Introducao A Teontologia PDF
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TEONTOLOGIA
INTRODUÇÃO
Não obstante, procuraremos aqui, demonstrar como esse glorioso Deus, se fez
conhecer por seus atributos que, embora sejam inumeráveis e indecifráveis em sua
totalidade, não são um mistério absoluto.
Como veremos, os atributos de Deus não fazem, simplesmente, parte do seu Ser,
antes constituem o próprio Ser de Deus.
Para que possamos estudar tais atributos, partiremos da premissa de que Deus
existe e que já nascemos com a ideia de Sua existência impressa em nossa consciência.
Veremos ainda que Ele é cognoscível e se revela por meios naturais e sobrenaturais.
Veremos ainda que, embora seja único, esse Deus subsiste em três pessoas
diferentes, de personalidade distinta, mas que estão em perfeita unidade.
Ao final, devemos ter, ainda que de forma limitada, uma noção sobre quem é Deus
e seus atributos.
1. A EXISTÊNCIA DE DEUS
Como em todo estudo e/ou pesquisa, para que possamos ter uma compreensão
adequada sobre Deus, devemos partir de uma origem, ou seja, precisamos de um
referencial a partir do qual estabeleceremos nossas proposições. Sendo assim, nosso
referencial será a Sagrada Escritura, a qual parte da premissa de que Deus existe e não
somente isto, mas está em plena relação com suas criaturas.
O astrofísico britânico Stephen Hawking, afirmou em uma entrevista que antes que
a ciência fosse compreendida era comum a crença em Deus, mas que na atualidade, ela
não faz sentido.
Agora a ciência oferece uma explicação mais convincente. O que quis dizer quando
disse que conheceríamos a mente de Deus [escreveu isso no livro “Breve História
do Tempo”] era que compreenderíamos tudo o que Deus seria capaz de
compreender se por acaso existisse. Mas não há nenhum Deus. Sou ateu. A religião
acredita em milagres, mas estes são incompatíveis com a ciência. 1
O também cientista britânico, Richard Dawkins, autor de vários livros, dentre eles
“Capelão do Diabo” e “Deus, um delirio”, afirmou ser Deus, um “delinquente psicótico” do
Antigo Testamento (DAWKINS, 2006).
1
http://observador.pt/2014/09/21/nao-ha-deus-nenhum-afirma-stephen-hawking/
Por outro lado, ateus e pessoas descrentes, com a religião, afirmam que ninguém
jamais viu a Deus e, portanto, não podem crer nele. De fato, ninguém jamais viu a Deus ou
o tocou; entretanto, ninguém jamais viu o vento ou o tocou, porém todos aceitam que ele
existe. Distintamente, as pessoas querem provas de que Deus existe. Todavia, querer
provar sua existência é um esforço inútil, pois a existência de Deus não pode ser provada,
mediante experimentos científicos e/ou empíricos. Para os cristãos, Deus simplesmente
existe e não há necessidade de testes comprobatórios de sua existência. Como bem
afirmou o teólogo holandês Abraham Kuyper:
Alguns olham para a Bíblia como se ela fosse um livro científico e como se a mesma
devesse provar seus argumentos acerca de Deus e da fé exigida a todos os que Dele se
aproximam. Porém, a Bíblia não é um livro de ciências exatas e/ou humanas, mas um livro
de fé. O objetivo da Bíblia não é provar a existência de Deus, pois ela foi escrita partindo
da premissa de que Ele existe. Todavia, ela traz consigo inúmeros textos que evidenciam
Sua existência (Gênesis 1.1, 1.26-28; Eclesiastes 2.24; Isaías 44.6; Marcos 12.28-29;
João 17.3; Romanos 16.25-27; I Timóteo 1.17; Hebreus 11.6).
Assim, para aqueles que avaliam corretamente as evidências, tudo o que há nas
Escrituras e tudo o que há na natureza provam claramente que Deus existe e que
ele é o Criador potente e sábio descrito pela Bíblia. Portanto quando cremos que
Deus existe, baseamos nossa crença não em alguma cega esperança alheia a
qualquer evidência, mas numa estonteante quantidade de provas confiáveis
encontradas nas palavras e nas obras de Deus. A verdadeira fé caracteriza-se como
confiança baseada em evidências fidedignas, e a fé na existência de Deus tem tal
característica (GRUDEM, 1999, pág. 99).
1.2 A IDEIA DA EXISTÊNCIA DE DEUS É INATA AO HOMEM
A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que
detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é
manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis
de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio
das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;
porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe
deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios,
obscurecendo-se-lhes o coração insensato (Rm 1.18-21).
A religião natural mostra que há um Deus com atributos como poder, divindade,
justiça. Esses são atributos naturais que Deus manifesta, mas a sua misericórdia é
expressão da sua vontade, e Ele a manifesta quando quer. Embora a misericórdia
seja parte da essência de Deus, a sua manifestação depende do exercício da Sua
vontade. (Idem, pág. 31).
Essa religião natural está diametralmente ligada à “sêmen religionis” descrita por
Calvino. Posteriormente, o famoso teólogo Dr. Charles Hodge, também afirmou que “todos
os homens têm algum conhecimento de Deus. Isto é, temos a convicção de que existe um
Ser de quem somos dependentes e perante quem somos responsáveis” (HODGE, 2001,
pág. 143).
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Pessoas que na prática, não contam com Deus e vivem como se Ele não existisse.
3
Intelectuais que buscam, mediante raciocínio lógico, provar a inexistência de Deus.
Diante do exposto, todos são indesculpáveis quando não tributam a Deus, a glória e
a honra devidos ao seu nome, pois todos trazem impressa em sua consciência a “ideia” da
existência de Deus.
Alguém já disse que “somos seres finitos e estamos a considerar o Infinito”. Isso
significa que o homem por si só, não pode conhecer a Deus, pois Sua grandeza excede
todo nosso entendimento. Portanto, faz-se necessário que o próprio Deus se revele a nós,
afim de que o possamos conhecer, compreender e termos relação com Ele.
O apóstolo Paulo afirma que o “mundo” não pôde conhecer a Deus por intermédio
de sua própria sabedoria (I Coríntios 1.21). Mas, qual a razão das pessoas não poderem
conhecer a Deus por seus próprios esforços e/ou sabedoria?
