Primeiro Concílio de Niceia

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Primeiro Concílio de Niceia

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Primeiro Concílio de Niceia

Afresco do século XVI representando o


Primeiro Concílio de Niceia.

Data 20 de maio de 325 - 19 de


junho de 325

Aceite por Igreja Católica


Igreja Ortodoxa
Igreja Assíria do
Oriente
Concílio Concílio de Jerusalém
anterior
Concílio Primeiro Concílio de
seguinte Constantinopla
Convocado Imperador Constantino
por I e Papa Silvestre I[1]
Presidido Ósio de
por Córdoba (e Imperador
Constantino I)[2]
Afluência 318 (número tradicional)
250–318 (estimativas)
Tópicos de Arianismo, controvérsia da
discussão Páscoa, ordenação de
eunucos, proibição de se
ajoelhar aos domingos e da
Páscoa ao
Pentecostes, batismo de
heréticos, estatuto dos
prisioneiros na perseguição
de Licínio, cisma
meleciano, diversos outros
assuntos.[3]
Documentos Credo Niceno,
[4]
vinte cânones[5] e uma
epístola sinodal.[3]
Todos os Concílios Ecuménicos Católicos
Portal do Cristianismo
O Primeiro Concílio de Niceia foi um concílio de bispos cristãos, reunidos na cidade
de Niceia da Bitínia (atual İznik, província de Bursa, Turquia) pelo Imperador
Romano Constantino I em 325. Constantino I organizou o concílio nos moldes do senado
romano e o presidiu, mas não votou oficialmente.
Este concílio ecumênico foi a primeira tentativa de alcançar um consenso na Igreja através
de uma assembléia representando toda a cristandade. Ósio, bispo de Córdoba,
[6][7]
provavelmente um legado papal, pode ter presidido suas deliberações.
Seus principais feitos foram a resolução da questão cristológica da natureza divina
[4]
de Jesus e sua relação com Deus Pai; a construção da primeira parte do Credo Niceno;
[8] [5]
a fixação da data da Páscoa e a promulgação da lei canônica em sua primeira forma.
[9]

Índice
 1Visão geral
 2Características e propósitos
 3Participantes
 4Agenda e procedimentos
 5Controvérsia ariana
o 5.1Argumentos a favor do
arianismo
o 5.2Argumentos contra o
arianismo
o 5.3Resultado do debate
 6Credo Niceno
 7Cálculo da Páscoa
 8Cisma meleciano
 9Promulgação da lei canônica
 10Efeitos do concílio
 11Função de Constantino
 12Equívocos
o 12.1Cânone bíblico
o 12.2Trindade
 13Questões disputadas
o 13.1Função do bispo de Roma
 14Celebração litúrgica
 15Ver também
 16Referências
 17Bibliografia
o 17.1Fontes primárias
o 17.2Fontes secundárias
Visão geral[editar | editar código-fonte]
[10]
O Primeiro Concílio de Niceia foi o primeiro concílio ecumênico da Igreja. Seus feitos
resultaram em um dos primeiros símbolos da fé e doutrina cristã, chamado de Credo
Niceno. Com a criação deste credo, estabeleceu-se um precedente para os concílios
locais e regionais subsequentes (Sínodos), realizados pelos bispos, para criar declarações
de crença e cânones da ortodoxia doutrinária — com a intenção de definir a unidade das
crenças para toda a cristandade.
Derivado do grego koiné (em grego: οἰκουμένη; transl.: oikouménē , "o habitado"),
"ecumênico" significa "no mundo todo; de âmbito geral, universal". O termo, de modo
[11]
geral, foi usado para se referir à Terra conhecida e habitada, o que naquele momento
da história se referia em grande parte ao Império Romano. Os primeiros usos do termo
aplicados a um concílio são em "Vida de Constantino", escrito por Eusébio de
[12]
Cesareia em torno de 338, no qual ele afirma que "ele convocou um concílio
ecumênico" (em grego: σύνοδον οἰκουμενικὴν συνεκρότει; transl.: sýnodon
[13]
oikoumenikḕn synekrótei), e numa carta ao Papa Dâmaso I e aos bispos
[14]
latinos do Primeiro Concílio de Constantinopla em 382.
Um dos propósitos do concílio foi resolver as divergências que surgiram dentro da Igreja
de Alexandria sobre a natureza de Jesus e sua relação com o Pai. Discussões sobre a
origem do Filho envolveram dois posicionamentos: se ele não teve começo e foi gerado
pelo Pai a partir de seu próprio ser ou se teve começo e foi criado do nada.
[15]
Alexandre e Atanásio, ambos de Alexandria, tomaram a primeira posição e o popular
presbítero Ário, de quem vem o termo arianismo, tomou a segunda. O concílio decidiu,
esmagadoramente, contra os arianos. De aproximadamente 318 participantes, todos, com
exceção de dois, concordaram em assinar o credo e estes dois, juntamente com Ário,
[10][16]
foram banidos para a Ilíria.
Outro resultado do concílio foi um acordo sobre quando celebrar a Páscoa, a mais
importante festa do calendário eclesiástico, decretado em uma epístola à Igreja de
Alexandria na qual se diz:

