Introjeção 2
Introjeção 2
Introjeção 2
=====
Os Polster (2001) teorizam que isso ocorre da seguinte forma: se a pessoa sente que
seus esforços para realizar um bom contato serão bem-sucedidos, que ela é potente e
está em ambiente capaz de lhe proporcionar retorno nutridor, ela vai confrontar esse
ambiente com vontade, força e até mesmo com ousadia. Caso contrário, se seus
esforços não resultarem no que ela deseja, isso despertará nela sentimentos
perturbadores como raiva, confusão, ressentimento, impotência e desapontamento,
entre outros. Será, então, necessário redirecionar a energia mobilizada inicialmente
para a necessidade não-satisfeita, o que poderá ser feito de muitas formas, mas todas
reduzem a possibilidade de contato pleno com seu meio. A escolha das direções
específicas para essa interação redirecionada vai depender da preferência do indivíduo
pelos canais disponíveis a eles.
Perls (1988) teorizou que há quatro distúrbios de limite, os quais estariam por trás das
neuroses: a introjeção, confluência, projeção, e retroflexão. Os Polster (2001)
acrescentaram a essa lista a deflexão; outros teóricos da Gestalt incluem mais três:
fixação, proflexão e egotismo. A seguir, detalhamos cada um desses mecanismos de
acordo com a concepção de vários teóricos da Gestalt-terapia.
INTROJEÇÃO: Perls (1988) considera que esse é o mecanismo por meio do qual
incorporamos em nós mesmos normas, atitudes, modos de agir e pensar que são dos
outros e não verdadeiramente nossos; uma internalização passiva do que vem de fora,
quando o saudável seria haver uma mastigação antecedendo a assimilação. O
indivíduo que introjeta não tem oportunidade de desenvolver sua própria
personalidade e, ao absorver introjetos antagônicos, cria em seu interior campos de
batalha com lutas onde nenhum dos lados ganha e que imobiliza o desenvolvimento da
personalidade. De acordo com Perls (idem), a neurose surge se, na infância, o
imperativo for contra a natureza e apesar disso aceito de bom grado.
Ribeiro (1997) define introjeção como o processo por meio do qual o indivíduo obedece
e aceita opiniões arbitrárias, normas e valores pertencentes aos outros, engolindo
coisas alheias sem querer e sem defender seus próprios direitos por medo da
agressividade própria e da dos outros. A pessoa que introjeta prefere a rotina, as
simplificações e as situações facilmente controláveis. Além disso, pensa que os outros
sabem melhor o que é bom para ela e gosta de ser mimada.
Delisle (1999, in TENÓRIO, 2003) explica que a criança exposta a situação ameaçadora
ou hostil, da qual não possa fugir, vivencia um impasse existencial o qual ela enfrenta
recorrendo à única alternativa de defesa de que dispõe: a introjeção. A experiência é, ao
mesmo tempo, ameaçadora e indispensável, uma vez que fugir dela pode significar a
rejeição ou a perda do amor dos pais, de quem depende de forma absoluta. A criança,
então se submete passivamente à experiência tóxica. Delisle nomeia experiências
tóxicas “engolidas sem mastigação” de microcampos introjetados.
Essas estruturas precisam ser mantidas como fundo, sob o risco de serem revividos
caso venham à tona. Para evitar isso, o Self mobiliza os mecanismos de interrupção do
contato. Apesar de permanecerem no fundo, esses microcampos estão sempre
ameaçando vir à tona, uma vez que são situações inacabadas ou gestalten abertas.
Segundo Tenório (op. cit.), as constantes ameaças de emergirem do fundo fazem com
que os microcampos introjetados contaminem as novas figuras, distorcendo a
percepção da realidade externa e causando reedição de situações inacabadas do
passado. “Esse fenômeno se assemelha à compulsão pela repetição de Freud ou o apego
da libido aos objetos maus internalizados de Fairbairn. A repetição na neurose é,
portanto, a externalização ou projeção de microcampos introjetados no mundo externo
e a reativação das mesmas respostas defensivas” (idem, p.43).
====