J.I. Packer, diz que: “Ninguém conheceria a verdade sobre Deus, ou seria capaz de
se relacionar com Ele de um modo pessoal, se Ele não tivesse agido primeiro para ser
conhecido” (PACKER, 2004, pág. 3). O pensamento do Dr. Packer, é corroborado pela
declaração do apóstolo Paulo em Romanos 1.19. E ainda, por Jesus, ao afirmar que só é
possível alcançar ou ter tal conhecimento de Deus, mediante a revelação vinda do próprio
Senhor (Mateus 11.27).
Embora afirmemos que necessitamos que Deus se revele para que o possamos
conhecer, precisamos entender que por mais que conheçamos a Deus, jamais o
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Os deístas não devem ser confundidos com os teístas. Os últimos creem em um Deus pessoal e que se relaciona com
suas criaturas, destacando-se neste grupo os cristãos.
compreenderemos completamente, isto é, o conhecimento absoluto de Deus, transcende
nossa capacidade de raciocínio.
Karl Barth5 concorda com Kuyper quando diz que Deus nunca poderá ser objeto,
senão o sujeito.
Para que possamos compreender melhor este assunto faz-se necessário dividir o
tema em duas categorias: revelação geral e revelação especial.
Por revelação geral, nos referimos à manifestação de Deus por meio da consciência,
da natureza e das coisas criadas, onde ele torna conhecida de todos os homens sua
existência, poder e divindade.
5
Propositor da Teologia Neo-Ortodoxa no século XIX.
Este meio de revelação é obtido por meio da razão, não sendo suficiente para salvar
ou mesmo conduzir os pecadores à salvação.
As Escrituras nos dão abundante prova desta revelação, a exemplo dos textos
abaixo:
Romanos 2.14-16 – Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por
natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si
mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração,
testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos,
mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio
de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu
evangelho.
Uma vez conscientes desta revelação, todos deveriam tributar louvor, honra e glória
ao Deus Todo-Poderoso, criador dos céus, da terra e de tudo o que neles há. Mas, por
falharem em render a Deus aquilo que Lhe é devido, tais pessoas recebem sobre si o juízo
Divino, como nos mostra o apóstolo Paulo em Romanos 1.18-21.
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Neste caso, vidente não indica alguém que faz adivinhações, mas alguém que declara os oráculos de Deus; sendo
apenas um sinônimo de profeta.
caminhos e guardai os meus mandamentos e os meus estatutos, segundo
toda a Lei que prescrevi a vossos pais e que vos enviei por intermédio dos
meus servos, os profetas.
Ao refletir acerca da revelação especial, Dr. Packer (2004, pág. 19), pondera que
esta, é na verdade, uma suplementação à revelação geral. Para ele a revelação, “ocorrida
na história e incorporada à Escritura”, abre a “porta da salvação aos perdidos”. A revelação
especial é assimilada somente pela fé e esta é dom de Deus, conforme ensina o apóstolo
Paulo (Efésios 2.8). Tal revelação proporciona aos eleitos e tão somente a estes, um
conhecimento soteriológico7 de Cristo Jesus.
Alguns, a exemplo de Victor Cousin, afirmaram que Deus pode ser plenamente
conhecido, entrementes, outros negam a possibilidade de adquirirmos qualquer
conhecimento acerca de Deus, como Hamilton e Mansel (gnosticos); há por outro lado os
que afirmam a possibilidade de conhecermos a Deus, ainda que não na plenitude de seu
Ser (cristãos). De fato, como vimos anteriormente, Deus se revela, mediante a Revelação
Geral e a Revelação Especial.
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Relativo à salvação.
O Dr. Orr, afirma categoricamente: “Não podemos conhecer a Deus nas profundezas
do seu Ser absoluto. Mas podemos, ao menos, conhecê-lo até onde Ele se revela em sua
relação conosco” (Apud. BERKHOF, 2009, pág. 44).
Sabemos que Deus existe, podemos conhecê-Lo e como Ele se revela, porém que
aspectos ou características de Sua pessoa podemos conhecer.
Os atributos de Deus estão em absoluta consonância com seu Ser, ou seja, não
podem acrescentar nada a Deus e também não podem mudar nada Nele. Na verdade,
como diz Berkhof, seus atributos “são qualidades essenciais de Deus, inerentes ao seu
próprio Ser e com Ele coexistentes e desde que são qualidades essenciais, cada um deles
revela-nos algum aspecto do Ser de Deus” (ibidem).
Por mais que nos esforcemos, jamais conseguiremos relacionar de forma adequada
todos os atributos de Deus, que são na verdade, expressão de seu caráter e que não podem
melhorar ou tornar pior em nenhum aspecto o Autor da vida. Não obstante nossas
limitações, devemos ponderar sobre algumas perspectivas dos atributos de Deus, como
por exemplo os Seus nomes, pois estes revelam sem dúvida algo do caráter ou da
personalidade do Seu Ser.
Por outro lado, percebemos que diversos métodos de estudo têm sido empregados
para discorrer sobre os atributos de Deus, porém dentre tantos, há dois que se destacam:
Atributos Incomunicáveis e Atributos Comunicáveis. E são estes que nos guiarão nas
proposições e ponderações a serem perpetradas. Entretanto para que possamos ponderar
acerca dos atributos de Deus, devemos entender que Ele é um Ser Absoluto. Todavia, não
conforme o absoluto da filosofia, pois para Hegel, o Absoluto é “a unidade do pensamento
e do ser, como totalidade de todas as coisas, que inclui todas as relações, e em que todas
as discordâncias do presente se resolvem em perfeita unidade” (apud. BERKHOF, 2009,
pág. 57). E na concepção de Francis Bradley o “Absoluto não se relaciona com nada, e
não pode existir nenhuma relação prática entre ele e a vontade finita” (ibidem).
No antigo Oriente, o nome de uma pessoa tinha total relação com seu caráter, sua
personalidade ou ainda com algum evento marcante da vida.