Nós também lhe enviamos


“ as boas novas do acordo
relativo à sagrada Páscoa,

isto é, em resposta às suas
orações, esta questão
também foi resolvida.
Todos os irmãos do Oriente
que até o momento
seguiram a prática judaica,
a partir de agora,
observarão o costume dos
romanos e de vocês e de
todos nós que, desde os
tempos antigos,
mantivemos a Páscoa
juntamente com vocês.[17]
Historicamente significativo como o primeiro esforço para alcançar um consenso na Igreja
através de uma assembléia representando toda a cristandade, o concílio foi a primeira
[18]
ocasião em que os aspectos técnicos da cristologia foram discutidos. Por meio dele,
estabeleceu-se um precedente para os concílios gerais posteriores adotarem credos e
cânones. Este concílio é, geralmente, considerado o início do período dos primeiros sete
concílios ecumênicos da história do cristianismo.
Características e propósitos[editar | editar código-fonte]
O Primeiro Concílio de Niceia foi convocado pelo Imperador Constantino, o Grande, em
consequência das recomendações de um sínodo liderado por Ósio de Córdoba no tempo
pascal de 325. Este sínodo havia sido encarregado de investigar o problema causado
[19]
pela controvérsia ariana no leste grego do mundo greco-romano. Para a maioria dos
bispos, os ensinamentos de Ário eram heréticos e perigosos para a salvação das almas.
[20]
No verão de 325, os bispos de todas as províncias foram convocados a Niceia, um
lugar razoavelmente acessível a muitos representantes, particularmente os da Ásia
Menor, Geórgia, Armênia, Síria, Palestina, Egito, Grécia e Trácia.
Este foi o primeiro concílio geral na história da Igreja convocado por Constantino I. No
Concílio de Niceia, "a Igreja deu seu primeiro grande passo para definir a doutrina
[21]
revelada, de forma mais precisa, em resposta a um desafio de uma teologia herética."

Participantes[editar | editar código-fonte]

Ícone ortodoxo representando o Primeiro


Concílio de Niceia.
Constantino convidou todos os 1 800 bispos da igreja cristã dentro do Império Romano
(cerca de 1 000 no leste e 800 no oeste), mas apenas um número menor e desconhecido
[22]
compareceu. Eusébio de Cesareia calculou mais de 250, Atanásio de
[13]
Alexandria contou 318, e Eustácio de Antioquia estimou aproximadamente
[23]
270 (todos os três estavam presentes no concílio). Mais tarde, Sócrates de
[24] [25] [26]
Constantinopla registrou mais de 300, e Evágrio, Hilário de Poitiers, Jerônimo,
[27] [28] [29]
Dionísio Exíguo e Rufino de Aquileia registraram 318. O número 318 é
[30]
preservado nas liturgias da Igreja Ortodoxa.
Representantes vieram de todas as regiões do Império Romano, incluindo a Britânia.
[31]
Os bispos participantes receberam gratuitamente viagens de suas sedes
episcopais para o concílio, bem como alojamentos e viagens de retorno. Esses bispos não
viajaram sozinhos, cada um tinha permissão para trazer consigo dois presbíteros e
três diáconos, de modo que o número total de participantes poderia ser estimado em torno
de 1 800. Eusébio fala de uma quantidade de acompanhantes quase inumerável,
composta de padres, diáconos e acólitos. Um manuscrito siríaco lista os nomes dos bispos
orientais, registrando vinte e dois da Cele-Síria, dezenove da Palestina, dez da Fenícia,
seis da Arábia etc., apesar da distinção entre bispos e presbíteros ainda não ter se
[32][33]
formado completamente nessa época.
Os bispos orientais formaram a grande maioria, entre eles, dois patriarcas ocuparam
lugares de destaque: Alexandre de Alexandria e Eustácio de Antioquia. Muitos dos padres
reunidos — por exemplo, Pafúncio de Tebas, Potamão de Heracleia e Paulo de
Neocesareia — haviam se apresentado como confessores da fé, chegando ao concílio
com as marcas de perseguição em seus rostos. Essa posição é defendida por Timothy
Barnes, um estudioso da patrística, em seu livro "Constantino e Eusébio".
[34]
Historicamente, a influência desses confessores martirizados tem sido vista como
[29]
essencial, mas pesquisas recentes colocaram isso em dúvida.
Outros participantes notáveis foram Eusébio de Nicomédia; Eusébio de Cesareia,
considerado o pai da história da Igreja; circunstâncias sugerem a participação de Nicolau
de Mira (sua vida foi a semente para as lendas sobre o Papai Noel); Macário de
Jerusalém, futuramente um fiel defensor de Atanásio; Aristácio I da Armênia (filho de São
Gregório, o Iluminador); Leôncio de Cesareia; Jacó de Nísibis, um antigo eremita; Hípio de
Gangra; Protógenes de Sárdica; Melício de Sebastópolis; Aquiles de Lárissa (considerado
[35]
o "Atanásio da Tessália") e Espiridão, o Taumaturgo, que ganhava a vida como pastor,
[36]
mesmo sendo bispo. De lugares estrangeiros participaram João, bispo da Pérsia e
da Índia; Teófilo, bispo dos godos e Estratófilo, bispo de Bichvinta, na Geórgia.
As províncias de língua latina enviaram pelo menos cinco representantes: Marco
de Calábria, da Itália; Ceciliano de Cartago, da África; Ósio de Córdoba, da Hispânia;
[35]
Nicásio de Dijon, da Gália; e Dômno de Estridão, da região do Danúbio.
Atanásio de Alexandria, um jovem diácono e companheiro do bispo Alexandre de
Alexandria, estava entre os assistentes. Atanásio, possivelmente, passou a maior parte da
sua vida lutando contra o arianismo. Alexandre de Constantinopla, então presbítero,
[35]
também estava presente como representante de seu bispo idoso.
Os partidários de Ário incluíam Segundo de Ptolemais, Teono de Marmárica, Zéfrio e
Dates, todos vindos da Pentápole líbia. Outros adeptos incluíam Eusébio de Nicomédia,
[35][37]
Paulino de Tiro, Átio de Lida, Menofanto de Éfeso e Teógnis de Niceia.
"Resplandecente em púrpura e ouro, Constantino fez uma entrada cerimonial na abertura
do concílio, provavelmente no início de junho, mas respeitosamente estabeleceu os bispos
[6]
à sua frente." Como Eusébio descreveu, Constantino "passou pelo meio do assembléia,
como algum mensageiro celestial de Deus, vestido em vestes que brilhavam como se
fossem raios de luz, refletindo o brilho radiante de um manto de púrpura, e adornado com
[38]
o esplendor brilhante de ouro e pedras preciosas." O imperador esteve presente como
superintendente e presidente, mas não deu nenhum voto oficial. Constantino organizou o
concílio nos moldes do senado romano. Ósio de Córdoba, possivelmente, presidiu as
[6]
deliberações, provavelmente, como um representante pessoal do papa. Eusébio de
[6][39]
Nicomédia provavelmente proferiu o discurso de boas vindas.
O papa Silvestre I, que exercia seu pontificado na época, não compareceu ao concílio. Nos
primeiros concílios, os papas não participavam e costumavam enviar representantes seus,
entretanto, é importante ressaltar que as sedes patriarcais sempre eram consultadas na
resolução das grandes questões. Silvestre I foi informado da condenação de Ário, ocorrida
no Sínodo de Alexandria (320 a 321), e para o Concílio de Niceia enviou dois presbíteros
romanos como representantes, Vito e Vicente. Uma fonte da influência do Bispo de Roma
é que as assinaturas dos três clérigos — Ósio, Vito e Vicente — estão sempre em primeiro
lugar, bem como a citação de seus nomes pelos historiadores do concílio, o que seria
estranho se eles não fossem representantes do papa, dado que o concílio se deu no
Oriente e os três clérigos eram ocidentais.

