Denúncia Brumadinho
Denúncia Brumadinho
Denúncia Brumadinho
2
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
do RG 22291816, com residência na Rua Roquete Mendonca, n.º 215,
Apto. 301, São José, Belo Horizonte/MG;
3
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
14) ARSÊNIO NEGRO JUNIOR (Consultor Técnico da TÜV
SÜD), brasileiro, nascido em 03.04.1950, filho de NAIR NEGRO e
ARSENIO NEGRO, inscrito no CPF sob o n.º 666.687.438-20, com
residência na Rua Moras, n.º 418, Apto. 81, Vila Madalena, São
Paulo/SP;
4
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SUMÁRIO
..................................................................................................................................... 38
B) ANÁLISE PROBABILÍSTICA DE ESTABILIDADE GEOTÉCNICA (PROBABILIDADE ANUAL DE
FALHA - PAF) E AVALIAÇÃO DE RISCO .......................................................................... 44
C) RISCO GEOTÉCNICO INACEITÁVEL / INTOLERÁVEL...................................................... 45
5
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
V.I SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA DA BARRAGEM I POR POTENCIAL COMPROMETIMENTO DA
SEGURANÇA DA ESTRUTURA - ANÁLISE DE ESTABILIDADE INACEITÁVEL (INTOLERÁVEL)
PARA EROSÃO INTERNA E LIQUEFAÇÃO .......................................................................... 72
A) NÍVEL 1 DE EMERGÊNCIA........................................................................................... 73
6
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
B) RELAÇÃO CRIMINOSA ENTRE VALE E TÜV SÜD: PRESSÃO, CONLUIO, RECOMPENSAS
E CONFLITO DE INTERESSES .......................................................................................... 340
13) CHRIS-PETER MEIER (GERENTE DA TÜV SÜD NO BRASIL E GESTOR DA TÜV SÜD
NA ALEMANHA) ........................................................................................................... 368
14) ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR (CONSULTOR TÉCNICO DA TÜV SÜD) ........................ 377
15) ANDRÉ JUM YASSUDA (CONSULTOR TÉCNICO DA TÜV SÜD) ............................ 389
16) MAKOTO NAMBA (COORDENADOR DA TÜV SÜD) ............................................ 401
17) MARLÍSIO OLIVEIRA CECÍLIO JÚNIOR (ESPECIALISTA DA TÜV SÜD) ................. 418
18) TÜV SÜD BUREAU DE PROJETOS E CONSULTORIA LTDA. .................................. 429
VIII MATERIALIDADE DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE ..................................... 430
II.I CRIMES CONTRA A FAUNA ....................................................................................... 430
II.II CRIMES CONTRA A FLORA ...................................................................................... 436
II.III CRIMES DE POLUIÇÃO ........................................................................................... 443
IX MATERIALIDADE DOS CRIMES CONTRA A VIDA E QUALIFICADORAS ........................... 450
IX.I) QUALIFICADORA: RECURSO QUE DIFICULTOU OU IMPOSSIBILITOU A DEFESA DAS
7
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
1) FATOS CRIMINOSOS E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS
8
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Nas mesmas circunstâncias de tempo e local, os mesmos denunciados FABIO
SCHVARTSMAN, SILMAR MAGALHÃES SILVA, LÚCIO FLAVO GALLON
CAVALLI, JOAQUIM PEDRO DE TOLEDO, ALEXANDRE DE PAULA
CAMPANHA, RENZO ALBIERI GUIMARÃES DE CARVALHO, MARILENE
CHRISTINA OLIVEIRA LOPES DE ASSIS ARAÚJO, CÉSAR AUGUSTO PAULINO
GRANDCHAMP, CRISTINA HELOÍZA DA SILVA MALHEIROS, WASHINGTON
PIRETE DA SILVA, FELIPE FIGUEIREDO ROCHA, CHRIS-PETER MEIER,
ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR, MAKOTO NAMBA e MARLÍSIO OLIVEIRA CECÍLIO
JÚNIOR, bem como as pessoas jurídicas VALE S.A. e TÜV SÜD Bureau de Projetos Ltda.
praticaram crimes ambientais contra a fauna, contra a flora e de poluição, eis que, através
da onda de rejeito de minério decorrente do rompimento da Barragem I:
FAUNA
Mataram espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida
permissão, licença ou autorização da autoridade competente, bem como modificaram,
danificaram e destruíram ninhos, abrigos ou criadouros naturais (art. 29, caput, e art. 29, §1º,
II, Lei n.º 9605/98). O crime foi praticado em unidades de conservação (art. 29, § 4º, V, Lei n.º
9605/98) e ocorreu com emprego de método capaz de provocar destruição em massa (art. 29,
§ 4º, VI, Lei n.º 9605/98);
Provocaram, por carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática
(art. 33, caput, Lei n.º 9605/98);
FLORA
Destruíram e danificaram florestas consideradas de preservação permanente, bem como
destruíram e danificaram florestas consideradas de preservação permanente em formação (art.
38, caput, Lei n.º 9605/98);
Destruíram e danificaram vegetação secundária, em estágio avançado e médio de
regeneração, do Bioma Mata Atlântica (art. 38-A, caput, Lei n.º 9605/98).
Impediram e dificultaram a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação
(art. 48, Lei n.º 9605/98);
9
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
POLUIÇÃO
Causaram poluição de diversas naturezas em níveis tais que resultaram e puderam resultar
em danos à saúde humana e provocaram a mortandade de animais e a destruição significativa
da flora (art. 54, caput, Lei n.º 9.605/98). O crime causou poluição hídrica que tornou necessária
a interrupção do abastecimento público de água de comunidades (art. 54, §2º, III, Lei n.º
9.605/98). O crime ocorreu por lançamento de resíduos sólidos, líquidos e detritos, em
desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos (art. 54, §2º, V, Lei n.º
9.605/98).
10
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
1
Consta no Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM) o registro
da Barragem I no empreendimento da mineradora VALE S.A., filial VALE Paraopeba (CNPJ:
33.592.510/0035-0). O Complexo Minerário do Paraopeba é formado pelas Minas Mutuca, Mar Azul,
Córrego do Feijão, Jangada e Capão Xavier. A Barragem I rompida se situava no Complexo do Feijão.
11
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
12
Figura 01 – Localização da Mina Córrego do Feijão, Complexo Paraopeba - VALE S. A., Município de Brumadinho, Região Metropolitana de
BH/MG. Fonte: Imagens adaptadas da série histórica disponível no Google Earth.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
O Dique Inicial da Barragem I (base da barragem), projetado na década de 1970
sob a gestão da empresa de capital alemão Ferteco Mineração S.A., media 18 metros de altura,
o que representava 874 metros de elevação acima do nível do mar. Desde o início da operação
em 1976, foram realizados sucessivos alteamentos da estrutura, sendo que, em 2019, a face do
maciço media 86 metros de altura e cerca de 720 metros de largura. As medidas da frente
da Barragem I seriam equivalentes a uma dezena de edifícios de 24 andares, lado a lado, sem
espaços entre si, formando um grande paredão de 700 metros de largura.
Figura 02 – Vista aérea da Barragem I - Mina Córrego do Feijão, Complexo Paraopeba - VALE S. A.,
Brumadinho/MG. Fonte: Apresentação Stability and Liquefaction Review Barragem I – Feijão Mine.
POTAMOS, PIESEM 16.11.2017.
13
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
14
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 03 – Vista aérea da Barragem I - Mina Córrego do Feijão, Complexo Paraopeba - VALE S. A.,
Brumadinho/MG. Fonte: Cálculo de Risco Monetizado – Barragem I – Relatório Técnico – Estudo de
Ruptura Hipotética (Dam Break). POTAMOS, Relatório POTVAL02G2-1-TC-RTE-0032, Aprovado
em 10.01.2018.
15
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
2
Extraídas do Parecer Técnico de Engenharia CEAT/MPMG - SGDP n.º 2928573, elaborado pela
Central de Apoio Técnico do Ministério Público. Fonte: Imagens captadas pela VALE S.A. através do
monitoramento por câmera de vídeo da Barragem I
16
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 04 – Vista Frontal, antes do rompimento, da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
11:56:01 - que permaneceu até aproximadamente às 12:28:23
Figura 05 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:24
Figura 06 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:25.
Figura 07 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:26
17
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 08 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:27
Figura 09 – Vista Frontal do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo Paraopeba
- VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 – 12:28:28
Figura 10 – Vista Frontal do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo Paraopeba
- VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 – 12:28:29
Figura 11 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 – círculo amarlo realça o jorro de
água saindo na parte baixa do Maciço - Mina Córrego do Feijão, Complexo Paraopeba - VALE S. A.,
Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 – 12:28:30
18
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 12 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:31
Figura 13 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:32
Figura 14 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:33
19
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 15 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:34
Figura 16 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:45
Figura 17 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S.A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:55
20
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 18 – Vista Frontal do início do rompimento da Barragem 1 - Mina Córrego do Feijão, Complexo
Paraopeba - VALE S. A., Brumadinho/MG. Fonte: B1 – CAM1 – BARRAGEM – 25.01.2019 –
12:28:35
Percebe-se, pelas imagens acima, que, entre 12h 28m e 24s e 12h 28m e 31s, ou
seja, em um intervalo de apenas 07 (sete) segundos, foi possível verificar os primeiros sinais de
deformações da ruptura, seguido de um jato de água sob pressão (saindo na parte baixa do
maciço, mostrando o estado de saturação em que ele se encontrava) e o desenvolvimento da
ruptura em toda a largura da barragem, ao qual se seguiu o arremesso do maciço com grande
energia para jusante, fluindo como um tsunami sobre as áreas do empreendimento.
21
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
II GESTÃO DO RISCO GEOTÉCNICO E RISCO INACEITÁVEL
No início dos anos 2000, o Estado de Minas Gerais foi pioneiro em inaugurar
legislação especificamente voltada para segurança de barragens de mineração. As rupturas de
estruturas da Mineração Rio Verde (distrito de Macacos, município de Nova Lima/MG – 2001)
e da Florestal Cataguases (município de Cataguases/MG – 2003) desencadearam debates que
culminaram na implantação do Programa de Gestão de Barragens do Estado de Minas
Gerais.
3
Termo utilizado pelo denunciado Joaquim Toledo (VALE) em e-mail enviado para o especialista
Armando Mangolin (VALE), em 31.07.2018: “A B1 de Feijão é mais tenebrosa que imagino”.
4
Sociedade de Risco é um termo cunhado e difundido por Ulrick Beck e Anthony Giddens, dentre
outros, usado para descrever a maneira sistemática como a sociedade se organiza para lidar com os riscos
e inseguranças induzidos e introduzidos pela própria modernização.
22
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
O Programa foi iniciado com a publicação da Deliberação Normativa COPAM
n.º 62/2002 e evoluiu com as Deliberações Normativas COPAM n.º 87/2005 e 124/2008, bem
como com a Resolução Conjunta SEMAD/FEAM n.º 2.372/2016, que regulamentou o Decreto
Estadual n.º 46.993/2016. O Programa Estadual prevê:
(iii) sistema informatizado Banco de Declarações Ambientais (DBA) para cadastro das
Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs).
23
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Estabilidade Garantida;
Estabilidade não garantida;
Sem conclusão de estabilidade por falta de dados e documentos técnicos.
5
Art. 7º, § 1º, DN COPAM n.º 87/2005.
6
Disponível em <http://www.feam.br/component/content/article/15/1728-barragens-2019>. Acesso em
21.10.2019.
24
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
7
Art. 1º, parágrafo único, inciso XXXVIII, da Portaria DNPM/ANM n.º 70.389/2010.
25
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
8
Art. 1º, parágrafo único, inciso XXV da Portaria DNPM 70.389/2010.
9
Art. 1º, parágrafo único, inciso XXXVI da Portaria DNPM 70.389/2010.
10
Art. 1º, parágrafo único, inciso XXIV, da Portaria DNPM n.º 70.389/2010.
11
Item 1.2 – Estado de Conservação, constante do Anexo V da Portaria DNPM n.º 70.389/2010.
12
Art. 23 da Portaria DNPMn.º 70.389/2010.
26
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Auditora Resultado da
Natureza do Relatório Data
Externa DCE
Inspeções de Segurança Regular de Barragem DCE
Setembro 2017 Tractebel
(ISRB) Positiva
Auditoria Técnica de Segurança DCE
Setembro 2017 Tractebel
(ATS) Positiva
Inspeções de Segurança Regular de Barragem DCE
Março 2018 Tractebel
(ISRB) Positiva
Revisão Periódica de Segurança de Barragem DCE
Junho 2018 TÜV SÜD
(RPSB) Positiva
Inspeções de Segurança Regular de Barragem DCE
Setembro 2018 TÜV SÜD
(ISRB) Positiva
Auditoria Técnica de Segurança DCE
Setembro 2018 TÜV SÜD
(ATS) Positiva
Tabela 01. Auditorias Externas e DCEs da Barragem I de 2017 e 2018.
27
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
II.III PLANO DE AÇÃO EMERGENCIAL PARA BARRAGENS DE MINERAÇÃO – PAEBM
13
Art. 1º, parágrafo único, inciso XXXI, da Portaria DNPM/ANM n.º 70.389/2010.
14
O PAEBM da Barragem I, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, foi elaborado pela empresa
consultora WALM e aprovado pela VALE em 19.04.2018. Em 23.07.2018, o documento foi
protocolizado junto à Prefeitura e à Defesa Civil de Brumadinho e em 22.08.2018 perante a Defesa Civil
Estadual.
28
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
(i) Detecção de uma Situação de Emergência
29
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
(ii) classificação dos “níveis de emergência” a partir da avaliação de controle da anomalia
30
Figura 20. Níveis de Emergência e Principais Agentes Externos a serem Notificados. Fonte: PGS-003363 – Diretrizes para a elaboração do
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
PAEBM da VALE.
31
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Detectada uma situação de emergência e classificada em níveis de emergência
(1, 2 e 3), a legislação federal e o PAEBM da Barragem I descrevem as ações esperadas para
cada nível de emergência, com medidas de transparência (fluxo de comunicações, registro
no SIGBM, informação à população e outras), segurança (medidas mitigadoras, preventivas e
corretivas, inspeções, monitoramento e manutenção, entre outras) e emergência (atenção,
alerta, evacuação e outras).
15
Art. 1º, parágrafo único, inciso XL, da Portaria DNPM/ANM n.º 70.389/2010.
32
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
área e contatos para telefones cadastrados da comunidade e demais agentes
públicos.
Recebida a comunicação por parte da VALE na região de ZAS as pessoas
serão orientadas a se deslocar pelas ROTAS DE FUGA até os PONTOS DE
ENCONTRO, seguindo sinalização presente na área.
33
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 21. Organograma de notificações por nível de emergência extraído do PAEBM da Barragem I.
34
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Por fim, importante ressaltar a grande repercussão prática e a previsão da
realização de diversas providências em cadeia quando o PAEBM é efetivamente acionado. A
denunciada VALE e seus funcionários detinham e detêm todos os meios suficientes e
necessários para o regular acionamento de PAEBMs de suas barragens.
Para além de uma análise hipotética retrospectiva do que poderia ter sido feito
pelo Poder Público caso fosse devidamente realizado o acionamento do PAEBM da Barragem
I, pode-se verificar o que efetivamente foi feito em relação às demais barragens da VALE
em situação crítica após o rompimento da Barragem I. Diversas medidas judiciais e
extrajudiciais foram adotadas pelo Ministério Público e por vários órgãos municipais,
estaduais e federais, inclusive com o acionamento em massa do PAEBM de diversas barragens
e com a evacuação de inúmeras comunidades. Frise-se: a sequência de medidas concretas
somente ocorreu após o conhecimento público das informações até então ocultadas pela
VALE, como será delineado em capítulos próprios da presente denúncia, notadamente a
existência do Ranking de Barragens em Situação Inaceitável (Top 10 – Zona de Atenção), até
então mantidas secretamente pela VALE.
35
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
16
Conforme Laudo da Central de Apoio Técnico do Ministério Público de Minas Gerais (CEAT-
MPMG).
36
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
37
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
o Liquefação de Pico (Gatilho) – que considera a resistência máxima
ao cisalhamento (quebra) em condição não drenada;
o Liquefação Pós-Liquefeito (Pós-Pico, Pós-Gatilho ou Residual) –
que pressupõe que a resistência de pico não era suficiente para manter
a estabilidade e que a resistência não drenada diminuiria até um valor
residual. Assim, considera-se a resistência liquefeita para verificar a
possibilidade da ruptura global progressiva;
o Liquefação de Pico (Gatilho) com Carregamento Sísmico –
considera a ocorrência de sismo (decorrentes de terremotos, detonações
ou de equipamentos pesados).
𝑬𝑺𝑭𝑶𝑹Ç𝑶𝑺 𝑹𝑬𝑺𝑰𝑺𝑻𝑬𝑵𝑻𝑬𝑺
𝑭𝑺 =
𝑬𝑺𝑭𝑶𝑹Ç𝑶𝑺 𝑺𝑶𝑳𝑰𝑪𝑰𝑻𝑨𝑵𝑻𝑬𝑺
38
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Os Esforços Resistentes
Talude da barragem se encontra
FS = 1,0 equivalem aos
na iminência de romper
Esforços Solicitantes
Os Esforços Resistentes
FS > 1,0 são maiores do que os Situação de Segurança Controlada
Esforços Solicitantes
Os Esforços Resistentes
Segurança da Barragem
FS < 1,0 são menores do que os
Comprometida
Esforços Solicitantes
Tabela 02. Situação do FS e respectivo significado em condições teóricas ideais, sem considerar as
variáveis das barragens a serem analisadas.
17
Confirmando a existência de estimativas e a necessidade de se fazer “escolhas” para alguns parâmetros
de resistência de alguns materiais, em 12.03.2019, após o rompimento da Barragem I, a denunciada
TÜV SÜD encaminhou carta para a VALE afirmando que “o Fator de Segurança para a estabilidade
global pode ser inferior ao indicado nos relatórios anteriormente emitidos (e menor do que o resumido
nas tabelas reanexadas) para todas as barragens em razão dos métodos de cálculo que podem não ter
capturado os menores fatores de segurança nas barragens e as escolhas otimistas de parâmetros de
resistência para alguns materiais nas barragens utilizados nesses cálculos”.
39
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Assim, considerando-se que a Barragem I se rompeu pelo modo de falha
liquefação, é importante, para a definição da responsabilidade penal dos denunciados, a fixação
dos Fatores de Segurança Mínimos Aceitáveis para condição não-drenada, quais sejam:
FSPICO ≥ 1,3; FSPÓS-LIQUEFEITO ≥ 1,1; e FS PICO-SÍSMICO ≥ 1,1.
40
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
caracterizações de resistência não drenadas dos rejeitos conduzidas pela VALE já formam um
acervo considerável, que permite a adoção do FS=1,3” (grifo nosso).
41
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Além das conclusões dos PIESEMs, diversas apresentações internas e debates
entre funcionários da VALE demonstram o amplo reconhecimento do FSPICO ≥ 1,3.
(ii) FSPICO ≥ 1,3 reconhecido e adotado pela TÜV SÜD e seus funcionários
O FSPICO Mínimo de 1,3 foi usualmente adotado pela denunciada TÜV SÜD
para a análise de estabilidade de outras barragens de rejeito de mineração da VALE. Dessa
forma, em 2018, a equipe técnica da denunciada TÜV SÜD emitiu DCEs para as barragens da
VALE denominadas Dique 02, Rio do Peixe, Sul Superior, Doutor e Forquilha III, entre outras,
reconhecendo o Fator de Segurança mínimo de 1,3.
42
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
43
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
b) Análise Probabilística de Estabilidade Geotécnica (Probabilidade Anual de Falha -
PAF) e Avaliação de Risco
44
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
45
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
III CONHECIMENTO DO RISCO INACEITÁVEL
46
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
18
Informações sobre o sistema GRG constam no documento Relatório Técnico – Manual do Usuário
do Sistema Computacional, no anexo XXX do PIC n.º MPMG-0090.19.000013-4.
48
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
1ª Etapa: consolidação de dados e premissas
2ª Etapa: identificação de riscos
3ª Etapa: análise da probabilidade de ruptura da barragem;
4ª Etapa: estudo da ruptura hipotética (Dam Break);
5ª Etapa: valoração das consequências;
6ª Etapa: análise de risco monetizado.
49
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
1. Esfera Econômica (danos diretos/indiretos, externos/internos à atividade econômica da
VALE);
5. Esfera Social (impactos para o bem-estar, para o ambiente e para a sociedade, inclusive
calculando o custo do isolamento de comunidades, realocação de população afetada e danos ao
patrimônio cultural, artístico e turístico);
50
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 25. Slide da apresentação “GRG – Geotechnical Risk Management Results” realizada no
PIESEM-I de outubro de 2018.
51
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 26. Referência de valores por classe econômica para o Cálculo de Risco Monetizado
Figura 27. Diretrizes da VALE para indenização por perdas de vidas humanas em caso de rompimento
de barragens
53
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
b) Ranking de Barragens em Situação Inaceitável (Top 10 – Zona de Atenção)
Figura 28. Slide da Apresentação Tolerable Risk Criteria Adopted at VALE – Results – How safe is
safe enough?, no PIESEM-I de novembro de 2017.
54
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Nessa sétima etapa, os resultados das análises de risco monetizado de dezenas
de barragens da VALE foram inseridos em matrizes para orientar a tomada de decisão
corporativa. A decisão de gestão corporativa deveria abranger a adoção (ou não) de medidas
de transparência, segurança e emergências, de forma ampla e sistemática, para todas as
barragens em condição inaceitável.
Figura 29. Gráfico Probabilidade Anual de Falha vs Consequência Econômica de Ruptura. Slide da
Apresentação Tolerable Risk Criteria Adopted at VALE – Results – How safe is safe enough? no
PIESEM-I de novembro de 2017.
55
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 30. Gráfico Probabilidade Anual de Falha vs Potencial de Perda de Vidas. Slide da Apresentação
Tolerable Risk Criteria Adopted at VALE – Results – How safe is safe enough? , no PIESEM-I de
novembro de 2017.
56
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 31. Ranking de Barragens em Situação Inaceitável (Top 10 - Zona de Atenção). Slide da
Apresentação GRG – Gestão de Riscos Geotécnicos Resultados / Conclusões / Padronização Riscos de
Negócio VALE, no PIESEM-N de junho de 2018.
No PIESEM-I de outubro de 2018, logo após mais uma série de DCEs emitidas
perante a FEAM e a ANM (setembro/2018), o denunciado Felipe Rocha realizou nova
apresentação denominada “GRG – Geothecnical Risk Management Results”. Valida e divulga,
mais uma vez, o Ranking de Barragens em Situação Inaceitável de Segurança (Top 10 – Zona
de Atenção). O gráfico (Figura 32) mostra a área em Zona de Atenção marcada, que inclui a
Barragem I entre as dez estruturas inseridas na Zona de Atenção. E o Ranking das Barragens
57
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
em Situação Inaceitável (Top 10) é atualizado, passando a Barragem I a figurar em 10º lugar
entre as barragens com maior probabilidade de ruptura/consequência econômica da VALE. O
critério do desempate foi a verificação de que, apesar de indicar o mesmo risco das Barragens
Forquilha I e III, a Barragem I demonstrava menor consequência econômica no caso de ruptura.
Ressalte-se que foi desconsiderada a estimativa de mortes para o ranking da VALE, que
sobrelevou a importância dos custos econômicos sobre as perdas de vidas humanas como
critério de desempate.
58
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 33. Ranking de Barragens em Situação Inaceitável (Top 10 – Zona de Atenção). Slide da
Apresentação GRG – Geothecnical Risk Management Results, no PIESEM-I de outubro de 2018.
59
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
especialistas externos e as equipes técnicas da VALE e de empresas contratadas (Consultores
e Auditores Externos). No período, ocorreram cinco eventos, nas seguintes datas:
60
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
No PIESEM-I de outubro de 2018, novamente o Ranking de Barragens em
Situação Inaceitável (Top 10 – Zona de Atenção) foi apresentado e reforçado pelo denunciado
Felipe Rocha. Os especialistas internacionais foram além da apresentação e incluíram no
Relatório Final do PIESEM profunda análise das correlações lógicas dos conceitos de Zona de
Atenção e Alarp Zone, bem como realçaram os riscos inerentes à identificação de um grande
número de barragens da VALE em situação de Zona de Atenção (Top10). Os especialistas
enfatizaram “que é indesejável que barragens de rejeito permaneçam na Zona de Atenção por
um longo período de tempo por causa do relativamente alto nível de risco que isto implica,
especialmente em um portfólio de múltiplos projetos da VALE que estão nesta zona”. Dessa
forma, concluíram que “quanto maior o portfólio de barragens, maior a probabilidade de que o
empreendedor irá experimentar ao menos um rompimento de barragem em um determinado
ano e que esta probabilidade aumenta para longos períodos de tempo”. Os especialistas
internacionais repetiram e reforçaram a recomendação já emitida no PIESEM-I anterior (2017)
de que “a VALE deve desenvolver guidelines para a prioridade e urgência de redução de
riscos”, indicando que a Zona de Atenção (entre 1 x 10 -4 e 1 x 10-3) deve ser considerada como
prioritária para redução de riscos em curto prazo. Além disso, afirmaram que “a forma pela
qual os resultados de risco são comunicados para cada nível da organização deve ser aquele
que estimule uma resposta apropriada, resultando em uma efetiva abordagem que abranja toda
a corporação para gestão do risco de rompimento de barragens” (tradução livre).