O Dr. Heber Carlos de Campos, ressalta que: “dar nomes às pessoas nos tempos
da Bíblia era um fato muito significativo. Tinha muito a ver com a experiência dos próprios
pais e daquilo que eles queriam que os filhos fossem” (CAMPOS, 2002, pág. 84).
Destarte, para que possamos ter uma maior clareza sobre o ser de Deus, precisamos
observar algumas de suas características apresentadas nos nomes a Ele atribuídos nas
Sagradas Escrituras. Contudo, devemos atentar para o fato de que há uma diferença
fundamental entre os nomes dados por uma pessoa a outra e os nomes dados a Deus, pois
o fato é que não foram os homens que nomenclatularam a Deus, mas Ele mesmo revelou
seus nomes ao seu povo. Vejamos alguns dos nomes de Deus e seus significados:
2.1.1 El ()אֶ ל
Este é um nome genérico. Era usado pelos povos antigos, para referir-se tanto ao
verdadeiro Deus, como a qualquer outra divindade, isto é, os falsos deuses. Quando usado
em referência ao Deus das Escrituras, era-lhe atribuído um complemento, conforme os
exemplos abaixo:
El-Shaddai ()אֶ ל שַׁ דַׁ י, Deus Todo-Poderoso (Gênesis 17.1-2) – este nome
aponta para o Deus que, embora, seja tão grandioso em poder, estabelece
aliança com os homens e tem poder para as cumprir.
El-Elyon ()אֶ ל עֶלְ יֹון, Deus Altíssimo (Gênesis 14.17-24) – indica que Deus está
acima de tudo e de todos. Revela a força, o poder e a majestade de Deus
sobre as obras dos homens.
El-Olam ()אֶ ל עֹולָם, Deus Eterno (Gênesis 21.33) - este nome aponta não
apenas para a eternidade de Deus, mas também para sua imutabilidade. Deus
é o que foi e será sempre o que é. Veja Malaquias 3.6 e Tiago 1.17.
Derivando da raiz El, temos Elohim ()אֱֹלהִ ים, que é sua forma pluralizada e mormente
utilizada para indicar a majestade e poder de Deus; sendo um forte indicativo da Triunidade
de Deus, especialmente, se visto à luz do Novo Testamento. Este nome é utilizado nas
Escrituras, sobretudo, para indicar a soberania Divina em seu ato criador e na redenção de
seu povo (Gênesis 1.1; Isaías 45.18, 54.5; Deuteronômio 8.11-20; Salmo 68.6-10).
Segundo o Dr. Heber Carlos, o nome Elohim, “aparece mais de 2.200 vezes no Antigo
Testamento” (CAMPOS, 2002, pág. 85).
2.2.2 Adonai ()אֲ ֹדנָי
mas no verso 17, ele muda a nomenclatura repentinamente para Adonai ()אֲ ֹדנָי,
referindo-se a Deus como “Senhor dos senhores”. Tal mudança não é sem sentido, pois o
que se enfatiza ali é a soberania do Deus de Israel sobre os falsos deuses das nações.
Também se evidencia aqui que Deus governa sobre toda a sua criação e os povos
estão sob sua autoridade.
Este é o nome próprio e/ou pessoal de Deus, enfatiza sua auto existência e foi o
nome pelo qual se revelou a Moisés em Êxodo 3.14. Ao que parece, está relacionado ao
verbo ser e aponta para a eternidade e infinidade de Deus.
Yahweh Nissi ()יַׁהְ וֶה נִ ִ ִּֽסי, O Senhor é a minha Bandeira (Êxodo 17.15) – Este
nome indica que a vitória de Israel sobre seus inimigos não depende de suas
próprias forças, mas de Deus. Todo o povo de Deus é reunido sob a égide de
sua autoridade. Ele é a bandeira não apenas da nação Israel, mas também
de todos os que por Ele são chamados.
Yahweh Rohi ()יַׁהְ וֶה ֹ֜ר ִ֗ ִעי, O Senhor é o meu pastor (Salmo 23.1) – Este nome
apresenta Deus como aquele que protege, alimenta e provê o necessário para
a subsistência de suas ovelhas. É nele que encontramos paz e segurança.
Yahweh Shalom ()יַׁהְ וֶה שָ ל֑ ֹום, O Senhor é paz (Juízes 6.24) – A paz do povo
de Deus não depende de circunstâncias favoráveis e/ou da ausência de lutas
e problemas. Depende antes, do próprio Deus. É ele que nos dá a paz, mesmo
diante das adversidades.
Yahweh Elohim ()יַׁהְ וֶה אֱֹלהִ ים, Senhor Deus (Juízes 5.3) – É mediante este
nome que o Deus de Israel é distinguido dos falsos deuses das nações, sendo
assim apresentado, como o verdadeiro Deus.
Estes são apenas alguns exemplos encontrados nas Escrituras e que estão
relacionados ao nome Yahweh ()יַׁהְ וֶה. Existem ainda, vários outros e que demonstram que
o Senhor é um Deus pessoal e que se relaciona com o povo escolhido.
No Novo Testamento não há uma tão vasta relação de nomes para Deus. Entretanto,
existem algumas denominações que devemos analisar.
Embora seja muito abrangente, sendo aplicado a várias situações, como por
exemplo, a pessoas a quem era dada certa autoridade, quando usado nas Escrituras, via
de regra, refere-se ao Soberano Deus.
Theós, traz consigo ainda, um caráter redentivo, pois foi o próprio Deus quem
escolheu e redimiu o seu povo, mediante o sacrifício vicário de Jesus (I Coríntios 1.18-31).
Precisamos ainda, atentar para o fato de que assim como no Antigo Testamento, os
nomes de Deus estão sempre ligados a um adjetivo que aponta para um traço específico
do seu caráter e personalidade (Lucas 22.69; II Coríntios 6.18; Apocalipse 4.8).
2.2.5 Kyrios (κυριος)
O nome Kyrios, está ligado à legitimidade da autoridade exercida por Deus sobre
todas as coisas. Ele é o Senhor e isto de forma legal, justa e equável com toda sua
existência.
