JASPERS, Karl. Introdução Ao Pensamento Filosófico PDF
JASPERS, Karl. Introdução Ao Pensamento Filosófico PDF
JASPERS, Karl. Introdução Ao Pensamento Filosófico PDF
INTRODUÇÃO AO
PENSAMENTO FILOSÓFICO
CULTRIX
KARL JASPERS
INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Tradução de:
LEONIDAS HEGENBERG
e
OCTANNY SILVEIRA DA MOTA
Título do original:
KLEINE SCHULE DES PHILOSOPHISCHEN DENKENS
© R. Piper & Co. Verlag, München 1965 3.ª edição
MCMLXXVI
Direitos de tradução para a língua portuguesa adquiridos com exclusividade pela
EDITORA CULTRIX LTDA.
Rua Conselheiro Furtado, 648, fone 278-4811, S. Paulo, que se reserva a propriedade
literária desta tradução.
Impressono Brasil
Printed in Brazil
ÍNDICE
Prefácio.....................
.......................
.......................
.......................
..........11
X. OS ENIGMAS .....................
.......................
......................
.................
106
Quando a Rádio Baviera me dirigiu convite para pronunciar, através da televisão, uma
série de conferências semanais a propósito de filosofia, fui tomado de surpresa. Que
audácia por parte da rádio e qu
e desafio para o con
ferencista! Não hesitei. A filosofia se
destina ao homem e a todos diz respeito. Como título para as exposições propus
“Introd
ução ao Pensamento Filosófico”.
Iniciação — isso não significava que eu fosse falar acerca dè trivialidades filosóficas,
nem que fosse fornecer informações simples, a fim de preparar o ouvinte para atividade
no campo filosófico. Não existem aquelas trivialidades ou estas informações simples.
Tão logo se filosofa, entra-se em contacto com os grandes temas da filosofia. E se isso
não aconteceé porqueda filosofia se está longe. A palavrainiciação alude apenas à
brevidade do texto: a atenção girará em torno de idéias verdadeiramente filosóficas.
Pensamento — não se tratava de ensinar algo que, depois, estaria conhecido. Não se
tratava de transmitir conhecimentos elementares. Tratava-se, antes, de percorrer certa
trajetórias do pensamento, na esperança de produzir no ouvinte (ainda que de
experiências filosóficas, até então, apenas inconscientes) o sobressalto que nos dá súbita
compreensão daquilo a que a filosofia se refere.
Filosófico, enfim. Quer isso dizer que importa conduzir o pensamento empírico e
racional até seus limites extremos, até o ponto em que revela suas srcens. No caso,
método não significa aprendizado de operações de lógica formal ou de análise de
linguagem, que são úteis mas não de naturezafilosófica. O objetivo do pensar
filosófico é levar a uma forma de pensamento capaz de iluminar-nos interiormente e de
iluminar o caminho diante de nós, permitindo-nos apreender o fundamento onde
encontremos significado e orientação.
Pontos de Partida
I. O Universo e a Vida
II. A História e o Presente
III. O Conhecimento Fundam ental
IV. O Homem
Em Torno da Política
V. O Debate Político
VI. A Posição do Homem na Política
VII. ConhecimentoEmpírico eJ uízo de Valor
VIII. Psicologia e Sociologia
IX. Opinião Pública
Âncora
s naEternidade
X. Os Enigmas .
XI. O Amor
XII. A Morte
Conclusão
As conferênci
as não mantêm entre siliame tal que es ponhacadauma delas com
o
seqüência da anterior. Cada qual, à sua maneira, começa do começo. Todos se dirigem
para um centro comum que não poderíamos considerar exatamente como tema. Essa
orientação geral lhes confere unidade.
A filosofia é universa l. Nada existe que a ela não diga respeito. Quem se dedica à
filosofia interessa-se por tudo. Mas não há homem que possa tudo conhecer. Que
distingue a vã pretensão de tudo saber do propósito filosófico de apreender o todo? O
saber é infinito e difuso; dele se valendo, procura a filosofia aquele centro a que
fazíamos referência. O simples saber é uma acumulação, a filosofia é uma unidade. O
saber é racional e igualmenteacessível a qualquer inteligência. A filosofia é o modo de
pensamento que termina por constituir a essência mesma de um ser humano.
Em toronoreal,
para desse modo
seja de pen
o real osam ento
que for,é tentam
que
esta s conf
erênci
essas as prete
exposiçõesndem girar.Abertas
descobrir o caminho que lev
do real ao fundo das coisas, buscam, a partir desse fundo, lançar luz sobre as realidade
Tal a razão por que o problema reside em dar o salto em direção desta outra maneira de
pensar.
KARL JASPERS
1. Somos testem
unhas de mu tempo em qu
e o conheci
mento do uni
versoe da vida
conseguiu surpreendente progresso; somos testemunhas também de acontecimentos qu
impedem o hom em de ignorar as conqui
stas lcançada
a s. Lembrarei dois desses
acontecimentos.
Em 1919, imediatamente após a Pri meira Guerra u Mndial, em meio às cha gas
produzidas pelas hostilidades, manifestou-se um evento que dizia respeito ao homem
como homem. Quando de um eclipse do sol, ocorrido no hemisfério sul, uma expedição
organizada pelos inglese
s cons
eguiu realizar obs
ervações tecnicamente difíceis. As
medidas feitas comprovaram o acerto de afirmações até então aparentemente
fantásticas, devidoparcial
inferir a exatidão a um desábio
umaalemão, Einstein;
teoria que a partirentre
sustentava, do mesmo evento não
outros pontos, se pôde
ser
universo um espaço de três dimensões, mas espaço curvo, sem limites, embora finito.
Os especialistas conheciam a teoria da relatividade; as pessoas instruídas dela haviam
por vezes, ouvido falar e a consideravamjeucomo um
d’esprit. E, de um momento para
outro, não mais se tratava de especulação, mas de algo experimentalmente provado
Espanto ni sólito apoderou-se de todos. A natureza do universo ,écomefeito, problema
que nos interessa na liberdade gloriosa de nossa vontade de conhecer. Sentiu-se que
evidências longamente admitidas perdiam significado. A humanidade orgulhava-se da
ciência e daí retirava uma alegria geral, despida de egoísmo.
2. Após es
ses dois aconte
cimentos, as nova
s concepçõe
s a resp
eito do uni
verso e da
matéria impuseram-se irresistivelmente.
O universo revela-se a nossos olhos, graças a telescópios cada vez mais poderosos e
apresenta-se-nos da
orma
f seguinte: a Via Láctea está povoadade bilhões de sóis; há
milhares de outras vias lácteas, as nebulosas; e sabemos que a mais próxima de nós
que pode
mos divisar com avista de
sarm
ada, a Nebulosa daAndrôme
da, não pa
ssa de
uma dentre os milhares de nebulosas invisíveis a olho nu.
Sob este ponto, entretanto, tudo se mantém conforme as idéias que tínhamos acerca
mundo: a diferença, embora enorme, é apenas quantitativa. O que há, porém, de
inusitado e fora de proporção a qualquer precedente, é o fato de esse universo sensíve
corresponder tão-somente ao primeiro plano do universo real, que só pode ser pensado
Mas nã o representado. Que só é ace
ssível atravé
s de óf rmulas matemáticas e, ainda
assim, de caráter provisório. De início, Einstein concebeu o universo como um espaço
curvo, finito mas ilimitado, de dimensões suscetíveis Posteriormente,
de cálculo. esse
universo tornou-se um mundo em perpétua expansão, um mundo cuja srcem no tempo
era impossível determinar. Essas hipóteses matemáticas enchem-se de sentido quand
possível corroborá-las pela observação e pelas medidas, mas tornam-se indiferentes
quando impossível comprová-las por meio de novas observações. Todo aquele que
promove o avanço de uma ciência vê-se a braços com dificuldades intransponíveis. Não
há como fazer prova científica e definitiva de qualquer dessas matemáticas e abstrata
concepções do universo como um todo. O caminho que leva ao conhecimento do
universo perde-se, por assim dizer, no infinito.
Como a do universo, também a visão que tínhamos da matéria modificou-se por força
de descobertas rref
i utáveis. A descobe
rta daradioatividade, no último decênio do sécu
lo
XIX, e a análise do átomo já represe ntaram, para osespecialistas, uma revolução
intelectual. Os átomos cuja existência se comprova com evidência maior que a
conseguida anteriormente — continuam a existir, mas, longe de se constituírem nas
partículas elementares últimas, compõem-se de elementos ainda menores: prótons
nêutrons, elétrons etc. E impôs-se rever inteiramente a concepção que se fazia da
matéria.
Contudo, se nosso mundo, este mundo esplêndido e cruel, está ligado à matéria, é
infinitamente mais do que ela e não pode ser compreendido a partir dela.
Entretanto, após haver destruído essas vagas concepções de unidade, a ciência fêz
ressurgir a unidade sob novo aspecto: através do conhecimento das relações que ligam
os diversos níveis, conhecimento que, em nossos dias, tem progredido constantemente.
Aqui, falareiapenas de relações entre amatéria inerte ea vida.
Não obstante, são muitos os que não deixam de acreditar surja o dia em que ser
possível criar a substância viva, criar a vida mesma, a partir da matéria. Isso, porém, é
impossível. A vida não é apenas substânci a altamentecomplexa, m as tambémcorpo
vivo. Tem este uma estrutura morfológica suscetível de análise ao infinito; não é
máquina físico-químico que, se possível de ser construída, seria necessariamente finita.
E a vida não é apenas corpo vivo, mas existência, que implica uma intimidade (o ser
considerado) e uma exterioridade (o meio, o mundo) e existência sobre a qual a vida
age. Os aparelhos orgânicos, seu quimismo finalista, os. órgãos dos sentidos são
produzidos pela vida, mas ainda não são a vida mesma. Os cientistas descobrirão é
produzirão formas biológicas não sonhadas, porém serão sempre incapazes de criar a
vida.
O próprio sabe
r torna m
odestos os grande
s cientistas. Mesmo quand
o avança
do no
caminho dos conhecimentos do universo e do átomo, Einstein jamais se tornou imune
ao mistério da vida. Em 1947, refletindo acerca de seu corpo doente, escreveu:
“Espanta-me que este mecanismo incrivelmente complexo seja capaz de funcionar”.
Sentia ele “quão lamentavelmente primitiva é toda a ciência de que dispomos”. Em
1952, registrou: “Quando vejo um minúsculo insetopapel pousar
em que
no aço
f
cálculos, tenho desejo
de exclamar: “Alá é grande
, e comtodaa glória de nossaciência
não passamos de micróbios miseráveis”.
Aprendem
os o m
anejo do obj
eto, sabendopena
a s queos pro
cessos nã
o se desenvol
vem
por mágica, mas graças a conhecimentos científicos. Entendemos, a partir daí, que o
mesmo esquema se aplica a todas as coisas existentes e dizemos: se ainda resta mui
por compreender, tudo é, no fundo, integralmente inteligível. É certo, digamos, que a
ciência ainda não pode criar seres vivos — homens, por exemplo —, mas um dia os
criará.
Demos um exemplo de luta no mundo desses enigmas. Tomemos, o enigma “Deus”. ele
criou o mundo. Uma das formas de apresentar o enigma consiste em dizer que Deus
um matemático e criou o mundo por pesos e medidas. Conseqüentemente (como talve
dissesse Einstein) podemos pelo pensamento, recriar o mundo. Eis, porém, um mais
profundo enigma que se opõe ao primeiro: Deus criou o mundo, em seu conjunto, de
maneira incompreensível para nós; nesse mundo pôs a matemática e fêz do homem um
matemático. A matemática não esgotamundo,
o sendo ape
nas um lem
e ento da natureza
e uma das formas de conhecimento do homem (como pensava Nicolau de Cusa).
Um segundo exemplo: as concepções do mundo com que os homens já viveram são sem
valor para a ciência, mas, como conjuntos de enigmas, essas concepções conservam
significação perm
anente. Alturas e rofunde
p zas, senti
do de sacensão e dequeda, céu e
terra, éter luminoso e abismos escuros, deuses olímpicos e abissais — sempre os vemos
diversamente, mesmo nos dias de hoje. Mas a falsa desmitificação
trouxeao homem
cegueira
de alma.
Terceiro: Os fenômenos do mundo são inteligíveis. Onde quer que a ciência penetre,
novos inteligíveis se manifestam, brotados do espanto e geradores de um novo espanto
A ciência autêntica se contenta
comapreender o possí vel, avançarumo ao infinito sem
entretanto, perder noção das próprias limitações.
Jamais foi tão urgente distinguir entre ciência e filosofia, jamais essa tarefa se
apresentou como tão urgentemente necessária no interesse da verdade quanto se
apresenta em nossos dias, quando a superstição da ciência parece atingir o apogeu, e a
filosofia ver-se ameaçada de destruição.
5. Recapitulando:
Impõe-se com
preende
r o mundo a pa
rtir dele mesmo e nã
o da m
atéria, da vi
da, ou do
espírito.
Uma
alcançada realidade
pelo incognoscível
conhecimento. precede
Para o tipo a possibilidade
de conhecimento de conhecer
de que dispomos,eo não é é
mundo
insondável.
Tudo isso põe fronteiras às cogitações científicas, mas não ao tipo de pensamento que
tem sua srcem filosófica em nossa existência. Por exemplo: a unidade da natureza
universal, do Um-Total que repousa em si mesmo é experiência possível para uma
percepção religiosa do mundo. Considerando ao mesmo tempo, todas as coisas e tudo o
que é particular ou individual, essa percepção religiosa descobre no mundo uma
linguagem cifrada. Os caracteres enigmáticos dessa linguagem nada são para a ciência
que não os pode provar nem refutar.
II.
A HI STÓRI A E O PRESENTE
Eis o panorama empírico da História: por dezenas de milhares de anos, talvez muito
mais, este
ndeu-se a Pré-História e viveu a humanidade sem domínio daescrita. A Pré-
História seguiu-se um período de aproximadamente seis mil anos de História
docum entada. As primeiras grandes civilizaçõe
s — as daMesopot âmia, Índia, Egito e
China — desenvolveram-se em pequena porção do globo que se estende, cortada po
desertos, do tAlântico ao Pacífico. Somente entre osanos 800 e 200 a.C. foi que se
produziram, quase sem ligaçõesentre si,na China, Irã, Índia, Palesti
na e Gréci a (mas
não na Mesopotâmia ou no Egito) os eventos de ordem espiritual responsáveis pela
criação da atmosfera ainda por nós respirada. Foi, então, que se colocaram as grandes
questões religiosas e filosóficas e foi então que se propuseram respostas que, ainda hoje
a nós se impõem. Há razão para dizer que essa época foi o fulcro da História do mundo
Dela parti
ramtrês ra mificaçõe
s que es desenvolveram, paralelas, na Índia, na China e
no Ocidente. Até 144 0, muito se sasemelharamos gêneros de vi da, os meios técnicos e
os métodos
somente na de trabalho
Europa tevedessas
início três civilizações.
a idade Somente
da técnica: depois, somente
racionalização entre
de tudo: nós e
ciência
empírica pura, que não se deixou perturbar por nada que lhe fosse estranho; tecnologia
metodicamente inventiva, em progresso incessante. Revolução desconhecida de toda a
História anterior, acelerou o domínio sobre a natureza e a produção de bens tornando
possível, através do navio, do avião e do rádio, a comunicação em plano mundial. Os
europeus se fizeram exploradores e descobridores; todos os demais homens foram
descobertos. ssi
Am, a idade da técnica envolveu todaa humanidade e fêz surgi
r a
História propriamente universal, que anteriormente inexistiu.
Surpresa se apossa de nós: após a lenta aparição da vida sobre a Terra, após o breve
período durante o qual o homem existe, o minuto de seis mil anos que é a História e,
agora, estes segundos de unidade da História introduzidos pela idade da técnica.