61
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
62
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
IV OCULTAÇÃO E DISSIMULAÇÃO DO RISCO INACEITÁVEL E DE SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA
63
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
não eram compartilhados com o poder público. Nem mesmo conclusões relevantes dos
Relatórios Finais dos PIESEMs eram encaminhadas aos órgãos de controle e de investigação.
19
“Dados estão se tornando o capital mais importante do mundo. Na antiguidade, o capital mais
importante era a terra e a política era uma luta para controlar a terra. Se terra demais ficava concentrada
nas mãos de uma pessoa ou poucas pessoas, tinha-se uma ditadura. Nos dois últimos séculos, as
máquinas e fábricas substituíram a terra como o capital mais importante. A política passou a ser a luta
para controlar as máquinas e a ditadura acontecia quando a maioria das máquinas e das fábricas ficavam
concentradas nas mãos do governo ou de uma pequena aristocracia. Agora, os dados estão substituindo
as máquinas como o principal capital, e a política se torna uma luta para controlar os dados. Uma
ditadura agora significa a concentração ou controle de uma parte grande demais do fluxo de dados por
um governo ou por umas poucas corporações, e precisamos evitar isso. Precisamos regular a posse de
dados”. (Yuval Noah Harari, em entrevista no programa Roda Viva, em 11.11.2019, Disponível em
https://tvcultura.com.br/playlists/46_roda-viva-ultimos-programas.html, acesso em 12.11.2019).
64
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
A existência da “caixa preta” da VALE somente foi descoberta após as
investigações da Equipe Conjunta de Investigação constituída pelo MPMG e pela PCMG. A
partir de prisões temporárias, mandados de busca e apreensão e requisição de documentos é
que foi acessado o, até então, inacessível conteúdo da hermética “caixa preta” sobre a grave
situação de insegurança de diversas barragens da VALE.
65
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
e de difícil acesso. Dessa forma, o Poder Público define as prioridades do cronograma de
fiscalizações relacionadas à segurança de barragens.
66
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
incompletas e distorcidas sobre os riscos associados à Barragem I, dissimulando a criticidade
da estrutura da barragem. Em outras palavras, a VALE decidiu internamente que assumia os
riscos inaceitáveis da Barragem I e impôs tal decisão ao Poder Público e à sociedade ao burlar
o modelo de certificação de barragens e ocultar e dissimular as graves informações que
mantinha na “caixa preta” corporativa.
GRG DCE
MODO PARÂMETRO
TIPO DE INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO
DE ANÁLISE DE ACEITÁVEL
INTERNA AO PODER PÚBLICO
FALHA ESTABILIDADE
FS MÍN. PAF MAX. FS PAF FS PAF
DETERMINÍSTICO PROBABILÍSTICO DETERMINÍSTICO PROBABILÍSTICO DETERMINÍSTICO PROBABILÍSTICO
1,9 x 10-4
EROSÃO INTERNA - ≤ 1 x 10-4 - - -
(2 x 10-4)
1,06
LIQUEFAÇÃO PICO ≥ 1,3 ≤ 1 x 10-4 3 x 10-4 1,09 -
(1,09)
LIQUEFAÇÃO
≥ 1,1 ≤ 1 x 10-4 0,44 1 x 10-5 - -
PÓS- LIQUEFEITO
LIQUEFAÇÃO PICO
COM CARREGAMENTO ≥ 1,1 ≤ 1 x 10-4 0,79 1 x 10-4 - -
SÍSMICO
INCOMPLETA
COMPLETA
E DISTORCIDA
ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO
67
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
o Fator de Segurança para o modo de falha Liquefação de Pico em condição não drenada (FS
= 1,09).
68
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 34. Trecho do Relatório Tecnico que acompanhou a Auditoria Técnica de Segurança e respectiva
DCE em setembro d 2018, perante a FEAM.
20
Disponível em < https://www.wsj.com/articles/brazils-vale-vowed-never-another-dam-collapse-then-
an-even-worse-one-11577809114>, acesso em 07.01.2020.
69
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
indicando fatores de segurança mais baixos, as declarações de estabilidade foram
emitidas”.
21
A ocultação de informações para dificultar a fiscalização e investigação era conduta deliberada e
praticada por funcionários da VALE na relação com empresas de consultoria/auditoria. MAKOTO
NAMBA (TÜV SÜD) admite em conversa por WhatsApp com Ana Paula Ruiz (TÜV SÜD) ter sido
pressionado, cerca de um mês antes da emissão do relatório técnico da Barragem I e da DCE perante a
FEAM, pelo especialista César Grandchamp (VALE) para excluir determinada observação do rol de
“recomendações” da Auditoria “porque os fiscais ficam em cima”.
70
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Para além de uma análise retrospectiva hipotética do que poderia ter sido feito pelo
Poder Público caso a VALE e a TÜV SÜD tivessem emitido DCE negativa e informado ao
Poder Público de forma clara a criticidade da Barragem I, pode-se avaliar o que efetivamente
foi feito pelo Poder Público em relação às demais barragens da VALE em situação crítica
após o rompimento da Barragem I.
71
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
V SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA NA BARRAGEM I, ASSUNÇÃO DE RISCOS E OMISSÕES
PENALMENTE RELEVANTES
Apesar de todos os sinais e alertas que impunham a medida, não houve o devido
acionamento do Plano de Ação de Emergência (PAEBM) da Barragem I em quaisquer de seus
níveis, o que contribuiu decisivamente para que a estrutura ruísse à míngua de providências de
transparência, segurança e de emergência em si.
72
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
a) Nível 1 de Emergência
73
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
As análises de estabilidade da Barragem I realizadas pelo Consórcio PÓTAMOS
/ TÜV SÜD em relação aos quatro modos de falha (galgamento, instabilização, erosão interna
e liquefação) foram desenvolvidas para a determinação do Fator de Segurança (FS) da estrutura,
denominada análise determinística, sendo posteriormente complementadas com o cálculo de
probabilidades de falha da barragem, denominada análise probabilística, culminando na
estimativa das consequências da falha.
74
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
que auxiliaram a escolha deste modo de falha. Além disso, a estrutura tem um histórico de
elevado nível piezométrico”.
75
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
modelagem do perfil da seção, com seleções de seções típicas da barragem que seriam bem
representativas das condições de solicitações; ii) análise da susceptibilidade do material à
liquefação, com adoação, de modo geral, da premissa de que o material que compunha o maciço
da barragem era susceptível à liquefação (com exceção do dique de partida); iii) definição dos
parâmetros geotécnicos dos vários tipos de materiais, com a seleção dos parâmetros que
representavam as características dos materiais que constituíam a barragem e a sua fundação,
com base nos dados obtidos nas investigações geotécnicas, nos resultados das análises de
percolação e na reação dos solos aos carregamentos aplicados; iv) análise de estabilidade nas
condições de carregamento drenado e não drenado, com a composição das condições de
carregamento e dos tipos de superfícies de cisalhamento selecionadas, sendo que cada uma
dessas composições chegou a um Fator de Segurança próprio, prevalecendo, ao final, somente
o Fator de Segurança que representou a situação mais crítica.
76
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
modo de falha Liquefação em condição não drenada com pico (gatilho), o qual indicou Fator
de Segurança (FS) no valor de 1,06 para a Barragem I.
77
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Liquefação também foi realizada para a aferição de estabilidade “pós-liquefeita” ou “pós-
gatiho”.
Se a resistência residual para essa condição for insuficiente (FS pós-liquefeita < 1,1), uma vez
deflagrada a liquefação de uma porção do solo, desenvolver-se-á a ruptura em fluxo
progressivo. Na verdade, é a resistência residual insuficiente que governa o colapso global
da estrutura quando a liquefação ocorre em um determinado local.
78
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Pelo acima exposto, verificou-se que a Barragem I já apresentava, àquela altura,
índices inaceitáveis e intoleráveis para os modos de falha Erosão Interna e Liquefação, sendo
certo que a situação restou profundamente debatida e internalizada na VALE ao menos a partir
da realização do PIESEM-I (novembro de 2017) e da emissão do seu respectivo relatório final
(dezembro de 2017).
22
Art. 36 da Portaria DNPM/ANM n.º 70.389/2017.
79
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
iii) o Fator de Segurança para o modo de falha Liquefação – pico regrediu a valores inaceitáveis
(FSpico = 1,06, quando o mínimo era FSpico ≥ 1,3), de maneira que a Barragem I não apresentava
segurança para o modo de falha Liquefação;
iv) o Fator de Segurança para o modo de falha Liquefação – pós-liquefeita regrediu a valores
inaceitáveis (FS pós-liquefeita = 0,39, quando o mínimo exigido era FSpós-liquefeita ≥ 1,1), de maneira
que, caso ocorresse a liquefação em uma porção do maciço, a ruptura se propagaria em fluxo,
com o colapso global da barragem, porque a resistência residual (ou pós-liquefeita) seria
insuficiente para conter a propagação da liquefação;
80
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Assim, a constatação de situação “com potencial comprometimento de
segurança da estrutura de uma barragem inicia situação de emergência” (art. 36, II, da Portaria
DNPM/ANM n.º 70.389/2017), cabendo ao empreendedor classificar o respectivo nível de
emergência daquela situação (art. 37 da Portaria DNPM/ANM n.º 70.389/2017).
Mais uma vez, em síntese, restou comprovado que, ainda no ano de 2017, foi
internalizado na VALE o conhecimento de que:
No caso da Barragem I, não houve, por parte da VALE e/ou dos auditores
responsáveis, qualquer tipo de comunicação transparente às autoridades competentes sobre a
81
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
“situação com potencial comprometimento da segurança da estrutura”, ocorrendo, ao contrário,
a apresentação aos órgãos públicos de sucessivas Declarações de Condição de Estabilidade
(DCEs) positivas, com conclusões que contrariavam o que de fato se verificava na barragem,
ludibriando-se, dessa forma, a sociedade e o Poder Público.
Nos termos do art. 4º, inc. II e IV, da Lei Federal n.º 12.334/10, que instituiu a
Política Nacional de Segurança de Barragens, “a população deve ser informada e estimulada a
participar, direta ou indiretamente, das ações preventivas e emergenciais”, devendo o empreendedor
garantir “a promoção de mecanismos de participação e controle social”.
82
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Preencher, diariamente, as Fichas de Inspeção Equipe composta por profissionais Não
Especial, até que a anomalia detectada na ISE tenha integrantes do quadro de pessoal
sido classificada como extinta ou controlada. ou equipe externa contratada para
esta finalidade
Preencher, diariamente, via sistema SIGBM o Extrato Equipe composta por profissionais Não
da Inspeção Especial da barragem, até que a anomalia integrantes do quadro de pessoal
detectada na ISE tenha sido classificada como extinta ou equipe externa contratada para
ou controlada. esta finalidade
Avaliar as condições de segurança e elaborar Relatório Exclusivamente por meio de Não
Conclusivo de IES da barragem (RCIE), quando a equipe externa multidisciplinar de
anomalia detectada na ISR da barragem for especialistas contratada para esta
classificada como extinta ou controlada. finalidade.
Tabela 36. Resumo do Balanço Geral das Medidas adotadas em função da situação de Emergência
Nível I da Barragem I (2017).
83
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Apurou-se, assim, que, apesar de amplamente internalizado na VALE o
conhecimento da “situação com potencial comprometimento da segurança da Barragem
I”, o que caracterizou o Nível 1 de Emergência, nenhuma das ações previstas na legislação
para a hipótese foi adotada, apesar da existência de meios conhecidos e disponíveis para
tal.
b) Nível 2 de Emergência
84
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Diante do quadro de comprometimento da segurança da Barragem I, já
absolutamente internalizado na VALE, as empresas POTAMOS e TÜV SÜD (consórcio)
foram provocadas a realizar estudos sobre as alternativas de medidas tendentes ao aumento do
Fator de Segurança da Barragem I para liquefação, tendo tal assunto sido tratado em reunião
realizada no dia 21 de dezembro de 2017 e gerado a apresentação do documento intitulado
Nota Técnica: Alternativas Avaliadas Para Incremento da Segurança Quanto à Liquefação,
emitido para comentários em 19 de janeiro de 2018.
i) rebaixamento do nível piezométrico com poços: o estudo concluiu que o efeito da implantação
dessa solução modificaria o Fator de Segurança da Barragem I de 1,06 (sem intervenção) para
1,13 (com rebaixamento);
ii) berma de estabilização: essa alternativa foi subdividida em três diferentes opções de
construção. Na primeira hipótese, com a utilização de enrocamento como material de
construção, o Fator de Segurança passaria de 1,06 para 1,29. Na segunda hipótese,
utilizando-se estéril de mina com coesão para a construção da berma, o Fator de Segurança
passaria de 1,06 para 1,29. Na terceira hipótese, considerando que a berma de estabilização
seria construída com estéril de mina sem coesão, o Fator de Segurança seria incrementado de
1,06 para 1,30.
iii) lavra da barragem: o estudo concluiu que apenas após o sétimo ano de lavra, com o
rebaixamento de 21 metros de barragem, seria possível alcançar Fatores de Segurança próximos
a 1,30.
iv) retaludamento da barragem: para esta solução, o Fator de Segurança seria modificado de
1,06 (sem intervenção) para 1,17 (com retaludamento).
v) retaludamento da barragem + berma de estabilização: um primeiro estudo nesse sentido
identificou que o Fator de Segurança seria modificado de 1,06 (sem intervenção) para 1,36 (com
85
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
retaludamento e berma de reforço). Essa solução foi defendida pelo consórcio POTAMOS/ TÜV
SÜD como a mais adequada para reaver as condições de segurança desejadas para a Barragem
I, tendo a PÓTAMOS recomendado “fortemente que se estude mais profundamente a proposta
de retaludamento”.
vi) rebaixamento de nível de água através de DHPs e lavra da barragem: método escolhido
pela VALE e que será abaixo detalhado.
Para a execução dos DHPs, foi contratada pela VALE a empresa ALPHAGEOS
TECNOLOGIA APLICADA S.A., tendo a implantação dos DHPs sido iniciada em março de
2018, inclusive sem que os prévios estudos de percolação recomendados pela PÓTAMOS
tivessem sido realizados.
Após iniciada a execução dos DHPs e ainda no início de março de 2018, foi
identificada umidade nas proximidades do primeiro dreno (1º DHP) implantado. Apurou-se que
o 1º DHP foi reinstalado no próprio mês de abril de 2018.
86
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Ainda segundo apurado, no dia 11 de junho de 2018, durante a instalação do 15º
DHP, ocorreu uma surgência um pouco acima do local onde o dreno estava sendo implantado,
com carreamento de sólidos. Referida surgência iniciou um processo de erosão interna, com
vazão crescente, o que foi atribuído a um fraturamento hidráulico decorrente do aumento de
pressão imposta para a realização do furo onde seria posteriormente instalado o dreno. Segundo
consta, o aumento de pressão foi imprimido na tentativa de se perfurar um bloco de canga
(material duro) que se encontrava na trajetória da perfuração.
Deve ser salientado que o valor calculado para os Fatores de Segurança para o
modo de falha Liquefação na condição não-drenada sofreu ínfima alteração, passando de 1,06
para 1,09 (pico) e de 0,39 para 0,44 (pós-liquefeita)23. Já para o modo de falha Erosão Interna
a probabilidade de falha aumentou24 de 1,9 ₓ10-4 para 2 ₓ10-4. Em todos os casos, os valores
23
POTVAL 02G2-1-TC-RTE-0019 aprovado em 20.11.2017 e revisado em 10.07.2018.
24
POTVAL 02G2-1-TC-RTE-0019 aprovado em 20.11.2017 e revisado em 10.07.2018.
87
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
permaneceram muito aquém do necessário e daquilo que foi definido como aceitável pela
própria VALE.
88
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 37. Item do PAEBM da Barragem I que trata da detecção, avaliação e classificação das
situações de emergência
A seu turno, o art. 27, § 1º, da aludida Portaria DNPM/ANM n.º 70.389/2017
prevê:
Art. 27.
[...]
§ 1º As anomalias que resultem na pontuação máxima de 10 (dez)
pontos, em qualquer coluna do Quadro 3 - Matriz de Classificação
Quanto à Categoria de Risco (1.2 - Estado de Conservação), serão
classificadas de acordo com definições a seguir:
90
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
I. Extinto: quando a anomalia que resultou na pontuação máxima de 10
(dez) pontos for completamente extinta, não gerando mais risco que
comprometa a segurança da barragem;
II. Controlado: quando a anomalia que resultou na pontuação máxima
de 10 (dez) pontos não for totalmente extinta, mas as ações adotadas
eliminarem o risco de comprometimento da segurança da barragem, não
obstante deva ser controlada, monitorada e reparada ao longo do tempo;
e
III. Não controlado: quando a anomalia que resultou na pontuação
máxima de 10 (dez) pontos não foi controlada e tampouco extinta,
necessitando de novas ISE e de novas intervenções a fim de
eliminá-la. (grifo nosso)
Poder-se-ia indagar se, após a interrupção dos DHPs, novas e, desta vez, eficazes
medidas foram adotadas na Barragem I para a sua definitiva estabilização.
Isso porque não foram adotadas pela VALE quaisquer medidas ou soluções
eficazes e tempestivas para o incremento do Fator de Segurança e para o controle/extinção
do quadro de “potencial comprometimento da segurança da estrutura”, o qual
permaneceu não controlado e passou a ser agravado até o momento do rompimento da
Barragem I, ocorrido no dia 25 de janeiro de 2019.
91
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Prova desse fato é que apenas dois dias após a ocorrência da erosão interna e da
consequente interrupção da implantação dos DHPs, ou seja, no dia 13 de junho de 2018, foi
emitida, pela VALE e pela TÜV SÜD, Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) positiva
para a Barragem I no âmbito dos trabalhos atinentes à Revisão Periódica de Segurança de
Barragem – RPSB (perante a ANM).
Assim, nada era apontado quanto à análise determinística para liquefação (pós-
liquefeita), sendo ainda sonegados os resultados das análises probabilísticas para os modos de
92
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
falha Liquefação e Erosão Interna, cujos índices também se encontravam em patamares
intoleráveis e inaceitáveis e cujas informações eram mantidas trancafiadas na “caixa preta” do
GRG.
ii) não foi acionado o Nível 1 de Emergência do PAEBM e nenhuma das ações previstas na
legislação para a hipótese foi adotada;
iii) a VALE optou pelo rebaixamento do nível de água da barragem mediante a utilização de
Drenos Horizontais Profundos (DHPs), bem como lavra da barragem;
iv) a implantação dos DHPs foi iniciada em março de 2018, mas foi definitivamente
interrompida no dia 11 de junho de 2018 em razão da ocorrência de erosão interna ocasionada
pelo procedimento, não surtindo, portanto, o efeito esperado de melhoria do Fator de Segurança;
vi) assim, a solução adotada pela VALE para tentativa de correção da situação verificada em
novembro/dezembro de 2017 (situação essa que caracterizou Nível 1 de Emergência) não foi
93
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
eficaz para o controle, tampouco para a extinção do problema (índices inaceitáveis para os
modos de falha Erosão Interna e Liquefação);
94
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
95
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Outrossim, a equipe de geotecnia deveria ter notificado o DNPM (atual ANM) e
a equipe de meio ambiente deveria ter procedido à notificação dos órgãos ambientais
competentes.
96
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
impulsionado pelo rompimento da estrutura. Ainda seria possível às pessoas presentes na ZAS
providenciar a salvaguarda de seus bens materiais, de seus animais e de suas memórias.
Figura 39. Parte do Fluxograma de Notificação para o Nível 2 de Emergência – PAEBM – Barragem I
– Mina Córrego do Feijão (WBH34-17-VALE-RTE-0039)
97
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
O Painel foi provocado a comentar a política de alertas para o
público em caso de Nível 2 de Emergência, o qual é definido como
o momento em que as medidas de remediação implementadas para
resolver a anomalia não foram efetivas e a falha na estrutura pode
ocorrer a qualquer momento. É a opinião do Painel que se trata de
política prudente, ainda que isso inevitavelmente resulte em
“alarmes falsos”. (grifo nosso – tradução livre)
99
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
devidamente adotadas, de maneira a evitar que os resultados mortes ocorressem da forma como
ocorreram.
100
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
conduta determinante para a dinâmica criminosa e para a assunção do risco proibido
quanto aos resultados mortes e danos ambientais ocorridos.
Não se deve perder de vista que, desde o mês de junho de 2018, quando foi
interrompida a implantação dos Drenos Horizontais Profundos (DHPs), que se mostraram
ineficientes, a Barragem I não passou por nenhuma medida eficaz para a sua estabilização. Essa
situação de omissão prosseguiu até o momento da sua ruptura, ocorrido em 25 de janeiro de
2019.
25
Relatório de Revisão Periódica da Barragem I – junho 2018 -
102
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
No decorrer dos mais de dez meses que o citado radar interferométrico operou
em face da Barragem I, referido dispositivo detectou deformações significativas no talude da
barragem.
Com efeito, em março de 2018, pela leitura dos dados captados pelo radar, foram
percebidas áreas da Barragem I com comportamentos diferentes do restante do maciço, sendo
certo que, em sete dias de medições, foram detectadas significativas deformações em
determinadas áreas. De acordo com o responsável pelas leituras dos dados, apesar de pequenas,
aquelas deformações se mostravam expressivas quando comparadas com o restante do maciço.
Ainda segundo o responsável pelas leituras, os valores medidos nas áreas com deformações
expressivas eram superiores ao erro de sinal medido por deformações atmosféricas (cujo ruído
é da ordem de 3mm), o que, portanto, indicava movimentações reais do talude.
103
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 40. Imagem frontal da Barragem I com localização dos piezômetros CFJB1PZ070 e
CFJB1PZ071. Fonte Laudo CEAT/MPMG.
104
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
que os instrumentos de monitoramento apresentaram resultados confiáveis e consistentes
naquela ocasião.
Figura 42. Imagem frontal da Barragem I com as áreas 4, 14, 15 e 16 identificada no radar.
Fonte: Laudo CEAT/MPMG.
105
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 43. Imagem frontal da Barragem I, captada no momento da ruptura, com setas
Figura Erro! Nenhum texto
correlacionando com4,o14,
as áreas estilo
15 eespecificado foino
16 identificada encontrado
radar e da no documento.-1:
Figura 42.
Imagem do vídeo do momento da ruptura
Fonte: Laudo CEAT/MPMG. (25/01/2019 - 12:28:28)
106
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Ainda restaram verificadas outras duas áreas com deformações, detectadas a
partir de leituras realizadas entre os dias 27,12,2018 e a data da ruptura. Tais áreas foram
nomeadas de “área 21” e “área 22”, próximas às áreas 14 e 15, respectivamente.
107
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
dezembro de 2018 até o momento da ruptura, o que induz à conclusão de que justamente durante
as elevações de deformações apresentadas pelo radar não ocorreu o monitoramento realizado
por marcos topográficos.
A seu turno, as inspeções de campo, não obstante a sua importância, não são
suficientes, por si sós, para a percepção da totalidade de sinais emitidos por estruturas
complexas, notadamente quando se trata de barragem em situação de conhecida instabilidade.
É justamente para complementar as inspeções de campo que existem radares e equipamentos e
dispositivos de auscultação das barragens. A precisão submilimétrica do radar vai muito além
da faixa de sensibilidade visual do olho humano.
108
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Tais fatores estão relacionados com o descontrole do nível d’água no interior do
maciço da Barragem I, agravado pela inadequação do bombeamento de água afluente no
reservatório.
26
Denomina-se praia a área compreendida entre a crista da barragem e o lago propriamente dito (região
da barragem onde está armazenada a água livre). A manutenção dessa porção seca do reservatório é uma
medida de segurança para as barragens construídas com o método de alteamento a montante, como uma
forma de diminuir a saturação do maciço.