Agenda e procedimentos[editar | editar código-fonte]

Constantino, o Grande, convocou os


bispos da igreja cristã para Niceia
(mosaico localizado na Basílica de Santa
Sofia, Istambul, antiga Constantinopla).
A agenda do concílio incluiu:

1. A questão ariana sobre a relação entre Deus, o Pai, e Deus, o Filho, não apenas
em sua forma encarnada, como Jesus, mas também em sua forma anterior a criação do
mundo.
2. A data de celebração da Páscoa.
3. O cisma meleciano.
4. Vários assuntos de disciplina da Igreja que resultaram em vinte cânones:
1. Estrutura organizacional da Igreja.
2. Padrões de dignidade e adequação de comportamentos e antecedentes
para o clero.
3. Reconciliação dos lapsis, com estabelecimento de normas para
arrependimento e penitência pública.
4. Readmissão à Igreja de hereges e cismáticos, incluindo questões sobre
quando a reordenação e o rebatismo seriam necessários.
5. Prática litúrgica, incluindo questões sobre o lugar dos diáconos e a prática
[40]
da oração durante a liturgia.

O concílio foi formalmente aberto em 20 de maio, na estrutura central do palácio imperial


em Niceia, com discussões preliminares da questão ariana. O imperador Constantino
[41]
chegou quase um mês depois em 14 de junho. Nestas discussões, algumas figuras
dominantes foram Ário e seus vários adeptos. "Cerca de 22 bispos do concílio, liderados
por Eusébio de Nicomédia, vieram como partidários de Ário, mas quando algumas das
passagens mais chocantes de seus escritos foram lidas, elas eram quase universalmente
[6]
vistas como blasfêmias." Os bispos Teógnis de Niceia e Máris de Calcedônia estavam
entre os primeiros apoiadores de Ário.
Eusébio de Cesareia chamou a atenção para o credo batismal de sua
própria diocese em Cesareia, na Palestina, como uma forma de reconciliação. A maioria
dos bispos concordou. Por algum tempo, os estudiosos pensaram que o Credo Niceno
original foi baseado nesta declaração de Eusébio. Hoje, a maioria dos estudiosos
acreditam que o Credo é derivado do credo batismal de Jerusalém, como Hans Lietzmann
propôs.
Os bispos ortodoxos conquistaram a aprovação de cada uma de suas propostas sobre o
Credo. Depois de estar em sessão por um mês inteiro, o concílio promulgou em 19 de
junho o Credo Niceno original. Esta profissão de fé foi adotada por todos os
bispos, "exceto dois da Líbia, que tinham sido intimamente associados à Ário desde o
[21]
início". Nenhum registro histórico explícito de suas discordâncias foi preservado e as
assinaturas desses bispos estão simplesmente ausentes do Credo. As sessões
[41]
continuaram a tratar de assuntos menores até 25 de agosto.

Controvérsia ariana[editar | editar código-fonte]


Ver artigos principais: Ário, Arianismo e Controvérsia ariana
Constantino I e a queima dos livros
arianos, ilustração de um compêndio do
norte da Itália sobre o direito canônico.
A controvérsia ariana surgiu em Alexandria quando o recém-reinstaurado presbítero Ário
começou a difundir visões doutrinárias contrárias às de seu bispo, Alexandre de
[42]
Alexandria. As questões disputadas centraram-se na natureza e no relacionamento de
Deus (o Pai) e do Filho de Deus (Jesus). Os desacordos surgiram de ideias diferentes
sobre a divindade e o que significava para Jesus ser o Filho de Deus. Alexandre
sustentava que o Filho era divino, exatamente no mesmo sentido que o Pai é, co-eterno
[15][43]
com o Pai, do contrário ele não poderia ser um Filho verdadeiro.
Ário enfatizou a supremacia e singularidade de Deus Pai, significando que o Pai é todo-
poderoso e infinito, e que, portanto, a divindade do Pai deve ser maior que a do Filho. Ário
ensinou que o Filho teve um começo, e que ele não possuía nem a eternidade nem a
verdadeira divindade do Pai, mas foi feito "Deus" somente pela permissão e poder do Pai,
[15][43]
e que o Filho era o primeiro e a mais perfeita das criaturas de Deus.
As discussões e debates arianos no concílio estenderam-se de 20 de maio a 19 de junho
[43]
de 325. De acordo com relatos lendários, o debate tornou-se tão acalorado que, a
certa altura, Ário foi atingido no rosto por Nicolau de Mira, que mais tarde seria
[44]
canonizado. Este relato é quase certamente apócrifo, já que o próprio Ário não estaria
[45]
presente na câmara do concílio devido ao fato de que ele não era um bispo.
Grande parte do debate dependia da diferença entre ser "nascido" ou "criado" e ser
"gerado". Os arianos viram isso, essencialmente, como o mesmo, ao contrário dos
seguidores de Alexandre. O significado exato de muitas das palavras usadas nos debates
em Niceia ainda não estavam claras o suficiente para os falantes de outras línguas.
Palavras gregas como "essência" (ousia), "substância" (hypostasis), "natureza" (physis),
"pessoa" (prosopon), traziam uma variedade de significados extraídos de filósofos pré-
cristão e que implicaram em mal-entendidos até que foram finalmente esclarecidos. A
palavra homoousia, em particular, foi inicialmente desprezada por muitos bispos por causa
de suas associações com os hereges gnósticos (que a usavam em sua teologia), e porque
suas heresias haviam sido condenadas no Sínodo de Antioquia em 264-268.
Argumentos a favor do arianismo[editar | editar código-fonte]

