe positivamente contrário. E assim o foi
desde o início. Tal ambiente estava demasiado distante dele. Seus
pensamentos não eram os pensamentos de Jesus
No entanto, este mesmo ambiente ia deixando Jesus agir porque
se sentia bastante seguro, e via em Jesus um profeta qualquer, um
profeta provinciano, que certamente teria uma carreira curta.
No fundo, Jesus dava prioridade a temas que interessavam pouco
aos grandes do mundo: sua preocupação maior voltava-se para os
pecadores. Queria mostrar a todos que viera para estes, que com estes
se sentia solidário e deles se achava bem perto.
De fato, não tardou a apresentar-se nas margens do Jordão, onde
João Batista se encontrava, e quis fazer-se batizar por ele como se fosse
um pecador público, ele, Jesus, o Santo dos Santos.
João não queria batizá-lo e resistiu ao pedido de Jesus, mas este o
obrigou a fazê-lo.
Ele começava mesmo lá de baixo, lá do fundo; deste fundo feito de
pobreza verdadeira e de insucesso contínuo.
Os pecadores sentiram-no bem próximo, e logo se tornaram seus
amigos.
Jesus era menos duro do que João, e nunca falava de machado
colocado na raiz da árvore. Não amedrontava os pequeninos.
Com esse rótulo de amigo das prostitutas e dos pecadores, não
podiam faltar os perigos e as oposições, ainda mais no campo religioso.
Realmente...
Os primeiros que se deram conta disto foram os fariseus, que se
consideravam os puros, os verdadeiros e os espirituais por excelência.
Eles nunca perdiam a oportunidade de atacá-lo justamente no
terreno que lhe era específico.
Os fariseus punham na lei a perfeição de Israel, e não suportavam
a atitude de tolerância e de compaixão que animava Jesus: esta atitude
parecia-lhes fraqueza.
Jesus, porém, não vacilava nem se submetia. Cada vez mais, via-se
ele cercado de gente pobre e de pobre gente. Na sua pregação deslocava
o acento da lei para o Amor, do castigo para a misericórdia, da dureza
para a compaixão.
De que o homem fosse pecador, mais ou menos todos estavam
convencidos. A novidade que Jesus trazia era a de que, mesmo assim, o
homem, podia ser amado.
Sim, este foi um fato muito importante para Israel, acostumado a
amaldiçoar o pecador e a querer erradicá-lo da cidade santa.
Dir-se-ia que Jesus não perdia a estima do homem em pecado, mas
até demonstrava claramente que o amava, e que o amava com amor de
predileção.
Esta posição escandalizava, porque Israel estava por demais
habituado a elogiar os que cultivavam a lei e os perfeccionistas da Torá.
Ainda conseguir dar crédito a uma adúltera e con fiar num
publicano significava exatamente remar contra a corrente.
E Jesus remava contra a corrente.
Memorável foi a conversão de Zaqueu, o publicano. Este rico, que
havia roubado em negócios ilícitos, que fora marginalizado pelos
cultores da moral, sentir-se estimado por Jesus... Ele, Zaqueu, que era
um pecador público, sentir-se digno de sentar-se à mesa com o Santo...
Não faltava mais nada...
Que não haveria ele de fazer por Jesus que continuava repetindo:
"Vim procurar e salvar o que estava perdido" (LC 19,10).
Sim, é lógico, quem se sentia perdido agarrava-se a Jesus.
Bastava ver as multidões que o seguiam para se ter, de fato, a
impressão de que só os pecadores podiam compreendê-lo. E era melhor
mesmo que somente os que tomavam consciência de serem pecadores
pudessem compreendê-lo.
Estes haviam descoberto e identificado, no seu pecado, a
verdadeira, a eterna pobreza do homem.
Os verdadeiros pobres eram eles. E eles precisavam de Jesus para
serem salvos.
A fronteira de Israel já não consistia mais num pedaço de terra a
ser conquistado, mas na santidade a ser vivida.
Os inimigos de Israel não eram mais os cananeus, nem os filisteus,
mas o próprio orgulho, a própria sensualidade, o próprio egoísmo, o
próprio medo.