109
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Tal medida de contingência mostrava-se pertinente considerando-se o volume
de água que afluía para o lago da Barragem I, especialmente no período chuvoso. Ademais, a
nascente do Córrego do Feijão apresentava regime de escoamento permanente, inclusive em
épocas de estiagem.
27
E-mail enviado no dia 08.01.2019 por César Augusto Paulino Grandchamp.
28
Durante o período sem bombeamento, a Estação de Alberto Flores mediu 135 mm de chuva e a
Estação de Melo Franco mediu 151 mm de chuva.
29
Ver Relatório de Auditoria Técnica de Segurança – setembro 2018.
110
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
A posição do nível freático dentro da barragem afeta fortemente a
segurança da estrutura, sendo recomendável retomar o mais breve
possível a instalação do dreno horizontal, com um empreiteiro
qualificado, bem como procurar alternativas para o rebaixamento do
lençol freático (incluindo poços). (tradução livre)
111
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Nos termos da mesma Portaria DNPM/ANM n.º 70.389/2017, se uma
determinada surgência apresentar carreamento de material ou vazão crescente, a anomalia
passa a ser pontuada no grau máximo, ou seja, pontuação grau 10.
Figura 44. Quadro 3 do Anexo V da Portaria DNPM/ANM n.º 70.389/2017 que serve de base para a
pontuação das anomalias
112
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
ou infiltraçao do material contido, com potencial de comprometimento da segurança da
estrutura”, traduz pontuação grau 10.
30
Disponível em http://www.anm.gov.br/parecer-007-2019-brumadinho-final
113
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Na Ficha de Inspeção Regular (FIR) de campo encontrada no PSB
da Barragem I (datada do dia 11/06/2018), é marcada pontuação 6
para percolação;
Na FIR do sistema da VALE S.A., denominado “Relatório de
Inspeção Periódica” (datado do dia 06/06/2018), é mostrada foto
com a legenda “dreno com presença de sedimento”, sem a existência
do quadro de classificação referente ao EC; e
No EIR (que informa que a inspeção realizada foi em 06/06/2018 e
foi enviado para a ANM em 27/06/2018) é informado ao órgão
fiscalizador que a pontuação é zero, ou seja, não foi reportada
qualquer anomalia ou outra situação alarmante. (fls. 53-54 - grifo
nosso)
114
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Tanto é assim que, no dia 18 de junho de 2018, por determinação da equipe de
segurança da VALE, os equipamentos que ali se encontravam foram desmobilizados e retirados
do local, considerando o risco de deslizamento do talude.
115
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
inspeção da área para execução dos DHP´s. Das 10:30 as 12h esperando no
local dos DHP´s. Das 12 as 13h almoço. Das 13 as 16h desmobilização dos
equipamentos da área por risco. A frente foi parada pois o talude estava
muito encharcado com risco de deslizamento. Das 16 as 17h
deslocamento para alojamento.
Tabela 06. Boletins de Perfuração para DHP na Barragem I, elaborados pela Alphageos.
Também ficou constatado que a situação gerou uma condição de risco que exigiu
um monitoramento permanente e um grande volume de material para construção do dreno
invertido, durando dias para ser controlada.
116
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
31
Disponível em http://www.anm.gov.br/parecer-007-2019-brumadinho-final
117
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
118
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Como se não bastasse, acrescente-se que apenas dois dias após a ocorrência da
erosão interna, ou seja, no dia 13 de junho de 2018, quando ainda estavam em curso medidas
objetivando o controle da anomalia, foi emitida, pela VALE e pela TÜV SÜD, Declaração de
Condição de Estabilidade (DCE) positiva para a Barragem I no âmbito dos trabalhos atinentes
à Revisão Periódica de Segurança de Barragem (RPSB).
119
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
VI RESPONSABILIDADE PENAL DA VALE E SEUS FUNCIONÁRIOS
120
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
121
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
O Diretor-Presidente da VALE, nomeado pelo Conselho de Administração,
chefiava direta e imediatamente diversas Diretorias Executivas, entre elas a Diretoria Executiva
de Ferrosos e Carvão, que era responsável por comandar todas as estruturas diretivas e
gerenciais geotécnicas e operacionais da VALE associadas à Mina Córrego do Feijão e que
interessam para a presente denúncia. O Diretor-Presidente era o principal executivo da VALE.
Ocupava a posição de maior autoridade hierárquica, responsável, em última análise, pelos
resultados da empresa. Tinha o papel de influenciar pessoas e liderar estrategicamente os rumos
das macrodiretrizes corporativas da VALE. Atuava como interlocutor da Diretoria Executiva
com o Conselho de Administração. O Diretor-Presidente era o maior representante da empresa,
reportando-se, por vezes, aos investidores e ao mercado em nome da VALE.
122
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
operacionais existiam equipes de “Geotecnia Operacional” (Gerências de Geotecnia
Operacional).
CÉSAR
GERÊNCIA DE
GERENTE DE GEOTECNICA GRANDCHAMP
GEOTECNIA OPERACIONAL
(Geotécnico)
123
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
b.3) barreiras informacionais e a “caixa preta” da VALE;
b.4) retaliação a denunciantes;
b.5) dispersão de responsabilidades entre as equipes de Geotecnia Matricial e Corporativa.
32
Tais objetivos foram descritos pelo denunciado FABIO SCHVARTSMAN em seu depoimento
perante o MPMG e a PCMG.
33
Nessa linha, conferir Fato Relevante divulgado pela VALE em 18.08.2017 com o título “VALE
informa sobre conversão das ações preferenciais remanescentes”. Disponível em:
<http://www.VALE.com/brasil/PT/investors/information-market/press-releases/Paginas/Fato-
relevante-VALE-informa-sobre-conversao-das-acoes-preferenciais-remanescentes.aspx>. Acesso em:
04 set. 2019.
34
Para empresas de capital aberto, em apertada síntese, o valor de mercado pode ser considerado como
o valor da ação da empresa na bolsa de valores, multiplicado pelo número de ações existentes.
124
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
ações de uma empresa: sua reputação. Dessa forma, a imagem dos negócios da VALE
(positiva ou negativa) percebida por acionistas, por clientes e fornecedores, pelo Poder Público
e pela sociedade (shareholders e stakeholders) representava uma variável crucial, com
potencial impacto no seu valor de mercado (risco reputacional) 35.
Estudos apontam que o desempenho das empresas não está vinculado somente
aos ativos tangíveis, mas que a geração de valor também está relacionada com
ativos intangíveis das mesmas. A divulgação de notícias negativas e de
impactos/acidentes tem a capacidade de mudar o conceito que a sociedade
possui em relação à empresa, podendo resultar em recusa de produtos,
interrupção da produção, cancelamento de contratos, queda de ações no
mercado financeiro, dentre outros efeitos. (grifo nosso)
35
Por exemplo, o documento interno da VALE denominado NFN-0001 – Norma de Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão se refere a riscos reputacionais e à severidade de seus impactos, identificando
a amplitude da repercussão (limitada, local, regional, nacional, internacional) e potenciais impactos
(desde ocorrências que não ultrapassam os limites internos da empresa até incidentes que podem gerar
repercussão prolongada na mídia internacional, condenação por ONG, múltiplas licenças revogadas,
boicote de produtos, manifestações em massa, reações adversas de autoridades governamentais
estratégicas e o impacto catastrófico no preço das ações). Em 2014, uma pesquisa global de risco
realizada pela empresa Deloitte, especializada em auditoria e gestão de risco, concluiu que 87% dos
empresários entrevistados consideravam o risco reputacional como “mais importante” ou “muito mais
importante” do que outros riscos estratégicos enfrentados por suas empresas. Além disso, identificou
que a responsabilidade primária pelo risco reputacional é maior para o próprio Presidente (CEO) da
empresa.
Disponível em <https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/global/Documents/Governance-Risk-
Compliance/gx_grc_Reputation@Risk%20survey%20report_FINAL.pdf > Acesso em: 28.10.2019.
125
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
também tinham potencial para impactar negativamente a imagem da empresa (risco
reputacional), tais como a emissão de Declaração de Condição de Estabilidade negativa, o
acionamento de Plano de Ação Emergencial de Barragem de Mineração (PAE-BM)36 ou o
acionamento do Plano de Evacuação em razão de uma estrutura de barragem em risco.
Poderiam indicar para o mercado problemas na gestão de riscos das barragens.
36
Em depoimento perante o MPMG e a PCMG, o Gerente de Geotecnica Operacional RENZO ALBIERI
afirmou que “Caso houvesse acionamento do PAEBM, sem a confirmação de que houvesse anomalias,
esse acionamento causaria descrédito por parte dos seus funcionários”.
37
Segundo informações do denunciado FABIO SCHVARTSMAN, em seu depoimento perante o
MPMG e a PC: “QUE a respeito das suas metas iniciais de gestão, o declarante criou um lema interno
da VALE chamado “MARIANA NUNCA MAIS”, com o objetivo de reforçar que o que ocorreu era
inaceitável e não deveria se repetir”.
38
Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2019/01/ao-tomar-posse-
presidente-da-VALE-disse-que-seu-lema-seria-mariana-nunca-mais.html> Acesso em: 04 set. 2019.
39
ROSTAS, Renato. Hoje o estado das barragens é “impecável”, afirma o presidente da VALE.
Jornal Valor Econômico, São Paulo, 10.04.2018. Disponível em:
<https://www.valor.com.br/empresas/5442809/hoje-o-estado-das-barragens-e-impecavel-afirma-o-
presidente-da-VALE>. Acesso em: 04 set. 2019.
126
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
127
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
real segurança de barragens. Afinal, ao invés de perseguir a efetiva estabilidade das estruturas,
a cobrança da Direção da VALE se limitava ao burocrático “escudo” e “salvo conduto”
da emissão de Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs), que conferiam um verniz
de aparente segurança das estruturas ao mercado, ao Poder Público e à sociedade.
40
Item 5 do Relatório da 2ª Reunião do PIESEM-N, de junho de 2018.
128
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
afirmou que “os desejos do Ricardo e do Pirete são de quem não quer fazer quase nada.
Querem apenas que atestemos” (Ofício n.º 492/2019/GCOC).
129
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
130
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
A empresa fez muito esforço, mas realmente não foi possível ser diferente. Teremos que
resolver o problema na raiz”.
131
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Nesse contexto de DCEs positivas como meta, apesar da insegurança das
estruturas, a VALE adotou mecanismo de pressão nas empresas de Auditoria Externa. Ao
invés de atuar de forma independente e livre de pressão, empresas eram retaliadas caso
dificultassem a emissão de DCEs positivas, mesmo para barragens com parâmetros (FS e PAF)
inaceitáveis de segurança geotécnica. Por outro lado, empresas que cediam à pressão e entravam
em conluio para emitir falsas DCEs positivas eram recompensadas pela VALE (conforme será
detalhado na denúncia).
132
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
diversas atividades minerárias direta ou indiretamente relacionadas com as barragens em risco
inaceitável (intolerável). A adoção sistemática e simultânea das diversas medidas necessárias
para as estruturas listadas no Ranking de Barragens em Situação Inaceitável (Top10 – Alarp
Zone) causaria um IMPACTO REPUTACIONAL NEGATIVO certo e imediato.
E ainda que fossem adotadas tais medidas, as estruturas poderiam romper, tal
qual rompeu a Barragem I. Vidas seriam salvas com a adoção de medidas de transparência e
emergência, mas o rompimento de uma das barragens da lista das “Top10” ainda agravaria o
impacto reputacional negativo para a VALE.
133
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
41
O contrato n.º 5500043549 foi celebrado em 24 de fevereiro de 2017 entre a empresa VALE
(contratante) e as empresas POTAMOS e TÜV SÜD (contratadas). O objeto do contrato consistia em
“elaborar, preparar, concluir e entregar para a VALE estudos, incluindo sem se limitar a planos de
trabalhos, relatórios de consolidação de dados, relatórios técnicos, entre outros, para aplicação na gestão
de riscos para estruturas de 13 (treze) barragens e diques da divisão de minérios ferrosos da VALE”
(cláusula 1ª). O objeto (GRG de 13 barragens) foi decomposto em 5 etapas, sendo o escopo de cada
etapa dividido em tarefas que couberam às empresas contratadas, POTAMOS e TÜV SÜD. O valor do
contrato foi estipulado em R$ 1.708.453,31 (um milhão, setecentos e oito mil, quatrocentos e cinquenta
e três reais e trinta e um centavos), referente aos serviços prestados pela POTAMOS (cláusula 3ª), com
prazo de vigência de 18 meses (cláusula 9ª).
135
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
No dia 16.11.2017, durante o Painel Internacional de Especialistas (PIESEM
Nov17), a equipe técnica da POTAMOS realizou apresentação denominada Estudo de Caso
- Barragem I - Córrego do Feijão (Modos de Falha Instabilização e Liquefação). Durante a
apresentação, os consultores da POTAMOS alertaram para a falta de informações históricas do
maciço da Barragem I e apresentaram preocupantes conclusões dos estudos para o modo de
falha de Liquefação em condição não drenada com pico (gatilho) para a Barragem I, que
indicaram baixo fator de segurança (FS), no valor de 1,06.
42
Em tradução livre, o conteúdo do slide é o seguinte:
Tailing disposal without operational rules (1976-2005) – EL. 929,5m (superficial spilway on right
abutment) significa “Disposição de rejeitos sem controle (1976-2005) – Elevação 929,5 m (vertedouro
superficial na ombreira direita).”;
No historical information, mainly about internal drainage system significa “sem informação histórica,
principalmente sobre o sistema interno de drenagem”;
Setback axis significa “eixo deslocado para montante”;
Sinter Feed used in drainage system, until El. 922,5m significa “Minério fino usado no sistema de
drenagem, até Elevação 922,5 m”
High piezometric levels significa “níveis piezométricos altos”.
136
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
43
Em tradução livre, o conteúdo do slide é o seguinte:
10 – GRG – Deterministic Liquefaction Analysis – Yield Strength significa “10 - GRG – Análise
Determinística da Liquefação – Razão de Resistência”;
Saturated Tailing significa “rejeito saturado”.
137
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
medidas para aumentar o fator de segurança para liquefação da Barragem I. A equipe técnica
da POTAMOS sugeriu a instalação de “Berma de Estabilização”44 (figura 48) e a equipe da
TÜV SÜD recomendou a instalação de Drenos Horizontais Profundos (DHPs)45.
139
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
A VALE descartou a orientação da POTAMOS e definiu pela instalação dos
DHPs, mediante a contratação da empresa ALPHAGEOS para executar o serviço.
Mas, para além dos debates sobre as medidas emergenciais para estabilização
(que culminou na escolha dos DHPs), após a apresentação com o fator de segurança crítico no
PIESEM de 2017 e durante as reuniões que se seguiram em dezembro de 2017 e no início de
2018, os funcionários da VALE exerceram pressão sobre a equipe técnica da POTAMOS
para que admitisse alternativas técnicas e metodológicas na análise de liquefação, de forma
que os “(re)cálculos” fossem suficientes para alcançar resultados satisfatórios no valor do
Fator de Segurança.
47 Ouvida perante o MPMG e a PCMG, Maria Regina Moretti (especialistas geotécnica da POTAMOS)
afirmou que “diante das condições de fator de segurança constatadas e reportadas a VALE, a declarante
não atestaria a estabilidade da Barragem B1 do CCF de Brumadinho”. Além disso, afirmou que “se
manteve firme no seu entendimento e optou por não modificá-lo”, que “se recorda ter deixado claro na
reunião de que não concordava em alterar o parâmetro de resistência não drenado de pico/gatilho da
Barragem B1, pois não havia nenhum dado novo a acrescentar até então”. Como consequência, informou
que “após a POTAMOS discordar da minuta de ata da reunião encaminhada pela VALE, a declarante
foi informada pela diretoria da POTAMOS que não continuariam nos trabalhos de risco monetizado da
barragem B1 em Brumadinho” e que “os trabalhos de risco monetizado na barragem B1 seriam
continuados pela empresa TUV SUD”. E foi além, alegando que “continua entendendo, mesmo após
analisar o relatório revisado apresentado pela empresa TUV SUD, de que a declarante não atestaria a
estabilidade da barragem B1”.
140
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Após a retaliação da VALE em relação à empresa POTAMOS, ocorreu um
conluio entre a VALE e a TÜV SÜD (como se demonstrará adiante), de forma que a TÜV
SÜD assumiu toda a análise técnica do modo de liquefação da Barragem I, e concordou em
declarar a estabilidade da Barragem I, apesar dos resultados críticos.
48
O contrato n.º 5000091949 foi celebrado em 17 de fevereiro de 2017 entre a empresa VALE
(juntamente com Mineração Corumbasense Reunida S.A. e VALE Manganes S.A.), figurando como
contratantes, e a empresa TRACTEBEL Engineering Ltda., figurando como contratada. O objeto do
contrato consistia na “prestação de serviço de realização da auditoria técnica de segurança de barragens
das Minas Ferrosos da VALE” (cláusula 1ª). O valor do contrato (Anexo 3) foi estipulado de forma
variável, de acordo com o número de barragens, podendo chegar a R$ 989.648,98 para 50 barragens, ou
de acordo com o período, podendo chegar a R$ 2.968.946,94 para o período de três anos (vigência do
contrato).
141
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
• 23 de março de 2018: Declaração de Condição de Estabilidade perante o Departamento
Nacional de Proteção Mineral (DNPM) para fins de Inspeção de Segurança Regular de
Barragem.
142
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
de todas as reuniões e debates que se sucederam sobre a segurança da Barragem I (já descritas),
a VALE dissimulou a situação crítica para a TRACTEBEL ao compartilhar somente o
desatualizado estudo da GEOCONSULTORIA e não informar sobre os alarmantes e mais
atualizados estudos da POTAMOS.
143
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
emitira as duas DCEs anteriores (setembro/17 e março/18), a VALE optou por afastar a
TRACTEBEL da Auditoria Técnica de Segurança da Barragem I, (re)passando a análise,
elaboração de relatório técnico e respectiva Declaração de Condição de Estabilidade da
Barragem I de setembro de 2018 para a TÜV SÜD49.
49
O pedido de informações da TRACTEBEL e o posterior afastamento contratual pela VALE podem
ser conferidos na sequência de e-mails de 27.06.2018, com o assunto “Auditoria Setembro/18 –
Barragem I”, entre JANIMARA LIMA e ANA YODA (TRACTEBEL) e o denunciado
WASHINGTON PIRETE (VALE). Tais e-mails foram fornecidos aos órgãos de investigação pelos
funcionários da TRACTEBEL.
A dinâmica acima narrada pode ser verificada na troca de e-mails do final de junho de 2018 (fornecidos
pela própria TRACTEBEL) entre funcionário da VALE e representantes da TRACTEBEL. Janimara,
gerente de projeto da TRACTEBEL, enviou e-mail para Washington Pirete (VALE) e para a Engenheira
Ana Yoda (TRACTEBEL) que assinara as DCEs anteriores. Janimara (TRACTEBEL) afirmou no
e-mail que a DCE de setembro de 2018 referente A Barragem I fora “retirada” do escopo da
TRACTEBEL e repassada para a TÜV SÜD por “divergências de critérios utilizados para avaliação de
segurança geotécnica, para o modo de falha Liquefação”. Apesar do afastamento do contrato, Janimara,
em nome da TRACTEBEL, também afirmou que “externamos nossa preocupação” e insiste em “mui
respeitosamente solicitar esclarecimentos sobre tais informações que circulam no mercado”. Em
resposta, Washington Pirete (VALE) afirmou que faria uma reunião de alinhamento com apresentação
da anomalia da perfuração do DHP, mas confirmou a “retirada do escopo de auditoria”, argumentando
tratar-se de “decisão conjunta entre as partes em função da mudança do critério de análise”.
144
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
A toda evidência, mais uma empresa que demonstrou maior preocupação com
segurança (TRACTEBEL) foi sumariamente afastada (retaliação) pela VALE, ampliando-se o
conluio entre VALE e TÜV SÜD com o pleno funcionamento do mecanismo de recompensa
comercial.
145
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Percebe-se um ambiente corporativo de pressão, inclusive influenciado pela
postura da alta direção da VALE (tone at the top50). A conduta do Presidente da VALE
reforçava o ambiente corporativo refratário a críticas e direcionado à retaliação de pessoas que
endereçassem notícias negativas que pudessem “fazer mal à toda organização”, notadamente
quando questionavam políticas corporativas do Diretor-Presidente.
50
A expressão Tone at the Top é comumente referida no jargão do compliance corporativo para reforçar
que “o exemplo vem de cima”. O “comprometimento da alta direção da pessoa jurídica, evidenciado
pelo apoio visível e inequívoco ao programa” é tratado no artigo 40, inciso I, do Decreto Estadual n.
46.782/2015 como o primeiro parâmetro para a Controladoria-Geral do Estado (CGE-MG) na avaliação
sobre a existência e aplicação dos programas de integridade das empresas. O “comprometimento e apoio
da alta direção” é considerado pela Controladoria-Geral da União (CGU) como um dos 5 pilares de um
Programa de Integridade. A postura do Presidente é fundamental para que uma cultura organizacional
de integridade seja internalizada pelas Diretorias, Gerências e demais funcionários. O Tone at the Top é
reconhecido em diplomas internacionais e guidelines em diversos países (FCPA Resource Guide, The
UK Bribery Act, Convenção da OCDE e U.S. Federal Sentencing Guidelines, por exemplo). Sem o
verdadeiro comprometimento do topo, um programa de integridade não passará de um regulamento de
papel.
146
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
impunemente”. Após a representação anônima, o Presidente FABIO SCHVARTSMAN
iniciou troca de e-mails (ver Ofício n.º 492/2019/GCOC) com três pessoas-chave na estrutura
da VALE (Ética, Governança e Auditoria Interna) com o objetivo de identificar e retaliar o
noticiante anônimo: Alexandre Aquino (Ouvidor e Gerente Executivo de Ética e Conduta da
VALE), Ricardo Baras (Diretor Global de Auditoria Interna da VALE) e Luiz Gustavo Gouvea
(Gerente Executivo de Governança Corporativa da VALE).
Ou pior: existia internamente a regra não escrita de que o GRG não deveria
sequer ser mencionado nos estudos que seriam fornecidos ao Poder Público. Em troca de
e-mails no período de junho de 2018, o denunciado MAKOTO NAMBA (TÜV SÜD) responde
para o consultor Fernando Lima (POTAMOS) que “já tentamos várias vezes colocar os
documentos do GRG como referência, mas a VALE sempre pediu para não referenciar o GRG,
por se tratar de uma documento interno da VALE, que eles não querem disponibilizar à ANM”.
148
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
mais ampla do que apenas os riscos geotécnicos. A terceira linha de defesa seria representada
pela Auditoria Interna da VALE e pela Ouvidoria51.
51
Conforme informações prestadas ao MPMG e à PCMG por diversos investigados e testemunhas,
notadamente GERD PETER POPPINGA e seu substituto MARCELLO MAGISTRINI SPINELLI.
149
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
estruturas autônomas de geotecnia ocorreu logo após o desastre de Mariana, visando, em tese,
prevenir e evitar outras catástrofes como a ocorrida com a barragem de Fundão. Como consta
no próprio site da VALE, até 2015, a gestão das barragens era descentralizada e cada área era
responsável pela segurança de suas barragens. A partir de 2016, ocorreu a centralização das
atividades de Geotecnia, dividindo-as, contudo, em duas gerências.
150
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 50. Processos de Geotecnia e Responsabilidades – Documetnto apreedido na em poder de ALEXANDRE CAMPANHA.
151
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
As responsabilidades, como demonstra a figura 50, foram divididas de acordo
com o ciclo de vida das estruturas geotécnicas. Assim, durante a operação até o fechamento da
estrutura, a maior parte das responsabilidades referentes à segurança geotécnica é
compartilhada entre as duas gerências. As responsabilidades compartilhadas entre as duas
gerências são as seguintes:
Ainda que houvesse uma confusa tentativa de divisão na gestão das informações,
as duas Gerências tinham amplo acesso a todos os instrumentos, informações e
documentos técnicos sobre as barragens da VALE. Qualquer evento ou informação de maior
sensibilidade era compartilhada entre as duas gerências. Enquanto a Gerência de Geotecnia
152
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Matricial reunia todos os estudos e riscos de cada barragem, a Gerência de Geotecnia
Operacional tinha amplo conhecimento prático das estruturas.
Figura 51. Apresentação VALE demonstrando a divisão dos times Operacional e Matricial para gestão
de segurança e de riscos geotécnicos. 52
52
O gráfico consta da apresentação Webinar Sustentabilidade, datada de 11.12.2018, direcionada a
investidores da VALE e extraída do site oficial da empresa. Disponível em:
<http://www.VALE.com/PT/investors/information-market/presentations-
webcast/PresentationsWebCastDocs/ESG_Webinar_20181211_p.pdf> Acesso em 13.11.2019.