Talvez que em nenhuma época anterior o homem tenha experimentado tão urgente
necessidade de tomar consciência da singularidade de sua posição no quadro da Históri
Universal: de onde viemos? para onde vamos? e por quê? No instante que vivemos tudo
se encerra, ou é ele o começo de algo em condições radicalmente novas?
Não dispomos do menor indício da presença de outros seres racionais no universo. Essa
presença, que teríamos por natural, pode ser questionada com base em boas razões
Antes de tu
do: as condi
ções físicas e químicas apresentadas pela Terra — condiç ões
indispensáveis à vida — correspondem a combinação incrivelmente complexa de
possíveis estados da matéria, oferecendo margem estreitíssima de tolerância, que a vid
não poderi
a tran
spor sob pen
a deimediatamente cessar. Ignoro se é possível calcular o
grau de probabilidade de ocorrência do conjunto dessas condições. Seria possível mais
de uma vez o acidente chamado vida? Por outro lado, ainda que a vida fosse fenômeno
repetido, levaria sempre ao surgimento de seres pensantes? Por quinhentos milhões de
anos houve vida na Terra e só entre meio e um milhão de anos atrás é que apareceu
homem ou apareceram seus ancestrais. Teriam os seres pensantes — nós homens —
surgido apenas uma vez no universo? Não o sabemos.
Trata-se de uma questão de fato que, em princípio, é possível equacionar, mas que só a
experiência poderá respond er. Livres para opinião, hes itamos entre asduas respos tas
possíveis. Até agora, a experiência a que aludimos ão n teve lugar. Visões cósm icasem
que se pintam seres pensantes presentes por toda parte e relacionando-se entre si pod
ser impressionantes, mas não passam de ficção.
3. Nossa História não é uma história da natureza. Não podemos entendê-la como
continuação do evolver do universo e da Terra ao longo do tempo ou como
prolongamento da aparição de seres vivos sobreNossa
o planeta.
História é de natureza
fundamentalmente diversa. Despida de consciência ou repetição invariável ao longo dos
tempos, a história natural se estende por milhões e milhões de anos. Cotejada com ela
nossa História é de duração brevíssima. Sem que o substrato biológico seja alterado, a
História se altera de geração para geração. Compõe-se de ações, tradições e memórias
conscientes. O contacto com o universo e com a natureza nos lança a Terra estranha,
põe-nos face a alguma coisa que é alheia e indiferente a nós. Quando passamos à
História, estamos “em casa”. É como se nossos ancestrais nos chamassem e nós lhe
respondêsse
mos. A partir da natureza perm
anente do hom
em, produz em-se os
fenômenos históricos que nunca se repetem de forma idêntica.
Pela pureza de seu conteúdo, a ciência se distingue dos mitos e da história sagrada. O
documentos da história sagrada não atestam fatos, mas convicções do estilo
“acreditamos que...” Se fôssemos incréus não teríamos constatado, mesmo
testemunhando os acontecimentos, aquilo que os crentes atestam.
O que vier adiante continuará a ser História no sentido a que estávamos habituados?
Continuará a criatividade a manifestar-se no domínio espiritual ou se restringirá ao setor
da tecnol
ogia? A fé dará se
ntido àvida humana ou asuperstição virá obscure
cê-la? O
homem sofrerá modificações a ponto de não mais nos reconhecermos nele? Cessarão d
ser compreendidas as espiritualidades do Ocidente, da China Terminará
e datudo
índia?
pelo suicídio atômico?
Ou, pelo contrário, só agora se estão abrindo para o Homem as grandes oportunidades?
Caminhamos para a paz mundial? Será esta conseguida, em termos de liberdade, po
meio de alianças entre Estados soberanos ou decorrerá da dominação do mundo pel
poder do terror? Ocorrerá como ocorreu até agora, que o inesperado, o criativo, o
miraculoso conduzam a uma nova humanidade que encerre em seu bojo o passado
milenar? Nova fé passará a sustentar Nenhum
o homem?
a dessas ndagações
i pode ser
respondida.
Na ma
mesesfera de .liberdade
liberdade política,
Continua-se os aatos
, entretan
to, concretos
procl dos
amar: A libe homens
rdadeé nosso tendem
bem mais à abolição dessa
precioso! aJ mais nos se
ntimos tão be m. Podemos viver como emlhor nos pareça
.
Esse geral estado de coisas é escondido por mistificações, que não deixam de ter
conseqüências. O colapso do sentido de duração do mundo material solapa a
circunstância humana e ameaça o próprio homem. Coloca-se em dúvida o valor da
lealdade no casamento, na amizade, na vida profissional. Em todos os setores, o mesmo
se afirma: a permanência deixa de existir, em nada mais é possível confiar.
Ouvimos dizer que “Deus está morto”. Sem embargo, as igrejas florescem. Não
duvidam de si mesmas. Tranqüilizados por elas, os homens se sentem seguros em me
a essas estruturas grandiosas que talvez não passem de enormes cenários apodrecidos.
Quando filosofamos, não devemos jamais deixar-nos dominar por profecias pessimistas.
Como ignoro, tenho o direito de esperar na medida em que — no que me concerne e
partir da certeza que tenho quanto às srcens — faço o possível, por pensamento e
conduta, para me opor à catástrofe.
Significa isso que a contemplação da História e do presente não serve apenas para
satisfazer nosso desejo de conhecimento, para nos esclarecer a respeito da grandeza e
pequenez dos homens ou a respeito do esplendor de suas obras. O essencial é que es
contemplação nos desperte o sentido de responsabilidade.
O amor à verdade exige que admitamos o quese passou. a Ms a História é por nós
julgada: Devemos decidir o que acolher e o que repelir. A orientação virá dos ideais
que, esculpidos por nossos antepassados, façamos nossos.
Devemos aceitar a culpa de nossos ancestrais, pois que somos responsáveis por eles.
Não podemos fugir à nossa srcem.Somos livres apenas para participar da
determinação de um futuro que se desenrola a partir dos dados de nossa História.
Somos
destino responsáveis
integrado ao pelas tarefas
destino que reconhecemos
da humanidade. como énossas.
Nossa missão Hoje, vemos
a de encontrar noss
o elo de
união entre os homens.
Mas não éde esperar , nem de dese jar que haja uma só m aneira de os home ns se
aproximarem no sentido que emprestam à própria vida e à própria fé. Tal maneira de ve
paralisaria a revelação do eterno no decurso do tempo. O fator comum, a integrar todo
os homens, só pode ser a comunidade política asseguradora de uma paz baseada em
compromissos contínuos no que diz respe
ito a problemas da existência prática. sI so
reclama unanimidade no desejar a paz, implicando, por sua vez a necessidade de que
todos estejam de acordo quanto às condições indispensáveis para uma paz duradoura.
8. Sem embargo, srcem e fim permanecem obscuros. Quando a História nos atinge,
não nos permite repouso. Gostaríamos de encontrar fora da História, uma posição a
partir da qual nos fosse possível viver nela.
Há, em primeiro lugar, a reação de todo homem sobre si mesmo, sobre a própria
existênciaExistenz
( ) com seus companheiros de fado, no ambiente comum. Enquanto
existentes, os homens são, sem dúvida, inteiramente dependentes, mas, dentro da esfe
que lhes é concedida, são espontâneos e únicos.
E eis o último ponto a assinalar. Na medida em que nos encontramos a nós mesmos
apreendemos o fundo das coisas, a História deixa de ser uma prisão. É o lugar inevitáve
em que, através de nossas experiências e ações, atingimos o que é autêntico.
Se saíssemos da História, tombaríamos no nada. Fora de nossa existência na História,
não dispomos denenhumfio de Ariadne capa
z de conduzi
r-nos àautenticidade. Sem
História, vemo-nos privados de linguagem que nos permita indiretamente falar das
srcens de que brotamos e que nos sustentam.
Não podemos passar para além da História, mas, percorrendo-a, por assim dizer, vemo-
la tornar-se transparente a uma luz vinda de outras regiões. É como se, ao longo do
tempo, tivéssemos a experiência de um eterno presente no fenômeno do tempo.
III.
O CONHECI MENTO FUNDAM ENTAL
Mas, e o universo? ele se cala. Saberá ele que existe? Em seu mutismo não divisamos o
menor sinal de um conhecimento dessa ordem. Nós, porém, sabemos que ele existe. Nós
somos estes seres extraordinários que sabem que o universo, essa imensidade, existe. E
podemos estudá-lo. Nossa consciência do nada que é o ser humano transforma-se no se
contrário.
Se nad a soub éssemos do universo,não seria como se ele não existisse? Isso parece
absurdo, mas indagamos: que seria o ser que se ignorasse a si mesmo e de ninguém
fosse conhecido? Confundi
r-se-ia coma mera possibilidade de ser conhe
cido? Algo que
esperaria, por assim dizer, a oportunidade de manifestar-se a um ser capaz de percebê
lo? Nós, esse nada no universo, não seremos o ser verdadeiro, o olho que vê o mundo?
Desenvolver essa consciência é como saltar sobre a própria sombra ou caminhar com os
pés na cabeça. Tentemos,
obstante.
não
2.
queSempre que
se dirige pensamos,
a um objeto. somos um eu que se orienta para um cognoscível, um sujeit
Trata-se de uma relação única, relação que não pode ser comparada a nenhuma outra. O
eu implica um objeto. mplica-o
I tanto aims distintamente quanto m ais claramente
pensamos. Issoé estar desperto.
Esse estado de coisas é evidente a todo instante, mas raramente merece consideração
nossa parte. Quanto mais nele pensarmos, mais surpreendente nos parecerá.
Como chega a nós o objeto? Somos afetados por ele, apreendemo-lo tal como se oferece
a nós, produzimo-lo sob a forma de uma idéia que a nós se impõe como correta.
Denominamo-loabrangente
o , conjunto de sujeito e objeto que, em si mesmo, não é
sujeito, nem objeto.
Quanto ao próprio abrangente, não cabe pensá-lo como objeto (coisa), porque, em tal
caso, ele se faria objeto (oposto ao sujeito). Se quisermos pensá-lo, haveremos de
renunciar à base oferecida pelos objetos que temos diante de nós quando os pensamo
E, por isso, buscamos um outro fundamento, que não seja sujeito nem objeto.
3. Se o ser não é sujeito nem objeto, mas o abrangente que se revela na dicotomia des
elementos, tudo que senessa
reveladicotomia é manifestação.
Para nós, aquilo que “é”
é manifestação que nos esclarece a propósito doatravés
abrangente,
da dicotomia
sujeito-objeto.
O que percebemos apresenta-se no tempo e sobno
suaespaço,
forma de
realidade sensível; o que pensamos apresenta-se sob as formas do que é suscetível de
pensado.Não “é”, portanto, em si mesmo; porém é para mim, na dicotomia sujeito-
objeto.
Não quer
mundo issoSódizer
real. que
existe umnosso mundo seja apenas aparente e oposto a outro, que seria
mundo.
O problema reside, antes, em saber se este mundo, de que temos experiência através
dicotomia sujeito-objeto, é o próprio ser, que se confundiria, então, com o mundo
cognoscível.
Eis a resposta: o mundo não é aparência, mas realidade. Realidade que é manifestação,
fenômeno. Enquanto fenomenalidade, “possibilidade de manifestar-se”
(Erscheinungshaftig-keit
), o mundo encontra apoio na realidade, no abrangente que, de
sua parte, jamais se manifesta como realidade no inundo, como objeto passível de
estudo.
É dito, por exemplo, que as cores não são objetivas, porém fenômenos subjetivos que se
manifestam quando ondas eletromagnéticas atingem o órgão da visão. Somente as onda
seriam objetivas, mas o mundo despido de cores e privado de luz. De maneira alguma.
Assim seria se a matéria, objeto da Física, o
f sseo própri
o ser e nã
o umsimples modo de
manifestação. Para os sujeitos sensíveis, as cores são inteiramente objetivas. A Física e
a Biologia nos esclarecem a propósito de condições em que as cores se apresentam
como uma realidade. Mas de modo algum cabeexplicar as cores aarti pr de onda s
incolores. Vários indícios favore
cem essa maneira dever, como porxeme plo o seg
uinte:
a série das
amplo linear dos eletromagnéticas
ondas comprimentos de—ondas — reduzida porção
não corresponde a uma do conjunto
escala muitolinear,
cromática mais
mas a um círculo cromático fechado em si mesmo. Há uma objetividade do cromático
passível de estudonde
i pendentemente da
s condi
ções físicas desuaocorrência. A par da
objetividade das cores, há a subjetividade do ser vivo, que abrange uma e outra.
Assim ocorre comtudo q
ue é vivo. A vida, como vi
mos naprimeira conferência, não
pode ser concebida adequadamente em termos de substância viva, de corpo vivo. É
antes, um todo constituído por um mundo interior e um mundo exterior, cada qual de
forma peculiar. Para criar vida, seria necessário fazer surgir um universo completo,
compreendendo um mundo interior e um inundo exterior.
A vida cha
mamos existente Dasein
( ). Ao existente vivo cham
amos abrangente e sese
abrangente, cindido em mundo interior e mundo exterior, mantém os dois em relação
recíproca. Nós, homens, somos um modo desse existente a esse vivo
título,
e, uma das
formas da vida.
Esse modo do abrangente, o existente vivo, ignora existir. Nós, homens, não o
ignoramos porque somos um outro modo do abrangente: o pensamento que, pensando
dirige-se a objetos e se pensa a si mesmo. Esse abrangente é, não somente consciência
na diversidade de seu existente, porém é, ainda mais, consciência acertada ou falsa. O
falso e subjetivo varia infinitamente; o justo e objetivo é algo que abrange todo o
pensável e o cognoscível e não pode ser alcançado por nenhuma consciência existente
isolada. Eis por
que a denominamos
consciência
absoluta.
Enquanto existente ( ), ser objetivo, nós somos a diversidade dos seres individuais
Dasein
se afirmando a si próprios. Enquanto consciência absoluta, somos o único sujeito do
pensamento absoluto, sujeito presente em escala maior ou menor nas diversas
subjetividades de existentes. Enquanto espírito, somos imaginação presente nos grupos
de formas que chegam a nós por nossas criações. Enquanto existência
) somos (
Existenz
devir em relação à transcendência, no fundo das coisas.
Se digo que somos existente vivo, consciência absoluta, espírito, existência, não quero
dizer que sejamos um agregado desses modos do abrangente. Em nós, eles se
interpenetram, ajudam-se e se combatem.
A existênci
a dá sentido aos m
odos do abrange
nte eos mantém unidos, a seu
serviço.
Por outro lado, se não servem a existência, esses modos se desagregam, por assim dizer
e assumem pseudo-autonomia a serviço de particulares solicitações da vida ou do
mundo do espírito, que fascina por não conhecer limitações.
O mundo
como
Realität
tal. real
Somos( lançados
) é manifestação da realidade
a esse reale
mundo ),( ondee nos
Welt
a Wirklichkeit
não orientamos
realidade)com
( o
auxílio do conhecimento ( ) científico universalmente válido, que, entretanto,
Erkennen
nada nos diz acerca do que esteja para além de seus limites. Só o conhecimento
(Einsicht
) filosófico nos pode liberar da prisão neste mundo.
Esta vida no mundo dos fenômenos é como que um despertar após o sono, que nos
retira do obscuro de um inconsciente inimaginável? É essa clareza a única possível? Ou
a vida, na dicotomia sujeito-objeto, é comparável a um sonho? Não será a clareza, em
verdade, um obscureci
mento do ser e deimmmesmo? A resposta assas
e ndaga
i ções
não brota de conhecimento, mas, por estranho que pareça. c!e uma decisão.
Quero que o mundo real me seja indiferente. Aceitá-lo simplesmente, sem agir sobre
ele? Não ser responsável porQuero
nada? viver como se não existisse?