Faz-se necessário ressaltar que tal título não é aplicável apenas ao Pai, visto ser
atribuído também ao Filho (Marcos 16.19; Atos 7.59; Romanos 1.7; Filipenses 2.5-11). O
Espirito Santo também recebe tal qualificação (II Coríntios 3.17-18).
Dentre tantas implicações práticas que este nome Divino traz consigo, penso que
uma que merece nossa atenção é o que fica subtendido em sua expressão máxima: Ele é
o Senhor e todos os demais seres, existem para servi-lo. Está compreensão tem sumido
de muitos púlpitos e da vida de muita gente que afirma a Ele pertencer.
Todos os que são justificados é Deus servido, em seu único Filho Jesus Cristo e por
ele, fazer participantes da graça da adoção. Por essa graça eles são recebidos no
número dos filhos de Deus e gozam a liberdade e privilégios deles; têm sobre si o
nome deles, recebem o Espírito de adoção, têm acesso com confiança ao trono da
graça e são habilitados, a clamar “Abba, Pai”; são tratados com comiseração,
protegidos, providos e por ele corrigidos, como por um pai; nunca, porém,
abandonados, mas selados para o dia de redenção, e herdam as promessas, como
herdeiros da eterna salvação. (WESTMINSTER, 2011, pág. 107).
Uma das mais belas doutrinas ensinadas nas Sagradas Escrituras é a da nossa
adoção por parte de Deus (Romanos 8.15; Efésios 1.5). Ela está diretamente ligada ao
título Divino de Páter (Pai).
O peso que este nome traz consigo é imenso, uma vez que o Deus Todo-Poderoso,
o Soberano, o Senhor dos senhores foi quem nos elegeu, redimiu e adotou como filhos.
Não obstante, uma ressalva deve ser feita: somos filhos de Deus, não por uma questão de
essência, mas de adoção. Apenas Jesus é Filho de Deus em essência, somente ele
pertence à esfera Divina e compartilha de sua natureza. Quanto a nós, somos filhos de
Deus porque ele nos escolheu e entrou em uma relação de aliança conosco, por intermédio
de Cristo Jesus (Gálatas 4.4-7).
2.2 QUALIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS DE DEUS
Por muito tempo estudiosos tentam de diversas formas perscrutar o Ser de Deus,
tarefa que seria impossível, não fosse o fato de que o próprio Deus se manifestou para que
pudéssemos, ainda que tateando conhecê-lo (Atos 17.24-29). Dessa forma, surgiram várias
proposições, com diferentes pontos de vista, na tentativa de explicar a existência de Deus,
a maneira como podemos ter conhecimento de Sua pessoa e até mesmo o quanto Dele
podemos conhecer.
Nessa busca pelo conhecimento de Deus, algumas características de seu ser têm
sido apresentadas, especialmente pela nomenclatura de “atributos”. Sendo assim divididos:
Atributos imanentes: não se expõe nem operam fora da essência divina, mas
permanecem imanentes, como imensidade, simplicidade, eternidade, etc.
Tais atributos não são compartilhados totalmente, mas parcialmente. Dessa forma,
há em nós certa bondade para com as demais pessoas, porém esta bondade não é inerente
ao homem, senão comunicada, compartilhada pelo próprio Deus. Semelhantemente, o
mesmo acontece com os demais atributos comunicáveis, a ponto do apóstolo João
escrever: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (I João 4.19).
Entretanto duas formas de classificação têm sido destacadas, sendo definidas como
Atributos incomunicáveis e Atributos comunicáveis.
Por atributos incomunicáveis nos referimos aos atributos que Deus não compartilha
conosco, a exemplo de sua auto existência, transcendência, onipotência. Isto implica em
dizer os atributos incomunicáveis de Deus, dizem respeito às perfeições absolutas de seu
Ser e, portanto, não são compartilhadas com suas criaturas.
Tratando desse assunto, o famoso teólogo holandês Hermann Bavinck ressalta que
“Se Deus não é independente e imutável, eterno e onipresente, simples e livre de
composição, Ele é puxado para o nível da criatura e identificado com o mundo e sua
totalidade ou com uma de suas forças” (BAVINCK, 2001, pág. 148).
Com este termo afirmamos que Deus não precisa de qualquer de suas criaturas para
que possa existir. Ele existe por si. Deus não foi criado e não precisa de nenhuma fonte
externa para sua existência. Somos seres finitos e limitados, porém Deus não está preso
às limitações do espaço-tempo.
Há pessoas que acreditam que Deus sentia-se só e por essa razão criou todas as
coisas, inclusive o homem para que com este pudesse relacionar-se. Não obstante, se
fizermos ou concordarmos com tal afirmação, estaremos asseverando que Deus
necessitada de Sua criação para continuar existindo. Deus não se sentia solitário e isto fica
claro na oração de Jesus em João 17.5 e 17.24. Acerca disto, Wayne Grudem afirma
acertadamente: “Havia amor e comunicação entre o Pai e o Filho antes da criação”
(GRUDEM, 2010, pág. 110).
Uma vez que Deus é auto existente e não precisa de suas criaturas, isso significa
dizer que não temos valor algum? Não necessariamente, pois todas as obras de Deus têm
valor, uma vez que o próprio Criador as valoriza. Não obstante, nosso valor não é inato,
antes provém daquele que nos criou para o louvor de sua glória, conforme nos ensina o
apóstolo Paulo em Efésios 1.11-14. Deus existe fora do tempo, isto é, ele é atemporal. Com
isso reafirmamos que ele sempre existiu e prova disso é o fato de que tudo o que existe é
obra sua (Apocalipse 4.11).
O nome divino que Deus revelou a Moisés, “Eu Sou o que Sou”, aponta para sua
auto existência. Também sugere que Deus existe em um estado eterno. Ele criou o
próprio tempo e, portanto, é independente dele. Tal atributo da existência divina é
chamado de Eternidade ou Atemporalidade. Gênesis 21.33 diz que ele é “o Deus
eterno”. O Livro de Salmos revela que ele é “de eternidade a eternidade” (41.13), e
que ele é “desde a eternidade” (93.2). O apóstolo Pedro escreve: “para o Senhor
um dia é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pedro 3.8). (CHEUNG, 2003,
pág. 45).