153
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
gerências tinha a atribuição de reunir e analisar informações, enquanto a outra cuidava da rotina
diária das estruturas. Entretanto, na prática, a gestão compartilhada das barragens causou
evidente imputação recíproca. Apesar de cada uma das gerências ter uma parcela das atribuições
como uma grande engrenagem, ambas se escudavam na responsabilidade final da outra.
154
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
155
Gráfico 04. Síntese da imputação reciproca de responsabilidade entre Geotecnia Matricial e Corporativa.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Por outro lado, os investigados e demais funcionários externos às duas Gerências
de Geotecnia (Diretores ou da Gerência Operacional) claramente imputam a responsabilidade
pela gestão de segurança e risco das barragens a ambas às Gerências de Geotecnia53 .
53
Em depoimentos prestados perante o MPMG e a PCMG, Marcos Conegundes (VALE), Coordenador
do PAEBM, noticiou que as duas gerências de geotecnia poderiam recomendar à Gerência Executiva
Operacional do Paraopeba a realocação das estruturas administrativas do Complexo Minerário do
Feijão. O Gerente Operacional RODRIGO MELO, por seu turno, em depoimento perante a Polícia
Federal, disse que a responsabilidade para gestão e manutenção das estruturas inativas era do “Setor de
Geotecnia”. O então presidente da empresa, Fábio Schvartsman, em seu depoimento perante o MPMG
e a PVMG, de igual forma, declarou que seriam dois os donos do risco, “sendo RENZO ALBIERI da
geotecnia operacional e em segunda linha ALEXANDRE CAMPANHA, aos quais caberia a
responsabilidade de informar se havia problema na barragem”.
156
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
praticar condutas ilícitas e assumiram o risco de rompimento e o risco dos catastróficos
resultados advindos do rompimento.
157
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
(ii) TAREFAS OMISSIVAS:
concorrer para a omissão em providenciar, adotar ou recomendar medidas de
segurança tempestivas e eficazes que pudessem resgatar a estabilidade da Barragem I;
158
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
1) Fabio Schvartsman (Diretor-Presidente da VALE)
159
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
“relatório final referente à auditoria de Gerenciamento de Riscos conduzida em Belo
Horizonte”. O documento anexado disseminava informações sobre problemas na gestão do
“risco de ruptura de barragem de rejeito crítica”, tratando expressamente da Barragem I:
(iv) para atingir seu objetivo de alçar a VALE à condição de liderança mundial em valor de
mercado, o denunciado FABIO SCHVARTSMAN buscou evitar impactos reputacionais
negativos decorrentes da adoção de medidas sistemáticas e simultâneas em relação às barragens
com risco inaceitável, dentre elas a Barragem I.
160
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Desde o início de sua gestão como Diretor-Presidente da VALE, o denunciado
FABIO SCHVARTSMAN conhecia a REAL POSSIBILIDADE de existirem barragens de
rejeito de minério em SITUAÇÃO INACEITÁVEL DE SEGURANÇA e de que tais
barragens pudessem vir a romper.
54
Conforme depoimento de FABIO SCHVARTAMAN perante o MPMG e a PCMG.
55
Conforme estatística informada pelo próprio FABIO SCHVARTSMAN em seu depoimento perante
o MPMG e a PCMG.
161
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
antigas, construídas por alteamento a montante, método reconhecidamente mais arriscado.
Além disso, muitas barragens da VALE foram adquiridas de outras mineradoras, que não
dispunham de todos os projetos de construção e sequer detinham informações confiáveis sobre
o histórico de operação, muitas vezes realizado com técnicas ultrapassadas e sem o controle
adequado de disposição de rejeitos. A falta de informações históricas, além de grave, tornava o
risco até mesmo desconhecido ou de difícil cálculo. Tais dados sobre os riscos do acervo de
barragens da VALE, muito além do que meros dados geotécnicos que se restringiriam ao
âmbito operacional e de manutenção de estruturas, são informações diretamente relacionadas
com os desafios e riscos do próprio negócio minerário da VALE como um todo, objeto imediato
de gestão de alta cúpula e reconhecidos pelo presidente através do lema Mariana Nunca Mais!.
Figura 52. Slide da Apresentação Aspectos Importantes – Dam Break. Barragem Maravilhas II,
Barragem Maravilha III e Barragem I. (PIC n.º MPMG-0090.19.00013-4, Anexo 33, fl. 36)
162
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Além da real possibilidade de existência de barragens em situação de risco, o
denunciado FABIO SCHVARTSMAN conhecia a REAL PROBABILIDADE de que
ocorressem OMISSÕES de transparência, segurança e emergência em relação às
ESTRUTURAS COM RISCO INACEITÁVEL, viabilizadas através de DCEs FALSAS,
que constituiriam condutas penalmente relevantes.
Para a compreensão de que DCEs falsas eram emitidas, bastaram poucos dias de
evento para que os especialistas nacionais convidados pela VALE a participar do Painel de
Especialistas (PIESEM-N de junho de 2018) afirmassem que “mesmo com o resultado das
análises não drenadas de estabilidade indicando fatores de segurança mais baixos, as
declarações de estabilidade foram emitidas”. Da mesma forma, poucos dias foram suficientes
para os especialistas internacionais diagnosticarem que o problema da VALE era gerencial
163
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
(PIESEM-I de novembro de 2017). Consta do relatório final dos especialistas que “tecnologia
não é um problema”, mas que “melhorias precisavam ser feitas no sistema de gestão”
(tradução livre).
164
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
da VALE (GRG e GEOTEC) e os Painéis de Especialistas, nacionais e internacionais
(PIESEM-N e PIESEM-I).
165
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
166
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
concisos e validavam de forma clara parâmetros que deveriam ser observados, problemas a
serem enfrentados e questões relevantes de (in)segurança de barragens.
56
Em seu depoimento perante o MPMG e a PCMG, FABIO SCHVARTSMAN afirmou que “existiam
reuniões mensais nas quais eram apresentados os dados de resultado mês a mês, sendo eventualmente
sugeridos ajustes ou correções de rumos nas estratégias”.
167
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
BLINDAR a alta cúpula e EVITAR O CONHECIMENTO FORMAL DA SITUAÇÃO
DE CRITICIDADE de diversas barragens da VALE, entre elas a Barragem I do Córrego
do Feijão.
57
ROSTAS, Renato. Hoje o estado das barragens é “impecável”, afirma o presidente da VALE.
Jornal Valor Econômico, São Paulo, 10.04.2018. Disponível em:
<https://www.valor.com.br/empresas/5442809/hoje-o-estado-das-barragens-e-impecavel-afirma-o-
presidente-da-VALE>. Acesso em: 04 set. 2019.
58
Em 08.06.2018, FERNANDO LIMA (POTAMOS) enviou e-mail para MAKOTO NAMBA (TÜV
SÜD) solicitando que constasse do relatório técnico que seria enviado para a ANM, por ocasião da
RPSB e respectiva DCE, a referência aos estudos do GRG, “já que deles foi extraído praticamente todo
o texto de Avaliação de Segurança Hidráulica”. O objetivo seria diferenciar os trabalhos de RPSB e de
GRG, que eram objeto de contratos diferentes, produzidos por empresas de Consultoria/Auditoria
diferentes. Em resposta, o denunciado MAKOTO NAMBA (TÜV SÜD), informou que “já tentamos
várias vezes colocar os documentos do GRG como referência, mas a VALE sempre pediu para não
referenciar o GRG, por se tratar de uma documento interno da VALE, que eles não querem
disponibilizar à ANM”.
168
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
importância, afirmou que “não esteve presente em nenhum dos painéis de especialistas em
geotécnica e barragens promovidos pela VALE S.A.” e que sequer “sabe exatamente quais
assuntos foram debatidos no painel, nem especificamente quais foram as apresentações
realizadas nesses painéis”59. Admite que “os relatórios finais dos painéis foram reportados até
o nível de diretoria de SILMAR E LUCIO CAVALLI”, mas alega que “não sabe informar
porque as conclusões dos painéis de especialistas nacionais e internacionais não foram
reportados por SILMAR E LUCIO CAVALLI para a diretoria executiva e a presidência”.
Mesmo promovendo os Painéis de Especialistas, criados na sua gestão, como uma das
principais iniciativas para diagnosticar problemas e orientar soluções estratégicas e
padronizadas, maliciosamente buscou evitar o conhecimento formal da alta cúpula sobre o
Relatório Final e suas conclusões.
59
Depoimento de FABIO SCHVARTSMAN perante a Polícia Federal.
169
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
responsabilidade ao vistoriador, que faz a Auditoria Externa. Após o rompimento, o “plano B”
foi colocado em prática, afirmando o denunciado FABIO que “se não fosse atestada a
declaração de condição de estabilidade da Barragem B1, em Brumadinho/MG, pela TÜV SÜD,
a tragédia humanitária teria sido evitada”60, eis que “se não houvesse laudo de estabilidade não
teria um único morto, porque todas as evacuações necessárias seriam feitas a tempo”61. O
“plano B” foi colocado em prática para afastar a responsabilidade da Gestão Criminosa e
direcioná-la apenas para a Operação Minerária Criminosa e para a Auditoria Criminosa, como
se a responsabilidade pela gestão do risco fosse simplesmente transferida pela contratação de
um Auditor Externo. Entretanto, as responsabilidades no caso não se excluem, mas são
complementares, visto que cada tarefa foi necessária para a dinâmica criminosa. No dia do
rompimento, em 25.01.2019, comunicado oficial da VALE, voltado para seus investidores,
novamente se apoiava publicamente nas falsas DCEs:
60
Depoimento de FABIO SCHVARTSMAN perante a PF.
61
Depoimento de FABIO SCHVARTSMAN perante o MPMG e a PCMG.
62
Notícia veiculada no site da VALE em 27.01.2019. Disponível em
<http://www.vale.com/brasil/PT/aboutvale/news/Paginas/Esclarecimentos-sobre-a-barragem-
I-da-Mina-de-Corrego-do-feijao.aspx>, Acesso em 18.11.2019.
170
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
questionassem políticas corporativas implementadas pelo próprio Presidente, inclusive quanto
à segurança de barragens.
[...] estamos com grandes desafios pela frente nossas instalações estão
carentes de investimentos correntes para adequação mínima, estamos com
recursos humanos deficitários e mal remunerados nas áreas de operação,
manutenção e engenharia, plantas incendiando, equipamentos quebrando,
barragens no limite, relação estéril/minério abaixo do mínimo aceitável, nos
próximos anos precisamos resgatar isso para que as condições mínimas de
operação segura para pessoas e instalações sejam garantidas, não há mais
como reduzir o custo na área operacional, isso precisa e deve ser feito no
corporativo.[...]
171
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
seus e-mails nunca estiveram tão seguros”. O provedor garante que o “o direito à privacidade
está no coração do Tutanota”. Explica o Tutanota que são “lutadores da privacidade” e que
“com estritas leis de proteção de dados e o GRPD, a Alemanha possui uma das melhores leis
do mundo para proteger sua privacidade”.
Gostaria de descobrir quem é este camarada que acha que pode escrever
esta montanha de desaforos impunemente.
O sujeito é um cancro dentro da nossa empresa e pode fazer mal à toda
organização.
___________________________________________________
Nós esgotamos todos os caminhos para identificar o camarada? Inclusive
todos os recursos de TI?
(FABIO SCHVARTSMAN – por e-mail)
172
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Executivo de Governança Corporativa é simbólico. Revela o objetivo de reforçar a regra de
blindagem da alta cúpula através da criação de barreiras informacionais.
Caro Fábio, tentamos aprofundar a análise hoje, mas, infelizmente, não foi
possível identificar o remetente. Ele realmente foi bastante cuidadoso.
___________________________________________________
Levantamos todos os acessos de dentro da rede da VALE ao provedor de
e-mail confidencial (tutanota), assim como todas as trocas de mensagem com
o provedor de e-mail e com o e-mail (tes@gmail.com) que o remetente criou
para verificar se a mensagem chegou. Não encontramos nada. Procuramos
ainda por um trecho da mensagem onde há um erro incomum, ele grafou
“know how” como “kwo hown”, para o caso dele ter escrito a mensagem na
VALE e enviado para o seu e-mail particular. Não encontramos nada.
Ele certamente escreveu e enviou esta mensagem de seu computador
particular, de fora da rede da VALE.
Analisando a mensagem, ela parece ter sido escrita por um gestor da área
operacional, possivelmente da área de automação de minério de ferro.
Conjugando estas informações com o perfil que ele descreveu (+27 anos de
casa e 2 filhos), poderíamos verificar as mensagens de empregados que casem
com o perfil.
173
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Seria um esforço que demandaria muito trabalho, com grandes chances de não
encontrarmos nada, pois ele foi muito cuidadoso na preparação e envio da
mensagem, muito provavelmente incluiu propositalmente alguns erros
gramaticais para disfarçar e deve ter mentido em relação ao perfil.
63
Conforme depoimento prestado por FABIO SCHVARTSMAN perante a Polícia Federal.
64
A metáfora da “febre do topo” (summit fever) é comumente referida para designar a obsessão no
cumprimento de uma tarefa, assumindo riscos que não deviam ser tolerados. Trata-se de expressão
cunhada no alpinismo e retrata a compulsão irracional de alguns atletas que adentram a “zona da morte”
(acima de 8.000 metros de altitude) e buscam atingir o topo da montanha a qualquer custo, mesmo
quando existem sinais de que os riscos superam as chances de sucesso.
174
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
65
Conforme depoimento de FABIO SCHVARTSMAN perante o MPMG e a PCMG.
175
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
transparência, emergência e segurança, assumindo o risco dos resultados morte e danos
ambientais.
176
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
A chamada Gerência de Geotecnia Operacional exercia diversas atribuições
relacionadas à segurança e estabilidade das estruturas, várias delas compartilhadas com a
Gerência de Geotecnia Matricial.
177
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
o Ranking de Barragens em Situação de Risco Inaceitável – Top 10, os quais eram do pleno e
profundo conhecimento do denunciado SILMAR SILVA.
178
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
expressamente a adoção de Fator de Segurança superior a 1,3 para barragens de rejeitos da
VALE em condição não drenada.
179
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
2) A Barragem I (Feijão) requer mais investigação e monitoramento de campo
para identificar e projetar medidas complementares mais eficientes, tais como
bermas e mineração de rejeitos, caso se mostrem necessárias, a fim de reduzir
o risco atual. Mas, o atual nível da superfície freática através de drenos
horizontais e outras soluções de drenagem. A opinião do painel é que a
mineração de rejeitos é viável, embora seja necessária uma engenharia
detalhada adequada. (grifo nosso)
Eu, que estou a algum tempo em contato com a gestão das estruturas
geotécnicas, vejo uma evolução absurda em nossos controles e em nossas
soluções. Entretanto, parece-me que no mundo atual, elas não são suficientes.
Uma das nossas missões será de extinguir toda estrutura de montante,
pois há um desconforto na alta gestão da empresa sobre o tema.
Durante a reunião, aproveitando a presença do Silmar e demais, toquei
no ponto da miscelânea de relações entre projetista, auditor e consultor.
(grifo nosso)
180
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Revisão Periódica de Segurança de Barragens (RPSB) - DPA Alto. No e-mail, a denunciada
alerta:
Silmar e Alexandre,
Ontem durante a execução do dreno horizontal na Barragem B1- Feijão, houve
a contaminação do fluído de perfuração com rejeito. Após constatação,
paralisou-se a operação e verificou-se alteração na piezometria nas
proximidades da operação. Esta alteração está abaixo do nível crítico. Devido
ao horário de final da tarde, faremos hoje uma inspeção especial desta
barragem. César e Renzo estiveram no local e estarão hoje, nesta inspeção.
Alexandre, por ser este um projeto conjunto e este é um dos senões deste tipo
de solução, solicito uma avaliação crítica conjunta entre nossa equipe e o
projetista (Paulo Abrão). Após a inspeção, daremos mais detalhes e
classificaremos o risco.
182
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Profundos (DHPs), que se mostraram ineficazes e não foram substituídos por qualquer outra
medida tempestiva e, de fato, capaz de garantir a segurança da Barragem I.
183
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
pleno e profundo conhecimento de que, em razão da situação com potencial comprometimento
da segurança da estrutura, a Barragem I não poderia ter a sua estabilidade garantida com a
emissão de Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) positivas; f) tinha pleno e
profundo conhecimento de que nenhuma medida eficaz foi tempestivamente adotada para
controlar ou extinguir a situação com potencial comprometimento da segurança da Barragem I,
estando o denunciado ciente, portanto, da condição de emergência em nível 2 da estrutura;
g) tinha pleno e profundo conhecimento da existência de pessoas e de estruturas administrativas
na Zona de Autossalvamento da Barragem I, bem como dos atributos ambientais existentes a
jusante da estrutura.
184
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
transparência, segurança e emergência que, caso tivessem sido adotadas, impediriam que
os resultados mortes e danos ambientais ocorressem da forma e na proporção como
ocorreram.
185
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
rompimento e os resultados dele decorrentes não teriam ocorrido da forma e na proporção como
ocorreram.
186
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Conforme já narrado na presente denúncia, deve ser repisado que a DCE positiva
datada de junho de 2018 foi emitida e assinada pelo denunciado CÉSAR GRANDCHAMP,
sob o comando dos denunciados JOAQUIM TOLEDO e SILMAR SILVA, no dia 13 daquele
mês, portanto apenas dois dias após a ocorrência da erosão interna (11 de junho de 2018) que
ensejou a interrupção da implantação dos DHPs.
187
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
adotadas, os resultados mortes e danos ambientais não teriam ocorrido da forma e na proporção
como ocorreram.
189
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Ao denunciado LÚCIO CAVALLI incumbia, de forma específica, dirigir a
equipe de Geotecnia Matricial e, nesse sentido, liderar toda a gestão de riscos geotécnicos da
VALE, inclusive definir ações para identificar, administrar, conduzir e prevenir os riscos
ligados a todas as estruturas de barragens de ferrosos da companhia.
Neste compasso, LÚCIO CAVALLI dirigia, com poder de decisão ainda maior
que o do denunciado ALEXANDRE CAMPANHA, a equipe gestora do sistema GRG –
Gestão de Riscos Geotécnicos (“caixa preta” da VALE), o qual armazenava informações de
riscos geotécnicos de todas as estruturas de ferrosos da VALE.
190
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Neste ponto, a denunciada MARILENE LOPES, em seu depoimento, aduziu
que “as recomendações emitidas ao final dos painéis de especialistas, com toda certeza,
chegavam até os diretores SILMAR SILVA E LUCIO CAVALLI”.
191
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
considerando, ainda, as consequências monetárias e humanitárias do colapso. Na mencionada
apresentação, o denunciado FELIPE ROCHA apontou, ainda, a liquefação estática e a erosão
interna como sendo os dois modos de falha com maior probabilidade de ocorrência na Barragem
I da Mina Córrego do Feijão.
Campanha tudo bem? Olha só, eu estive lá hoje né, fomos eu e Wagner lá e a
situação lá tá controlada, assim, na minha visão foi um evento muito
importante. [...]
194
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
O que aconteceu lá é que o César estava perfurando para instalar os DHPs nas
bermas mais de baixo da barragem próximo da seção três que é uma seção
que não tem um fator de segurança acima de 1.3 para condição não
drenada […] eu vi o vídeo na verdade era muita água com rejeito na canaleta
que tem do lado dessa sessão, uma canaleta grande, mas é uma canaleta que
também não é boa, e aí ele acionou o pessoal. Nesse momento os piezômetros
também subiram, teve um piezômetro que está instalado bem profundo ele
subiu 4m e teve um outro que subiu 1m [...].
Campanha, bom dia. Só pra você ficar tranquilo, com relação à retirada do
material, ontem à noite eu fui conversar com o Lúcio, e eu já falei pra ele
que é importante a decisão de desmontar a estrutura, mas que vai
195
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
demorar muito tempo, pra não ter expectativa de que essa estrutura a
gente desmonta rápido, porque o processo lá vai ser muito lento. Tem que
ser muito lento porque a gente não pode ter nenhum gatilho nessa
estrutura. Eu já falei isso pro Lúcio, olha, pra mim é coisa assim de 2 a 5
anos. A gente não sabe exatamente o tempo, tem que fazer o projeto
direitinho. É um processo muito lento mesmo. Quanto ao DHP, é
importante ficar claro que o DHP é uma solução pra colocar a barragem
com fator de segurança adequado. Hoje, essa barragem não passa pra
liquefação. Se ele tivesse qualquer outro gatilho, poderia ser muito pior.
[...] acho que o DHP é uma solução pra colocar uma estrutura, que não
tem uma condição adequada, numa condição melhor. [...]
Então eu fico te aguardando, eu até troquei umas mensagens por e-mail com
Lúcio e nós temos que agora focar naquilo que a gente conversou ontem que
fazer o projeto detalhado dessa lavra dessa barragem, inclusive eu já antecipei
o assunto com Rodrigo Melo também, ele tá de bem, mas ele quer saber como
é que ele faz né. Pra gente também não sair fazendo as coisas de forma
196
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
desesperada e daqui a pouco provocar um gatilho na estrutura, que vai ser
muito pior né […].
197
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Além das informações acima elencadas, o denunciado LÚCIO CAVALLI
conhecia a potencialidade lesiva da onda de lama que escaparia da Barragem I em caso de
colapso.
198
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Situação Inaceitável, aos painéis de especialistas e, ainda, às discussões internas travadas entre
os denunciados demonstram o pleno e profundo conhecimento do denunciado LÚCIO
CAVALLI sobre a situação de insegurança da Barragem I, bem como sobre as consequências
humanitárias e ambientais do colapso da estrutura.
199
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
e a efetiva implementação dos comados do Diretor-Presidente FABIO SCHVARTSMAN no
Corredor Sudeste, onde se encontra a Mina Córrego do Feijão.
200
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
de Condição de Estabilidade (DCEs) positivas da Barragem I, a despeito das informações
internas de criticidade por eles conhecidas.
Mas como sempre, a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se não
passar, irão assinar ou não ?
(13.05.2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA)
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCIUS WEDEKIN)
201
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
esquema já narrado de retaliação/recompensa que norteava a emissão das DCEs, não somente
pressionando a TÜV SÜD e seus funcionários para a emissão dos falsos documentos, mas
também os premiando como forma de incentivo ao reconhecido esforço para a declaração de
uma estabilidade que, na verdade, não existia.
202
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
205
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
sendo os dois modos de falha com maior probabilidade de ocorrência na Barragem I da Mina
Córrego do Feijão.
206
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Campanha, gostaria de informar-lhe que concluímos a RPSB das barragens de
DPA Alto e 100% obtiveram as Declaração de Estabilidade (DCEs). Todas já
foram cadastradas no SIGBM e, portanto, cumprimos integralmente esse
marco legal da Portaria 70.389/2017.
Felizmente, obtivemos sucesso na obtenção de todas as declarações, mas
gostaria de destacar que o processo de RPSB não foi um processo simples.
[...]
No entanto, é importante mencionar que algumas estruturas, a despeito do
resultado, merecem atenção total, no atendimento às pertinentes
recomendações dos revisores externos, visando garantir, primeiramente, a
segurança das estruturas e também a obtenção da DCE na próxima Auditoria
Externa (Setembro/2018).
São elas:
Barragem I de Feijão: rebaixar a linha freática na estrutura e implantar as obras
de descomissionamento efetivo (lavra controlada) e/ou reforçar a estrutura;
[...] (grifo nosso)
207
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Confira-se mensagem enviada pelo denunciado JOAQUIM TOLEDO ao
também denunciado CÉSAR GRANDCHAMP, a ANDREA DORNAS e RICARDO LEÃO,
com as seguintes observações:
Eu, que estou a algum tempo em contato com a gestão das estruturas
geotécnicas, vejo uma evolução absurda em nossos controles e em nossas
soluções. Entretanto, parece-me que no mundo atual, elas não são suficientes.
Uma das nossas missões será de extinguir toda estrutura de montante, pois há
um desconforto na alta gestão da empresa sobre o tema.
Durante a reunião, aproveitando a presença do Silmar e demais, toquei no
ponto da miscelânea de relações entre projetista, auditor e consultor.
(grifo nosso)
208
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Silmar e Alexandre,
Ontem durante a execução do dreno horizontal na Barragem B1- Feijão, houve
a contaminação do fluído de perfuração com rejeito. Após constatação,
paralisou-se a operação e verificou-se alteração na piezometria nas
proximidades da operação. Esta alteração está abaixo do nível crítico. Devido
ao horário de final da tarde, faremos hoje uma inspeção especial desta
barragem. César e Renzo estiveram no local e estarão hoje, nesta inspeção.
