Fuvest2006 - Resolução Objetivo
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OBJETIVO F U V E S T - ( 2 ª F a s e ) J a n e i r o /2 0 0 6
quesito se encontra no trecho "respeitando a
equivalência de sentido que a expressão 'Tanto se
lhes dá (...)' tem no texto". Esse trecho deveria ser
substituído por uma redação mais simples, direta e
precisa: mantendo-se o sentido que a expressão
"Tanto se lhes dá" tem no texto", pois não é a
"equivalência de sentido que a expressão... tem no
texto" que se quer respeitada.
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3O Brasil já está à beira do abismo. Mas ainda vai ser
preciso um grande esforço de todo mundo pra
colocarmos ele novamente lá em cima.
Millôr Fernandes.
a) Em seu sentido usual, a expressão sublinhada
significa “às vésperas de uma catástrofe”. Tal
significado se confirma no texto? Justifique sua
resposta.
b) Sem alterar o seu sentido, reescreva o texto em um
único período, iniciando com “Embora o Brasil (...)” e
substituindo a forma “pra” por “para que”. Faça as
demais transformações que são necessárias para
adequar o texto à norma escrita padrão.
Resolução
a) Não, o significado da expressão, no texto, é outro. A
locução "à beira de..." é tomada em seu sentido
próprio: "perto do limite extremo de", "à margem de",
"na beirada de". O efeito humorístico se deve ao fato
de o texto implicar o sentido de o país estar já imerso
no abismo, no limite extremo dele, ou seja, na
beirada do abismo, sendo, por isso, necessário muito
esforço para que ele seja colocado de novo fora dele.
b) Embora o Brasil já esteja à beira do abismo, ainda vai
ser preciso um grande esforço de todo o mundo para
que o coloquemos novamente lá em cima.
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Crianças perguntam... Einstein responde!
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5 (...)
Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
(...).
“Vai passar”, Chico Buarque e Francis Hime.
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6 Há certas expressões significativas: “Contra fato
não há argumento”. Elas querem dizer que, diante da
evidência do real, não cabem as argumentações em
contrário, o que em princípio parece estar certo. Mas,
na verdade, significam também coisas como “o que
vale é a força” ou “idéia não resolve”. Assim, pregam
o reconhecimento do fato consumado, a capitulação
diante do que se impôs no terreno “prático”, negando
o direito de discutir, de argumentar para mudar a
realidade. E então se tornam sinistras.
Antonio Candido, Recortes.
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7POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no
[morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
[afogado.
Manuel Bandeira, Libertinagem.
a) Relacione o título do poema à corrente estética da
qual o texto participa.
b) O poema adota o procedimento de relatar os
acontecimentos sem comentá-los ou interpretá-los
diretamente.
Que atitude esse procedimento pede ao leitor?
Explique brevemente.
Resolução
a) O que há de Modernismo no título é a incorporação
poética do cotidiano, já enunciada na intenção de
extrair “de uma notícia de jornal” a matéria-prima do
lirismo e da poeticidade. É modernista, também, a
atitude, já no título provocativa, de buscar poesia
onde a tradição e as convenções viam “antipoesia”,
informação e notícia.
b) O despojamento com que Bandeira narra o episódio,
reproduzindo a linguagem de uma hipotética notícia
de jornal, sem qualquer metaforização, sem um
adjetivo sequer, deixa inteiramente ao leitor a
possibilidade de sentir (ou não) o drama humano do
suicida “que se mata sem explicação”. Cabe à
sensibilidade do leitor a percepção da dimensão
trágica do cotidiano, o lirismo que se esconde no
fato, na vida, estampados nas páginas dos jornais.
Esta é uma das grandes qualidades de Bandeira: a
poesia desentranhada do cotidiano, das situações
banais da vida, despojada, anti-retórica, por vezes
áspera e dissonante, outras, terna e delicada, que
surpreende e comove exatamente pelo que
contidamente revela.
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8a) Referindo-se a suas intenções ao escrever o livro
Macunaíma, Mário de Andrade afirmou:
“Um dos meus interesses foi desrespeitar
lendariamente a geografia e a fauna e flora
geográficas”.
