Artigo Bichectomia 2018
Artigo Bichectomia 2018
Artigo Bichectomia 2018
REVISÃO DE LITERATURA
RESUMO
A bola de Bichat é uma massa esférica de gordura encapsulada, situada no terço médio da
face, tornando o rosto mais arredondado. Sua principal função é mecânica, pois encontra-se
localizada entre dois músculos faciais que ajudam nos movimentos de mastigação e sucção,
tornando-se mais importante na infância. O presente trabalho trata-se de uma revisão de
literatura do tipo narrativa, onde foram consultadas as bases de dados da BVS e Pubmed,
utilizando os descritores bochecha, tecido adiposo e microcirurgia, incluindo publicações nos
idiomas português, inglês e espanhol, no período de 2006 a 2016. A remoção do corpo
adiposo bucal, consiste em uma cirurgia de fácil acesso, sob anestesia local, sem cicatrizes
visíveis e serve principalmente para ressaltar o terço médio da face, dando assim, aspecto de
face mais harmônica e delgada. Em razão ao prognóstico, ainda há escassez de estudos na
literatura a serem realizados a longo prazo.
ABSTRACT
The Bichat’s ball is a spherical mass of encapsulated fat, located in the middle third of the face,
making the face more rounded. Its main function is mechanics, because it is located between
two facial muscles that help in the movements of chewing and sucking, becoming more
important in childhood. The present work deals with a literature review of the narrative type,
where the BVS and Pubmed databases were consulted, using the descriptors cheek, adipose
tissue and microsurgery, including publications in Portuguese, English and Spanish in the
period from 2006 to 2016. Removal of the buccal adipose body consists of an easily accessible
surgery, under local anesthesia, with no visible scarring and serves mainly to highlight the
middle third of the face, thus giving a more harmonic and thin face appearance. Due to the
prognosis, there is still a shortage of studies in the literature to be performed in the long term.
1
Aluna de Graduação da ASCES-UNITA; e-mail: renata-ferreira2@hotmail.com;
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Orientador e Professor da Faculdade ASCES-UNITA; e-mail: silvafilhojp@hotmail.com
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INTRODUÇÃO
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favorecendo a atividade muscular e auxiliando também na proteção de estruturas
neurovasculares (ROCHA et al., 2015).
As bolas de gordura, situadas na bochecha, aumentam o terço inferior da face. A
Bichectomia que é o nome dado ao procedimento da remoção desta gordura, oferece uma
grande solução à pacientes que desejam diminuir o tamanho de suas bochechas e contorno
facial. Este procedimento pode ser realizado tanto em consultório, quanto em ambiente
hospitalar (STEVAO, 2015).
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre a
avaliação dos contornos faciais após a remoção da bola de Bichat.
REVISÃO DE LITERATURA
Segundo Magri e Maio (2016) a região do terço médio da face equivale a parte que
compõe um segmento bastante significativo em relação à beleza e uma característica de uma
face harmoniosa. A compreensão da harmonização facial e das estruturas que englobam
mudanças nesta área permitirão em sua particularidade, um diagnóstico preciso e
individualizado. O terço médio da face localiza-se entre a região supraorbital até a base do
nariz. Compreende duas áreas bem relevantes de concentração de volume e massa da face,
que são nariz e a projeção zigomático-malar.
O que estabelece a largura facial são primordialmente as projeções laterais. Para
haver uma harmonização facial, o terço superior e inferior quando analisada a face de frente,
devem estar em perfeita harmonia com a largura da mesma. O corpo adiposo situado na
região malar tem forma triangular, com seu ápice voltado à proeminência zigomática, por isso,
do limite dos olhos até a porção inferior do terço médio, geralmente há uma variação de
gordura em volume, mas, comumente expõe sobre a região zigomático-maxilar, uma
protuberância malar convexa (HADDOCK et al., 2009).
