Descobrindo Apocalipse Por Capítulos

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APOCALIPSE

Original em inglês:

REVELATION -

The Revelation of St. John the Divine

Commentary by A. R. Faussett

Tradução: Carlos Biagini

Introdução Apocalipse 6 Apocalipse 12 Apocalipse 18

Apocalipse 1 Apocalipse 7 Apocalipse 13 Apocalipse 19

Apocalipse 2 Apocalipse 8 Apocalipse 14 Apocalipse 20

Apocalipse 3 Apocalipse 9 Apocalipse 15 Apocalipse 21

Apocalipse 4 Apocalipse 10 Apocalipse 16 Apocalipse 22

Apocalipse 5 Apocalipse 11 Apocalipse 17


Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

AUTENTICIDADE — O autor chama-se a si mesmo João


(Ap_1:1, 4, 9; Ap_22:8). Justino Mártir [Dialogue with Trypho, p. 308]
(139-161 d.C.) cita o Apocalipse como obra do apóstolo João, a profecia
do milênio dos santos, a ser seguido pela ressurreição geral e o juízo.
Este testemunho de Justino é referido também por Eusébio
(Ecclesiastical History, 4.18). Justino, na primeira metade do século
dois, teve uma controvérsia com Trifo, judeu erudito, em Éfeso, onde
João tinha vivido fazia uns trinta ou trinta e cinco anos; ele diz que a
“revelação tinha sido dada a João, um dos doze apóstolos de Cristo.”
Melito, bispo de Sardes (ao redor de 171 d.C.), uma das “sete igrejas”, e
assim sucessor de um dos “sete anjos”, escreveu, diz Eusébio
(Ecclesiastical History, 4.26), tratados sobre o Apocalipse de João. O
testemunho do bispo de Sardes é tanto mais imparcial quanto tal igreja
foi uma das mais severamente reprovadas (Ap_3:1). Assim também
Teófilo de Antioquia (como ano 180), segundo Eusébio (Ecclesiastical
History, 4.26), citou testemunhos do Apocalipse de João. Eusébio diz o
mesmo de Apolônio, quem viveu na Ásia Menor no fim do segundo
século. Irineu (como 180 d.C.), ouvinte do Policarpo, o discípulo de João
e o suposto anjo da Igreja de Esmirna (segundo o arcebispo Usher), cita
repetidas vezes o Apocalipse o mais decididamente como a obra do
apóstolo João (Against Heresies, 4.20.11; 4.21.3; 4.30.4; 5.36.1; 5.30.3;
5.35.2). Em (5.30.1), aludindo ao número místico da besta, seiscentos e
sessenta e seis (Ap_13:18), achado em todas as cópias antigas, diz: “Não
aventuramos uma teoria confidente referente ao nome do Anticristo;
porque se tivesse sido necessário que seu nome fosse proclamado
abertamente na atualidade, teria sido declarado por aquele que viu a
visão apocalíptica; porque foi vista não faz tanto tempo atrás, mas sim
quase em nossa geração, pelo fim do reinado de Domiciano”. Em sua
obra Against Heresies, publicada dez anos depois do martírio de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 3
Policarpo, ele cita o Apocalipse vinte vezes, e faz longos extratos dele
como de Escritura inspirada.
Estes testemunhos de pessoas contemporâneas com os eventos
imediatos de João, e mais ou menos vinculadas com a região das sete
igrejas às quais se dirigiu o Apocalipse, são os mais convincentes.
Tertuliano, da África do Norte (perto de 220 d.C.) Against Marcion,
3.14, cita a descrição por João no Apocalipse da espada que saía da boca
do Senhor (Ap_19:15) e da cidade santa (Apocalipse 21). Comp. On the
Resurrection of the Flesh [27]; A Treatise on the Soul, [8, 9, etc.]; The
Prescription Against Heretics [33]. O fragmento de Muratori do cânon
(cerca de 200 d.C.), faz saber que João escreveu às sete igrejas. Hipólito,
bispo de Óstia, perto de Roma (perto do 240 d.C.), On Antichrist, p. 67,
cita Ap_17:1-18 como a escritura do apóstolo João. Entre as obras de
Hipólito, está especificado no catálogo sobre sua estátua, um tratado
“sobre o Apocalipse e o Evangelho segundo João”. Clemente de
Alexandria (cerca de 200 d.C.), Miscellanies, 6.13, alude aos vinte e
quatro tronos onde estão assentados os anciãos mencionados por João no
Apocalipse (Ap_4:5); também em Who Is the Rich Man Who Shall B
Saved?, 42, menciona o retorno de João de Patmos a Éfeso depois da
morte do tirano romano. Orígenes (cerca de 233 d.C.), Commentary on
Matthew, em Eusébio, Ecclesiastical History, 6.25, menciona João como
autor do Apocalipse, sem expressar dúvida alguma a respeito de sua
autenticidade; também em tal Commentary on Matthew, (16.6), cita
Ap_1:9, e diz: “Parece que João viu o Apocalipse na ilha de Patmos”.
Vitorino, bispo do Petau de Panônia, quem sofreu o martírio sob
Diocleciano em 303 d.C., escreveu o primeiro comentário atualmente em
existência sobre o Apocalipse. Embora a antiga versão siríaca (Peshita)
não contém dito livro, entretanto Efrém, o Ciro (cerca de 378 d.C.) cita
frequentemente o Apocalipse como canônico, e o atribui a João.
Sua canonicidade e inspiração (segundo um comentário de Andréas
de Capadócia) estão testemunhadas por Papias, ouvinte de João e
companheiro de Policarpo. Papias era bispo de Hierápolis, perto de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 4
Laodiceia, uma das sete igrejas. Wordsworth conjetura que um
sentimento de vergonha, por causa das repreensões no Apocalipse para
com Laodiceia, pode ter agido sobre o Concílio de Laodiceia, de modo
que omitisse o Apocalipse da lista de livros de leitura pública. A Epístola
das igrejas de Lyons e Viena às igrejas da Ásia e Frígia (Eusébio,
Ecclesiastical History, 5.1-3), durante a perseguição sob Marco Aurélio,
77 d.C., cita Ap_1:5; Ap_3:14; Ap_14:4, Ap_22:11, como Escritura.
Cipriano (cerca de 250 d.C.) também, em Epistle 13, cita Ap_2:5 como
Escritura, assim como em Epistle 25, ele cita Ap_3:21, como da mesma
autoridade que o Evangelho. (Para outros exemplos, veja-se
Prolegômenos de Alford, de quem se derivou principalmente este
resumo de evidências). Atanásio, em sua Epístola Festival, enumera o
Apocalipse entre as Escrituras canônicas, às quais ninguém deve
acrescentar nem tirar. Jerônimo (Epistle to Paulinus) inclui o Apocalipse
no cânon, e diz: “Tem tantos mistérios como palavras. Faltam as
palavras para louvar seus méritos. Em cada uma de suas palavras se
dissimulam muitos sentidos”. De modo que uma cadeia ininterrupta de
testemunho do período apostólico confirma a canonicidade e a
autenticidade do Apocalipse de João.
Os Alogi (Epifânio, Heresies, 51) e Caio o presbítero romano
(Eusébio, Ecclesiastical History, 3.28), pelo fim do século dois e
princípios do terceiro, rejeitaram o Apocalipse de João por razões
meramente capciosas. Caio, segundo Jerônimo (On Illustrious Men),
perto de 210 d.C., atribuía-o a Cerinto, pela razão de que sustentava o
reinado milenial sobre a terra. Dionísio de Alexandria menciona a muitos
anteriores a seu tempo que o rejeitavam por sua obscuridade, e porque
parecia sustentar o dogma de Cerinto de um reinado terrestre e carnal;
pelo qual o atribuía a Cerinto. Este Dionísio, discípulo de Orígenes e
bispo de Alexandria (247 d.C.), admite a inspiração do livro (Eusébio,
Ecclesiastical History, 7.10), mas o atribui a outro João distinto de João,
o apóstolo, com base na diferença de estilo e caráter, em comparação
com o Evangelho e Epístola de João, como também porque o nome de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 5
João é mencionado várias vezes no Apocalipse e sempre se cala no
Evangelho e na Epístola; além disso, a Epístola nem faz alusão ao
Apocalipse, nem o Apocalipse à Epístola; e o estilo não é grego puro,
mas sim abunda em barbarismos e solecismos. Eusébio vacila em sua
opinião (Ecclesiastical History, 24.39) a respeito de se deve ou não deve
ser classificado entre as Escrituras de indubitável canonicidade. Sua
antipatia fazia a doutrina milenial inconscientemente o inclinaria em sua
opinião do Apocalipse. Cirilo de Jerusalém (386 d.C.), (Catechetical
Lectures, 4.35, 36), omite o Apocalipse ao enumerar as Escrituras do
Novo Testamento a ser lidas assim particular como publicamente. “Tudo
o que não se lê nas igrejas, não as vês nem a sós; os apóstolos e antigos
bispos da Igreja que nos transmitiram eram muito mais sábios que tu”.
Vemos porque no tempo de Cirilo não se lia o Apocalipse nas Igrejas.
Entretanto, em Catechetical Lectures, 1.4 ele cita Ap_2:7, Ap_2:17; e
em Catechetical Lectures, 1; 15.13 ele tira de Ap_17:11 a declaração
profética de que o rei que há de a três reis (Dn_7:8, Dn_7:20) é o oitavo
rei. Deste modo, nos caps. 15 e 27 cita Ap_12:3-4. Alford conjetura que,
em algum período, Cirilo mudou sua opinião, e que estas referências ao
Apocalipse representam faltas de memória, pelo que retinha a
fraseologia que pertencia a suas opiniões anteriores, não às subsequentes.
O 60º cânon (se for genuíno) do Concílio de Laodiceia dos meados do
século quatro omite o Apocalipse dos livros canônicos.
A Igreja Oriental em parte duvidava do Apocalipse; a Ocidental,
depois do século cinco o reconhecia universalmente. Cirilo de
Alexandria, (On Worship, 146), embora admita o fato de que alguns
duvidavam de sua genuinidade, ele mesmo o aceita como
indubitavelmente obra de João. Andréas de Cesareia, de Capadócia,
reconheceu-o como genuíno e canônico, e escreveu o primeiro
comentário completo e conectado de tal livro. As origens da dúvida
parecem ter sido: (1) o antagonismo de muitos contra o milenialismo,
exposto nele; (2) a obscuridade e o simbolismo que fizeram com que não
se lesse nas igrejas e que não se ensinasse aos meninos. Mas a tradição
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mais primitiva está inequivocamente em seu favor. Numa palavra, a
evidência objetiva o apoia decididamente; os únicos argumentos contra
ele parecem ter sido subjetivos.
As notas pessoais de João ocorrem em Ap_1:1, 4, 9; Ap_22:8.
Além disso, o fato de o autor dirigir-se às igrejas da Ásia Proconsular
(Ap_2:1) concorda com a tradição corrente de que, solto João de seu
desterro em Patmos, por ocasião da morte de Domiciano, sob Nerva
residiu por muito tempo em Éfeso, onde morreu no fim no tempo do
Trajano (Eusébio, Ecclesiastical History, 3.20, 23). Se o Apocalipse não
fosse a obra inspirada de João, significando como significa que é uma
mensagem de seu superior às sete igrejas da Ásia Proconsular, sem
dúvida teria sido rejeitado naquela região; enquanto que os primeiros
testemunhos em tais igrejas estiveram todos a seu favor. Uma só pessoa
tinha o direito de usar linguagem de autoridade tal como aquela dirigida
aos sete anjos das igrejas, ou seja, João, como o último apóstolo
sobrevivente e superintendente de todas as igrejas. Também, concorda
com o modo de João de confirmar a certeza de seu testemunho tanto no
princípio como no fim de seu livro (veja-se Ap_1:2, 3, e Ap_22:8, com
Jo_1:14; Jo_21:24; 1Jo_1:1-2). Outra vez, concorda com a opinião de
que o escritor era apóstolo inspirado que se dirige aos anjos, ou
presidentes das várias igrejas no tom de um superior que se dirige a
inferiores. Além disso, ele louva à Igreja de Éfeso por ter julgado e
condenado a “os que se dizem apóstolos e não o são”, pelo qual expressa
sua própria prerrogativa indubitável da inspiração apostólica (Ap_2:2),
declarando nas sete epístolas a vontade de Cristo que foi revelada.
Quanto à diferença de estilo, em comparação com o Evangelho e a
Epístola, a diferença de tema em parte a explica; as visões do vidente,
transportado como estava para além da região dos sentidos, relatadas
propriamente em forma abrupta de expressão, e livres das regras
gramaticais que regem em seus escritos de caráter mais calmo e mais
pensado. Além disso, sendo como era hebreu galileu, João, escrevendo
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uma Revelação semelhante às profecias do Antigo Testamento,
naturalmente se voltou ao estilo hebraico deles.
Alford observa, entre os característicos de semelhança entre o estilo
do Apocalipse e o do Evangelho e a Epístola de João:
(1) o nome característico dado a nosso Senhor, peculiar a João
exclusivamente, “o Verbo de Deus” (Ap_19:13, com Jo_1:1; 1Jo_1:1).
(2) a frase “o vencedor” (Ap_2:7, Ap_2:11, Ap_2:17; Ap_3:5,
Ap_3:12, Ap_3:21; Ap_12:11; Ap_15:2; Ap_17:14; Ap_21:7, com
Jo_16:33; 1Jo_2:13-14; 1Jo_4:4; 1Jo_5:4-5).
(3) O termo grego (alethinós) para “verdadeiro”, em contraposição
ao que é obscuro e irreal (Ap_3:7, Ap_3:14; Ap_6:10; Ap_15:3;
Ap_16:7; Ap_19:2, Ap_19:9, Ap_19:11; Ap_21:5; Ap_22:6). Este
termo, usado uma só vez por Lucas (Lc_16:11), quatro vezes por Paulo
(1Ts_1:9; Hb_8:2; Hb_9:24; Hb_10:22), acha-se nove vezes no
Evangelho de João (Jo_1:9; Jo_4:23, Jo_4:37; Jo_6:32; Jo_7:28;
Jo_8:16; Jo_15:1; Jo_17:3; Jo_19:35), duas vezes na Primeira Epístola
(1Jo_2:8, 1Jo_5:20), e dez vezes no Apocalipse (Ap_3:7, Ap_3:14;
Ap_6:10; Ap_15:3; Ap_16:7; Ap_19:2, Ap_19:9, Ap_19:11; Ap_21:5;
Ap_22:6).
(4) O diminutivo grego para “Cordeiro” (arníon, lit., cordeirinho)
ocorre vinte e nove vezes no Apocalipse, e o único outro lugar onde
ocorre é em Jo_21:15. Só nos escritos de João Cristo é chamado
diretamente “o Cordeiro” (Jo_1:29, Jo_1:36). Em 1Pe_1:19, é chamado
“como um cordeiro sem mancha”, aludindo a Is_53:7. Deste modo o uso
do vocábulo “testemunho” Ap_1:2, Ap_1:9; Ap_6:9; Ap_11:7, etc.;
comp. Jo_1:7-8, Jo_1:15, Jo_1:19, Jo_1:32; 1Jo_1:2; 1Jo_4:14; 1Jo_5:6-
11). “Guardar a palavra”, ou “mandamentos” (Ap_3:8, Ap_3:10;
Ap_12:17, comp. com Jo_8:51, Jo_8:55; Jo_14:15). A asseveração da
mesma coisa positiva e logo negativamente (Ap_2:2, Ap_2:6, Ap_2:8,
Ap_2:13; Ap_3:8, Ap_3:17-18; com Jo_1:3, Jo_1:6-7, Jo_1:20;
1Jo_2:27-28). Comp. também 1Jo_2:20, 1Jo_2:27 com Ap_3:18, quanto
à unção espiritual. Os solecismos aparentes de estilo são atribuíveis
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 8
àquela elevação Inspirada que está acima das meras regras gramaticais, e
estão destinados a captar a atenção do leitor pela peculiaridade da frase,
de maneira que se detenha e esquadrinhe alguma verdade profunda que
possa haver. O ardor do escritor inspirado que trata um assunto que
transcende a qualquer outro, eleva-o acima de toda aderência servil às
regras ordinárias, de modo que às vezes passa de uma construção
gramatical a outra, conforme vai expondo graficamente a coisa descrita
perante os olhos do leitor. Isto não se deve à ignorância da gramática,
porque João “desdobrou um conhecimento de regras gramaticais em
outras construções muito mais difíceis”. [Winer]. Dá-se mais atenção à
conexão do pensamento que à conexão meramente gramatical. Deve
tomar-se em conta outra consideração, e é que porquanto as duas quintas
partes totalmente é linguagem de outros, ele amolda seu estilo conforme.
Veja-se Tregelles: Introduction to Revelation from Heathen Authorities.
Tregelles diz bem (New Testament Historic Evidence): “Não há
livro do Novo Testamento do qual tenhamos testemunhos tão claros,
amplos, e numerosos como os que temos a favor do Apocalipse. Quanto
mais intimamente se relacionavam as testemunhas a João (como no caso
de Irineu), tanto mais explícito é seu testemunho. Que prevalecessem
dúvida em épocas posteriores devem ter-se originado ou na ignorância
do testemunho primitivo, ou se não, em alguma suposta intuição do que
o apóstolo deveria ter escrito. As objeções baseadas no estilo interno não
podem ter peso contra a evidencia efetiva. É em vão que se argua, a
priori, que João não pôde ter escrito este livro, quando temos a evidência
de várias testemunhas competentes de que ele o escreveu.”

A RELAÇÃO DO APOCALIPSE COM O RESTO DO CÂNON —


Gregório de Nissa (tomo 3, pág. 601), chama Revelação “o último livro
da graça”. Completa o volume da inspiração, de modo que não temos
que esperar nenhuma revelação mais até que o retorno do próprio Cristo.
Apropriadamente o último livro para fechar o cânon foi escrito por João,
o último apóstolo sobrevivente. O Novo Testamento compõe-se dos
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 9
livros históricos, os Evangelhos e os Atos; as Epístolas doutrinárias; e
um livro profético, o Apocalipse. O mesmo apóstolo escreveu o último
dos Evangelhos, e provavelmente a última das Epístolas, e o único livro
profético do Novo Testamento. Todos os livros do Novo Testamento
tinham sido escritos e eram lidos nas assembleias das igrejas, uns anos
antes da morte de João. Sua vida foi prolongada providencialmente a fim
de que desse o final atestado à Escritura. Perto do ano cem, os bispos da
Ásia (os anjos das sete igrejas) vieram a João em Éfeso, trazendo
exemplares dos três Evangelhos, de Mateus, Marcos, e Lucas, e
desejaram dele uma declaração de seu critério apostólico a respeito dos
mesmos; pelo que os pronunciou autênticos, genuínos, e inspirados, e ao
pedido deles acrescentou seu próprio Evangelho para completar o
aspecto quádruplo do Evangelho de Cristo (veja-se o Cânon do Muratori
(Fragment on the Canon of Scripture); Eusébio (Ecclesiastical History,
3.24); Jerônimo (Commentary on Matthew); Victorinus on the
Apocalypse; Teodoreto (Ecclesiastical History, 39). Um clérigo grego,
chamado Allatius, chama o Apocalipse “o selo de toda a Bíblia”. O
cânon estaria incompleto sem o Apocalipse. A Escritura é um todo
completo, seus livros componentes escritos durante um período de mais
de 1.500 anos, estando mutuamente relacionados. A unidade de
propósito e de espírito atravessa o todo, de tal modo que o fim é a
necessária consequência do centro, e o centro do princípio. O Gênesis
apresenta perante nós o homem e a noiva na inocência e bem-
aventurança, seguido pela queda do homem devido à sutileza de Satanás,
e a consequente miséria do homem, sua exclusão do Paraíso e da árvore
da vida e dos rios deleitosos. A Revelação apresenta em ordem inversa o
homem, antes exposto ao pecado e à morte, mas depois feito vencedor
pelo sangue do Cordeiro; o primeiro Adão e Eva, representados pelo
segundo Adão, Cristo e a Igreja, sua esposa imaculada, no Paraíso com
livre acesso à árvore da vida e à cristalina água da vida que surge do
trono de Deus. Como o Gênesis predisse o esmagamento da cabeça da
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 10
serpente pela semente da mulher (Gn_3:15), assim o Apocalipse declara
o cumprimento final de tal predição (Apocalipse 19, 20).

LUGAR E DATA — As mais reconhecidas autoridades declaram


que João foi banido sob Domiciano (Irineu, Against Heresies, 5.30;
Clemente de Alexandria; Eusébio (Ecclesiastical History, 3.20). Vitorino
disse que teve que trabalhar nas minas de Patmos. Por ocasião da morte
de Domiciano, 95 d.C., voltou para Éfeso sob o imperador Nerva. É
provável que fosse imediatamente depois de seu retorno quando
escrevesse, sob a inspiração divina, o relato das visões que lhe foram
concedidas em Patmos (Ap_1:2, 9). Entretanto, Ap_10:4 parece indicar
que escreveu as visões imediatamente depois de tê-las visto. Patmos é
uma das Esporádes. Sua circunferência é de cerca de cinquenta
quilômetros. “Era próprio que quando era impedido de ir para além de
limites terrestres, fosse-lhe permitido penetrar nos secretos do céu”.
[Beda, Explanation of the Apocalypse on chap. 1]. Os seguintes
argumentos favorecem uma data anterior, quer dizer, sob Nero: (1)
Eusébio (Demonstration of the Gospel) junta na mesma proposição o
desterro de João com o apedrejamento de Tiago e a decapitação de
Paulo, ocorridos sob Nero. (2) O relato de Clemente de Alexandria do
ladrão restaurado por João, depois que correu atrás dele e o alcançou
com dificuldade, concorda melhor com o João de idade mais jovem que
o que tinha sob Domiciano, de perto já de 100 anos. Aretas, no século
seis, aplica o sexto selo à destruição de Jerusalém (70 d.C.) por Nero, o
César. Laodiceia foi destruída por terremoto em 60 d.C., mas foi
imediatamente reedificada, de modo que o ser ela “rica e aumentada em
bens” não é incompatível com o fato de o livro ter sido escrito durante a
perseguição neroniana (64 d.C.).
Mas as possíveis alusões a ela em Hebreus fazem possível uma data
anterior à destruição de Laodiceia, ou seja: Hb_10:37, compare-se
Ap_1:4, Ap_1:8; Ap_4:8; Ap_22:12; Hb_11:10; comp. Ap_21:14;
Hb_12:22-23; comp. Ap_14:1; Hb_8:1-2; comp. Ap_11:19; Ap_15:5;
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 11
Ap_21:3; Hb_4:12; comp. Ap_1:16; Ap_2:12, 16; Ap_19:13, 15;
Hb_4:9, comp. Apocalipse 20; também 1Pe_1:7, 1Pe_1:13; 1Pe_4:13,
com Ap_1:1; 1Pe_2:9 com Ap_5:10; 2Tm_4:8, com Ap_2:26, 27;
Ap_3:21; Ap_11:18; Ef_6:12 com Ap_12:7-12; Fp_4:3 com Ap_3:5;
Ap_13:8; Ap_17:8; Ap_20:12, 15; Cl_1:18 com Ap_1:5; 1Co_15:52
com Ap_10:7; Ap_11:15-18. Diz-se que Cerinto morreu antes que João:
como ele tirou do livro de João muito material para seu pseudo-
apocalipse, é provável que aquele fosse de uma data anterior ao reinado
de Domiciano. Veja-se Tilloch, Introduction to Apocalypse. Mas a
bênção joanina (Ap_1:4) indica que foi escrito depois da morte de Paulo
sob Nero.

OS DESTINATÁRIOS — A inscrição afirma que foi dirigido às


sete igrejas da Ásia, isto é, a Ásia Proconsular. A razão de João para
escolher o número sete (pois havia mais de sete igrejas na região
indicada, por exemplo, as de Magnésio e Tralles), foi, sem, dúvida
porque sete é o número sagrado que expressa totalidade e universalidade:
de modo que está implícito que João, por meio das sete igrejas, dirige-se
no Espírito, à Igreja de todos os lugares e tempos. A igreja em seus
vários estados de vida ou de morte espiritual, de todas as épocas e
lugares, está representada pelas sete igrejas, e por conseguinte são
dirigidas a ela as palavras de consolo e de admoestação. Apenas Esmirna
e Filadélfia são honradas com louvor puro, como fiéis na tribulação e
ricas em boas obras. Heresias de gênero distinto já se levantaram nas
igrejas da Ásia, e o amor de muitos se esfriou, enquanto que outros
tinham progredido a maior zelo, e um tinha selado seu testemunho com
seu sangue.