No livro, esse “interesse” é alcançado? Justifique
brevemente.
b) Sobre a personagem Macunaíma, Mário de Andrade
afirmou:
“É fácil de provar que estabeleci bem dentro de todo
o livro que Macunaíma é uma contradição de si
mesmo”.
A afirmação sublinhada se justifica? Explique
sucintamente.
Resolução
a) Tanto neste quesito como no seguinte as respostas
que se impõem são cabalmente afirmativas. Em a,
com efeito, Mário de Andrade opera uma “des-
geografização” e uma “desregionalização” da fauna,
da flora e do folclore nacionais. Peixes, pássaros e
mitos amazônicos nadam no Tietê, sobrevoam
bairros de São Paulo e se projetam na aventura
paulistana de Macunaíma. Lendas gaúchas são
invocadas no Uraricoera amazônico. O Wenceslau
Pietro de Pietra é a um só tempo o regatão vene-
zuelano, o imigrante italiano e o gigante Piaimã, o de-
vorador de gente das lendas indígenas. A rapsódia
marioandradiana constitui-se como um caleidoscópio
do Brasil, como uma colagem na qual o tempo e o
espaço são reorganizados para comporem uma
síntese representativa de todo o país.
b) Macunaíma, o “herói da nossa gente”, “o herói sem
nenhum caráter” compõe uma síntese represen-
tativa de um presumido modo de ser brasileiro, de
um povo mestiço, em formação. O epíteto “herói
sem nenhum caráter” contempla exatamente o ca-
ráter polimorfo do protagonista: índio, negro e bran-
co, corpo de adulto e “carinha enjoativa de piá”, he-
rói e anti-herói, vitorioso e derrotado, esperto e ludi-
briado.
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Capítulo LXVIII / O Vergalho
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de fato caracterizar o nível social das personagens.
Brás Cubas demonstra pertencer à classe alta quando
utiliza a norma culta, bem percebida pela ênclise em
“Fez-te” e “Perdoa-lhe”. Prudêncio demonstra per-
tencer à classe baixa ao empregar a variante coloquial,
captada por vocábulos como “nhonhô”; pelo
emprego do pronome pessoal ele em “deixei ele na
quitanda”, quando o padrão gramatical pede “deixei-o
na quitanda”; pela utilização da preposição em como
regime do verbo ir (“para ir na venda”), quando a
norma culta exige a (“para ir à venda”).
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10
Havia cinco anos que D. Felicidade o amava. (...) Acácio
tornara-se a sua mania: admirava a sua figura e a sua
gravidade, arregalava grandes olhos para a sua
eloqüência, achava-o numa “linda posição”. O
Conselheiro era a sua ambição e o seu vício! Havia
sobretudo nele uma beleza, cuja contemplação
demorada a estonteava como um vinho forte; era a
calva. Sempre tivera o gosto perverso de certas
mulheres pela calva dos homens, e aquele apetite
insatisfeito inflamara-se com a idade. Quando se punha
a olhar para a calva do Conselheiro, larga, redonda,
polida, brilhante às luzes, uma transpiração ansiosa
umedecia-lhe as costas, os olhos dardejavam-lhe, tinha
uma vontade absurda, ávida de lhe deitar as mãos,
palpá-la, sentir-lhe as formas, amassá-la, penetrar-se
dela! Mas disfarçava, punha-se a falar alto com um
sorriso parvo, abanava-se convulsivamente, e o suor
gotejava-lhe nas roscas anafadas* do pescoço. Ia para
casa rezar estações, impunha-se penitências de muitas
coroas à Virgem; mas apenas as orações findavam,
começava o temperamento a latejar. E a boa, a pobre D.
Felicidade tinha agora pesadelos lascivos e as
melancolias do histerismo velho.
Eça de Queirós, O primo Basílio.
* anafadas = gordas
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REDAÇÃO
Texto 1
Texto 2
Texto 3
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artista. Relacione esses três textos e com base nas
idéias neles contidas, além de outras que julgue
relevantes, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA,
argumentando sobre o que leu acima e também sobre
os outros pontos que você tenha considerado
pertinentes.
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Comentário da Prova
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