Todo o Êxodo tornara-se apenas um sinal de um outro êxodo,
verdadeiramente universal, que envolvia todos os homens nascidos de
mulher, e que tinha, como Terra Prometida, a liberdade que o próprio
Deus lhes estava pregando e que era a mesma liberdade dos filhos do
Altíssimo.
* * *
* * *
* * *
Aceitar a morte como ato de amor não é fácil, e acho que esta
aceitação foi a obra-prima de Cristo no seu esforço para amar.
A nós também, em nossa fraqueza infinita, cabe imitá-lo.
Mas a morte, a morte verdadeira, não é a física: esta é apenas o
sinal, a representação horrível, visível e sensível da outra.
A morte verdadeira é a "separação" de Deus, e esta é intolerável.
A morte verdadeira é a não-fé, a não-esperança, o não-amor.
Quem a conhece, e nós todos a conhecemos porque nela estamos
imersos, conhece o que é a dor e a tristeza.
A morte verdadeira é o caos onde acaba o homem quando
desobedece ao Pai, é o torvelinho inextricável a que ele fica reduzido
pelas suas paixões, é o fracasso mais radical de todos os seus sonhos de
grandeza, é o esfacelamento do homem todo.
A morte verdadeira é o vazio, a escuridão, a angústia, o desespero,
o ódio, a destruição.
E o Cristo aceitou entrar nesta morte, nesta separação para tornar-
se solidário com todos os que estavam envolvidos pela separação e
salvá-los.
Quando ele atingiu as profundezas do desespero dos homens,
anunciou a esperança com a sua ressurreição. Quando penetrou na
escuridão que os impregnava, fez explodir a luz da verdade com a sua
ressurreição.
Quando desceu ao abismo da incapacidade que os impedia de
amar, comunicou-lhes o júbilo infinito do amor com a sua ressurreição.
Ressurgindo dos mortos, Cristo renovou todas as coisas.
Ressurgindo dos mortos, abriu os novos céus. Ressurgindo dos
mortos, renovou a vida.
* * *
Quem sonha nesta terra com uma Igreja triunfante erra e, mesmo
sem o querer, retrocede ao passado, ou melhor, à sua concepção infantil
de Deus e do homem.
A verdadeira Igreja é a Igreja dos fracassados, dos fracos, dos
pobres, dos marginalizados.
É uma pena que as reuniões dos cristãos se façam com tanta
frequência na praça de são Pedro, onde Bernini, filho de uma época pagã
que sofria da doença do triunfalismo, desenhou tudo como um triunfo.
Nessa praça não há sinal de agonia da Igreja e de sofrimento dos
homens, e, embora bela, ela está toda errada.
As reuniões dos cristãos devem fazer-se nas prisões, nos hospitais,
nos manicômios, nos lugares onde se chora e onde se paga na carne por
causa das devastações produzidas pelo pecado.
O semblante de Jesus aí estará e aí há de revelar-se, porque aí é
preciso salvar o que "estava perdido"
Os aplausos são um tipo de droga de que os cristãos deveriam
resguardar-se com maior atenção.
As procissões colossais deveriam ser transferidas para mais tarde,
já no Reino.
As fazendas, as rendas e os bordados que se usam no culto
deveriam ser utilizados para cobrir os nus do Terceiro Mundo, e as
riquezas da Igreja enviadas para serem transformadas em alimento
destinado às crianças que morrem de fome.
O Evangelho é muito mais sério no que diz a respeito do verdadeiro
triunfo do homem e do seu modo de pregar e de exprimir a santidade.
* * *
VIII
RESSUSCITOU
* * *
* * *
Não, irmãos, é inútil procurar em outro lugar: vocês não o
encontrarão.
A única coisa séria é a fé.
Os estados de ânimo poderão enfraquecê-los, o sentimentalismo e
a imaginação torná-los-ão fanáticos, as visões não os convencerão, a
busca do extraordinário vai aliená-los da realidade, as imagens de Nossa
Senhora que choram... não os ajudarão, os atalhos procurados ao acaso
conduzi-los-ão à superstição.