Foi esse o
caminho tomado por algumas escolas asiáticas de pensamento: a fórmula “o ser é a
aparência e a aparência é o ser” figura num romance tauísta, onde se afirma que a vida
humana com seu encanto perturbador, na beleza, sua inutilidade, com o bem e o ma
ilusões e desilusões,
dão expressão a umaem suma, com
disposição sua onde
íntima falta de sentido,
tudo é um jogo
se desvanece vão.fumaça
como Fórmulas tais
tocada
pelo vento.
Posso, diversamente, querer — pela realidade de minha vida, responsabilidade e
conhecimento — atingir a clareza neste mundo fenomenal, considerando-a caminho
único para alcançar possível iluminação que venha de mais além. Neste caso, o
fenômeno não é, para nós, mais do que aparência, a vida não é sonho. Não percamo
porém, de vista que todo nosso conhecimento finito corresponde sempre a um estado
servidão. A indagação qu
e se coloca é a seguinte: podem
os nós, val
endo-nos do
pensamento, encontrar, por assim dizer, um lugar exterior a nosso conhecimento e a
partir do qual esse conhecimento se tornasse inteiramente visível por transparência?
Dali, eu não divisaria conhecimento novo, não perceberia novas finalidades no mundo,
mas poderia metamorfosear minha consciência e, por essa via, metamorfosear-me
mim mesmo.
O primeiro conduz para fora deste mundo. Experiências de mística união com o ser
dificilmente admitem contestação. Tais experiências não podem, entretanto, ser
comunicadas poraqueles que retornam
ao mundo com
um. A interpretação possí
vel de
dar a essas experiências é variada e expõe-se a controvérsia. Para descrevê-las, os que a
fizeram recorrem a um fluxo de imagens só por eles compreendidas. No inconsciente ou
“superconsciente”
qualquer distinção da união
entre
eu incomunicável,
e o outro
eu
objetos
se adesvanecem;
; deixa de existir e
dicotomia fica abolida A
sujeito-objeto.
nosso ver, trata-se de um estado de exceção do qual quem o viveu retorna trazendo al
consigo, algo que semelha conhecimento. Da experiência, quem a faz sai aniquilado,
como se tivesse tido acesso à iniciação suprema. Contudo, ao passear pela linguagem da
consciência, que a todos nos une, a experiência que parecia ser tudo se converte em
nada. A ela não podem
os recorr
er.
O segundo caminho aconselha que se tome por objeto um outro mundo, supostamente
concreto, situado no mais além. Em visões, ele se apresenta fisicamente diante de
nossos ol
hos e essas visões es
magam quemé por el as tom
ado. Assum em a forma de
estruturas raci
onais. Aos insanos mentais essas visõessupra-sens
íveis aprese
ntam-se
como experiências concretas e srcinais. O comum dos homens, após vê-las descritas,
só pode, dando livre curso à imaginação,
reproduzi-las emsua “consciência normal”.
O preço,porém
, é o de pe
rder a verdade
. Ilusão, decepçã
o, entrega
. Não seremos salvos
pela mística, nem pelas visões. Só pela dicotomia sujeito-objeto, pela clareza da
realização, chegaremos ao ponto em que nela, através dela, alcançaremos a apreensã
do abrangente. Não nos apoiaremos nem no sujeito, nem no objeto, mas viveremos n
abrangente.
7. As exposi
ções nateriores m
ostraramque o pensamento filosófico não éde gênero
único.
É um tipo diverso de experiência de pensamento. Faz-se presente algo que não pode ser
apreendido em si pelo pensamento objetivo. Passamos a dispor de um espaço onde nã
mais se produz o conheci
mento de u
qalquer coisa. Atingimos hori
zontes de
ondenão
divisamos objetos novos e desconhecidos no mundo.
mas, situado a igual distância de unia e de outra participa de ambas essas naturezas;
centro da criação, ele é distinto não apenas dos animais, porém também dos anjos; só
ele é feito à imagem de Deus; o homem, dizia Schelling, tem, profundamente escondida
em si, uma “cumplicidade com a criação”,
que assistiu-lhe
pois as srcens.
2. Sejade onde
for que tenhamos
vindo,estamos aqui.
Encontramo-nos no mundo, em
meio a outros homens.
A natureza éuda.
m Embora pareçastar
e expressando
lgo aatravés de
suas fo
rmas, suas
paisagens,
seu silênciosuas
— atempestades tumultuosas,
natureza não responde. suas erupçõesreagem
Os animais vulcânicas, sua brisaque
de maneira ligeira
tem
sentido, mas não falam. Só o homem fala. Só entre os homens existe essa alternância de
discurso e resposta continuamente compreendidos. Só o homem, pelo pensamento, tem
consciência de si.
O homem está sozinho no mundo imenso e mudo. Foi preciso que o homem surgisse
para emprestar linguagem ao mutismo das coisas. O silêncio da natureza ora lhe parece
estranho, inquietante, impiedosamente indiferente ora lhe parece favorável,
despertando-lhe confiança e apoiando-o. O homem acha-se sozinho em meio a uma
natureza de que
, não obstanteparte.
é ome
S nte com usse compa
nheiros de de
stino ele se
transforma em homem, em si mesmo e deixa de estar solitário. E, então, a seus olhos, a
natureza se
torna o pano defundo deuma obscuri
dadequefala sempalavras. e Vmo-nos
a nós mesmos como luz que ilumina as coisas, que se dispõem com referência a nosso
pensamento e sàrelações que com
elas estabel
ecemos.
3. É a partir do mundo que nos compreendemos como esse existente vivo e corpora
sem o qualnão somos.Esta mos ligados a esse existente, movemo-nos com ele e
reconhecemossua corporalidade
comonossaaté o pontoda identificação.
Mas, se nos
entregarmos à idéia de que, no plano da natureza, somos feitos de matéria e de vid
perde remos consciência de nós Com
mesmos.
efeito, a identificação de cada um de nós
com sua corporalidade não basta para lazer com que ele seja ele mesmo.
Não nos compreendemos a partir da História, a não ser através da realidade da tradição
sema qua l não terí
amos chegado a nósesm
mos. Mas, se nos rendermos
o proacesso de
conhecimento histórico, no qual hoje nos encontramos, perderemos a consciência de
nossa própria responsabilidade srcinal. E é por meio desta, e não pela contemplação da
História que somos nós mesmos.
Será então, que nos compreenderemos a partir de nós mesmos, na liberdade de noss
ação interior e exterior? Nesse ponto, atingimos a profundidade, tocamos a srcem de
nossa consci
ência de nós mesmos. Mas não comp
reende
mos a existênci
a de nossa
liberdade. Com efeito, nós não nos criamos: nem enquanto esse existente sob cuja forma
nascemos, nem enquanto essa liberdade na qual, compreendendo-nos nela, oferecemo
nos a nó
s mesmos.
O homem foi definido como ser vivo dotado de palavra ezoon pensamento
logon (
); como ser vivo que. agindo dá à sociedade a forma de cidade regida por leis
echon
(zoon politikon
); como ser que produz utensílios
hom ( ); que trabalha com esses
o faber
utensílios(homo laborans
); que assegura sua subsistência por meio de planificação
comunitária ( o oeconom
hom ).
icus
Cada uma dessas definições leva em conta uma característica, mas o essencial não está
presente: o homem não pode ser concebido como um ser imutável, encarnando
reiterada
menteaquelas formas deser. Longe di
sso,a essênci
a do hom
em é mutação: o
homem não pode permanecer como é. Seu ser social está em evolução constante.
Contrariamente aos animais, ele não é um ser que se repete de geração para geraçã
Ultrapassa o estad
o em queé dado a simesmo. O homem nasce m e condi
ções nov
as.
Embora preso a linhas prescritas, cada novo nascimento corresponde a um começo
novo. Para Nietzsche, o homem é “o animal que jamais se define”. Os animais se
repetem e não avançam O homem ao contrário e por natureza, não pode ser o que já
Está sujeito a perder-se em anormalidades, degenerações, perversões, a alienar-se de s
mesmo. Isso, porémnão se faz segu
ndo um
a direçãonvari
i ável, conhecida ou admitida,
que se constituiria na única forma verdadeira de ser homem.
5. Mas quem é esse homem, que se reconhece ligado à nação, à raça, ao sexo, à próp
geração, ao meio cultural, à situação econômica e social e que, não obstante, de tudo s
pode afastar, colocando-se, por assim dizer, fora e acima de todas essas estruturas em
que historicamente se encontra imerso?
Tudo que sabemos do homem, tudo que cada um dos homens sabe de si mesmo não
correspondeo ahom em. Aquilo a queo hom emestáligado, aqui
lo com que o hom emse
debate não identifica o homem. Sua srcem propõe-lhe um problema que se transforma
emalavanca da qual se vale para ten
tar u
f gir àquilo emqueestá enterrado. A
partir daí,
ouve ele a exigência que não lhe deixa repouso. Sua consciência de ser se realiza com
base em algo que ele jamais compreende, mas de que acredita participar uma vez qu
seja ele mesmo.
Nem o homem
, nem qua
lquer do
s home
ns sabeo que éem realidade, quando se
reconhece
que amparado
o homem por siesse
tem de fundamento
mesmo sobre ao qual
diz respeito nada pode.
fenômenos, Todocondições
a suas conheciment
ou
potencialidades. O homem não se identifica a qualquer desses aspectos, porém os
incorpora ao longo da jornada que o leva a si mesmo.
6. Abrigamos emnós al
gumas m
i agens do hom
em e ouvimos falar deoutras que a
História reteve.
Somos nós próprios a aposta na luta que, em nós se trava, entre imagens do homem
Sentimos atração ou repulsão por imagens que reconhecemos nos indivíduos. Fazem-se
elas, a nossos olhos, modelos positivos ou negativos. E de nós próprios indagamos: que
faria ou que diria tal homem na situação presente?
A reverên
cia não eleva o homem ao nível da divindade. O homem humilíssimo e o
grandehomemsão a parentados conosco
. Mas é perversãoansf
tr ormar afórmula: “todos
são homens como nós” — fórmula que, sem abolir a indefinível hierarquia, nos eleva a
todos — em algo
semelhantes que nos nivela por baixo e dizer “todos não passam de homens e são
a nós”.
Exilado em seu existente, o homem quer ultrapassar-se. Não se satisfaz com ser, numa
quietude fechada em si mesma, o perpétuo retorno do existente. Não mais se
reconhecer
ia autenti
came
nte como home
m, se se contentasse com ser om home
que
hoje é.
Entretanto, nas potencialidades do homem reside também o que lhe é fatal. Dante
descreve a última aventura de Ulisses. Com seus companheiros, ele transpõe as
fronteiras que as Colunas de Hércules assinalavam para os homens. Por quê? “Para que
nada permaneça oculto a meus olhos”. E aos companheiros ele diz: “Não recuseis ao
que vos resta de vida o prazer de verificar se teremos êxito no alcançar terras
desabitadas. Não tendes vida para viver como os animais, porém para perseguir a glória
e a ciência”. O mar os engole após uma tempestade que se desencadeia ao largo d
montanha do purgatório. Do fato ninguém tinha conhecimento antes que Ulisses o
referissea Dante no Inferno.
Palavras desse tipo são ilusórias. Embora, com toda probabilidade, o homem deva ir
mais longe do que já foi. barreiras físicas últimas permanecem. O homem não penetrou
no cosmos,porém,simplesmente,
em nossosistem a solar. Jamais pode
rá adentrar o
uni
se vencontra
erso eaí assenta
na r pé. Adistânci
constelação deaCentauro)
entre o noss—o sol e o maisridícula
distância próxi
mona
dos óis
s (que
escala do universo — é
de quatro anos-luz. Condições biológicas da vida humana impedem a transposição de ta
distância. Isso nã
o é um a desgraça
, é uma limitação.
Em nosso tempo, tornou-se realidade, sob forma nova, a visão de Dante (ruína
precipitada pela temeridade de quem pode e quer conhecer). Com efeito, o avanço
técnico atingiu ponto em que não se exclui a possibilidade de que a humanidade se
destr
ua a simesma.
9. Também num outro sentido quer o homem ultrapassar-se: não avançando pelo
mundo, mas projetando-se para além do mundo; não na insaciável e sempre renovad
inquietude de sua existência temporal, mas na quietude da eternidade, no tempo qu
abole o tempo.
Aquele instante
testem
unhaa calma escondi
da em nós,que nã
o se proj
etano tem
po.
Enquanto não experimentou a sensação de ver-se soterrado e não optou por “passa
além”, em direção à transcendência, o homem não é verdadeiramente ele próprio. Não
passa do animal racional a que está acorrentado. Para contraditar essa imagem que
diminui, o homem foi chamado “o ser que contempla Deus”. Somente em relação com a
transcendência é que o homem toma consciência de ser livre, na forma de vida superior
exemplificada por homens de todas as raças e todos os tempos.
10. Quando começa a refletir, o homem toma consciência de que não dispõe de certeza,
nem de apoio.É preciso que
nós, homens, tenhamos coragem,
quando nospomos a
refletir sem vendas nos olhos. Devemos avançar olhos
no escuro,
abertos,
de
proibindo-
nos de renunciar
ao pensamento.
A coragem enge
ndra a sperança.
e Sem
espe
rança, não háda.
vi Enquan
to há vi
da, há
sempre um mínimo de esperança, que brota da coragem.
Essa confiança pode faltar-nos. Não resisto à realidade nua. Se a confiança me é dada
não me devo sentir seguro de mim mesmo. Se desejo conservar minha integridade d
homem ligado aos homens e se deles espero compaixão para uma falha eventual, nã
posso esquecer os demais.
Será este, à guisa de prólogo, o primeiro de uma série de capítulos relativos à política.
Qual a essência de um debate político?
A. Nosso obj
etivo último é o de resta
urar asfrontei
ras alemães de1937, manobrand
o
astuciosamente junto às Grandes Potências.
O único problema é o seguinte: Qual das quimeras preferir? Qual delas oferece melhor
oportunidade? Dito de outra maneira: qual delas propicia melhor expectativa de
sobrevi
vência? Subente
nde-se que só se ode
p pe nsar na sobrevi
vência da Alemanha
dentro do mundo livre. Repito, portanto: o que podemos fazer agora é concretizar a
liberdade política no interior das fronteiras da Alemanha Ocidental.
A. Devemos repetirinfatigavelmente
nossaexigência de reunificação da Alemanha.
Não estaremos senão defendendo
um direitolíquido.A História mostra
que pode tornar-
se realidade o que é aparentemente absurdo. Readquirimos tal importância que já não
somos indiferentes ao mundo.
B. Mas, do ponto de vista político, o que somos nós realmente, mesmo no interior de
nossas fronteiras?
Na medida em que a massa participa da prosperidade econômica,
desinteressa-se
oligarquia da
quepolítica,
de partidos se nomeiade amaneira inquietante.
si mesmaDeixamo-nos
e que nãogovernar
se digna por uma
a interessar-se pela
população, a não ser às vésperas deColocareleições.
o voto na urna é o único ato
político praticado pelo povo e praticado sem maior reflexão. No fundo, isso equivale a
decidir, por aclamação, que a mesma oligarquia de partidos continue no poder. Nenhum
dos partidos tem um ideário político. Nenhum deles trabalha em favor da liberdade
política interna ou em favor da liberdade de pensamento. Nenhum deles procura ajudar
o povo a educar-se politicamente.
A. Estamos se
guros, portanto.
Isso não bom
é ?
B. Aparente
mente, sim. Mas esse e
stado de coi
sas éapenas e nsaio para o papelque
desempenharemos na próxima catástrofe Ver-
mundial.
se-á,entã
o, se sabemos o queé
liberdade política; se recobramos a dignidade perdida em 1933; se sabemos adotar as
decisões indispensáveis para preservação da honra e da liberdade — ou se nos comporta
remos como em 1933, ano da vergonha e da estupidez As condiçõe
política.
s, contud
o,
serão inteiramente diversas.