Em uma pesquisa, com auxílio de tomografias, Gierloff et al. (2012) utilizaram
contraste para realizar uma análise em faces de cadáveres, onde propôs diferentes
classificações nos compartimentos de gordura encontrados. Estes foram divididos em gordura
do terço médio da face, composta pela camada superficial que se constitui por gordura
nasolabial, gordura da bochecha medial e média, compartimento temporofrontal e três
compartimentos orbitais. E a profunda está constituída pela gordura infraorbicular e a gordura
da bochecha medial profunda. O compartimento de gordura bucal vai desde o espaço
paramaxilar profundo até o plano subcutâneo superficial inferior do osso zigomático.
O corpo adiposo bucal, é um tipo de gordura denominada “sissarcose” que tem a
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função de preencher o espaço mastigatório, auxiliar a mobilidade muscular e colaborar na
morfologia facial (ALLAIS et al., 2008). A gordura corporal é histologicamente compatível à
massa adiposa bucal, apesar que esta não é consumida em caso de emagrecimento, como
acontece em outras regiões do corpo (BERNARDINO JÚNIOR et al., 2008).
A formação da bola de gordura bucal inicia-se aproximadamente aos 3 meses de vida
intrauterina. Pode apresentar alguma variação, mas geralmente os lóbulos tendem a se formar
ao redor do plexo venoso que conecta as veias orbitais com as veias superficiais da face. Esta
área é encapsulada e cresce rapidamente. Por volta do fim do quinto mês intrauterino
completa a formação dos lóbulos, e a formação das células estarão completas antes do
nascimento da criança (SCHÜTZ, 2006).
Em análise da anatomia do corpo adiposo da bochecha, foi relatado que existe uma
porção principal e mais quatro prolongamentos dela, estes prolongamentos são denominados
como: bucal, massetérico, temporal superficial e profundo, e não coincidentemente receberam
esta nomenclatura, mas sim, por estarem intimamente relacionados com seus respectivos
músculos (FARIAS; CÂNCIO; BARROS, 2015). Anatomicamente, sua forma é alongada e
serve como almofada para facilitar o movimento de um músculo com o outro, nesse caso, os
músculos são o masseter e o bucinador (AMARAL et al., 2014).
A vascularização do corpo adiposo da bochecha é derivada do suprimento sanguíneo
derivado dos ramos temporal profundo e bucal da artéria maxilar, pelo ramo facial transverso
da artéria temporal superficial e por pequenas ramificações da artéria facial. O corpo adiposo
da bochecha encontra-se no espaço mastigatório, seu prolongamento bucal se encontra mais
superficial e em íntimo contato com o ducto de Stensen e com ramos zigomáticos e bucais do
nervo facial. Seu corpo principal repousa lateralmente ao músculo bucinador e na borda
anterior do músculo masseter. O prolongamento temporal passa abaixo do arco zigomático,
já a extensão pterigóide encontra-se na região do músculo pterigoideo medial e lateral
(FARIAS; CÂNCIO; BARROS, 2015).
A remoção do corpo adiposo bucal pode ser indicada na correção estética da face
(CAMARINI et al., 2007). E, segundo Stevao (2015), os termos bichectomia ou bichatectomia
são os mais corretos a serem utilizados, ou apenas cirurgia da bochecha, pois remetem ao
mesmo procedimento. Procedimento este, de remoção de uma peça anatômica que se
localiza na região da bochecha, que foi denominada de bola de Bichat. Paciente que se
encontra com excesso de peso e não está satisfeito com o seu contorno facial, é um candidato
a realizar este tipo de cirurgia, resultando assim em uma harmonização facial.
Segundo Camarini et al. (2007) a indicação estética do procedimento, e a remoção
das bolas de Bichat, melhoram o contorno facial. O mesmo afirma Stevao (2015) quando em
seu relato de caso, reconhece que a principal indicação da bichectomia é para faces com
circunferência excessiva, pois como se trata de um procedimento cirúrgico estético, dará ao
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rosto uma marcação no terço médio e o zigoma ficará em maior evidência. Dando uma
aparência mais jovial e mais estética, dentro de um equilíbrio harmonioso.