A única coisa que permanecerá será a fé.
E é pela fé que eu creio na ressurreição de Cristo.
E, quando creio, torno-me invencível: ' 'E esta é a vitória que
venceu o mundo: a nossa fé" (1 Jo 5,4).
* * *
* * *
* * *
Isto, porém, não basta.
Crer em Cristo ressuscitado significa algo mais.
Significa para irmã Teresa de Calcutá confortar o moribundo. E a ti
também compete fazer coisa semelhante.
Significa, para Luther King, enfrentar a morte e, para ti, significa
não ter medo de enfrentar a morte por amor a teus irmãos.
Significa para o irmão Roger Schutz abrir o seu convento à
esperança e, para ti, abrires a tua casa à esperança.
Cada missionário que parte é um ato de fé na Ressurreição.
Cada leprosário que se abre é um "creio na
Ressurreição"
Cada tratado de paz é um ato de fé na Ressurreição.
Todo compromisso aceito é um ato de fé na Ressurreição.
Quando perdoas teu inimigo,
Quando dás de comer ao faminto,
Quando defendes o fraco,
estás crendo na Ressurreição.
Quando tens a coragem de te casares,
Quando aceitas o filho que nasce,
Quando constróis a tua casa,
estás crendo na Ressurreição.
Quando te levantas tranquilo pela manhã,
Quando cantas ao nascer do sol,
Quando vais ao trabalho com alegria,
estás crendo na Ressurreição.
Crer na Ressurreição significa impregnar a vida de confiança,
significa dar crédito ao irmão,
significa não ter medo de ninguém.
Crer na Ressurreição
significa pensar que Deus é Pai, que Jesus é teu irmão,
e que eu, Maria, sou tua irmã,
ou, se preferes,
tua Mãe.
IX
REZAR COM MARIA
O ROSÁRIO
O TERÇO BIZANTINO
1º DIA
MARIA, MINHA IRMÃ
* * *
LAUDES
Sl 8
SI 13
VÉSPERAS
SI 4
SI 11
Cântico de Ana (ISm 2,1-11)
LEITURAS
Is 59
Jo 1
Cântico de Moisés (Ex 15,1-20)
* * *
*Vou agora ensinar-lhe um modo novo de usar o terço, rezando-o à
moda oriental.
* Tome o terço e vá deslizando-o entre os dedos. A cada conta diga:
AVE, MARIA! Ao fim de cada de zena de jaculatórias, intercale uma Ave
Maria rezada dc princípio ao fim. Ou então utilize uma das seguintes:
"FAÇA-SE COMIGO SEGUNDO A TUA PALAVRA" "MINHA MÃE,
MINHA CONFIANÇA"
* * *
2º DIA
AVE MARIA
O tema é a Anunciação.
Procurei colocar Nossa Senhora o mais próximo possível de nossa
vida. Anunciação significa, antes de mais nada, que Deus intervém na
nossa vida: é o Deus conosco. Significa também vocação, chamado,
convite para realizarmos o nosso êxodo para a libertação.
Maria nos ensina a coragem e a força na fé.
* * *
LAUDES
SI 16
SI 118
Cântico de Moisés (Dt 32,1-44)
VÉSPERAS
SI 17
SI 19
Cântico de Maria (LC 1,46-55)
LEITURAS
Ex 17
Epístola aos Colossenses (toda)
Hoje, você pode rezar o terço, dizendo, de acordo com sua escolha,
uma das frases da fórmula do Angelus. Principalmente esta:
— Eis aqui a serva do Senhor.
— Faça-se em mim segundo a tua palavra.
* * *
3º DIA
MEU DEUS, MEU FILHO
LAUDES
SI 23
SI 26
Cântico de Jonas (Jn 2,3-11)
VÉSPERAS
SI 25
SI 24
Cântico de Maria (LC 1,46-55)
LEITURAS
IS 35
Jo 13
* * *
* * *
LOUVOR
Salve, mãe da alegria celeste.
