2 - Livro Infantil - O Inimigo PDF

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O David.e Cali ! Serge Bloch


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Nos buracos, dois soldad.os.

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O inimigo está ali, mas nunoa é visto.
De manhã, me levanto e disparo um tiro de fuzil contra ele.
Ele entáo dispara um tiro d.e fuzil contra mim.
Ficamos escondidos o resto do dia
esperando ver a ca,beça um do outro.

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Mas nenhum de nós


volta a pôr a cabeça para fora de seu buraco.
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Mesmo se estou com fome, espero.


Espero que o inimigo acenda o fogo dele primeiro,
porque, se eu, acender o meu,
ele pode aproveitar para vir até aqui e me matar.
Mas às vezes estou tão faminto
que sou o primeiro a acender o fogo.
Imediatamente o inimigo acende o dele.
Estou sssinho.
Desüe que Miehel morreu,
nlnguém a,pareceu aqui.

II
I

I
I
O inimigo também deve estar sozinlroi
só ouço um disparo de fuzil por vez.
É isso, tenho cetteza de que também flcou sozinho.
,

E ele tem fome. São as únicas coisas


que temos em comum, o inimigo e eu'
As diferenças entre nós sã,o enormes'
Ele é um animal selvagêffi, nã,o conhece a piedade'
Ete mata mulheres e crianças. Mata sem ta,zã,o.
Se há guerra, a culpa é dele.
Sei disso tudo porque não sou estúpido.
Li no manual.
No primeiro dia da guerra, há muito tempo,
nos deram um ftuzíl e um manual.

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O manual diz tudo sobre o inimigo:
devemos matá-lo antes que ele nos mate,
porque é cruel e impiedoso.
Se nos rnatax, ele dizimará nossas famílias.
E nem assim fi.cará" satisfeito.
Matará, também os cachorros,
depois todos os animais,
queimará os bosques, envenenarâ a âgua.
O inimigo não é um ser humano.

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As vezes penso que nos esqueceram.
Faz semanas, meses,
que não se ouve mais o canhão.
Talvez a guerra tenha acabado.
Talvez todos estejam mortos
e nós somos os dois últimos soldados a continuar.
Aquele que sobreviver terá ganho a guerra.

Às vezes penso que o mund.o não existe mais.

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, Já não tenho quase nada para comer.
Ttrdo o que me resta é carne seca e barras de vitaminas.
Certa vez, por pouco não peguei um lagarto.
Ele chegou bem perto do meu buraco, eu podia tê-lo apanhado.
Mas pensei: "se o inimigo me surpreender comendo um lagarto,
vai achar que estou desesperado".
Felizmente, ainda tem água no poço.
Mas devo prestar atençã,o e ficar de guarda:
o inimigo pode envenená,-La.
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Começou a chover. É sempre assim:


depois de um verão muito quente, vem a chuva. Não gosto da chuva.
Não gosto do calor, chuva é pior ainda.
Cada vez que começa a chover,
penso que esta guerra precisa realmente acabar.
Só não sei como.
Os outros é que sabem, os que comandam.
Mas eles náo me dizem nada.

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Esta noite, refleti. O ruído da chuva não me deixou dormir.


Então refleti quase a noite inteira.
Na semana que vem nã,o haverá lua.
Se eu sair do meu buraco, o inimigo não conseguirá me ver no escuro.
Na semana que vem a gtuerra vai terminar.
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Estou pronto.
O inimigo acha que estou dormindo, mas ele se eng'ana.
Ponho o disfarce número três, o de arbusto.
E saio. il.'

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Está um pouco frio.


Mas o disfarce número três me mantém aquecido.
Rastejo lentamente até o buraco do inimigo.
Sem dúvida, ele não conta com essa surpresa.
Pensa que estou dormindo, como todas as noites.
Vou rastejar até o buraco dele e matá-lo.
Assim a guerra vai acabar.
Assim poderei voltar para casa e rever minha família.
F$auma besteira.
O manual diz para nnnoa sair à noite.
Por causa dos leões, obviamente.
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Como pude ser tã,o besta?
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Devo fi.car imóvel.