O Concílio de Niceia, com Ário descrito


como derrotado pelo concílio, deitado sob
os pés do Imperador Constantino I.
Segundo relatos encontrados, o presbítero Ário defendeu a supremacia de Deus, o Pai, e
sustentou que o Filho de Deus foi criado com um ato da vontade do Pai. A premissa era
que o Filho foi a primeira criatura de Deus, antes de todas as eras, teve um começo e
somente o Pai não teve começo. A argumentação era que tudo o mais foi criado por meio
do Filho, desse modo, somente o Filho foi criado diretamente por Deus. Ário acreditava
que o Filho de Deus era capaz de ter livre arbítrio do certo e errado; que "se Ele fosse um
filho, no sentido mais verdadeiro, devia ter vindo depois do Pai, e obviamente houve um
[46]
tempo quando Ele não existia, e portanto, era um ser finito"; e que Ele estava sob a
autoridade e grandeza de Deus, o Pai. Ário insistiu que a divindade do Pai era maior que a
do Filho. Os arianos recorreram às escrituras, citando afirmações bíblicas como «o Pai é
maior do que eu» (João 14:28) e também que o Filho é «primogênito de toda a
criação» (Colossenses 1:15).
Argumentos contra o arianismo[editar | editar código-fonte]
A visão oposta originou-se da ideia de que gerar o Filho é, em si mesmo, a natureza do
Pai, que é eterno. O Pai sempre foi um Pai e tanto o Pai como o Filho sempre existiram
[47]
juntos, eternamente e consubstancialmente. O argumento contra os arianos afirmavam
que o Logos (o "Verbo") era "eternamente gerado", portanto, sem começo. Os adversários
de Ário acreditavam que seguir a visão ariana destruía a unidade da divindade e tornava o
Filho desigual ao Pai e insistiram que tal visão transgredia as escrituras, que afirmam
que «Eu e o Pai somos um» (João 10:30) e «o Verbo era Deus» (João 1:1). Eles
[48]
declararam, como fez Atanásio, que o Filho não teve começo, mas teve uma
"derivação eterna" do Pai e, portanto, era co-eterno com ele e igual a Deus em todos os
[49]
aspectos.

Resultado do debate[editar | editar código-fonte]


O concílio declarou que o Filho era verdadeiro Deus, co-eterno com o Pai e gerado de sua
mesma substância, argumentando que tal doutrina codificava melhor a apresentação
bíblica do Filho, assim como a crença cristã tradicional sobre ele transmitida
pelos apóstolos. Essa crença foi expressa pelos bispos no Credo de Niceia, que formou a
[50]
base do que é conhecido atualmente como Credo Niceno-Constantinopolitano.

Credo Niceno[editar | editar código-fonte]


Ver artigo principal: Credo Niceno

Ícone representando o Imperador


Constantino e os bispos do Primeiro
Concílio de Nicéia (325) segurando o
Credo Niceno-Constantinopolitano de
381.
Um dos projetos empreendidos pelo concílio foi a criação de um Credo, uma declaração
de um resumo da fé cristã. Vários credos já existiam; muitos credos eram aceitáveis para
os membros do concílio, inclusive Ário. Desde os primórdios, vários credos serviram como
meio de identificação para os cristãos, como meio de inclusão e reconhecimento,
especialmente no batismo.
Em Roma, por exemplo, o Credo dos Apóstolos era popular, especialmente para o uso
na Quaresma e na época da Páscoa. No Concílio de Niceia, um credo específico foi usado
para definir claramente a fé da Igreja, incluir aqueles que a professavam e excluir aqueles
que não a professavam. Elementos distintivos do Credo Niceno, talvez pela mão de Ósio
de Córdoba, foram acrescentados, alguns especificamente para combater o ponto de vista
[15][51]
ariano. Jesus Cristo é descrito como:

1. "Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus", o que proclama sua divindade.
2. "Gerado, não criado", o que afirma que ele não é uma mera criatura, trazida à
existência a partir do nada.
3. "De uma só substância com o Pai", o que afirma que, embora seja "Deus
verdadeiro" e Deus Pai também seja "Deus verdadeiro", eles são um único ser, de acordo
com o que é encontrado em João 10:30. O termo grego homoousios (que
significa consubstancial, isto é, "da mesma substância") é atribuído por Eusébio a
Constantino que, nesse ponto particular, pode ter escolhido exercer sua autoridade.

Tais questões levantadas seriam seriamente controvertidas no futuro. No final do credo


veio uma lista de anátemas, concebida para repudiar explicitamente as alegações dos
arianos:

1. A visão de que "houve um momento em que Ele [o Filho] não existiu" foi rejeitada
para manter a co-eternidade do Filho com o Pai.
2. A opinião de que ele era "mutável ou sujeito a mudanças" foi rejeitada para
sustentar que o Filho, tal como o Pai, estava além de qualquer forma de fraqueza ou
corruptibilidade e, o mais importante, que Ele não poderia abandonar a perfeição moral
absoluta.

