JBHM Vol. 19 N. 1 Dez. 2019
JBHM Vol. 19 N. 1 Dez. 2019
JBHM Vol. 19 N. 1 Dez. 2019
-1997-
Jornal Brasileiro de
História da Medicina ISSN 1516-0386
2019 - Vol 19 N 1
Sociedade Brasileira de História da Medicina
-1997-
Jornal Brasileiro de
-1997-
História da Medicina ISSN 1516-0386
Sociedade Brasileira de
História da Medicina Editorial
DIRETORIA
Presidente
Lybio Martire Junior (SP) Como seres humanos temos a capacidade trazer
ao presente fatos e acontecimentos que aconteceram
Vice Presidente
João Bosco Botelho (AM) num tempo distante, lá no passado. Observando e
registrando atentamente os eventos, foi como criamos
Secretário Geral
Jose Marcos dos Reis (MG)
nossas primeiras histórias. Também da observação e
registro detalhado de sinais e sintomas é que se
1º Secretário fizeram histórias acuradas de cada doença conhecida.
Daniel Pinheiro Hernandez (RJ)
Tesoureiro
Dary Alves de Oliviera (CE)
Registrar e manter a informação referente a
Biblioteca História da Medicina é o papel do Jornal Brasileiro de
Jorge Cury (RS) História da Medicina, e sua instituição
mantenedora, a Sociedade Brasileira de História da
Departamento Acadêmico da Medicina.
SBHM
Resumo
No dia 26 de outubro de 2017 fez 100 anos da declaração de guerra do governo brasileiro contra a Alemanha. Esse primeiro grande
conflito beligerante envolveu países do mundo todo e pôs a medicina em um campo ainda desconhecido. Em que cada batalha,
novos desafios médicos iam surgindo e as lições eram aprendidas na prática. Os conhecimentos adquiridos pelos médicos eram
divulgados para o mundo todo por meio da imprensa geral e específica. Quais foram as lições médicas trazidas para os médicos
brasileiros? O periódico Brazil-Medico veiculou diversos artigos sobre as principais técnicas da medicina de guerra e com isso
trouxe ao conhecimento dos médicos do país as ações médicas na Primeira Guerra Mundial.
Abstract
On October 26, 2017 made 100 years of the Brazilian government's declaration of war against Germany. This first major belligerent
conflict involved countries all over the world and put medicine in a field still unknown. In each battle, new medical challenges were
emerging, and lessons learned in practice. The knowledge acquired by doctors was disseminated to the world through the general
and specific press. What were the medical lessons brought to Brazilian doctors? The journal Brazil-Medico published several articles
on the main techniques of war medicine and with that brought the doctors of the country to the medical actions in the First World
War.
Palavras-chave: Guerra Mundial; Medicina de Guerra; Periódicos Médicos.
Keywords: World War; War Medicine; Medical Papers.
1 – A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL: BREVE fizeram a declaração de guerra. Essa atitude pode ser
RELATO considerada como uma das causas do rompimento da
Na manhã de domingo, dia 28 de junho de 1914 neutralidade brasileira, pois em 11 de abril de 1917 foi a vez
quando o arquiduque austro-húngaro Francisco Fernando e do governo brasileiro romper relações diplomáticas com a
sua esposa chegaram na estação de trem de Sarajevo, a Alemanha. Mas somente após o torpedeamento do navio
Europa estava em paz. Apenas 37 dias depois estava instalada brasileiro Macau com o respectivo desaparecimento do
a Guerra.1 comandante e da tripulação, ocorrido em 18 de outubro, é que
o governo brasileiro muda a posição que adotara e em 25 de
Os beligerantes, no momento do estopim do conflito,
outubro de 1917, declara guerra à Alemanha.3
eram os Impérios Centrais formado pela Alemanha e o
Império Austro-Húngaro e a as potencias da Entente, No decorrer da Primeira Guerra Mundial, o governo
compostas pela França, Rússia, Reino Unido, Bélgica e brasileiro organizou e enviou uma missão médico-milit ar
Servia. O cenário estava formado, de um lado um bloco para a França com o objetivo de auxiliar na abertura de um
compacto com 120 milhões de homens e de outro 238 hospital em Paris. Esse pelotão médico brasileiro teria atuado
milhões de homens divididos geograficamente em três em diversos locais da Europa e auxiliara no combate à “Grip e
massas separadas por grandes distâncias.2 Hespanhola”, doença epidêmica em diversas partes do mundo
e em particular na Europa em conflito. O pelotão prestava
Com a eclosão da guerra, todos os países da América
serviços clínicos e cirúrgicos, farmácia, intendência,
optaram por permanecer neutros. No entanto, no dia
secretaria e enfermaria, reunindo médicos, farmacêuticos e
04 de fevereiro de 1917, os Estados Unidos romperam
enfermeiros, totalizando 112 missionários, além de 30
relações diplomáticas com a Alemanha e em 06 de abril
1
Farmacêutico Bioquímico Clínico. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo - RS
2 Movimento iniciado na França com o objetivo de promover uma nova https://www.obrasraras.fiocruz.br. Provavelmente devido ao estado de
espécie de história e em 1929 deu origem a um periódico. Conforme palavras conservação do documento original, algumas partes dos textos que foram
do autor, a historiografia jamais será a mesma.10 digitalizados ficaram ilegíveis e quando uma informação necessária ao
3 Todas as edições do periódico em análise estão disponíveis no portal presente contexto se enquadrar nessa situação, o leitor será informado.