Alexandre, por ser este um projeto conjunto e este é um dos senões deste tipo
de solução, solicito uma avaliação crítica conjunta entre nossa equipe e o
projetista (Paulo Abrão). Após a inspeção, daremos mais detalhes e
classificaremos o risco.
209
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 54. Trecho do e-mail enviado por JOAQUIM TOLEDO para SILMAR SILVA em
18.06.2018, copiado para RENZO ALBIERI
210
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Apurou-se, assim, que o denunciado JOAQUIM TOLEDO não só conhecia a
situação de insegurança da Barragem I e o debate sobre a necessidade de implementação de
medidas para incremento de segurança da estrutura, como também teve plena ciência de que
nenhuma medida tempestiva e eficaz estava em curso para o restabelecimento da estabilidade
e de que a situação com potencial comprometimento de segurança da estrutura não havia sido
extinta e estava descontrolada, o que caracterizava nível 2 de emergência do PAEBM da
Barragem I.
211
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Interna e Liquefação; b) tinha pleno e profundo conhecimento da necessidade da adoção de
medidas eficazes para a efetiva estabilização da Barragem I; c) tinha pleno e profundo
conhecimento das alternativas existentes para buscar a melhoria do Fator de Segurança da
Barragem I para o modo de falha Liquefação; d) tinha pleno e profundo conhecimento de que
a opção adotada para buscar a melhoria do Fator de Segurança da Barragem I (Drenos
Horizontais Profundos – DHPs) se mostrou ineficaz, tendo em vista a interrupção da instalação
dos DHPs após a ocorrência da erosão interna em junho de 2018 no DHP 15; e) tinha pleno e
profundo conhecimento de que, em razão da situação com potencial comprometimento da
segurança da estrutura, a Barragem I não poderia ter a sua estabilidade garantida com a emissão
de Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) positivas; f) tinha pleno e profundo
conhecimento de que nenhuma medida eficaz foi tempestivamente adotada para controlar ou
extinguir a situação com potencial comprometimento da segurança da Barragem I, estando o
denunciado ciente, portanto, da condição de emergência em nível 2 da estrutura; g) tinha pleno
e profundo conhecimento da existência de pessoas e de estruturas administrativas na Zona de
Autossalvamento da Barragem I, bem como dos atributos ambientais existentes a jusante da
estrutura.
212
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
conhecidas e disponíveis de transparência, segurança e emergência, assumindo, desta
forma, o risco de produzir os resultados mortes e danos ambientais advindos do
rompimento da Barragem I da Mina Córrego do Feijão.
213
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
214
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Conforme já narrado na presente denúncia, deve ser repisado que a DCE positiva
datada de junho de 2018 foi emitida e assinada pelo denunciado CÉSAR GRANDCHAMP,
sob o comando dos denunciados JOAQUIM TOLEDO e SILMAR SILVA, no dia 13 daquele
mês, portanto apenas dois dias após a ocorrência da erosão interna (11 de junho de 2018) que
ensejou a interrupção da implantação dos DHPs.
215
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
deixou de providenciar ou recomendar o acionamento do Plano de Ação de Emergência
(PAEBM) da Barragem I nos níveis 1 e 2, o que ensejaria, inclusive, a comunicação aos órgãos
públicos competentes e o alerta e a evacuação das pessoas situadas na Zona de
Autossalvamento, impedindo, dessa forma, que os resultados mortes e danos ambientais
ocorressem da forma e na proporção como ocorreram.
217
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
218
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Além da participação nos eventos na qualidade de ouvinte, o denunciado
ALEXANDRE CAMPANHA foi o executivo da VALE responsável pela abertura e palestra
de boas-vindas dos PIESEMs Internacionais realizados em novembro de 2017 e outubro de
2018.
219
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
estimado de cerca de 6,5 bilhões de reais em caso de ruptura. Na referida planilha, consta
anotação manuscrita em que o próprio denunciado ALEXANDRE CAMPANHA esclarece
que a barragem situada na oitava colocação se tratava da “B1/FJ”:
222
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
falha associados a cada uma delas. Em tradução livre do documento redigido originalmente em
inglês, tem-se a seguinte constatação:
Repita-se que o sistema Gestão de Riscos Geotécnicos – GRG era uma espécie
de repositório de dados dos riscos geotécnicos de todas as estruturas de ferrosos da empresa
VALE, cuja elaboração e gestão cabia à equipe do denunciado ALEXANDRE CAMPANHA.
Consoante narrado pelo denunciado FELIPE ROCHA, todas as conclusões do GRG eram
compartilhadas com ALEXANDRE CAMPANHA, o gerente responsável pela gestão dos
riscos. Não bastasse o conhecimento meramente corporativo, o documento apreendido na mesa
de ALEXANDRE CAMPANHA, contendo anotações manuscritas, demonstra a proximidade
desse denunciado com o tema.
223
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
segurança da estrutura não havia sido extinta e estava descontrolada, o que caracterizava nível
2 de emergência do PAEBM da Barragem I.
224
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
expressa menção de que setenta e cinco estruturas da empresa estavam sem sistema de alerta
sonoro na Zona de Autossalvamento.
225
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Campanha tudo bem? Olha só, eu estive lá hoje né, fomos eu e Wagner lá e a
situação lá tá controlada, assim, na minha visão foi um evento muito
importante. [...]
O Lúcio convocou uma reunião pra amanhã às 11 horas com o Silmar. Mas a
decisão que já foi tomada lá é que nós vamos desmontar essa barragem. O que
a gente precisa agora é ver como nós vamos desmontar e esse processo
tem que começar já, nesse momento. Sobre a questão da continuidade dos
DHP’s eles estão totalmente interrompidos por hora, mas a gente tem que
discutir o que a gente vai fazer inclusive pra atender as recomendações da
revisão periódica pra segurança dessa estrutura. A gente viu que essa é uma
estrutura que de fato a gente tem que olhar com cuidado, tratar com
cuidado.
Campanha, bom dia. Só pra você ficar tranquilo, com relação à retirada do
material, ontem à noite eu fui conversar com o Lúcio, e eu já falei pra ele que
é importante a decisão de desmontar a estrutura, mas que vai demorar
muito tempo, pra não ter expectativa de que essa estrutura a gente
desmonta rápido, porque o processo lá vai ser muito lento. Tem que ser
muito lento porque a gente não pode ter nenhum gatilho nessa estrutura.
Eu já falei isso pro Lúcio, olha, pra mim é coisa assim de 2 a 5 anos. A
gente não sabe exatamente o tempo, tem que fazer o projeto direitinho. É um
processo muito lento mesmo. Quanto ao DHP, é importante ficar claro
que o DHP é uma solução pra colocar a barragem com fator de segurança
adequado. Hoje, essa barragem não passa pra liquefação. Se ele tivesse
qualquer outro gatilho, poderia ser muito pior. [...] acho que o DHP é uma
226
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
solução pra colocar uma estrutura, que não tem uma condição adequada,
numa condição melhor.
228
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
229
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
No entanto, é importante mencionar que algumas estruturas, a despeito do
resultado, merecem atenção total, no atendimento às pertinentes
recomendações dos revisores externos, visando garantir, primeiramente, a
segurança das estruturas e também a obtenção da DCE na próxima Auditoria
Externa (Setembro/2018).
São elas:
Barragem I de Feijão: rebaixar a linha freática na estrutura e implantar
as obras de descomissionamento efetivo (lavra controlada) e/ou reforçar
a estrutura; [...] (grifo nosso)
230
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
da Barragem I, bem como das gravíssimas consequências humanitárias e ambientais do colapso
da estrutura.
231
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
próprio rompimento da Barragem I, os trágicos resultados dele advindos da forma e na
proporção como ocorreram em janeiro de 2019.
232
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Mas como sempre, a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se não
passar, irão assinar ou não?
(13.05.2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA)
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN).
233
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Destarte, o denunciado ALEXANDRE CAMPANHA teve especial e
destacada participação na obtenção das falsas Declarações de Condições de Estabilidade
(DCEs) positivas da Barragem I.
234
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
6) Renzo Albieri Guimarães de Carvalho (Gerente da VALE)
235
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
recomendações formuladas (inclusive por auditorias externas) com a validação da equipe de
Geotecnia Matricial.
236
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
datada de 03.10.2018 continham informações sobre os conceitos de risco monetizado, estudo
de ruptura hipotética e zona de atenção. Além dos referidos conceitos, a apresentação analisou
a situação concreta da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, incluindo-a no Ranking de
Barragens em Situação de Risco Inaceitável – Top 10, ou seja, no rol de estruturas cuja
probabilidade de ruptura estava acima do tolerável, considerando, ainda, as consequências
monetárias e humanitárias do colapso. Na mencionada apresentação, o denunciado FELIPE
ROCHA apontou, ainda, a liquefação estática e a erosão interna como sendo os dois modos de
falha com maior probabilidade de ocorrência na Barragem I da Mina Córrego do Feijão.
237
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
mineração de rejeitos é viável, embora seja necessária uma engenharia
detalhada adequada. (grifo nosso)
238
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Merece destaque mensagem eletrônica encaminhada pelo denunciado
JOAQUIM TOLEDO aos também denunciados SILMAR SILVA, ALEXANDRE
CAMPANHA, RENZO ALBIERI, CÉSAR GRANDCHAMP e MARILENE LOPES, às
06h04m da manhã do dia 12.06.2018, com o assunto Ocorrência na Barragem B1. No corpo
da mensagem, consta o seguinte:
Silmar e Alexandre,
Ontem durante a execução do dreno horizontal na Barragem B1- Feijão, houve
a contaminação do fluído de perfuração com rejeito. Após constatação,
paralisou-se a operação e verificou-se alteração na piezometria nas
proximidades da operação. Esta alteração está abaixo do nível crítico. Devido
ao horário de final da tarde, faremos hoje uma inspeção especial desta
barragem. César e Renzo estiveram no local e estarão hoje, nesta inspeção.
Alexandre, por ser este um projeto conjunto e este é um dos senões deste tipo
de solução, solicito uma avaliação crítica conjunta entre nossa equipe e o
projetista (Paulo Abrão). Após a inspeção, daremos mais detalhes e
classificaremos o risco. (grifo nosso)
239
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Público e a Polícia Civil, que tomou conhecimento por meio de CÉSAR GRANDCHAMP,
que ele próprio (CÉSAR) e o denunciado RENZO ALBIERI haviam decidido interromper os
DHPs e optaram por fazer perfurações verticais. As perfurações verticais, no entanto, jamais
foram feitas.
240
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Nesse sentido, merece destaque o conteúdo extraído do celular de ARTUR
RIBEIRO, que demonstra que nem mesmo o sistema de bombeamento de água da Barragem I
se encontrava operante no período que antecedeu o rompimento.
241
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
o radar objetivava medir a aproximação ou o afastamento do maciço em relação ao
equipamento, ou seja, a movimentação da estrutura.
242
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
mensagem eletrônica para o denunciado RENZO ALBIERI, para ARTUR RIBEIRO e para
outros funcionários da VALE, contendo os arquivos de atualização do radar com vários
apontamentos de deformação, merecendo destaque a seguinte consideração:
243
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Profundos – DHPs) se mostrou ineficaz, tendo em vista a interrupção da instalação dos DHPs
após a ocorrência da erosão interna ocorrida em junho de 2018 no DHP 15); e) tinha pleno e
profundo conhecimento de que, em razão da situação com potencial comprometimento da
segurança da estrutura, a Barragem I não poderia ter a sua estabilidade garantida com a emissão
de Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) positivas; f) tinha pleno e profundo
conhecimento de que nenhuma medida eficaz foi tempestivamente adotada para controlar ou
extinguir a situação com potencial comprometimento da segurança da Barragem I, estando o
denunciado ciente, portanto, da condição de emergência em nível 2 da estrutura; g) tinha pleno
e profundo conhecimento sobre o agravamento da condição de emergência em nível 2 da
Barragem I; h) tinha pleno e profundo conhecimento da existência de pessoas e de estruturas
administrativas na Zona de Autossalvamento da Barragem I, bem como dos atributos
ambientais existentes à jusante da estrutura.
244
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Em um contexto de divisão de tarefas, o denunciado RENZO ALBIERI
concorreu (mediante tarefas comissivas e omissivas) de forma determinante para a
omissão penalmente relevante quanto aos deveres de providenciar medidas de
transparência, segurança e emergência que, caso tivessem sido adotadas, impediriam que
os resultados mortes e danos ambientais ocorressem da forma e na proporção como
ocorreram.
245
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Classificação quanto à Categoria do Risco, minimizou e atenuou os referidos eventos, a eles
atribuindo, no máximo, a pontuação grau 3, conforme relatório de análise de performance da
Barragem I por ela lavrado:
66
Disponível em http://www.anm.gov.br/parecer-007-2019-brumadinho-final
247
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
mais severa da quinzena, relacionada à falha na perfuração, carreamento de
sedimentos e consequente tamponamento do DHP-15, a Vale S.A. decidiu
reportar no SIGBM apenas as informações levantadas na inspeção realizada
em 06/06/2018, na qual pontua, somente “umidade no pé do talude na
ombreira direta, primeira berma. No mês de junho foi identificado surgência
na canaleta da seção 3 e realizado obra de correção pontual. (p. 60)
249
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
250
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
tais como os denunciados SILMAR SILVA, LÚCIO CAVALLI, ALEXANDRE
CAMPANHA, JOAQUIM TOLEDO e CÉSAR GRANDCHAMP.
Campanha tudo bem? Olha só, eu estive lá hoje né, fomos eu e Wagner lá e a
situação lá tá controlada, assim, na minha visão foi um evento muito
importante [...]
252
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
também subiram teve um piezômetro que está instalado bem profundo ele
subiu 4m e teve um outro que subiu 1m [...].
O Lúcio convocou uma reunião pra amanhã às 11 horas com o Silmar. Mas a
decisão que já foi tomada lá é que nós vamos desmontar essa barragem. O que
a gente precisa agora é ver como nós vamos desmontar e esse processo
tem que começar já, nesse momento. Sobre a questão da continuidade dos
DHP’s eles estão totalmente interrompidos por hora, mas a gente tem que
discutir o que a gente vai fazer inclusive pra atender as recomendações da
revisão periódica pra segurança dessa estrutura. A gente viu que essa é uma
estrutura que de fato a gente tem que olhar com cuidado, tratar com
cuidado.
Campanha, bom dia. Só pra você ficar tranquilo, com relação à retirada do
material, ontem à noite eu fui conversar com o Lúcio, e eu já falei pra ele que
é importante a decisão de desmontar a estrutura, mas que vai demorar
muito tempo, pra não ter expectativa de que essa estrutura a gente
desmonta rápido, porque o processo lá vai ser muito lento. Tem que ser
muito lento porque a gente não pode ter nenhum gatilho nessa estrutura.
Eu já falei isso pro Lúcio, olha, pra mim é coisa assim de 2 a 5 anos. A
gente não sabe exatamente o tempo, tem que fazer o projeto direitinho. É um
processo muito lento mesmo. Quanto ao DHP, é importante ficar claro
que o DHP é uma solução pra colocar a barragem com fator de segurança
adequado. Hoje, essa barragem não passa pra liquefação. Se ele tivesse
qualquer outro gatilho, poderia ser muito pior. [...] acho que o DHP é uma
solução pra colocar uma estrutura, que não tem uma condição adequada,
numa condição melhor.
253
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
na Barragem foi um processo de erosão não teve nada de liquefação, acho
importante isso também ficar claro e porque a probabilidade de falha da
Barragem é maior pra erosão até do que pra liquefação, por causa da forma
que a barragem foi construída, da heterogeneidade dos materiais, por causa
desses vazios que existem dentro da barragem [...]. (grifo nosso)
254
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
segurança da estrutura não havia sido extinta e estava descontrolada, o que caracterizava nível
2 de emergência do PAEBM da Barragem I.
MARILENE LOPES era, ainda, segundo por ela mesmo informado, a gestora
do contrato de auditoria externa celebrado com a empresa denunciada TÜV SÜD, no âmbito
do qual foram prestados os serviços relativos às emissões das Declarações de Condição de
Estabilidade (DCEs) da Barragem I. MARILENE LOPES assina, por exemplo, a Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART) referente ao relatório técnico que subsidiou a DCE emitida
no âmbito da Revisão Periódica de Segurança da Barragem I.
255
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Sobre a mensagem do denunciado MAKOTO NAMBA, a denunciada
MARILENE LOPES assim se manifestou ao denunciado ALEXANDRE CAMPANHA:
Felipe, obrigada! Vamos em frente! Vamos apenas pedir para arredondar! Não
tem sentido 1,08 etc! a VALE terá que fazer algo nessa barragem e logo.
Deixe-o recomendar! Sem problemas! Queremos fazer o melhor! E quanto à
DCE? (grifo nosso)
256
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
de Barragens (RPSB) - DPA Alto”. No e-mail, a denunciada comemora a obtenção das
declarações de estabilidade e alerta:
258
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
pleno e profundo conhecimento de que, em razão da situação com potencial comprometimento
da segurança da estrutura, a Barragem I não poderia ter a sua estabilidade garantida com a
emissão de Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) positivas; f) tinha pleno e
profundo conhecimento de que nenhuma medida eficaz foi tempestivamente adotada para
controlar ou extinguir a situação com potencial comprometimento da segurança da Barragem I,
estando a denunciada ciente, portanto, da condição de emergência em nível 2 da estrutura;
g) tinha pleno e profundo conhecimento da existência de pessoas e de estruturas administrativas
na Zona de Autossalvamento da Barragem I, bem como dos atributos ambientais existentes à
jusante da estrutura.
259
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
transparência, segurança e emergência que, caso tivessem sido adotadas, impediriam que
os resultados mortes e danos ambientais ocorressem da forma e na proporção como
ocorreram.
260
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
261
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Amanhã à tarde teremos a reunião com a Vale, onde estarão presente a
Marilene, o Cesar Grandchamps, que irão nos questionar se vamos assinar ou
não.
A primeira resposta que será dada é que os estudos ainda serão auditados pelo
Leandro Moura, portanto, os resultados mostrados não são definitivos. O
próprio estudo do Marlísio ainda não é definitivo.
Mas como sempre, a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se não
passar, irão assinar ou não?
(13.05.2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA – grifo nosso)
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN)
262
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Destarte, a denunciada MARILENE LOPES teve especial e destacada
participação na obtenção das falsas Declarações de Condições de Estabilidade (DCEs) positivas
da Barragem I.
263
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
8) César Augusto Paulino Grandchamp (Geólogo Especialista da VALE)
264
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
e no Relatório de Inspeção de Segurança Regular da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, de
setembro de 2018, como representante legal e especialista técnico da área de geotecnia da
VALE. Referido denunciado consta, ainda, no Plano de Ação de Emergência (PAEBM) da
Barragem I como pessoa de referência e ponto de notificação da área de geotecnia da VALE.
265
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Barragem I, apreendidas na casa de ANDRÉ YASSUDA e de ALEXANDRE CAMPANHA,
o denunciado CÉSAR GRANDCHAMP, junto a MAKOTO NAMBA, figurava como
responsável técnico de auditoria da Barragem I, ao menos desde abril de 2018.
266
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Por essa perspectiva, CÉSAR GRANDCHAMP acompanhou a implantação
dos Drenos Horizontais Profundos (DHPs), assim como tomou conhecimento e teve ativa
participação quanto à ocorrência e efetiva decisão quanto aos desdobramentos da erosão interna
iniciada em 11 junho de 2018, ocasionada pela perfuração para instalação do DHP 15.
267
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
268
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 59. Imagens anexadas ao diálogo por WhatsApp entre CÉSAR GRANDCHAMP e
CRISTINA MALHEIROS
269
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Outrossim, no dia 29.06.2018, a pedido da empresa TRACTEBEL, o denunciado
CÉSAR GRANDCHAMP fez uma apresentação a respeito da erosão interna ocorrida no dia
11.06.2018, em reunião que também contou com a presença da denunciada CRISTINA
MALHEIROS.
270
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
[…] que em razão do incidente , foi criada uma comissão informal, formada
por técnicos da VALE e da TÜV SÜD e a participação de 2 consultores
externos, PAULO ABRÃO (GEOCONSULTORIA) e ARMANDO
MANGOLIM; que referida comissão, após algumas deliberações, entendeu
por bem em utilizar a técnica de DHP’s, porém não no pé da barragem e sim
em alguns níveis acima; que o declarante como possuía a palavra final
sobre o que fazer, como medida de precaução, entendeu por bem em não
executar a técnica de DHP e sim solicitar a TÜV SÜD a apresentação de
alternativas objetivando melhorar a segurança da perfuração ou
colocação de drenos [...]. (grifo nosso)
271
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
QUE, no período compreendido entre 11 de junho de 2018 e 25 de janeiro
de 2019, não foram adotadas novas medidas para rebaixamento do nível
freático no maciço[...]. (grifo nosso)
273
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
274
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Acrescente-se que, conforme narrado na presente denúncia, as deformações
constatadas desde o início da operação do radar foram se mostrando gradativas e, apesar dos
frequentes alertas e das inspeções visuais realizadas, nada de efetivo foi feito em relação à
informação.
A mensagem, contendo vários anexos com fotos e gráficos, foi difundida por
ARTUR RIBEIRO para os denunciados CÉSAR GRANDCHAMP e CRISTINA
MALHEIROS, na data de 18.01.2019.
275
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
a estimativa dos danos e do número de mortos, bem como a velocidade da onda de lama e o
tempo que ela levaria para atingir cada área a jusante.
276
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Situação Inaceitável, aos painéis de especialistas, às atividades cotidianas exercidas in locu na
estrutura e, ainda, às discussões internas travadas entre os denunciados demonstram o pleno e
profundo conhecimento do denunciado CÉSAR GRANDCHAMP sobre a situação de
insegurança da Barragem I, bem como sobre as consequências humanitárias e ambientais do
colapso da estrutura.
277
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
fato, resgatar a estabilidade da estrutura, limitando-se a admitir perspectivas de longo prazo.
Por óbvio, caso a estabilidade da Barragem I tivesse sido efetivamente alcançada, o seu
rompimento e os resultados dele decorrentes não teriam ocorrido da forma e na proporção como
ocorreram.
278
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
279
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Ressalte-se que o fechamento dos relatórios elaborados pela denunciada
CRISTINA MALHEIROS a respeito do evento de erosão interna ocorrido no dia 11 junho de
2018 passou pela aprovação dos denunciados RENZO ALBIERI e CÉSAR
GRANDCHAMP. Confira-se:
67
Disponível em http://www.anm.gov.br/parecer-007-2019-brumadinho-final
280
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Saliente-se que, caso o Poder Público e a própria sociedade, especialmente a
existente na Zona de Autossalvamento, tivessem sido plenamente e devidamente informados de
todos os aspectos relativos à insegurança e criticidade da Barragem I, certamente providências
teriam sido adotadas para evitar o dano ambiental e humanitário que se seguiu ao rompimento.
281
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
contribuindo, com isso, para a perpetuação do ilícito consubstanciado na assunção do risco
proibido.
Conforme já narrado na presente denúncia, deve ser repisado que a DCE positiva
datada de junho de 2018 foi emitida e assinada pelo denunciado CÉSAR GRANDCHAMP,
sob o comando dos denunciados JOAQUIM TOLEDO e SILMAR SILVA, no dia 13 daquele
mês, portanto apenas dois dias após a ocorrência da erosão interna (11 de junho de 2018) que
ensejou a interrupção da implantação dos DHPs.
282
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
(13.05.2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA – grifo nosso)
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN)
284
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
No documento interno de nome Padrão Gerencial do Sistema – PGS , foram
elencadas, de forma clara, as atribuições da Geotecnia Operacional, a qual seria responsável,
dentre outras funções, por “realizar inspeção e monitoramento de barragens, pilhas e cavas,
desenvolver projetos de adequação/manutenção de estruturas em operação/inativas, planejar e
executar avaliação de segurança/estabilidade de barragens, pilhas e cavas, planejar o
atendimento à legislação ambiental e atender condicionantes, manter atualizado o Plano de
Segurança de Barragem, realizar a manutenção das estruturas paralisadas”.
285
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Além do conhecimento prático e presencial, viabilizado por suas atividades
cotidianas de monitoramento, controle e inspeção in locu da Barragem I, a denunciada
CRISTINA MALHEIROS tinha pleno e profundo conhecimento dos estudos e análises
relativos à estrutura e recebia todos os relatórios elaborados e recomendações formuladas
(inclusive por auditorias externas) com a validação da equipe de Geotecnia Matricial.
