Léxico, Ensino e Produção Textual
Léxico, Ensino e Produção Textual
Léxico, Ensino e Produção Textual
Resumo: No presente artigo, objetivamos mostrar a importância do ensino do léxico nas aulas de
língua portuguesa, especificamente no desenvolvimento da prática de produção textual. Para isso,
trataremos do léxico como componente primordial na produção textual, sendo responsável pela
coesão e coerência do texto. O estudo apresenta-se de modo qualitativo e bibliográfico.
Verificamos que, apesar da importância do léxico no desenvolvimento da competência
comunicativa do aluno na educação básica, as aulas de português, assim como os livros didáticos,
tratam esse componente da língua de maneira insuficiente e/ou equívoca. Portanto,
apresentaremos propostas para o trabalho com o léxico em unidades textuais e sua contribuição
nesse processo de construção do texto.
Palavras-chave: Léxico. Ensino. Texto. Produção textual.
1. INTRODUÇÃO
O léxico de uma língua pode ser definido, de uma maneira simples e objetiva,
como “[...] o amplo repertório de palavras de uma língua, ou um conjunto de itens à
disposição dos falantes para atender as necessidades de comunicação.” (ANTUNES,
2012, p. 27). Porém, não se restringe somente a esse ponto de vista. Mascuschi (2004),
concebe o léxico como “o terceiro grande pilar da língua”, ao lado da morfologia e da
sintaxe. Independentemente de quais ou quantas sejam as definições existentes, algo não
pode ser negado: o léxico é a alma e a essência das línguas.
2. LÉXICO E ENSINO
Com base nesses exemplos, temos uma figura responsável pela ação (o agente),
a ação, o gênero em que se enquadra a ação e o tipo de público atingido (o paciente),
porém são designados com palavras diferentes em cada tema. Sendo assim, a partir de um
determinado tema ou assunto a ser tratado, já estabelecemos em nossa mente um limite
prévio de palavras que poderemos usar. Portanto:
O primeiro elemento que orienta a seleção das palavras com que vamos
compor um texto é, sem dúvida, o que temos a dizer. Logo, o assunto a
ser tratado e a delimitação que lhe atribuímos – o que, para alguns,
constitui o seu tema – representam uma condição básica para a decisão
de quais palavras escolher, sobretudo considerando-se os sentidos ou
as ideias que pretendemos expressar; assim, o próprio tema funciona
como um limite, como um esquema a partir do qual escolhemos umas
e não outras palavras [...]. (ANTUNES, 2012, p. 53).
Sendo assim, a seleção lexical será o ponto de partida quando pretendemos
construir um texto, seja um texto simples como uma mensagem de WhatsApp (informal)
seja um texto complexo como um artigo científico. Outro fator importante da seleção do
vocabulário que utilizaremos nesse processo é articulação das palavras sob uma
determinada rede semântica. Analisemos o fragmento textual a seguir:
A seleção tem optado por jogar com Casemiro e Arthur no meio-campo, ótimos jogadores
na marcação, para manter a posse de bola e realizar com passes a transição do campo de defesa
para o ataque, porém pouco agressivos quando precisam atacar a defesa adversária. Além disso,
os laterais brasileiros atuam como "laterais interiores", o que significa que eles jogam em direção
ao centro do campo e não buscando os corredores laterais.
A CIDADEON:Araraquara/2019
Antes de partir para outro “subtema”, já que estamos falando do ensino do léxico,
percebamos como algumas das palavras que estão sublinhadas no texto ganham um
significado específico dentro daquele contexto. Por exemplo, os lexemas marcação e
corredores não se detêm à significados mais comuns, pelo contrário, são preenchidos por
um sentido específico do campo semântico em que estão empregados. Assim também, os
lexemas ataque e defesa que, caso fossem utilizados, por exemplo, em uma crônica com
temática relacionada a guerra, ganhariam um sentido mais violento e perturbador. Por
esses motivos, como citamos na introdução, o estudo da palavra pela palavra torna-se
inconsistente e insuficiente.