denominado Obras Raras Fiocruz: Acervo digital de obras raras e especiais,
o qual pertence ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e
Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), disponíveis em
3 – A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL NAS PÁGINAS sobre a assistência médica pública na Argentina e após
pronunciamento foi realizado na sessão da ANM em 13 de periódico externa a comoção de seus colaboradores com o
agosto de 1914 e está veiculada na seção que traz o resumo momento bélico europeu. Para eles, a comemoração do 28º
das atas das associações científicas, na edição de 15 de ano de publicação não pode ter a mesma alegria sentida nos
setembro de 1914. Fonseca faz menção ao discurso proferido anos anteriores, pois “não pode haver verdadeiro jubilo na
pelo então presidente da ANM, Dr. Miguel Couto na ocasião época dolorosa que ora atravessamos”. As relações
do aniversário da instituição. Segundo ele a comparação internacionais são afetadas pela Guerra e com isso os úteis
antagônica feita entre as palavras “medicina” e “guerra” intercâmbios comerciais e sociais entre as nações ficariam
expressa de maneira simples a gravidade do conflito e frente prejudicados. Mesmo o Brasil estando geograficamente
a tal acontecimento, deveria a ANM fazer votos para que a distanciado do confronto bélico, sofre danos. O periódico, por
Guerra cesse o quanto antes, pois essa roubaria da manter relações com instituições francesas e alemãs, também
humanidade milhares de vidas. A proposta foi recebida com teria se prejudicado diante das dificuldades dos intercâmbios
simpatia pelos membros da Academia.12 Em 08 de outubro de entre as nações. Nesse texto a conflagração é considerada “a
1914, na seção denominada Congressos Médicos, temos o mais iniqua e injustificável das guerras”.15
relato da participação do Brasil no VII Congresso O médico francês Georges Brouardel, um dos
Internacional de Eletroctologia e de Radiologia Médica de relatores do periódico, informa como os hospitais de Paris e
Lyon, o qual ocorreu no mês de julho do mesmo ano, seus profissionais estariam se organizando para fazer o
começando um dia antes do conflito bélico. O texto é escrito atendimento dos exércitos em guerra. A primeira referência
pelo Dr. Toledo Dodswoth e traz diversas considerações sobre
feita diz respeito ao tratamento da febre tifoide 4 , uma doença
as novidades mundiais acerca dos exames radiográficos. No
muito comum entre os militares que fez com que hospitais
início do relato, o médico faz alusão ao clima de tensão que
provisórios fossem criados especificamente para tratamento
tomava conta de todos os participantes do congresso frente a
dessa moléstia. A ideia dos diretores hospitalares seria de
iminência da guerra e diz que: realizar o tratamento dos civis em separado, com o claro
A brutalidade da força jamais poderá invalidar a intuito de evitar a disseminação da infecção. O autor reforça
utilidade da sciencia: aquella cessa deixando a
lembrança de perdas irreparaveis e dolorosas
recordações, esta permanece eterna e grandiosa, para
4 Doença causada por uma bactéria que é transmitida por água ou alimentos
5 Doença bacteriana transmitida pela picada de um carrapato e também pelo 7 Diz-se ao estudante de medicina do último ano e também no contexto
piolho. utilizado, ao médico graduado realizando aperfeiçoamento, que seria como
6 No texto o autor relata que estava na cidade de Lyon na França no início da o atual curso de residência médica.
conflagração.
8 Temos os primórdios da criação e oficialização da profissão de 9 Chama atenção o fato da pesquisa ter sido feita em um hospital francês e
“marrubio branco” no tratamento da bronquite. A referência da ata da ANM, temos nova referência à guerra. O médido e
que temos sobre a Guerra é que o autor obteve seus resultados general Dr. Ismael da Rocha relatou na reunião realizada em
aplicando o tratamento em soldados combatentes que 29 de novembro de 1917, ter recebido diversos exemplares de
apresentaram sintomas brônquicos. Após a descrição máscaras contra gases asfixiantes utilizadas por soldados
detalhada dos casos, a fórmula utilizada é apresentada para ingleses, as quais seriam apresentadas em um congresso
que outros profissionais interessados façam uso em seus específico. Na mesma comunicação, Dr. Rocha apresenta os
resultados de procedimentos cirúrgicos realizados na linha de
pacientes.32
batalha, no que tange ao tipo de curativo a ser empregado. Os
A última publicação do ano de 1917 traz umas das dados foram levantados por um médico militar de um hospital
mais importantes comunicações, do ponto de vista não
de campanha.34
médico, sobre a conflagração. Na seção do periódico que
veicula o resumo das atas das associações científicas
5 – REFERÊNCIAS
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Junho 2015. 42-60. Disponivel em: <http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/136
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/oficin 4645426_ARQUIVO_artigo-anpuh-
adohistoriador/article/download/19876/13291>. Acesso danilorodriguessouza.pdf>. Acesso em: 03 Janeiro 2018.
em: 1 Maio 2018. 9. - Barros, J. D. Fontes Históricas: revisitando alguns
aspectos primordiais para a pesquisa histórica.
Mouseion., Canoas, n. 12, Maio 2012. 129-159.
Disponivel em:
RESUMO
“Lições de Anatomia” são quadros ou gravuras elaborados, em sua maioria, por artistas consagrados que apresentam dissecções
anatômicas feitas desde a Antiguidade. Se examinadas cronologicamente contam, de certo modo, a história da Anatomia por meio
de seu principal método de ensino, ou seja, a dissecção . Assim fazemos uma revisão das principais obras sobre o tema que trazem
também a presença dos anatomistas responsáveis por essa história. Há uma extensa iconografia a respeito nos museus e na literatura
e na análise de cada imagem acrescentamos um pequeno relato e comentários dos principais momentos dessa evolução tão
importante para a Medicina e para as Artes. Esta é a primeira parte de uma história fascinante.