O OBJETIVO — Principia com admoestações às sete igrejas de


parte do divino Filho do homem, a quem João viu em visão, depois de
uma breve introdução que expõe o tema principal do livro, ou seja, “para
mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 12
(Apocalipse 1-3). Do capítulo 4 ao final é principalmente profecia, com
exortações e consolações práticas, entretanto, disseminadas, semelhantes
às enviadas às sete igrejas (representativas da Igreja universal de todas as
épocas), que assim relacionam o corpo do livro com seu princípio, que
forma, portanto, sua devida introdução.
Existem três escolas de interpretação:
(1) Os preteristas, que sustentam que quase tudo já se cumpriu.
(2) Os intérpretes históricos, que sustentam que o livro compreende
à história da Igreja do tempo de João até o fim do mundo, sendo os selos
cronologicamente sucedidos pelas trombetas, e estas pelas taças.
(3) Os futuristas, que consideram que quase tudo é ainda futuro, e
deve ser cumprido imediatamente antes da segunda vinda de Cristo.
A primeira teoria não foi aceita por nenhum dos primeiros pais, e
agora só pelos racionalistas, que limitam a visão de João às coisas que
estavam dentro de seu próprio horizonte, as perseguições dos cristãos
pela Roma pagã, e sua antecipada destruição em consequência.
A escola futurista está aberta a esta grande objeção: sua teoria
deixaria à Igreja de Cristo sem direção profética alguma nem fortaleza
para suas provas ardentes durante os séculos de sua existência. Pois Deus
disse: “Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro
revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am_3:7). Os judeus
tiveram uma sucessão de profetas que os guiaram com a luz da profecia:
o que os profetas foram para eles, isso mesmo foram, e são, para nós as
escrituras apocalípticas.
Alford, seguindo a Isaque Williams, chama a atenção à relação
paralela entre o Apocalipse e o discurso de Cristo no Monte das
Oliveiras, de Mt_24:4-28. Os selos claramente nos levam até a segunda
vinda de Cristo, como o fazem também as trombetas (comp. Ap_6:12-
17; Ap_8:1, etc.; Ap_11:15), e deste modo também as taças (Ap_16:17):
os três temas correm paralelos, e terminam no mesmo ponto. Certas
palavras chaves (“reclamações”, as chama Wordsworth) unem as três
séries de símbolos. Estas não se sucedem uma a outra em ordem
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 13
histórica nem cronológica, mas sim paralelamente, as séries posteriores
preenchendo em detalhe o mesmo quadro que as precedentes tinham
desenhado em esboço. Assim Vitorino (sobre Ap_7:2), o primeiro
comentador do Apocalipse, diz, “A ordem das coisas não deve ser levada
em conta, visto que com frequência o Espírito Santo, quando correu até o
fim do último tempo, outra vez volta para os mesmos tempos, e supre o
que expressou menos explicitamente.” E Primasius (Commentary on the
Apocalypse), “Nas trombetas dá uma descrição mediante uma repetição
agradável, conforme é seu costume.”
Desde o começo João se apressa, por antecipação (como era a
tendência de todos os profetas), à grande consumação: “Eis que vem
com as nuvens” (Ap_1:7); “Eu sou o princípio e o fim, o primeiro e o
último” (Ap_1:17). Assim as sete epístolas exibem a mesma antecipação
da terminação: “Ao que vencer,… escreverei sobre ele o nome de meu
Deus, e o nome da cidade de meu Deus, a nova Jerusalém, a que desce
do céu …” (Ap_3:12); comp. Ap_21:2. Também, “Dar-lhe-ei a estrela da
manhã” (Ap_2:12); comp. Ao concluir, “Eu sou a resplandecente estrela
da manhã” (Ap_22:16).
Outra vez, o terremoto que sucede ao se abrir o sexto selo é uma
das palavras chaves: quer dizer, um elo que une cronologicamente este
sexto selo com a sexta trombeta (Ap_9:13; Ap_11:13): comp. também a
sétima taça (Ap_16:17, 18). Os concomitantes da abertura do sexto selo,
está claro, não se aplicam em sentido pleno e amplo a evento algum, mas
sim aos terrores que tomarão os ímpios nas vésperas da vinda do Juiz.
Outra vez, a besta do abismo (Ap_11:7) entre a sexta e sétima
trombetas, conecta esta série com a seção de caps. 12, 13, 14, referente à
Igreja e seus adversários. Outra vez, o selamento dos 144.000 sob o
sexto selo une este selo com a seção de caps. 12-14.
Do mesmo modo, a soltura dos quatro ventos pelos quatro anjos
sobre os quatro ângulos da terra, sob o sexto selo, corresponde à soltura
dos quatro anjos no Eufrates, sob a sexta trombeta.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 14
Além disso, ocorrem elos no Apocalipse que o relacionam com o
Antigo Testamento. Por exemplo, “a boca que fala grandezas,” (Dn_7:8;
Ap_13:5), conecta a besta que fala blasfêmias contra Deus, e faz guerra
contra os santos, com o chifre pequeno (Dn_7:21; Ap_13:6-7), ou o
último rei, que, surgindo depois dos dez reis, falará contra o Altíssimo e
lutará contra os santos (Dn_7:25); também comp. os “quarenta e dois
meses” (Ap_13:5), ou os “mil duzentos e sessenta dias” (Ap_12:6), com
os “tempo, tempos e a metade de um tempo” de Dn_7:25. Além disso,
“os quarenta e dois meses,” (Ap_11:2), correspondentes a Ap_12:6;
Ap_13:5, unem o período sob a sexta trombeta à seção, Apocalipse 12,
13, 14.
Auberlen observa, “A história da salvação está governada
misteriosamente por números santos. São o andaime do edifício
espiritual. Não são meramente indicações exteriores de tempo, mas sim
indicações de natureza e essência. Não só a natureza, mas também a
história, está baseada em números. A Escritura e a antiguidade põem
números pelas formas fundamentais das coisas, onde nós pomos ideias.”
Como o número é o regulador das relações e as proporções do mundo
natural, do mesmo modo entra com muita frequência nas revelações do
Apocalipse, que expõe as harmonias do sobrenatural, do divino imediato.
Assim a revelação mais sobrenatural nos leva o mais longe na natural,
como era de esperar, visto que o Deus da natureza e da revelação é um.
Sete é o número da perfeição (Ap_1:4; Ap_4:5, os sete espíritos diante
do trono: Ap_5:6, os sete chifres e os sete olhos do Cordeiro). Assim as
sete igrejas representam a Igreja católica em sua totalidade. Os sete selos
(Ap_5:1); as sete trombetas (Ap_8:2); as sete taças (Ap_17:1) são
particularmente uma série completa cada uma em si, cumprindo
perfeitamente o curso divino dos juízos. Três e meio denota um número
oposto ao divino (sete), mas quebrado em si, o qual, no momento do
maior triunfo, fica derrotado pelo juízo e a ruína absoluta. Quatro é o
número da extensão mundial; sete é o número da revelação de Deus no
mundo. Nas quatro bestas de Daniel (Dn_7:3) há um reconhecimento de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 15
algum poder sobre eles, ao mesmo tempo que há uma pantomima dos
quatro querubins de Ezequiel (Ez_10:9), os símbolos celestiais de toda a
criação em sua devida sujeição a Deus (Ap_4:6-8). Assim os quatro
ângulos da terra, os quatro ventos, os quatro anjos desatados no Eufrates,
e Jerusalém que está posta em “quadrado” (Ap_21:16), representam a
extensão mundial. O sétuplo de espíritos da parte de Deus corresponde
aos quatro querubins da parte da criação. João, vendo mais
profundamente o caráter essencialmente antidivino do mundo, apresenta-
nos, não as quatro bestas de Daniel, mas sim as sete cabeças da besta,
pelo que a besta se adota a perfeição sétupla dos espíritos de Deus; ao
mesmo tempo que, com característica contradição de si mesma, tem dez
chifres, o número peculiar ao poder mundial. Sua usurpação injusta do
número sagrado sete está assinalada pela adição de uma oitava ao
número de sete cabeças, e também pelo número da própria besta, 666, o
qual em unidades, décimas e centésimas, aproxima-se, mas carece da
perfeição do sete. Os juízos sobre o mundo são completos em seis.
Depois do sexto selo e a sétima trombeta, há uma pausa. Quando chega o
sete, sobrevém “o reino de nosso Senhor e do seu Cristo.” Seis é o
número do mundo entregue a juízo. Além disso, seis é a metade de doze,
como três e meio é a metade de sete. Doze é o número da Igreja: comp.
as doze tribos de Israel, as doze estrelas na cabeça da mulher (Ap_12:1),
e as doze portas da Nova Jerusalém (Ap_21:12, 21). Seis assim simboliza
o mundo quebrado, e sem fundamento sólido. Duas vezes doze é o
número dos anciãos celestiais; doze vezes doze mil o número dos
escolhidos selados (Ap_7:4); a árvore da vida leva doze tipos de frutos.
Sem dúvida, além desta força simbólica, há algum significado
cronológico especial nos números; mas até agora, embora sejam tema de
investigação encomendada, não receberam solução alguma que
possamos aceitar com segurança como a verdadeira. Seu propósito é de
estimular reverente investigação, não para agradar a ociosa curiosidade
especulativa; e quando os eventos tiverem lugar, demonstrarão a divina
sabedoria de Deus, quem ordenou todas as coisas em relações
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 16
minuciosamente harmoniosas, e não deixou para a casualidade nem os
tempos nem os meios.

Os argumentos para a teoria de dia-ano são os seguintes: Dn_9:24,


“Setenta semanas estão determinadas …” onde o hebraico pode
significar setenta setes; mas Mede observa, a palavra hebraica sempre
significa sete de dias, e nunca sete de anos (Lv_12:5; Dt_16:9-10,
Dt_16:16). Outra vez, o número de anos de peregrinação dos israelitas
resulta corresponder ao número de dias em que os espias esquadrinharam
a terra; ou seja quarenta: comp. “cada dia por um ano,” Nm_14:33-34.
Assim em Ez_4:5-7, “Porque eu te dei os anos da sua iniqüidade,
segundo o número dos dias, trezentos e noventa dias … cada dia por um
ano …” João no próprio Apocalipse, usa dias num sentido que quase não
pode ser literal. Ap_2:10, “Tereis tribulação por dez dias:” os dez anos
de perseguição relatados por Eusébio parecem lhes corresponder. Em tal
teoria há ainda bastante obscuridade para exercitar a paciência e provar a
fé, porque não podemos dizer com precisão quando começam os 1260
anos. De modo que esta teoria é bastante compatível com as palavras de
Cristo, “daquele dia e hora ninguém sabe …” [Mt_24:36; Mc_13:32].
Contudo, uma dificuldade que há com esta teoria é que “mil anos”
(Ap_20:6, 7) quase não pode significar 1.000 por 360 dias, ou seja
360.000 anos. A primeira ressurreição ali deve ser literal, assim como
Ap_20:5 deve ser entendido como literal, “o resto dos mortos não
voltaram a viver até que sejam cumpridos os mil anos.” Interpretar o
primeiro espiritualmente nos obrigaria a interpretar espiritualmente este
último, o que seria o mais improvável; porque significaria que os outros
espiritualmente mortos não voltaram a viver espiritualmente até o fim
dos mil anos, e então sim chegaram a viver espiritualmente. 1Co_15:23,
“Os que são de Cristo na sua vinda,” confirma a interpretação literal.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 17
Apocalipse 1