286
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
confessa a ARTUR RIBEIRO (VALE) “que pela primeira vez em 6 anos acordei por causa da
chuva e tive vontade de ir pra mina.....gatilhos desconhecidos...é demais pra mim”. E prossegue
a denunciada CRISTINA MALHEIROS desabafando no sentido de que “essa nossa Barragem
I sempre foi uma boa menina e ela vai continuar sendo se Deus quiser.....afinal ela resistiu ao
Pirete....rsrsrs”.
287
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Entretanto, as análises de estabilidade na condição não drenada resultaram em
fatores de segurança inferiores aos mínimos recomendados. Em vista do
exposto, recomenda-se a adequação de sua segurança por meio de
intervenções de caráter geotécnico.
Pois é! Este deve ser o ponto que tem que ser esclarecido na discussão da
reunião amanhã. O texto da revisão do jeito que está deixa dúvidas.
288
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Tais elementos demonstram que a denunciada CRISTINA MALHEIROS,
além de ter ciência do risco, detinha informações técnicas sobre sua natureza, conhecendo plena
e profundamente a situação de instabilidade da Barragem I.
289
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
No telefone do denunciado CÉSAR GRANDCHAMP, apreendido e analisado
com ordem judicial, foi constatado grande fluxo de conversas entre ele e a denunciada
CRISTINA MALHEIROS nos dias que se seguiram ao evento consubstanciado na erosão
interna ocorrida em 11 de junho de 2018. Os diálogos atestam a importância e a gravidade da
anomalia. As conversas se iniciam na noite do próprio dia 11.06.2018, com o encaminhamento
de fotos, que demonstram a tentativa de se conter a água com sedimentos por meio de sacos de
areia:
290
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 62. Imagens anexadas ao dialogo por WhatsApp entre os denunciados CÉSAR
GRANDCHAMP e CRISTINA MALHEIROS
291
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
292
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
293
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
294
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
agravaram e apenas voltaram ao “normal” no final do mês, segundo informações do funcionário
TÉRCIO COSTA.
A mensagem, contendo vários anexos com fotos e gráficos, foi difundida por
ARTUR RIBEIRO para os denunciados CÉSAR GRANDCHAMP e CRISTINA
MALHEIROS, na data de 18.01.2019.
297
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Com efeito, os elementos colhidos durante as investigações, notadamente
aqueles relativos ao Cálculo de Risco Monetizado (GRG), ao Ranking de Barragens em
Situação Inaceitável, aos painéis de especialistas, às atividades cotidianas exercidas in locu na
estrutura e, ainda, às discussões internas travadas entre os denunciados demonstram o pleno e
profundo conhecimento da denunciada CRISTINA MALHEIROS sobre a situação de
insegurança da Barragem I, bem como sobre as consequências humanitárias e ambientais do
colapso da estrutura.
298
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
providenciar, adotar e recomendar quaisquer medidas tempestivas e eficazes que pudessem, de
fato, resgatar a estabilidade da estrutura, limitando-se a admitir perspectivas de longo prazo.
Por óbvio, caso a estabilidade da Barragem I tivesse sido efetivamente alcançada, o seu
rompimento e os resultados dele decorrentes não teriam ocorrido da forma e na proporção como
ocorreram.
299
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
300
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
A manobra ilícita é confirmada, ainda, pelo PARECER TÉCNICO N.º 07/2019
– GSBM/SPM/ANM-ESGJ/LHPR/LPN/WAN68, elaborado pela Agência Nacional de
Mineração (ANM) posteriormente ao rompimento da Barragem I:
68
Disponível em http://www.anm.gov.br/parecer-007-2019-brumadinho-final
301
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Barragem 1, era, também diretamente, responsável por providenciar o acionamento do Plano
de Ação de Emergência (PAEBM) da estrutura.
69
https://youtu.be/ezvdvtVAFs0
302
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Autossalvamento, impedindo, dessa forma, que os resultados mortes e danos ambientais
ocorressem da forma e na proporção como ocorreram.
303
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Também conforme o PGS, a Geotecnia Matricial se incumbiria de “gerenciar a
Base de Dados no GRG e Geotec, realizar Gestão dos Riscos Geotécnicos, Planejar a Gestão
de Emergência das Estruturas Geotécnicas”.
304
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Método de Aterro Hidráulico. Tal artigo foi escrito em conjunto com GUSTAVO MARÇAL
DE SOUZA, também funcionário da VALE. No referido estudo, consta expressamente que
“Quanto mais próximo da unidade, maior a fragilidade do material, resultando em uma maior
susceptibilidade do mesmo aos efeitos da liquefação”.
305
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Enquanto engenheiro especialista e geotécnico, o denunciado WASHINGTON
PIRETE interagia diretamente com o sistema Gestão de Riscos Geotécnicos – GRG (caixa
preta” da VALE), o qual armazenava informações de riscos geotécnicos de todas as estruturas
de ferrosos da VALE.
306
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
É importante salientar que, além da presença (enquanto ouvinte e palestrante) e
do recebimento dos reports dos painéis de especialistas, os quais trataram amplamente da
situação crítica de segurança da Barragem I, foram apreendidos, por meio de mandados de
busca e apreensão autorizados judicialmente, elementos que demonstram que o denunciado
WASHINGTON PIRETE tinha ciência acerca da natureza intolerável do risco de rompimento
da Barragem I.
307
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
VALE (instalação de Drenos Horizontais Profundos - DHPs e lavra da barragem) não colocaria
a Barragem I em uma situação aceitável de segurança em curto prazo.
308
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
309
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
pleno e profundo conhecimento de que, em razão da situação com potencial comprometimento
da segurança da estrutura, a Barragem I não poderia ter a sua estabilidade garantida com a
emissão de Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) positivas; f) tinha pleno e
profundo conhecimento de que nenhuma medida eficaz foi tempestivamente adotada para
controlar ou extinguir a situação com potencial comprometimento da segurança da Barragem I,
estando o denunciado ciente, portanto, da condição de emergência em nível 2 da estrutura; g)
tinha pleno e profundo conhecimento da existência de pessoas e de estruturas administrativas
na Zona de Autossalvamento da Barragem I, bem como dos atributos ambientais existentes à
jusante da estrutura.
310
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Em um contexto de divisão de tarefas, o denunciado WASHINGTON PIRETE
concorreu (mediante tarefas comissivas e omissivas) de forma determinante para a
omissão penalmente relevante quanto aos deveres de providenciar medidas de
transparência, segurança e emergência que, caso tivessem sido adotadas, impediriam que
os resultados mortes e danos ambientais ocorressem da forma e na proporção como
ocorreram.
311
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Saliente-se que caso o Poder Público e a própria sociedade, especialmente a
existente na Zona de Autossalvamento, tivessem sido plenamente e devidamente informados de
todos os aspectos relativos à insegurança e criticidade da Barragem I, certamente providências
teriam sido adotadas para evitar o dano ambiental e humanitário que se seguiu ao rompimento.
312
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Conversa por WhatsApp
Data Interlocutor Mensagem
11.12.2017 - 20:46:29 Arsênio Negro Os desejos do Ricardo e do Pirete são de quem não
(UTC-2) quer fazer quase nada. Querem apenas que
atestemos (grifo nosso)
11.12.2017 - 20:48:49 Makoto Namba Se for para gastar dinheiro, preferem remover a
(UTC-2) barragem, que pode ser uma das soluções, pois a mina
está inoperante.
A primeira resposta que será dada é que os estudos ainda serão auditados pelo
Leandro Moura, portanto, os resultados mostrados não são definitivos. O
próprio estudo do Marlísio ainda não é definitivo.
Mas como sempre, a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se não
passar, irão assinar ou não?
(13.05.2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA)
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN)
313
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Mostra-se, ainda, bastante esclarecedor um conjunto de mensagens de voz
encontrado no celular de MAKOTO NAMBA, apreendido e analisado com autorização
judicial. Nas mensagens, trocadas em 11.04.2018, MARLÍSIO CECÍLIO apresenta a
MAKOTO NAMBA informações sobre uma reunião com funcionários da VALE que tratou
de várias barragens auditadas pela TÜV SÜD.
314
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
A análise do extenso áudio demonstra claramente o conluio entre as empresas
VALE e TÜV SÜD com o objetivo de providenciarem ilicitamente Declarações de Condição
de Estabilidade (DCEs) para as barragens que ‘não estavam passando’, usando o mesmo método
aplicado na Barragem I da Mina Córrego do Feijão. A análise envolvia a desconsideração de
todas as resistências baixas e seria útil para todas as barragens com baixo Fator de Segurança.
A mensagem demonstra, ainda, a pressão exercida pela empresa VALE, por meio de seus
funcionários, os denunciados WASHINGTON PIRETE e FELIPE ROCHA, os quais, em
conjunto com a denunciada MARILENE LOPES, sob o comando de ALEXANDRE
CAMPANHA e LÚCIO CAVALLI, buscavam obter DCEs positivas a qualquer custo.
315
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Prezado Washington,
A Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, Complexo Paraopeba 2
(Município de Brumadinho) auditada pela Tractebel para emissão de
Laudo e Declaração de Estabilidade em setembro de 2017, março de 2018
e também prevista para setembro de 2018, foi retirada de nosso escopo,
quando há duas semanas você nos comunicou, via contato telefônico, que
por divergências de critério utilizados par avaliação de segurança
geotécnica, para o modo de falha Liquefação, a mesma empresa que
realiza da Revisão Periódica de Segurança também seria a responsável
pela auditoria e respectiva emissão de Laudo e Declaração para setembro
de 2018.
Soubemos pela equipe de operação, manutenção e monitoramento que a
empresa que elabora a Revisão Periódica indicou uma solução de engenharia
para tentar melhorar condições de segurança da Barragem, sendo ela a
execução de Drenos Horizontais Profundos (DHPs).
Fomos alertados esta semana, informalmente por outros agentes do mercado,
quanto a possíveis problemas ocorridos na Barragem, os quais poderiam estar
relacionados ao processo de instalação de drenos sub-horizontais profundos
(DHPs), como aparentemente recomendados pela equipe da Revisão
Periódica.
[...]
Diante do acima exposto, externamos nossa preocupação e vimos mui
respeitosamente solicitar esclarecimentos sobre tais informações que circulam
no mercado, bem como uma atualização sobre as condições atuais da
barragem no momento, haja vista que a Declaração de Condição de
Estabilidade (DCE) emitida em março de 2018 pela TRACTEBEL que
expirará em setembro de 2018 teve seu embasamento pautado nas análises nas
condições que observamos nas inspeções realizadas em campo e na
documentação disponibilizada à época. (grifo nosso)
316
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
317
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
decorrentes do rompimento da estrutura, o denunciado WASHINGTON PIRETE, na
qualidade de membro da equipe da Gerência Executiva de Governança em Geotecnia e
Fechamento de Mina (Geotecnia Matricial), com atribuições de gestão dos riscos das barragens
de rejeitos da VALE e com atuação concreta no acompanhamento das condições da Barragem
I (já narradas), deixou de providenciar ou recomendar o acionamento do Plano de Ação de
Emergência (PAEBM) da Barragem I nos níveis 1 e 2, o que ensejaria, inclusive, a comunicação
aos órgãos públicos competentes e o alerta e a evacuação das pessoas situadas na Zona de
Autossalvamento, impedindo, dessa forma, que os resultados mortes e danos ambientais
ocorressem da forma e na proporção como ocorreram.
318
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
pudesse ser reportado aos níveis hierárquicos superiores da empresa e, ainda, dar suporte às
operações.
319
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Referido sistema (GRG), manejado pelo denunciado FELIPE ROCHA,
armazenava TODAS as informações críticas da Barragem I, inclusive a probabilidade relativa
a cada modo de falha, o resultado monetário dos prejuízos estimados em caso de ruptura e o
número estimado de mortes em caso de colapso da estrutura. Ressalte-se, outrossim, que o GRG
gerava subprodutos como o Cálculo de Risco Monetizado e o Ranking de Barragens em
Situação de Risco Inaceitável – Top 10, os quais eram do pleno e profundo conhecimento do
denunciado FELIPE ROCHA.
320
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
sendo os dois modos de falha com maior probabilidade de ocorrência na Barragem I da Mina
Córrego do Feijão.
321
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
anotações quanto à reunião ocorrida no dia 25.06.2018, as quais faziam menção à necessidade
de reavaliação dos DHPs, dimensionamento do sistema de bombeamento, entre outros temas,
todos referentes à Barragem I da Mina Córrego do Feijão.
322
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Felipe, obrigada! Vamos em frente! Vamos apenas pedir para arredondar! Não
tem sentido 1,08 etc! a VALE terá que fazer algo nessa barragem e logo.
Deixe-o recomendar! Sem problemas! Queremos fazer o melhor! E quanto à
DCE?” (grifo nosso)
323
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Ressalte-se que o denunciado FELIPE ROCHA tinha pleno conhecimento dos
parâmetros considerados recomendáveis pela própria VALE acerca dos Fatores de Segurança.
Prova disso é que, no dia 10.07.2018, o denunciado FELIPE ROCHA encaminhou o relatório
do 2º PIESEM-N a vários funcionários da VALE, entre eles os também denunciados
WASHINGTON PIRETE, ALEXANDRE CAMPANHA e MARILENE LOPES. O
objetivo do e-mail foi “compartilhar com vocês as recomendações do Painel de Especialistas
Internacional referentes à definição de fatores de segurança associado à análise de estabilidade
para o modo de falha liquefação”. A mensagem informa a necessidade de “estabelecer uma
diretriz única para VALE”, esclarecendo que, “em reunião realizada com o CAMPANHA, a
recomendação foi a de utilizar as diretrizes do Painel de Especialistas Internacional”. Além de
anexar a íntegra do relatório final do PIESEM, o remetente FELIPE ROCHA chama a atenção
para os seguintes critérios estabelecidos pelos especialistas:
324
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Interna e Liquefação; b) tinha pleno e profundo conhecimento da necessidade da adoção de
medidas eficazes para a efetiva estabilização da Barragem I; c) tinha pleno e profundo
conhecimento das alternativas existentes para buscar a melhoria do Fator de Segurança da
Barragem I para o modo de falha Liquefação; d) tinha pleno e profundo conhecimento de que
a opção adotada para buscar a melhoria do Fator de Segurança da Barragem I (Drenos
Horizontais Profundos – DHPs) se mostrou ineficaz, tendo em vista a interrupção da instalação
dos DHPs após a ocorrência da erosão interna ocorrida em junho de 2018 no DHP 15); e) tinha
pleno e profundo conhecimento de que, em razão da situação com potencial comprometimento
da segurança da estrutura, a Barragem I não poderia ter a sua estabilidade garantida com a
emissão de Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) positivas; f) tinha pleno e
profundo conhecimento de que nenhuma medida eficaz foi tempestivamente adotada para
controlar ou extinguir a situação com potencial comprometimento da segurança da Barragem I,
estando o denunciado ciente, portanto, da condição de emergência em nível 2 da estrutura; g)
tinha pleno e profundo conhecimento da existência de pessoas e de estruturas administrativas
na Zona de Autossalvamento da Barragem I, bem como dos atributos ambientais existentes à
jusante da estrutura.
325
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
disponíveis de transparência, segurança e emergência, assumindo, desta forma, o risco de
produzir os resultados mortes e danos ambientais advindos do rompimento da Barragem
I da Mina Córrego do Feijão.
326
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Matricial, no âmbito do sistema GRG, os quais, conforme já narrado, retratavam a real situação
de instabilidade e de insegurança vivenciada pela Barragem I.
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN)
328
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
brincadeira, se ele iria assinar ou não a declaração de estabilidade da barragem B1, entre eles
os técnicos da VALE FELIPE FIGUEIREDO ROCHA e WASHINGTON PIRETE [...].”
330
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Destarte, o denunciado FELIPE ROCHA teve especial e destacada participação
na obtenção das falsas Declarações de Condições de Estabilidade (DCEs) positivas da
Barragem I.
331
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
12) VALE S.A.
332
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
VII RESPONSABILIDADE PENAL DA TÜV SÜD E SEUS FUNCIONÁRIOS
MATRICIAL
70
Informações sobre a história da empresa TÜV SÜD foram buscadas no próprio sitio eletrônico
da filial brasileira. Disponível em: https://www.tuv-sud.com.br/br-pt/sobre-a-tuev-sued/150-anos
71
De acordo com informações no site da empresa TÜV SÜD, “o escopo de serviços compreende
consultoria, ensaios, inspeções, auditorias, certificação e treinamento, para praticamente todos os setores
e indústrias: energia, imobiliário, alimentos, infraestrutura, automotivo, produtos consumíveis,
equipamentos eletroeletrônicos, telecomunicações, etc”. Disponível em: <https://www.tuv-
sud.com.br/br-pt/sobre-a-tuev-sued/tuev-sued-brasil/perfil-fatos-e-numeros>. Acesso em 13.11.2019.
72
As informações sobre as estatísticas das atividades do Grupo TÜV SÜD foram buscada no site oficial
da empresa, inclusive através do infográfico colado na Figura 62; Disponível em: <https://www.tuv-
sud.com.br/br-pt/sobre-a-tuev-sued/tuev-sued-brasil/perfil-fatos-e-numeros>. Acesso em 14.11.2019.
333
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
73
A estratégia de expansão das atividades no Brasil e na América do Sul são descritas no site da TÜV
SÜD. Disponível em: <https://www.tuv-sud.com.br/br-pt/sobre-a-tuev-sued/tuev-sued-brasil/perfil-
fatos-e-numeros>. Acesso em 14.11.2019.
334
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Adquirida pela multinacional alemã em 2013, passou a se chamar TÜV SÜD
Bureau de Projetos e Consultoria Ltda. – TSB. Em razão do vasto acervo técnico 74 que
colecionaram ao longo de muitos anos de atividade, os sócios da antiga “Bureau de Projetos”
foram mantidos nos quadros técnicos da TÜV SÜD Bureau de Projetos, com a função de
consultoria técnica. Além disso, a TSB foi reestruturada, passando a contar com dois
departamentos: Departamento de Gerenciamento de Projetos e Departamento de Consultoria.
O Departamento de Consultoria (que conjugou as áreas de engenharia ambiental e a
instrumentação de campo) passou a ser chefiado por VINICIUS WEDEKIN, com uma equipe
técnica coordenada pelo denunciado MAKOTO NAMBA, auxiliado pelos também
denunciados MARLÍSIO CECÍLIO (especialista técnico), ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR e
ANDRÉ JUM YASSUDA (ex-sócios e consultores).
74
A qualificação e aptidão técnicas de profissionais de uma empresa para o desempenho de atividades
(capacidade técnico-profissional) são por vezes exigidas para a contratação de serviços especializados,
tanto em licitações e contratos públicos quanto em relações entre privados. A Certidão de Acervo
Técnico (CAT) é o instrumento certificador de que consta dos assentamentos do CREA a Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART) pelas atividades realizadas por determinado profissional.
75
O funcionário da TÜV SÜD Marcelo Pasquali Pacheco, em depoimento prestado ao MPMG e à
PCMG, descreveu em detalhes a organização administrativa das empresas brasileiras do Grupo TÜV
SÜD, inclusive a função do Departamento de Serviços Compartilhados na integração financeira das três
empresas que passaram a integrar o mesmo Grupo Econômico: “em agosto de 2013 ocorreu a aquisição
da empresa BUREAU pela TUV SUD, iniciando-se a integração financeira com a criação do
departamento de serviços compartilhados chefiado pelo declarante”.
335
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Na prática, as operações das filiais brasileiras se desenvolveram através de um
“sistema matricial”, mediante a relação direta e permanente entre as “unidades de negócio”
no Brasil e as “unidades de negócio” congêneres na matriz Alemã.
336
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
337
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
A estratégia de crescimento da TÜV SÜD na região incluiu o mercado de
Consultoria Técnica e Auditoria Externa de estruturas de barragens de rejeitos de
mineração. Dessa forma, a relação comercial com a denunciada VALE, gigante multinacional
do setor minerário, era altamente relevante para o sucesso da estratégia de ampliação das
atividades no novo mercado.
76
Comumente a demanda da VALE era representada na TÜV SÜD pelo documento denominado
Request for Quote – RFQ, que continha a identificação do escopo do serviço.
77
Segundo informações do Chefe do Departamento de Serviços Compartilhados e Administrador Legal
da TSB, Marcelo Pasquali Pacheco, em depoimento perante o MPMG e a PCMG, o Comitê de Risco da
TÜV SÜD na Alemanha seria responsável pela análise de diversos aspectos do risco do negócio,
inclusive através dos Departamentos Tributário, de Controladoria, Legal e de Contabilidade. O Comitê
de Risco possui poder de veto em relação aos contratos submetidos a sua análise pelas unidades de
negócio no Brasil.
338
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Gráfico 05. Fluxo decisório escalonado (Brasil e Alemanha) do Grupo TÜV SÜD no Brasil.
339
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Assim, foram celebrados diversos contratos com a VALE78 em um contexto de
pressão, conluio e recompensas, como se descreverá a seguir.
CONFLITO DE INTERESSES
78
Segundo depoimento do Chefe do Departamento de Serviços Compartilhados Marcelo P. Pacheco
(TÜV SÜD) perante o MPMG e a PCMG, “todos os contratos da TUV SUD BUREAU com a VALE
S.A. seguiram o ‘guideline’ corporativo, sendo propostos pela unidade operacional do Brasil, analisados
e não vetados pelo Comité de Risco na Alemanha e aprovados pela Unidade operacional no Brasil ou
Alemanha de acordo com a alçada”.
79
O termo carrot and stick é uma metáfora para o emprego da combinação de mecanismos de
recompensa e punição para induzir um comportamento desejado, onde carrot (cenoura) simboliza a
recompensa aliciante – a partir da imagem figurada de um animal que persegue o alimento colocado a
sua frente – e o stick (bastão) simboliza a retaliação, visando induzir um comportamento pelo medo da
punição.
340
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
POTAMOS Elaborar, preparar, concluir e entregar para a VALE estudos, incluindo sem se
1.708.453,31 Assinatura:
71.088.322/0001-82 limitar a planos de trabalhos, relatórios de consolidação de dados, relatórios
(1) 24/02/2017
VALE S.A. técnicos, entre outros, para aplicação na gestão de riscos para estruturas
5500043549 BUREAU (TÜV SÜD) Vigência:
2.383.083,98 de 13 (treze) barragens e diques da divisão de minérios ferrosos da VALE.
58.416.389/0001-30 540 dias –18/08/2018
O objeto foi decomposto em Etapas e Escopos diversos para cada contratada.
Assinatura:
(2) Elaborar, preparar, concluir e entregar para a VALE os serviços de revisão 27/07/2017
2.527.790,79
5500046573 BUREAU periódica de segurança e classificação de barragens. Vigência:
VALE S.A. (TÜV SÜD) 18 meses – 18/01/2019
(2) 58.416.389/0001-30 Promove alterações ao contrato, dentre elas a inclusão de estudos
alterado para Assinatura:
5500046573 complementares da Condição de Liquefação da Barragem I (conforme
2.650.447,44 22/06/2018
1ºTermo Adit. Proposta Técnica Comercial PTC-SP-038/18)
(3) TÜV SÜD Implantação do sistema de monitoramento remoto com transmissão de dados Assinatura:
VALE S.A. 2.872.796,10
5500050003 58.416.389/0001-30 via rádio para Barragens da VALE 26/01/2018
Assinatura
(4) Elaborar projeto de “como está” - “as is” para barragens da VALE que não
TÜV SÜD 15/05/2018
5500052294 VALE S.A. 10.676.672,30 possuem projeto “as built” e/ou informações conclusivas sobre estrutura e a
58.416.389/0001-30 Vigência:
Revisão Periódica de Segurança de Barragens
1.095 dias – 16/05/2021
390.714,22 Assinatura:
(5)
TÜV SÜD (alternativas) Elaborar alternativas e projeto conceitual da alternativa escolhida para 21/09/2018
5500055362 VALE S.A.
58.416.389/0001-30 Cerca de 400 mil fechamento da Barragem I. Vigência:
(Projeto conceitual) 150 dias – 18/02/2019
Elaborar, preparar, concluir e entregar para a VALE laudo técnico oriundo da Assinatura
(6) TÜV SÜD
VALE S.A. R$ 95.109,78 Auditoria técnica de segurança das barragens B1 no Mina Córrego do 28/09/2018
5500054726 58.416.389/0001-30
Feijão. Vigência: 365 dias
341
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
80
De acordo com o art. 7º, § 1º, da DN COPAM n.º 87/2005, “As Auditorias Técnicas de Segurança
devem ser independentes, ou seja, devem ser feitas por profissionais externos ao quadro de funcionários
da empresa, para garantir clareza e evitar conflito de interesses, e executadas por especialistas em
segurança de barragens”.
342
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Gráfico 06. Conflito de interesses dos contratos da TÜV SÜD com a VALE.