A. Vocêantevê perigos?
B. Sim.A certeza, por exe
mplo, de jauda nuclear por parte
dos Estados Uni
dos da
América, na hi
pótese de uma agress
ão russa, deixou de ser abs
oluta
Hoje,
. os Estados
Unidos já desejam que algum tempo se passe entre o ataque russo e a resposta atômic
Face ao risco de destruição pelo desencadeamento de uma guerra nuclear, os Estado
Unidos da América, aparentem
ente
, pensarão, antes de tudo eacima de tudo,em si
mesmos.
Contudo, a longo prazo, a política alemã deveria ser capaz de realizar a grande
mudança, que tornaria segura e indissolúvel a aliança com os Estados Unidos da
América. Talvez que
, apesar detudo, se
ja possível conseg
uir esse resultado.
A. E como?
A. Que loucura.
O quevocê que
r é ver a A
lemanha Ocidentaltransf
orma
da em satélite
dos Estados Unidos da América.
B. Você põe me dúvida minha devoção à lem A anha? Tereide de monstrar quem de nós
é mais alemão?Terei demonstrar qual de nós responde melhor aos preceitos de nossos
ancestrai
s? qualde nós melhor perc ebeo desti no daAlemanhae comele se preocupa e
mais gostaria de participarsuade metamorfose espiritual
e política?Não queroir por
esse caminho.
A. Muito bem.
Mas, que fazer diante da situação internacional deApe
nossos
nas dias?
esperar pelo que vai acontecer?
É preciso que, à semelhança da Rússia, desenvolvamos
nosso poderio.
E, no plano político, devemos apegar-nos a nossa inalienável soberania
nacional.
B. Você acha que justifica seu erro, dizendo que outros cam
inham
para a própria
destruição.
B. Desdeaquela
liberdade.Quando época, ao
Bismarklema
feznacionalista
triunfar já
a se opunha
idéia a idéia federalista
de centralização, de não
os alemães
aproveitaram o ensejo,que se apresentava,de conquistarem também a liberdade
política.Bastou-lhes um constitucionalismo aparente, um Estado jurídico e o milagre
econômico da época. O resultado foi a ausência de responsabilidade A política.
negligência de um povo passivo e a estupidez política dos que, por acaso, ocupavam o
poder vieram
a permitir a Guerra de 1914, não desejada pela maioria.
B. É exata
mente sse
e o ponto.Você gostari
a deuma resposta equnão se podedar com
certeza, assim como não se pode garantir a fidelidade recíproca de dois esposos.
O verdadeiro problema é este: qual o risco que vale a pena correr — construir com base
em uma fidelidade ou permanecer sobe rano, sto
i é, sozinho? A segunda alterna
tiva
conduz seguramente à ruína; a primeira é uma aventura nobre, que pode ser bem
sucedida, embora não haja certeza disso. Nessa aventura, um dos participantes não pode
alcançar êxito sem o outro. Associados a todos os apíses ivres,
l vi
vemos sob a
hegemonia dos Estados Uni
dos daAmérica, aosquais sem dúvida sacrificamos noss a
soberania em matéria de política exterior, mas não sacrificamos o direito de participar
dos debates com a voz da razão e, sobretudo, não sacrificamos nossa soberania em
matéria de política interna.
A. Você e
stásonhando.
Eu apoio Realpolitik
a .
2. Teste
munhasdessaconversa ntre
e Ae B, que pudem
os observar
?
a) Antes do m
ais, a a
f lha se deveà confusão e errôneaidentificação de duas realidades:
o juízo de fato e o juízo de valor. Num debate, os interlocutores deveriam pôr-se de
acordo a respeito dos fatos. Por outro lado, a vontade, que se propõe um objetivo, não
pode ter sua orientação justificada apenas pelo conhecimento. Entretanto, como a
vontade de um ser honesto e razoável não é cega, poderia ela ser esclarecida pelo
processo de pensamento que se desenvolve durante o debate.
Certo é que, para poder discutir, importa supor que todas as opiniões estejam
efetivamente justificadas; dessa maneira se demonstra que cada um dos interlocutores
temo outro na conta de ssoa
pe razoáve
l. Mas, de maneira alguma cabe admitir,
a priori,
que uma opinião seja tão procedente como qualquer outra. Em que medida cada uma
delas procede, será demonstrado pelo desenvolvimento e alterações que sofra ao longo
do debate.
Quando se tem boa fé, não se pode admitir uma opinião diferente, a não ser para
acompanhar, a título de concessão, os argumentos do adversário. O bom interlocutor
ajuda intelectualmente aquele com quem se defronta. Essa atitude encontra obstáculos
no apego aos interesses materiais, no desejo de ter razão e na escravização a fórmula
vazias de sentido. Nessas condições, não mais se ouve e não mais se responde.
Coisa diversa ocorre quando o obstáculo é representado por uma fé verdadeira. Quer
esta se afirmar sem apoios. Não se trata de uma estreiteza de interesse pondo a se
serviço desejo
próprio uma intelectualidade
de verdade tendo quea se degrada em
experiência sofismas.
do choque Trata-se,deaoforças
existencial contrário, do
que não
podem m anter-
se si oladas enão podemtuar
a , ao mesmo tempo,no mesm o homem . Só
elas têm idêntica justificação no confronto incessante.
Essencial é saber que o futuro não está determinado: se buscamos divisá-lo é para fazê
lo propí
cio. Desejamos antecipar o que óns própri
os faremos surgir. Jamais é com
pleto
o conhecimento das realidades que especificam o futuro, de suas condições e
potencialidades. É nosso dever buscar discerni-los para assumir, com o máximo de
esclarecimento, uma outra responsabilidade — a responsabilidade pelos objetivos que
nos propomos.
Diante da incerteza do futuro, o debate político ganha importância. Essa incerteza nos
obriga a fixar os olhos em realidades que podem ser hoje percebidas, e nessas realidade
os homens clarividentes enxergam os germes do futuro.
3. Concluamos indagando para que servem os debates políticos. São úteis para nossa
auto-educação política e nos preparam para a ação. Correspondem ao fórum da vida
política da nação.
Se outra coisa fossem, não passariam de palavreado vazio, só de
interesse para o psicólogo e para os técnicos em manipulação política.
1. A política é uma tensão entre dois pólos: a violência possível e a livre coexistência.
Contra a força, faz-se necessária a resistência pela força, a menos que se esteja dispost
a admitir a própria escravi
zação ou aprópria destruição. A livre coe
xistência cria uma
comunidade por meio de instituições e de leis. A política da força e a política da
parlamentação opõem-se por natureza: a combinação de urna e outra tem constituído
prática política até os dias de hoje, e, talvez por tempo indeterminado.
Distingue-se entre política interna e política externa. Saber qual delas predomina
depende da situação de uma comunidade frente a outras. Ocorre, por vezes, que as du
formas se entrelaçam. A política externaé produ
to da p
olítica deforça, para qua
a l todo
discurso é um estratagema. Contudo, graças a tratados e ao direito internacional, a
política externa tende a um ponto em que estará suficientemente transformada par
excluir a violência. Quanto à política interna, assume ela certos aspectos da política
externa quando, em meio à luta, os políticos recorrem à trapaça, à mentira, à
conspiração e à injustiça, até que estoure a guerra civil ou que um dos grupos se deix
dominar pelo outro.
Sem embargo, sejam o que forem, os homens estão obrigados a viver juntos. É uma
condição para sobreviverem.
em comunidades nas quais seDesde o princípio,
ajudam por conseqüência,
uns aos outros, os defendem
pelas quais se homens viveram
uns do
outros e das quais saem uns e outros — mas não todos — para a conquista e para
pilhagem.
Espanta ver como o homem é violento e obtuso; é surpreendente que os homens tenha
chegado a coisa diferente de simples hordas de bandidos. E, contudo, vieram a criar
ordens políticas, Estados de direito, comunidades de cidadãos. Para que isso tenha sid
possível, hão de ter agido poderosas
de outra
forças
srcem.
Essa grandeza não consiste no poder cruel de um tigre de alma humana, como Césa
nem no poder de destruição de um inseto astuto, misteriosamente afinado com as
situações de poder como Hitler. Obedecendo a César, uma grande nação teve um último
instante de grandeza, fazendo surgir ao mesmo tempo os inimigos que o matariam em
nome da liberdade. Hitler nos rebaixou — ao conjunto do povo alemão e a cada um de
nós em
que, particular
inspirado peloe,ideal
particularmente, aos que fosse
de liberdade política, o seguiram — sem
capaz de que surgisse alguém
destruí-lo.
Do ponto de vista da pura afirmação política, um grande estadista só pode ser acusado
de irresponsabilidade
integri no caso
dade. Não há padrão uni de. preferir
versal A maneidesdenhar
o o ocaráte
ra com êxito e onteg
r se ipoder
ra àa sacrificar sua
responsabilidade pelas conseqüências da ação política e a maneira como o senso de
responsabilidadepassaa constituircarátercorresponde,
em cada situação, a uma
decisão histórica e não a uma média que se possa determinar.
O político de baixo nível é o que não experimenta aquela tensão. Segue a linha de
menor resistência e faz o que promete maior vantagem. O grande político é o que, em
tensão, encontra a forma de agir que lhe permite auto-afirmar-se, elevando-se a seu
povo e a si mesmo à dignidade do Humano. Ele não podeRealpolitik
abandonar-se
, ao à
oportunismo. Não admite comprometer moralmente a comunidade nacional pela prática
de atos repreensíveis, ainda que, de momento, pareçam convenientes. Por meio de se
próprio agir, educa seus concidadãos. Não se agarra ao poder a qualquer preço, quando
sua consciência política e moral lhe proíbe subscrever o que é contrário à dignidade e
aos interesses da nação.
4. O objetivo da política pode ser resumido em uma frase: com liberdade política, o
homem se torna autenticamente ele próprio, livre para ordenar os negócios internos da
nação e para afirmar-seaoface
exterior.
A violên
liberdadecia deve
pessoal. se
Ar es
abolida
ta um pe
sólalimite
política, no
se col nte
i: ress
oca e coexi
pode da dom
stirinação d
com aolibe
dirrdad
eitoe edda
os
demais.
A política pre
tende subjugar a violência por me
io do de bate, do pa
cto,da buscade uma
vontade comum através de caminhos legais. Para que a tal resultado se chegue, é prec
contar com certa espécie de político. Esse político não deve aspirar à ditadura, porque
não se interessa por governar escravos. Deve pretender poder temporário, na medida e
que mereça a confiança do povo — confiança de cidadãos e não de súditos — e deve
inclinar-se pela renúncia, tão logo decaia daquela confiança. força,
Deve
sendo
odiar a
demagogo no sentidoliteralda palavra: educador do povo. Em situações concretas, deve
traduzir os verdadeiros desejos do povo, expondo fatos e razões, de sorte que o própri
povo, examinando os argumentos oferecidos, possa reconhecê-los como seus e encher-
se de entusiasmo pela decisão tomada. Após m ilênios, pal
avras efeitos desse tipo de
homemcontinuama merecerem l brança.
5. Não cabe supor que a liberdade política brote do nada. O primeiro estágio da história
foi de liberdade apolítica, viva. Longede ser vazio, o de
sejo de liberdade, pre
so aos
laços comunais, conservava a substância da tradição social. Como se teria srcinado
essa liberdade ainda inconsciente de si mesma é mistério incompreensível. Falar de
caracteres raciais ou étnicos não é uma explicação e rouba grandeza àquela liberdade.
Em cada uma de suas manifestações, essa liberdade genuína durou apenas um instant
para nós, os pósteros, o fato permanece como exemplo e estímulo.
Carentes de vocação, esses políticos encaram suas funções como um simples emprego
vantajoso sob todos os aspectos, com bom salário, direito a aposentadoria e sem
qualquer risco. Não pensam em termos de responsabilidade. Esse o motivo por que,
incapazes de reação a qualquer perigo, submetem-se, como em 1933, a qualquer forç
que lhes ofereça aparente segurança ou proteção. Nada foi mais humilhante para os
políticos alemães e para a nação representada — e também nada foi mais merecido —
do que o desprezo que por eles mostraram Hitler e Goebbels em discursos arrasadores.
O mundo livre é, sob esse ângulo, um espetáculo de ambigüidades. Nós, povos livres,
estamos ainda longede ser politicamente livres. Aprosperi
dade, o conse
rvantismo, a
agitação pela agitação não bastam para fazer surgir a liberdade. Diminui a aristocracia
dos cidadãos esclarecidos. A divisão das responsabilidades gera a irresponsabilidade. A
democracia degenera em oligarquia de partidos. O que se tem por cultura não passa de
bolhas de sabão em salões literários.
O espírito perde densidade.
8. possibilidade
à Diante dos
sinistros
sinaisde
mesma danossostempos,
liberdade as objeções
ganham fundamentais
sedução nova. que se fazem
Não é a liberdade política uma utopia? Não se trata de um simples estado de espírito
que se vem repetindo em alguns ocidentais, desde a época dos gregos? Não é a
liberdade rejeitada, na prática, pela maioria dos homens do Ocidente e por todo o resto
da humanidade, que a ignora?
Não podemos, por outro lado, afirmar que a História assinale contínuo progresso da
liberdade. No mundo ocidental, desde Israel e os gregos, des
de a polis e a república
romana, desdeas com unas eos cam ponese s livres da Idade Média e nos paí ses
modernos, herdeiros dessas tradições, tem havido poderosas erupções de liberdade, que
sempre nos surpreendem porque nos lembram ilhas num oceano de servidão, ilhas
infinitamente preciosas, mas sempre ameaçadas.
A liberdade política só floriu em círculos restritos. Em países isolados, como a Islândia
antiga, ela se tornou realidade grandiosa, embora não houvesse atingido a estatura
espiritual quetevena Grécia, naHolanda ou naInglaterra. Em todasas partes, contudo,
a liberdade não tardou a fanar. Na imensa maioria dos povos e do Estados, a realidade
se opõe à liberdade,
Os fatos parecem apoiar a mais séria das objeções: a liberdade é impossível porque
exige de
masiado do homem. A situaçã
o inevitável, poderosam
ente desafiadora, mas
também exposta aos maiores perigos, é a seguinte: para tornar-se verdadeirament
homem, o homem deve ser livre, o que ele não pode ser como partícula humana em
meio à massa de um
povo.
Mas a e
sse a
utoritarismo opõe-
se um
a verda
de n
i discutível: são sem
pre hom
ens que
governam homens. No mundo, jamais encontramos Deus ou a verdade absoluta. São
homens que, em nome de Deus ou da verdade absoluta, reclamam para si a autoridade.
Não há por que depositar fé nessa autoridade. Sob todas as suas formas, ela se
desacredita pela prática de atos vergonhosos, baixos, degradantes.
10. Não cabe proceder como se a liberdade se impusesse por si mesma e independess
de nós.
Quanto a esse ponto, não há evidência de verdade. Trata-se de uma decisão que diz;
respeito ao modo de pensar do homem todo e de cada indivíduo em confronto com seu
companheiros de destino político.
Colocados diante de uma encruzilhada, devemos saber para que vivemos, em que
sentido podemos construir o futuro, na medida em que isso está a nosso alcance. São a
inteligência e a vontade que decidem. Pela reflexão filosófica, elas se identificam a nós.
Por certo que, dentro do clima da liberdade, o risco de perdição é grande e possível a
perdição total. Mas, sem liberdade, a perdição é inevitável.
Numa discussão hostil entre indivíduos inflexíveis, cada qual busca impor sua opinião
ao outro; num debate aberto entre indivíduos esclarecidos, ambos querem assegurar-se
da posse da verdade.