Palavras-chave: Anatomia. Dissecção. História da Medicina. Educação médica.
ABSTRACT
The "Lessons of Anatomy" are pictures or engravings elaborated mostly by consecrated artists who present anatomical dissections
made since antiquity. If examined chronologically have, in a sense, the history of anatomy through its main teaching method, i.e.,
dissection. Thus we make a review of the main works on the subject that also bring the presence of the anatomists responsible for
this history. There is an extensive iconography about it in museums and literature and in the analysis of each image we add a small
report and commentary on the main moments of this evolution that is so important for Medicine and for the Arts. This is the first
part of a fascinating story.
Key Words: Anatomy. Dissection. History of Medicine. Education, Medical.
Introdução
Enquanto a teoria humoral predominou na medicina, o conhecimento anatômico era prescindível. Mas o século XVII
testemunhou a revolução científica, cujo berço foi a Universidade de Pádua. A razão passa a predominar e os estudiosos
trocam a tradição pela experimentação. Há uma mudança fundamental na história do saber médico com a descoberta da
circulação sanguínea e o verdadeiro papel do coração, a aquisição de novos conceitos anatômicos e fisiológicos e o
aprimoramento do microscópio.2 O valor da experiência é enfatizado e as observações, por meio das dissecções, se tornam
a base dos estudos anatômicos. A Anatomia tem sido o alicerce da educação médica ao longo do tempo e até recentemente
as dissecções eram o principal método de ensino anatômico, ainda não superado por qualquer outro. A prática da dissecção
se difundiu e, nas universidades, eram ministradas aulas de Anatomia para o público em geral e não apenas para os
estudantes. Mesmo em cidades que não tinham universidades eram organizados cursos públicos de anatomia. Esse novo
interesse pela Anatomia ficou imortalizado nas pinturas dos grandes mestres holandeses dos séculos XVII e XVIII. As “Lições
de Anatomia” tiveram o mérito de difundir a ciência anatômica por meio de obras de arte que representam a dissecção de
um cadáver diante de uma audiência selecionada, além de destacar seus principais personagens. Mas, antes delas, o tema da
dissecção humana já despertava o interesse dos artistas e é possível encontrar vários exemplos dos quais o mais antigo é o
de um afresco encontrado em uma catacumba romana do século IV.3-4
1 Professora Associada da Universidade de Brasília (UnB). Doutora em Medicina pela Escola Paulista de Medicina–Unifesp. Titular do Colégio
Brasileiro de Cirurgiões, da Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica, Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de História
da Medicina. Coordenadora das disciplinas Anatomia da Criança e História da Medicina, Faculdade de Medicina (FM)–UnB.
2 Professor Emérito da UnB. Doutor e Livre-Docente pela Universidade de São Paulo. Vice-Presidente da Academia Nacional de Cirurgia
Pediátrica. Emérito do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Membro Honorífico da Sociedade Brasileira de Anatomia. Titular da Sociedade
Brasileira de História da Medicina. Professor das disciplinas Anatomia da Criança e História da Medicina, FM–UnB.
Em 1955, uma pequena catacumba cristã foi descoberta cena se assemelha a uma dissecção anatômica tradicional:
durante a construção de um prédio de apartamentos na o professor em posição proeminente, sentado ou de pé,
antiga Via Latina em Roma. Seus afrescos pouco usuais lendo um texto clássico ou citando-o de memória; o
representavam cenas do Antigo e do Novo Testamento, dissecador, fazendo efetivamente a abertura do corpo e o
mas alguns eram francamente pagãos. Outros apresentador que aponta, com um bastão, os órgãos ou
reproduziam cenas da vida em Roma na ocasião em que a partes do corpo que o professor discute.5 No afresco em
catacumba foi decorada. Uma delas, de início, foi questão o professor é a figura central, maior do que as
interpretada como sendo de um cirurgião que estaria outras e mais escura, cercada por seus alunos; o
fazendo uma operação enquanto seus colegas apresentador está apontando o bastão para o cadáver
observavam (figura 1). Porém as intervenções cirúrgicas deitado em primeiro plano. Entretanto o dissecador não
eram muito limitadas na época e seria inviável abrir a está representado, talvez já tendo se retirado após fazer o
cavidade abdominal de um paciente, com uma incisão tão corte.6
extensa, sem que ele sangrasse até à morte. No entanto a
Figura 2 – Miniatura de manuscrito medieval inglês, em pergaminho. A figura integra um conjunto de textos e desenhos médicos do final do século XIII
(Fonte: Oxford, Bodleian Library, MS. Ashmole 399, fólio 34).
Há poucas ilustrações de dissecções anatômicas uma faca na mão esquerda e o fígado na mão direita; seu
em cadáveres humanos antes do século XV. A cena deste semblante demonstra surpresa ou desagrado ao ser
manuscrito (circa 1270) é uma das mais antigas (figura 2). interrompido por um médico e um monge. O médico, que
Faz parte de um grupo de figuras sem legendas que, em usa o gorro e o manto de sua profissão, parece estar
vista disso, receberam diferentes interpretações. advertindo o dissecador; sua expressão, assim como a do
Aparentemente contam a história de uma mulher desde monge, pode ser interpretada como de reprovação ou
sua doença inicial, o tratamento médico, a morte e o surpresa. Apresentar a dissecção de modo desfavorável é
exame post-mortem. A ilustração mostra um corpo bastante incomum na iconografia associada ao tema e
feminino aberto do processo xifoide à sínfise pubiana. O poderia ser um indicador de que a prática, embora já em
cadáver foi eviscerado e são vistos a coluna vertebral, o uso na época, ainda não fosse aceita por todos os médicos.