O livro de memórias de Elton Jonh ainda nem foi lançado oficialmente, mas já está causando
polêmica. Desta vez, o assunto envolve ninguém mais ninguém menos que o Rei do Pop, Michael
Jackson. De acordo com o site Radar Online, o cantor britânico disparou contra o ídolo pop. [...]
Na publicação, Elton Jonh afirma que conheceu o artista na adolescência, mas que foi nos últimos
anos de vida dele que começou a se questionar sobre “quais medicamentos ele estava tomando”.
[...] Elton ainda lembrou, no livro, de um almoço nos anos 1990 em que o dono do hit Thriller
apareceu com o rosto todo coberto por maquiagem.
Esse é um trecho de uma notícia que trata do fato em que o cantor e compositor
Elton Jonh faz algumas afirmações “chocantes”, em seu livro, a respeito do também
cantor Michael Jackson. A notícia gira em torno de dois referentes: Elton Jonh e Michael
Jackson (em negrito no texto). Mas para evitar estar repetindo os nomes dos cantores no
decorrer do texto, causando uma leitura enfadonha e repetitiva, o autor utiliza outras
unidades lexicais para substituir esses referentes. Para se referir a Elton Jonh: cantor
1
Ver Antunes (2005).
2
Ver Koch (2010).
britânico; para se referir a Michel: Rei do Pop, artista, ídolo do pop e dono do hit Thriller.
Percebam que os termos sublinhados e o termo em itálico, funcionam como
referenciadores dos termos em negrito, promovendo um movimento de reiteração. Mas
ao substituir, por exemplo, Michael Jackson por Rei do Pop/artista/ídolo do pop e dono
do hit Thriller o autor não só torna o texto mais fluído como também traz informações
extras sobre Michael, tornado o texto mais informativo. Dessa forma, a substituição
lexical oferece uma grande vantagem em relação a substituição gramatical e a repetição,
que é justamente “[...] aquela de se poder acrescentar informações ou dados a cerca de
uma referência já introduzida anteriormente [...]” (ANTUNES, 2005, p. 97). Porém,
mesmo utilizando-se da substituição lexical, o autor volta a repetir uma das referências
(Elton Jonh) na “[...] estratégia de manter na memória a referência já feita a um
determinado objeto.” (ANTUNES, 2005, p. 98).
Na notícia acima vimos uma forma de substituição que Antunes (2005) denomina
de substituição por expressão descritiva. Porém, como afirma a mesma autora, como
forma de substituição lexical, também podemos substituir uma palavra por seu sinônimo
ou por seu hiperônimo. Na substituição por sinônimo, uma palavra pode substituir outra
que lhe seja semanticamente equivalente. Por exemplo, podemos substituir menino por
garoto, bonito por belo, leve por maneiro etc., sempre a depender do contexto, pois nem
sempre essa substituição poderá acontecer sem causar mudanças no sentido do texto.
Podemos perceber a substituição de uma palavra por seu sinônimo na notícia a seguir:
Nesse caso o autor substituiu o lexema despesas pelo lexema gastos, tornando o
texto menos repetitivo.
MUNDO ECOLOGIA/2019
Percebam que o lexema onça é substituído pelo seu hiperônimo animal. Esse
processo de substituir um lexema por seu hiperônimo não cumpre apenas a função de
substituir uma palavra por outra, mas também tem “[...] a função de caracterizar, de
categorizar o objeto anteriormente referido.” (ANTUNES, 2012, p. 82), tornando o texto
mais direcionado e informativo.
3. CONCLUSÃO
4. REFERÂNCIAS
ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial,
2005.
ANTUNES, I. O território das palavras: estudo do léxico em sala de aula. São Paulo:
Parábola Editorial, 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e
quarto ciclos do ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
KOCH, I. G. V. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
MARCUSCHI, L. A. O léxico: lista, rede ou cognição social?. In: In: NEGRI, L.;
FOLTRAN, M. J.; OLIVEIRA, R. P. (orgs.). Sentido e significado: em torno da obra
de Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2004. p. 263-284.
XATARA, C. M. O ensino do léxico: as expressões idiomáticas. Trabalhos em
linguística aplicada. v. 37. 2012.