3. Ao
dom íniocom
eçoci
das êndo
cias.sé
cul
Nao éatua
l, fazi
poca, a-se
Max Weburge
er nte
se om escl
e pe are
nha cimen
va, tode
com des
sedprobl
susa a paiema nno
xão, o
sentido de assentar que o conhecimento científico se desligasse de considerações de
valor: a ciência deve limitar-se ao que lhe é acessível, ou seja, ao que pode ser
conhecido de maneira empírica e lógica e, portanto, capaz de impor-se a todos. A
verdade da ciência não esgota a verdade, mas o caráter da verdade que lhe é própr
deve ser reconhecido por todos: independentemente de credos religiosos ou maneiras de
ver, independentemente de partidos ou interesses.
O primeiro tipo dessas atividades só nos mobiliza enquanto inteligência que adquire
conhecimentos válidos e universais. O segundo tipo nos mobiliza inteiros, ser que se
encontra com outros na multiplicidade existencial. O primeiro só nos envolve
impessoalmente na coexistência histórica. No que diz respeito ao universalmente válido,
podemos começar desunidos, mas se o compreendemos bem, viremos infalivelmente
concordar. Quando discordamos em matéria de fé e vontade, contínuo esclarecimento
recíproco é possível, mas cabe esperar luta improfícua.
O debate em torno dos juízos de valor desencadeou processo que aos pensadores d
época pa
receu deexcepcional importânci
a. Alguns o consi
deraramameaça ao trabal
ho a
que se vinham dedicando por uma vida inteira, ataque à consciência científica; outros o
consideram renovação do próprio espírito dos pesquisadores no que dizia respeito à
atitude perante a ciência. Os primeiros se rebelaram contra Max Weber, aceitando
complacentemente as pretensões tradicionalmente nebulosas e arrogantes da ciência
nos outros, a aspiração pela ciência pura tornou-se uma flama.
Naquela ocasião, o problema permaneceu como questão a ser discutida dentro dos
limites do mundo científico de economistas e historiadores, como questão a ser
exam inadaem congr essos. mE 1914, os mais eminentes adversári
os deMax Weber
organizaram uma reunião secreta, com o duplo objetivo de promover um debate sem
restrições e de evitar o sensacionalismo. O encontro realizou-se em Berlim e
desenvolveu-se apartir de com unicações apresentadas pelos participantes. As
discussões devem ter sido muito violentas. Conta-se que, ao retirar-se, Max Weber
disse: “Eles não me compreendem”. Com a I Guerra Mundial, problemas dessegênero
passarama segundo pl ano. Max Weber faleceu me 1920, ma s a questão conti
nua ater
interesse.
4. Nas ciências naturais, a distinção de que nos ocupamos, não provoca dificuldade. Há
muito, já foi feita. Desde que Galileu, recusando-se a distinguir entre figuras
matemáticas nobres e não-nobres, afirmou não ser o círculoque amais
elipse,
nobre
nem a esfera mais nobre
que outras formas, o único problema que se coloca no estudo
de corpos celestes e terrestres é o de saber o que a propósito deles se pode constat
empiricamente. Saber se uma coisa é ou não é mais nobre que outra constitui problema
que escapa à ciência natural, à qual falecem razões para considerar isto mais nobre do
que aquilo.
Coisa diversa ocorre no campo das ciências humanas, em história, política, sociologia,
economia. Nestas ciências, com efeito, não nos contentamos, como nas precedentes, em
constatar o que fisicamente existe, o que é diretamente acessível aos sentidos, o que
mensurável, o que se pode interrogar através de experiências. Nas ciências humanas,
temos de compreender a significação perseguida pelos seres que agem, pensam,
prevêem e acreditam; nas ciências humanas, não nos contentamos com o conheciment
exterior das coisas, mas temos de apreender, no seu interior, o significado posto pelo
homem.
Ora, o juízo é inseparável da compreensão de um significado. O significado apreensível
pode, por exemplo, ser belo ou feio, nobre ou vil, bom ou mau. Na história do espírito,
todos os juízos dependem das potências englobantes da verdade, que não é una.
Da liberdade dependem as potências da verdade a que sou sensível, aquelas com que m
identifico e as que rejeito.
5. Basta uma frase para pôr em realce a dificuldade que existe para emprestar
fundamento às ciências humanas: elas têm por objeto a liberdade do homem e, para
ciência não há liberdade. Como é impossível fazer prova empírica da liberdade, as
ciências humanas, enquanto ciências, estão privadas do elemento que as torna d
interesse para nós e que, embora presente de maneira indireta, é elemento essencial.
Sempre que levamos em conta o homem histórico, e não apenas o homem natural,
havemo-nos com a liberdade: de outro lado, quando conhecemos cientificamente, não
podemos recorrer ao conceito de liberdade, pois ela não diz respeito a qualquer situaçã
empírica e não temos o direito
utilizá-la,
de se não pretendemos
transpor fronteiras
as da
ciência.
Quando compreendemos nossos próprios juízos, tornamo-nos mais livres com respeito a
eles. Sem embargo, nenhuma compreensão permite que nos apropriemos das potência
que produzem a significação inteligível e que, não obstante, estão presentes em nós.
7. Dessas potências gostaríamos de aproximar-nos tanto quanto possível, por meio da
investigação.
O método racional consiste em determinar os “pontos de vista últimos”,
impossíveis
de ultrapassar,
em estabelecer
os axiomasalémdos quais não haja como
prosseguir na discussão, por serem eles ininteligíveis em seus fundamentos.
Mas é preciso aguardar os conflitos para discernir o que realmente importa ao homem.
Só no instante concreto que faz necessária a decisão (e não no simples refletir a
propósito dessa decisão) é que se revela o que, para o homem, tem prioridade; e
percebe-se também se ele orienta sua vida segundo uma hierarquia que lhe dá estrutu
ou, pelo contrário, se se perde na confusão de intenções cambiantes que velam o sentid
da vida.
8. Através
srcem. Em advão,
indicentretanto.
ação dos “pontos de
vista últimos”,
Se denominamos gostaríamos
potências de rem
aquilo ontar
para queà os pontos de
vista aparecem como simples fachadas, não se pode, em termos de razão, traduzi-las sob
forma de uma idéia geral. Delas não se pode obter visão de conjunto. Não há como
escolher entreelas, pois, quan
do escolho, áj estou ne las mergulhado. As potências são
parte demim. A mim eu as incorpor ei — para falar alingua gemdos enigmas — antes
do início do tempo. Embora tenha a experiência de sua realidade, não me posso referir
elas. Só posso oferecer como justificação o que torno racionalmente comunicável aos
outros e a mim mesmo, o que se revela no mundo. Nessa raciona-lidade, permaneço
preso àquelas potências. Elas se esclarecem através de tal relação e, nessa medida
adquirem realidade. Graças ao esclarecimento, podem transformar-se em mim. A
operação que torna manifestos os pontos de vista implica a aparição de sinais que, par
além de si mesmos, apontam na direção das potências.
Primeira: Ou as alternativas finais têm validez no mundo (e não são simples decisões
relativas à situação e ao momento) ou a soma total da verdade conhecida é aceita se
alternativas.
Na primeira hipótese, o homem segue o caminho da razão, que não tem fim no tempo
na segunda, admite a universalidade de nina verdade única e conhecida em comum.
Na primeira hipótese, desejo comunicação ampla, mesmo com o que me seja mais
estranho; na segunda hipótese, refugio-me em mini mesmo e recuso-me ao diálogo.
Terceira: Ou considero a liberdade política o mais elevado bem comum possível de
atingir no mundo ou me disponho a aceitar um poder totalitário.
Na primeira hipótese, vejo sentido em arriscar a vida para não sacrificar a possibilidade
de uma vida digna; na segunda hipótese, desejo apenas uma coisa: continuar vivendo e
obedecer.
Tanto a inclinação pela ciência pura como pela pureza existencial dependem de uma
decisão livre.
O mesmo ocorre com respeito à distinção, aparentemente simples, entre juízo de fato e
juízo de valor. Dela deriva inclinação por investigar os próprios juízos -de valor,
tornando-os etoobj deconheci mento. A distinção e gral é simples, mas sempre novo o
procedimento no caso concreto.
E nos tornamos livres pela distância a que nos situamos em relação ao mundo e a nós
mesmos. Essa distância torna-se ingrediente essencial de nossa atitude a respeito da
ciência e de nossa concepção da vida. Uma se reflete sobre a outra.
Não falarei, aqui, dos notáveis resultados científicos alcançados pela psicologia e pela
sociologia, mas das perversões sofridas por essas ciências. Tais perversões — e não as
ciências mesmas — exercem devastador poder em nossa época.
Segundo: Mais que quaisquer outros, dois pensadores, Marx — no campo da sociologia
— e Freud — no campo da psicologia — elaboraram, com enorme poder de observação
e construção, a par de conceitos acertados, concepções falsas o catastróficas. Esses do
homens de ódio, à semelhança de profetas, inspiraram fé. Foram seguidos por homens
que, afastados da igreja, não se haviam ainda voltado para a filosofia. Como os dois
autores citados eram pensadores de alta categoria intelectual e ofereciam resultados
palpáveis, a pseudocientífica profecia a que se entregavam os aureolava de prestígio ao
olhos dos que a superstição da ciência deslumbra.
Eu: Quem lhe revelou o curso da história em seu todo? Cada uma das coisas
cognoscíveis é apenas um elemento no fluxo imensamente complexo dos
acontecimentos. Esse fluxo jamais é apreendido pelo homem — nãoa é compreendido
posteriori
comosabe
dúvida, você necessidade, nem
que a maior é antecipadamente
parte conhecido
das previsões feitas comoMarx
pelo próprio futuro. Sem
se revelou
falsa.
Eu: Uma vez que considera a realidade espiritual como uma superestrutura dos
interesses de classe, você está obrigado a enxergar, no curso da história e na doutrin
das superestruturas, uma ideologia de sua classe.
Eis o que lhe proponho no quadro deste seminário: façamos nós dois abstração de
interpretações psicológicas e sociológicas, igualmente impróprias, e ocupemo-nos da
filosofia de Kant para indagar o quese contémnas idéias enquanto di éias.
Queremos compreender essas idéias? Cada um decidirá. É exigência que a ninguém se
pode fazer. Mas não lhe parece queeu esteja no direito de supor que todoque a le que
comparece a m u seminário sobre K ant decidiu compreender suas déi iasFalamos
? de
Kant e não de Marx.
3. Eis, agora, em versão também simplificada, outro debate, travado também na década
de 20.
Eu: Parece-me que uma concepção filosófica, uma visão espiritual, uma obra de arte,
um conceito científico têm significado que é válido por si mesmo. Por vezes, é possível
apontar as condições causais dos estados psicológicos de que essas criações derivam. O
últimos poe
mas de Holderlin e os últi
mos qua
dros de V
an Gogh não riam
te surgido
como surgiram, não fosse a insanidade mental. Mas isso nada diz contra a srcinalidade
do sentido dessas criações. Não vejo prova empírica da tese segundo a qual a expressão
produziu grandes obras na ordem espiritual. Mas, ainda que essa prova existisse, isso
nada provaria — contra a srcinalidade da criação. Mas, se alguém fala de repressão,
pode-se, com igual direito e com as mesmas possibilidades de bem sucedida
interpretação, alterar a pergunta: Como se reprime a libido sexual, pode-se reprimir a
força da espiritualidade existencial?
E como decidir quem está certo no que respeita aos
efeitos da repressão e às forças suscetíveis de serem reprimidas?
Psicanalista: Os efeitos da psicoterapia analítica são probantes; quando as repressõe
cessam, o paciente cura-se.
Eu: Nesse caso, o processo usado na neurose poderia ser aplicado às criações
espirituais. O resultado de elas se verem esclarecidas é deixarem de materializar-se.
Psicana
lista: Aprova decisiva éa manifestação do doen
te que consta
ta, emsi mesmo, a
verdade da doutrina. Discutimos inutilmente. É preciso que o senhor se deixe
psicanalisar. Terá, então, as experiências que são requisitos necessários para esta
discussão.
De qualquer
deixa modo,Evocê
psicanalisar. assinalou
que prova essao concordância?
ponto essencial:
Elaconcordância
nem sempre da pessoa quesóseé
se manifesta;
possível se o analisando chega a depositar fé na teoria. E como decidir entre a verdad
do psicanalista e a verdade da crença filosófica?
Eu: Sim, é exatamente isso, quem tem razão é quem pode colocar o outro na posição
ser analisado, a fim de que este outro admita como evidente o que, de fato, lhe é ditad
pelo psicanalista, que já foi anteriormente doutrinado. Torna-se lógico os psicanalistas
modernos exigirem a análise preparatória para a profissão, pois reconhecem que nem
todas as pessoas preenchem as qualificações: quem não se despe do espírito crítico é
considerado inabilitado e deve permanecer à parte.
Psicana
lista: Apesar de sua
s palavras, o pr
ocedimento adota
do me parece nte
i iramente
razoável. Submetemo-nos a essas experiências de livre vontade e delas retiramos efeito
salutares. Por que falar de doutrinação — palavra que evoca o totalitarismo? O senhor
repudia como violência e compulsão o que é livre e livre permanece.
Eu: Por certo que não há violências e ameaças. Quando falo de doutrinação, quero
simplesmente assinalar que o procedimento consiste de exercícios, repetições,
transmissão de impressões e orientações que o tornam análogo às práticas monásticas
(se o pensamento crítico se cala e a fé deseja crer) leva a uma concepção do mundo e
próprio sujeito que se torna de impossível retificação.
Que isso é doutrinação e não procedimento científico prova-se pelo exemplo dos
pacientes que se afastam da psicanálise com desgosto e revolta.
Psicanalista: O senhor se afasta continuamente do plano da polemica científica. O que o.
senhor faz não é crítica, mas propaganda contra uma causa que o desagrada. Seu dese
é desacreditá-la.
É uma obsessão sua.
Quarto:As hipótes
es da psicaná
lise se metamorfoseiam em conheci
mento do ser,em
uma ontologia, em “psiquização” do inundo.
Quinto: A séria gravidade do existencial cede passo à superficialidade da atitude
psicanalítica.
Assim, psi
canálise emarxismo não passam de caricaturas d
a filosofia.
Cada um desses sistemas sustenta que o homem se perdeu porque se alienou (no sentid
etimológico)
psicanálise nae esfera
apresenta-se como formaE de
psieoterapêutica. salvação
os dois — o podem
sistemas marxismo na esfera política,
combinar-se. Em 1933a
um eminente psicanalista da época me disse: a ação de Hitler é o maior ato
psicoterapêutico
da História.
Há dezenas de anos, no decurso de uma viagem, fiz visita a um ilustre psiquiatra, que
não tomar
lhe era umopigmeu e que
precioso havia
tempo dasconhecido quando
consultas, “Deestudante.
respondeu-me: Como
Tenhoeu me escusasse po
modo algum.
satisfação em poder interromper, por alguns instantes, meu trabalho de domador”.
Gracejo, sem dúvida, mas expressivo. Com efeito, em psicanálise sempre está sendo
travada uma batalha, embora
a forma
sobde livrecomunicação.
7. Essa maneira de “pensar” é perigosa para o homem. Opera com base em uma imagem
que se faz dele e que o faz servo de uma concepção totalitária da espécie. Essa
concepção o leva a desaparecer em meio aos clichês de uma superstição científica. Se a
adotar
mos, serem
os arr
ancados de nósesm
mos.
Quando Der
o Spiegel
revelou que a repartição administrativa encarregada de velar pela
observância da Constituição violava essa mesma Constituição interceptando
conversações telefônicas, e quando o ministro responsável respondeu, colericamente,
que não podia exigir que seus funcionários andassem com a Constituição embaixo do
braço, puderam os alemães dar-se conta do que significava a intangibilidade da
Constituição.
O desejo de poder mais facilmente assume os contornos da verdade quando, por trás, se
põe o desejo de violência. Violência por su
perioridade intelectual, por conte
stação
orgulhosa, por ameaças, por enganos. Sem embargo, o desejo de poder, enquanto ta
pode ser verídico e a própria verdade é um poder.