diafragma (em branco) e os ovários, um de cada lado da Mas há a versão de que o médico teria contratado o
coluna. Os órgãos retirados estão ao redor: acima estão os cirurgião para descobrir a causa do óbito, mostrando-se
rins e os intestinos; abaixo estão o coração e os pulmões, surpreso ao saber que o órgão doente, responsável pela
representados em bloco como era comum na Idade Média, morte, era o fígado. Outra interpretação é a de que o corpo
e provavelmente o estômago. O dissecador, talvez um teria sido roubado e esse fato é que teria causado a
cirurgião de baixa hierarquia, está aos pés do cadáver com reprimenda do médico.7,8
Figura 3 – Xilogravura, colorida à mão, de uma cena de dissecção em versão impressa de Bartholomaeus Anglicus: “Le propriétaire des
choses” (tradução francesa por Jean Corbichon). Lyon: Johannes Siber; circa 1484 (Fonte: “University of Glasgow Incunabula Project”).
Bartholomeus (Bartholomaeus) Anglicus ou algumas edições. A obra não foi escrita especificamente
Bartolomeu da Inglaterra (circa 1203-1272), frade para médicos ou estudantes de medicina, mas há seções
franciscano inglês, foi um dos primeiros enciclopedistas dedicadas ao corpo humano. A cena de dissecção foi
com sua obra “De proprietatibus rerum” ("Sobre as introduzida a partir do século XV e não fica claro se
propriedades das coisas"), escrita em Magdeburgo representa uma lição de anatomia ou se é simplesmente
(Alemanha) por volta de 1247. O trabalho foi um uma autopsia (figuras 3 e 4). Na maioria dessas
precursor das enciclopédias atuais. A edição inicial, em ilustrações é mostrado um corpo feminino, no qual foi
latim e composta de 19 livros, é considerada uma das feita a habitual incisão do esterno ao púbis, com cinco
primeiras obras de ciência popular e foi um dos pessoas ao lado da mesa de dissecção. Há versões em que
manuscritos mais populares na Idade Média. Em sua é difícil diferenciar os papéis exercidos por cada um dos
versão original, a enciclopédia circulou presentes e sua hierarquia (figura 3). Em outras, a figura
ininterruptamente pela Europa de meados do século XIII no centro segura uma faca e, explicitamente, executa a
até o início do século XVII. Entre os séculos XIV e XV, ainda dissecção. Há uma pessoa mais velha, vestida mais
em época anterior à invenção da imprensa, a enciclopédia elegantemente, observando e talvez aconselhando o
foi traduzida em vários idiomas e reeditada numerosas procedimento correto (figura 4).9-11
vezes, com o acréscimo de iluminuras e gravuras em
Figura 5 – Xilogravura colorida da “Lição de Dissecção de Mondino de Liuzzi” em Johannes de Ketham: “Fasciculus Medicinae”, 1493 (Fonte:
Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque, EUA, domínio público, disponível em: <https://
www.metmuseum.org/art/collection/search/352478>).
Referências
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2011. p. 191-2. Anothomia: a milestone in the development of
2. Butterfield H. The Origins of Modern Science: 1300- modern anatomy. Clin Anat. 2006;19:581-7.
1800. New York: The Macmillan Company; 1959, p.
48-49.
3. Alves EMO, Tubino P. Medicina na Idade Moderna:
Século XVII [Internet]. Alô Hipocrates. 2018.
Disponível em:
<http://docs.wixstatic.com/ugd/523db2_98a67d58
dbbc41a79e51e4752c626c08.pdf>.
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Studia 2003; 1:323-36.
5. Alves EMO, Tubino P. Proibição das dissecções
anatômicas: fato ou mito? Jornal Brasileiro de
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6. Proskauer C. The significance to medical history of
the newly discovered fourth century Roman fresco.
Bull N Y Acad Med. 1958;34:672-83.
7. Singer C. Thirteenth century miniatures illustrating
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8. MacKinney LC, Bober H. A thirteenth-century medical
case history in miniatures. Speculum. 1960;35:251-9.
9. Surget E. Etude de l'illustration des versions
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de Glanville [mémoire]. Lyon: École Nationale
Supérieure de Bibliothecaires, Université de Lyon;
1980.
10. Steele R. Medieval Lore: An Epitome of the Science,
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Properties of Things. London: Stock; 1893.
11. Carlino A. Books of the body. Chicago and London:
The University of Chicago Press; 1999.
12. Southgate MT. Fasciculus Medicinae. JAMA.
1998;280:1552.
13. DiMaio S, Discepola F, Del Maestro RF. Il Fasciculo di
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the artist. Neurosurgery. 2006;58:187-96.
14. Del Maestro RF. Leonardo da Vinci: the search for the
soul. J Neurosurg. 1998;89:874-87.
15. Bachelli F. Liuzzi, Mondino de’. In: Dizionario
Biografico degli Italiani, vol. 65, Roma: Istituto della
Enciclopedia Italiana; 2005. pp. 309-314.
RESUMO
“Lições de Anatomia” ou “Aulas de Anatomia” são quadros ou gravuras elaborados, em sua maioria, por artistas consagrados que
apresentam dissecções anatômicas feitas desde a Antiguidade. Se examinadas cronologicamente contam, de certo modo, a história
da Anatomia por meio de seu principal método de ensino, ou seja, a dissecção i . Assim fazemos uma revisão das principais obras
sobre o tema que trazem também a presença dos anatomistas responsáveis por essa história. Há uma extensa iconografia a respeito
nos museus e na literatura e na análise de cada imagem acrescentamos um pequeno relato e comentários dos principais momentos
dessa evolução tão importante para a Medicina e para as Artes. Esta é a segunda parte de uma história fascinante.