Salve, tu que alimentas em nós um júbilo sublime.
Salve, sede da alegria que salva.
Salve, tu que ofereceste o gáudio perene.
Salve, ó místico lugar da alegria inefável.
Salve, ó campo digníssimo da alegria indizível.
Salve, ó fonte abençoada da alegria infinita, Salve, ó tesouro
divino da alegria sem fim,
Salve, ó árvore frondosa da alegria que dá vida,
Salve, ó Mãe de Deus, por ninguém desposada,
Salve, ó Virgem, intacta em tua integridade depois do parto,
Salve, espetáculo admirável, que deixa aquém todos os
prodígios.
Quem poderia descrever o teu esplendor?
Quem poderia relatar o teu mistério?
Quem seria capaz de proclamar a tua grandeza? Ornaste a
natureza humana, superaste as legiões de anjos...
Superaste todas as criaturas...
Nós te aclamamos: Salve, ó cheia de graça!
(Sofrônio de Jerusalém)
4º DIA
O CAOS DA HISTÓRIA
* * *
LAUDES
SI 28
SI 30
Cântico de Habacuc (Hab 3)
VÉSPERAS
SI 29
SI 31
Cântico dos três jovens (Dn 3,52-90)
LEITURAS
Jr 9 os 2
Lc 15
* * *
* * *
E O LOUVOR:
Minha alma glorifica o Senhor;
exulta meu espírito
em Deus, meu Salvador:
ele voltou os olhos para a humildade de sua serva,
doravante todas as gerações
me chamarão bem-aventurada.
O Poderoso fez em mim maravilhas,
Santo é seu nome!
Sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem;
manifestou o poder de seu braço,
dispersou os soberbos.
Depôs do trono os poderosos
e exaltou os humildes;
saciou de bens os que têm fome
e os ricos despediu de mãos vazias.
Veio em socorro de Israel seu servo,
recordando-se de sua misericórdia,
assim como prometera a nossos pais,
a Abraão e a seus filhos para sempre.
(LC 1,46-55)
5º DIA
NAZARÉ
* * *
LAUDES
SI 33
SI 37
Cântico da Epístola aos Colossenses (2,5-11)
VÉSPERAS
SI 34
SI 39
Cântico de Sirácida (Eclo 42-43)
LEITURAS
IS 53
Epístola aos Efésios
LC 4
* * *
—Hoje, você poderia tentar rezar o terço. Você sabe como se reza
o terço tradicional.
— Anuncie o mistério, e depois recite dez vezes a Ave Maria.
— Aqui você tem os cinco mistérios gozosos:
1. A anunciação
2. A visita a Isabel
3. O nascimento de Jesus
4. A apresentação ao Templo
5. O reencontro de Jesus
* * *
6ºDIA
FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER
* * *
LAUDES
SI 40
SI 46
Cântico de Isaías (26,9-21)
VÉSPERAS
SI 42
SI 47
Cântico de Maria (LC 1,46-55).
LEITURAS
Ex 6-8
Ez 34
Jo 15
* * *
Hoje, bem que você poderia recitar o terço à moda oriental, usando
jaculatórias sobre o apostolado.
É o assunto do dia:
— PAI, ENVIAI OPERÁRIOS PARA A VOSSA MESSE.
— PAI, SALVAI-NOS QUE PERECEMOS.
— PAI, VENHA A NÓS O VOSSO REINO.
* * *
7ºDIA
A MORTE DE JESUS
Esta meditação é fundamental para você compreender o
* * *
LAUDES
SI 22
SI 51
Cântico de Zacarias (LC 1,68-79)
VÉSPERAS
SI 55
SI 57
Cântico do Servo (Is 49)
LEITURAS
Jr 14-15 IS 53
Jo 18-19
* * *
* * *
STABAT MATER
Estava a Mãe dolorosa
Ao pé da cruz lacrimosa,
E o filho pendente dela.
Dura espada lhe rasgava,
Com dor, tristeza e gemidos,
A alma pura e lha ensopava.