Assim, em vez de um credo batismal aceitável tanto para os arianos quanto para seus
oponentes, o concílio promulgou um que era claramente contrário ao arianismo e
incompatível com o núcleo distintivo de suas crenças. O texto desta profissão de fé é
preservado em uma carta de Eusébio para Atanásio, para sua congregação e outros
lugares. Embora fossem os mais anti-arianos, aqueles que defendiam o termo
consubstancialidade, a homoousia (traduzida como "da mesma substância", que havia
sido condenado no Sínodos de Antioquia em 264-268, estavam em minoria. O credo foi
aceito pelo concílio como uma expressão da fé comum dos bispos e da antiga fé de toda a
Igreja.
O bispo Ósio de Córdoba, um dos defensores do termo consubstancialidade, ajudou o
concílio a entrar em um consenso. Na época, ele era o confidente do imperador em todos
os assuntos da Igreja. Ósio esteve à frente das listas de bispos, e Atanásio atribui a ele a
formulação real do credo. Grandes líderes como Eustácio de Antioquia, Alexandre de
Alexandria, Atanásio e Marcelo de Ancira, todos aderiram à posição da
consubstancialidade.
Apesar de sua simpatia por Ário, Eusébio de Cesareia aderiu às decisões do concílio,
aceitando todo o credo. O número inicial de bispos que apoiavam Ário era pequeno. Após
um mês de discussão, em 19 de junho, restavam apenas dois: Teono de Marmárica,
na Líbia, e Segundo de Ptolemaida. Máris de Calcedônia, que inicialmente apoiou o
arianismo, concordou com todo o credo. Da mesma forma, Eusébio de
Nicomédia e Teógnis de Niceia também concordaram, exceto por certas declarações.
O imperador então determinou que todos que se recusassem a endossar o credo
seriam exilados. Ário, Teono e Segundo recusaram-se a aderir ao credo e foram exilados
na Ilíria, além de serem excomungados. As obras de Ário foram condenadas a serem
[10]
confiscadas e consignadas às chamas, enquanto seus partidários foram considerados
[52]
"inimigos do cristianismo". No entanto, a controvérsia continuou em várias partes do
[53]
império.
O Credo foi alterado para uma nova versão pelo Primeiro Concílio de Constantinopla em
381, o chamado Credo Niceno-Constantinopolitano.

Cálculo da Páscoa[editar | editar código-fonte]


Ver artigo principal: Quartodecimanismo
A festa da Páscoa cristã está ligada à Páscoa judaica e à festa dos pães ázimos, pois os
cristãos acreditam que a crucificação e a ressurreição de Jesus ocorreram no tempo
dessas observâncias. Já no pontificado do papa Sisto I, alguns cristãos colocaram a
Páscoa em um domingo no mês lunar de nissan. Para determinar qual mês lunar deveria
ser designado como nissan, os cristãos confiavam na comunidade judaica. No final do
terceiro século, alguns cristãos começaram a expressar insatisfação com o que
consideravam ser o estado desordenado do calendário judaico. Eles argumentaram que os
judeus contemporâneos estavam identificando incorretamente o mês de nissan,
[54]
escolhendo um mês cujo décimo quarto dia caía antes do equinócio da primavera.
Os cristãos, argumentavam alguns pensadores, deveriam abandonar o costume de confiar
nos judeus e fazer seus próprios cálculos para determinar qual mês deveria ser
denominado nissan, definindo a Páscoa dentro desse sistema independente,
um nissan cristão, que sempre determinaria a data depois do equinócio. Eles justificaram
essa ruptura com a tradição argumentando que era, de fato, o calendário judaico
contemporâneo que rompera com a tradição ao ignorar o equinócio e que nos tempos
[55]
antigos o décimo quarto dia de nissan nunca havia precedido o equinócio. Outros
achavam que a prática costumeira de confiar no calendário judaico deveria continuar,
[56]
mesmo se os cálculos judaicos estivessem errados do ponto de vista cristão.
A controvérsia entre aqueles que defendiam os cálculos independentes e aqueles que
defendiam a confiança contínua no calendário judaico, conhecido como quartodecimanos,
foi formalmente resolvida pelo concílio, que endossou o procedimento independente que
esteve em uso por algum tempo em Roma e Alexandria. A Páscoa deveria ser um domingo
em um mês lunar escolhido de acordo com critérios cristãos — com efeito,
[8]
um nissan cristão — e não no mês de nissan definido pelos judeus. Aqueles que
defendiam a confiança contínua no calendário judaico foram convidados a aderir à posição
majoritária. Que eles não o fizeram imediatamente é revelado pela existência de sermões,
[57] [58] [59]
cânones, e tratados escritos contra essa prática no final do século IV.
Essas duas regras, independência do calendário judaico e uniformidade universal, eram as
únicas regras para a Páscoa explicitamente estabelecidas pelo concílio. Nenhum detalhe
para o cálculo foi especificado; estes foram trabalhados na prática, um processo que levou
séculos e gerou uma série de controvérsias (ver também cálculo da Páscoa). O concílio
[60]
aparentemente não determinou que a Páscoa deve cair no domingo, por exemplo.
O concílio também não decretou que a Páscoa nunca deveria coincidir com décimo quarto
dia de nissan (o primeiro dia dos pães sem fermento, agora comumente chamado de
"Páscoa") do calendário hebraico. Ao endossar a mudança para cálculos independentes, o
concílio separou o cálculo da Páscoa de toda dependência, positiva ou negativa, do
calendário judaico. A alegação de que a Páscoa deve sempre seguir o décimo quarto dia
de nissan no calendário hebraico, não foi formulada até depois de alguns séculos. Naquela
época, o acúmulo de erros no calendário juliano solar e lunar havia feito com que a Páscoa
[61]
sempre estivesse próxima ao décimo quarto dia de nissan do calendário hebraico.

Cisma meleciano[editar | editar código-fonte]


Ver artigo principal: Melécio de Licópolis
A supressão do cisma meleciano foi outro assunto importante que antecedeu o Concílio de
Niceia. Foi decidido que Melécio deveria permanecer em sua própria
cidade, Licópolis no Egito, mas sem exercer autoridade ou o poder de ordenar novos
membros para o clero; ele foi proibido de entrar nos arredores da cidade ou de se dirigir
para outra diocese com o propósito de ordenar seus súditos. Melécio reteve seu título
episcopal, mas os clérigos ordenados por ele deviam receber novamente a imposição das
mãos, o que de fato invalidou as ordenações realizadas por Melécio. O clero ordenado por
Melécio foi recebeu ordens de dar precedência àqueles ordenados por Alexandre e de não
[62]
realizarem nenhuma ação sem o consentimento do bispo Alexandre.
No caso da morte de um bispo não-meleciano ou eclesiástico, a sé episcopal desocupada
poderia ser entregue a um meleciano, desde que ele fosse digno e a eleição popular fosse
ratificada por Alexandre. Quanto ao próprio Melécio, os direitos e prerrogativas episcopais
lhe foram retirados. Essas medidas brandas, no entanto, foram em vão; os melecianos
juntaram-se aos arianos e causaram mais discórdia do que nunca, estando entre os piores
inimigos de Atanásio. Os melecianos finalmente acabaram extintos em meados do século
V.