Vv. 1-20. Título: origem e propósito desta revelação. Bênção sobre


o leitor e guardador dela, por estar próximo o tempo; as sete igrejas;
saudação apostólica: a nota tônica, “eis que vem” (comp. Ap_22:20,
“Certamente, venho sem demora”). Visão preliminar do Filho do
homem na glória, entre os sete castiçais, com as sete estrelas em Sua
mão direita.
1. revelação — Um apocalipse ou descobrimento das coisas que
tinham estado vigiadas. Um manifesto do reino de Cristo. O manual de
viaje da Igreja para os tempos dos cristãos gentios. Não uma história
detalhada do futuro, mas sim uma representação das grandes épocas e
principais poderes no desenvolvimento do reino de Deus com relação ao
mundo. A teoria do ponto de vista da “História da Igreja” vai contra o
grande princípio de que a Escritura se interpreta a si mesma. A
Revelação tem que nos ensinar a entender os tempos, não os tempos a
nos interpretar o Apocalipse, embora esteja na natureza do caso que uma
influência reflexiva se exerce aqui, e é entendida pelos prudentes.
[Auberlen]. O livro compõe-se de séries de grupos paralelos, não em
ordem cronológica. Contudo, há um desenvolvimento histórico orgânico
do reino de Deus. Neste livro todos os outros livros da Bíblia encontram-
se e terminam: nele está a consumação de toda profecia prévia. Daniel
prediz o Cristo e a destruição de Jerusalém, pelos romanos, e o último
Anticristo. Mas a Revelação de João preenche o período intermediário, e
descreve o milênio e o estado final de além do Anticristo. Daniel, como
piedoso estadista, contempla a história do povo de Deus com relação aos
quatro impérios mundiais. João, como apóstolo, contempla a história do
aspecto da Igreja Cristã. O termo apocalipse não se aplica a nenhum
livro do Antigo Testamento. Daniel aproxima-se a isso mais que
qualquer outro; mas o que se disse a Daniel que selasse e fechasse até o
tempo do fim, a João, visto que o tempo está próximo (Ap_1:3), foi-lhe
ordenado que o revele.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 18
de Jesus Cristo — que vem dEle. Jesus Cristo é o Autor do
Apocalipse, não João o escritor. Cristo ensinou muitas coisas antes de
Sua partida; mas as que não convinha anunciar naquele então as reuniu
no Apocalipse [Bengel]. Comp. a Sua promessa, Jo_15:15, “Tudo quanto
ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer;” também, Jo_16:13, “O
Espírito da verdade, ele vos guiará ... vos anunciará as coisas que hão de
vir.” Os Evangelhos e Atos são os livros, respectivamente, de Seu
primeiro advento, na carne e no Espírito; as Epístolas são comentários
inspirados sobre os mesmos. O Apocalipse é o livro de Seu segundo
advento e dos eventos preliminares a ele.
que Deus lhe deu — O Pai se revela a si e sua vontade, em seu
Filho e por seu Filho.
para mostrar — a palavra volta a aparecer em Ap_22:6; tão
perfeitamente as partes do Apocalipse têm referência umas às outras. É
sua excelência particular o fato de compreender um perfeito compêndio
de coisas futuras, e estas que diferem extensamente: coisas próximas,
coisas longínquas, coisas entre aquelas e estas; coisas grandes e
pequenas; que destroem e que salvam; que repetem profecias antigas e
novas, e estas entretecidas umas com outras, contrárias e mutuamente
concordantes; que se envolvem e se desdobram mutuamente; de modo
que em nenhum outro livro mais que neste a adição ou a subtração de
uma só palavra ou frase (Ap_22:18, 19), têm o efeito de desfigurar o
contexto e o cotejo dos passagens. [Bengel].
aos seus servos — não somente a “seu servo João,” mas sim a
todos os Seus servos (Ap_22:3).
em breve — “logo,” Gr., “rapidamente;” lit., “com rapidez.” Comp.
“o tempo está próximo” (Ap_1:3; Ap_22:6); “Eis que venho sem
demora” (Ap_22:7). Não que as coisas profetizadas estivessem próximas
segundo a computação dos homens; mas sim esta palavra “em breve”
envolve um corretivo de nossa estimativa dos eventos e períodos do
mundo. Embora os “mil anos” (Apocalipse 20) estejam incluídos,
declara-se que o tempo está próximo. Lc_18:8, “Depressa.” A Igreja
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 19
Israelita veemente se apressou até seu predito fim, cuja ânsia prematura,
a profecia retarda (Daniel 9). A Igreja Gentílica necessita que ser
lembrada quão passageiro é este mundo, que ela facilmente pode crer
que é o seu lar permanente, e quão próximo está o advento de Cristo. Por
uma lado a Revelação diz, “o tempo está perto;” por outro, a sucessão
dos selos, etc., manifestam que muitos eventos devem intervir primeiro.
enviando — o Senhor Jesus.
por intermédio do seu anjo — O anjo não se apresenta para
“significar” as coisas a João senão até Ap_17:1; Ap_19:9, 10. Antes de
então João recebe a informação de outros. Jesus Cristo principia a
Revelação (Ap_1:10, 11; Ap_4:1; em Ap_6:1 um dos quatro seres
viventes é seu informante; em Ap_7:13, um dos anciãos; em Ap_10:8, 9
o Senhor e Seu anjo, que ficaram em pé no mar e na terra). Só no fim
(Ap_17:1) fica a seu lado um anjo (comp. Dn_8:16; Dn_9:21; Zc_1:19).
2. testificou (RC) — “testificou da palavra de Deus” neste livro.
Nós diríamos “testifica;” os antigos em comunicações epistolares
usavam o aoristo. A palavra de Deus constitui seu testemunho; Ap_1:3,
“as palavras desta profecia.”
testemunho de Jesus Cristo — é “o espírito da profecia”
(Ap_19:10).
quanto a tudo o que viu — Os manuscritos mais antigos omitem
“e”, e leem “quantas coisas viu,” em aposto à frase, “a palavra de Deus e
o testemunho de Jesus Cristo.”
3. aqueles que lêem e aqueles que ouvem — isto é, o leitor
público nas assembleias da igreja e os que o escutam. Em primeiro lugar,
aquele pelo qual João enviou o livro de Patmos às sete igrejas e os leu
publicamente: um uso muito escriturário e proveitoso. Uma bênção
especial acompanha ao que lê e ao que ouve a “profecia” apocalíptica
com o propósito de guardar as coisas dela. Não há duas classes; a
bênção é para os que ouvem a palavra e a guardam, Rm_2:13; embora
não encontrem a chave para a interpretação dela, acham um estímulo
para sua fé, sua esperança, e paciente espera de Cristo. Nota: o termo
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 20
“profecia” tem relação ao meio humano, ou seja o profeta inspirado
(neste caso João); o termo “Revelação”, ao Ser divino que revela Sua
vontade (aqui Jesus Cristo). Deus deu a revelação a Jesus; ele mediante
seu anjo a deu a João, quem devia manifestá-la à Igreja.
4. João — o apóstolo. Pois ninguém senão ele (descontado que o
autor é honrado) assinou-se assim sem especificativo algum. Como o
único sobrevivente e representante dos apóstolos e testemunhas oculares
do Senhor, não necessitava de outra designação mais que seu nome, para
ser reconhecido por seus leitores.
sete igrejas — não que não houvesse mais que sete naquela região.
mas sim sete se escolhe porque significa totalidade. Estas sete igrejas
representam a Igreja universal de todos os lugares e tempos. Veja-se
Trench (Commentary on the Epistles to the Seven Churches in Asia),
nota interessante sobre Ap_1:20, o número sete. É o número da aliança,
o sinal da relação da aliança de Deus com a humanidade, e
especialmente com a Igreja. Por exemplo, o sétimo dia, sábado (Gn_2:3;
Ez_20:12). A circuncisão, sinal da aliança, depois de sete dias
(Gn_17:12). Os sacrifícios (Nm_23:1, Nm_14:29; 2Cr_29:21). Comp.
também os atos de Deus típicos de Sua aliança (Js_6:4, Js_6:15-16;
2Rs_5:10). As festas ordenadas por períodos de sete. (Dt_15:1; Dt_16:9,
Dt_16:13, Dt_16:15). É uma combinação de três: o número divino
(assim a Trindade, o três vezes santo, Is_6:3; a bênção triúna de
Nm_6:24-26), e de quatro o número do mundo organizado em sua
extensão (assim os quatro elementos, as quatro estações, os quatro
ventos, os quatro pontos cardeais, os quatro seres animados, emblemas
da vida redimida da criação, Ap_4:6; Ez_1:5-6, com os quatro rostos, e
quatro asas cada um; as quatro bestas, e os quatro metais, que
representavam os quatro impérios mundiais, Dn_2:32-33; Dn_7:3; o
evangelho quadrilateral destinado para todas as partes do mundo; o
lençol preso pelas quatro pontas, At_10:11; os quatro chifres, a soma das
forças do mundo contrárias à Igreja (Zc_1:18). No Apocalipse, onde a
aliança de Deus com a Igreja chega a sua culminação, em forma própria
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 21
o número sete ocorre ainda mais frequentemente que em outras partes da
Escritura.
Ásia — Proconsular, governada por um procônsul romano: que
compreende a Frígia, Mísia, Cária, e Lídia: o reino que Átalo III tinha
legado a Roma.
graça … paz — saudação apostólica paulina. Em suas epístolas
pastorais acrescenta a palavra “misericórdia:” 2Jo_1:3.
daquele que é … era … há de vir — Uma perífrase pelo
incomunicável nome de Jeová, existente por si só, imutável. Por ser
indeclinável a designação no grego aqui denota sua imutabilidade.
Talvez a razão por que usa a frase “que há de vir”, e não “que virá,” é
porque o grande tema do Apocalipse é a vinda do Senhor (Ap_1:7).
Contudo, é o Pai em distinção de “Jesus Cristo” (Ap_1:5) que aqui se
representa. Mas tanto um são o Pai e Filho, que a designação “que há de
vir”, mais imediatamente aplicável a Cristo, usa-se aqui do Pai.
sete Espíritos que se acham diante do seu trono — os
manuscritos mais antigos omitem “estão.”
diante — “na presença de.” O Espírito Santo em Sua energia
sétupla (isto é, perfeita, completa, e universal). Corresponde assim às
“sete igrejas.” Um em sua essência, múltiplo em Suas influências
benévolas. Os sete olhos contemplam a pedra posta por Jeová (Ap_5:6).
Quatro é o número dos seres criados (comp. o querubim quádruplo); sete
é o número da revelação de Deus no mundo.
5. a Fiel Testemunha — da verdade referente a Si mesmo e à Sua
missão de Profeta, Sacerdote, e Rei Salvador. “Ele foi a Fiel Testemunha,
porque tudo o que ouviu que o Pai fielmente o fez conhecer a Seus
discípulos. Também, porque ensinou o caminho de Deus na verdade, e
não se cuidou do homem, nem teve acepção de pessoas. Também,
porque a verdade que ensinou com palavras a confirmou com milagres.
Também, porque o testemunho dEle mesmo de parte do Pai não o negou
nem mesmo na morte. Enfim, porque dará testemunho verdadeiro das
obras de bons e de maus no dia do juízo.” [Ricardo de São Victor em
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 22
Trench.] O caso nominativo do grego em aposto ao genitivo, “Jesus
Cristo”, dá realce a “Fiel Testemunha”.
o Primogênito dos mortos — (Cl_1:18). Lázaro ressuscitou para
morrer de novo. Cristo levantou-se para não morrer mais. A figura não é
como se a tumba fosse a matriz do nascimento de ressurreição [Alford]:
mas sim como At_13:33 e Rm_1:4 tratam da ressurreição de Cristo
como a época e o evento que cumpriram a Escritura, Sl_2:7, “Hoje (na
ressurreição) te gerei.” Foi então quando Sua filiação divina como o
Deus-homem foi manifestada e abertamente testemunhada pelo Pai.
Assim nossa ressurreição e nossa filiação, ou geração, manifestada, estão
conectadas. Portanto, “regeneração” usa-se para determinar o estado de
ressurreição da restituição de todas as coisas (Mt_19:28).
Soberano — ou Governador. A dignidade real do mundo que o
Tentador ofereceu a Jesus sob condição de que lhe rendesse homenagem
e evitasse assim a cruz, alcançou-a com a cruz. “Os reis da terra”
conspiraram contra o Ungido do Senhor (Sl_2:2): a estes os esmiuçará
(Sl_2:9). Os que a tempo são sábios e beijam o Filho Lhe trarão sua
glória em sua manifestação como Rei dos reis, quando tiver destruído a
Seus inimigos.
Àquele que nos ama — Os manuscritos mais antigos leem, “… nos
ama.” É seu caráter perdurável, nos ama. Seu amor repousa para sempre
sobre Seu povo.
nos lavou (RC) — Os manuscritos mais antigos leem, “desatou-
nos:” assim Andréas e Primasius. Um manuscrito muito antigo, a
Vulgata e Cóptica, leem, talvez tomado de Ap_7:14, “Desatou-nos
(livrou) em (virtude de) seu sangue,” sendo a mais difícil lição de
entender, é menos provável que seja dos copistas. A referência é ao
grego lutron, o resgate pago por nossa libertação (Mt_20:28). Em favor
de nossa versão Revista e Corrigida (nos lavou) está o uso dos sacerdotes
que, antes de usar a vestimenta sagrada para servir no templo, lavavam-
se: assim os crentes espirituais, como sacerdotes a Deus, devem primeiro
ser lavados no sangue de Cristo de toda mancha, antes que possam servir
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 23
a Deus devidamente agora e administrar depois como despenseiros da
bênção às nações subjugadas no reino milenial, ou servir diante de Deus
no céu.
6. e nos fez reis — Os manuscritos mais antigos leem, “um reino:”
um deles, “para nós”. Mais preferível é, “Fez-nos (ser) um reino …”
Assim Êx_19:6, “um reino de sacerdotes:” 1Pe_2:9, “um sacerdócio
real.” Os santos constituirão um reino único de Deus, e eles mesmos
serão reis (Ap_5:10). Compartilharão de seu trono régio-sacerdotal no
reino milenial. A ênfase cai mais em reino que em sacerdotes, enquanto
que em nossa versão se distribui igualmente em ambas as palavras. Este
livro faz notável insistência no reino dos santos. São reis porque são
sacerdotes: o sacerdócio é a base contínua e a legitimação de sua
dignidade real; são reis com relação aos homens, sacerdotes com relação
a Deus, servindo-O dia e noite em Seu templo (Ap_7:15; Ap_5:10). Os
sacerdotes reis governarão, não de uma maneira mecânica externa, mas
simplesmente em virtude do que são, pelo poder da atração e convicção
que subjugam ao coração. [Auberlen].
sacerdotes — que têm preeminentemente o privilégio de próximo
acesso do rei. Os filhos de Davi eram sacerdotes (hebraico), 2Sm_8:18.
A distinção de sacerdotes e povo, mais próximos e mais longínquos de
Deus, deixarão de existir; todos terão acesso imediato a Deus. Todas as
pessoas e coisas serão santas ao Senhor.
para Deus e seu Pai — Há um único artigo no grego; traduza-se
pois, “Ao que é ao mesmo tempo Deus e Seu Pai.”
glória e poder — Gr., “a glória e o poder.” A doxologia triúna
ocorre em Ap_4:9, 11; quádrupla em Ap_5:13; Jd_1:25; sétupla em
Ap_7:12; 1Cr_29:11. A doxologia ocupa lugar de importância no céu,
como a oração na terra. Se pensássemos primeiro na glória de Deus
(como na oração modelo), e déssemos segunda importância a nossas
necessidades, agradaríamos mais a Deus e obteríamos nossas petições
melhor do que fazemos.
para todo o sempre — Gr., “pelos séculos dos séculos.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 24
7. com as nuvens — isto é, do céu. “Uma nuvem O ocultou da
vista deles” em Sua ascensão (At_1:9). Sua ascensão corresponde à
maneira de Seu retorno (At_1:11). As nuvens são símbolos de ira para os
pecadores.
todo olho — Sua vinda será, pois, uma aparição pessoal, visível.
o verá — É porque não O veem agora que não querem crer. Comp.
em contraste Jo_20:29.
os mesmos que o — estes em particular; “quais fossem.” Em
primeira ordem, em Sua vinda premilenial, os judeus, “que verão aquele
a quem transpassaram” e chorarão em arrependimento, e dirão “bem-
aventurado aquele que vem em nome do Senhor.” Em segundo termo, e
aqui principalmente, no juízo geral, todos os ímpios, não só os que com
efeito O transpassaram, mas também os que o fizeram com seus pecados,
O contemplarão tremendo de temor. João é o único dos evangelistas que
lembra o lançasso no flanco do Senhor. Esta alusão o identifica como
autor do Apocalipse. A realidade da humanidade de Cristo e de Sua
morte se comprova pelo fato do lado aberto; e a água e sangue de Seu
lado eram o antítipo das águas levíticas de purificação e ofertas
sangrentas.
todas as tribos … lamentarão — todos os inconversos no juízo
geral, e em especial em Sua vinda premilenial, a confederação anticristã
(Zc_12:3-6, Zc_12:9; Zc_14:1-4; Mt_24:30). Gr., “tribos.” Sobre a
limitação de “todos,” veja-se Ap_13:8. Até os piedosos, embora
desfrutando-se no amor de Deus sentirão a tristeza penitencial por seus
pecados, os quais serão manifestados a todos no juízo geral.
Sim! Amém! — O selo de Deus para Sua própria palavra; ao que
corresponde a oração do crente (Ap_22:20). O “assim seja” é grego; o
“amém” é hebreu. Aos gentios assim como aos judeus Suas promessas e
Suas admoestações são inalteráveis.
8. o Alfa e o Ômega — a primeira e última letras do alfabeto
grego. Deus em Cristo compreende tudo o que vai no meio, assim como
também o princípio e fim.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 25
o Princípio e o Fim — Omitidas nos manuscritos mais antigos,
achadas na Vulgata e Cóptica. Os copistas tê-las-ão inserido pela frase
de Ap_21:6. Em Cristo, o Gênesis, o Alfa do Antigo Testamento e o
Apocalipse, o Ômega do Novo Testamento, encontram-se: o último livro
nos apresenta o homem e Deus reconciliados no Paraíso, como o
primeiro livro apresentou o homem no princípio inocente, desfrutando o
favor de Deus no Paraíso. Deus termina no fim o que principiou. Sempre
o mesmo: diante do dragão, da besta, do falso profeta, de todos os
inimigos. A consolação antecipadora para os santos sob as vindouras
tribulações da Igreja.
o Senhor — Os manuscritos mais antigos: “o Senhor Deus,” ou
“Jeová o Deus.”
Todo-poderoso — Heb., Shadday, e Jeová Sabaoth, isto é, dos
exércitos: Comandante das hostes ou poderes no céu e na terra, poderoso
portanto para vencer todos os inimigos da Igreja. Citação de Isaías,
repetida com frequência no Apocalipse, não achada em outra parte do
Novo Testamento salvo em 2Co_6:18.
9. Eu, João — Assim “Eu, Daniel” (Dn_7:28; Dn_9:2; Dn_10:2).
Um dos muitos característicos de semelhança entre os videntes
apocalípticos do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Nenhum
outro escritor da Escritura usa a frase.
vosso irmão — assim como também apóstolo. Em seu Evangelho e
Epístolas não faz menção de seu nome, embora se descreva como “o
discípulo a quem Jesus amava.” Aqui, com igual humildade, nomeia-se,
mas não faz menção a seu apostolado.
companheiro — Gr., “co-participante na tribulação.” A tribulação
é o necessário precursor do “reino,” portanto, vai um só artigo prefixado:
“a tribulação, reino e paciência.” Assim os manuscritos mais antigos. A
tribulação do reino deve ser suportada com paciência. As três coisas são
inseparáveis.
paciência — Traduza-se, “o suportar,” “continuação perseverante
duradoura” (At_14:22); “a rainha das graças (virtudes).” [Crisóstomo].
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 26
de — os manuscritos mais antigos leem “em Jesus,” ou “Jesus
Cristo.” É nEle em quem os crentes têm o direito ao reino, e a força
espiritual para poder suportar com paciência em prol do reino.
estava — Gr., “fui feito presente.”
na ilha chamada Patmos — Veja-se Introdução referente a esta
ilha, e o desterro de João sob Domiciano, logo libertado sob Nerva.
Restringido a este ponto de terreno, foi-lhe permitido penetrar nas
amplas esferas e os segredos do céu. Assim bebeu João da taça de Cristo,
e foi batizado em Seu batismo (Mt_20:22).
por causa da palavra — Gr., “em bem de,” ou “por causa da
palavra de Deus e … testemunho.” Dois dos manuscritos mais antigos
omitem o segundo “por,” assim “a palavra de Deus” e o testemunho de
Jesus (Cristo, omitido em dois dos manuscritos mais antigos) estão mais
intimamente unidos. O Apocalipse sempre foi mais apreciado pela Igreja
em tempos de adversidade. Assim a Igreja Asiática o apreciou menos
nos tempos prósperos do Constantino. A Igreja Africana estando mais
exposta à cruz, aproveitou-o muito mais [Bengel].
10. Eu fui — Gr., Fui feito, ou resultei estar.
em espírito — num estado de êxtase; estando excluído o mundo
exterior, e possuída a vida íntima e superior, ou o espírito, pelo Espírito
de Deus, de modo que fica estabelecida imediatamente a conexão com o
mundo invisível. Enquanto o Profeta “fala” no Espírito, o vidente
apocalíptico está em Espírito com toda sua pessoa. O espírito só (o que
nos conecta com Deus e o mundo invisível) é ativo, ou antes, recipiente
na condição apocalíptica. Com Cristo este estar “no Espírito” não era a
exceção, mas sim seu estado contínuo.
no dia do Senhor — Gr., “dominical” (kuriakê), do Senhor.
Forçosamente detido da comunhão da Igreja com os irmãos no santuário
o dia do Senhor, a comemoração semanal da ressurreição. João estava
em comunhão espiritual com eles. Esta é a menção mais primitiva do
termo “o dia do Senhor.” Mas a consagração do dia ao culto, à esmola, à
ceia do Senhor, está implícita em At_20:7; 1Co_16:2; comp. Jo_20:19-
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 27
26. O nome (kuriakê) corresponde à “ceia do Senhor” (1Co_11:20).
Inácio parece aludir ao “dia do Senhor” (Epistle to the Magnesians, 9), e
Irineu (Quaest ad Orthod., 115). Justino Mártir (Apology, 2.98), etc.:
“No domingo celebramos nossa reunião conjunta: porque o primeiro dia
é aquele em que Deus, tendo tirado as trevas e o caos, fez o mundo, e
Jesus Cristo nosso Salvador ressuscitou dos mortos. No dia antes do
sábado eles O crucificaram; e no dia depois do sábado, o qual é o
domingo, tendo aparecido aos apóstolos e discípulos, Ele ensinou estas
coisas.” Por dia do Senhor Plínio, sem dúvida, refere-se (Epistles, Book
X., p. 97), “Os cristãos num dia fixo se reúnem antes da alvorada e
cantam um hino a Cristo como a Deus …”, etc. Tertuliano (The Chaplet,
3), “No dia do Senhor julgamos mal o jejuar.” Melito, bispo de Sardes
(século dois) escreveu um livro sobre o dia do Senhor (Eusébio, 4:26).
Também, Dionísio de Corinto, em Eusébio (Ecclesiastical History, 4.23,
8). Clemente de Alexandria (Miscellanies, 5. and 7.12); Orígenes
(Against Celsus, 8. 22).
A teoria de que se signifique o dia da segunda vinda de Cristo é
insustentável. “O dia do Senhor” é diferente no grego do “dia dominical
(do Senhor)”, o qual dia dominical na Igreja antiga sempre determina
nosso domingo, embora não é impossível que os dois vão coincidir (ao
menos em algumas partes da terra), de onde uma tradição menciona-se
em Jerônimo (Commentary on Matthew, 25), de que a vinda do Senhor
era esperada especialmente no dia dominical da páscoa. As visões do
Apocalipse, os selos, as trombetas, as taças, etc., estão em grupos de
sete, e naturalmente começam no primeiro dia dos sete, o aniversário da
Igreja, cujo futuro revelam (Wordsworth).
uma grande voz — chamando solene atenção. A ordem grega:
“voz forte como (a) de trombeta.” A trombeta convocava as festas
religiosas, e acompanha a revelação por Deus de Si mesmo.
11. Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último (AV) — A
frase completa omitida dos manuscritos mais antigos.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 28
escreve-o num livro — A este livro, que tem semelhante origem, e
aos outros livros da Sagrada Escritura, quem há que lhe dê o peso que
sua importância demanda, preferindo-os aos muitos livros do mundo?
[Bengel].
sete igrejas — Como havia outras igrejas na Ásia Proconsular
(Mileto, Magnésio, Tralles), além das sete especificadas, sem dúvida se
escolhe a sete por causa de seu significado místico, em expressão de
totalidade e universalidade. As palavras “que estão na Ásia” são
rejeitadas pelos manuscritos mais antigos, A, B, C, Cipriano, Vulgata e
Siríaca; só a Cóptica das autoridades antigas sustenta a leitura. Estas sete
são igrejas representativas; e, como um todo complexo, encarnam as
principais características espirituais da Igreja, quer seja fiel, quer infiel,
em todas as idades. As igrejas escolhidas não o foram por acaso, mas
têm um complemento multilateral. Por um lado, temos Esmirna, igreja
exposta a perseguições de morte; por outro, a Sardes, que tem um nome
de vida espiritual, estando morta. Outra vez, Laodiceia, rica e sem
necessidade de nada em sua própria opinião, com amplos talentos, mas
morna na causa de Cristo; enquanto que Filadélfia, com pouquinha
força, guardando, porém, a palavra de Cristo e tendo diante dela uma
porta de serviço proveitosa aberta pelo próprio Cristo. Outra vez, Éfeso,
intolerante da maldade e dos falsos apóstolos, mas com seu primeiro
amor perdido; por outro lado, Tiatira, que abunda em amor, serviço e fé,
permitindo contudo que a falsa profetisa seduza a muitos. Em outro
aspecto, Éfeso em conflito com a falsa liberdade, isto é, a concupiscência
carnal (os nicolaítas); assim também Pérgamo em conflito com os
tentadores qual Balaão à fornicação e as comidas idólatras; por outro
lado, Filadélfia, em conflito com a sinagoga judaica, vale dizer, com a
servidão legalista. Finalmente, Sardes e Laodiceia, sem ativa oposição
alguma que provoque suas energias espirituais; uma posição perigosa, se
se considerar a indolência natural do homem. No plano de interpretação
histórica, que nos parece fantástica, Éfeso (que significa “amada” ou
“desejada” [Stier], representa o período decadente da era apostólica.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 29
Esmirna (“mirra”), padecimento amargo, mas perfume doce e custoso, o
período de martírio sob Deciano e Diocleciano. Pérgamo (“Castelo” ou
“torre”), a igreja que possui poder terrestre, mas tem espiritualidade
minguante do tempo de Constantino até o século sete. Tiatira
(“incansável em sacrifícios”), a Igreja Papal da primeira metade da Idade
Média; como “Jezabel,” entusiasta com relação ao assim chamado
sacrifício da missa, e decapitando os profetas e testemunhas de Deus.
Sardes, do fim do século doze até a Reforma. Filadélfia (“amor
fraternal”), o primeiro século da Reforma. Laodiceia, a Igreja Reformada
depois que seu primeiro zelo se esfriou.
12. para ver a voz (TB) — quer dizer, para saber de onde a voz
vinha; para ver de quem era a voz.
que — Gr., “que sorte de voz a que …” A voz é a de Deus o Pai,
como no batismo e transfiguração, assim aqui para apresentar a Cristo
como nosso Sumo sacerdote.
sete candeeiros — O móvel que sustentava as lâmpadas. Em
Êx_25:31-32, os sete se unem em UM; quer dizer, os seis braços e uma
vara, ou haste, central; assim Zc_4:2, Zc_4:11. Aqui os sete são castiçais
separados, e tipificam, como aquele, a Igreja inteira, mas já não como a
Igreja Judaica (que se representava por um só castiçal sétuplo) limitada a
uma unidade exterior e a um só lugar; as sete igrejas são mutuamente
independentes quanto a cerimônias e governo externos (sempre que
todas as coisas sejam feitas para edificação e se evitem os cismas e
separações desnecessários), mas são uma na unidade do Espírito e em
Cristo a Cabeça. O castiçal não é a luz, mas sim mantém a luz,
apresentando-a para que brilhe em redor. A luz é do Senhor, não da
Igreja; ela a recebe dEle. Ela tem que ser a portadora da glória dEle. O
castiçal estava posto no santuário, tipo da Igreja na terra, como o lugar
santíssimo era o tipo da Igreja no céu. A única luz do lugar santo
(santuário) derivava-se do castiçal, estando excluída a luz do dia; assim o
Senhor Deus é a única luz da Igreja; a dela é a luz da graça, não da
natureza. “De ouro” simboliza ao mesmo tempo a maior preciosidade e
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 30
santidade; do mesmo modo, no Zend Avesta “de ouro” é sinônimo de
celestial ou divino. [Trench].
13. Sua forma humana glorificada pôde ser reconhecida por João,
quem lhe tinha visto na transfiguração.
no meio dos — que denota a presença contínua e a atividade
incessante de Cristo no meio do Seu povo na terra. Em Ap_4:1-3,
quando aparece no céu, sua insígnia sofre uma correspondente alteração:
contudo, até ali, o arco-íris nos lembra Sua aliança perpétua com eles.
sete — omitido em dois dos manuscritos mais antigos: aparece em
um.
filho do homem — A forma que João tinha visto sofrendo a agonia
do Getsêmani e a ignomínia e angústia do Calvário, agora a vê
glorificada. Sua glória (como Filho do homem, não somente como Filho
de Deus) é o resultado de Sua humilhação como Filho do homem.
até os pés (AV) — Marca de alta posição. Sua vestimenta e cinta de
ouro parece que são emblemas de seu sacerdócio. Veja-se Êx_28:2, 4,
31, LXX. O manto e cinturão de Arão eram “para glória e beleza,” e
combinaram a insígnia de alteza real e de sacerdócio, as características
do sacerdócio antitípico de Cristo, “segundo a ordem de
Melquisedeque.” Este sacerdócio o está exercendo desde sua ascensão; e
portanto, leva seus emblemas aqui. Aquele que está ele no meio dos
castiçais (vistos só no templo), demonstra que é como Rei sacerdote que
está assim vestido. Como Arão levava estas insígnias quando saía do
santuário para abençoar o povo (Lv_16:4, Lv_16:23-24, o chetoneth, a
túnica santa de linho), assim quando Cristo vier outra vez, aparecerá em
roupagem similar de “beleza e glória” (Is_4:2). Os anjos se vestem em
parte como seu Senhor (Ap_15:6). O cinturão ordinário para um ocupado
ativamente rodeava os lombos; mas Josefo (Antiguidades, 3.7.2) diz-nos
expressamente que os sacerdotes levíticos se cingiam mais acima, pelo
peito, propriamente para movimento calmo, majestoso. O cinto,
afirmando toda a armação, simboliza as forças reunidas. A justiça e a
fidelidade são o cinto de Cristo. O cinto do sumo sacerdote era só
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 31
entretecido de ouro; mas o de Cristo é todo de ouro; o antítipo sobrepuja
o tipo.
14. como alva lã — A cor é o ponto de comparação; significa a
pureza, e a glória. (Assim em Is_1:18.)
os olhos, como chama — todo esquadrinhadores e penetrantes
como o fogo; ao mesmo tempo, também, expressando a indignação
consumidora contra o pecado, especialmente em Sua vinda, “em chama
de fogo, tomando vingança” de todos os ímpios, o que se confirma em
relação ao sentido aqui, por Ap_19:11-12.
15. bronze polido — Gr., “chalcolibanos”, derivada segundo
alguns de duas palavras, bronze e mirra: segundo Bochart, do gr.,
chalcos, bronze, e do heb., libbeen, embranquecer; então, bronze que no
forno se torna branco pelo calor. Assim corresponde a “bronze muito
polido,” de Ez_1:7; Ap_10:1, “seus pés como colunas de fogo.” Traduza-
se “incandescentes,” feitos candentes no forno. Com os pés descalços
serviam os sacerdotes no santuário.
voz, como voz de muitas águas — (Ez_43:2); em Dn_10:6, é
“como a voz de uma multidão.” Como a voz do noivo, assim a da noiva,
Ap_14:2; Ap_19:6; Ez_1:24, os querubins, ou a criação redimida. Sua
voz, entretanto, considera-se aqui em seu terror para Seus inimigos.
Veja-se em contraste Ct_2:8; Ct_5:2, com Ap_3:20.
16. Tinha — Gr., “tendo …” João resume a descrição de tempo em
tempo, independente da construção gramatical, com separados lances da
pluma. [Alford].
na mão direita, etc. — (Ap_1:20; Ap_2:1; Ap_3:1). Tem-nas com
uma “coroa de glória” adornada de estrelas. “ou diademas reais,” na mão
direita; assim Is_62:3. Ele as possui e as sustenta.
da boca saía-lhe — Não dirigida, pela mão. Sua palavra é
onipotente em executar Sua vontade em castigo dos pecadores. É a
espada do Seu Espírito. A repreensão e o castigo, antes que Seu poder de
converter e ganhar, é o ponto proeminente aqui. Entretanto, como anima
as igrejas tanto como as admoesta, aquela qualidade da Palavra não se
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 32
exclui. Seus dois gumes (dianteiro e traseiro) podem aludir a sua dupla
eficácia, de condenar a uns, de converter a outros. Tertuliano (Epistle
against Judaizers), aplica-os ao Antigo e Novo Testamento. Ricardo de
São Victor, “O Antigo Testamento, que externamente corta nossos
pecados carnais, o Novo Testamento internamente, os espirituais.
espada — Gr., romphaia, a espada Trácia larga, longa e pesada:
seis vezes no Apocalipse, uma só outra vez no Novo Testamento, ou
seja, Lc_2:35.
sol na sua força — sol do meio-dia, sem nuvens. Assim
resplandecerão os justos, refletindo a imagem do Sol da justiça. Trench
observa que esta descrição, sublime como um conceito puramente
mental, seria intolerável se lhe déssemos forma externa. Com os gregos,
o gosto estético era a primeira consideração, a que todas as demais
deviam ceder. Com os hebreus, a verdade, e a plena representação da
realidade religiosa eram a consideração importante, sendo desenhada tal
representação não para ser encarnada externamente, senão para seguir
sendo um conceito puramente mental. Este elogio da essência acima da
forma assinala a profunda sinceridade religiosa deles.
17. Tão caído está o homem que a manifestação por Deus de Sua
gloriosa presença o aflige.
pôs sobre mim a mão direita — O mesmo fez o Senhor Jesus na
transfiguração aos três discípulos prostrados, dos quais João era um,
dizendo, “Não temais.” O “toque” de Sua mão, como muito tempo atrás,
repartiu força.
dizendo — O pronome “me” [“dizendo-me”] omitido nos
manuscritos mais antigos.
o primeiro e o último — (Is_41:4; Is_44:6; Is_48:12). Desde a
eternidade, e durando até a eternidade: “o Primeiro pela criação, o
Último pela retribuição; o Primeiro, porque antes de Mim não houve
Deus formado: o Último, porque depois de Mim não haverá outro; o
Primeiro, porque de Mim são todas as coisas; o Último, porque a Mim
todas as coisas voltarão.” [Richard of St. Victor].
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 33
18. Traduza o grego, “E o vivente:” conectada esta com a frase
anterior (Ap_1:17).
estive — Gr., “e (contudo) me deu a morte (morrer)”
vivo— Gr., “estou vivendo até os séculos dos séculos:” não
meramente “eu vivo;” mas sim tenho vida, e sou a fonte da vida para
Meu povo. “A Ele pertence o ser absoluto, em contraste com o ser
relativo da criatura; outros podem participar dela; Ele, unicamente, tem
a imortalidade: sendo imortal em essência, não meramente pela
participação. [Teodoreto em Trench]. Um manuscrito dos mais antigos
diz com nossa versão “Amém.” Outras duas e a maioria das versões
antigas a omitem. Tendo passado pela morte como um de nós, e vivendo
agora na infinita plenitude da vida, assegura a Seu povo, visto que por
meio dEle a morte é a porta da ressurreição à vida eterna.
chaves da morte e do inferno — Gr., “Hades:” Heb., “Sheol.”
“Inferno” no sentido do lugar de tortura, é vocábulo diferente no grego,
ou seja, “gehenna.” Posso livrar do mundo invisível de espíritos e da
MORTE aos que quero. Os manuscritos mais antigos dizem por
transposição, “morte e hades,” ou inferno. É a morte (que entrou pelo
pecado, despojando o homem de sua primogenitura da imortalidade,
Rm_5:12) que povoa o Hades, e portanto deve estar primeira em ordem.
Chaves são emblemas de autoridade, que abrem e fecham a vontade “as
portas do Hades” (Sl_9:13-14; Is_38:10; Mt_16:18).
19. Os manuscritos mais antigos dizem, “Escreve, pois” (porquanto
eu, “o Primeiro e o Último,” tenho as chaves da morte, e te concedo esta
visão para o consolo e admoestação da Igreja).
as coisas que viste, e as que são — “As coisas que viste” são
aquelas relatadas neste capítulo (Ap_1:11). “As que são” denota o
presente estado de coisas nas igrejas quando João escrevia, representadas
nos caps. 2 e 3. “As que hão de acontecer depois destas,” as coisas
simbolicamente representadas referente à história futura dos caps. 4-22.
Alford traduz, “As coisas que significam;” mas a antítese da frase
seguinte proíbe isto, “as [coisas] que hão de acontecer (não significar)
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 34
depois destas;” Gr., “que estão por acontecer.” O verbo no plural “são”,
em vez da construção grega comum do singular de coisas, deve-se a que
as igrejas e pessoas estão compreendidas nas coisas que são.”
20. na minha mão direita — Gr., “sobre minha mão direita.”
Quanto ao mistério … candeeiros — em aposto e em explicação
das coisas que viu,” construídas com “escreve”. Mistério significa a
verdade escondida, velada sob este simbolismo, e agora revelada; seu
correlativo é revelação. Estrelas simbolizam o senhorio (Nm_24:17; cf.
Dn_12:3, dos instrutores fiéis; Ap_8:10; Ap_12:4; Jd_1:13).
anjos — Não como Alford, tirado de Orígenes [Homily 13 on Luke,
and Homily 20 on Numbers], os anjos guardadores das igrejas, assim
como os indivíduos os têm. Pois como se poderia reprovar os anjos
celestiais as delinquências de que aqui se acusa a estes anjos? Então, se
se significar anjo humano (como a analogia do Antigo Testamento
favorece, Ag_1:13, “o mensageiro do Senhor;” Ml_2:7; Ml_3:1), o
bispo, ou pastor superintendente, deve ser o anjo (mensageiro). Pois
enquanto havia muitos presbíteros em cada uma das igrejas grandes
(como Éfeso, Esmirna, etc.), não havia senão um só anjo, ao qual, além
disso, o Pastor Principal e Bispo das almas responsabiliza pelo estado
espiritual da igreja a seu cargo. O termo anjo, que indica um ofício, de
conformidade com o simbolismo enigmático deste livro, transfere-se dos
ministros celestiais aos terrestres superiores do Senhor; o que lhes deve
lembrar que eles, como os anjos do céu acima, devem cumprir a missão
de Deus aqui embaixo com zelo, prontidão e eficiência. “Seja feita a Tua
vontade assim na terra, como no céu.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 35
Apocalipse 2

Vv. 1-29. As epístolas a Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira.