Palavras-chave: Anatomia. Dissecção. História da Medicina. Educação médica.
ABSTRACT
The "Lessons of Anatomy" are pictures or engravings elaborated mostly by consecrated artists who present anatomical dissections
made since antiquity. If examined chronologically have, in a sense, the history of anatomy through its main teaching method, i.e.,
dissection. Thus we make a review of the main works on the subject that also bring the presence of the anatomists responsible for
this history. There is an extensive iconography about it in museums and literature and in the analysis of each image we add a small
report and commentary on the main moments of this evolution that is so important for Medicine and for the Arts. This is the second
part of a fascinating story.
Key Words: Anatomy. Dissection. History of Medicine. Education, Medical.
Introdução
A partir do século XV, graças às dissecções anatômicas, o estudo da anatomia se consolidou e floresceu nos séculos
seguintes. Não apenas médicos e cirurgiões, mas também artistas se dedicaram ao estudo anatômico. No início do Renascimento,
os artistas – interessados principalmente em músculos, ação corporal e postura – fizeram todos os esforços para dissecar quando e
onde possível e dentre esses se destacaram Leonardo da Vinci (1452-1519) e Michelangelo Buonarotti (1475-1564). Talvez tenham
sido feitas mais dissecções pelos artistas do que pelos próprios anatomistas entre 1400 e 1543.1,2 Mas, em 1543, Andreas Vesalius
(1514-1564) publicou seu memorável trabalho “De humani corporis fabrica libri septem”, mudando a história da anatomia ao rever
a morfologia humana até então ensinada nas universidades europeias.3
1
Professora Associada da Universidade de Brasília (UnB). Doutora em M edicina pela Escola Paulista de M edicina–Unifesp. Titular do Colégio
Brasileiro de Cirurgiões, da Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica, Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de História
da M edicina. Coordenadora das disciplinas Anatomia da Criança e História da M edicina, Faculdade de M edicina (FM )–UnB.
2
Professor Emérito da UnB. Doutor e Livre-Docente pela Universidade de São Paulo. Vice-Presidente da Academia Nacional de Cirurgia
Pediátrica. Emérito do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. M embro Honorífico da Sociedade Brasileira de Anatomia. Titular da Sociedade
Brasileira de História da M edicina. Professor das disciplinas Anatomia da Criança e História da M edicina, FM –UnB.
Figura 1 – Frontispício (xilogravura colorida à mão) de “ Vesalius, Andreas: Andreae Vesalii Bruxellensis, scholae medicorum Patavinae professoris, de Humani
corporis fabrica Libri septem. Basileae: [ex officina Ioannis Oporini], [Anno salutis reparatae 1543]” (fonte: Universitätsbibliothek Basel, AN I 15,
http://doi.org/10.3931/e-rara-20094).
O maior anatomista do século XVI foi Andreas Universidade de Pádua, graduando-se médico em cinco de
Vesalius (forma latinizada de Andries van Wesel) ou André dezembro desse mesmo ano; no dia seguinte à formatura foi
Vesálio, em português. Vesálio (1514-1564) nasceu em nomeado “chirurgiæ explicator” (cirurgião explicador),
Bruxelas, na época parte do Sacro Império Romano- responsável pelas aulas práticas de anatomia. Vesálio tornou-
Germânico, no seio de uma família de médicos e se um dos mais ilustres professores da universidade e,
farmacêuticos. Estudou medicina em Paris entre 1533 e 1536, baseado nas numerosas dissecções que fez em cadáveres
onde se tornou o demonstrador de anatomia de um de seus humanos, escreveu a obra fundamental da anatomia intitulada
professores, Jean Guinter de Andernach (1487-1574). É “De humani corporis fabrica libri septem”. A “Fábrica” foi
possível que nessa ocasião tenha começado a apreciar o valor ilustrada, provavelmente, por Jan van Calcar (circa 1499-
da inspeção visual direta e a perceber que algumas descrições 1546) e tinha sete partes consagradas sucessivamente aos
de Galeno (circa 129-201) estavam mais de acordo com a ossos, músculos, aparelho vascular, sistema nervoso, órgãos
anatomia animal do que com a humana. Em 1537 foi para a do abdome, órgãos do tórax e ao cérebro; publicada na
Figura 2 – John Banister ministrando uma aula sobre vísceras no “Barber-Surgeons' Hall” em Londres, 1581 (fonte: manuscrito ilustrado da “ Hunterian Collection”,
Universidade de Glasgow, obra de arte em domínio público).
Figura 3 – “ Lição de Anatomia do Dr. Deijman”, Rembrandt, 1656. Quadro, atualmente, em exposição temporária no “Hermitage Amsterdam” (obra de arte em
domínio público, fotografada pelos autores em 2014, no “ Amsterdam Museum”, Amsterdã, Holanda).
Rembrandt pintou apenas dois quadros com o tema “Lição de (prefeito) da cidade. Ambos foram pintados por encomenda
Anatomia”. O primeiro em 1532, quando tinha apenas 26 da Guilda dos Cirurgiões de Amsterdã em homenagem aos
anos de idade, é a muito famosa “Lição de Anatomia do Dr. seus professores. Infelizmente, a pintura atual corresponde a
Tulp”. Quase um quarto de século depois pintou a “Lição de apenas uma pequena parte do quadro original. A maior parte
Anatomia do Dr. Deijman” (figura 3), um quadro menos da tela foi destruída em um incêndio ocorrido em 1723,
conhecido, mas igualmente memorável. Johannes (Jan) embora a compreensão da composição original tenha sido
Deijman ou Deyman (1620-1666) sucedeu Nicolaes Tulp preservada em um esboço deixado por Rembrandt (figura 4).