Promulgação da lei canônica[editar | editar código-fonte]


Ver artigo principal: Lei canônica
O concílio promulgou vinte novas leis da Igreja, chamadas cânones (embora o número
exato esteja sujeito a debate), isto é, regras imutáveis de disciplina. Os vinte, como
[63]
listados pelos "Padres Nicenos e Pós-Nicenos", são os seguintes:
1. Proibição da auto-castração.
2. Estabelecimento de um período mínimo de estudo para os catecúmenos (pessoas que
estudam para receber o batismo).
3. Proibição da presença de uma mulher mais jovem na casa de um clérigo, que poderia
colocá-lo sob suspeita de prática do casamento espiritual (onde um homem e uma mulher
castos vivem juntos, como irmão e irmã).
4. Ordenação de um bispo na presença de pelo menos três bispos provinciais e com
[10]
confirmação do bispo metropolitano.
5. Provisão de dois sínodos provinciais a serem realizados anualmente.
6. Confirmação de antigos costumes, dando jurisdição sobre grandes regiões aos bispos
de Alexandria, Roma e Antioquia.
7. Reconhecimento dos direitos honorários da sé de Jerusalém.
8. Provisões sobre os novacianistas.
9–14. Provisão de processo leve contra os lapsi durante a perseguição sob o imperador
Licínio.
15–16. Proibição da remoção de sacerdotes das localidades para as quais foram
ordenados.
17. Proibição de usura entre os clérigos.
18. Precedência de bispos e presbíteros antes dos diáconos em receber
a Eucaristia (santa comunhão).
19. Declaração da nulidade do batismo realizado pelos hereges seguidores de Paulo de
Samósata.
20. Proibição de ajoelhar aos domingos e durante o Pentecostes (os cinquenta dias que se
iniciam na Páscoa). De pé era a postura normativa para a oração neste momento, como
ainda é entre os cristãos orientais. Ajoelhar-se era considerado mais apropriado para a
oração penitencial, distinto da natureza festiva do tempo pascal e de sua lembrança em
todos os domingos. O cânone em si foi projetado apenas para garantir uniformidade de
prática nos horários designados.
Concluindo a reunião em 25 de julho de 325, os padres do concílio comemoraram o
vigésimo aniversário do imperador. Em seu discurso de despedida, Constantino informou
ao público como ele era avesso à controvérsia dogmática; ele queria que a Igreja vivesse
em harmonia e paz. Em uma carta circular, ele anunciou a unidade de prática realizada por
toda a Igreja na data da celebração da Páscoa cristã.

Efeitos do concílio[editar | editar código-fonte]


Os efeitos a longo prazo do Concílio de Niceia foram significativos. Pela primeira vez,
representantes de muitos dos bispos da Igreja se reuniram para concordar com uma
declaração doutrinária. Também pela primeira vez, o imperador desempenhou um papel,
chamando os bispos sob sua autoridade e usando o poder do estado para dar o efeito às
ordens do concílio.
Em curto prazo, no entanto, o concílio não resolveu completamente os problemas que foi
convocado para discutir e um período de conflito e agitação continuou por algum tempo. O
próprio Constantino foi sucedido por dois imperadores arianos no Império Romano do
Oriente: seu filho, Constâncio II, e Valente. Este não conseguiu resolver as questões
eclesiásticas notáveis e, sem sucesso, confrontou Basílio de Cesareia sobre o Credo
[64]
Niceno.
Os poderes pagãos dentro do império procuraram se manter e, às vezes, restabelecer o
paganismo na sede do imperador (ver Arbogasto e Juliano, "o Apóstata"). Arianos e
melecianos logo recuperaram quase todos os direitos que haviam perdido e,
consequentemente, o arianismo continuou a se espalhar e a ser um assunto de debate
dentro da Igreja durante o restante do século IV. Quase imediatamente, Eusébio de
Nicomédia, bispo ariano e primo de Constantino I, usou sua influência na corte para obter
o auxílio que Constantino oferecia aos bispos nicenos e proto-ortodoxos para os arianos.
[65]

Eustácio de Antioquia foi deposto e exilado em 330. Atanásio, que


sucedeu Alexandre como bispo de Alexandria, foi deposto pelo Primeiro Sínodo de Tiro em
335 e Marcelo de Ancira o seguiu em 336. O próprio Ário retornou a Constantinopla para
ser readmitido na Igreja, mas morreu pouco antes de ser recebido. Constantino morreu no
ano seguinte, depois de finalmente receber o batismo do arcebispo Eusébio de Nicomédia,
e "com sua morte na primeira rodada da batalha depois que o Concílio de Niceia foi
[65]
encerrado".