Cada uma das sete epístolas dos caps. 2 e 3, começa com, “Conheço
as tuas obras.” Cada uma contém uma promessa de Cristo, “O
vencedor.” Cada uma termina com, “Quem tem ouvidos, ouça o que o
Espírito diz às igrejas.” O título de nosso Senhor corresponde em cada
caso à natureza da mensagem, e se toma principalmente da imagem, ou
simbolismo da visão, Ap_1:12-16. Cada carta tem uma ameaça ou uma
promessa, e as demais têm ambas. Sua ordem parece ser eclesiástica,
civil, e geográfica: Éfeso a primeira, por ser a metrópole asiática
(chamada “a luz da Ásia,” e “a primeira cidade da Ásia”), a mais
próxima a Patmos, onde João recebeu a Epístola às sete igrejas, e
também por ser ela a igreja mais intimamente associada com João; em
segunda ordem as igrejas da costa ocidental da Ásia; logo as do interior.
Só Esmirna e Filadélfia recebem puro louvor. Sardes e Laodiceia
recebem quase exclusivamente censura. Em Éfeso, Pérgamo e Tiatira, há
coisas que louvar e coisas que condenar, preponderando este segundo
elemento num caso (Éfeso), e o anterior nos outros dois (Pérgamo e
Tiatira). Assim as principais características dos diferentes estados das
diversas igrejas, de todos os tempos e lugares, estão exibidas e
adequadamente louvadas ou admoestadas.
1. Éfeso — famosa pelo templo de Diana, uma das sete maravilhas
do mundo. Por três anos trabalhou Paulo ali. Subsequentemente ordenou
a Timóteo supervisor ou bispo na mesma; provavelmente seu cargo era
de natureza temporária. João, no fim de sua vida, fez dela o centro de
suas atividades na província.
aquele que conserva — Gr., “tem firmes,” como em Ap_2:25;
Ap_3:11; veja-se Jo_10:28-29. O título de Cristo aqui como “aquele que
conserva na mão direita as sete estrelas (de Ap_1:16, onde reza “tem,”
em vez de “conserva”) e que anda no meio dos sete candeeiros,”
concorda com o princípio de sua carta às sete igrejas em representação
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 36
da Igreja universal. Andar expressa Sua atividade incansável na Igreja,
guardando-a de males internos e externos, como o sumo sacerdote se
move daqui para lá no santuário.
2. Conheço as tuas obras — expressando Sua onisciência. Não
meramente “suas profissões, desejos, boas resoluções” (Ap_14:13, fim).
o teu labor — Dois dos manuscritos mais antigos omitem “teu”; o
grego significa “trabalho fatigante.”
perseverança — suportar perseverantemente.
suportar — Os homens ímpios eram uma carga que a Igreja de
Éfeso julgava intolerável. Temos que levar (o mesmo grego, Gl_6:2) as
cargas mútuas, no caso de irmãos fracos; mas não levar irmãos falsos.
puseste à prova — pela experiência, não pelo exame como em
1Jo_4:1 (outro verbo no grego). As igrejas apostólicas tinham o dom
milagroso de discernir os espíritos. Veja-se At_20:28-30, onde Paulo
com presciência adverte os anciãos efésios a vinda de falsos mestres,
como também quando escreveu a Timóteo quando este estava em Éfeso.
Tertuliano (On Baptism, 17), e Jerônimo (On Illustrious Men, in Lucca
7), dizem de João, que quando um escrito que pretendia ser a história
canônica dos atos de Paulo, tinha sido composto por um presbítero de
Éfeso, João censurou o autor e condenou a obra. Numa ocasião se negou
a posar sob o mesmo teto com Cerinto, o herege.
se declaram apóstolos — provavelmente judaizantes. Inácio
(Epistle to the Ephesians, 6), diz subsequentemente, “Onésimo louva
muito sua boa disciplina, que não fica heresia entre vós;” e (Epistle to
the Ephesians, 9), “Não permitiram aos que têm más doutrinas semear
suas sementes entre vós, mas sim lhes tamparam os ouvidos.”
3. perseverança ... suportaste provas — Os manuscritos mais
antigos transpõem as frases e leem, “paciência e … sofrido.” “sofreste
(levado) minha recriminação, mas não podes sofrer os ímpios” (Ap_2:2).
e não te deixaste esmorecer — Dois dos manuscritos mais antigos
omitem: “e não desfaleceste.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 37
4. contra ti — Quão característico de nosso Senhor de graça que
diz primeiro tudo o que pode aprovar, e só depois observa as
imperfeições!
abandonaste o teu primeiro amor — teu amor a Cristo. Veja-se
1Tm_5:12 (RC), “aniquilado a primeira fé” “não guardaram a primeira
fé.” Veja-se Ef_1:15. “fé que há entre vós … amor.” Esta Epístola foi
escrita no reinado de Domiciano, trinta anos depois da redação da
Epístola de Paulo aos Efésios. Seu fervente amor tinha dado lugar a uma
ortodoxia estéril Comp. a fé sem amor, 1Co_13:2.
5. de onde — de quão grande altura.
volta à prática das primeiras obras — as obras que emanavam de
seu primeiro amor. Não meramente “sente seus primeiros sentimentos,”
mas sim faz as obras que surgem do mesmo princípio como antes, da “fé
que opera por amor.”
brevemente (RC) — Omitida em dois manuscritos mais antigos,
Vulgata e Cóptica; consta num manuscrito antigo.
virei — Gr., “venho,” em juízo especial contra ti.
moverei do seu lugar — Removerei a Igreja de Éfeso, e a levarei a
outro lugar. “É a mudança do candeeiro, não sua extinção, com o que se
admoesta; juízo para alguns, mas tal juízo é a ocasião de misericórdia
para outros. Assim foi. A sede da Igreja mudou, mas a própria Igreja
sobrevive. O que o Oriente perdeu, o Ocidente ganhou. Um que há
pouco visitou Éfeso, não encontrou mais que três cristãos ali, e estes
eram tão ignorantes que quase não tinham ouvido jamais os nomes de
Paulo e João.” [Trench].
6. contudo — Com quanto amor, depois da necessária censura,
volta a louvar para nosso consolo, e como exemplo para nós, para que
quando reprovarmos, tenhamos mais agrado em louvar que em censurar.
odeias as obras — Deveis aborrecer os atos ímpios dos homens,
não os próprios homens.
nicolaítas — Irineu (Against Heresies, 1.26.3); e Tertuliano
(Prescription against Heretics, 46) têm-nos como seguidores de Nicolau,
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 38
um dos sete (mencionados honradamente em At_6:3, 5). Eles (Clemente
de Alexandria [Miscellanies, 2.20 3.4] e Epifânio [Heresies, 25]
confundiram evidentemente os nicolaítas gnósticos posteriores, ou os
seguidores de um tal Nicolau, com os do Apocalipse. É provável o
parecer de Michaelis: Nicolaos (vencedor do povo) é a versão grega de
Balaão, do hebraico Belang Am (destruidor do povo). O Apocalipse
abunda em tais nomes hebraicos e gregos duplicados: como Apoliom e
Abadom; Diabo, Satanás: Sim (gr., Nai), Amém. Este nome, como
outros nomes, Egito, Babilônia, Sodoma, é simbólico, Veja-se vv. 14,
15, que dão o verdadeiro sentido de nicolaítas: não são uma seita, mas
cristãos professos que, como Balaão há muito tempo atrás, buscaram
introduzir na Igreja uma falsa liberdade, quer dizer, a licença; esta foi
uma reação radical em sentido contrário do judaísmo, o primeiro perigo
que ameaçou a Igreja, combatido que foi no concílio de Jerusalém e por
Paulo na Epístola aos Gálatas. Estes nicolaítas, ou seguidores de Balaão,
abusavam da doutrina paulina da salvação pela graça de Deus,
convertendo-a numa convite à lascívia (2Pe_2:15, 2Pe_2:16, 19; Jd_1:4,
Jd_1:11); ambos descrevem a mesma sorte de sedutores como discípulos
de Balaão). A dificuldade, de que estes se tomassem um nome
estigmatizado na Escritura com a infâmia é encontrado por Trench,
dizendo que os gnósticos antinomianos foram tão contrários a João como
apóstolo judaizante que se assumiram pelo nome da maior honra um que
João estampasse com a ignomínia.
7. Quem tem ouvidos — Esta frase precede a promessa nas
primeiras três cartas, e a segue nas outras quatro. De modo que as
promessas estão cercadas por ambos os lados pelo preceito que urge a
maior atenção como às verdades mais importantes. Todo homem tem
“natural ouvido, mas só o fato de poder ouvir espiritualmente a quem
Deus lhe deu “ouvido para ouvir,” cujo “ouvido Deus desentupiu.”
Comp. “A fé, os ouvidos da alma.” [Clemente de Alexandria].
o Espírito diz — O que Cristo diz, o Espírito diz: uma, pois, são a
Segunda e a Terceira Pessoas.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 39
às igrejas — não meramente às particulares, mas também a
Universal.
vencedor — No Evangelho de João (Jo_16:33) e na Primeira
Epístola (1Jo_2:13-14; 1Jo_5:4-5) segue ao verbo um complemento, ou
seja, “o mundo,” “o iníquo.” Aqui, onde se trata do resultado final, o
vencedor se especifica em sentido absoluto. Paulo usa uma figura
similar, 1Co_9:24-25; 2Tm_2:5; mas não a mesma como a frase de João,
salvo em Rm_12:21.
dar-lhe-ei — Eu como Juiz. A árvore da vida, perdida pela queda
do homem, está restaurado pelo Redentor. Alusões a ela ocorrem em
Pv_3:18; Pv_11:30; Pv_13:12; Pv_15:4, e profeticamente, Ap_22:2,
Ap_22:14; Ez_47:12; comp. com Jo_6:51. É interessante notar quão
intimamente estas palavras iniciais estão ligadas com o corpo do livro.
Por exemplo, a árvore da vida aqui com Ap_22:1; a libertação da
segunda morte (Ap_2:11), com Ap_20:14; Ap_21:8; o novo nome
(Ap_2:17) com Ap_14:1; poder sobre as nações com Ap_20:4, a estrela
da manhã (Ap_2:28) com Ap_22:16; a roupagem branca (Ap_3:5) com
Ap_4:4; Ap_16:15; o nome no livro da vida (Ap_3:5) com Ap_13:8;
Ap_20:15; a nova Jerusalém e sua cidadania (Ap_3:12) com Ap_21:10.
dar-lhe-ei … árvore da vida — A coisa prometida corresponde ao
caráter da fidelidade manifestada. Os que se guardam das indulgências
nicolaítas (2Pe_2:6) e de coisas sacrificadas a ídolos (vv. 14, 15),
comerão comida imensamente melhor, ou seja, do fruto da árvore da
vida, e do maná escondido (2Pe_2:17).
no paraíso — Os manuscritos mais antigos omitem “meio do” [RC:
“no meio do paraíso”]. Em Gn_2:9 estas palavras são pertinentes, porque
havia outras árvores no jardim, mas não no meio dele. Aqui a árvore da
vida está simplesmente no paraíso, pois não se menciona outra árvore
nele. Em Ap_22:2 a árvore da vida está “no meio da praça de
Jerusalém;” o que motivou a inserção da frase. Paraíso (vocábulo
pérsico, ou se não, semítico) originalmente usava-se para lembrar
qualquer jardim de deleite; logo em especial do Éden; depois da morada
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 40
temporária das almas separadas, na bem-aventurança; e, por fim, do
“Paraíso de Deus,” o terceiro céu, a imediata presença de Deus.
de Deus — (Ez_28:13). Um dos manuscritos mais antigos, Vulgata,
Siríaca e Cóptica leem “meu Deus” como em Ap_3:12. Cristo assim
chama a Deus “meu Deus e vosso Deus” (Jo_20:17; com Ef_1:17). Deus
é nosso Deus, em virtude de ser peculiarmente o Deus de Cristo. A sorte
especial do Paraíso consiste em que é o Paraíso de Deus; o próprio Deus
habitando ali (Ap_21:3).
8. Esmirna — em Jônia um pouco a norte de Éfeso. Policarpo,
martirizado no ano 168, oitenta e cinco anos depois de sua conversão,
era bispo, e provavelmente é “o anjo da Igreja de Esmirna” aqui
nomeado. As alusões a perseguições e à fidelidade concordam com este
parecer. Inácio (The Martyrdom of Ignatius 3), em viagem para seu
martírio em Roma, escreveu ao Policarpo então (108 d.C.) bispo de
Esmirna: se seu bispado começasse dez ou doze anos antes, as datas
harmonizariam. Tertuliano (The Prescription against Heretics, 32), e
Irineu, quem tinha conversado com Policarpo quando jovem, dizem-nos
que Policarpo foi consagrado bispo de Esmirna por João.
O primeiro … e tornou a viver — Os atributos de Cristo que mais
que outra coisa deveriam consolar a Igreja de Esmirna em suas
perseguições; palavras resumidas de Ap_1:17, 18. Como a morte não foi
para Ele senão a porta à vida eterna, assim há de ser para eles (Ap_2:10,
11).
9. tuas obras (NKJV) — omitidas em dois manuscritos mais
antigos, Vulgata e Cóptica. Apoiadas por um manuscrito antigo.
tribulação — devido a perseguição.
pobreza — devida ao “despojo de teus bens.”
mas tu és rico — na graça. Comp. contraste de Laodiceia, rica aos
olhos próprios e do mundo, pobre diante de Deus. “Há ricos pobres, e
pobres ricos, diante de Deus.” [Trench].
blasfêmia — a calúnia blasfema de ti da parte dos:
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 41
que a si mesmos se declaram judeus — judeus por descendência
nacional, mas não espiritualmente da verdadeira “circuncisão.” Os
judeus blasfemavam a Cristo, pontuando-O como o “enforcado”. Como
em outras partes, em Esmirna se opuseram acremente ao cristianismo; e
no martírio do Policarpo se uniram aos pagãos no clamor para que fosse
lançado aos leões; e tendo obstáculo a isso, demandaram que fosse
queimado vivo; e com suas próprias mãos levaram lenha para a fogueira.
sinagoga de Satanás — A única vez que se emprega o termo
“sinagoga” no Novo Testamento pela assembleia cristã, e isso pelo
apóstolo que por mais tempo mantinha a união da Igreja e a Sinagoga
Judaica. Conforme os judeus se opunham cada vez mais ao cristianismo,
e este se arraigava cada vez mais no mundo gentil, o termo “sinagoga” se
deixava totalmente para aqueles, e os cristãos se apropriaram
exclusivamente do honorável termo de “igreja;” contraste um tempo
mais primitivo quando a teocracia judaica é chamada “a Igreja no
deserto.” Veja-se Nm_16:3; Nm_20:4, “congregação do Senhor.” Até
em Tg_2:2, é “sua assembleia” (sinagoga; não de Deus). Os judeus, que
poderiam ter sido a “Igreja de Deus,” já por sua oposição e
incredulidade, tinham chegado a ser a sinagoga de Satanás. Assim “o
trono de Satanás” (Ap_2:13) representa a oposição pagã ao cristianismo;
“as profundidades de Satanás” (Ap_2:24), a oposição dos hereges.
10. Não tenha … temor — “O Capitão de nossa salvação não
guarda escondidas as coisas que Suas fiéis testemunhas podem ter que
sofrer por Seu nome; nunca tenta ganhar aderentes com a promessa de
que hão de encontrar tudo fácil e prazenteiro ali.” [Trench].
o diabo — “o acusador.” Ele agiu, por meio dos acusadores judeus,
contra Cristo e contra Seu povo. O conflito destes não era contra mera
carne e sangue, mas com os príncipes das trevas deste mundo.
postos à prova — com a tentação pelo “diabo”. O mesmo
acontecimento é tanto uma tentação de parte do diabo como uma prova
de Deus — sacudindo Deus o homem para separar o palha do trigo; o
diabo, na esperança de não achar nele nada mais que palha [Trench].
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 42
dez dias — Não as dez perseguições desde Nero até Diocleciano.
Lvra explica os dez anos com o principie de dia-ano. A brevidade da
perseguição é evidentemente a base do consolo O prazo da prova será
curto; a duração de sua alegria será eterna. Veja-se o uso de “dez dias”
por um tempo breve. Gn_24:55; Nm_11:19. Dez é o número dos poderes
mundiais hostis à Igreja: veja-se os dez chifres da besta (Ap_13:1).
coroa da vida — Tg_1:12; 2Tm_4:8, “coroa de justiça;” 1Pe_5:4,
“coroa de glória.” A coroa é a grinalda, emblema do vencedor, ou de
alguém que se alegra, ou em festa, mas diadema é a insígnia de um rei.
11. de nenhum modo sofrerá dano — O grego é duplamente
enfático: de maneira nenhuma é possível que receba dano.
da segunda morte — “o lago de fogo.” “A morte em vida dos
perdidos, como contrastada com a vida em morte dos salvos.” [Trench].
A frase “a segunda morte” é peculiar do Apocalipse. Que importa esta
primeira morte, que mais cedo ou mais tarde deve nos caber a todos, se
escaparmos da segunda morte? Parece que os que morrem aquela morte
sofrerão dano, dor, por ela; mas, se fosse a aniquilação e assim a
terminação dos torturas, não seria dano algum, mas antes, beneficio para
eles. Mas os torturas vivas são “a segunda morte.” [Pearson]. “A vida
dos condenados é morte.” [Agostinho]. Esmirna (significa mirra) deu
seu doce perfume, machucada até à morte. A mirra era usada para
embalsamar os cadáveres (Jo_19:39); era ingrediente do azeite santo da
unção (Êx_30:23); um perfume do noivo celestial (Sl_45:8), e da esposa
(Ct_3:6). “A tribulação, como a mirra, é amarga para o presente, mas
salutífera; preservando os escolhidos da corrupção, e amadurecendo-os
para a imortalidade, e dá amplo campo para o exercício das fragrantes
virtudes cristãs.” [Vitringa]. As palavras nobres de Policarpo ditas a seus
juízes pagãos que desejavam que abjurasse, são bem conhecidas:
“Oitenta e seis anos há que sirvo ao Senhor, e nunca me tem feito mal
algum; como pois posso blasfemar do meu Rei e Salvador?” A fidelidade
de Esmirna foi recompensada com não lhe ter sido tirado seu castiçal de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 43
seu lugar (Ap_2:5); o cristianismo não foi totalmente desarraigado;
portanto é chamada pelos turcos “a incrédula Esmirna.”
12. Pérgamo — Trench prefere escrever Pergamus, ou melhor, o
Pergamum sobre o rio Caico. Foi capital do reino de Átalo Segundo,
legado por ele aos romanos em 133 a.C. Famosa por sua biblioteca,
fundada por Eumenes II (197-159 a.C.), e destruída pelo califa Omar. O
pergaminho (Pergamena charta) foi descoberto ali para fazer livros.
Também, famosa pelo magnífico templo de Esculápio, o deus da saúde.
[Tácito, Annals, 3.63]
aquele que tem a espada afiada de dois gumes — Frase
apropriada ao duplo propósito desta carta, um poder esquadrinhador para
repreender e converter alguns (Ap_2:13, Ap_2:17), e para repreender e
condenar a castigo outros (Ap_2:14-16; com nota, Ap_1:16).
13. as tuas obras (RC) — Dois manuscritos antigos omitem estas
palavras, algum as tem.
o trono de Satanás — trono, como este vocábulo grego se traduz
em todo o Apocalipse. Satanás, em ímpia mímica do trono de Deus no
céu, levanta seu trono terrestre (Ap_4:2). Esculápio era adorado ali sob a
forma de serpente; e Satanás, a antiga serpente, como instigador
(Ap_2:10) dos fanáticos devotos de Esculápio e, por meio deles, do
supremo magistrado de Pérgamo, perseguiu alguém do povo de Deus
(Antipas) até à morte. De modo que esta carta é um prefácio antecipador
de Ap_12:1-17; Note-se “trono … dragão … guerra contra a semente da
mulher.” Ap_12:5, 9, 17.
ainda nos dias — Dois manuscritos antigos omitem “ainda” (então
traduzem, “nos dias de Antipas, Minha fiel testemunha,” ou “mártir”);
outros dois o retêm. Antipas é outra forma de Antípater. Simeão
Metafrasta tem uma lenda, ignorada pelos primeiros pais, de que
Antipas, no reino de Domiciano, foi encerrado dentro de um bezerro de
bronze candente, e terminou sua vida em ação de graças e oração.
Hengstenberg faz com que o nome, como outros nomes apocalípticos,
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 44
tenha um sentido simbólico de alguém que se antepõe a tudo por amor
de Cristo.
14. algumas coisas — em comparação com os muitos sinais de
fidelidade.
doutrina de Balaão — o que “ensinava a Balaque.” Veja-se
“conselho de Balaão,” Nm_31:16. Bengel traduz, “ensinava (os
moabitas) a (agradar a) Balaque.” Mas embora em Números não se diz
expressamente que ensinasse a Balaque, tampouco se diz nada ali
inconsequente que ele tenha feito; e Josefo, Antiguidades, 4. 6, 6., diz
que sim o fez.