Por que desejamos a verdade e, portanto, abertura sincera? Por que não mais desejam
o mistério gerado pelo silêncio?
A semelhança do que se passa navida pessoal, tambémna com unidadeo curso das
coisas se torna falso quando o homem cala o que é importante para todos. A
mendacidade pública é re
flexo da mendacidade pessoal. Vivemos na ob
scuridade.
Deveríamos tornar-nos transparentes a nós mesmos e transparentes a todos os outro
em nosso destino e ação comuns.
4. Num povo livre, a opinião pública é o fórum da política. O grau de informação de que
a opinião pública disponha é o critério de liberdade desse povo. Comecemos por
esboçar o ideal estado de coisas. O que determina o destino de todos, deve, por
exigência da liberdade política, passar-se em público. A reflexão deve ser pública e
prepa rada me público a decisão. A concor dância brotará ssa
de base enão de conf iança
cega. Pelo pensamento e pela informação, um povo livre participa dos atos praticados
pelos governantes com vistas à criação de instituições e elaboração de leis. Numa naçã
livre, o êxito do homem político depende do povo. Surge a partir dos pequenos grupos
profissionais, dos rguposde vizinhança, degruposde livre de bate político. Junto a esses
grupos deve o político provar que é digno de confiança, que será orientador competent
e capaz. Os políticos iniciam sua ascensão a partir desses grupos e não pelo recurso
uma burocracia partidária quea priorielege,, políticos profissionais. ele é aceito porque
a consciência política do povo se impõe. ele atua, fala e escreve aos olhos do público.
Os eleitores sabem a favor de quem e de quê eles se manifestam pelo voto. Um pov
livre sabe que é responsável pelos atos de seu governo. Pertencer a uma nação livre
torna livre o homem que, nesse caso, pode transformar-se em cidadão.
As linhas ade
estímulo cima esboçam
ação. um ideal. éDesti
A realidade nam-se a servir como cri
diferente. tério de apreciação e
A vida pública deuma nação não ésimples espelho do povo. eve D ser o fórum ed sua
auto-educação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer
complacente af cea erros e af lhas. ImpÕe-se arecíproca auto-educaçã
o de governa
ntes e
governados. m E meio a todas as”m udanças, mantém-se um
a constante: a igação
obr de
criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política.
A auto-educaçã
o política se faz pe
lo exercício consta
nte do pe
nsamento, ao conta
cto
com as realidades de todos os dias e com os grandes momentos de decisão. Soment
diante de situações concretas pode a experiência ser submetida a prova e verificada a
capacidade de julgamento.
A opinião pública é, ante
s de tudo, o órum
f de informa
ção e, em seguida, o da
confrontação intelectual. Não é, de maneira alguma, opinião que preexistisse no povo,
que se devesse constatar e considerar normativa.
A opinião pública revela interesses particulares, que ntra e m em fricção comoutros
interesses. Por isso mesmo, sua pretensão de corresponder ao interesse público só se
justifica no quadro do conjunto de todos os interesses. Nenhum interesse particular pode
aspirar a ascender ao plano bonumdo comm une, do interesse público.
Só um interesse público é absoluto: que a batalha pela verdade e pela sinceridade poss
continuar a fazer-se com normais possibilidades de êxito; a batalha pela ordem de
prioridade dos interesses e pelo bem comum, que transcende a todosa os interesses:
liberdade, res-publica.
5. O que hoje entendemos por opinião pública tem sobretudo relação com o mundo dos
oradorese escritores
, dos orna
j is e livros, derádio e televisão. A opinião pública não é o
fórum da proclamação de uma verdade única, mas o campo de batalha pela verdade.
Os escritores são uma terceira força, que se põe entre governo e povo, entre a atividad
dos políticos e o silêncio geral da população. Criam os escritores a linguagem que une
toda a população. Essa terceira força, entretanto, só é significativa se for independente.
Os governos de povos não-livres se precavêem contra essa terceira força, contra o pode
do espírito. Quando lhes é possível, utilizam-se dos escritores para atingir fins próprios.
Fornecem à imprensa informações oficiais, sempre limitadas, sinuosas, veladas;
secretamente fornecem esclarecimentos mas só a pessoas que estejam a seu serviço
usem com tato as informações, estimulando a confiança do povo nos governantes e
dando apoio ao que os governantes reclamam Esses
do governos
povo. se escandalizam
quando os escritores manifestam a um público amplo o que os governantes consideram
opiniões pessoais. Louvam o espírito, ma
s só o sepírito servil. Louvam a imprensa e a
liberdade de imprensa, mas pretendem referir-se a uma imprensa dócil. No fundo, não
têm plena consciência do que fazem, porque lhes falta compreensão do valor do
espírito.
6. Assim, adé
i ia de que aopinião pública seja fonte da
verda
de pública só parcialmente
é verdadeira.
Sem embargo e como já afirmei, essa idéia fornece critérios segundo os
quais se pode apreciar a opinião pública, suas limitações
perversões.
Aeboa política
nos aconselha conscientemente
a, e como questão de princípio, favorecer a concretiza
ção da mesma idéia no governo, na administração, na burocracia.
Um povo livre é sempre governado por sua aristocracia espiritual — minoria recrutada
de todos os níveis da população. Nela o povo se reconhece e através dela concretiza su
própria democracia.
7. Governos,partidos,funcionários,
empresários, editores, burocratas, todos tendem a
favorecer o segredo, que é dado como tendoImpe valor
le-se
em ta
lsi.
procedi
mento até
as raias
do ridículo.É considerado
pontode honra profissional.
Sua violação expõe a
castigo.
Tem outro sentido o segredo que se guarda face ao inimigo. Está relacionado com o
emprego da violência. Na hipótese o máximo de segredo eleva-se a princípio de
conduta,o mesmo se dando com o buste em e amentira. A comuni cação de segredos a
países estrangeiros é espionagem ou é traição.
O tratamento que o segredo recebe no interior de fronteiras nacionais é decisivo para
avaliação do caráter do Estado. Entre cidadãos que constroem, aperfeiçoam e velam po
sua liberdade comum, não há por que existir segredo. Quando o segredo existe, algo não
corre bem. Segredo momentâneo pode surgir como necessidade, mas só é tolerado a
contragosto. Nele se vê restrição à liberdade e procura-se reduzi-lo ao mínimo. O desejo
de divulgação, nascido da liberdade, torna mais difícil o segredo necessário, enquanto a
tendência ao segredo, brotado do desejo de poder, quer pôr-se como obstáculo à
notoriedade e transformar cidadãos
súditos.
em
Em verdade, as forças que se inclinam por ocultar, velar, mentir são tão poderosas que
Estado se vê compelido a dar-lhes combate incessante, para ver preservada a liberdade
Seria desejável, por exemplo, legislação que autorizasse e obrigasse, moralmente, os
funcionários a darem publicidade a fatos legais ou anticonstitucionais, em vez de
simplesmente comunicá-los a seus superiores hierárquicos, freqüentemente interessados
em evitar que esses fatos sejam conhecidos.
8. Um Estado que se acomoda aos termos por nós referidos não admite a censura. S
tem sentido a punição quando o que foi publicado caracteriza violação da lei penal
(difamação etc.); contrariamente ao que hoje em dia se faz, a difamação deveria ser
punida com multas tão severas que implicassem a ruína do difamador.
Há. porém, uma objeção contra a liberdade de imprensa: ela não esclarece, confunde.
Dá rédeas livres para incitação contra o governo e contra a ordem estabelecida.
Engendra o descontentamento e a desconfiança. Permite ataque à fé e à autoridade
Abre canai s não só para a verdade , mas tam bém para amais absol uta af lta de
autoridade. Interesse
s conjugados, conspi
rando pa
ra manter a gnorânci
i a, provocamum
estado de engano geral. Daí decorre, segundo se entende, a necessidade de censura
Impõe-se preservar opovo denfluêi ncias perniciosas e comfreqüência negar-lhe, em
seu próprio interesse,
a verdadepura.
O homem que alcançou conhecimento não deseja guardá-lo para si. O homem criador
deseja que sua obra seja vista. O homem que atua politicamente deseja ser
acompanhado. Tal é a grande ambição, que se justifica desde que não repouse sobre
ilusões quanto ao que se é capaz de fazer (caso em que se degradaria em vaidade).
permanece o fato de que a vida pública é risco.
Quando os homens se queixam de se verem entregues ao público, de tal modo que ess
público lhes perscruta não a ação objetiva, mas a própria pessoa, importa indagar até
que ponto
possível serseum
justifica
homema público
proteção da mesmo
e, ao “vida privada” de uma personalidade
tempo, recusar-se ao público? pública. É
Risco há também para qualquer pessoa no lançar-se à vida pública através da palavra
escrita, da palavra falada e da ação. Deve, em contrapartida, admitir que sua pessoa se
examinada e interrogada. Quem tem vida pública está à mercê do público. O homem
que deu esse passo nãoisé oma
mesmo.
Como todas as causas (exceto no caso das ciências naturais e de umas poucas outra
ciências) envolvem a essência da personalidade, os olhos se fixam tanto na
personal
idade com
o nas caus
as. A personal
idade rece
be plena luz, é examinada até seus
mais íntimos pormenores e julgada, variando o julgamento em função do papel público
desempenhado — político, escritor, cientista, poeta, pensador.
Por esse motivo, perde atrativo a idéia de ser um homem público. Todos — políticos,
escritores, poetas, filósofos — desejariam que sua pessoa permanecesse inatingida. Ma
a nenhum cabe o direito de exigir que o público o acompanhe enquanto indivíduo e
deixe de notá-lo enquanto pessoa. O homem público adentrou arena onde se trava
combate pela verdade,
incompreensão, lisonja eonde motivos
calúnia à luz edepessoa vêem-se
uma opinião expostos
pública a permanente distorçã
inclemente.
O homem que ousa correr esses riscos vem a conhecei-no âmbito público mais amplo as
mesmas vicissitudes que enfrenta na vida privada. Deve acautelar-se para não se
identificar à imagem que dele próprio a opinião pública crie. Deve tolerar tal imagem,
sem a ela afeiçoar-se involuntariamente, esquecendo a própria identidade. Ê essencia
que permaneça livre, fiel a seu verdadeiro eu, firmemente apoiado em suas
potencialidades.
X.
OS ENIGMAS
E disseram a Moisés: fala tu conosco e ouviremos; e não fale Deus conosco, para que
não morramos.
E disse Moisés ao povo: não temais, pois Deus veio para provar-vos e para que seu
temor esteja diante de vós, para que não pequeis.
Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão: o homem circunspeto não graceja
com o nome de Deus. Não faz apelo a Deus quando deseja algo para si, neste mundo
Tomar o nome de Deus em vão equivale a invocar o favor de Deus contra os outros.
Honrar pai e mãe, não matar, não cometer adultério, não dar falso testemunho: tais são
as simples, grandes e indispensáveis condições de uma vida comum vivida em
confiança.
Maravilha
dos de m
Dez Manda simplicidade,
entos .éde um clareza
a só vez,erevel
profundidade
ado ecapazpara todos os tempos,
de convencer o home
m o conteúdo
enquanto homem. Falam à conveni ência, através da
razão.Levantam-se por sobre a
paixão, a violência, o instinto, o capricho. Dando-lhes obediência, o homem concretiza
sua liberdade existencial.
A consci
ência é adimensão onde ces
sa asoberania do suj
eito, não porsubm
issão a um
a
ordem exterior e incompreendida, mas por livre obediência ao próprio entendimento.
Esse poder que compele sem exercitar violência e que, obedecido, parece brotar de mim
mesmo é tão di
screto e desm
aiado queparenteme
a nte se de
svanece na real
idade.
Não obstante, o que se encerra em minha consciência é mais do que eu mesmo. E ess
“mais” fala através do enigma que, certa vez, tão profundamente marcou o homem n
acontecimento do Sinai. Quem poderia esquecer o Sinai, após a leitura da narração
bíblica? Perceber a importância do homem ancorada no fundamento das coisas,
ancorada no próprio Deus como enigma, revigora a consciência. E a mensagem
permanece mesmo após esapa
d recida a presença.
A semelhança da
s língua
s, os enigmas nos chega
m por tradição.
Não os inventamos;
apropriamo-nos deles.
a) Desde o período sumeriano (quarto milênio a. C.) têm sido elaboradas cosmologias.
A ordemda vida humana éreflexo daordemdas estrelas no ciclo imutávelseu
de eterno
movimento.
As invioláveis leis celestes são válidas para a existência humana, sempre
em colapso e sempre em reconstituição.
Os eventos humanos são eventos cósmicos.
O enigma de um Deus injusto e impiedoso, que faz o sol brilhar indiferentemente para
os bons e para os maus. torna-se, na Gnose antiga, o enigma de um criador sem merc
O mundo em que vivemos é despido de amor, caótico, irracional, de brilho enganador.
Nós, com nossas almas capazes de amor e de razão, somos centelhas de luz lançadas a
mundo por nef
asto desti
no. Aspiramos a de
ixar este undo
m pa
ra nos reuni
rmos a mu
Deus longínquo, ao Deus do amor que, entretanto, a ninguém pode socorrer neste
mundo.
c) O panteão
gregoé único naHistória,infinitoe maravilhosamente
claro.Nele,tudo
quantoexiste,tudo quanto é permitido ou ordenado, tudo que o homem pode ser se
oferece a nós através de divinos enigmas.
Zeus: o Único, rei dos deuses, ao qual todos os deuses devem submeter-se, mesmo
quando se reb elam, mas que está, por sua ve z, subm etido à Moira, ao Desti
no impessoal
a quenão seclama, nemse ora. m E segui da, Apoio, o deusdistantede tudo quanto é
vulgar, impuro, mó rbido, falso. Não se tra ta de uma força danatureza. Isento de
paixões, Apoio vive na pureza ena dignidade . Deus vigoroso,ovemj , belo,intangível,
ele brilha, destrói, repele e protege. Exige medidas e formas. Seus mandamentos dizem
Moderação,onhece-t
c e a ti mesmo, temconsc iência dequeés umhomem. Sócrates, o
filósofo,deu-lhe ouvidos. ele estálonge de ser o deu s único, sen hor daexistência. Ao
contrári
o, perma nece afastado da vida perturbada, sofrida e confusa. Age sobre sta e
vida, mas comela não secompromete. A seguir, Afrodite, de usanobre, que enobrece o
amor sexua l. E todos os ou tros de
uses, Atenas, Hera, Ártem is, os deuses olímpicos, os
deuses da na tureza, as náiades, as ninfas, as driades. Inesgotá vel coleção de nom es e
figuras! Todas as possibilidades e todos os fados do homem, todas as depravações e
todas as singularidades humanas — tudoera divinizado. Aceitand o tudo, ilmitava-se
tudo, e tudo se punha em questão.
Somente durante breve período foram esses deuses realidade. Os gregos atingiram se
apogeu enquanto homens: igualavam-se aos deuses. Enfrentavam-nos abertamente e
faziam-nos manifestarem-se não através de teólogos e sacerdotes, mas através de poet
e filósofos.
despida deViam-se no espe
realidade, lho dos
salvo eu
d se
para oss.humanistas
Pouco de
pois,que
tudovisam
de
sceuaaouma lembrança
prazer estético.
Não pode
mos transf
ormar-nos emgregos
. Mas ficarem
os em
pobreci
dos se gnorarm
i os
os deuses gregos e não os tivermos na conta de marcos significativos.
3. Talvez que hoje em dia os enigmas estejam entre as coisas que mais urgentement
dizem respeito à srcem e destino de nossa liberdade.
b) Vimos qua
is eram, para o mun
do, as conse
qüências da
s manifestaçõe
s da ilberdade
.