81
O Projeto de “As Is” tem como escopo o levantamento de dados e realização de estudos sobre a
situação atual (“como está”) de uma Barragem de Mineração. O artigo 9º, § 6º, da Portaria DNPM n.º
70.389.2017, determina que o Plano de Segurança de Barragens (PSB) de Mineração deverá conter o
projeto “como está” – “as is”. Trata-se de projeto fundamental para barragens antigas que não dispõe de
histórico confiável sobre as suas estruturas e alteamentos.
343
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
“falou que o As Is tinha muito risco porque vamos fazer investigações e Análises de
estabilidade. Portanto se a barragem romper seria responsabilidade nossa!”. Na execução
da consultoria interna, a atividade da TÜV SÜD se igualava à atividade do próprio corpo
técnico da VALE para a gestão de riscos geotécnicos.
Muito além da relevância dos valores dos contratos de Consultoria Interna, que
eram bastante superiores aos valores dos contratos de Auditoria Externa, o conluio com a
VALE representou uma oportunidade de ampliação exponencial das atividades da TÜV SÜD
no Brasil. Um conluio ilícito entre a gigante VALE e a gigante TÜV SÜD poderia impactar o
mercado de certificação de barragens, e a escalada de contratos da TÜV SÜD não ocorreu de
maneira natural e orgânica. Ao contrário, representou recompensa para a TÜV SÜD que cedeu
à pressão dos funcionários da VALE. O objetivo da VALE era influenciar diretamente nas
análises técnicas de Auditoria Externa de forma a induzir a emissão de Declarações de Condição
de Estabilidade da Barragem I, apesar de sua reconhecida criticidade, omitindo do Poder
Público e da sociedade informações relevantes e sensíveis.
82
A referência à “fotografia” para definir a atividade da TÜV SÜD relacionada à Barragem I foi
frequentemente feita pelos funcionários da TÜV SÜD. Vejam-se, por exemplo, os depoimentos do
denunciado Arsênio Negro Júnior e de André Jum Yassuda prestados perante o MPMG e a PCMG. No
período de 13 a 15 de maio de 2018, circulou entre os funcionários da TÜV SÜD no Brasil uma série
de e-mails com o assunto Declaração de Estabilidade – Barragem I – Córrego do Feijão. O Chefe do
Departamento de Consultoria da TÜV SÜD, Vinicius Wedekin, também se refere ao trabalho de DCE
como sendo “uma definição objetiva, baseada numa ‘fotografia’ da estrutura, portanto para as
características daquele momento da análise”.
344
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
83
No período de 13 a 15 de maio de 2018, circulou entre os funcionários da TÜV SÜD no Brasil uma
série de e-mails com o assunto Declaração de Estabilidade – Barragem I – Córrego do Feijão. No e-
mail inaugural da sequência, o denunciado Makoto Namba (TÜV SÜD) afirma que “Marlísio está
terminando os estudos de liquefação da Barragem I do Córrego do Feijão, mas tudo indica que não
passará, ou seja, fator de segurança para a seção de maior altura será inferior ao mínimo de 1,3. Dessa
maneira, a rigor, não podemos assinar a Declaração da Condição de Estabilidade da barragem, que tem
como consequência, a paralização imediata de todas as atividades da Mina Córrego do Feijão”.
Em depoimento perante o MPMG e a PCMG, o denunciado Makoto Namba, questionado sobre os
impactos de eventual DCE negativa na Barragem I, afirmou que “essa questão era muito importante
para a referida empresa (VALE), pois as atividades da mina poderiam ser paralisadas”.
346
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
348
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
técnicos que elevassem artificialmente o valor do FS para níveis aceitáveis, a TÜV SÜD
também apresentou valores muito baixos (FS = 1,09 para condição não-drenada).
349
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 62. Trecho do Relatório Técnico elaborado pela TÜV SÜD referente à Barragem I, na Mina
Córrego do Feijão, que subsidiou a emissão de Declaração de Condição de Estabilidade perante a FEAM
no âmbito da Auditoria Técnica de Segurança de Barragem, em setembro de 2018, no qual a TÜV SÜD
utiliza maliciosamente o valor de 1,05 como Fator de Segurança mínimo para condição não drenada.
84
A deslealdade da certificadora internacional TÜV SÜD fica ainda mais evidente se atentarmos para
as demais certificações que realizou no mesmo período. Curiosamente, a TÜV SÜD não manteve a
coerência de critério na análise do fator de segurança para liquefação em condição não-drenada para as
demais barragens da VALE. No mesmo período de 2017/2018, a TÜV SÜD emitiu DCEs para as Dique
02, Rio do Peixe, Sul Superior, Doutor e Forquilha III, dentre outras, reconhecendo o Fator de Segurança
mínimo de 1,3, ao invés de adotar o desleal e falso FS de 1,05 indevidamente referenciado no estudo de
350
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Dessa forma, a TÜV SÜD, em conluio com a VALE para enfrentar o desafiador
ônus argumentativo imposto pelos estudos da POTAMOS (PIESEM de novembro de 2017),
refez os cálculos de liquefação para condição não-drenada na Barragem I, alcançando FS =
1,09. Como o FS alcançado também foi inferior ao Mínimo Aceitável de 1,3, a equipe da TÜV
SÜD utilizou maliciosamente o falso parâmetro de FS Mínimo Aceitável de 1,05. Esta manobra
criminosa permitiu dissimular a criticidade da estrutura na falsa emissão de DCEs, que foi o
meio para que a VALE evitasse riscos reputacionais imediatos e assumisse riscos proibidos.
Leshchinsky e Ambauen (2015) na análise da Barragem I. Isso porque, nas análises de Liquefação de
tais barragens, os FS encontrados foram iguais ou superiores a 1,3, razão pela qual a TÜV SÜD limitou-
se a usar o padrão recomendado ao invés da estratégia ilícita de manipular o limite mínimo.
85
Disponível em < https://www.wsj.com/articles/brazils-vale-vowed-never-another-dam-collapse-then-
an-even-worse-one-11577809114>, acesso em 07.01.2020.
86
Durante as investigações após o rompimento da Barragem I, o MPMG conseguiu obter as informações
do GRG, até então ocultadas internamente na VALE. A partir de então, sucederam-se múltiplas
providências extrajudiciais e judiciais. Para além das investigações sobre a barragem de Brumadinho,
foram mobilizadas estruturas e equipes técnicas das forças-tarefas interinstitucionais para fiscalizar e
investigar ilícitos e riscos relacionados a outras barragens da VALE, com o objetivo de potencializar
soluções para salvaguarda da população e do meio ambiente. Ministério Público, Polícias Civil e Militar,
351
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Corpo de Bombeiros Militar, Defesa Civil e órgãos de fiscalização federais, estaduais e municipais
atuaram conjuntamente. As atividades de fiscalização e investigação dos órgãos públicos puderam ser
realizadas plenamente, observando escala de prioridades conforme a gravidade. Foram propostas ações
civis públicas, realizadas obras emergenciais nas estruturas, acionados PAEBMs e executados planos
de evacuação, entre outras providências. Nas semanas que se seguiram, diversas DCEs foram revogadas,
inclusive emitidas pela TÜV SÜD. Ainda que não fosse possível evitar possível rompimento, certamente
muitas vidas seriam preservadas com a execução das medidas emergenciais, o que não ocorreu no caso
da Barragem I. As medidas de investigação e fiscalização que se seguiram detectaram ainda problemas
em várias outras barragens e evidenciaram a profunda corrupção do mercado de certificação de
barragens. As medidas tiveram repercussão internacional e prolongada, que pretendiam ser evitadas pela
VALE ao emitir falsamente DCEs positivas.
352
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Todo o conluio entre VALE e TÜV SÜD para maquiar os resultados dos estudos
de liquefação da Barragem I, em substituição à POTAMOS (já descrito), ocorreu no contexto
da vigência da contratação da VALE com a TÜV SÜD para elaboração da Revisão Periódica
de Segurança da Barragem I (RPSB), prevista para junho de 2018. A RPSB demanda a
realização de novos estudos e análises da estrutura, com maior profundidade na análise
geotécnica.
A pressão da VALE sobre funcionários da TÜV SÜD para que emitissem a DCE
se intensificou em abril e maio de 2018. Por um lado, a VALE demonstrava o seu grande poder
de pressão, reforçando o mecanismo de retaliação (sticks) através do afastamento das empresas
POTAMOS e TRACTEBEL dos contratos referentes à Barragem I (já descritos). Por outro
lado, acenava para a TÜV SÜD com significativos incentivos econômicos que representavam
recompensas (carrots) para induzir a comportamentos ilícitos caso a empresa tivesse “jogo de
cintura” e cedesse ao emitir indevidamente a DCE.
Acho que é assunto para passar à Corporação. Entendo que o Chris estará no escritório amanhã.
Devemos mostrar à ele e pedir para ele opinar.
A questão chave é que o método de Olson é empírico e portanto tem uma segurança embutida. Qual o FS
mínimo original do Olson.
Data: De: Para: Cc:
14/05/2018 Arsênio Negro Júnior MAKOTO NAMBA Vinicius Wedekin
Cecílio Marlício
André Yassuda
354
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Os resultados definitivos deverão sair só no final da semana. Além disso, precisamos também da opinião
do Leandro Moura.
Concordo com o Vinícius que, para passar para o CM, será melhor termos os resultados finais em mãos.
MN
Data: De: Para: Cc:
14/05/2018 Arsênio Negro Júnior MAKOTO NAMBA Cecílio Marlício
Vinicius Wedekin André Yassuda
Arsênio Negro Júnior
Marquem a reunião com o Chris para a sexta feira de manhã avisando-o antes da pauta.
Não espere muito do Leandro pois acho que não é a praia dele. Acho importante definir com CM nesta vinda
dele, com risco da VALE usar o contrato de As Is como black mail.
355
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Conversei com Chris agora a noite e ele não estará disponível na sexta feira pois vai ver alguma obra do
gerenciamento em Guarulhos e de lá vai ao aeroporto. Sugeriu fazer a reunião sobre a B1 (disse que
precisaríamos do 1 hora) na quinta-feira à tarde. Dei a entender que participaria mas não devo participar.
Tenho uma reunião no Itaú às 15h.
Data: De: Para: Cc:
15/05/2018 Vinicius Wedekin MAKOTO NAMBA Arsênio Negro Júnior
Cecílio Marlício
André Yassuda
Barbara Chiodeto
Não sei se o tiro pode sair pela culatra.
Os resultados e índices do setor nos deixam numa posição mto sensível, por isso só gostaria de
envolver o CM com os resultados finais.
E essa estratégia definitivamente não vai funcionar com o MP. Parece que o JLS já adiantou para ele esse
assunto de B1 e ele já está refutando.
VMW
Eu entendo bem mas o tempo está contra nós. Além disso temo que não teremos uma posição técnica
definitiva tendo em conta o método que usamos para avaliar a liquefação
Data: De: Para: Cc:
15/05/2018 Vinicius Wedekin Arsênio Negro Júnior MAKOTO NAMBA
Cecílio Marlício
André Yassuda
Barbara Chiodeto
Outra dúvida que o Marcelo levantou para mim, depois da conversa dele com o Salvoni, foi com relação à
nossa parceria/consórcio com a Potamos.
Qual a vantagem de aceitarmos revisar uma análise da nossa consorciada?
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a VALE vai envolver uma outra
empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
Aleguei não ter detalhes, mas oportunamente terei que justificar.
VMW
356
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Esclarecendo:
Temos 3 contratos com a VALE (assinados em 2017), sendo que somos sócios da Potamos em dois deles
(VAL108/109), perfazendo 25 barragens, no escopo do GRG.
Além disso, em 2016 fomos subcontratados da Potamos no contrato VAL105, onde respondemos pela
geotecnia de 7 barragens, também no escopo do GRG.
NO pacote VAL108/109 fizemos um acordo com a Potamos, com anuência da VALE, para troca de
conhecimento: faríamos o dam break de algumas estruturas e a Potamos a geotecnia de um grupo de
barragens, que inclui a B I Córrego do Feijão.
O terceiro contrato ativo (VAL110), cujo escopo é a Revisão Periódica e Classificação das barragens, cujos
trabalhos são desenvolvidos somente pela BUREAU, com input dos que estão sendo realizados no âmbito
do GRG, perfaz 7 + 12 + 13 barragens = 32 barragens.
No decorrer dos trabalhos do GRG, a Potamos entendeu que não seria escopo algumas análises
necessárias para input ao contrato VAL110, solicitando à VALE aditivo ao contrato do GRG.
Essa reunião, da qual não participamos, gerou descontentamento por parte da Marilene, que solicitou à
Bureau o aditivo e a realização dessas análises complementares no ãmbito do contrato VAL110, sem a
participação da Potamos.
A proposta do aditivo (anexa) já foi aprovada pela área técnica e esta sendo efetivada pelo setor de
suprimentos da VALE, assim como outro aditivo, de um grupo de barragens pelo qual somos os
responsáveis no âmbito do GRG, sem envolvimento da Potamos (Forquilha I e II na Mina de Fábrica).
BC
357
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
segurança que antes ofereciam. Mostraram medo e indecisão. Tiveram a infelicidade de contratar um
consultor para esta nova área criado numa redoma de vidro de segurança e conservadorismo
(THEMAG) e pouco jogo de cintura. Complicou a situação perceberem que um dos executivos da Pótamos
possue alguns desvios éticos.
Resolveram descartar o fornecedor e isto pode ser para nós uma oportunidade, se a corporação entender
isto como oportunidade. Temo que não.
Como é área pouco desenvolvida (liquefação) creio que há campo para grandes desenvolvimentos,
técnicos e comerciais e portanto dá para jogar.
Mas como disse, minha visão é de fora. As visões do Makoto e do Marlísio devem ser mais acuradas que a
minha e poderão melhor esclarecer.
NA
Vinicius,
Como já comentado pela Barbara, houve uma troca de escopo com a Pótamos, mas a responsabilidade de
geotecnia, perante a VALE, continuou conosco, assim como a responsabilidade pelo Dam Break continuou
com a Pótamos. A VALE sempre cobrou essa responsabilidade da Bureau e da Pótamos, dizendo que as
empresas precisavam revisar e assumir o que a outra fez.
No caso da Barragem I, assim como na Barragem Sul Superior, houve necessidade de aditivo, para estudos
complementares de liquefação. A Pótamos deu um preço muito alto, dizendo que era inegociável, e
que não garantiria os resultados obtidos. Mostraram uma postura muito arrogante, o que enfureceu
a VALE, e tirou o serviço da Pótamos e passou para a Bureau.
O Marlísio já conseguiu grandes avanços na interpretação dos ensaios in situ da Barragem I, mostrando que
grande parte do rejeito é não-suscetível à liquefação.
Agora precisamos nos reunir internamente para analisar se, como esses resultados, podemos assinar a
DCE.
Entretanto, o Marlísio ainda precisa de alguns dias para fazer o tratamento estatístico dos resultados.
MN
358
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
359
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
87
A conclusões do Relatório Final do PIESEM Nacional de junho de 2018 foram circuladas.
360
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
invés da busca pela efetiva segurança das estruturas, a emissão das DCEs seria a verdadeira
meta corporativa para conferir aparência de estabilidade. Entretanto, MARILENE LOPES
ressalta que “o processo de RPSB não foi um processo simples”, pois “diferentemente da
Auditoria Externa, na qual os consultores avaliam os estudos feitos pela VALE e concluem
pela emissão ou não da DCE, na RPSB, os revisores são obrigados pela legislação a,
literalmente, refazer todos os estudos da barragem, passando a serem responsáveis por
aqueles estudos a partir daquele momento”. Na sequência, ressalta que, apesar da DCE, a
Barragem I mereceria especial atenção para “garantir a obtenção da DCE na próxima
Auditoria Externa (Setembro/18)”, admitindo ainda que “outras estruturas também terão que
ter tratamento de riscos”, uma vezque “extrapolam a tolerância definida pela nossa
governança”:
361
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Em conluio com a VALE, a TÜV SÜD foi contratada às pressas para emitir a
Declaração de Estabilidade (DCE) em setembro de 2018, no cumprimento da determinação
legal de apresentação anual da Auditoria Técnica de Segurança perante a FEAM. Através do
contrato n.º 5500054726, VALE e TÜV SÜD acertaram tão somente a emissão de DCE para a
Barragem I na Auditoria Técnica de Segurança, o que difere da prática corporativa da VALE
de selecionar e contratar estudos técnicos de empresas terceirizadas por “lotes” de barragens.
362
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
88
A Auditoria Externa consiste em procedimento composto por diversos atos que demandam
planejamento, preparação e análise. De acordo com documento interno da própria VALE denominado
Diretrizes e Critérios para Auditorias Técnicas de Segurança em Barragens e Pilhas (PGS – 003397),
o procedimento de auditoria deve ser composto de uma fase de “preparação de auditoria” (na qual a
equipe auditora elabora um cronograma executivo e deve receber com antecedência mínima de trinta
dias toda a documentação do PSB e outros documentos técnicos), uma “fase de campo” (com previsão
de reuniões, ratificação de métodos e procedimentos, bem como inspeções de campo, com o
preenchimento de fichas de inspeção), uma “fase de escritório” (para análise dos dados da estrutura e
reavaliação das recomendações), uma “reunião de alinhamento” (para avaliar tecnicamente critérios
não atendidos, bem como discussões e dúvidas técnicas) e, ao final, a elaboração do “plano de ação”.
363
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
364
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
No ano de 2018, no contexto de pressão e conluio entre VALE e TÜV SÜD para
a emissão falsa de DCEs da Barragem I (Auditoria Interna), a multinacional alemã celebrou,
como incentivo econômico e recompensa, quatro contratos (consultoria interna), que somam
cerca de 15 milhões de reais (ver Tabela 08):
365
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Na carta enviada para a VALE, a TÜV SÜD confessa que, em relação à diversas
barragens da VALE cuja estabilidade foi analisada pela TÜV SÜD, tal qual ocorreu com a
Barragem I, o “Fator de Segurança para a estabilidade global pode ser inferior ao indicado nos
relatórios anteriormente emitidos”. Causa perplexidade, ainda, a afirmação de que a equipe
técnica da TÜV SÜD teria realizado “escolhas otimistas para parâmetros de resistência” nos
cálculos, o que contraria a posturas conservadoras de segurança que deveria ter norteado as
análises de estabilidade.
13) Chris-Peter Meier (Gerente da TÜV SÜD no Brasil e Gestor da TÜV SÜD na
Alemanha)
368
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
370
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
TÜV SÜD aceitar “revisar uma análise” de sua consorciada. Assim, foi questionado
também: “Sempre que não passar a VALE vai envolver uma outra empresa, até ter
um resultado benéfico para ela?”;
(vii) Foi analisada a situação da equipe técnica da POTAMOS, que teve “pouco jogo de
cintura” e foi “descartada”, o que poderia ser para a TÜV SÜD uma “oportunidade”,
eis que a área de liquefação é pouco desenvolvida e “dá para jogar”;
(viii) MAKOTO afirma que “precisamos nos reunir internamente para analisar se,
com esses resultados, podemos assinar a DCE”.
Mas como sempre, a VALE irá jogar contra a parede e perguntar: e se não
passar, irão assinar ou não? Para isso, teremos que ter a resposta da
Corporação, com base nas nossas posições técnicas.
(13/05/2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA)
Acho que é assunto para passar à Corporação. Entendo que o Chris estará
no escritório amanhã. Devemos mostrar à ele e pedir para ele opinar.
(13/05/2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Para a Corporação entendo que a decisão é mais simples, tendo por base
que nosso trabalho (DCE) se resume à uma definição objetiva, baseada numa
“fotografia” da estrutura, portanto para as características daquele momento da
análise (correto?)
(14/05/2018 – e-mail enviado por VINICIUS WEDEKIN)
371
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Concordo com o Vinícius que, para passar para o CM, será melhor termos
os resultados finais em mãos.
(14/05/2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA)
Marquem a reunião com o Chris para a sexta feira de manhã avisando-o antes
da pauta.
(14/05/2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da VALE usar
o contrato de As Is como black mail.
(14/05/2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15/05/2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN).
Não sei se o tiro pode sair pela culatra. Os resultados e índices do setor nos
deixam numa posição mto sensível, por isso só gostaria de envolver o CM
com os resultados finais.
(15/05/2018 – e-mail enviado por VINICIUS WEDEKIN)
Resolveram descartar o fornecedor e isto pode ser para nós uma oportunidade,
se a corporação entender isto como oportunidade. Temo que não.
Como é área pouco desenvolvida (liquefação) creio que há campo para
grandes desenvolvimentos, técnicos e comerciais e portanto dá para jogar.
(15/05/2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
372
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Nesse contexto, no dia 17 de maio de 2018, logo após os debates por e-mail o
denunciado CHRIS PETER MEIER esteve no Brasil e discutiu tais questões com a equipe
técnica da TÜV SÜD no Brasil. Participaram da reunião MAKOTO NAMBA e MARLÍSIO
CECÍLIO, eis que, conforme informado por VINICIUS WEDEKIN perante o MPMG e a
PCMG, “a reunião era que tais pessoas tratariam da análise de estabilidade da Barragem B1”,
acrescentando que “MARLÍSIO havia preparado uma apresentação para CRIS”.
resultado final da revisão periódica assinada pelo declarante”, sendo que CHRIS-PETER
MEIER compunha o colegiado.
374
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
375
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
como quanto à não adoção das medidas decorrentes desse acionamento ou de outras medidas
eficazes para a salvaguarda da população existente na Zona de Autossalvamento. Caso tais
medidas de salvaguarda da população e do meio ambiente tivessem sido devidamente adotadas,
os resultados mortes e danos ambientais não teriam ocorrido da forma e na proporção como
ocorreram.
378
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
estrutura, ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR afirmou que “esse estudo ao ver do declarante foi
muito importante porque a VALE viu pela primeira vez que havia um risco”.
Esse recado foi principalmente para a Barragem I, mas tem outras barragens
menores do Córrego do Feijão, que estão com a Pótamos, que as
probabilidades de ruptura estão muito altas.
379
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
381
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Mas como sempre, a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se não
passar, irão assinar ou não?
(13.05.2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN)
382
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
384
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JUNIOR)
385
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
386
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
388
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
389
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
391
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
27.01.2019 13:43:32 (UTC+0) André Yassuda A minha interpretação está correta, portanto ..
Aonde tinha mais água minando ..
392
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
393
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Mas como sempre, a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se não
passar, irão assinar ou não?”
(13.05.2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA)
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN)
CECÍLIO: “Antes da Corporação, AJY/Potamos têm que estar alinhados com a decisão
técnica”.
396
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
398
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
que acompanhou a referida DCE. O relatório técnico serviu para ilicitamente subsidiar a falsa
DCE e dissimular a criticidade do Cálculo de Liquefação para condição não drenada, com
FSPICO = 1,09, através do uso malicioso do artigo científico de Ben Leshchinsky e Spencer
Ambauen (FSPICO≥1,05).
Figura 64. Anotação de Responsabilidade Tecnica (ART) que subsidia o Relatório Técnico da
Declaração de Condição de Estabilidade perante a ANM em 13.06.2018.
399
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
(então em fase de tratativas), como forma de chantagem (black mail) para induzir o
comportamento ilícito da TÜV SÜD. A pressão exercida foi demonstrada na sequência de
e-mails que circulou entre funcionários da TÜV SÜD, no mês de maio de 2018, com o assunto
Declaração de Estabilidade – Barragem I – Córrego do Feijão:
Mas como sempre, a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se
não passar, irão assinar ou não?”
(13.05.2018 – e-mail enviado por MAKOTO NAMBA – grifo nosso)
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JUNIOR)
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN)
405
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
empresa VALE o contrato de ‘as is’ e se referia ao temor de que a VALE pressionasse para que
a TUV SUD assinasse a declaração de estabilidade”, acrescentando que “teve esse temor pois
a VALE é ‘dura’ em cobrar prazos e funções”.
eficazes para a efetiva estabilização da Barragem I; c) tinha pleno e profundo conhecimento das
alternativas existentes para buscar a melhoria do Fator de Segurança da Barragem I para o modo
de falha Liquefação; d) tinha pleno e profundo conhecimento de que a opção adotada para
buscar a melhoria do Fator de Segurança da Barragem I (Drenos Horizontais Profundos –
DHPs) se mostrou ineficaz, tendo em vista a interrupção da instalação dos DHPs após a
ocorrência da erosão interna ocorrida em junho de 2018 no DHP 15; e) tinha pleno e profundo
conhecimento de que, em razão da situação com potencial comprometimento da segurança da
estrutura, a Barragem I não poderia ter a sua estabilidade garantida com a emissão de
Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) positivas; f) tinha pleno e profundo
conhecimento de que nenhuma medida eficaz foi tempestivamente adotada para controlar ou
extinguir a situação com potencial comprometimento da segurança da Barragem I, estando o
denunciado ciente, portanto, da condição de emergência em nível 2 da estrutura; g) tinha pleno
e profundo conhecimento da existência de pessoas e de estruturas administrativas na Zona de
Autossalvamento da Barragem I, bem como dos atributos ambientais existentes a jusante da
estrutura.
científico estrangeiro de Ben Leshchinsky e Spencer Ambauen, com o objetivo de conferir ares
de cientificidade para o parâmetro de 1,05 para o Fator de Segurança na condição não drenada.