ciladas — lit., a parte da armadilha onde ficava a isca era posta e
que, quando se tocava, a armadilha encerrasse a presa; significando logo
qualquer enredo para o pé. [Trench].
para comerem coisas sacrificadas aos ídolos — prática comum
dos israelitas muito tempo atrás e dos nicolaítas do tempo de João; não
diz que eles sacrificassem aos ídolos, o que foi peculiar aos israelitas. A
tentação de comer carne oferecida a ídolos era especialmente forte para
os convertidos gentios. Porque o não fazê-lo significava quase abstenção
das comidas sociais com os pagãos vizinhos. Porque tais carnes, uma
parte oferecida já em sacrifício, era quase certo que se achariam na mesa
do anfitrião; tal era assim que “carnear” no grego (thuein) significava em
princípio “sacrificar.” Daí surgiu o decreto do Concílio de Jerusalém que
proibia comer tais carnes; subsequentemente alguns de Corinto
comeram, comeram inescrupulosamente de tais carnes e sabendo, sob
pretexto de que o ídolo não era nada; outros desnecessariamente se
torturavam por escrúpulos, por temor de comer delas sem o saber,
quando compravam carne do mercado e comiam em casa do vizinho.
Paulo trata o assunto em 1 Coríntios 8 e 1Co_10:25-33
prostituição — com frequência relacionada com a idolatria.
15. tu — Enfático. Como Balaque e os moabitas muito tempo atrás
tinham a Balaão e seus seguidores literais, assim tu também tens aos que
têm a mesma doutrina balaamita ou nicolaíta espiritual ou
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 45
simbolicamente. O comer literalmente de carne idolátrica e a fornicação
em Pérgamo eram acompanhados pela idolatria e fornicação espirituais.
Assim explica Trench. Mas eu prefiro isto, “Tu também, assim como
Éfeso (“da mesma maneira” que Éfeso; veja-se abaixo a leitura mais
antiga), tens … nicolaítas,” com esta importante distinção; Éfeso, como
Igreja, aborrece-os, e os lança, mas tu “os tens”, isto é, na igreja.
doutrina — Ensino (Nota, Ap_2:6): ou seja, tentando o povo de
Deus à idolatria.
o que eu aborreço (RC) — É um pecado não aborrecer o que Deus
aborrece. A igreja efésia (Ap_2:6) tinha este ponto de superioridade
sobre Pérgamo. Mas os três manuscritos mais antigos, e Vulgata e
Siríaca, dizem “do mesmo modo,” em vez de, “o que eu aborreço.”
16. Arrepende-te — Os três manuscritos mais antigos acrescentam
“pois”. Não só aos nicolaítas, mas também a toda a Igreja de Pérgamo
Ele exorta a arrepender-se por não ter aborrecido os ensinos e práticas
nicolaítas. Veja-se em contraste, Paulo, em At_20:26.
virei — venho.
batalharei — Gr., “farei guerra:” com os nicolaítas em primeira
ordem; mas inclusive também toda a Igreja de Pérgamo: veja-se “Virei a
ti.”
com a espada da minha boca — Resumido de Ap_1:16, mas com
a alusão à espada desembainhada, com a qual o anjo do Senhor se
defrontou com Balaão, quando ia amaldiçoar a Israel: prenúncio da
espada pela qual ele e os israelitas seduzidos enfim caíram. Os
balaamitas espirituais do tempo de João hão de ser feridos pela espada
espiritual do Senhor, a palavra ou a “vara de sua boca.”
17. a comer — Omitidas dos três manuscritos mais antigos.
do maná escondido — a comida celestial de Israel, em contraste
com as carnes idolátricas (Ap_2:14). Uma panela de maná estava posta
no lugar santo do templo “diante do testemunho.” Tal é a alusão aqui:
provavelmente também ao discurso do Senhor (Jo_6:31-35). Traduza-se,
“o maná que está escondido.” Como o maná escondido no santuário era
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 46
por poder divino conservado da corrupção, assim Cristo em Seu corpo
incorruptível entrou nos céus, e está escondido ali até o tempo de Seu
aparecimento. Cristo mesmo é o maná “escondido” do mundo, mas
revelado ao crente, que assim já tem o gosto antecipado de Sua
preciosidade. Comp. a comida de Cristo mesmo na terra, escondida,
Jo_4:32, Jo_4:34, e Jó_23:12. A plena manifestação será em Sua vinda.
Os crentes estão agora escondidos, como sua comida está escondida.
Como o maná no santuário, dessemelhante a outro maná, é incorruptível,
assim a festa espiritual que se oferece a todos os que rejeitam as
delicadezas do mundo por amor de Cristo, é eterna: um corpo
incorruptível e a vida eterna com Cristo na ressurreição.
pedrinha branca ... nome novo ... aquele que o recebe — A
explicação de Trench parece a melhor: Branca é a cor e vestimenta do
céu. “Novo” denota algo totalmente renovado e celestial. A pedrinha
branca é um diamante reluzente, o Urim usado pelo sumo sacerdote
dentro do choschen ou couraça de juízo, com os nomes das doze tribos
sobre as doze pedras preciosas, junto ao coração. A palavra Urim
significa luz, que corresponde à cor branca. Ninguém senão o sumo
sacerdote conhecia o nome escrito sobre ela, provavelmente o nome
incomunicável de Deus, “Jeová.” O sumo sacerdote a consultava de
algum modo divinamente ordenada, para receber a orientação de Deus
quando a necessitava. O “nome novo” é de Cristo (Veja-se Ap_3:12,
“escreverei sobre ele meu novo nome”): alguma nova auto-revelação que
depois repartirá a Seu povo, e que só eles poderão receber. A conexão
com o “maná escondido” será assim clara, pois ninguém senão o sumo
sacerdote tinha acesso ao “maná escondido” no santuário. Os crentes,
como sacerdotes espirituais de Deus, desfrutarão os antítipos celestiais
do maná escondido e da pedra Urim. Contra o que deviam lutar em
Pérgamo era a tentação das carnes idolátricas e a fornicação, postas em
seu caminho pelos balaamitas. Como Fineias foi recompensado com “um
sacerdócio eterno” por seu zelo contra os mesmos pecados aos que o
Balaão do Antigo Testamento seduziu a Israel: assim o sumo sacerdócio
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 47
celestial é a recompensa prometida aos que são zelosos contra os
balaamitas do Novo Testamento que tentam o povo de Cristo aos
mesmos pecados.
o recebe — quer dizer, “a pedrinha”, não “o nome novo” (o grego é
ambíguo). O nome que ninguém conhecia senão só Cristo, Ele o revelará
a Seu povo depois.
18. Tiatira — em Lídia, ao sul de Pérgamo. Lídia, a vendedora de
púrpura nesta cidade, convertida em Filipos, cidade macedônica (colônia
com a qual naturalmente Tiatira teria muita comunicação), provavelmente
foi o instrumento para levar primeiro o evangelho à sua cidade natal.
João segue uma ordem geográfica aqui, porque Tiatira estava um pouco
à esquerda do caminho que ia de Pérgamo a Sardes (Estrabão, 13:4).
o Filho … bronze polido — Veja-se nota, Ap_1:14, 15, resumido
aqui. Outra vez os atributos concordam com a mensagem. O título “Filho
de Deus,” é do Sl_2:7, Sl_2:9, referido em Ap_2:27. O atributo, “olhos
de fogo,” corresponde a Ap_2:23, “Eu sou aquele que esquadrinha os
rins e os corações.” O atributo, “pés … bronze polido,” corresponde a
Ap_2:27, “as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro;”
pisando-os com os Seus fortes pés
19. Os manuscritos mais antigos antepõem fé a serviço. Os quatro
substantivos são complementos de obras. “Conheço (grego) as tuas
obras”, ou seja, o amor e a fé (que formam um par, como “a fé opera
pelo amor” Gl_5:6) e o serviço (ministração aos membros afligidos da
Igreja, e a toda necessidade espiritual e temporal) e a paciência
(perseverança paciente). Como o amor é interno, assim o serviço é sua
manifestação externa; deste modo se relacionam a fé e a paciência ou
perseverança (o gr., hypomone, lit., permanência sob a carga, Rm_2:7).
mais numerosas do que as primeiras — em cumprimento de
1Ts_4:1; idêntico a Mt_12:45; 2Pe_2:20. Em vez de retroceder das
“primeiras obras” e do “primeiro amor,” como Éfeso, as últimas obras de
Tiatira excediam a suas primeiras (Ap_2:4, 5).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 48
20. umas poucas coisas (NKJV) — Omitidas nos três manuscritos
mais antigos.
essa mulher — “A mulher Jezabel.” Dois manuscritos dos mais
antigos dizem “tua mulher;” outros dois, Vulgata, e a maioria das
versões antigas, dizem como a nossa. A Jezabel simbólica era para a
Igreja de Tiatira o que a Jezabel histórica era para Acabe, seu marido.
Alguma profetisa (assim chamada por si mesma), ou algum grupo de
falsos profetas (como o feminino era muito usado no hebraico em
sentido coletivo), intimamente relacionada à Igreja de Tiatira, como
esposa a marido, e influindo poderosamente em tal igreja para o mal,
como Jezabel com Acabe. Como Balaão, na história anterior de Israel,
assim Jezabel, filha do Etbaal, rei de Sidom (1Rs_16:31, antes sacerdote
de Astarte e homicida de seu predecessor no trono [Josefo, Against
Apion, 1.18], era a que seduzia a Israel à idolatria na história posterior.
Como seu pai, era pronta para derramar sangue. Dada totalmente ao
culto a Baal, como seu pai, Etbaal, cujo nome expressa a idolatria, com
vontade forte, levou o fraco Acabe e Israel para além do culto à novilha
(aquele que era culto ao verdadeiro Deus sob a forma de boi querubim,
isto é, em violação do segundo mandamento) ao culto a Baal (em
violação do primeiro mandamento). Parece que ela mesma era
sacerdotisa e profetisa de Baal. 2Rs_9:22, 30, “fornicações … de Jezabel
e suas feitiçarias” (a impureza era uma parte do culto da Astarte Fenícia,
ou Vênus). Seu contraparte espiritual em Tiatira seduzia os servos de
Deus”, mediante pretendidos oráculos, à mesma libertinagem,
fornicação, e comida de carnes idolátricas, como os balaamitas e os
nicolaítas (Ap_2:6, Ap_2:14-15). Por um espiritualismo falso estes
sedutores levavam suas vítimas à carnalidade mais grosseira, como se as
coisas feitas na carne estivessem fora do homem mesmo, v fossem
portanto, sem importância. “Quanto mais fundo penetrava a Igreja no
paganismo, tanto mais pagã ela fazia-se: isto nos prepara para as
expressões de “meretriz” e “Babilônia” que lhe foram aplicadas depois.”
[Auberlen].
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 49
ela ensina e seduz (TB) — Os três manuscritos mais antigos dizem,
“E ela ensina e engana,” ou “seduz.” Tiatira era a precisa antítese de
Éfeso. Nessa havia muito zelo pela ortodoxia, mas pouco amor; nesta,
atividade de fé e amor, mas insuficiente zelo pela disciplina piedosa e a
doutrina, uma paciência com o erro mesmo quando não havia
participação nele.” [Trench].
21. não quer arrepender-se — Os três manuscritos mais antigos
dizem, “… arrependa-te; e (ela) não quer arrepender-se de
(abandonando) sua fornicação.” Aqui há uma transição da fornicação
literal a espiritual, como aparece de Ap_2:22. A ideia veio da relação da
aliança de Jeová com a Igreja do Antigo Testamento considerada como
um casamento, qualquer transfiguração contra a qual era, pois, uma
prostituição, fornicação, ou adultério.
22. Eis que — chamando a atenção à horrenda condenação dela,
que sobrevinha.
de cama — O lugar de seu pecado será o lugar de seu castigo. O
leito de seu pecado será o leito de sua doença e angústia. Talvez uma
pestilência estava iminente. Ou o leito da tumba, e o inferno além, onde
o verme nunca morre.
os que com ela adulteram — espiritualmente; inclusive o comer a
carne idolátrica e a fornicação. “Com ela,” no grego, denota participação
com ela em seus adultérios, no sentido de permiti-la (Ap_2:20), ou não
incomodá-la, assim virtualmente animando-a. O castigo dela é distinto
do daqueles: ela tem que ser jogada na cama, e seus filhos mortos,
enquanto que os que participam nos pecados dela, tolerando, serão
lançados em grande tribulação.
caso não se arrependam — de uma vez para sempre; o aoristo
grego; devem arrepender-se antes do prazo fixo do propósito do Senhor.
das obras que ela incita — Dois dos manuscritos mais antigos e a
maioria das versões antigas dizem “das obras dela.” Neste caso, os
verdadeiros servos de Deus, que por conivência participam da culpa das
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 50
obras dela, distinguem-se dela. Um manuscrito antigo, Andréas e
Cipriano sustentam a leitura de “das obras delas”.
23. seus filhos — (Is_57:3; Ez_23:45, Ez_23:47). Seus aderentes
próprios; não os que a toleram, mas sim os gerados por ela. Uma classe
distinta da de Ap_2:22 (comp. nota em Ap_2:22), cujo pecado era
indireto, sendo só de conivência.
Matarei — o desastre que coube aos discípulos da Jezabel histórica
e os filhos de Acabe, 1Rs_18:40; 2Rs_10:6-7, 2Rs_10:24-25. Matar com
morte, hebraísmo que significa matar com morte segura e terrível: assim
“morrendo morrerá” (Gn_2:17). Não “como morrem todos os homens”
(Nm_16:29).
todas as igrejas conhecerão — o que expressa que todas estas
cartas se destinam para a Igreja universal de todas as idades e lugares.
Tão palpavelmente será vista a mão de Deus no castigo de Tiatira, que
toda a Igreja o reconhecerá como a obra de Deus.
eu sou — O “eu” é muito enfático aqui: “Saberão que sou eu quem
…”
aquele que sonda … corações — Atributo peculiar de Deus aplica-
se a Cristo. Os “rins” são a sede dos desejos; o “coração,” dos
pensamentos. O grego para “esquadrinho” expressa seguir acertadamente
toda pista e rastro.
segundo as vossas obras — a ser julgadas não o mero fato como
aparece ao homem, mas com referência ao motivo, sendo a fé e o amor
os únicos motivos que Deus aceita.
24. a vós outros, os demais — Omitem “e a” três dos manuscritos
antigos.
tantos quantos não têm — não só não guardam: que não têm
contato com esta doutrina.
e que — Os manuscritos mais antigos dizem: “os quais”.
as coisas profundas — Os falsos profetas se jactavam
particularmente de seu conhecimento dos mistérios e das coisas
profundas de Deus; pretensões expressas depois por seu arrogante título
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 51
de gnósticos (“cheios de conhecimento”). O Espírito aqui declara que as
pretendidas “coisas profundas” deles (isto é, conhecimento de coisas
divinas) são na realidade “as coisas profundas de Satanás;” assim como
diz em Ap_2:9 que, em vez de ser “sinagoga de Deus,” trata-se da
“sinagoga de Satanás.” Hengstenberg pensa que os próprios mestres
pretendiam aprofundar as coisas de Satanás, dando rédea solta a suas
concupiscências, sem sofrer dano por isso. Os que assim pensam
combater a Satanás com as armas próprias dele sempre encontram nele
um lutador mais forte que eles. Como as palavras “como dizem” vêm
depois de “coisas profundas de Satanás,” parecem favorecer a tese de
Hengstenberg; de outro modo seria preferível o outro parecer: eles dizem
conhecer as coisas profundas. O Espírito diz que são coisas profundas de
Satanás. O pecado original de Adão foi o desejo de conhecer o mal tanto
quanto o bem; de igual modo, na opinião do Hengstenberg, os que
professam conhecer “as coisas profundas de Satanás.” É da prerrogativa
de Deus somente o conhecer plenamente o mal, sem ser prejudicado nem
poluído com ele.
não jogarei — ou “não lançarei:” dois dos manuscritos dizem “não
lanço.”
Outra carga — que a abstinência destas abominações e os
protestos contra elas; nenhumas “coisas profundas” fora de seu alcance,
como aqueles ensinam, nenhuns ensinos novos, mas sim a antiga fé e
regra de prática uma vez por todas entregue aos santos. Exagerando e
aperfeiçoando a doutrina paulina da salvação pela graça sem a lei como
fonte da justificação e a santificação, os falsos profetas rejeitavam a lei
como regra de vida, como se ela fosse uma “carga” intolerável. Mas é
uma carga “leviana.” Em At_15:28-29, o mesmo termo “carga”, como
aqui, significa abstinência da fornicação e da comida de carnes
idolátricas; a isto o Senhor se refere aqui.
25. conservai — Não a deixem escapar das mãos, por muito que
queiram os falsos mestres arrancar-vos.
o que tendes — (Jd_1:3, fim.)
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 52
até que eu venha — quando vosso conflito com o mal terminará. O
grego expressa incerteza a respeito de quando há de vir.
26. E (RC) — que denota a íntima relação da promessa ao
vencedor, aqui, com a exortação precedente, Ap_2:25.
que guardar — Comp. a mesma palavra da passagem aludida pelo
Senhor, At_15:28-29.
minhas obras — em contraste com as “dela” (Ap_2:22). As obras
que Eu ordeno, e que são o fruto de Meu Espírito.
até ao fim — (Mt_24:13.) A figura talvez seja da carreira, em que
não basta alistar-se, mas sim o corredor deve perseverar até o fim.
sobre as nações — Na vinda de Cristo os santos possuirão o reino
“sob todo o céu”; portanto, sobre esta terra: comp. Lc_19:17, “terá poder
sobre dez cidades.”
27. Citação do Sl_2:8-9.
regerá — lit., “como um pastor.” No Sl_2:9 diz-se “quebrantará
…” A LXX pontuando diferentemente o hebraico, traduz como aqui.
“Quebrantará” deve ser a interpretação correta, como o paralelo
“esmiuçados” (Sl_2:9) prova. Mas o Espírito neste caso sanciona o
pensamento adicional como verdadeiro, que o Senhor mesclará a
misericórdia a uns, com o juízo sobre outros; começando por destruir a
Seus inimigos anticristãos, reinará em amor sobre outros. “Cristo reinará
com um cetro de ferro, para fazê-los capazes de ser regidos com o cetro
de ouro; com a severidade primeiro, para que venha a graça depois”
(Trench, quem opina que se deve traduzir “cetro” em lugar de “vara,”
como em Hb_1:8). “Pastor” usa-se em Jr_6:3, como governantes hostis;
também em Zc_11:16. Como a severidade aqui é o pensamento
primordial, “reger como pastor” me parece indicar que: Aquele que
queria tê-los pastoreado com a vara de pastor, pastoreá-los-á com a vara
de ferro.
as reduzirá a pedaços — Assim um manuscrito antigo, Siríaca,
Vulgata e Cóptica. Mas dois dos mais antigos dizem, “… vara de ferro,
como são esmiuçados os vasos de oleiro.” O artigo de louça é descartado
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 53
e feito em pedaços porque não alcança a norma proposta pelo oleiro:
figura que representa o poder soberano de Deus para entregar os
réprobos à destruição, não por capricho, mas no exercício de Seu justo
juízo. Os santos estarão nos exércitos vitoriosos de Cristo, quando há de
dar-se o último golpe decisivo, e depois reinarão com Ele. Havendo
“pela fé” vencido ao mundo, reinarão também sobre o mundo.
como também eu — “recebi de meu Pai,” segundo o Sl_2:7-9.
Jesus Se negou receber o reino sem a cruz das mãos de Satanás; não quis
recebê-lo de ninguém senão do Pai, quem tinha ordenado o caminho da
cruz como a senda da coroa. Como o Pai Me deu a autoridade sobre as
nações e os limites da terra, assim reparto uma porção da mesma a Meus
discípulos vitoriosos.
28. a estrela da manhã — quer dizer, a Mim mesmo Me darei a
ele, pois sou “a estrela da manhã” (Ap_22:16); de modo que refletindo
Meu perfeito resplendor, iluminará como Eu, a estrela da manhã, e
participará de Minha glória real (da qual a estrela é o símbolo,
Nm_21:17; Mt_2:2). Comp. Ap_2:17, “Dar-lhe-ei do maná escondido,”
o qual sou Eu (Jo_6:31-33).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 54
Apocalipse 3