2.3.2 Transcendência
Vicent Cheung observa que “os atributos metafísicos de Deus demonstram a sua
transcendência” (CHEUNG, 2003, pág. 51). Dizer que Deus é transcendente, implica em
que ele vive de forma independente do tempo e do espaço.
2.3.3 Imutabilidade
O Salmo 102.25-27 afirma que mesmo que a criação entre em declínio, Deus
permanece o mesmo: “No princípio firmaste os fundamentos da terra, e os céus são obras
das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; envelhecerão como vestimentas.
Como roupas tu os trocarás e serão jogados fora. Mas tu permaneces o mesmo, e os teus
dias jamais terão fim”.
Em Malaquias 3.6, Deus assevera: “eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos
de Jacó, não sois consumidos”.
Tiago diz também ressalta que em Deus não pode haver mudança: “Toda boa dádiva
e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir
variação ou sombra de mudança” (Tiago 1.17).
Além dos textos bíblicos corroborarem com o fato de que em Deus não pode haver
mudanças, temos também a experiência vívida desta realidade, através do relacionamento
que ele mesmo estabeleceu conosco. Embora, diga-se de passagem, nossas
comprovações empíricas sem a confirmação das Sagradas Escrituras não podem servir
como base fundamental para tais proposições.
Mas que dizer de situações onde Deus muda seu modo de agir diante de
determinadas circunstâncias?
Precisamos compreender que Deus é um Ser ativo e não está inerte. O que
entendemos como mudança de Deus em determinados textos bíblicos ou situações da vida,
na verdade são apenas reações de Deus a tais circunstâncias e estas não mudam o seu
Ser, ele é imutável, ele é o que é. Suas decisões, atributos, propósitos e promessas
permanecerão inalteradas. Mesmo essas “reações” a tais circunstâncias, estão dentro do
proposito final de Deus.
Desde toda eternidade e pelo mui sábio e santo conselho de sua própria vontade,
Deus ordenou, livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém, de modo que
nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada
a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.
(WESTMINSTER, 2011, pág. 33).
2.4 ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS
São atributos que Deus, por sua livre e perfeita escolha, resolve comunicar ou
compartilhar conosco, ainda que não de forma absoluta, isto é, plenamente. Berkhof sugere
que os atributos incomunicáveis dizem respeito ao absoluto de Deus e os comunicáveis à
Sua natureza pessoal.
2.4.1 Bondade
Nossa bondade, deve estar sempre pautada pela que é demonstrada por Deus. Ele
é o parâmetro pelo qual devemos julgar nossas atitudes, de maneira que possamos
identificar se as mesmas estão de fato sendo boas ou más.
2.4.2 Misericórdia
Podemos definir a misericórdia Divina como aquele atributo pelo qual Deus se
demonstra compaixão para com todos os que se acham imersos em suas próprias misérias
e desgraças, ainda que seus méritos sejam inexistentes.
Fala-se da misericórdia Divina em termos de Deus não nos dando o que de fato,
merecemos, ou seja, juízo. Assim, a misericórdia de Deus se manifesta pelo fato de que
Deus não nos trata conforme nossos méritos. Prova disso é a afirmação do profeta
Jeremias, em Lamentações 3.22: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos
consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim”.
O Antigo Testamento apresenta Deus como Yahweh Tsidkenu ))יְ הוָ ָ֥ה צִ ְד ִּֽקנּו, Senhor,
Justiça Nossa (Jeremias 23.6). “Esse nome apresenta o Senhor como aquele que é
absolutamente reto por natureza, que não faz nada contra a sua constituição santa”
(CAMPOS, 2002, pág. 91).
Embora para nós retidão e justiça sejam expressões com características diferentes,
no Antigo e no Novo Testamento, elas são sinônimas. Destarte, de maneira a facilitar nosso
entendimento, as utilizaremos no sentido bíblico, ou seja, como tendo o mesmo significado.
Quando afirmamos que a justiça é um dos atributos de Deus, estamos dizendo que
Ele sempre age de modo justo, pois em última análise, Deus é o maior referencial de justiça.
Sendo Ele o parâmetro para todo e qualquer julgamento justo.
Quando Deus nos perdoa os pecados, não nos punindo pelos mesmos,
aparentemente Ele está agindo de forma injusta. Entretanto, ao olharmos para cruz, vemos
a justiça de Deus sendo satisfeita por meio do sacrifício de Jesus Cristo. Ele mesmo “levou
sobre si os pecados de muitos e pelos transgressores intercedeu”, nos diz o profeta Isaías,
no capitulo 53, verso 12 de seu livro.
Em suma podemos afirmar que “tudo o que se conforma ao caráter moral de Deus é
justo” (GRUDEM, 1999, pág. 150).
Como seres finitos e limitados que somos, não temos os recursos teológicos,
espirituais, morais e intelectuais necessários para esquadrinhar de forma adequada os mais
diversos atributos de Deus. Não obstante, Ele mesmo revela-se a nós, de forma que
podemos ainda que como uma penumbra, vislumbrar alguns aspectos desses infindos e
incomparáveis atributos Divinos.
Como Deus não está limitado como nós no espaço-tempo, Seus atributos que são
na verdade expressão do seu Ser, não estão e jamais ficarão obsoletos. Diante disso, os
atributos que nos são comunicados, ainda que de forma parcial e não absoluta, devem ser
utilizados para glória do Seu nome, revelando a majestade do Seu Ser, demonstrando a
grandiosidade de Sua existência.
Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Isso significa dizer que precisamos
enfaticamente revelar seu caráter através de nossas atitudes, pensamentos e palavras.
De forma prática, poderíamos afirmar que a exemplo do samaritano descrito em
Lucas 10.25-37, que vendo uma pessoa necessitada demonstrou-lhe amor, bondade e
misericórdia, precisamos também nós ditos cristãos evidenciar em nosso viver, dia após
dia os atributos que o próprio Deus tem compartilhado conosco.