Entusiasmados pela idéia de liberdade, verificamos que essas conseqüências nos
colocam no caminho
da catástrofe.
Se parece
embora impossível tomar
aparentemente a via da liberdade,
impraticável, resta-nos
é-nos imposta a certeza
por dever de que essaa trilha
e corresponde noss
humanidade. Tal certeza a respeito de nosso destino estimula-nos a enfrentar a tarefa. O
fato de não nos sabermos capazes de realizá-la associa à tarefa uma incerteza que n
podemos evitar.
Então, os enigmas nos al
f am. Mostram
-nos que ão
n pode
mos dispensar um apoio
brotado do fundo das coisas, apoio de que jamais temos consciência e com que jamais
podemos efetivamente contar. É em tal apoio que nos fiamos, quando nos fiamos em
nós mesmos. Esperamos que ele não nos falte, na medida em que, com amor e verdade
fazemos o que está a nosso alcance para nos sentirmos dignos de nossa liberdade. N
temos a certeza de poder contar com o auxílio aguardado, mas os enigmas encorajam
nossa esperança.
Parece que não fazemos senão desempenhar papéis. E, sem embargo, no plano da
História, identificamo-nos a seses papéis. Ao mesmo tem
po, somos nã
e o somos esses
papéis.
Quando,
dizer, ememnossa
tais papéis,
casa, nos sentimos
como nós mesmos,
se, embora o mundo
srcinários se transforma,
de outras paragens, por assim
nele
encontrássemos abrigo.
Contudo, se, nos papéis, não nos sentimos nós mesmos, este mundo não é nosso mund
Só nos cabe esperar o pior. E, então, embora tenhamos preservado a certeza de noss
srcens, é como se, tendo abandonado a pátria distante,a este
chegássemos
mundo
estranho.
Quando nos tornamos — o mundo em sua realidade e nós em nossa srcem eterna —
estranhos e desajustados, sentimo-nos sacrificados, privados de realidade e fé, com um
liberdade que se despe de sentido.
5. Para muitas religiões, os deuses estavam fisicamente presentes neste mundo. Para a f
cristã,
Um o Deus
só hom transcendente
em, Jes se os
us, voltou deentre fêz m
homem.
ortos e éo Teve
Cristomorte
uscithorrível
ress e ressurreição
ado. Os quenisso gloriosa
crêem, vêem nisso um acontecimento histórico, suscetível de localização no tempo e no
espaço.
As ciências contesta
m a corporei
dade da Transcendência, porque acorpor
eidade é
realidade e a realidade é objeto de ciência e não de fé.
Em nossos dias, caberia cogitar de uma tarefa de caráter filosófico, mas semelhante à
teologia: o desvendamento filosófico das relações de cada um de nós para com os
enigmas. Esse estudo os focalizaria em meio a seus conflitos E transformaria em
presente o quefoi passado. A teologia, entreta
nto,é dogm
ática e e
s fundaemcrenças
;a
metafísica dos enigmas seria um mundo de contornos fluidos, fundado na totalidade. A
teologia é a dogmática da Igreja; a metafísica dos enigmas leria por bas e a
responsabilidade de cada filósofo (que não se funda em autoridade alheia), dentro do
quadro de três milênios de filosofia. A teologia une os crentes numa comunidade
institucional; a metafísica dos enigmas viveria com a humanidade e com cada qual dos
indivíduos.
XI .
O AMOR
1. O hino ao amor, escrito pelo apóstolo Paulo (Cor. I, XIII), assim se inicia: “Ainda
que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tivesse caridade seria como o
metal que soa ou como o címbalo que tine. E ainda que eu tivesse (...) conhecimento de
todos os mistérios e de toda ciência e ainda que tivesse toda a fé (...) e não tivesse
caridade, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos
pobres e ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridad
nada disso me aproveitaria.”
Sabemos, porém, o que seja o amor? Os sentidos da palavra são vários. Fala-se de amor
a Deus, ao sexo oposto, aos pais. aos filhos, aos companheiros de destino, à
humanidade, ao homem, aos greg
os, à pátria, a Kant, a Espinosa. Gostaríamos de sa
ber
e explicitar o que seja o amor. Não o conseguiremos.
Tentemos, não obstante.
Paulo conti
nua: “A caridade é paciente, écheia de bondade; não éinvejosa, nã
o trata
com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca seu
interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça (...).”
A s sentenças re
feridas seguem-se as seguintes palavras: (...)
“ mas folga coma verdade
(...) tudo crê e tudo espera (...).” Aqui se fala de uma emoção tumultuosa, que se dirige
para o não-objetivo. para o Transcendente. O amor do homem se expande ao infinito.
Paulo acrescen
ta: “Agora,pois, permanecema fé, a esp
erança e a ca
ridade, estas três,
mas a maior delas é a caridade.”
2. Diante do que deixei expresso, caberia a indagação: de que está você falando? De
coisas irreais ou, pelo menos, irrelevantes. O amor é o amor entre os sexos. Essa é a
força ea
r l e suprema. Aí temorigemtudo quecham amos am or. Aí está a fonte de toda
s
as concepções que, há milênios, se vêm desenvolvendo no espírito dos homens. Para
todas as teorias, o sexo é o espelho em que podemos divisar o amor. Para Platão, Eros
a força que engendra aatividade filosófica. No Antigo Testamento, o am or se x
epressa
na incontida sensualidade do Cântico dos Cânti cos. A literatura mística não passa de
uma torrente de erotismo. Comecemos, conseqüentemente, por dar atenção ao amo
sexual.
3. Psicofisicamente,
animal o homem
— que não indaga — oé homem
uma dasnão
espécies animais,
pode viver umamas, contrariamente
existência puramenteao
biológica.
O homem tem peculiar consciência de sua dignidade e é como se o sexo lhe diminuísse
tal dignidade — do que advém certo embaraço.
Para subsistir, o homem reclama regras sociais; e existe, entre outros, um ordenamento
que diz respeito à se
xualidade. Jamais reinou en
tre os hom
ens estado decompleta
promiscuidade (exceto e ocasionalmente em orgias que tinham, com freqüência, caráter
ritual).
A sexualidade
biologia, pelaé fisiologia
com um a todos
e pelaos res
se vivos. Sregulamentar
psicologia; uasfunções pode
m ser funções
essas es
tudada
s pe
la à higiene e à
cabe
medicina.
O erotismo é a infinita riqueza de formas que o espírito empresta à sexualidade. O ato
sexual torna-se arte. Ele e o que a ele conduz faz-se beleza.
, daOíndia,
Kamasutra
ensina as variações do prazer sexual e a , de Ovídio, mostra como levá-lo ao
Ars amandi
paroxismo.
Daí surge a instituição legal, amparada pelo Estado. O casamento, bem precioso, é um
dos milagres da História; é a ordem predominando sobre a sexualidade bruta, é o
reconhecimento de obrigações entre os esposos e para com os filhos.
Esse amor se projeta no tempo como o clarão de um relâmpago que ninguém percebe
Mas, para os que foram atingidos, revela-se o que existia desde a eternidade. É histórico
o amor enquanto fenômeno, mas sua história essencial não reside no tempo. Sua históri
é, com efeito,
poderosa sob a aforma
de uma repetição
de paixão infinita,
juvenil como de
na srcinalidade;
tranqüilidade sempre renovada,
da velhice, tão e
lembrança
expectativa a um só tempo.
Esse amor, consciente de ser uma presença da eternidade, altera a forma externa de s
realidade fundamentalmente imutável, na medida em que são percorridos os estágios da
vida.
Esse amor não é uma possessão. Cria os que se amam. porém não se coloca a serviç
deles. Eles não podem desejá-lo. Nem é possível demonstrar a existência do amor
quando ele é posto em dúvida. O amor não leva um sinal inconfundível. Não pede
reconhe
cimento. Aqueles aquem ele dado
é não orecebem
por mérito.
Externamente visto, esse amor aparece necessariamente como uma prisão. Parece
roubar, aos que se amam, a liberdade no tempo, colocando-os sob escravidão absoluta e
inquestionável. Passam eles a viver uma vida privada de história, porque sempre igual
Se verdadeiramente xistem,
e essas
pessoas que se amam aparecemcomo bizarras
figuras aos olhos de tercei
ros. A atitude fundamental que adotam — e que é
monotonamente a mesma — os leva a repetir na velhice avançada o que foi dito na
primeira juventude, de maneira igualmente irreal, igualmente vã, igualmente insensata
O que pretendem significar não tem realidade psicológica e não é, portanto, digno de fé
6. De que modo esse amor metafísico se manifesta no mundo? Não podendo ser
apontado como se aponta uma realidade, só pode ser equivocamente percebido. Ei
alguns exemplos:
A partir dessa
s distinções
, colocam
os perguntaspara as quais não há re
sposta
. Pode a
certeza do amor metafísico ser um erro causado pela paixão? Pode um parceiro infiel
destruir a fonte de amor que, com ele, se perdeu para quem o ama sinceramente? Ou
possível que os que se amam cheguem a um encontro verdadeiro, mesmo após a
experiência de um naufrágio erótico — entendendo que se pertencem desde a
eternidade, reconhecendo-se um ao outro, admitindo os erros cometidos, assumindo-
lhes a responsabilidade e buscando ultrapassá-los?
São indagações inquietantes a que não é possível dar resposta nem quando elas s
colocam em termos teóricos, nem quando brotam de dramas concretos.
Tocado por uma visão de beleza corporal, já maduro na juventude, embora apenas em
seu começo como realização no tempo, o amor metafísico se põe diante de uma
alternativa: estará destinado a resultar em quebra violenta de uma existência,
permanecendo irrealizado, não vivido, ou poderá vir a realizar-se?
Não há exemplo dessa perfeição no concreto do tempo. Não cabe imaginá-la. Na ordem
temporal, surgem as impurezas. Chocam-se os elementos do esquema. O amor
metafísico, que afastaria a contradição dos elementos, não chega a impor-se.
Por fazer parte da natureza, o homem abriga forças que se opõem àquela unidade. O
gregos ren
dem culto a Afrodite, deus
a dasexualidade, exaltadasob a for
ma dabeleza; a
Ártemis, que ncarna
e a repulsa ao sexual; a Hera, deu sa tutelar do m
atrimônio; a
Demeter, deusa-mãe, força universal de fecundidade e de destruição.
Eis, porém, como Demóstenes expõe o comportamento prático dos atenienses:
“Dispomos de hetairas para nosso entretenimento, de amantes de aluguel para satisfaç
de nossos corpos e, finalmente, de esposas, cujo dever é proporcionar-nos descendente
legítimos e dirigir os negócios domésticos”.
É a solução da
da por hom
ens que dispõem de mulheres pa
ra diferentes fins. Isso
degrada a mulher e torna o homem indigno desse nome, despoja uma e outro da própr
dignidade. Uma ordem puramente masculina é tão corruptora da natureza humana
quanto uma ordem exclusivamente feminina.
O humano deve ter precedência sobre o sexual. O homem e a mulher são, antes de tud
seres humanos e, só em seguida,
seres sexuados.
Posto em confronto com a magnitude dessa tarefa, o homem pode ser visto como
possibilidade sublime e como fonte da própria corrupção.
O amor que se revela no decurso de toda uma vida não projeta um padrão na realidad
pois cada par de amantes é único na maneira de ser engolfado pela liberdade e pelo
destino, de ser dilacerado pelo céu e pelo inferno.
9. Voltemos a noss
o ponto de rti
pada: queé o am
or? Mesmo no amor entre os sexos, o
amor é mais que os sexos. Tem sentido infinitamente
Exemplifiquemos.
vasto.
Fala-se do amor a Deus. O amor que tem por objeto um ser humano vê esse objeto
ainda que, sob a feição de amor metafísico, transcenda
O amor
o tempo.
a Deus não
encontra seu objeto neste mundo.
O “amor intellectualis”,Dei
de Espinosa, pretende significar que a razão pura — modo
supremo de conhecimento, superior à inteligência e via de liberdade para o homem —
se confunde com o amor a Deus. Espinosa não espera, entretanto, que Deus retribua o
amor. Com efeito, Deus não é um ser humano entregue ao amor e o amor espinosiano
desinteressado.
O amor iluminado pela razão filosófica, liga-se a uma confiança — inexplicável, sem
objeto, intelectualmente incompreensível — no fundamento último das coisas.
Não enumerarei os muitos outros objetos a que se dá o nome de amor. Para encerrar es
exposição, coloca-se o problema de saber se o amor repousa sobre algo que
apreendemos através de penetração nas suas múltiplas formas de manifestar-se.
Esse amor que abrange todas as espécies de amor, que ilumina a vida sexual mas de
não procede e, portanto, a ela não está ligado — esse amor não admite expressão
esclarecedora.
10. Entretanto, esse amor de que falamos como se soubéssemos o que ele seja, ess
amor único e abrangentequel
é ae em que somosutenti
a camente o que somos.
Esse amor, se perfeito e puro, seria razão exclusiva e suficiente de nossa vida. Um amo
perfeito dispensaria a lei moral e a ordem pública, porque a elas daria surgimento em
cada situação concreta e implicaria observância de seus preceitos. Sem embargo, o
homem, como ser racional e sensual, é incapaz de amor perfeito e o degrada e fere e
diminui e, por essa razão, precisa estar sujeito a restrições brotadas da ciência e da
consciência, mesmo quando ama. Se houvesse alguém capaz de viver na clarividência
do amor,
Como, ser-lhe-ia
porém, somosaplicável o dito desujeitos
todos homens, Santo ao
Agostinho:
engano e“ama e faze oexpostos
à cegueira, que quiseres”.
à ação d
forças hostis ao amor, não podemos viver sem restrições. Todo amor que, por exemplo,
transgri
da os Dez M andamentos, áj não será mor,
a mas, subjugado por paixões
estranhas, estará utilizando mentirosamente o rótulo do amor.
Tal o motivo por que não podemos recorrer ao amor para justificar uma conduta, uma
atitude, um juízo. Por ignorarmos o que é o amor, não podemos empregá-lo para a
realização de operações racionais.
E, apesar disso, toda justificação racional e qualquer vida conforme à lei moral, embora
essenciais para que vejamos claro, nada serão se não se realizarem através do amor e
amor irão encontrar o apoio melhor.
O amor não reconhe
ce instância que hl e esteja acima. Julga suas própri
as manifestaçõe
s,
recorrendo à consciência moral;
julga-as impiedosamente, mas com amor.
XII.
A MORTE
O nascimento é fato de que não se tem lembrança. Quem se reconhece existindo tem
impressão de que sempre existiu, de que desperta de um sono sem memória. Ouvir fal
do próprio nascimento não estimula qualquer recordação. Pessoa alguma guarda
experiência do início
seu
deexistir.
Estam
os todos desti
nados àmorte. Ignorando o ome
m nto emque lea virá, procedem
os
como se nunca devesse chegar. Em verdade, vivendo, não acreditamos realmente na
morte, embora ela constitua a maior de todas as certezas.
A consci ência puramente vital desconhe ce a morte. Épreciso quenos de mos conta da
morte,para queela se torne ma u rea lidade para nós. Apartir daí, transforma-se a morte
em uma situação-limite: aqueles que me são mais caros e eu próprio cessaremos d
existir. A resposta aessasituação-limite háde ser encontra
da na cons ciência existencial
de mim mesmo.
2. Costumamos dizer:
o que nasceu deve morrer.
A ciência biológica não se contenta
com isso. Gostaria de conhecer
o porquê.Sobreque processosvitais repousa tal
necessidade?Pensa-se em retardar o processo de envelhecimento
e chega-sea cogitar
de, controlandoos processos vitais que levam à morte (processos que um dia
conheceremos), atingir o ponto de poder manter vivo, pelo tempo que se deseje, tudo
quanto haja nascido.Ninguém, entretanto, duvida de que, mesmo prolongando
artificialmente a vida por tempo cada vez maior, a morte será, ao fim, inevitável. Como
o sexo, a morte faz parte da vida. Um e outra permanecem mistérios ligados à fonte de
nossa existência.