Vv. 1-22. As epístolas a Sardes, Filadélfia, e Laodiceia.


1. Sardes — antiga capital de Lídia, o reino do opulento Creso,
sobre o rio Pactolo. A carta a esta Igreja está cheia de recriminações.
Não parece ter sido em vão, pois Melito, bispo de Sardes no século dois,
foi eminente por sua piedade e erudição. Visitou a Palestina para
afirmar-se a si e a seu rebanho em relação ao cânon do Antigo
Testamento, e escreveu uma epístola sobre o tema (Eusébio,
Ecclesiastical History, 4.26); ele também escreveu um comentário sobre
o Apocalipse (Eusébio, Ecclesiastical History, 4.26; Jerônimo, On
Illustrious Men, 24).
Aquele que tem os sete Espíritos de Deus — quer dizer, aquele
que tem a plenitude do Espírito (Ap_1:4; Ap_4:5; Ap_5:6; com Zc_3:9;
Zc_4:10, em comprovação de Sua divindade). Este atributo denota o
poder infinito do Espírito para repreender do pecado e da profissão oca.
e as sete estrelas — (Ap_1:16, Ap_1:20.) Aquele que ele tem as
sete estrelas, ou seja, os ministros presidentes, resulta de ter Ele os sete
Espíritos, ou a plenitude do Espírito Santo. O ministério humano é o
fruto dos dons do Espírito enviado por Cristo. Estrelas denota resplendor
e glória: a plenitude do Espírito e a plenitude do fulgor em Cristo,
formam um contraste pensado com o formalismo que reprova.
nome … vives … morto — (1Tm_5:6; 2Tm_3:5; Tt_1:16; com
Ef_2:1, Ef_2:5; Ef_5:14.) “Um nome,” ou seja, uma reputação. Sardes
tinha a fama entre as igrejas por sua vitalidade espiritual; entretanto o
Esquadrinhador dos corações, que vê como nenhum homem vê,
declarou-a morta. Que esquadrinhamento do próprio coração deveria
criar este caso entre os melhores de nós! Laodiceia se enganava a si
mesma a respeito de sua verdadeira condição (Ap_3:17), mas não está
escrito que ela tivesse tão bom nome entre as igrejas como o nome que
tinha Sardes.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 55
2. Sê vigilante — Gr., “chega a ser,” o que não és, “vigilante,” lit.,
“vigie” continuamente.
o resto — Fortalece as poucas graças que restam, as que em teu
mortífero sonho ainda não estão totalmente extintas. [Alford]. “O resto”
quase não pode significar “as PESSOAS ainda não mortas, mas que
estão por morrer;” porque Ap_3:4 denota que os “poucos” fiéis de
Sardes não estavam “para morrer,” mas em pleno vigor.
estava — Os dois manuscritos mais antigos dizem “estavam para
morrer.” Isto significa que o “está morto” (Ap_3:1) não se deve tomar
sem limitação; porque aqueles deviam ter alguma vida visto que lhes é
dito que “consolida o resto.”
íntegras — Lit., “cheias a pleno complemento;” traduza-se,
“completas.” Pesadas nas balanças do que requer a viva fé como motivo
das obras, e achadas em falta.
na presença do meu Deus — Os três manuscritos mais antigos,
Vulgata, Siríaca, e Cóptica, dizem, “diante de meu Deus:” o juízo de
Cristo é o juízo de Deus o Pai. Diante dos homens Sardes tinha “nome de
que vives:” “tantas e tão grandes são as obrigações dos pastores, que
aquele que cumprisse sequer a terça parte delas seria tido por santo pelos
homens, enquanto que se se contentasse com isso apenas, por certo não
escaparia do inferno.” [João D’Ávila]. Nota: Só de Sardes e Laodiceia
das sete, não lemos a respeito de conflitos com inimigos nem dentro nem
fora da Igreja. Não que uma nem a outra tivessem renunciado a
aparência de oposição ao mundo; mas sim nem uma nem a outra tinham
a fidelidade para testificar a favor de Deus por palavra nem exemplo, de
modo que “atormentasse os que habitam na terra” (Ap_11:10).
3. do que tens recebido — (Cl_2:6; 1Ts_4:1; 1Tm_6:20.) Pelo que
Sardes devia lembrar-se era, não de quão prazerosamente tinha recebido
originalmente a mensagem evangélica, mas sim de quão precioso
depósito lhe tinha sido confiante no princípio, de modo que não pudesse
dizer que não o “tinha recebido e ouvido.” O grego não é o aoristo (como
em Ap_2:4, referente a Éfeso, “deixaste o teu primeiro amor”), mas sim
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 56
“o que recebeste” (pretérito perfeito), e ainda tem o depósito permanente
de doutrina a ti confiada. A palavra “guarda-o”, que segue, concorda
com este sentido. “Guarda” ou observa o mandamento que tens recebido
e ouvido.
tens ... ouvido — Gr., “ouviste,” ou seja, quando a doutrina
evangélica foi confiada. Trench explica o “como” (Lembra-te de como
… ouviste”), com que demonstração do Espírito e de poder chegou a
verdade a ti da parte dos embaixadores de Cristo, com quanto alegria e
zelo a recebeste no princípio. Deste modo Bengel: “A consideração de
seu caráter anterior (sua boa fama de então) deveria ter a Sardes de
sobreaviso para a hora futura, chegasse quando chegasse, com resultado
tão funesto para ela.” Mas não é provável que o Espírito repita a mesma
exortação virtualmente a Sardes e a Éfeso.
se não — Gr., “porque se não …” visto que estás admoestado.
virei sobre ti como um ladrão (RC) — em juízo especial sobre ti
(grego) como igreja, com a mesma furtividade e tão inesperadamente
como será Minha segunda vinda visível. Como o ladrão que não dá
aviso de sua chegada. Cristo aplica a linguagem que em seu sentido
pleno descreve Sua segunda vinda, para descrever Sua vinda em juízo
especial sobre as igrejas e os estados (como Jerusalém, Mt_24:4-28),
sendo estes juízos especiais como penhor antecipatório daquela última
grande vinda. “O último dia nos está escondido, para que todo dia seja
observado por nós.” [Agostinho]. Duas vezes falou Cristo nos dias de
Sua carne as mesmas palavras (Mt_24:42-43; Lc_12:39-40), e tão
profundas ficaram gravadas Suas palavras na mente de Seus apóstolos
que são repetidas com frequência nos escritos deles (Lc_16:15; 1Ts_5:2,
1Ts_5:4, 1Ts_5:6; 2Pe_3:10). O provérbio grego que reza, “os pés dos
deuses vingadores estão calçados de lã,” expressa a aproximação sigilosa
dos juízos divinos, e sua possível proximidade no momento em que
supomos que estão muito distantes. [Trench].
4. Mas também tens — não obstante tua apatia espiritual.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 57
pessoas — Gr., “nomes” dos escritos no livro da vida (Ap_3:5),
conhecidos pelo nome, pelo Senhor, como Seus. Estes tinham a realidade
que correspondia a seu nome; não o mero nome de “viver” entre os
homens, estando com efeito mortos (Ap_3:1). O Senhor da graça não
passa por alto nenhum caso excepcional de Seus verdadeiros santos entre
os irreais.
não contaminaram as suas vestiduras — isto é, os vestidos de sua
cristã profissão, dos quais o batismo é o selo iniciador, pelo que os
candidatos ao batismo na antiga Igreja se vestiam de branco. Compare-se
também Ef_5:27, sobre a pureza da Igreja quando há de ser apresentada
a Cristo; e Ap_19:8, referente ao “linho fino,” limpo e branco, a “justiça
dos santos,” do qual há de ser embelezada; e “a roupagem de bodas.”
Enquanto isso ela não deve enegrecer sua profissão cristã com nenhuma
contaminação da carne nem do espírito, mas sim guardar sua roupagem.
Pois nenhuma sujeira entrará na cidade celestial. Não que haja aqueles
que se guardem totalmente livres da contaminação nesta vida; mas em
comparação com os de profissão oca, os piedosos se conservam sem
mancha do mundo; e quando por acaso se contaminam, lavam suas
manchas, como se lavassem suas roupas “brancas no sangue do
Cordeiro” (Ap_7:14). O grego não é “descorar” (gr., mianein), mas sim
“sujar” (gr., molunein), Ct_5:3.
andarão de branco junto comigo — A recompensa prometida
concorda com o caráter dos recompensados; guardando puras e brancas
suas vestimentas agora pelo sangue do Cordeiro, andarão com Ele de
branco depois. Sobre “comigo”, compare-se as mesmas palavras,
Lc_23:43; Jo_17:24. “Andar” denota vida espiritual, pois só os vivos
andam; e a liberdade, pois são os livres somente os que caminham livres.
A graça e a dignidade das vestimentas amplas e longas, luzem mais
quando a pessoa “caminha:” assim as graças do caráter manifesto do
santo, aparecerão plenamente quando for servir ao Senhor perfeitamente
no futuro (Ap_22:3).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 58
são dignas — com a dignidade (não a sua própria, mas sim a) de
que Cristo os reveste (Ap_7:14). Ez_16:14, “Perfeita por causa de
MINHA beleza que eu pus sobre ti.” A graça é a glória em casulo. “A
dignidade aqui denota uma congruência entre o estado de graça do
crente na terra e o de glória, que o Senhor lhe ordenou, que está por ser
estimado pela mesma lei da graça” [Vitringa]. Compare-se em contraste
At_13:46.
5. brancas — não um branco insípido, mas sim reluzente,
deslumbrante. [Grocio]. Compare-se Mt_13:43. O corpo transfigurado à
semelhança do corpo de Cristo, e emitindo raios de luz refletidos dEle, é
provavelmente “a vestimenta branca” aqui prometida.
será assim vestido — Gr., “Este será vestido;” ele mesmo, não
outro; assim dizem um manuscrito antigo e o Textus Receptus; mas dois
dos manuscritos mais antigos e a maior parte das versões antigas dizem,
“será ASSIM (houtoos em vez de houtos) vestido …”
vestiduras — “Aquele que vence” receberá o mesmo galardão que
os “que não sujaram suas vestimentas” (Ap_3:4); logo, os dois são
idênticos.
de modo nenhum apagarei — Gr., “de maneira nenhuma apagarei
…”
livro da vida — da cidade celestial. Guardava-se nas cidades
antigas um registro de seus cidadãos; os nomes dos mortos, é óbvio,
eram apagados. Assim os que têm nome de que vivem e estão mortos
(Ap_3:1), apagam-se da lista de Deus dos cidadãos celestiais e herdeiros
da vida eterna; não que no decreto eletivo de Deus tenham estado
alguma vez em Seu livro da vida. Mas, segundo os conceitos humanos,
os que tinham boa fama de piedade se suporia que estavam nele, e
estavam, com relação a privilégios, efetivamente entre os que estavam
no caminho da salvação; mas tais privilégios, e o fato de que uma vez
poderiam ter sido salvos, não lhes servirão para nada. Sobre o livro da
vida, veja-se Ap_13:8; Ap_17:8; Ap_20:12, 15; Ap_21:27; Êx_32:32;
Sl_69:28; Dn_12:1. No sentido dos chamados, muitos são alistados entre
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 59
os chamados à salvação que não serão achados no final entre os
escolhidos. O recinto da salvação é mais amplo que o da eleição. A
eleição é fixa. A salvação está aberta a todos, e está pendente
(humanamente falando) no caso dos aqui mencionados. Mas Ap_20:15 e
Ap_21:27 exibem o livro dos escolhidos sozinhos, apagados já outros.
diante … e diante — Comp. a mesma promessa da confissão por
Cristo diante de Seu Pai, etc., Mt_10:32-33; Lc_12:8-9. Aqui se omite
“no céu” depois de “meu Pai,” porque visto que Ele está no céu, não há
contraste entre o Pai no céu e seu Filho sobre a terra. [Trench]. Uma
coincidência impensada que prova que estas epístolas são, como
pretendem ser, em suas palavras, assim como em substância, cartas
próprias de Cristo; sem retoque algum com o colorido do estilo de João,
tal como aparece em seu Evangelho e Epístolas. A coincidência está
principalmente com os sinóticos e não com o Evangelho segundo João, o
que faz com que a coincidência seja mais marcadamente impensada.
Assim também a frase, “Quem tem ouvidos, ouça,” não é repetida do
Evangelho de João, mas sim das mesmas palavras do Senhor nos
sinóticos (Mt_11:15; Mt_13:9; Mc_4:9, Mc_4:23; Mc_7:16; Lc_8:8;
Lc_14:35).
6. Comp. nota, Ap_2:7.)
7. Filadélfia — na Lídia, uns quarenta e quatro quilômetros ao
sudeste de Sardes, edificada por Átalo Filadelfo, rei de Pérgamo, morto
em 138 a.C. Foi quase destruída por um terremoto no reinado de Tibério.
[Tácito, Annals, 2.47]. A relação desta Igreja com os judeus locais
motiva que se lhe dê à carta um colorido do Antigo Testamento nas
figuras usadas. Somente Ela e Esmirna, dentre as sete, recebem louvor
puro.
o santo — como no Antigo Testamento. “O santo de Israel.” Assim
Jesus e o Deus do Antigo Testamento são um. Ninguém senão Deus é
absolutamente santo (Gr., hagios, separado do mal, e que o aborrece
perfeitamente). Em contraste com “a sinagoga de Satanás” (Ap_3:9).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 60
o verdadeiro — Gr., alethinos: o VERDADEIRO Deus, distinto
dos falsos deuses, e de todos os que se dizem ser o que não são
(Ap_3:9); real, genuíno. Além disso, ele compreende perfeitamente tudo
o que está envolto nos nomes, Deus, luz (1Jo_1:9; 1Jo_2:8), pão
(Jo_6:32), a videira (Jo_15:1); como distinguidos de toda compreensão
típica, parcial e imperfeita da ideia. Seu caráter corresponde a seu nome
(Jo_17:3; 1Ts_1:9). O grego, alethes, por outro lado, significa
veracidade, amante da verdade (Jo_3:33; Tt_1:2).
aquele que tem a chave de Davi — O antítipo de Eliaquim, a
quem a chave, símbolo de autoridade “sobre a casa de Davi” foi
transferida de Sebna, quem foi removido do posto de administrador por
ser indigno. Cristo, o herdeiro do trono de Davi, suplantará a todos os
mordomos indignos que tenham abusado de seus privilégios na casa
espiritual de Deus, e “reinará sobre a de Jacó” literal e espiritual
(Lc_1:32-33), “para sempre,” como filho sobre sua própria casa”
(Hb_3:2-6). Resta que Cristo abra ou feche o palácio celestial, decidindo
quem deve e quem não deve ser admitido nele como também abre, ou
fecha, a prisão, tendo as chaves do inferno (hades) e da morte
(Ap_1:18). O poder das chaves foi dado a Pedro e outros apóstolos, só
para quando e assim que Cristo os fizesse infalíveis a ele e a eles. Sejam
quais fossem os graus que deste poder sejam repartidos aos ministros, o
supremo poder pertence a Cristo somente. Assim Pedro justamente abriu
a porta evangélica aos gentios (Atos 10; Hb_11:17-18; especialmente
At_14:27, fim). Mas erroneamente tentou fechar a porta de novo em
parte (Gl_2:11-18). Eliaquim teve “a chave da casa de Davi posta sobre
seu ombro;” Cristo, como o Davi antitípico, tem Ele mesmo “o governo
sobre o ombro.” Seu atributo aqui, como em outros casos, concorda com
a promessa. Embora “a sinagoga de Satanás,” “judeus” falsos, tentem
“fechar” a “porta” que pus diante de ti;” “a qual ninguém pode fechar”
(Ap_3:8-9).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 61
ninguém fechará — Assim dizem a Vulgata e a Siríaca. Mas os
manuscritos mais antigos dizem, “fechará”; também a Cóptica e
Orígenes.
fecha, e ninguém abrirá — Dois dos manuscritos mais antigos, B
e Álef, a Cóptica e Orígenes, dizem “abrirá”. Os manuscritos A e C, e a
Vulgata apoiam nossa versão Revista e Corrigida.
8. tenho posto diante de ti — dom precioso para ti.
uma porta aberta — para a evangelização; uma porta de serviço
espiritual. A abertura da porta por ele à Igreja de Filadélfia, concorda
com a atribuição que acaba de fazer a ele da “chave do David.”
pouca força — Isto dá a ideia de que Cristo diz que pôs diante da
Igreja de Filadélfia uma porta aberta porque tem pouco poder; mas o
sentido é, antes, que o faz porque não tem senão pouco poder; estando
consciente de sua fraqueza, é mais digna da concessão do poder de Deus
(assim Aquinas), de modo que o Senhor Cristo tenha toda a glória.
guardaste — e assim a pequenez de seu poder deve ser a fonte do
poder do Todo-poderoso, para te levar a confiar totalmente em Meu
grande poder e, portanto, guardaste a Minha palavra. Grocio faz com
que “um pouco de poder” signifique que Filadélfia tinha uma igreja
pequena em número e recursos materiais: “um pequeno rebanho pobre
em bens mundanos, e de pouca importância aos olhos dos homens.”
[Trench]. Assim diz Alford. Eu prefiro a opinião anterior. Os verbos
gregos estão no aoristo; “Guardaste … não negaste o meu nome;”
aludindo a alguma ocasião particular quando sua fidelidade foi posta à
prova.
9. Eis farei — (Nota, Ap_3:8). A promessa dada a Filadélfia é
maior que a dada a Esmirna. Para esta a promessa foi, que “a sinagoga
de Satanás” não prevaleceria contra seus membros fiéis: a Filadélfia, que
ela até ganharia em alguns da sinagoga de Satanás”, de modo que caiam
sobre o rosto e reconheçam que Deus na verdade está nela. Traduza-se,
“(a alguns) da sinagoga …” Pois até que Cristo venha, e todo Israel seja
então salvo, não há senão “um remanescente” que se junta dentre os
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 62
judeus “segundo a eleição de graça.” Isto é exemplo de como Cristo
apresentou diante dela uma “porta aberta,” em que alguns de seus
maiores adversários, os judeus, seriam trazidos à obediência da fé. O fato
de que adorassem diante dos pés dela expressa a disposição do
convertido de ocupar o lugar mais humilde na igreja, fazendo honra
servil àquelas que antes perseguiam com preferência a habitar entre os
ímpios. Assim o carcereiro de Filipos perante Paulo.
10. a palavra da minha perseverança — “A palavra de minha
paciência perseverante,” quer dizer do evangelho, que ensina a paciência
e perseverança na expectativa de minha vinda (Ap_1:9). A paciência que
Eu pratico e a que exijo da parte de outros. Cristo agora suporta,
esperando com paciência, até que o usurpador seja lançado fora, e “todos
os Seus inimigos sejam postos por estrado de Seus pés.” Assim, também,
a Igreja, pela alegria que lhe está proposta de participar do reino
vindouro, suporta com paciência. Portanto, em Ap_3:11 acrescenta,
“Venho sem demora.”
também eu — O galardão é segundo a espécie: “porque guardaste
… eu também (de minha parte) te guardarei …”
da tentação — Gr., “de (modo de te livrar fora de) a tentação,”
não, para que não seja tentado.
hora da tentação — a estação ordenada da aflição e a tentação
(assim em Dt_4:34 chama-se às pragas “as tentações do Egito”); não a
hora de tentação, mas sim da tentação: a tentação dolorosa que se
aproximava, o tempo da grande tribulação de antes da vinda de Cristo.
para experimentar os que habitam sobre a terra — os que são
da terra, terrenos (Ap_8:13). “Habitam” denota que sua morada é a terra,
não o céu. Toda a humanidade, salvo os escolhidos (Ap_13:8,
Ap_13:14). A tentação destaca a fidelidade dos que são guardados por
Cristo, e endurece os incrédulos reprovados (Ap_9:20-21; Ap_16:11,
Ap_16:21). As perseguições particulares que sobrevieram a Filadélfia
um pouco depois, foram penhor da grande tribulação última que virá
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 63
antes da segunda vinda de Cristo, a que se chama a tentação da Igreja em
todas as idades.
11. Eis que (RC) — Omitidas em três dos manuscritos mais antigos
e pela maior parte das versões antigas.
Venho sem demora — o grande incentivo à fidelidade
perseverante, e à consolação sob as provas atuais.
o que tens — ou seja, “a palavra da minha paciência,”
“perseverança” (Ap_3:10), pela que acaba de louvá-los e a que é
necessária para alcançar o reino; este o perderiam se cedessem à tentação
de mudar a fidelidade com sofrimento pela contemporização com
tranquilidade.
para que ninguém tome a tua coroa — que de outra maneira não
receberia: que nenhum tentador te faça perder isso; não que o tentador
com isso ganharia para si (Cl_2:18).
12. coluna no santuário — Num sentido não haverá templo na
cidade celestial, porque não haverá diferença entre coisas sagradas e
seculares, porque todas as coisas e todas as pessoas serão santas ao
Senhor. A cidade será toda um grande templo, em que os santos serão
não meramente pedras, como no templo espiritual atual na terra, mas sim
serão todos eminentes como colunas: inamovivelmente firmes (não
como Filadélfia, cidade muitas vezes sacudida pelo terremoto, Estrabão,
12 e 13), como os colossais pilares do templo de Salomão, Boaz (isto é,
“nele há força”) e Jaquim (“será estabelecido”); somente que aqueles
pilares estavam fora e estes estarão dentro do templo.
meu Deus — (Nota, Ap_2:7.)
daí jamais sairá — Como os anjos escolhidos estão fora da
possibilidade de cair, estando agora (como dizem os escolásticos) sob “a
bendita necessidade da bondade,” o mesmo estarão os santos. A porta
será fechada uma vez para sempre, tanto para encerrar em segurança os
santos para excluir os perdidos (Mt_25:10; Jo_8:35, com Is_22:23, o
tipo, Eliaquim). Serão sacerdotes para sempre para Deus (Ap_1:6).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 64
“Quem não desejaria aquela cidade de onde nenhum amigo se ausenta e
aonde nenhum inimigo entra?” [Agostinho em Trench].
gravarei também sobre ele o nome do meu Deus — como
pertinência de Deus em sentido especial (Ap_7:3; Ap_9:4; Ap_14:1, e
em especial Ap_22:4), e portanto em segurança. Como o nome de Jeová
(“Santidade ao Senhor”) estava na lâmina de ouro que portava sobre a
fronte o sumo sacerdote (Êx_28:36-38), assim os santos em seu
sacerdócio real celestial portarão Seu nome abertamente, como
consagrados a Ele. Comp. a caricatura disto na marca que levam sobre o
rosto os seguidores da besta (Ap_13:16-17), e sobre a meretriz