Função de Constantino[editar | editar código-fonte]


O cristianismo era ilegal no Império Romano até que os imperadores Constantino e Licínio
concordaram, em 313, em legalizá-lo através do chamado "Édito de Milão". No entanto, o
cristianismo niceno não se tornou a religião do estado do Império Romano até o Édito de
Tessalônica em 380. Nesse meio tempo, o paganismo permaneceu legal e presente nos
assuntos públicos. As moedas cunhadas por Constantino e por outros motivos oficiais, até
o Concílio de Niceia, ainda afiliavam-no ao culto pagão do Sol Invicto. Inicialmente,
[66]
Constantino encorajou a construção de novos templos pagãos e tolerou sacrifícios
[67]
tradicionais. Mais tarde em seu reinado, ele deu ordens para a pilhagem e a demolição
[68][69][70]
dos templos romanos.
A função de Constantino em relação a Niceia era o de supremo líder civil e autoridade no
império. Como imperador, a responsabilidade de manter a ordem civil era dele, e ele
procurou que a Igreja se mantivesse unida e em paz. Quando foi informado pela primeira
vez sobre os distúrbios em Alexandria devido às disputas arianas, ele ficou "muito
perturbado" e repreendeu Ário e o bispo Alexandre por terem originado a perturbação e
[71]
por terem permitido que ela se tornasse pública. Consciente também da diversidade
de opinião em relação à celebração da Páscoa e na esperança de resolver ambas as
questões, ele enviou o bispo Ósio de Córdoba (Hispânia) para formar um concílio da Igreja
[71]
local e "reconciliar aqueles que estavam divididos". Quando essa embaixada falhou,
ele procurou convocar um concílio em Niceia, convidando "os homens mais eminentes das
[72]
igrejas de todos os países".
Constantino ajudou na montagem do concílio, organizando as despesas de viagem dos
bispos, bem como a hospedagem em Niceia, para que fossem cobertas com fundos
[73]
públicos. Ele também forneceu e mobiliou um grande salão no palácio como um local
[73]
para discussão, para que os participantes fossem tratados com dignidade. Ao dirigir-se
à abertura do concílio, ele "exortou os bispos a unanimidade e concórdia" e pediu-lhes que
seguissem as sagradas escrituras: "Deixe, então, toda disputa contenciosa ser
descartada; e procuremos na palavra divinamente inspirada a solução das questões em
[73]
discussão."
Então, o debate sobre Ário e a doutrina da Igreja começou. "O imperador deu atenção
[74]
paciente aos discursos de ambas as partes" e deferiu a decisão aos bispos. Este foi o
início da prática de usar o poder secular para estabelecer a ortodoxia doutrinária no seio
do cristianismo, um exemplo seguido por todos os imperadores cristãos posteriores, que
[75]
levou a um círculo de violência e resistência cristã expressa em termos de martírio.

Equívocos[editar | editar código-fonte]


Cânone bíblico[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Cânone da Bíblia
Não há registro de qualquer discussão sobre o cânone bíblico no concílio.
[76]
O desenvolvimento do cânone da Bíblia levou séculos e estava quase completo (com
exceções conhecidas como "Antilegomena", textos escritos cuja autenticidade ou valor é
[77]
contestado) no momento em que o Cânone Muratori foi escrito.
Em 331, Constantino comissionou cinquenta Bíblias para a Igreja de Constantinopla, mas
pouco se sabe sobre isso (na verdade, não é sequer certo se seu pedido foi para
cinquenta cópias do Antigo e Novo Testamentos, apenas o Novo Testamento ou apenas os
Evangelhos). Alguns estudiosos acreditam que esse pedido forneceu motivação para as
[78]
listas de cânones. No "Comentário de Tobias e Judite", escrito por Jerônimo, ele afirma
que o Livro de Judite foi "determinado pelo Concílio de Niceia como tendo sido contado
entre o livros das escrituras sagradas", o que alguns utilizaram para sugerir que o Concílio
de Niceia teria discutido quais documentos estavam enumerados entre as escrituras
sagradas, mas a frase provavelmente significa simplesmente que o concílio usou Judite
em suas deliberações sobre outros assuntos e que, por isso, ele deve ser considerado
canônico.
A principal fonte da ideia de que o cânone da Bíblia foi determinado no Concílio de Niceia
parece ser Voltaire, que popularizou uma história em que o cânone foi determinado após
orarem sobre todos os livros concorrentes colocados em um altar durante o concílio. A
fonte original desta "anedota fictícia" é o "Synodicon Vetus",[79] um relato pseudo-histórico
dos primeiros concílios da Igreja de 887 DC:[80]

Os
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o.[81]
Trindade[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Trindade
O Concílio de Niceia tratou, principalmente, da questão da divindade de Cristo. Mais de um
século antes, o termo "trindade" (em grego: Τριάς; em latim: trinitas) foi usado nos escritos
de Orígenes (185-254) e Tertuliano (160-220), e uma noção geral de um "divino em três",
em algum sentido, foi expresso nos escritos do segundo século
de Policarpo, Inácio e Justino. Em Niceia, questões relativas ao Espírito Santo foram
deixadas, em grande parte, sem solução e assim permaneceram pelo menos até que o
[82]
relacionamento entre o Pai e o Filho ter sido resolvido por volta do ano 362. Assim, a
doutrina em uma forma mais completa foi formulada no Concílio de Constantinopla em
[83]
360, e uma forma final foi formulada em 381, primariamente trabalhada por Gregório
[84]
de Nissa.

Questões disputadas[editar | editar código-fonte]