Oh! quão triste, quão aflita!
Foi a donzela bendita,
Mãe do Unigénito Filho!
Dor e angústia a possuía,
E toda trémula via
As penas do ínclito Filho.
Que homem ali não chorara,
Se a Mãe do Cristo observara,
Padecendo tal suplício!
Que peito não se partira,
Quando a Mãe piedosa vira
Com seu filho suspirando!
Porque o povo delinquiu,
Jesus em tormentos viu
Sofrendo cruéis flagelos.
Viu o filho seu amado,
Morrendo desamparado,
Lançar o espírito extremo.
Eia, Mãe, fonte de amores,
Fazei que estas fortes dores
Eu sinta, e convosco chore.
Fazei que a alma se me inflame,
Porque a Cristo-Deus só ame,
E só busque o seu agrado.
Santa Mãe, isto vos peço,
Fique bem meu peito impresso
Das chagas do Crucifixo.
De vosso filho chagado
O que por mim se há dignado
Sofrer, reparti comigo.
Fazei-me, enquanto viver,
Com meu Jesus condoer,
Convosco chorar deveras.
Junto à cruz convosco estar,
Vosso pranto acompanhar
Unicamente desejo.
Virgem das virgens preclara,
Não sejais comigo avara,
Fazei-me chorar convosco.
Fazei que eu seja consorte
Das chagas, paixão e morte
De Cristo, e em mim se vejam.
Fazei-me delas chagado,
Desta cruz embriagado,
Por amor do doce filho.
Porque a chama não me queime,
Doce Virgem, defendei-me
No derradeiro juízo.
Ao sair do corpo est'alma,
Dai-me da vitória a palma
Por vossa Mãe, ó Jesus.
Quando a morte me levar,
Fazei que a alma vá gozar
A glória do Paraíso. Amém.
Aleluia.
8º DIA
RESSUSCITOU
Que significa para mim crer que Cristo ressuscitou dos mortos?
Maria vai dizê-lo...
Abandonemos a retórica e o sentimentalismo ou o fideísmo, e
entremos decididamente na dinâmica da fé, da esperança e da caridade,
que constituem o verdadeiro terreno onde se realiza, dia a dia, a
ressurreição de Jesus.
* * *
LAUDES
SI 62
SI 68
Cântico de Ezequiel (Ez 37 , 1-14)
VÉSPERAS
SI 66
SI 84
Cântico do Apocalipse (Ap 5,1-13)
LEITURAS
Jonas (todo)
Ap 21 -22
Lc 24
* * *
* * *
9º DIA
COM MARIA
No silencio ela se faz discípula.
* * *
LAUDES
SI 89
SI 103
Cântico da Jerusalém celeste (Ap 21)
VÉSPERAS
SI 91
SI 104
Cântico de Maria (LC 1,46-55)
LEITURAS
IS 42
Epístola aos Filipenses
Jo 17
* * *
* * *
X
CANTOS
A VOSSA PROTEÇÃO...
À vossa proteção recorremos, Mãe de Deus.
Santa Maria, socorrei os pobres, ajudai os fracos, / consolai os
tristes, rogai pela Igreja, protegei o clero, ajudai-nos todos, sede
nossa salvação.
Santa Maria, sois a Mãe dos homens, sois a Mãe de Cristo, / que
nos fez irmãos, rogai pela Igreja, pela humanidade, e fazei que
enfim tenhamos paz e salvação.
PELAS ESTRADAS DA VIDA
Pelas estradas da vida, / nunca sozinho estás. /Contigo pelo
caminho / santa Maria vai.
Ó vem conosco, vem caminhar, santa Maria, vem. (bis)
Se pelo mundo os homens sem conhecer-se vao, /não negues
nunca a tua mão / a quem te encontrar.
Mesmo que digam os homens: / "Tu nada podes mudar", /luta por
um mundo novo / de unidade e paz.
CANTIGA MARIANA
Ensina o teu povo a rezar, / Maria, mãe de Jesus,/ que um dia o teu
povo desperta / e na certa vai ver a luz, /que um dia o teu povo se
anima e caminha com teu Jesus.