(Ap_17:5; com Ap_20:4).
o nome da cidade do meu Deus — como um dos cidadãos dela
(Ap_21:2, 3, 10, a que se alude brevemente aqui por antecipação). A
descrição completa da cidade, propriamente forma o término do livro. A
cidadania dos santos agora está escondida, mas então será manifestada:
terão o direito a entrar pelas portas na cidade (Ap_22:14). Esta é a
cidade que Abraão esperava.
nova — Gr., kainós. Não a antiga Jerusalém, que uma vez foi
chamada “a cidade santa,” e que perdeu o nome. O grego néos
expressaria que recentemente teve existência, mas kainós, que era nova e
diferente, substituindo a velha Jerusalém desfeita assim como a sua
política. “João em seu Evangelho, aplica à antiga cidade o nome grego
de Hierosolyma. Mas no Apocalipse, sempre, à cidade celestial o nome
hebraico de Hierousalem. O nome hebraico é o original e o mais santo; o
grego é o recente e mais secular e político.” [Bengel].
meu novo nome — atualmente incomunicável, e só conhecido por
Deus, para ser revelado para além e feito próprio do crente em união
com Deus em Cristo. O nome de Cristo escrito sobre o crente, denota
que ele é totalmente de Cristo. Novo também se aplica a Cristo, quem
assumirá um novo caráter (correspondente a seu “novo nome”), entrando
com Seus santos num reino — não aquele que tinha com o Pai antes de
de os mundos existirem, mas sim aquele que ganhou por Sua humilhação
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 65
como Filho do homem. Gibbon, o incrédulo (Decline and Fall, ch. 64),
dá um testemunho, a contragosto, do cumprimento da profecia a respeito
de Filadélfia sob um ponto de vista temporal. “Entre as colônias e igrejas
gregas da Ásia, Filadélfia está ainda erguida — uma coluna numa cena
de ruínas — um exemplo agradável de que os caminhos da honra e da
segurança podem com frequência ser as mesmas.”
13. (Nota, Ap_2:7).
14. Laodiceia — A cidade estava na parte sudoeste de Frígia, sobre
o rio Lico, não longe de Colossos, entre esta e Filadélfia. Foi destruída
por um terremoto em 62 d.C., e reedificada por seus cidadãos ricos sem a
ajuda do estado. [Tácito, Annals 14.27]. Esta riqueza (devido à
excelência de suas lãs) conduziu a um estado de tibieza e complacência
própria em coisas espirituais, como pinta Ap_3:17. Veja-se Nota sobre
Cl_4:16, referente à epístola que se crê que foi escrita por Paulo à Igreja
Laodicense. A Igreja em tempos posteriores aparentemente florescia,
pois um dos concílios em que se determinou o cânon da Escritura,
verificou-se em Colossos no ano 361. Dificilmente se há de encontrar
um cristão hoje em dia naquele sitio ou em suas cercanias.
o Amém — (Is_65:16, heb., “aquele que se bendisser no Deus do
Amém … pelo Deus do Amém jurará;” 2Co_1:20). Aquele que não só
diz a verdade, mas também é a verdade. Os santos usavam o Amém ao
finalizar a oração, ou ao assentir à palavra de Deus; mas ninguém, senão
o Filho de Deus, jamais disse, “Amém (em verdade), eu lhes digo,”
porque é a linguagem peculiar de Deus, quem declara por Si mesmo. A
fórmula do Novo Testamento “Amém, eu lhes digo,” é equivalente à do
Antigo Testamento, “Como vivo eu, diz Jeová.” Só no Evangelho de
João (no grego) ele usa o duplo “Amém,” Jo_1:51; Jo_3:3, etc., que se
traduz, “em verdade, em verdade.” O título harmoniza com o conteúdo
da epístola. Sua fidelidade imutável como “o Amém” se contrasta com a
inconstância de Laodiceia, “nem frio nem quente” (Ap_3:16). O anjo de
Laodiceia, conjeturou-se com certa probabilidade que fosse Arquipo, a
quem fazia trinta anos Paulo lhe enviou uma admoestação por sua
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 66
necessidade de ativar-se com diligência em seu ministério. Constituições
Apostólicas [8:46], nomeia-o como o primeiro bispo de Laodiceia: filho
suposto de Filemom (Fm_1:2).
testemunha fiel e verdadeira — Como “o Amém” expressa a
verdade imutável de Suas promessas, assim “a testemunha fiel e
verdadeira,” a verdade de Suas revelações a respeito das coisas celestiais
que viu e testificou. “Fiel,” quer dizer, digno de confiança (2Tm_2:11,
2Tm_2:13). “Verdadeiro” não é aqui veraz (Gr., alethes), mas sim
(alethinos) “aquele que compreende perfeitamente tudo o que está
compreendido no nome Testemunha” (1Tm_6:13). Para isto três coisas
são indispensáveis: (1) ter visto com os olhos o que testemunha; (2) ser
competente para referi-lo a outros; (3) estar disposto a fazê-lo
verazmente. Em Cristo se preenchem todas estas condições. [Trench].
principio da criação de Deus — não aquela a quem Deus criou
primeiro, mas sim como em Cl_1:15-18 (veja-se Notas ali), o
Principiador de toda a criação, seu instrumento originador. Não seria
representado adorado por toda a criação, se Ele fosse tão somente um
dos criados. O fato de que Ele é o Criador é garantia forte de Sua
fidelidade como “a Testemunha e o Amém.”
15. nem … frio — A antítese de “quente,” lit., fervendo
(“fervente,” At_18:25; Rm_12:11; veja-se Ct_8:6; Lc_24:32), requereria
que “frio” aqui significasse mais que negativamente frio; é, antes,
absolutamente gelado: sem ter estado nunca quente. Os laodicenses em
coisas espirituais estavam frios comparativamente, mas não frios como o
mundo exterior, nem como os que nunca tinham pertencido à Igreja. Este
estado de tibieza, se indicar a transição para com um mais quente, é uma
condição desejável (porque um pouco de religião é melhor que
nenhuma); mas é fatal quando é, como aqui, uma condição permanente,
porque o confunde com um estado de segurança (Ap_3:17). Isto explica
o desejo de Cristo de que fossem frios, antes que mornos. Porque em tal
caso não haveria o mesmo “perigo de motivo misto e princípio
descuidado.” [Alford]. Também, há mais esperança para os frios, ou seja,
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 67
para os que são do mundo, e que não foram esquentados ainda pela
chamada evangélica; porque, tendo sido chamados, pode ser que
cheguem a ser ardentes, cristãos ferventes: tais chegaram a ser os antes
frios publicanos, Zaqueu e Mateus. Mas os mornos chegaram ao alcance
do fogo santo sem ser esquentados por ele e feitos ferventes: tendo
bastante religião para sossegar a consciência numa segurança falsa, mas
sem o bastante para salvar a alma: como Demas (2Tm_4:10). Tais são os
que claudicam entre duas opiniões (1Rs_18:21; 2Rs_17:41; Mt_6:24).
16. não és frio nem quente (RC) — Assim um dos manuscritos
mais antigos, B., e a Vulgata. Mas dois deles, a Siríaca e a Cóptica,
transpõem assim, “nem és quente nem frio.” É notável que o adjetivo
grego é masculino, concordante com anjo e não feminino, com igreja. O
Senhor dirige-se ao anjo como a encarnação e o representante da Igreja.
O ministro principal é responsável por seu rebanho, se deixar de
admoestar os membros que o formam.
estou a ponto de vomitar-te — Gr., “Tenho que …” ou “estou por
vomitar-te …” expressando graciosamente a possibilidade de que a
ameaça não se leve a cabo, contanto que logo se arrependesse. Seu trato
para com eles dependerá da atitude deles para com Ele.
vomitar-te da minha boca — rejeitará com justo ódio, como a
terra de Canaã vomitou os seus habitantes por causa de suas
abominações. Os médicos usavam água morna para provocar o vômito.
Costuma-se servir bebidas geladas ou quentes nas festas, mas nunca as
mornas. Havia mananciais frios e quentes em Laodiceia.
17. A suficiência presunçosa é perigo fatal do estado morno (Nota,
Ap_3:15).
dizes — virtual e mentalmente, se não em tantas palavras.
abastado — O Senhor alude a Os_12:8. As riquezas de que se
jactavam eram riquezas espirituais; embora, sem dúvida, sua arrogância
espiritual (“não preciso de coisa alguma”) era alimentada por sua riqueza
mundana; da mesma maneira que a pobreza de espírito é alimentada pela
pobreza material.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 68
nem sabes — em particular, tu de todas as pessoas. O “tu” no grego
é enfático.
infeliz — Gr., “o coitado,” o “desgraçado.”
miserável — assim diz um dos manuscritos mais antigos; outros
dois prefixam “o.” Traduza-se “o lastimoso,” “o especialmente digno de
lástima.” Quão diferente é a opinião que tem Cristo dos homens, com
relação à que eles têm de si mesmos! “Não preciso de coisa alguma”!
cego — enquanto que Laodiceia se jactava de uma compenetração
mais profunda que a comum em coisas divinas. Não eram cegos
absolutamente, de outro modo o colírio de nada lhes serviria; antes, eram
curtos de vista.
18. Ironia benigna e amorosa. Recebe meu conselho, tu que
imaginas não ter necessidade de nada. Não só necessitas de algo, mas
também te faltam as coisas mais comuns necessárias para a existência.
Bondosamente condescendes a teu modo de pensar e de falar: tu és povo
disposto a escutar qualquer conselho a respeito de como comprar com
proveito; então, escuta-Me (pois sou “conselheiro”, Is_9:6), “compra de
Mim” (em quem, segundo a Epístola de Paulo dirigida à vizinha Igreja de
Colossenses e destinada à de Laodiceia também, Cl_2:1, Cl_2:3;
Cl_4:16, estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e
conhecimento). “Que compres” não quer dizer que possamos, por nossas
obras de merecimento comprar o dom gratuito de Deus; ao contrário, o
mesmo preço de compra consiste na renúncia de toda justiça própria,
como a que tinha Laodiceia (Ap_3:17). “Compra” com o preço de tua
suficiência própria (como fez Paulo, Fp_3:7-8); renunciando a todas as
coisas, por caras que sejam, que nos impeçam de aceitar a salvação em
Cristo, como um dom gratuito, ou seja, o ego e os desejos mundanos.
Compare-se Is_55:1, “Comprai … sem dinheiro e sem preço.”
de mim — a fonte de “inescrutáveis riquezas” (Ef_3:8). Laodiceia
era uma cidade de muitas transações bancárias. [Cícero].
ouro refinado pelo — Ouro que foi exposto ao calor purificador (e
recém tirado) do (ek, grego) fogo, para comprovar sua pureza, que retém
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 69
seu brilho. A verdadeira riqueza espiritual, em contraste com a falsa, da
qual se jactava Laodiceia. Uma vez que compres este ouro já não mais
serás pobre. (Ap_3:17).
vestiduras brancas — Era famosa a lã de Laodiceia. Cristo oferece
roupagem imensamente mais branca. Como o “ouro refinado pelo fogo”
expressa a fé provada por meio de desumana perseguição; assim
“vestiduras brancas”, a justiça de Cristo imputada ao crente na
justificação, e comunicada na santificação.
seja manifesta — ou “seja manifestada,” isto é, no último dia,
quando todo aquele que estiver sem o traje de bodas será descoberto.
Despir a alguém no Oriente é a figura que significa envergonhá-lo. Deste
modo vestir a alguém de roupagem fina é fazer-lhe honra. O homem
pode descobrir sua vergonha, Deus só pode cobri-la de modo que não
seja manifestada sua nudez (Cl_3:10-14). Bem-aventurado aquele cujas
iniquidades estão cobertas. A vergonha do hipócrita pode manifestar-se
agora, há de sê-lo no fim.
colírio para ungires os olhos — Os manuscritos mais antigos
dizem, “(compra de mim) colírio para ungir teus olhos.” Cristo tem para
Laodiceia um unguento muito mais precioso que todos os custosos
unguentos do Oriente. O olho aqui é a consciência, ou a luz interior.
Conforme seja são e “simples” (gr., haplous, “singelo,”), ou outra coisa,
o homem vê bem espiritualmente, ou não vê bem. A unção do Espírito
Santo, como o antigo unguento para os olhos, o colírio, primeiro queima
com a compunção, logo cura. Ele nos abre os olhos primeiro para que
nos vejamos a nossa miséria e, logo, ao Salvador em Sua grande
bondade. Trench observa que são somente as duas igrejas mais
afundadas, Sardes e Laodiceia, nas quais não se especificam opositores
de fora, nem heresias de dentro. Aquela Igreja tem grande dívida de
gratidão com a Providência interventora, que tantas vezes fez com que os
inimigos internos e externos, a seu pesar, promovam a causa de Cristo,
provocando as forças dela na contenção pela fé uma vez entregue aos
santos. A paz se paga caro quando se obtém à custa do estancamento
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 70
espiritual, quando não se sente bastante interesse na religião para
disputar sequer um pouco.
19. (Jó_5:17; Pv_3:11-12; Hb_12:5-6). Assim foi no caso de
Manassés (2Cr_33:11-136).
castigo — “Açoita a qualquer que recebe por filho.” E serás tu uma
exceção? Se te excetuas do padecimento do açoite, também és excetuado
do número dos filhos.” [Agostinho]. Esta é um encorajamento a
Laodiceia, para que não se desesperar, mas sim receber a repreensão
como sinal de bem, se ela a aproveitar.
amo — Gr., filo, o amor de afeto gratuito, independentemente de
toda base de estimativa da parte do amado. Mas no caso de Filadélfia
(Ap_3:9), “Amei-te,” (Gr., egapesa), com o amor de estimativa, fundado
no juízo.
Eu repreendo — O pronome “eu” vem primeiro no grego; é
enfático. Eu, em Meus procedimentos, totalmente dessemelhante do
homem, no caso de todos os que amo, repreendo. O grego elencho é o
mesmo verbo de Jo_16:8, “(o Espírito Santo) convencerá (repreenderá
para convicção) o mundo de pecado.”
castigo — O grego paideu que no clássico significa instruir
mediante o castigo (Hb_12:5-6). Davi foi repreendido e compungido,
quando clamou, “pequei contra o Senhor:” seguiu o castigo, quando seu
filho foi tirado (2Sm_12:13-14). No castigo divino, o pecador se
estremece sob o açoite e ao mesmo tempo aprende a justiça.
Sê, pois, zeloso — habitualmente. O tempo presente do grego, toda
uma vida de zelo. O oposto de morno. O grego o destaca pela aliteração:
Laodiceia não foi quente (gr., zestos), insiste, pois, a que seja “zelosa”
(gr., zeleue): os dois vocábulos se derivam da mesma raiz, o verbo, gr.,
zeo, ferver.
arrepende-te — o aoristo grego: um fato consumado uma vez por
todas, não a ação continuativa.
20. estou à porta — de pé, esperando em maravilhosa
condescendência e longanimidade.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 71
bato — (Ct_5:2). Isto é manifestação adicional de Seu desejo
amoroso pela salvação do pecador. O mesmo que é “a porta,” e nos
manda “bater,” para que nos abra, deve bater primeiro Ele mesmo à
porta de nosso coração. Se Ele não batesse primeiro, nós nunca
bateríamos em Sua porta. Veja-se Ct_5:4-6, aludido, sem dúvida, aqui; o
Espírito desta maneira em Apocalipse põe o selo da canonicidade àquele
místico livro. Aquele estado espiritual da noiva, entre o despertar e o
dormir, tarda para abrir a seu divino Amante, corresponde à morna
Laodiceia aqui. “O amor para com os homens despojou (humilhou) a
Deus; porque Ele não fica em Seu lugar, chamando a Si mesmo àquele
servo a quem ama, antes Ele mesmo desce para buscá-lo, e aquele
Riquíssimo chega à choça do pobre e com Sua própria voz oferece Seu
ardente amor, e busca o amor que corresponda, e não Se retira rejeitado,
mas sim é paciente perante o insulto, e até perseguido, espera ainda à
porta” [Nicolás Cabasilas em Trench].
minha voz — Apela ao pecador não só com Sua mão (Suas
providências) chamando, mas também com a voz (Sua palavra lida, ou
ouvida; ou antes, por Seu Espírito que interiormente aplica ao espírito do
homem as lições tiradas de Suas providências e de Sua palavra). Se nos
negarmos a ouvir Seu toque à nossa porta agora, Ele Se negará a
responder à nossa chamada à Sua porta, depois. Com relação à Sua
segunda vinda também, Ele está até agora à porta, e não sabemos quão
breve há de chamar; portanto devemos estar sempre preparados para lhe
abrir imediatamente.
se alguém ouvir — pois o homem não está compelido por força
irresistível: Cristo bate, mas não força a porta, embora os valentes
arrebatam o reino pela força da oração (Mt_11:2): todo aquele que ouve
o faz, não de si mesmo, mas atraído pela graça de Deus (Jo_6:44): o
arrependimento é dom de Cristo (At_5:31). Ele atrai, mas não arrasta. O
Sol da justiça, como o sol de nosso céu, no próprio momento em que se
abre a porta, inunda-o todo com Sua Luz, a que antes não pôde achar
entrada. Comp Hilary sobre o Sl_118:89.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 72
entrarei em sua casa — como entrei na casa de Zaqueu.
cearei com ele, e ele, comigo — Reciprocidade deleitosa! Comp.
“habita em mim e eu nele,” Jo_6:56. Enquanto comumente o hóspede
convidado a cear com aquele que o convidou, aqui o hóspede divino
deve ser o Hospitaleiro, pois ele é o pão da vida, e o doador das bodas.
Aqui de novo alude a Ct_4:16, onde a Esposa o convida a comer da doce
fruta, como Ele primeiro tinha preparado uma festa para ela, “Sua fruta é
doce a meu paladar” Comp. o mesmo intercâmbio, Jo_21:9-13,
preparada a festa dos alimentos que Jesus trouxe, e dos que trouxeram os
discípulos. A consumação desta bendita participação terá lugar nas
Bodas do Cordeiro, da qual a ceia do Senhor é objeto e primícias.
21. sentar-se comigo no meu trono — (Ap_2:26-27; Ap_20:6;
Mt_19:28; Mt_20:23; Jo_17:22, Jo_17:24; 2Tm_2:12.) Os mesmos aos
quais Jesus acabava de ameaçar, vomitando-os de sua boca, agora lhes
oferece um assento com Ele em Seu trono. “O posto mais alto ao alcance
dos mais baixos, a faísca mais fraca pode ser atiçada até convertê-la em
chama de amor, a mais potente.” [Trench].
assim como também eu — Aqui se mencionam dois tronos: (1) o
de Seu Pai, onde Cristo está sentado agora e desde Sua ascensão,
consumada Sua vitória sobre a morte, o pecado, o mundo; neste não
pode sentar-se senão só Deus e o Homem divino Cristo Jesus, pois é a
prerrogativa incomunicável somente de Deus; (2) o trono que será de
Cristo em sentido peculiar como do uma vez humilhado e logo
glorificado Filho do Homem, que há de levantar-se sobre a terra (até
agora usurpado por Satanás) em Sua vinda; neste trono participarão
todos os santos vitoriosos (1Co_6:2). A transfigurada eleita Igreja com
Cristo julgará e reinará sobre as nações na carne, e sobre Israel, a
principal delas; administrando-lhes bênçãos, assim como os anjos eram
os mediadores do Senhor, das bênçãos e os administradores de Seu
governo, quando instituiu Seu trono sobre Israel no Sinai. Este privilégio
de nossa alta vocação pertence exclusivamente ao presente tempo
enquanto reina Satanás, só enquanto há lugar para conflito e para vitória
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 73
(2Tm_2:11-12). Quando Satanás for preso (Ap_20:4), já não haverá mais
lugar para isto, pois então todos os que estiverem na terra conhecerão o
Senhor desde o menor até o maior. Esta, a promessa e coroa de glória,
coloca-se no fim das sete epístolas, para reuni-las todas numa. Também
forma o elo de união com a seguinte parte do livro, onde se introduz o
Cordeiro sentado sobre o trono de seu Pai (Ap_4:2-3; Ap_5:5-6). O
trono oriental é mais largo que o de Inglaterra, e oferece capacidade para
outros, além do principal que ocupa o centro. Observa Trench, A ordem
das promessas corresponde ao do desenvolvimento do reino de Deus
desde seus princípios na terra até sua consumação no céu. Aos fiéis de
Éfeso:
(1) a árvore da vida no Paraíso de Deus lhes é prometido
(Ap_2:7), correspondente a Gênesis 2.
(2) O pecado entrou no mundo e pelo pecado a morte; mas aos fiéis
de Esmirna lhes é prometido que não serão danificados pela segunda
morte (Ap_2:11). A promessa do maná escondido (Ap_2:17) a Pérgamo
(3) traz-nos para o período mosaico da Igreja no deserto.
(4) A promessa de Tiatira, do triunfo sobre as nações (Ap_2:26-
27), forma a consumação do reino em tipo profético, o período de Davi e
Salomão caracterizado por este poder sobre as nações. Aqui há uma
divisão. De sete se formam dois grupos, de quatro e de três, como
acontece muitas vezes, por exemplo, a oração do Senhor, de três e
quatro. O cenário das últimas três promessas passa da terra ao céu,
contemplando-se a Igreja como triunfante, com seus passos de glória em
glória.
(5) A promessa de Cristo ao crente de Sardes referente a não apagar
seu nome do livro da vida, mas sim de confessá-lo diante de seu Pai e
dos anjos no dia do juízo, e de vestir o de um corpo glorificado de
fulgurante brancura (Ap_3:4-5).
(6) Aos fiéis de Filadélfia Cristo promete que serão cidadãos da
nova Jerusalém, estabelecidos ali como pilares inamovíveis onde a
cidade e o templo são um (Ap_3:12); aqui não só a salvação individual
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 74
promete ao crente, como no caso de Sardes, mas também os privilégios
preciosos da comunhão da Igreja triunfante.
(7) Finalmente, aos fiéis de Laodiceia lhes é dada a mais preciosa
promessa de todas, não só das duas bênçãos precedentes, mas também
além disso o poder sentar-se com Cristo em Seu trono, como Ele Se
sentou com Seu Pai em Seu trono (Ap_3:21).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 75
Apocalipse 4