Função do bispo de Roma[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Primazia papal
Os católicos romanos afirmam que a ideia da divindade de Cristo foi finalmente confirmada
pelo Bispo de Roma e que foi essa confirmação que deu ao concílio sua influência e
autoridade. Em apoio a isso, eles citam a posição dos primeiros pais da Igreja e sua
expressão da necessidade de todas as igrejas concordarem com Roma (ver Irineu de
Lyon, "Contra Heresias").
No entanto, protestantes e ortodoxos orientais não acreditam que o concílio tenha visto o
bispo de Roma como o chefe jurisdicional da cristandade, ou alguém que tenha autoridade
sobre outros bispos presentes no concílio. Para sustentar essa hipótese, eles citam o
cânone 6, no qual o bispo romano pode ser visto simplesmente como um dos vários
[85]
líderes influentes, mas não aquele que tem jurisdição sobre bispos de outras regiões.
De acordo com o teólogo protestante Philip Schaff, "os pais nicenos passaram este cânon
não como algo novo, mas apenas como confirmação de uma relação existente com base
na tradição da Igreja; e isso, com especial referência a Alexandria, por causa dos
problemas existentes lá; Roma foi nomeada apenas para ilustração; e Antioquia, junto com
todas as outras eparquias ou províncias receberam seus direitos admitidos. Os bispados
de Alexandria, Roma e Antioquia foram colocados substancialmente em pé de
igualdade." Assim, de acordo com Schaff, o bispo de Alexandria deveria ter jurisdição
sobre as províncias do Egito, da Líbia e da Pentápole, assim como o bispo de Roma tinha
[86]
autoridade "com referência à sua própria diocese".
Mas de acordo com o James F. Loughlin, há uma interpretação católica romana alternativa.
Envolve cinco argumentos diferentes "extraídos respectivamente da estrutura gramatical
da sentença, da seqüência lógica das idéias, da analogia católica, da comparação com o
[87]
processo de formação do Patriarcado Bizantino e da autoridade dos antigos", em favor
de uma compreensão alternativa do cânone. De acordo com essa interpretação, o cânone
mostra o papel que o bispo de Roma tinha quando ele, por sua autoridade, confirmou a
jurisdição dos outros patriarcas — uma interpretação que está de acordo com a
compreensão católica romana do papa. Assim, o bispo de Alexandria presidiu o Egito, a
[10]
Líbia e a Pentápole, enquanto o bispo de Antioquia "gozava de autoridade semelhante
em toda a grande diocese de Oriens [do Oriente]", e tudo pela autoridade do bispo de
Roma. Para Loughlin, essa era a única razão possível para invocar o costume de um bispo
romano em um assunto relacionado aos dois bispos metropolitanos de Alexandria e
[87]
Antioquia.
No entanto, interpretações protestantes e católicas romanas têm, historicamente,
presumido que alguns ou todos os bispos identificados no cânone estavam presidindo
suas próprias dioceses na época do concílio — o bispo de Roma sobre a Diocese da Itália,
como Schaff sugeriu, o bispo de Antioquia sobre a Diocese do Oriente, como Loughlin
sugeriu, e do bispo de Alexandria sobre a Diocese do Egito, como sugerido por Karl Josef
von Hefele. Segundo Hefele, o concílio havia designado para Alexandria "toda a diocese
[88]
civil do Egito", entretanto, essas suposições já foram provadas como falsas. Na época
do concílio, a Diocese do Egito ainda não existia, então o concílio não poderia atribuí-la a
Alexandria. Antioquia e Alexandria estavam ambas localizadas dentro da diocese civil do
Oriente, Antioquia sendo a principal metrópole, mas nenhuma administrava o todo. Da
mesma forma, Roma e Milão estavam ambas localizadas na diocese civil da Itália, sendo
[89][90]
Milão a principal metrópole, , ainda que não administrasse o todo.
Essa questão geográfica relacionada ao Cânone 6 foi destacada pelo escritor protestante
Timothy F. Kauffman como uma correção ao anacronismo criado pela suposição de que
[91]
cada bispo já estava presidindo uma diocese inteira na época do concílio. Segundo
Kauffman, uma vez que Milão e Roma estavam ambas localizadas na Diocese da Itália, e
Antioquia e Alexandria estavam ambas localizadas dentro da Diocese do Oriente, uma
relevante "congruência estrutural" entre Roma e Alexandria era prontamente aparente para
os bispos reunidos: ambas tinham sido consagradas para compartilhar uma diocese da
qual não eram a principal metrópole. A jurisdição de Roma na Itália foi definida em termos
de várias províncias adjacentes da cidade desde o reordenamento do império
[92]
por Diocleciano em 293, como indica a versão latina mais antiga do cânone, e o
restante das províncias italianas estavam sob a jurisdição de Milão.
Esse arranjo provincial da jurisdição romana e milanesa na Itália, portanto, era um
precedente relevante e fornecia uma solução administrativa para o problema que o concílio
enfrentava — a saber, como definir a jurisdição alexandrina e antioquena dentro da
Diocese do Oriente. No cânone 6, o concílio deixou a maior parte da diocese sob a
jurisdição de Antioquia e designou algumas províncias da diocese para Alexandria, "já que
[93]
o costume é o mesmo para o bispo de Roma".
Nesse cenário, um relevante precedente romano é invocado, respondendo ao argumento
de Loughlin sobre por que o costume de um bispo em Roma teria qualquer influência
sobre uma disputa sobre Alexandria no Oriente e ao mesmo tempo corrigindo o argumento
de Schaff de que o bispo de Roma era invocado a título de ilustração "com referência à
sua própria diocese". O costume do bispo de Roma foi invocado a título de ilustração, não
porque ele presidisse a Igreja inteira ou sobre a Igreja ocidental ou mesmo sobre "sua
própria diocese", mas porque ele presidia algumas províncias de uma diocese que foi
administrada de outra maneira a partir de Milão. Com base nesse precedente, o concílio
reconheceu a antiga jurisdição de Alexandria sobre algumas províncias da Diocese do
Oriente, uma diocese que era administrada a partir de Antioquia.

Celebração litúrgica[editar | editar código-fonte]


As Igrejas de Bizâncio celebram os padres do primeiro concílio ecumênico no sétimo
[94]
domingo da Páscoa (o domingo antes de Pentecostes). O Sínodo da Igreja Luterana-
Missouri celebra o primeiro concílio ecumênico em 12 de junho. A Igreja Copta celebra a
assembléia do primeiro concílio ecumênico, geralmente, em 18 de novembro. A Igreja
Armênia celebra os 318 padres do santo concílio de Niceia em 1º de setembro.

Ver também[editar | editar código-fonte]


 Concílios ecuménicos
 Concílios nacionais, regionais ou plenários
 Heresia
 História da teologia cristã
 História do Cristianismo
 Império Romano
 Lista de concílios sobre o Arianismo
 Reviravolta de Constantino
 Segundo Concílio de Niceia

Referências

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2. ↑ Britannica 2014
3. ↑ Ir para: SEC, pp. 112–114
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20. ↑ Ware 1991, p. 28
21. ↑ Ir para: Carroll 1987, p. 12
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podem ser encontradas em Patrum
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Bibliografia[editar | editar código-fonte]
Fontes primárias[editar | editar código-fonte]

Nota: NPNF2 = Schaff, Philip; Wace,


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fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Conc%C3%ADlio_de_Niceia

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