Maria de Jesus Cristo / Maria de Deus, Maria mulher, / ensina a teu
povo o teu jeito / de ser o que Deus quiser. Maria, senhora nossa,
/ Maria do povo, povo de Deus, / ensina o teu jeito perfeito / de
sempre escutar teu Deus.
HISTÓRIA DE MARIA
Vou lhe contar uma história / de uma jovem chamada Maria, / em
Nazaré da Galileia /outra igual eu não sei se existia. / Não sei se
eram verdes seus olhos, / se tinha cabelos morenos, só sei que
Maria de Nazaré / resolveu se casar com José.
Vou começar minha história / relembrando as garotas de então. /
Em Nazaré da Galileia o assunto era libertação. / Não sei se eram
verdes seus olhos, / se tinha cabelos morenos, só sei que Maria de
Nazaré / resolveu assumir sua fé.
Vou prosseguir minha história / relembrando as ideias que havia. /
Em Nazaré da Galileia a mulher muito pouco valia. / Não sei se
eram verdes seus o. tinha cabelos morenos, só sei que Maria de foi
a santa mulher de José.
Vou recordar nesta história / as batalhas que o mundo hoje trava.
/ Em Nazaré da Galileia / lá também já se massificava. / Não sei se
eram verdes seus olhos,/ se tinha cabelos morenos, / só sei que
Maria de Nazaré / ainda não conhecera José.
A jovem senhora um dia / recebeu um recado divino./ Por ela o
amor nasceria, / a verdade seria um menino. / Não sei se eram
verdes os seus olhos, / se tinha cabelos morenos,/ só sei que Maria
de Nazaré / aceitou mas não disse a José.
Vou lhe falar da agonia / que nos dois corações se criou. / Pois ela
explicar não podia, / e o marido julgar não ousou. / Não sei se eram
verdes seus olhos, / se tinha cabelos morenos, / só sei que Maria
de Nazaré / mereceu o amor de José.
Para Belém noite e dia, caminharam pro recenciamento. /
Ninguém deu abrigo a Maria, / não havia mais alojamento. / Não
sei se eram verdes seus olhos, / se tinha cabelos morenos, / só sei
que no ventre daquela flor / rejeitaram o libertador.
Vou terminar minha história / recordando os hoje em dia. / Em
Nazaré da Galileia / o divórcio também existia. / Não sei se eram
verdes seus olhos, / não sei se foi loira ou morena, / só sei que
Maria de Nazaré / foi fiel a seu Deus e a José.
MARIA DE NAZARÉ
Maria de Nazaré, Maria me cativou. / Fez mais minha fé / e por
Filho me adotou. / Às vezes e e fico a pensar / e sem perceber me
vejo a rezar, / coraçao se põe a cantar / pra Virgem de Naz Menina
que Deus amou e escolheu, / pra mãe de o Filho de Deus. / Maria
que o povo inteiro ele senhora e mãe do céu.
Ave Maria, Ave Maria
Ave Maria, Mãe de Jesus!
Maria que eu quero bem, / Maria do puro amor, a você ninguém,
/ mãe pura do meu Senhor. / En mulher que a terra criou, um traço
de Deus deixou, / um sonho de mãe Maria plantou, / pro encontrar
a paz. / Maria que fez o Cristo falar, / que fez Jesus caminhar, /
Maria que só viveu p: Deus, / Maria do povo meu.
BALADA DA CARIDADE
Para mim, a chuva no telhado / é cantiga de ninar, / mas o pobre
meu irmão, / para ele a chuva é fria, / vai entrando em seu barraco
/ e faz lama pelo chão.
Para mim, o vento que assobia / é noturna melodia, / mas o pobre
meu irmão, ouve o vento angustiado, / pois o vento, esse malvado,
/ lhe desmancha o barracão.
Como posso ter sono sossegado, / se no dia que passou / os meus
braços eu cruzei? / Como posso ser feliz, se ao pobre meu irmão
eu fechei o coração, / meu amor eu recusei?