A extensão bucal do corpo adiposo da bochecha, localiza-se em íntimo contato com a
mucosa jugal, evidenciando uma vantagem para o procedimento cirúrgico, que se torna mais
simples de ser realizado (FARIAS; CÂNCIO; BARROS, 2015). O que confirma Stevao (2015)
quando relata que a bichectomia é um procedimento seguro, que pode ser realizado tanto em
consultório, quanto em hospital. Afirmando também que é de suma importância o diálogo entre
o cirurgião e o paciente, pois o profissional deve explicar diferentes questões relativas ao
procedimento, como riscos inerentes, custos, possíveis sangramentos e até mesmo sobre
infecção que pode ocorrer no pós-operatório.
Segundo Camarini et al. (2007) há variação anatômica de tamanho da peça, para cada
indivíduo e de cada lado da face. Já Laurentino Filho et al. (2012) relatam que mesmo os
pacientes mais caquéticos possuem o corpo adiposo bucal em tamanho e volume normais e
constantes. Para Rocha et al. (2015) a bola de Bichat possui aproximadamente volume de
10ml.
O acesso a bola gordurosa de Bichat é feito por uma pequena incisão, com um
comprimento não superior a 5mm, na mucosa jugal. O cirurgião deve ter bastante cautela ao
incisar esta área, e deve visualizar o orifício do ducto de Stensen para não correr o risco de
lesioná-lo. Ao alcançar a bola de Bichat com o auxílio de uma pinça hemostática, a mesma
deve ser comprimida e suavemente puxada para fora, com a ajuda de uma outra pinça
hemostática, pouco a pouco a massa de gordura é evidenciada, até que o pedículo seja
visualizado, e então a gordura é removida. Adicionalmente, pode-se colocar o sugador
cirúrgico no espaço que foi retirada a massa adiposa, para limpar qualquer remanescente de
gordura que tenha ficado na região (STEVAO, 2015)
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Figura 1 – Pinças hemostáticas são intercaladas durante a tração da bola de Bichat.
Fonte: (STEVAO, 2015).
Kopeć, Wierzbicka e Szyfter (2013) afirmam que problemas muito raros ou acidentes
durante o procedimento cirúrgico podem ocorrer. E pode acometer danos às estruturas nobres
como por exemplo, ducto de Stensen e sua abertura, bem como lesão do ramo do nervo bucal
do nervo facial.
Segundo Stevao (2015) na maioria das vezes, a sutura é simples e única, sendo
suficiente para fechar totalmente a incisão e a cirurgia é concluída. O procedimento dura em
média cerca de quinze a vinte e cinco minutos e a anestesia é local. Não há indicação para
enviar o espécime para exame histopatológico, a menos que qualquer aspecto diferente na
estrutura macroscopicamente seja observado.
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de tecidos contribui para o aparecimento da face envelhecida.
Para realizar o procedimento da bichectomia, o ideal é que o paciente tenha mais de
dezoito anos de idade, esteja fisicamente apto, não fumante, realista sobre os resultados que
podem ser alcançados com a cirurgia e tenha atitude positiva. Os benefícios da bichectomia
são em suma: bochechas mais finas, melhora do contorno facial, face mais harmoniosa com
osso zigomático mais proeminente, aumento da autoestima e maior autoconfiança (STEVAO,
2015).
Para Quispe Pari (2014) a harmonização do contorno facial e os resultados finais só
serão observados após três meses de cirurgia. E para Stevao (2015) os resultados geralmente
aparecem após quatro a seis meses, quando o edema é definitivamente reabsorvido.
Bernardino Júnior et al. (2008) afirmam que há uma vasta utilização da bola de Bichat,
o que torna o estudo e conhecimento deste achado anatômico de grande interesse aos xoto
cirurgiões de cabeça e pescoço.