Em meio às guerras que destroem tantas vidas; à corrupção que campeia aberta e
livremente; de pessoas que morrem por falta de alimento, teto e esperança; temos o dever
urgente de demonstrar misericórdia e amor, estendendo a mão que pode também levar
esperança. Por outro lado, precisamos erguer nossa voz e combater a corrupção e as
guerras que a tantos tem molestado; faz-se necessário, como arautos do Rei, vindicarmos
sua santidade, de forma que seu santo nome seja honrado e seu amor que jamais terá fim
possa ser experimentado por aqueles que não sabem o que é verdadeiramente ser
amados.
3. A TRINDADE
A essência de Deus é o Seu ser. Para ser mais preciso, essência é aquilo que você
é. Sob o risco de soar muito físico, essência pode ser entendida como o “material”
do qual você “consiste”. Certamente estamos falando por analogia aqui, pois não
podemos entender essência de uma forma física em relação a Deus. “Deus é
espírito” (Jo.4.24). Além disso, claramente não devemos pensar em Deus
“consistindo” de outra coisa além da divindade. A “substância” de Deus é Deus, não
um monte de “ingredientes” que misturados produzem a divindade. 8
Somos incapazes de decifrar os mistérios reservados por Deus para sua própria
glória e se intentássemos tal feito, seríamos não apenas insolentes, mas também
incidiríamos num fracasso previamente anunciado. A existência de Deus como Pai, Filho e
Espirito Santo está além de nossa compreensão natural.
Diante das considerações acima, dediquemos algumas linhas a esta tão preciosa
doutrina cristã, ponderando sobre o que foi revelado nas Escrituras acerca do Ser deste
Deus que é Uno, mas também Trino.
No segundo século da era cristã, Tertuliano (160-220 d.C.), já havia tratado do tema
supracitado. De acordo com Berkhof (2007, pág. 79), “Tertuliano foi o primeiro a empregar
8
http://voltemosaoevangelho.com/blog/2010/06/agnosto-theo-john-piper-o-que-e-a-doutrina-da-trindade-22/
9
http://monergismo.com/loraine-boettner/a-trindade/
o termo ‘Trindade’ e a formular a doutrina, mas a sua formulação foi
deficiente, desde que envolvia uma infundada subordinação do Filho ao Pai”.
Mais tarde, por volta do ano 318, Ário levantaria o conceito de que Cristo teria
sido criado por Deus, sendo, não mais que qualquer homem, mas apenas mais uma
criatura de Deus. Para ele, “como uma criatura, o Logos estava sujeito à mudança
e capaz, pelo menos em princípio, tanto da virtude como do vício, exatamente como os
seres humanos” (WALKER, 2006, pág. 156).
Atanásio, o maior opositor de Ário, obteve então, sua grande vitória, pois no Concílio
de Nicéia, foi promulgada a confissão que afirmava a consubstancialidade do Filho (Logos)
em relação ao Pai.
Como vimos, o termo Trindade, foi empregado inicialmente por Tertuliano, não
sendo, portanto, uma denominação bíblica para definir o Ser Divino. Tal nomenclatura,
embora extra-bíblica, aponta para uma verdade apresentada exclusivamente cristã, visto
que em nenhuma outra religião no mundo, há tal concepção de um Deus que subsiste em
três pessoas distintas, porém coiguais e consequentemente, consubstanciais. Contudo,
talvez, este vocábulo não traduza adequadamente o entendimento cristão acerca do Ser
de Deus, pois pode dar a ideia de que cremos em três deuses e não apenas em um.
Muito embora não contradiga o reformador genebrino, Stanley Rosenthal faz uma
interessante observação de tal terminologia em um livreto produzido pela Editora Fiel:
O monoteísmo é a crença e por que não dizer, a defesa, de que existe apenas um
Deus, indivisível e que é Senhor sobre tudo o que existe.
O cristianismo tem sua base no pensamento judaico antigo e, portanto, traz consigo
alguns conceitos defendidos pelo povo de Deus no Antigo Testamento. Exemplo disto é a
afirmação peremptória de que só há um Deus. Todavia, conforme exposto anteriormente,
entendemos que na Divindade há três pessoas, enquanto que o judeu nega tal realidade.
A pergunta que surge, uma vez que o judeu não crê na Triunidade Divina e nós como
herdeiros de sua teologia não apenas cremos, mas também a defendemos, é: o conceito
concebido pela nomenclatura Trindade é bíblico? Pois como vimos, este nome não aparece
nas Escrituras.
Respondemos a tal indagação citando R. C. Sproul (2013, pág. 65): “Tudo o que a
palavra Trindade faz é expressar, linguisticamente, o ensino bíblico sobre a unidade e a
tri-personalidade de Deus”. Não obstante, devemos ponderar o pensamento judaico acerca
deste assunto.
Moisés em Deuteronômio 6.4: ְש ַׁ ַ֖מע יִ ְש ָר ֑אל יְ הוָ ָ֥ה אֱ ֹלהַ֖ינּו יְ הוָ ָ֥ה׀ אֶ ָ ִּֽחד׃ (Ouve, Israel, o
Rosenthal ressalta que “o incrível é que Shema é uma das mais poderosas
declarações em favor da tri-unidade de Deus que se pode encontrar na Bíblia
inteira” (ROSENTHAL, pág. 4).
Antes de passarmos a uma defesa bíblica sobre a Trindade, devemos olhar, ainda
que de forma sintética, para alguns conceitos, embora não todos, que surgiram ao longo da
história acerca deste assunto.
3.4.1 Monarquismo
O Dr. Charles Hodge, observa que, “ao negar a pessoalidade do Pai e do Espirito,
com quem cada crente mantinha uma relação pessoal, a quem adoração e orações eram
dirigidas, ela não podia ser recebida pelo povo de Deus” (HODGE, 2001, pág. 340) .
Em pouco tempo essa heresia tomou forma e dois conceitos surgiram a partir de
suas proposições: a) monarquismo modalista ou modalismo; b) monarquismo dinâmico ou
adocionismo.
3.4.1.1 Modalismo
Para os modalistas, Pai, Filho e Espirito Santo são a mesma pessoa, não três. Em
seu ponto de vista, Deus se manifestou inicialmente como o Criador e Legislador,
entregando aos homens, sua Lei; nesta manifestação, ele ficou conhecido como Pai. Como
o homem estava decaído e precisava de salvação, Deus se manifestou como Redentor,
concedendo aos pecadores a redenção de que necessitavam; assim, manifestou-se como
Filho. Contudo, estes pecadores agora redimidos, necessitavam de santificação; destarte,
o mesmo Deus se manifestou como o Espirito Santo, a fim de realizar tal obra.