3. Tememos a morte.
Observe-se, porém, que a morte — o cessar de ser — e o ato de
morrer — cujo termo é a morte — provocam angústias muito diversas.
O temor da morte é o temor do nada. Não obstante, parece impossível afastar a idéia de
que à morte sucede uma outra existência.
O nada posterior ao fim não é efetivamente
um nada. Vida futura me aguarda.O temor da morte é o temor que após
do ela ocorre.
Tanto um como outro desses temores — o temor diante da morte e o temor do que
depois suceda — é sem base. O nada só o é face à realidade que existe no tempo e n
espaço. E, além disso, não há uma outra existência concreta frente à qual o temor se
justificasse. Mas, quer essa afirmação deixar assentado que carece de base a consciência
de imortalidade?
5. A morte do se
r que m
e é mais caro, a pri
vação desuaprese
nça física, o sof
rimento
infindável que brota do “nunca mais” pode, tanto quanto os momentos sublimes,
transformar-se em consciência de presença.
Como imagens desse “eterno retorno” absoluto, podem ser lembradas repetições
particulares, como a dos dias s a das estações. O tempo é absoluto. Tudo é temporal e
por isso mesmo, eterno, graças ao retorno.
O tempo cíclico e o tempo linear dão peso a nossos instantes, mas de maneiras diversas
No tempo cíclico, faz-se aquilo que se repete infinitamente — e permanece temporal.
No tempo linear, o que é eterno se resolve no tempo — e o tempo é ultrapassado. Em
ambos os casos, tudo se perde para só uma coisa permanecer — o retorno temporal ou
realidade intemporal.
Tempo linear e tempo cíclico são enigmas incompatíveis. O tempo cíclico torna
possível a idéia do “uma vez mais” por meio do eterno retorno, embora de um tempo a
outro não se transmita memória ou conhecimento. O tempo linear envolve a grave
questão de decidir o que é eterno no fenômeno histórico singular, muito embora a
eternidade e o fenômeno temporal não admitam um conceito comum de realidade.
Na concepção
preciso recorrercíclica,
à visãoo linear
tempopara
se mantém
chegar aabsoluto. É o intransponível
uma concepção último.
que se projete paraFaz-se
além d
tempo. Essa concepção nos leva a dizer: colocamo-nos diante de nós mesmos e diante
de nós se colocam todas as coisas; essa manifestação ocorre necessariamente no temp
não podemos fugir ao tempo do mundo; não há outro mundo real e investigável nem
anterior, nem posterior ao tempo, que seja também temporal. E é como se uma nov
dimensão se abrisse diante de nosso pensamento e de nossa experiência.
A temporalidade é o devir real, que não temcomeço, nemfim, nem origem, nem
propósito, nem existentes.
fundamento. Dela temos experiência no presente sensível em que nos
movemos enquanto
Ausência de te
mpo equi
vale a independência diante de qu
alquer espécie de te
mpo, tal
como se dá quando atuamos no campo das ciências lógicas e matemáticas. O teorema d
Pitágoras era válido antes de ser por ele descoberto e continuará a sê-lo mesmo quando
ninguém mais dele cogite. Temporal não é, portanto, o sentido do teorema, porém tão-
somente sua descoberta e o ato de refletir acerca de sua significação. Consegue-se
experiência da ausência de tempo pensando uma significação intemporal.
Não mais estou ligado a um objeto em si. Pelo contrário, enquanto consciência absoluta
e de acordo com os diferentes modos do abrangente, ligo-me aos objetos pensados
enquanto existente, estou ligado ao meio; enquanto existência, estou ligado à
Transcendência. Não sou, porém, sujeito nem objeto: em cada caso, sou o abrangente.
Na medida em que nada sou além de mini mesmo, sou o abrangente da existência e
assim, abarco todos os demais modos do abrangente.
Primeira: Reconhecendo-me a mim mesmo como ser empírico, torno-me claro a meus
próprios olhos, enquanto existente manifesto que se orienta num mundo que também
vai tornando de
possibilidade cada vez mais
a verdade claro. Quanto maior a clareza atingida, maior a
ser atingida.
Segunda: Essa mesma clareza me leva a tomar consciência de que estou como que num
prisão, prisão que se constitui no fato de o mundo tornar-se objetivo.
Essas duas posições se reúnem para constituir vontade de atingir orientação máxima
neste mundo e de ultrapassar essa orientação. Estando na prisão, estou, ao mesm
tempo, fora dela, ao me dar conta de que nela estou. Daí decorre o que adiante exponh
Libero-me do absolutismo das coisas. Facea facecomas coisas, sujeito aelas enquanto
existente, tomo consciência de mim como um ser que é, por assim dizer, anterior a elas.
9. Comessareviravolta,
altera-se
também
a atitude interior a respeito da morte.
A morte éo fim, como a vida é o com eço damanifestação tem poral. A imortalidade,
entretanto,
é sinônima de uma ete
rnidadeemque pa ssado euturo
f desa parecem . Apesar
de temporal, o momento, quando existencialmente realizado, participa da eternidade do
queabrangetodos os mpos.
te Aidéia de “ete
rnidade do instante” é contradi
tória. Busca
exprimir a verdade em que a realidade do que é corporal no tempo se confunde com
idealidade intemporal
do essencial
— eternidadedo real.
10. Conjecturas
(acerca, por exemplo,
do tempo,do retorno,
da eternidade)
não são
conhecimento
específico de algo, porém linguagem que nos diz ou não nos diz alguma
coisa.
Terceiro: Toda existência empírica está escravizada à morte. Contudo, o homem que,
em vida, adquire conhecimento da morte e reflete acerca da vida e não da morte, rom
a escravidão.
Resumamos:
É arrebatado de nossas mãos aquilo a que nos havíamos apegado como ciência ou com
conhecimento apoiado na fé.
Poderemos nós apreender, sob a forma de enigmas, nos mitos, aquilo que nos é
inacessível? Poderemos comunicar a nós mesmos, através do pensamento conceituai, o
que experimentamos, talvez, como uma certeza de nossa existência, mas que nos esca
desde que pretendamos capturá-lo
conhecimento?
pelo
Em seu Fédon, que emprestou coragem a homens inúmeros, Platão relata a morte d
Sócrates. E leva-o a exprimir, no dia de sua morte, idéias cuja verdade foi atestada pela
realidade dessa morte.
Por convincentes que lhe pareçam, as provas de imortalidade não satisfazem Sócrates.
Vocêsexperimentam, diz ele a seus amigos, o terrornfanti
i l de que o vent
o divida a
alma empedaços, assim que ela escapar do corpo. A criança que isso
n crê tentamos
fazer com que não tema a morte como se teme um espantalho. Essa criança — e todo
os homens continuam crianças — deve conseguir sua cura ajudada, dia após dia, por
fórmulas mágicas. E essas fórmulas mágicas são os mitos.
Depois de haver descrito, por meio de um mito, o destino das almas após a morte e de
ter mostrado que, na dependência de como agiram na vida, são lançadas ao Tártaro o
ascendem para a luz, Sócrates diz: “Neste gênero de problemas, nenhum homem sensa
procuraria provar a verdade absoluta do que eu disse... mas o que eu disse parece
corresponder a uma crença aceitável, digna de merecer nossa adesão. O risco por nós
assumido é razoável e, para tranqüilizar-se, o espírito reclama idéias desse gênero, qu
desempenham o papel de fórmulas mágicas.”
Ao morrer, reencontram
os nossos ortos
m queri
dos. Eles nos acolhem emseu meio. Não
nos vemos mergulhados no vazio do nada, mas na plenitude de uma vida
verdadeiramente vívida. Adentramos um sítio penetrado pelo amor, iluminado pela
verdade.
1. Seja a filosofia o que for, está presente em nosso inundo e a ele necessariamente s
refere.
Certo é que ela rompe os quadros do inundo para lançar-se ao infinito. Mas retorna ao
finito para aí encontrar seu fundamento histórico sempre srcinal.
Certo é que tende aos horizontes mais remotos, a horizontes situados para além do
mundo,
mesmo aa mais
fim de ali conseguir,
profunda no eterno,
meditação a experiência
terá sentido se não sedorelacionar
presente.à Contudo,
existêncianem
do
homem, aqui e agora.
A filosofia se dirige ao indivíduo. Dá lugar à livre comunidade dos que, movidos pelo
desejo de verdade, confiam uns nos outros. Quem se dedica a filosofar gostaria de se
admitido nessa comunidade. Ela está sempre neste mundo, mas não poderia fazer-s
instituição sob pena de sacrificar a liberdade de sua verdade. O filósofo não pode saber
se integra a comunidade. Não há instância que decida admiti-lo ou recusá-lo. E o
filósofo deseja, pelo pensamento, viver de forma tal que a aceitação seja, em princípio,
possível.
E surgem os detratores, que desejam substituir a obsoleta filosofia por algo de nino e
totalmente diverso. Ela é desprezada como produto final e mendaz de uma teologia
falida. A insensatez das proposições dos filósofos é ironizada. E a filosofia vê-se
denunciada como instrumento servil de poderes políticos e outros.
Muitos políticos vêem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas
e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão-somente usa
de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos.
Mais vale. portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá
desaparecessem as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensinem, meno
estarão os homens arriscados a se deixar tocar pela luz da filosofia.
Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o
que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus
concidadãos, do destino comum da humanidade.
Eis por que a filosofia não se transforma em credo. Está em contínua pugna consigo
mesma.
4. A dignidadedo hom
em reside em perceber verdade.
a Só a verdade o liberta e só a
liberdade o prepara, sem restrições, para a verdade.
Todo aquele que se dedica à filosofia quer viver para a verdade. Vá para onde for,
aconteça-lhe o que acontecer, sejam quais forem os homens que ele encontre e,
principalmente, diante do que ele próprio pensa, sente e faz — está sempre
interrogando. As coisas, as e
pssoas e ele próprio devemtornar- se claros aseus olhos.
ele nã
em o se
sua afasta da
busca deseu contacto.
verdade oAcontr
a ser felizári
o, ilusão.
na a ele se expõe. Eprefere e
s r desgraça
do
Torna-se mais clara do que nunca a questão que, desde o início, se pôs para o homem. O
“sim” para a vida é a grande e bela aventura, porque permite a realização da da razão,
verdadee do amor. O “não” existência,
à traduzido pelo suicídio, é a realidade paia
homens diante de cujo segredo permanecemos calados. Põe-se fronteira que não temo
o direito de esquecer.
Mas a filosofia está longe de ser impotente no que diz respeito Aí.ao
elaindivíduo.
constitui, muito ao contrário, a grande força que leva o homem a encontrar o caminho
para a liberdade. Só ela possibilita a independência interior. Ganho essa independência
exatamente quando e onde reço pa co mpletam
ente de
pendente, ou a,sejquando
reconheço que — em minha liberdade, em meu amor, em minha razão — fui dado a
mini mesmo. Nenhuma dessas coisas está ob
s meu pode
r, eu nã
o as af ço surgi
r. Mas
tudo quanto eu fizer
surgirdelasderivará.
Se atinjo o ponto em que sou dado a mim mesmo, distancio-me de rodas as coisas e
inclusive, de mim. Como que de um plano de observação externo a mim — em verdade,
inatingível
atingir — contemplo
aquele plano paraomergulhar
que acontece e o que histórica.
na realidade faço. É como
De lásejorra
me afosse preciso
luz que faz
crescer minha liberdade interior. Torno-me independente na medida em que vejo as
coisas a essa luz.
Essa independência é uma quietude, sem violência e sem orgulho. Tanto menos soberba
quanto mais segura de si Evidencia-se
mesma. permanecendo
obscuridade.
em
Na independência, a ibe
l rdadenão permanece vazia. Limitar-se a si mesmo não seria
independência. A independência quer parti
cipar do mundo. Age. Ouve erespond e aos
apelos da sorte. Não foge às exigências do dia. Quando o destino parece deter as rédeas
ousa envolver-se em situações de risco, na esperança de vir a dominá-las.
Não obstante, aceita sempre critérios que não pode trair porque provêm de sua mesm
srcem. Traí-los seria aniquilar-se.
7. A independência do filósofotorna
-se falsa qua
ndo se mescla de orgu
lho. No homem
autêntico, o sentimento de independência sempre se acompanha do sentimento de
impotência, o entusiasmo de poder sempre se acompanha do desespero de não poder,
esperança sempre se acompanha de um olhar lançado ao fim. Filosofar dá-nos lucidez
total acerca das várias formas de nossa dependência, mas de maneira tal que, em vez
permanecermos esmagados por nossa impotência, encontramos, a partir de nossa
independência,
meio de recuperação.
Invertam
os, por
ém, a escala de valores: o que há
de mais preci
oso no uni
verso é o
homem; na hierarquia das realidades, é o espírito; entre as massas, o indivíduo como el
próprio; entre as obras da natureza, as criadas pela arte humana. Se julgamos as coisa
de maneira diversa, é por sucumbirmos à tentação do quantitativo e renunciarmos ao
senso do humano.
b) O conjunto da História que ninguém pode conhecer, que não precisamos imaginar
necessariamente como uma totalidade — avassala-nos. O indivíduo sente-se indefeso.
Tudo o que ele é, é determinado por aquele conjunto. E ele deve curvar-se.
Entretanto, o que se passa com a humanidade passa-se como resultado das forças
ínfimas de bilhões de indivíduos. Cada um é responsável pelo que faz, pela maneira
como vive. Parece-nos que a História não tenha sentido, mas ela está penetrada de
razão.E essa razão depende de nós.
Permanece, porém, o fato de que diretamente real para nós é o meio que, de imediat
nos cerca. Nosso primeiro dever é para com ele. Quando desesperamos do futuro,
porque não podemos orientar o curso dos acontecimentos, ou quando nos exaurimos e
clamores vãos, como se disso dependesse o movimento do universo, estamos
esque
cendo o que
nos toca ai
ms de perto.Afirmamo-nos narealidadedessepeque
no
mundo que nos cerca. E, através dele, participamos do conjunto.
A bomba atômica pe
sa sobre todos nós.orPalgumtempo, ela conti
nuará a mpe
i dir a
grande conflagração que (não sabemos quando) provocará o aniquilamento total, se os
homens continuarem a ser o que são hoje.
Nossa época vive entre dois abismos. Compete-nos escolher: deixar-nos tombar no
abismo da ruína do homem e do universo, com a conseqüente extinção de toda vida
terrena, ou cobrar ânimo para nos transformarmos, dando surgimento ao homem
autêntico, ante o qual se abrirão possibilidades infinitas.
Ensina, pelo menos, a não nos deixarmos iludir. Não permite que se descarte fato algum
e nenhuma possibilidade. Ensina a encarar de frente a catástrofe possível. Em meio à
serenidade do mundo, ela faz surgir a inquietude. Mas proíbe a atitude tola de
considerar inevitável a catástrofe. Com efeito, apesar de tudo, o futuro depende também
de nós.
Não se confunde o declínio com o nada. Em meio ao desastre, a última palavra cabe ao
homem, que ama e conserva confiança incompreensível no fundamento das coisas.
Para falar sob forma de enigma: a srcem de que brotaram o universo, a terra, a vida, o
homem e a História encerra possibilidades que nos são inacessíveis. Enfrentando de
frente o desastre, asseguramo-nos dessas possibilidades.
Fazemos uma tentativa, à qual outras hão de seguir-se, continuadamente.
Mas,
presentes,
por um instante,
nessa tentativa, o amor e a verdade atestam tratar-se de mais
que uma tentativa. Uma palavra de eternidade foi pronunciada.
Mas, para ém
al de todos os eni
gmas, o pensam
ento pene
tra no
silencioplenode
insondável
razão.
FIM DO LIVRO