(1593-1674) na função de professor de anatomia da Guild a É um Rembrandt muito mais maduro que retrata o Dr.
dos Cirurgiões em 1653, quando Tulp foi eleito burgomestre Deijman, cuja cabeça não é visível, dissecando o cérebro de
Figura 4 – Esboço preparatório do quadro “ Lição de Anatomia do Dr. Deijman”, Rembrandt, 1656 (fotografado pelos autores, em 2014, no “Amsterdam Museum”,
Amsterdã, Holanda)
Frederik Ruysch (1638-1731) nasceu em Haia, nos sendo nomeado para vários cargos: em 1668, instrutor-chefe
Países Baixos, e devido à morte prematura do pai tornou-se das parteiras de Amsterdã; em 1679, médico conselheiro
aprendiz de boticário ainda muito jovem. Assim graduou-se (“Medicus forenses”) dos tribunais de Amsterdã; em 1685,
primeiro em farmácia, chegando a abrir uma pequena loja. professor de botânica do “Athenaeum Illustre” (instituição
Entretanto decidiu estudar medicina na Universidade de precursora da Universidade de Amsterdã) e supervisor do
Leyden, obtendo o grau de médico em 1664. A grande paixão jardim botânico. Apesar de todas essas atividades, Ruysch era
de Ruysch sempre foi a anatomia e em 1666, aos 28 anos de essencialmente um anatomista. Seu grande interesse em
idade, sucedeu o Dr. Deijman como “praelector anatomiae” anatomia e dissecção o levou a descobertas – como as
da Guilda dos Cirurgiões. Ruysch ficou no cargo durante 65 válvulas dos vasos linfáticos e o órgão vomeronasal em
anos, ou seja, enquanto viveu. Sua carreira foi ascendente animais – e ao desenvolvimento de métodos de preservação
Figura 5 – “ Lição de Anatomia do Dr. Frederik Ruysch”, Jan van Neck, 1683. Obra, atualmente, em exposição temporária no “ Hermitage Amsterdam” (crédito da
fotografia: “Amsterdam Museum”, obra de arte em domínio público).
i
Seguindo Joffre Rezende e Idel Becker, adotamos o termo usar ressecação em lugar de ressecção. Por que, então, dissecação
dissecção em vez de dissecação, forma redundante e desnecessária, em vez de dissecção?” Revendo artigos indexados na BIREM E,
de vez que a língua portuguesa já possui o termo dissecção que é Joffre Rezende cita um caso indexado como dissecação, mas que se
muito mais próximo de sua origem latina e dos termos equivalentes refere à dessecação, cujo significado é inteiramente diverso de
em outros idiomas. Na literatura médica brasileira predomina a dissecção (Rezende JM . Linguagem médica. 4. ed. Goiânia: Kelps;
forma dissecção. Idel Becker argumenta: “Ninguém pensaria em 2011. p. 191-2.).
Orientador:
Prof. Dr. Daniel Pinheiro Hernandez
Instituição:
Centro Universitário Serra Dos Órgãos (Unifeso) Teresópolis-Rj
RESUMO
A História da Medicina vem sendo construída ao longo das eras, concomitante ao crescimento da própria Medicina. E seu estudo
permite aproximar o estudante de medicina do pensamento humanístico, tão necessário para uma formação plena do médico. Esta
aproximação promove o pensamento crítico, possibilita entender e lidar com as várias mudanças que existiram e existem nos tempos,
constrói valores culturais e de concepção de mundo no graduando, além de oportunizar a construção de uma postura profissional ao
futuro médico enfrentando o tecnicismo excessivo. Neste contexto, debates para a inserção e manutenção do seu ensino são extre-
mamente necessárias, dentro do currículo do ensino da faculdade de Medicina, uma vez que o médico não é apenas um técnico, mas
o portador dos grandes ensinamentos da nobre e sagrada arte hipocrática.
Palavras-chave: História da Medicina; Educação Superior; Medicina.
ABSTRACT
The history of Medicine has been built over the years, along with the growth of medicine itself. It study allows the medical student
to grow closer to the humanistic thinking, much needed for a full medical training. This acquaintance promotes critical thinking,
better understanding e approach of the several changes that occur as the time passes, builds cultural principles and concepts of the
world in the head of the student and also gives the opportunity to build a professional posture, facing the excessive technicality. In
that context, debates of it’s insertion and maintenance are a necessity inside the medical school’s curriculums, once the doctor isn’t
just a technician, but holder of big knowledges of the noble and sacred hippocratic art.
Keywords: History of Medicine; College Education; Medicine.
Orientadora:
Profa. Dra. Maria Helena Itaqui Lopes
Instituição:
Universidade de Caxias do Sul (UCS) - RS
RESUMO A odisseia de horrores enfrentada pelos alienados ao longo da história percorre desde os primórdios da civilização até
os dias atuais. Entretanto, foi graças ao olhar racional da medicina que os alienados puderam gozar dos direitos básicos à dignidade
humana. Uma das peças-chave para esse processo foi a atuação de Jean-Étienne Esquirol, psiquiatra pioneiro nos mais variados
sentidos, seja pelo emprego da musicoterapia, das primeiras aulas de psiquiatria ministradas na história ou da atuação política. O
presente estudo recorda a vida e a importância de Esquirol para a compreensão da doença mental, constituindo um marco na história
da medicina, em especial na psiquiatria.