A pessoa divina que veio a terra como o Jesus encarnado era a mesma pessoa que
havia criado todas as coisas. Quando ele retornou ao céu, assumiu novamente o
seu papel como Pai, mas depois, retornou à terra como Espirito Santo. (SPROUL,
2013, pág. 36).
“O mesmo Deus teria três pseudônimos. Deus é indivisível, não existe comunhão de
três pessoas nele; o que existe é a unicidade divina projetada para nós mediante três modos
diferentes”10.
3.4.1.2 Adocionismo
Ele considerava Cristo, quanto à Sua natureza divina, isto é, o Logos, como o
unigênito Filho de Deus no sentido natural, mas considerava Cristo, em Seu lado
humano, como um Filho de Deus meramente por adoção. Berkhof (2007, pág. 283)
Por isso, é apropriado chamar o Logos de Filho de Deus. Entretanto, ele se tornou
o Filho de Deus dinamicamente. Houve uma mudança. O Logos não foi sempre o
Filho de Deus, e sua filiação foi algo que ele ganhou pelo que fez. (SPROUL, 2013,
pág. 37).
Para os adocionistas, mesmo após ter sido “adotado por Deus”, Jesus não era
detentor de uma natureza Divina, era meramente um homem de caráter nobre e que Deus
chamava de Filho de forma ímpar, ou seja, de modo único e especial.
10
http://www.monergismo.com/textos/trindade/trindade_isaias.htm
3.4.2 Triteísmo
O triteísmo discorda da concepção cristã de que Pai, Filho e Espirito Santo sejam
três pessoas distintas sendo, contudo, um só Deus. Para eles, as três pessoas da Trindade,
são três deuses independentes e autônomos. Para os triteístas, esses três deuses são
apresentados como sendo um único Deus, porque tem o mesmo propósito e caráter.
Na concepção triteísta, Jesus não é o Filho de Deus, mas apenas finge ser. Não há
como um Deus, ser filho de outro. Destarte, o triteísmo não passa de uma distorção da
doutrina bíblica da Trindade, pois nega o fato de que Pai, Filho e Espirito Santo são apenas
um único Deus, da mesma substância e iguais em poder e glória.
Grudem (2010, pág. 183), observa que “poucas pessoas ao longo da história da
igreja defenderam tal concepção, que revela semelhanças com muitas antigas religiões
pagãs que pregavam uma multiplicidade de deuses.
Temos ainda, textos que mostram a ação do Espirito Santo como pessoa, bem como
possuidor de atributos que são característicos do Ser Divino (Juízes 3.10; Jó 33.4;
Isaías 11.2; Salmo 139.7-8).
Por outro lado, estudiosos têm defendido que “o Anjo do Senhor” era na verdade
uma Teofania, isto é, uma manifestação visível de Deus (Gênesis 16.7-13, 22.11-18, 31.11-
13; Êxodo 3.1-6; Juízes 2.1). Grudem (2010, pág. 326), observa que,
Esses são claros exemplos em que o anjo do Senhor, ou o anjo de Deus, aparece
como o próprio Deus, talvez mais especificamente como Deus Filho revestido de
um corpo humano por curto tempo a fim de tornar-se visível aos homens.
O Novo Testamento traz consigo uma revelação mais clara das distinções da
Divindade. Segundo Benjamim Warfield, “foi na vinda do Filho de Deus, na semelhança da
carne do pecado, para se oferecer a Si mesmo com um sacrifício pelo pecado; e na vinda
do Espírito Santo, para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo, que a Trindade
de Pessoas na Unidade da Divindade foi revelada, de uma vez para sempre, aos homens”.
Até mesmo no primeiro capítulo de Gênesis”, diz o Dr. Charles Hodge, o Espírito de
Deus é representado como a origem de toda a inteligência, ordem e vida, no
universo; e nos livros seguintes, do Antigo Testamento, ele é representado como
sendo o inspirador dos profetas, concedendo sabedoria, força e bondade, a
estadistas e a guerreiros, e ao povo de Deus. Este Espírito não é uma agência, mas
um agente, que ensina e seleciona; um que pode ser entristecido e contra quem se
pode pecar; e que, no Novo Testamento, é revelado, inequivocamente, como uma
Pessoa distinta. Quando apareceu João Batista, vemo-lo falando do Espírito Santo
como de uma Pessoa com quem os seus compatriotas estavam familiarizados,
como um objeto digno de ser adorado, e o Doador de bênçãos divinas e salvadoras.
Nosso Senhor também toma esta verdade como aceite, e promete enviar o Espírito,
como um Paracleto, para tomar o seu lugar; para instruir, consolar e fortalecer, e a
quem deviam receber e obedecer. Assim, sem uma transição violenta, a revelação
mais antiga deste mistério se foi abrindo gradualmente, até que o Deus Trino, Pai,
Filho e Espírito Santo, aparece no Novo Testamento como Deus universalmente
reconhecido por todos os crentes. (Apud. BOETTNER, pág. 21).
Como vimos anteriormente, os textos de Hebreus 1.5, 1.8-9; Mateus 2.1-6, 4.15-16,
22.41-44 e Lucas 1.32-33, são a comprovação histórica do cumprimento das profecias
acerca do Messias e não apenas isto, ratificam ainda a deidade de Jesus, o Filho de Deus.
Mas, Jesus não é apenas o cumprimento de antigas profecias, senão o próprio Deus.
O apóstolo João fala com clareza acerca da divindade de Jesus, tanto em seu
Evangelho, quanto em seus escritos posteriores (João 1-3 e 14, 5.18-23, 14.8-9, 20.24-28;
I João 1.1-3, 2.22-23, 5.20; Apocalipse 1.1-8, 17.14 (cf. Salmo 136.3), 21.1-7, 22.12-17).
As Escrituras não apenas falam da divindade das Pessoas da Trindade, mas revelam
também, que existe a unidade existente entre elas.