A Bola de Bichat tem sido utilizada não somente para correção estética da face, bem
como para reconstruções pós-ressecção de tumores, reabilitação de pacientes fissurados e
pós-trauma, tratamento de fibrose submucosa bucal, recobrimento de enxertos para
implantes, enxerto para o fechamento de defeitos intrabucais, como as comunicações buco-
sinusais. Confirmando o resultado extremamente satisfatório da intervenção realizada que
utilizaram a bola de Bichat como técnica para o tratamento de extensa comunicação buco-
sinusal (SCARTEZINI; OLIVEIRA, 2016). Farias, Câncio e Barros (2015) também avaliaram o
método de enxerto e afirmam ser simples, rápido e de fácil acesso.
Como em qualquer procedimento cirúrgico, o paciente pode apresentar quadro de dor
no pós-operatório, para Peixoto et al. (2011) o limiar da sintomatologia dolorosa varia de
pessoa para pessoa, até mesmo quando oriunda do mesmo estímulo pode repercutir de
maneiras distintas. Sendo assim, o paciente deve ser assistido de forma individualizada, tendo
em vista que a escolha exata do fármaco para aquela situação é de suma importância, levando
em consideração a etiopatogenia da dor, a condição sistêmica do paciente e qualquer outro
fator intrínseco ou extrínseco que possa agravar o quadro do paciente. Há algumas maneiras
para dominar e tratar a dor no pós-operatório, cabe ao profissional buscar a melhor estratégia.
Para Stevao (2015) a terapêutica medicamentosa é regularmente prescrita,
juntamente com intensas crioterapias na área durante 24 a 48 horas após o procedimento
cirúrgico. O uso de antibióticos durante cinco a sete dias, também pode ser uma boa opção
quando a gordura não for removida em apenas uma peça.
CONCLUSÃO
Com base nos aspectos avaliados na literatura, pode-se concluir que o terço médio da
face após a remoção da gordura da bola de Bichat, além de trazer um conforto emocional aos
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pacientes, ressalta a região malar, fazendo com que haja uma harmonização no contorno
facial. O ato cirúrgico é relativamente simples e de fácil realização, pois o cirurgião dentista
tem amplo conhecimento da anatomia na região onde se encontra encapsulada a gordura.
Ainda assim, o planejamento cirúrgico é de suma importância para um resultado satisfatório,
no qual o paciente deve estar ciente quanto ao resultado a ser alcançado. Não foram
observadas contraindicações, apesar da bola de Bichat ter como principal função a mecânica.
Em razão do prognóstico, ainda há escassez de estudos mais aprofundados na literatura a
serem realizados a longo prazo. Porém, foi observado que os resultados dos contornos faciais
serão constatados de três a seis meses após a realização do procedimento cirúrgico.
REFERÊNCIAS
AMARAL, M. F. et al. Oroantral fistulas closure using Bichat's fat pad. Revista Gaúcha
de Odontologia, Campinas, v. 62, n. 4, p. 437-442, dez. 2014. Disponível
em: <http://dx.doi.org/10.1590/1981-8637201400040000132219>. Acesso em: 11 maio
2017.
HADDOCK, N. T. et al. The tear trough and lid/cheek junction: anatomy and implications for
surgical correction. Plastic and Reconstructive Surgery, v. 123, n. 4, p. 1332-
1340, abr. 2009. Disponível
em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19337101>. Acesso em: 14 maio 2017.
KOPEĆ, T.; WIERZBICKA, M.; SZYFTER, W. Stensen's duct injuries: the role
of sialendoscopy and adjuvant botulinum toxin
injection. Wideochir Inne Tech Maloinwazyjne, v. 8, n. 2, p. 112-116, jan. 2013. Disponível
em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3699770/>. Acesso em: 13 maio 2017.
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ROCHA, J. F. et al. Cierre de fístula buco-sinusal con injerto pediculado de la bola adiposa
de Bichat: Protocol propuesto. Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial,
v. 15, n. 1, p. 29-34, jan./mar. 2015. Disponível
em: <http://www.revistacirurgiabmf.com/2015/1/Artigo%2004%20-
%20Cierrede%20fistula.pdf>. Acesso em: 18 maio 2017.
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