PALAVRAS-CHAVE: História da Psiquiatria; Esquirol
ABSTRACT
The odyssey of horrors faced by the mental illness all over the history comes from the beginnings of civilization to the current days.
However, it was due to the rational looking of medicine that the mental illness could joy of basic rights to the human dignity. One
of the key factors of this process was the acting of Jean-Étienne Esquirol, a pioneer psychiatrist in the most various ways: for the
use of music therapy, for the firsts psychiatrist classes in history or his political activity. The present study recalls the life and
importance of Esquirol for the understanding of mental illness, constituting a milestone in the history of medicine, especially in
psychiatry.
KEY-WORDS: History of Psychiatry; Esquirol
INTRODUÇÃO
Ao apreciarmos a obra-prima de Vincent Van Gogh,
"Noite Estrelada" (Figura 1), deparamo-nos com a visão da
janela do Hospício St. Paul de Mausole, em Saint Remy, no
interior francês. Nela experimentamos à primeira vista as
sensações de deslumbramento e melancolia que
acompanharam o artista ao longo de sua vida.
Inevitavelmente, ficamos frente a frente com a
paradoxalidade entre loucura e genialidade que há séculos
permeia a filosofia. Entretanto, foi um psiquiatra o homem a
diferenciar definitivamente a capacidade de cognição e
criatividade de transtornos alucinatórios e da vasta
miscelânea de transtornos mentais que sempre atormentaram
Figura 1: Noite Estrelada, Vincent Van Gogh (1889)
a humanidade. Esse foi Jean-Étienne Esquirol, psiquiatra Fonte: Google, acesso livre.
francês que protagonizou, junto com Philippe Pinel, a
Reforma Psiquiátrica que mudou o modo como o mundo
REFERÊNCIAS
1. 1.ALBOU, Phillippe.Esquirol et la démence. 7. 7.MORA,George. On the Bicentenary of the Birth of
Historie des Sciences Medicales 2012. Esquirol (1772-1840), the First Complete
2. 2.BLOM, Jan Dirk. A Dictionary of Psychiatrist. Am J Psychiatry. 1972.
Hallucinations.Springer Science & Business Media, 8. 8.ODA, Ana Maria Galdini Raimundo. O início da
2009. assistência aos alienados no Brasil ou importância e
3. 3.ESQUIROL, Jean-Étienne. Da lipemania ou necessidade de estudar a história da psiquiatria. Rev
melancolia (1820). Rev Latinoam Psicopatol Latinoam Psicopatol Fundam. 2004.
Fundam, 2003. 9. 9.PACHECO, Maria Vera Pompêo de Camargo.
4. 4.FOUCAULT, Michel. História da loucura na Idade Esquirol e o surgimento da psiquiatria
Clássica. 8a ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. contemporânea. Rev Latinoam Psicopatol Fundam.
5. 5.GUTMAN, Guilherme. Surdos, mudos e 2013.
alucinados. Rev Latinoam Psicopatol Fundam. 10. 10.SWAIN,Gladys. Da ideia moral da loucura ao
2010. tratamento moral. Análise Psicológica. 1981.
6. 6.MINISTÉRIO DA SAÚDE (BRASIL). Memória
da Loucura. Brasília: Centro Cultural da Saúde,
2003.
Joana Polesello
Cristian Pigato
Orientadora:
Profa. Dra. Maria Helena Itaqui Lopes
Instituição:
Universidade de Caxias do Sul (UCS) - RS
RESUMO
Leonardo da Vinci, além de pintor, escultor, músico, cientista, arquiteto, engenheiro e inventor, também atuou na medicina. Para
aprimorar sua anatomia com uma perspectiva artística, da Vinci usou do seu interesse em engenharia e aquilo que ele chamou de
“elementos das máquinas”, foi, na verdade, um esforço para entender o mecanismo do corpo. É importante ressaltar o fato de que
Leonardo não era formalmente um anatomista ou um físico. Entretanto, tal questão não o impediu de realizar inúmeras descobertas
originais, introduzindo métodos modernos de ilustração anatômica. Os detalhes, os cortes e os ângulos das figuras impressionam
pelo realismo e respeito pela proporcionalidade que existe no corpo humano. O presente artigo busca relacionar a arte de Leonardo
da Vinci com o seu trabalho e estudo anatômico, realizado com o auxílio de sua experiência em diversas áreas do conhecimento.
ABSTRACT
Leonardo da Vinci, as well as a painter, sculptor, musician, scientist, architect, engineer and inventor, also acted in medicine. To
enhance his anatomy with an artistic perspective, da Vinci used his interest in engineering and what he called "machine elements,"
was in fact an effort to understand the mechanism of the body. It is important to note the fact that Leonardo was not formally an
anatomist or a physicist. However, this question did not prevent him from making innumerable original discoveries, introducing
modern methods of anatomical illustration. The details, the cuts and the angles of the figures impress by the realism and respect for
proportionality that exists in the human body. This article seeks to relate the art of Leonardo da Vinci with his work and anatomical
study, carried out with the aid of his experience in several areas of knowledge.
Palavras-chave: Leonardo da Vinci; anatomia; da Vinci; história da anatomia.
Keywords: Leonardo da Vinci; anatomy; da Vinci; history of anatomy.