Leões enxergtam no escuro.
E têm faro.
Podem farejar uma presa na escuridão.
five sorte,o leão se afastou.
Agora tudo correrá bem, tenho certeza.
Rastejo ainda mais silenciosamente. Estou quase chegando.
Mas nã,o vou disparar agora.
Gluero ver o rosto dele. O rosto do inimigo.
Depois o matarei.
Não há ninguém. No buraco do inimigo nã,o }aá" ninguém.
Nã,o entendo. Ele deveria estar aí.
Está sempre aí! Mas não há ninguém.
Vejo seus mantimentos. Carne seca
e barras de vitaminas.
Também há fotos: parecem de família...
Será que ele tem família? Eu não contava com isso.
Não nos disseram nada. Eu me pergunto
como ele pode matar mulheres e crianças
se tem uma família que espera seu retorno:
então que espécie de monstro ele é?
E isto, o que é? Um manual.
Um manual como o men. É iaêntico.
Não, há uma diferença...
Nesse, o inimigo a combater tem o meu rosto!
Mas eu não sou assim, não sou um monstro.
Nunca matei mulheres e crianças.
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Eu sou um homem,
este manual só diz mentiras.
Nã,o fui eu que comecei esta guerua!
E não vou mata,r os animais
nem queimar os bosques
nem envenenar a água,
se ele se render!
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Logo vai amanhecer. Nenhum sinal do inimigo. t


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Sei onde ele está: no meu buraco!


Quis me surpreender durante o sono
para que a guerra terminasse.
E agora sabe que estou no buraco dele
e que não posso sair.
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O inimigo está muito cansado. Agora sei disso.
E sei que ele tem uma família que o espera.
Se esta guerra terminasse,
poderíamos voltar para casa, cada um para a sua casa.
Para a guerra terminar faltaria muito pouco.
Ele poderia me enviar u.ma mensagem:
*Vamos acabar com a guerra, a,gota,".
Se ele enviasse essa mensagem, eu aceitaria imediatamente.
Então, o que ele está esperando?
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Estou cansado d.e esper,an
Há nuvens Escur&s ê G&rf;e§ad&§ no eéu.
Vai. ehover de noro e odeio a chuva.

Egerevi un*a menseg:em xro Imeu lengo.


Pus dentro de uma garrafa de plástieo.

Entã,o feetrei a g:arrafa,


mirei com ouidado e atirei"
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Tomara que a minha garrafa caia no buraco dele.
@ Cosac Naify, 2OO8
@ David.e CaIi e Serge Bloch - ÉAitions Sarbacane, 2o,07

Coordenação editorial veurssa coNçALvEs


Composição.russlna FrNo e LucraNA FAccHrNr
Revisão aNNrra cosra MALuFE

Dados Internacionais de Catalogação na Publicaçáo (cr)


(Câmara Brasileira do Livro, sr, Brasil)

Cali, Davide 1L972- l


O inimigo: Davide Cali
fitulo original: üennemi
Ilustrações: Serge Bloch
T?adução: Paulo Neves
São Paulo: Cosac Naify, 2OO8
64 pp., 43 ils.

rsrr 978-85 -7 ó03-69 L-4

1. Guerra - Ficçáo - Literatura infanto-juvenil


2. Inimigos (Pessoas) - Ficção - Literatura infanto-juvenil
3. Literatura infanto-juvenil 4. Soldados - Ficçã,o -
Literatura infanto-juvenil r. Bloch, Serge. rr. Título

o8-o2256 coo-O28.5

Índices para catálogo sistemático:


1. Soldados: Guerra: Ficção: Literatura infanto-juvenil 028.5

COSAC NAIFY
Rua General Jardítn,77O,20 andar
O1223'OLO São Paulo, sr
Tel. [55 11] 3218 L444
Fax [55 Í-1-7 3257 8164
www. cosacnaify. com.brlinfanto

Atendimento ao professor [55 11] 8218 147a-

Fonte Claredon
Papel Alta Alvura,l2O glrnz
Impressáo Geográflca
Tiragem 8.OOO
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O seu inimigo está dentro de você. O seu inimigo é você. Ou


poderia ser. T'lste livro de Davide Cali e Serge Bloch mostra
o que realmente acontece na frente de combate. O soldado
de um lado é igual ao inimigo à sua frente. Muitas vezes
são amigos, como vi com freqüência quando fui correspon-
dente de guerra na antiga lugoslávia.
Numa pequena cidade de um país em g'uerra, a Bósnia,
todos os dias o soldado assumia sua posiçáo no front e pro-
curava, com o binóculo, o seu amigo da vida toda. Mesma
idade, colegas da mesma escola, mesmas baladas. A guer-
ra os colocou em lados opostos. Agora, se comunicam com
o binóculo. Se oltram, fazetn sinais, alguns feios, outros
engraçados. E assim brincam de inimigos.
Os inimigos são exatamente iguais. Na maioria pobres,
quase semprê assustados, com saudades das famílias,
todos nervosos, com frio, calor e fome. Se por acaso um
dia eles trocassem de lado, não mudaria nada, ninguém
notaria, porque os de lá são iguais aos de acolá". Então,
por que lutam?
Leão Serva

Ttadução Paulo Neves

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