Conforme informado por MAKOTO NAMBA perante o MPMG, “o declarante, ARSENIO
E MARLISIO, todos da empresa TUV SUD, debateram sobre a possibilidade de utilizar outro
parâmetro diverso do valor de 1,3 que foi indicado pela VALE como mínimo ou desejável para
as análises de liquefação” e que “ARSENIO NEGRO JUNIOR apresentou ao declarante e
MARLISIO um artigo, que é citado no relatório da revisão periódica, que debate um erro
intrínseco no método equilíbrio/limite de forma que o fator de segurança satisfatório seria
aquele superior a 1.0 para condições não drenadas com gatilho e que o fator de segurança
mínimo seria de 1.05”.
411
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
falsas DCEs como meio de viabilizar a dinâmica ilícita, assinou falsa Declaração de Condição
de Estabilidade (DCE) da Barragem I perante a Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM),
no cumprimento da obrigação legal de Auditoria Técnica de Segurança (ATS). Novamente, o
falso Relatório Técnico que acompanhou a DCE ocultou informações críticas de segurança
para os modos de falha Liquefação e Erosão Interna e dissimulou a criticidade do Cálculo de
Liquefação para condição não drenada, com FS PICO = 1,09, através do uso malicioso do artigo
científico de Ben Leshchinsky e Spencer Ambauen (FS PICO≥1,05), fruto da articulação ilícita
de MAKOTO.
413
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
414
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
ambiente tivessem sido devidamente adotadas, os resultados mortes e danos ambientais não
teriam ocorrido da forma e na proporção como ocorreram.
Dessa forma, para além da emissão de DCEs, a TÜV SÜD, notadamente através
do denunciado MAKOTO NAMBA, realizava o acompanhamento direto e permanente da
execução de atividades na estrutura da barragem e ficou responsável por diversas atribuições,
415
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
418
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Mas como sempre, a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se não
passar, irão assinar ou não?
421
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Acho importante definir com CM nesta vinda dele, com risco da Vale usar o
contrato de As Is como black mail.
(14.05.2018 – e-mail enviado por ARSÊNIO NEGRO JÚNIOR).
Como fica a credibilidade dos resultados? Sempre que não passar a Vale vai
envolver uma outra empresa, até ter um resultado benéfico para ela?
(15.05.2018 – e-mail enviado por VINÍCUIS WEDEKIN)
durante a instalação do DHP15. Dessa forma, sabia que a situação com potencial
comprometimento da segurança estrutural não estava extinta e nem mesmo controlada,
alcançando nível 2 de emergência.
DHPs) se mostrou ineficaz, tendo em vista a interrupção da instalação dos DHPs após a
ocorrência da erosão interna ocorrida em junho de 2018 no DHP 15; e) tinha pleno e profundo
conhecimento de que, em razão da situação com potencial comprometimento da segurança da
estrutura, a Barragem I não poderia ter a sua estabilidade garantida com a emissão de
Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) positivas; f) tinha pleno e profundo
conhecimento da existência de pessoas e de estruturas administrativas na Zona de
Autossalvamento da Barragem I, bem como dos atributos ambientais existentes a jusante da
estrutura.
E MARLISIO, todos da empresa TUV SUD, debateram sobre a possibilidade de utilizar outro
parâmetro diverso do valor de 1,3 que foi indicado pela VALE como mínimo ou desejável para
as análises de liquefação” e que “ARSENIO NEGRO JUNIOR apresentou ao declarante e
MARLISIO um artigo, que é citado no relatório da revisão periódica, que debate um erro
intrínseco no método equilíbrio/limite de forma que o fator de segurança satisfatório seria
aquele superior a 1.0 para condições não drenadas com gatilho e que o fator de segurança
mínimo seria de 1.05”.
426
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
relacionados à Barragem I, da Mina Córrego do Feijão: (i) O milionário contrato de As Is, que
consiste no profundo levantamento de dados e realização de estudos sobre a situação atual
(“como está”) de uma Barragem de Mineração, notadamente para os casos de barragens antigas,
tal qual a Barragem I, que não dispõe de histórico integral sobre suas estruturas e alteamentos;
(ii) O aditivo para Estudos Complementares de Liquefação da Barragem I; (iii) O ontrato de
Alternativas e Projeto Conceitual da Alternativa Escolhida para Fechamento da Barragem I.
429
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
430
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
[...] “Como se percebe, a fauna terrestre que se utilizava da área destruída pelos rejeitos foi
impactada não só pela morte imediata, ou em curto prazo, de um grande número de indivíduos.
É preciso também considerar a destruição dos habitats da fauna terrestre e a completa alteração
das condições naturais das áreas atingidas, resultando em um cenário de completa degradação
ambiental, imprestável às diversas necessidades dos animais, como reprodução, locomoção,
alimentação e abrigo” (fl. 598).
432
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Por sua vez, no trecho do Rio Paraopeba compreendido entre a foz do Ribeirão
Ferro-Carvão e a Barragem de Retiro Baixo em Felixlândia/MG, [...] “os danos à fauna
resultantes do desastre ocorreram em diversos níveis da cadeia alimentar e no meio ambiente
ocupado pelos animais. Dessa forma, o desequilíbrio observado no habitat afetou organismos
invertebrados, como zooplâncton (microrganismos aquáticos) e artrópodes (insetos, crustáceos,
aracnídeos etc.), até animais vertebrados (peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos)” (Laudo
n.º 1639/2019 - INC/DITEC/PF – fl. 28). Na mencionada delimitação espacial, os danos
causados à fauna caracterizaram-se pela considerável presença de animais domésticos e
silvestres (alguns deles classificados como “vulneráveis”, a exemplo da lontra89), que se
utilizavam das águas do rio para dessedentação, especialmente.
89
Conforme informação constante da Deliberação Normativa COPAM n.º147/2010.
433
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
rejeito em áreas mais planas causou destruição de habitat, incluindo-se neste conceito áreas que
são utilizadas, regularmente ou ocasionalmente, como refúgio, abrigo, desenvolvimento e
propagação dos genes por meio de processos reprodutivos.” (Laudo n.º 1639/2019 -
INC/DITEC/PF – fls 31-36).
90
Em nível estadual, a regulamentação da pesca no período da Piracema ficou a cargo da Portaria n.º
154/2011 do Instituto Estadual de Florestas, que delimitou o período de 1º de novembro a 28 de fevereiro
para o defeso da piracema na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, no Estado de Minas Gerais, de
forma a assegurar a proteção à reprodução natural das espécies de peixes nativos.
435
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
migração reprodutiva. Essa condição, associada ao ambiente não favorável do Rio Paraopeba,
foi crucial para determinar o óbito dos peixes analisados por fadiga/stress”.
436
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
438
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
439
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
substrato terroso, caracterizando destoca. Essa área, conforme anteriormente citado, era
integrante de um fragmento florestal, com dimensões significativas, considerado remanescente
de Mata Atlântica (floresta estacional semidecidual montana), conforme do IEF e Fundação
SOS Mata Atlântica (IDE-SISEMA, 2019)” (fl. 191).
Os crimes contra a flora resultaram em erosão do solo (art. 53, inciso I, Lei n.º
9605/98).
subsequentes. Houve uma fase inicial de degradação e erosão da superfície dos terrenos,
seguida pela deposição do material carreado. Os resultados desse primeiro processo foram mais
expressivos ao longo das drenagens, onde a corrida de lama progrediu, erodindo as suas calhas,
removendo a vegetação e espessas camadas de solo e moldando volumes de material terroso de
tamanhos diversos. Ao refluir, deixou depósitos de lama ferruginosa nas áreas atingidas, que
chegaram a atingir mais de 10 m de altura, em algumas áreas (fls. 557/558) [...] Em relação ao
que foi dito anteriormente, a instabilidade dos sedimentos, dentro da zona de inundação,
associada ao fato desse ambiente se encontrar completamente descoberto, sem a proteção da
vegetação, que foi removida ou alterada, resultou em risco de erosão continuada,
principalmente nos períodos chuvosos posteriores ao desastre”. (fl. 562)
444
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Alteração das características dos solos atingidos pela passagem da lama, interferindo nos
habitats da fauna edáfica, tanto pela remoção da camada fértil do solo, quanto pela
sedimentação de materiais dessa lama em toda a zona de inundação dos rejeitos;
Alteração das características físicas e químicas das águas e sedimentos do rio Paraopeba,
tornando as águas impróprias para diversos usos.
O soterramento de uma área de 272ha poluindo o solo local com material oriundo do rejeito
da B-I e/ou material deslocado pela movimentação desse rejeito na sub-bacia do ribeirão
Ferro-Carvão;
Análises químicas realizadas no material coletado na área soterrada demonstram que existem
riscos potenciais, diretos ou indiretos, à saúde humana, considerando um cenário de
exposição padronizado;
As águas drenadas através da área soterrada de 272ha da sub-bacia do ribeirão Ferro- Carvão,
com enormes quantidades de material em suspensão, foram lançadas no rio
Paraopeba gerando poluição desde o dia do acidente até 27/05/2019, quando, segundo a
VALE S.A., houve o desvio definitivo de 100% das águas do ribeirão Ferro-Carvão para
tratamento na Estação de Tratamento de Águas Fluviais (ETAF). O lançamento dessas águas
no Paraopeba causou grandes alterações na qualidade de suas águas, desde a área de
confluência com o ribeirão Ferro-Carvão até a UHE de Retiro Baixo;
445
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
durante a passagem da lama que extravasou da barragem logo após o seu rompimento e também
no período que sucedeu esse evento, considerando que as drenagens naturais continuaram
fluindo dentro da zona de inundação, com destino ao rio Paraopeba, levando consigo os rejeitos
depositados nessa área. Isso foi ainda mais significativo durante as chuvas nessa região”
(fls. 610-611).
em 29/01/2019, que supria parte do município de Pará de Minas, além de restrições às captações
e usos diversos conforme exposto na subseção V.10.10” (fl. 182).
desastre no rio Paraopeba entre os meses de fevereiro e abril de 2019, incluindo as seguintes
quantidades de metais e semi-metais: 651 kg de Arsênio; 814 kg de Cádmio; 981 kg de Cobalto;
1515 kg de Cromo; 3336 kg de Cobre; 1865 kg de Níquel; 1763 kg de Chumbo; e 3397 kg de
Zinco” (fl. 177).
450
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
451
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
452
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
32364910
42 Carlos Eduardo de Souza 377.757.236-53 8398224
32878416
32336313
43 Carlos Eduardo Faria 933.154.496-00 6152056
32583559
453
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
32353572
32353641
58 Cristiano Braz Dias 084.156.036-65 8250698
32353664
32353958
32872512
59 Cristiano Jorge Dias 968.585.596-04 8778170
32872629
60 Cristiano Serafim Ferreira 080.002.026-03 32686800 8701319
Cristiano Vinicius Oliveira de
61 016.429.616-63 32308659 8116519
Almeida
454
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
455
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
32354001
83 Egilson Pereira de Almeida 354.591.666-91 8542933
32425185
84 Eliandro Batista de Passos 071.642.516-57 32308658 8103925
32790524
32790555
85 Eliane de Oliveira Melo 045.568.236-41 32790556 4350588
32790580
32791773
32353635
32790515
86 Eliane Nunes Passos 050.877.436-50 8250008
32791694
32791695
87 Elis Marina Costa 114.072.406-17 34526819 9489379
32353966
88 Eliveltom Mendes Santos 051.111.776-04 8266649
32376125
32583541
Elizabete de Oliveira Espindola 32872757
89 858.823.306-10 8665088
Reis 32872799
32878178
32384802
90 Elizeu Caranjo de Freitas 956.493.607-15 9439716
32384803
32711903
32711939
91 Emerson Jose da Silva Augusto 097.404.666-30 8777126
32711941
32711942
92 Eridio Dias 092.057.736-97 32703292 8742092
32324876
93 Eudes Jose de Souza Cardoso 006.380.846-36 6151609
32354223
32354015
32425126
94 Eva Maria de Matos 814.406.006-78 32583542 8284534
32791692
32791741
456
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
32425136
32438459
32438492
32438503
103 Fernanda Cristhiane da Silva 075.895.276-70 32438632 8627355
32438652
32438702
32438706
32583453
104 Fernanda Damian de Almeida 068.654.859-04 32429539 8541642
105 Flaviano Fialho 069.294.956-97 32307603 8101249
32353662
32438554
106 Francis Erik Soares Silva 086.869.756-74 32438583 8548872
32583475
32878045
32311581
107 Francis Marques da Silva 073.778.546-26 32341251 8133350
32353975
108 George Conceicao de Oliveira 004.656.615-56 32438555 8550019
109 Geraldo de Medeiro Filho 734.318.426-15 32791707 8777934
457
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
458
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
32348752
147 Leandro Rodrigues da Conceicao 073.394.736-02 8216852
32353946
32354035
148 Lenilda Cavalcante Andrade 694.132.822-34 8271355
32354037
32327664
149 Lenilda Martins Cardoso Diniz 066.194.576-65 8443679
32365089
32308728
150 Leonardo Alves Diniz 070.718.226-38 8214273
32353890
32375915
151 Leonardo da Silva Godoy 009.544.236-74 4771944
32790549
152 Leonardo Pires de Souza 025.904.826-71 32353999 8273295
459
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
32307558
167 Marcelo Alves de Oliveira 169.584.068-26 8102351
32376132
32425137
168 Marciano de Araujo Severino 056.527.956-46 32353886 4143515
169 Marciel de Oliveira Arantes 037.088.876-62 32365169 8443984
170 Marcileia da Silva Prado 038.206.486-07 32354158 8291716
460
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Em
183 Miraceibel Rosa 051.578.076-60 Em elaboração
elaboração
32778680
32790520
184 Miramar Antonio Sobrinho 989.131.076-00 4771703
32791704
34168425
185 Moises Moreira de Sales 037.425.156-83 32311311 8130999
Natalia Fernanda da Silva
186 087.513.046-19 32353973 4351023
Andrade
32429706
187 Nilson Dilermando Pinto 377.752.356-91 8550600
32703554
188 Ninrode de Brito Nascimento 069.826.606-48 32317980 6151686
189 Noe Sancao Rodrigues 057.081.586-03 32341189 4107168
Em
190 Noel Borges de Oliveita 671.049.836-00 Em elaboração
elaboração
32354221
191 Olavo Henrique Coelho 439.968.416-04 32583601 4147202
32686870
461
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
462
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
32686864
215 Rodrigo Miranda dos Santos 105.488.776-45 8749754
32703564
32364938
216 Rodrigo Monteiro Costa 005.022.476-06 8397933
32376134
217 Rogerio Antonio dos Santos 457.623.416-15 32353848 6162461
32318748
218 Roliston Teds Pereira 051.919.676-74 6151678
32364889
32365143
219 Ronnie Von Olair Da Costa 639.940.976-49 8443192
32375984
32791782
220 Rosaria Dias da Cunha 066.625.356-05 8777794
32791789
463
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
32354058
228 Sebastiao Divino Santana 408.303.736-91 32438613 8276122
34168148
229 Sergio Carlos Rodrigues 080.858.596-70 32375907 8436828
230 Sirlei de Brito Ribeiro 823.788.276-87 32328746 8167893
32376129
32376130
231 Sueli de Fatima Marcos 054.543.276-62 32376131 4393545
32384801
32384858
32384759
232 Thiago Leandro Valentim 080.386.956-82 8500630
32711906
233 Thiago Mateus Costa 013.715.776-25 32317993 5610502
32346958
234 Tiago Augusto Favarini 014.303.066-37 8183355
32353610
32384787
235 Tiago Barbosa da Silva 089.150.786-83 32384792 8453126
32384799
236 Tiago Coutinho do Carmo 025.748.115-00 32429511 8542197
32304220
238 Valdeci de Sousa Medeiros 741.351.476-15 8440065
32375994
32353993
239 Vinicius Henrique Leite Ferreira 034.490.346-00 32364949 8394661
32429435
464
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
465
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
466
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
467
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 67. Encarte de Rota de Fuga e Pontos de Encontro que inclui a área administrativa da Mina
Córrego do Feijão. Anexo A do PAEBM da Barragem I.
O estudo de Dam Break indicava com precisão a área que seria atingida, com a
existência de grande comunidade a jusante da Barragem I. O estudo estimava, ainda, o tempo
que a onda de rejeitos levaria para atingir a comunidade de Brumadinho. Uma das áreas
corresponde à Pousada Nova Estância, tracejada de amarelo (Figura 68). Os membros da
comunidade que frequentavam ou trabalhavam na pousada e eventuais visitantes ali presentes
tinham o direito de ser informados e notificados da grave situação de emergência que fora
identificada para a Barragem I. Com a informação, poderiam optar por deixar imediatamente
os locais de potencial impacto, abandonando suas residências ou locais de trabalho, ou
simplesmente deixar de visitar a região. Equipes de emergência da VALE deveriam ter ficado
de “prontidão em suas bases e/ou deslocadas para pontos estratégicos para aviso das
comunidades” (PAEBM da Barragem I). Recebida a comunicação pela equipe da VALE, as
pessoas deveriam ser orientadas a se deslocar pelas rotas de fuga (linha e seta amarela) até o
ponto de encontro 06.
468
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 68. Encarte de Rota de Fuga e Pontos de Encontro que inclui a Pousada Nova Estância. Anexo
B do PAEBM da Barragem I.
e era, ainda, conhecido por parte do corpo técnico e diretivo da VALE o caráter abrupto do
fenômeno.
470
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
91 “QUE o declarante faz questão de destacar que, na ocasião dos fatos, não ocorreu nenhum tipo de
acionamento de sirenes de emergência que pudessem avisar, dentro da mina, os funcionários que lá
trabalhavam; QUE, também, não houve nenhum tipo de aviso do rompimento por parte da empresa
VALE, até porque o declarante acredita que não teve tempo para tanto...” (Depoimento de Sesbastião
Gomes, ouvido perante a Polícia Civil). “QUE o declarante, afirma ter sido um milagre não ter morrido,
contudo perdeu vários amigos, inclusive outros que também estavam em pás carregadeiras exercendo o
mesmo trabalho, no mesmo local em que o declarante se encontrava...” (Depoimento de Leandro Borges
Cândido). “QUE, no local da região das fossas, o caminhão foi montado para realizar o movimento de
sucção, contudo antes mesmo de tal procedimento ser realizado, o declarante ouviu um estrondo,
oportunidade em que olhou para o alto da Barragem B1 e visualizou uma grande quantidade de lama
misturada com terra vindo com muita força em sua direção, inclusive arrastando vagões que estavam
pelo caminho...” (Depoimento de Elias de Jesus Nunes). “ QUE o declarante ouviu um barulho e logo
viu os vagões "montando um em cima do outro", conforme se expressa; QUE o declarante estava ao
lado de um colega de nome ADÃO (funcionário da VALE) e logo comentaram um para o outro "esse
maquinista tá ficando doido, juntado um vagão um em cima do outro", conforme se expressa; QUE logo
o barulho ficou mais forte e de repente o declarante avistou uma "onda de lama" cobrindo os vagões;
QUE o declarante saiu correndo e subiu acima do tanque do caminhão; QUE o declarante ao subir no
tanque do caminhão ficou com o pé prensado entre uma barra (cinta) de concreto e a barra de ferro da
caixa d´água de aproximadamente 3.000 (três mil) litros, a qual havia sido jogada pela lama na lateral
do caminhão.” (Depoimento de Waldison Gomes da Silva)
471
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
472
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Figura 69 – Área atingida diretamente pela massa de rejeitos da Barragem I, da Mina Córrego do Feijão.
Fonte: Imagens adaptadas da série histórica disponível no Google Earth.
473
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
474
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
3) PEDIDOS
3) A tramitação com prioridade da presente ação penal, nos termos do artigo 394-A do
Código de Processo Penal, eis que se trata de imputação de crime hediondo (artigo 1º, inciso I,
da Lei n.º 8.072/1990);
4) Nos termos do artigo 91, inciso I e II, do Código Penal c/c artigo 387, inciso IV, do Código
de Processo Penal, sejam motivadamente declaradas os seguintes efeito da condenação:
a) A fixação de valores mínimos para reparação dos danos causados pelas infrações,
considerando os prejuízos materiais e morais sofridos pelos familiares das vítimas fatais,
bem como os prejuízos sofridos pelo meio ambiente e os prejuízos ao erário, suportados
por toda a sociedade, inclusive aqueles relativos às despesas necessárias ao
desenvolvimento das investigações (perícias, análises de material, empenho e
deslocamento de efetivo de policiais, dentre outros) e aos trabalhos de busca e resgate,
tornando certa a obrigação de indenizar pelos danos causados pelos crimes; e
b) A perda dos produtos dos crimes ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito
auferido pelos agentes com a prática do fato criminoso; e
475
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
5) Com base no artigo 15, inciso III, da Constituição da República, seja declarada a suspensão
dos direitos políticos dos acusados, após o trânsito em julgado da sentença condenatória e
enquanto durarem seus efeitos.
ROL DE TESTEMUNHAS
1. Kenya Paiva Silva Lamounier, CPF n.º 741.031.806-68 (esposa da vítima fatal Adriano
Aguiar Lamounier);
2. Andresa Aparecida Rocha Rodrigues, CPF n.º 039.481.956-74 (mãe da vítima fatal Bruno
Rocha Rodrigues);
3. Natália de Oliveira, CPF n.º 711.255.406-30 (irmã da vítima fatal Lecilda de Oliveira);
4. Nayara Cristina Dias Porto, CPF n.º 113.542.196-00 (esposa da vítima fatal Everton Lopes
Ferreira);
5. Juliana Cardoso Gomes Silva, CPF n.º 052.916.776-00 (nora da vítima fatal Levi
Gonçalves da Silva);
6. Josiana de Souza Resende, CPF n.º 089.623.206-90 (irmã da vítima fatal Juliana Creizinar
de Resende Silva);
7. Fernando Henrique Barbosa Coelho, CPF n.º 061.785.946-90 (vítima sobrevivente e filho
da vítima fatal Olavo Henrique Coelho – “Lao”);
8. Deivid Arlei Almeida, CPF n.º 134.028.516-95 (marido de vítima sobrevivente);
9. Segastião Gomes, CPF n.º 525.250.316-87, (vítima sobrevivente);
10. Leandro Borges Cândido, CPF n.º 053.832.816-90, (vítima sobrevivente);
11. William Isidoro de Jesus, CPF n.º 000.520.826-28 , (vítima sobrevivente);
12. Waldson Gomes da Silva, CPF n.º 568.429.966-00 (vítima sobrevivente);
13. Elias de Jesus Nunes, CPF n.º 003.148.636-30 (vítima sobrevivente);
14. Soraia Aparecida Campos, CPF 057.662.186-21 (vítima sobrevivente);
15. Jefferson Custódio Santos Vieira, CPF 104.990.126-66 (vítima sobrevivente);
16. Maria Regina Moretti, CPF n.º 032.369.368-78, engenheira civil que trabalhou na empresa
POTAMOS;
17. Albano Cândido dos Santos, CPF n.º 079.875.776-00, engenheiro civil que trabalhou na
empresa POTAMOS;
18. Fernando Alves Lima, CPF n.º 042.728.176-80, engenheiro civil que trabalha na empresa
POTAMOS;
476
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
19. Ana Lúcia Moreira Yoda, CPF n.º 078.482.578-51, engenheira que trabalha na empresa
TRACTEBEL;
20. Marcelo Pasquali Pacheco, CPF n.º 282.115.048-20, Administrador legal da empresa TÜV
SÜD;
21. José Assunção Braga Neto, CPF n.º 061.520.836-30, funcionário da MCA, contratada pela
TÜV SÜD;
22. Tenente Coronel CBM/MG Eduardo Ângelo Gomes da Silva, por ofício requisitório;
23. Capitão Leonard Farah, CBM/MG, por ofício requisitório;
24. Dr. João Batista Rodrigues Júnior (Chefe da Sessão de Perícia no Morto do Instituto
Médico Legal), por ofício requisitório; e
25. Marta Aparecida Sawaya Miranda de Ávila, CPF n.º 309.092.106-59, geóloga integrante
da equipe da CEAT/MPMG.
477