5. CONCLUSÃO
Concluindo, Leonardo da Vinci (1452–1519) é um
dos grandes talentos contribuintes da história da anatomia e,
por extensão, do estudo da medicina. Era dotado da arte de
observar e desenhar como poucos. Ele possuía os
Figura 4 Leonardo da Vinci. “Sketch of the brachial instrumentos diversos dos anatomistas de sua época e,
plexus.” Fonte: Google acesso livre efetivamente, concebeu sua ciência anatômica
(fundamentada em seus desenhos e cujos resultados
Com relação ao sistema cardiovascular, Leonardo
expressavam concepções da filosofia natural da época) de
acreditava na ocorrência de uma “combustão cardíaca”,
modo diverso da ciência dos anatomistas de seu período: a
confirmava a existência de um “rete mirabile” em seres
ciência dele era uma disposição de produzir para demonstrar.
humanos, o fato de que, em seus desenhos, a veia testicular
Conciliando ciência e arte, foi somente Da Vinci quem
direita desembocava muito alta na veia cava inferior, a
promoveu um estudo do corpo humano com perfeição. Seu
existência do transporte unidirecional do sangue
trabalho esse que transcendeu as necessidades do artista e
(ROBICSEK, 1991) e a representação do coração contendo
mergulhou na busca científica da anatomia, referências de
bandas moderadoras nos lados esquerdo e direito (hoje se
beleza e inspiração até os dias atuais.
REFERÊNCIAS
Mario Brock
Nascido em 9 de outubro de 1938 no Rio de Janeiro, Brasil)
é um neurocirurgião cidadania alemã e brasileira e
trabalha na Alemanha como neurocirurgião desde 1966
A segunda Guerra mundial teve inı́cio às 04:45 ser novamente a capital da Alemanha reunificada em 3 de
horas do dia 1° de setembro de 1939 com o bombardeio outubro de 1990 (ver abaixo) por decisão do Parlamento
da Westerplatte, uma peı́nsula situada frente à cidade alemão em 20 de junho de 1990.
polonesa de Gdansk, pela fragata alemã Schleswig
Holstein e terminou com a assinatura da rendicã o Em 7 de outubro de 1949 a metade comunista da
incondicional da Alemanha em 8 de maio de 1945. Alemnha foi transformada em Repú blica Democrática da
Alemanha (Deutsche Demokratische Republik, DDR),
O total de vı́timas desta Guerra, que foi a maior da tendo por capital o antigo setor russo de Berlim. Com a
histó ria da humanidade, é avaliado em entre 60.000.000 reunificaçã o da Alemanha em 3 de outubro de 1990, a
e 80.000.000, dos quais 6.000.000 judeus. Ela alterou DDR deixou de existir, sendo incorporada na Repú blica
profundamente o mapa da Europa, em especial o da Federativa da Alemanha.
Alemanha, cuja parte leste ficou sob o domı́nio da União
Sovié tica e passou a ser conhecida como “Zona Sovié tica” A fronteira entre as “duas Alemanhas”,
ou “Alemanha Comunista”, enquanto a parte oeste do denominada ”fronteira intra-alemã ” (innerdeutsche
territó rio original, que foi ocupada pelos Estados Unidos, Grenze) pelos habitantes da “Alemanha livre”, tinha 1.400
França e o Reino Unido ficou sendo a Alemanha Oeste ou km de comprimento e se estendia desde a fronteira da
Democrática. Berlim, a entoo capital da Alemanha antes Baviera com a Tchecoslováquia no sul até Lü beck no Mar
da guerra, ficava situada em meio ao territó rio da Zona Báltico. Sua largura variava entre 10 metros e algumas
Sovié tica, como se fosse uma ilha, e ficou dividida em centenas de metros. Era controlada por torres ocupadas
quatro setores: um setor sovié tico, e trê s setores ditos por 5 soldados, equipadas com armas de curto e longo
“livres” (um setor francês, um setor americano e um setor alcance e possuı́am um holofote de alta potê ncia com um
britânico). O setor sovié tico passou a servir como capital raio de ação de 360°. Esta era a “Cortina de Ferro°,
da Zona Sovié tica, já que se encontrava em meio ao també m conhecida como Faixa da Morte. Ceifou ao todo
territó rio da mesma. Como, poré m, os demais trê s setores 371 vidas, vı́timas civis da tentativa de fuga da DDR.
de Berlim estavam “ilhados” em meio à Zona Sovié tica e Com a capital da Alemanha ocidental em Bonn, os
territorialmente distantes da Alemanha democrática, trê s setores democráticos de Berlim (americano, francê s
surgiu a necessidade de se encontrar uma capital para e britânico) passaram a constituir uma “entidade polı́tica
esta ú ltima. Havia nesta parte da Alemanha uma sé rie de independente”, poré m intimamente relacionada à
grandes metró poles que poderiam perfeitamente servir Alemanha ocidental e dela dependente do ponto de vista
de capital: Frankfurt, Munique, Hamburgo, Dusseldorf, logı́stico . Berlim Ocidental ficou sendo conhecida
Colô nia. Poré m para demonstrar claramente que o povo popularmente como “West Berlin”,.
alemão esperava superar no futuro a divisã o do paı́s
causada pela guerra, o parlamento e os aliados sá bia- e Geograficamente isolada, West Berlin só podia
demonstrativamente escolheram uma cidade pequena e ser acessada por trê s “corredores aé reos” com uso
pouco ostentativa, embora com uma tradição de mais de exclusivo pelas companhias PanAm, Air France e British
2000 anos, desde a é poca romana: Bonn, que na é poca Airways e interditados para a Lufthansa. O acesso
possuı́a apenas um pouco mais do que 100.000 terrestre, fluvial e ferroviário a Berlim ocidental através
habitantes. Para enfatizar ainda mais esta decisão, Bonn da Alemanha comunista ficou limitado a poucos
recebeu o tı́tulo de “capital provisó ria”. Berlim só voltou a “corredores” rigorosamente controlados pela DDR e pela
Momentos do Congresso