Na formula batismal – Após sua morte e antes de sua ascensão aos céus,
Jesus orientou seus discípulos quanto à sua missão, ordenando-lhes
batizarem em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo (Mateus 28.18-20).
Mais uma vez, as Pessoas da Trindade aparecem como uma unidade.
João 10.30 – Jesus afirma explicitamente que ele e o Pai são um,
demonstrando assim, sua Divindade e unidade com o Pai.
João 14.8-9 – Jesus diz a Filipe que quem o vê, vê o Pai e que suas obras
são as obras do Pai.
João 14. 16 e 23 – Aqui vemos que tanto o Espírito Santo prometido por Jesus
como Ele mesmo e o Pai viriam e fariam morada nos discípulos. Isso nos
mostra claramente a unidade existente na Trindade.
Efésios 4.4-7 – Este texto revela que a unidade da igreja está fundamentada
na Santíssima Trindade.
11
http://www.mackenzie.br/6930.html
Portanto, não foram os anjos que nos plasmaram – os anjos não poderiam fazer
uma imagem de Deus – nem outro qualquer que não fosse o Deus verdadeiro, nem
uma Potência que estivesse afastada do Pai de todas as coisas. Nem Deus
precisava deles para fazer o que em si mesmo já tinha decretado fazer, como se ele
não tivesse suas próprias mãos! Desde sempre, de fato, ele tem junto de si o Verbo
e a Sabedoria, o Filho e o Espirito. É por meio deles e neles que fez todas as coisas,
soberanamente e com toda a liberdade, e é a eles que se dirige quando diz:
“Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. (Apud. FERREIRA e MYATT,
2007, pág. 165).
Afirmamos anteriormente que o Pai, o Filho e o Espirito Santo são três pessoas, com
personalidade distinta12, mas da mesma substância ou essência. Isto implica em dizer que
não há uma relação de subordinação do Filho para com o Pai, ou do Espirito quanto ao
Filho. A este respeito o Dr. Leandro Lima (2013, pág. 68), observa que:
Dentro da Trindade existe absoluta igualdade de essência, logo, não existe qualquer
grau de subordinação, nem mesmo de honra. O Pai não é maior em essência do
que o Filho e nem o Filho maior do que o Espirito Santo. O Pai não deve ser mais
adorado do que o Espirito, ou o Espirito mais do que o Filho.
12
Campos descreve uma personalidade sucintamente como consistindo da presença de: autoconsciência (capacidade
de estar consciente de própria identidade, de saber quem ela é); inteligência (capacidade de relacionar as coisas, de
estabelece metas e atingi-las inteligentemente); autodeterminação (elaboração e execução de plano); afeições
(capacidade ter afeições ou sentimentos). (Apud. CORDEIRO, 2008, pág. 29).
Em termos mais simples, quando fazemos referência à Trindade Ontológica,
enfatizamos que cada Pessoa da Trindade tem um papel definido e exclusivo. Contudo,
precisamos ressaltar o fato de que mesmo tendo papeis distintos, as três Pessoas da
Trindade trabalham em plena harmonia.
Deus é o cabeça de Cristo (I Coríntios 11.3) – Paulo está falando aqui sobre
a submissão da esposa ao marido e para fundamentar sua proposição, ele
aponta para a submissão de Cristo a Deus (Pai). Por vezes, há confusão na
interpretação deste texto, por se pensar em inferioridade de uma pessoa em
relação à outra. Contudo, Paulo não está ensinando aqui que a mulher é
inferior ao homem ou que Cristo seja inferior a Deus Pai. Sua proposição se
refere à função exercida por um e por outro.
Ainda que homens se levantem a afirmar que Deus não existe, eles jamais poderão
fazê-lo de forma isenta, pois a ideia da existência de um Ser Superior lhes é inata,
porquanto o homem traz consigo a sêmem religionis (semente da religião). Também não
poderão afirmar, sem que estejam absolutamente equivocados, que é impossível conhecer
a Deus, pois o apóstolo Paulo afirma em Romanos 1.19-20: “porquanto o que de Deus se
pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos
invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das
coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis”.
Diante de tudo isso, concluímos que por mais que os homens tentem em sua
digressão e antropocentrismo negar a Deus, negando-Lhe a glória devida, ainda assim, a
revelação geral e a revelação especial, estarão prontas a testemunhar contra eles.
Também percebemos que os atributos de Deus nos são comunicados para que sua
glória seja manifestada por toda a terra e que ainda que não os compreendamos, eles
jamais se chocam, antes existem em perfeita harmonia, pois não são partes, senão próprio
Ser de Deus.
Testemunha conjuntamente com tais fatos a Escritura que nos ensina que Deus é
único sendo, contudo, Triúno. E esta triunidade não faz Dele três deuses, ou mesmo um
único Deus com diferentes manifestações ou ainda, gera subordinações entre as pessoas
da Trindade. Ele é e sempre será o Deus único e verdadeiro que subsiste em três pessoas,
de igual poder, honra e gloria. Sendo assim, a Trindade sempre existiu. O Pai é eternamente
Pai, o Filho é eternamente Filho e o Espirito Santo é eternamente o Espirito Santo.
Bibliografia
ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura – A doutrina reformada das Escrituras. São Paulo: Editora
Os Puritanos, 1998.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3ª Edição Revisada. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2009.
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. Tomo I. Volumes 1 e 2. São Paulo: Editora
UNESP, 2008.
CAMPOS, Héber Carlos. O Ser de Deus e seus atributos. 2ª Edição. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2002.
FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 2ª Edição. São Paulo: Vida Nova, 2010.
LIMA, Leandro Antônio de. As grandes doutrinas da graça. Volume 1. São Paulo:
Agahtos, 2013.
PACKER, J.I. Teologia Concisa. 2ª Edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
PIPER, John. O que é a doutrina da Trindade? Disponível em:
http://voltemosaoevangelho.com/blog/2010/06/agnosto-theo-john-piper-o-que-e-a-
doutrina-da-trindade-22/. Acesso em 26 de março de 2016.
WALKER, W. et al. História da igreja cristã. 3ª Edição. São Paulo: ASTE, 2006.