Vv. 1-11. A visão do trono de Deus no céu; os vinte e quatro


anciãos; os quatro seres viventes.
Aqui inicia propriamente a Revelação; em primeiro lugar, os
capítulos 4 e 5 nos põem diante o cenário celestial das visões sucessivas,
e a Deus em Seu trono, como o Deus da aliança de Sua Igreja, o
Revelador delas a Seu apóstolo por meio de Jesus Cristo. A primeira
porção grande compreende a abertura dos selos e os sete sons da
trombeta (caps. 4-11.). Como a comunicação a respeito das sete igrejas
se abriu com uma visão apropriada do Senhor Jesus como a Cabeça da
Igreja, assim a segunda parte principia com uma análoga visão pertinente
do assunto que ia ser revelado. O cenário muda da terra ao céu.
1. Depois destas coisas — que assinalam a abertura da próxima
visão da série. Aqui está a transição das “coisas que são” (Ap_1:19), o
estado atual das sete igrejas, como tipo da Igreja em geral do tempo de
João, às coisas que hão de ser “depois destas,” quer dizer, com relação
ao tempo em que João escreveu.
olhei — antes, como o gr., “vi” em visão, sem dirigir o olhar de
propósito.
aberta — que estava aberta; não viu abrir-se. Comp. Ez_1:1;
Mt_3:16; At_7:56; At_10:11. Mas em tais visões os céus se abriam,
descobrindo as visões aos que estavam abaixo na terra. Enquanto que,
aqui, no céu, o templo de Deus fica fechado aos que estão na terra, mas
João é transportado em visão por uma porta aberta, ao céu, de onde pode
ver coisas que se passam na terra e no céu, conforme requeiram as cenas
das várias visões.
a primeira voz que ouvi — a voz que ouvi no princípio (Ap_1:10).
como de — “Era” em itálicos; não está no grego: “Eis aqui uma
porta … eis aqui a voz … como de trombeta …”
Sobe para aqui — pela “porta aberta”
depois destas — depois do presente tempo (Ap_1:19).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 76
2. E logo (RC) — Omitem “e” dois dos manuscritos mais antigos,
Vulgata, Siríaca.
eu me achei em espírito — “Me transformei no Espírito” (Nota,
Ap_1:10): fui totalmente arrebatado ao mundo celestial.
alguém sentado — o eterno Pai: o Criador (Ap_4:11); também
comp. Ap_4:8 com Ap_1:4, onde Ele é chamado “Aquele que é e que
era, e que há que vir.” Quando o Filho, “o Cordeiro”, é apresentado,
Ap_5:5-9, canta-se um novo cântico, que distingue o que está sentado no
trono, do Cordeiro, “com o teu sangue compraste para Deus homens,” e
Ap_5:13, “Ao que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro.” Assim
também em Ap_5:7, como em Dn_7:13, o Filho do homem trazido
diante do Ancião de dias, distingue-se dEle. O Pai em essência é
invisível, mas na Escritura às vezes é representado assumindo uma forma
visível.
3. era (RC) — omitido em dois dos manuscritos mais antigos;
retido pela Vulgata e na Cóptica.
jaspe — De Ap_21:11, onde é chamada “pedra preciosíssima”, o
que o jaspe não era, Ebrard infere que era diamante. Usualmente, o jaspe
é pedra de várias cores ondulantes, algo transparente; em Ap_21:11
representa brilho cristalino aquoso. O sárdio, nossa cornalina, ou se não,
um vermelho ardente. Como o brilho aquoso representa a santidade de
Deus, assim o vermelho ardente Sua justiça, que executa a ira violenta. A
mesma união do branco ou brilho aquoso e vermelho ardente aparece em
Ap_1:14; Ap_10:1; Ez_1:4; Ez_8:2; Dn_7:9.
ao redor do trono, há um arco-íris semelhante — que formava
um círculo completo (tipo da perfeição e eternidade de Deus: não o
semicírculo do arco-íris terrestre) que rodeava o trono verticalmente.
Suas várias cores, que combinados formam um puro raio solar,
simbolizam os variados aspectos dos procedimentos providenciais de
Deus que se unificam num todo harmonioso. Aqui, entretanto, a cor
predominante das cores prismáticas é o verde, o esmeralda, das cores a
mais agradável para ser contemplada, que simboliza assim as promessas
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 77
consoladoras de Deus em Cristo dadas a Seu povo no meio dos juízos
que sobrevêm aos inimigos de Deus. Além disso, o arco-íris era o sinal
ordenado da aliança de Deus com toda carne, e com Seu povo em
particular. Assim Deus no tipo renova ao homem a concessão feita
originalmente com o primeiro Adão. O antítipo “os novos céus e a nova
terra” serão restaurados ao homem redimido, da mesma maneira em que
a terra, destruída pelo dilúvio, foi restaurada a Noé. Como o arco-íris foi
refletido primeiro sobre as águas da destruição do mundo, e segue
deixando-se ver só quando passa alguma nuvem sobre a terra, assim
outro dilúvio, ou seja, de fogo, precederá os novos céus e a nova terra: o
Senhor, como aqui, em Seu trono, de onde (Ap_4:5) saem “relâmpagos e
trovões,” proclamará a ordem de livrar a terra de seus opressores; mas
logo, entre os juízos, quando desfalecerem de terror os corações de
outros homens, o crente será reconfortado pelo arco, sinal da aliança,
visto em redor do trono (compare-se De Burgh, Exposition of
Revelation). O arco-íris celestial fala do naufrágio do mundo por causa
do pecado; fala também da calma e do sol que seguem à tormenta. A
nuvem é o emblema comum da presença de Deus e de Cristo, por
exemplo, no lugar santíssimo do santuário; no monte Sinai ao dar-se a
lei; na ascensão (At_1:9); ao retorno do Senhor (Ap_4:7).
4. tronos — antes, como se traduz o grego neste mesmo versículo,
“tronos,” é óbvio, mais baixos e inferiores ao grande trono central.
Assim Ap_16:10, “o trono (gr., trono) da besta,” em paródia diabólica do
trono de Deus.
vinte e quatro anciãos — O grego (salvo de um manuscrito dos
mais antigos): “os vinte e quatro anciãos:” os bem conhecidos anciãos.
[Alford]. Mas Tregelles traduz, “Sobre os vinte e quatro tronos (vi:
omitido em dois manuscritos dos mais antigos) anciãos assentados:” o
que é mais provável, como não se mencionou os vinte e quatro anciãos
antes, mas sim os vinte e quatro tronos. Não são anjos, porque usam
roupas brancas e coroas de vitória, o que denota um conflito e
padecimento paciente, “Tu nos redimiste:” representam as cabeças das
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 78
Igrejas do Antigo e Novo Testamentos respectivamente, os doze
Patriarcas (Ap_7:5-8), não em seu caráter pessoal mas no representativo,
e os doze apóstolos. Assim em Ap_15:3, “o cântico de Moisés e do
Cordeiro,” indica-se os constituintes duplicados da Igreja, ou seja, o
Antigo e Novo Testamentos. “Anciãos” é o termo preciso do ministério
tanto do Antigo como do Novo Testamento, da Igreja Judaica como da
Cristã Gentílica. O tabernáculo era um “modelo” do antítipo celestial; o
lugar santo, uma figura do PRÓPRIO CÉU. Assim o trono de Deus se
representa pelo propiciatório no lugar santíssimo, com a nuvem da
Shekiná em cima. As “sete lâmpadas de fogo” (Ap_4:5) são antitípicas
do castiçal de sete braços também no lugar santíssimo, emblema do
Espírito multiforme de Deus; “o mar de vidro” (Ap_4:6) corresponde ao
mar de bronze diante do santuário, em que se lavavam os sacerdotes ao
empreender seu serviço sagrado; por isso se introduz aqui em conexão
com os redimidos “sacerdotes de Deus” (Veja-se Nota, Ap_15:2). Os
“quatro seres viventes” (animais, Ap_4:6, 7) correspondem aos
querubins sobre o propiciatório. Assim os vinte e quatro anciãos
entronizados e coroados são tipificados pelos vinte e quatro principais
das vinte e quatro divisões dos sacerdotes, “príncipes do santuário, e
príncipes de (a casa de) Deus” (1Cr_24:5; 1Cr_25:1-31).
5. saem — Gr., “saem.”
vozes e trovões — Dois manuscritos dos mais antigos transpõem
“vozes e trovões.” Comp. Êx_19:16, ao dar-se a lei em Sinai. “Os
trovões expressam as ameaças de Deus contra os ímpios: há vozes nos
trovões (Ap_10:3), isto é, não só ameaçam em geral, mas também
predizem juízos especiais.” [Grocio].
sete tochas de fogo … sete Espíritos — O Espírito Santo em Sua
operação sétupla, como doador de luz e vida (comp. Ap_5:6, sete olhos
… os sete espíritos de Deus; Ap_1:4; Ap_21:23; Sl_119:105) e
purificador ardente das piedosos, e consumidor dos ímpios (Mt_3:11).
6. como que mar de vidro — assim dizem dois manuscritos
antigos, Vulgata, Cóptica, e Siríaca.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 79
semelhante ao cristal — não imperfeitamente transparente como o
vidro comum antigo, mas sim como cristal de rocha. Veja-se em
contraste as turvas “muitas águas” onde “está assentada” a meretriz
(Ap_17:1; Ap_17:15). Comp. Jó_37:18, “os céus … como espelho
fundido”. Assim, primordialmente, o éter puro entre o trono de Deus e o
apóstolo e demais coisas, pode ser o significado, simbolizando “a pureza,
a calma, e a majestade do governo de Deus.” [Alford]. Mas veja-se Nota
acima, Ap_4:4, referente à analogia no templo, o mar de bronze do
santuário. Há neste mar profundidade e transparência, mas nada da
flutuação e instabilidade do mar natural (Ap_21:1). Está firme, sólido,
calmo e claro. Os juízos de Deus se chamam “abismo (profundidade)
grande” (Sl_36:6). Em Ap_15:2 é “um mar de vidro misturado com fogo.”
Assim se simboliza aqui o purificador batismo da água e do Espírito de
todos os que são feitos “reis e sacerdotes a Deus.” Em Ap_15:2 se
significa o batismo do fogo das provas. Através dos dois, todos os reis
sacerdotes devem passar ao vir a Deus: em Seus juízos, que destroem os
ímpios, eles estão firmes de pé, como sobre um sólido mar de vidro:
podendo caminhar como Cristo sobre o mar, como se fosse sólido.
à volta do trono — um em meio de cada lado do trono.
quatro seres viventes — Em Ap_13:1, 11, temos outro vocábulo
grego, therion, “besta,” símbolo do homem carnal que por oposição a
Deus perde sua verdadeira glória como senhor, sob Deus, de todas as
criaturas inferiores, e degradado até o nível da besta. Aqui o vocábulo é
zoon, “seres animados,” não bestas.
7. novilho — “novilho” (Alford). A LXX com frequência usa este
termo por boi (Êx_22:1; Êx_29:10, etc.)
como de homem — assim dizem os melhores manuscritos: não
“como homem.”
8. ao redor — Alford relaciona isto com o seguinte: “Tudo ao
redor e dentro (de suas asas) estão cheios (assim dois dos manuscritos
mais antigos, e a Vulgata) de olhos.” O propósito de João é mostrar que
as seis asas em cada “ser animado” não contradiz o que acaba de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 80
manifestar, ou seja, que estavam “cheios de olhos adiante e atrás.” Os
olhos estavam ao longo do exterior de cada asa, e pelo interior de cada
uma quando estavam meio estendidas, e sobre a parte intermédia do
corpo.
não têm descanso — Gr., “não têm repouso.” Quão terrivelmente
diferente é a razão pela qual os que adoram a besta “não têm descanso
nem dia nem de noite,” isto é, “sua tortura para sempre jamais!”
Santo, Santo, Santo — o “trisságio” das liturgias gregas. Em
Is_6:3 ocorre como aqui: também no Sl_99:3, Sl_99:5, Sl_99:9, onde é
louvado como “santo” (1) por causa de Sua majestade pronta a
manifestar-se; (2) Sua justiça que já se manifestou; (3) Sua misericórdia
que se manifestou em tempos passados. Assim aqui “Santo,” como
“aquele que era;” “Santo,” como “aquele que é;” “Santo,” como “aquele
que há de vir.” Manifestou-se como objeto de adoração na anterior
criação do mundo; mais plenamente assim em Seu governo de todas as
coisas; em grau superlativo se manifestará desta maneira na consumação
de todas as coisas. “De (desde) Ele, por Ele, e para Ele, são todas as
coisas: a quem seja toda a glória para sempre. Amém.” Em Is_6:3,
adiciona-se, “toda a TERRA está cheia de sua glória.” Porém, no
Apocalipse isto fica diferido até que a glória do Senhor encha a terra,
destruídos já todos os Seus inimigos. [Bengel].
Todo-Poderoso — corresponde a “Senhor dos exércitos”
(Sabaoth), Is_6:3.
Os querubins aqui têm seis asas, como os serafins de Isaías 6;
enquanto que os querubins de Ez_1:6 tinham quatro asas cada um.
Chamam-se pelo mesmo nome, “seres animados,” ou “viventes.” Mas
enquanto que em Ezequiel cada ser vivente tinha quatro rostos, aqui os
quatro rostos pertencem uma a cada um. Veja-se minha nota, Ez_1:6. Os
quatro seres viventes correspondem, por contraste, aos quatro poderes
mundiais representados por quatro bestas.
Os Pais os identificavam com os quatro Evangelhos: Mateus, o
leão; Marcos, o boi; Lucas, o homem; João, a águia; estes símbolos,
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 81
segundo esta opinião, não expressam o caráter pessoal dos evangelistas,
mas sim o aspecto múltiplo de Cristo com relação ao mundo (sendo
quatro o número significativo da extensão mundial, como os quatro
cantos da terra) representada por eles em particular: o leão expressa a
realeza, visto que Mateus dá proeminência a este característico de
Cristo; o boi, paciência laboriosa, característica proeminente de Cristo
em Marcos; o homem, a simpatia fraternal para com toda a raça
humana, característico proeminente de Cristo em Lucas; a águia, a
majestade em voo, proeminente na descrição de Cristo feita por João
como a Palavra divina.
Mas aqui o contexto concorda melhor com o parecer de que tem os
quatro seres viventes como representativos da redimida Igreja escolhida
em sua relação com os reis sacerdotes de Deus, administradores de
bênção na terra redimida, e as nações dela, assim como a criação animal,
em que o homem está à cabeça de tudo, o leão, à cabeça dos animais
selvagens, o boi à cabeça das domados, a águia à cabeça das aves e das
criaturas das águas. Compare-se Ap_5:8-10, “…com o teu sangue
compraste para Deus os que procedem de toda tribo ... e para o nosso
Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra;” e
Ap_20:4, os co-participantes com Cristo da primeira ressurreição, que
juntamente com Ele reinam sobre as nações redimidas que estão na
carne. Comp. a respeito da sujeição alegre e obediente do mundo animal
inferior, Is_11:6-8; Is_65:25; Ez_34:25; Os_2:18.
A tradição judia diz que os quatro “estandartes” sob os quais Israel
acampava no deserto, do oriente Judá, do norte Dã, do ocidente Efraim, e
do sul Rúben, eram respectivamente um leão, uma águia, um boi e um
homem, enquanto que no meio estava o tabernáculo com a Shekiná,
símbolo da presença divina. De modo que temos “o quadro daquele
período bendito quando — a terra preparada já para ser o reino do Pai —
a corte do céu será trasladada à terra, e o tabernáculo de Deus estará com
os homens (Ap_21:13), e toda a terra estará sujeita à eterna teocracia”
(veja-se De Burgh, Exposition of Revelation).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 82
O ponto de união entre os dois pareceres dados acima é: Cristo é a
perfeita realização do ideal do homem: Cristo está apresentado em seu
aspecto quádruplo dos quatro Evangelhos respectivamente. A redimida
Igreja escolhida do mesmo modo, quando em Cristo e por Cristo (com
quem reinará) realizar o ideal do homem, combinará em si mesma as
perfeições humanas que terão um aspecto quádruplo: (1) a justiça régia
com ódio ao mal e com equidade judicial, correspondente ao “leão;” (2)
diligência laboriosa em todo dever, o “boi;” (3) a simpatia humana, o
“homem;” (4) a contemplação da verdade celestial, a “águia.” Como a
inteligência altiva, a águia, forma o complemento contrastado do
trabalho prático, o boi preso à terra; assim a santa vingança judicial
contra o mal, o leão, que se equilibra repentina e terrivelmente sobre os
condenados, forma o complemento contrastado da simpatia humana, o
homem. Em Is_6:2 lemos: “Cada um tinha seis asas; com duas cobriam
seus rostos (em reverência, sem pretender elevar o rosto a Deus), e com
duas cobriam seus pés (em humildade, indignos de estar na santa
presença de Deus), e com duas voavam (em preparação obediente para o
mandato instantâneo de Deus).”
9-11. O motivo do louvor aqui é a eternidade de Deus e o poder e
glória de Deus manifestados na criação de todas as coisas para Seu
prazer. A criação é a base de todos outros atos divinos de poder,
sabedoria e amor, e portanto forma o primeiro tema de ação de graças de
Suas criaturas. Os quatro seres animados tomam a direção dos vinte e
quatro anciãos tanto neste cântico como no cântico novo de Ap_15:8-10.
Quando — “Cada vez que,” ação simultânea de dar glória da parte
dos seres animados e da parte dos vinte e quatro anciãos.
derem — “Deem” num manuscrito muito antigo.
pelos séculos dos séculos — Gr., “até os séculos dos séculos.”
10. prostrar-se-ão — imediatamente. Gr., “cairão:” denota que
esta atribuição de louvor será repetida daí em diante até a eternidade. Do
mesmo modo, “adorarão … e lançarão suas coroas …” isto é, em
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 83
reconhecimento de que todo o merecimento de suas coroas (não
diademas reais, mas sim coroas de vencedores) é devida a Ele.
11. Senhor — Os manuscritos A, B, Vulgata, e Siríaca,
acrescentam, “e nosso Deus.” “Nosso”, em virtude da criação, e
especialmente pela redenção. Um dos manuscritos mais antigos e a
Cóptica inserem “o Santo.”
glória — “a glória e a honra e a virtude (o poder).”
tu — enfático no grego: “Porque TU és quem criaste …”
todas as coisas — o universo.
por causa da tua vontade — “por amor de teu prazer.” Para Deus
querer é efetuar; propor é operar. Assim em Gn_1:3, “Haja luz, e houve
luz.” No hebraico uma tautologia impressionante: a mesma palavra,
tempo e letras se empregam para “haja luz,” e “houve luz” o que assinala
a simultaneidade e identidade da vontade e o efeito. D. Longinus [On the
Sublime, 9], um pagão, louva esta descrição do poder de Deus pelo
“legislador dos judeus, um homem não ordinário,” como digna do tema.
foram criadas — por Sua obra definida num tempo determinado.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 84
Apocalipse 5

Vv. 1-14. O livro dos sete selos: ninguém digno de abri-lo salvo o
Cordeiro. Toma entre os louvores dos redimidos e de todo o exército
celestial.
1. Na mão — Gr., “Vi na mão …” Sua mão direita estava aberta, e
sobre ela o livro. Da parte de Deus não se encobriam Seus propósitos em
relação ao futuro contidos no livro: o único obstáculo para que se
rompessem os selos se declara em Ap_5:3. [Alford].
livro — antes, um rolo, de acordo com a antiga forma de livros, e
escrito em ambos os lados. A escritura no dorso expressa a plenitude e
totalidade, de modo que nada lhe falta acrescentar (Ap_22:18). O rolo,
ou livro, parece pelo contexto ser “o título de herança do homem” [De
Burgh] redimido por Cristo, e contém os passos sucessivos pelos quais
ele deve recuperar do usurpador e obter plena possessão do reino já
“redimido” para si e para seus santos escolhidos. Entretanto, nenhuma
porção do rolo diz-se que fosse aberta nem lida, mas sim simplesmente
que os selos foram abertos sucessivamente, dando-se final acesso à
leitura de seu conteúdo como um todo perfeito, o que não será senão
quando todos os eventos simbolizados pelos selos tenham passado,
quando Ef_3:10 receba seu cumprimento perfeito, e o Cordeiro revele os
planos providenciais de Deus a respeito da redenção em toda a múltipla
glória deles. De modo que a abertura dos selos significará os passos
sucessivos pelos que Deus em Cristo abre o caminho rumo à final
abertura e a leitura do livro, no visível estabelecimento do reino de
Cristo. Veja-se na grande consumação, Ap_20:12, “Outro livro foi
aberto … o livro da vida;” Ap_22:19. Ninguém é digno de fazê-lo a não
ser o Cordeiro, porque Ele mesmo como tal redimiu a herança perdida do
homem, da qual o rolo é o título de propriedade. A pergunta (Ap_5:2)
não é (como se supõe usualmente): Quem deveria revelar os destinos da
Igreja? (pois isto qualquer profeta inspirado seria capaz de fazer), mas
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 85
sim, quem tem o PODER de dar ao homem um novo título de sua
herança perdida? [De Burgh].
selado com sete selos — Gr., “lacrado,” ou “firmemente selado.” O
número sete (dividido em quatro o número de extensão mundial, e três, o
divino) abunda no Apocalipse, e expressa conclusão perfeita. Assim, os
sete selos, que representam todo poder, dado ao Cordeiro: as sete
trombetas pelas quais os impérios mundiais são sacudidos e derrubados,
e introduzido o reino do Cordeiro; e as sete taças, pelas quais o reino da
besta é destruído.
2. forte — (Sl_103:20). Sua voz penetrava pelo céu, terra e o hades
(Ap_10:1-3).
3. ninguém — nem homem meramente, nem ninguém de outra
ordem de seres.
sobre a terra — Gr., “sobre a terra.”
debaixo da terra — quer dizer, no hades.
olhar para ele — ver seu conteúdo para lê-lo.
4. nem mesmo olhar para ele — Uma versão trouxe “nem de lê-
lo,” frase inserida sem boa autoridade. Um manuscrito antigo, Orígenes,
Cipriano, e Hilário, omitem-na. Lê-lo não quadra bem entre abrir o livro,
e olhar para ele. João, recebida a promessa de uma revelação das coisas
“que deviam suceder depois,” chora agora porque seu desejo veemente
fica aparentemente frustrado. É um exemplo, pois, que devemos imitar,
de um aluno enérgico e dócil do Apocalipse.
5. um dos anciãos — Este “ancião,” segundo alguns (em Lyra), é
Mateus. Com isto concorda a descrição aqui dada de Cristo, “o Leão, que
é (segundo o grego) da tribo de Judá, a raiz de Davi”; sendo proeminente
em Mateus o aspecto de Cristo como real, descendido de Davi, qual leão,
pelo que o leão entre os querubins quádruplos usualmente se atribui a
Mateus. Gerhard em Bengel opinava que Jacó é o significado, sendo ele,
sem dúvida, um dos que ressuscitaram com Cristo e subiram ao céu
(Mt_27:52-53). Os anciãos ao redor do trono no céu sabem melhor que
João o grande alcance do poder de Cristo.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 86
Raiz de Davi — (Is_11:1, Is_11:10). Não meramente “um broto
saído da antiga raiz de Davi” (como o limita Alford), mas sim inclui
também a ideia de ser ele mesmo a raiz e a origem de Davi: Vejam-se
estas duas verdades unidas em Mt_22:42-45. Portanto o chama não só o
Filho de Davi, mas também Davi. Ele é ao mesmo tempo “o ramo de
Davi” e “a raiz de Davi,” o Filho de Davi e o Senhor de Davi, o
Cordeiro imolado, e portanto o Leão de Judá: que está prestes a reinar
sobre Israel, e logo sobre toda a terra.
venceu — absolutamente, como em outras partes (Ap_3:21):
ganhou a vitória: sua passada vitória sobre todas as potestades das trevas
O autoriza agora a abrir o livro.
para abrir — Um dos manuscritos mais antigos, B, diz: “aquele
que abre,” isto é, “venceu aquele cujo ofício é o de abrir …” O peso das
autoridades mais antigas apoia nossa versão, Vulgata, Cóptica, Orígenes.
6. Então, vi — Gr., “e vi.” O manuscrito A omite “e eis aqui”.
Outro, B., Cipriano, etc. dizem “e eis aqui,” mas omitem “e vi.”
no meio do trono — não sobre o trono (Ap_5:7), mas em meio da
companhia (Ap_4:4) que “rodeava o trono”
Cordeiro — Gr., arnion; achado sempre em Apocalipse
exclusivamente, salvo em Ap_21:15 somente: é a forma diminutiva de
encarecimento, quer dizer, a relação encarecida de Cristo para conosco
agora, como consequência de Sua prévia relação como Cordeiro
sacrifical. Assim também nossa relação com ele: ele é o Cordeiro
precioso, nós os cordeirinhos amados dele. Bengel crê que no grego
arnion está a ideia de tomar a direção do rebanho. Outro objeto da
forma grega de arnion é a de lhe pôr no mais marcado contraste com o
grego therion, a besta. Em outras partes se acha o grego amnos, aplicado
a Cristo como o Cordeiro pascal, sacrifical (Is_53:7, LXX; Jo_1:29,
Jo_1:36; At_8:32; 1Pe_1:19).
como imolado — levando os sinais de Suas feridas mortais
anteriores. Está em pé, embora leve as marcas de um morto. No meio da
glória celestial Cristo o crucificado é ainda o objeto mais proeminente.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 87
sete chifres — isto é, o poder perfeita; “chifres” em contraste com
o poder (chifres) dos impérios mundiais anticristãos (Ap_17:3, etc.;
Dn_7:7, Dn_7:20; Dn_8:3).
sete olhos … sete Espíritos … enviados — “que estão enviados,”
segundo o manuscrito A. Mas segundo o B., “que são enviados.” Como
as sete lâmpadas diante do trono representam o Espírito de Deus
imanente na Divindade, assim os sete olhos do Cordeiro representam o
mesmo Espírito sétuplo que procede do Redentor encarnado em Sua
energia mundial. O grego para “enviados,” apostellomena, ou se não,
apostalmenoi é derivado do termo apóstolo, o que nos lembra os
trabalhos dos apóstolos e ministros de Cristo impulsionados pelo
Espírito: se o tempo presente for correto, como parece ser, a ideia será
que tais trabalhos continuam até o fim. Os “olhos” simbolizam Suas
sempre vigilantes e sábias providências a favor de Sua Igreja e contra os
inimigos dela.
7. O livro estava na mão aberta do que estava assentado no trono,
para que tomasse qualquer que fosse achado digno. [Alford]. O Cordeiro
toma da mão do Pai em sinal de Sua formal investidura em Seu domínio
universal e eterno como o Filho do homem. Esta visão preliminar assim
nos apresenta em resumo, a consumação a que convergem todos os
eventos dos selos, trombetas e taças, ou seja, o estabelecimento visível
do reino de Cristo. A profecia sempre se precipita rumo à grande crise ou
fim, e espraia os eventos intermediários só em sua relação típica e em
representação do fim.
8. diante do Cordeiro — quem compartilha a adoração e o trono
com o Pai.
uma harpa — Os manuscritos A. e B., Siríaca e Cóptica dizem,
“uma harpa:” uma espécie de violão tocado com a mão ou com uma
pena.
taças — Taças, ou terrinas [Tregelles]: incensários.
incenso — Gr., “incenso.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 88
orações dos santos — como o anjo oferece a oração deles (Ap_8:3)
com o incenso (Sl_141:2). Isto não dá a mais mínima sanção ao dogma
de Roma com relação à oração aos santos. Embora eles sejam
empregados por Deus de algum modo por nós não conhecida, para
apresentar nossas orações (nada se diz a respeito de que eles intercedam
por nós), contudo nos é dito que oremos somente a Deus (Ap_19:10;
Ap_22:8-9). O emprego deles mesmos é o do louvor (portanto têm todos
harpas); o nosso é a oração.
9. entoavam — Gr., “cantam:” é sua bendita ocupação
continuamente. O tema da redenção é sempre novo, que sugere sempre
novos pensamentos de louvor, incorporados no “cântico novo.”
compraste para Deus os que procedem — “Redimiste-nos para
Deus.” Assim dizem manuscrito B, a Cóptica, a Vulgata, e Cipriano.
Mas o A. omite “nos;” e Álef lê, “a nosso Deus.”
de toda — “dentre todo …” a atual Igreja escolhida reunida dentre
todo mundo, em distinção de todos os povos reunidos a Cristo como os
súditos, não de uma eleição, mas sim de uma conversão geral e mundial
de todas as nações.
tribo, língua, povo e nação — O número quatro assinala a
extensão mundial: os quatro cantos da terra. O termo “tribo” está
traduzido como o grego. Tribo e povo usualmente se limitam a Israel;
“língua e nação,” aos gentios (Ap_7:9; Ap_11:9; Ap_13:7, leitura a mais
antiga; Ap_14:6). Assim fica assinalada aqui a Igreja escolhida reunida
dentre judeus e gentios. Em Ap_10:11, para “tribos” achamos entre os
quatro termos “reis;” em Ap_17:15, “multidões.”
10. os constituíste — A., B., Álef, Vulgata, Siríaca e Cóptica dizem
“Os tens feito”. A construção hebraica da terceira em vez da primeira
pessoa, tem uma relação gráfica aos redimidos, como também soa
melhor que os, sacerdotes.
para o nosso Deus — assim dizem o B e Álef: frase omitida pelo
A.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 89
reino — “reis.” Assim diz o Manuscrito B; mas A, Álef, a Vulgata,
a Cóptica e Cipriano leem, “um reino.” Álef tem também “sacerdócio”
por “sacerdotes.” Os que lançam suas coroas diante do trono, não se
chamam a si mesmos reis na presença do grande Rei (Ap_4:10-11);
embora seu acesso ao sacerdócio leva tal dignidade, que seu senhorio na
terra não pode excedê-lo. Assim em Ap_20:6 não são chamados “reis.”
[Bengel].
reinarão sobre a terra — Isto é um novo característico
acrescentado a Ap_1:6. O manuscrito Álef, a Vulgata e a Cóptica dizem
“(Eles) reinarão.” A. e B., “(Eles) reinam.” Alford escolhe esta leitura, e
explica que é a Igreja agora mesmo, em Cristo seu Cabeça, a qual reina
sobre a terra: “todas as coisas estão sendo postas debaixo de Seus pés, de
igual maneira que debaixo dEle; o ofício e posição régios dela são
proclamados, até no meio da perseguição.” Mas embora leiamos (parece
que o peso da autoridade está contra ele), “Eles reinam”, contudo é o
presente profético pelo futuro: estando o vidente trasladado àquele futuro
quando o número pleno dos redimidos (representados pelos quatro seres
viventes) estará completo, e o reino visível começará. Os santos reinam
espiritualmente agora; mas por certo não como hão de reinar quando o
príncipe deste mundo estiver preso (Ap_20:2-6, Notas). Longe de reinar
na terra agora, são “feitos como o lixo do mundo e o refugo de todas as
coisas.” Em Ap_11:15, 18, o lugar e a data do reino estão assinalados.
sobre a terra — Gr., “epi tes gees”. Comp. LXX, Jz_9:8; Mt_2:22.
Os anciãos, embora reinem sobre a terra, não ficam necessariamente
(segundo esta passagem) na terra. A mesma frase se traduz com toda
correção “sobre a terra,” em Ap_ 3:10. “Os anciãos eram mansos, mas o
rebanho dos mansos independentemente é muito maior.” [Bengel].
11. Vi — Gr., “E vi:” viu os muitos anjos, que formam o círculo
exterior, enquanto que a Igreja, o objeto da redenção, forma o interior,
mais próximo ao trono. As hostes celestiais em redor contemplam com
ardente amor e adoração esta manifestação culminante do amor,
sabedoria e poder de Deus.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 90
milhões — Gr., “miríades (miríade, 10.000) de miríades e milhares
de milhares.
12. o poder — O (um artigo) com os sete substantivos (número de
perfeição e totalidade) indica que formam um completo agregado que
pertence a Deus e a Seu coigual, o Cordeiro. Comp. Ap_7:12, onde cada
um dos sete leva o artigo.
riqueza — tanto espiritual como terrestre.
louvor — o louvor tributado: a vontade da parte da criatura embora
não acompanhada do poder, para devolver bênção por bênção recebida.
[Alford].
13. O coro universal da criação, inclusive o círculo exterior tanto
como o interior (dos santos e dos anjos), finaliza com a doxologia. A
plena realização disto há de ser quando Cristo tomar Seu grande poder e
reinar visivelmente.
toda criatura — “Todas as suas obras em todos os lugares do seu
domínio” (Sl_103:22).
debaixo da terra — Os espíritos no hades.
sobre o mar — Gr., “sobre o mar”, considerados como sobre a
superfície. [Alford].
tudo o que neles há — Assim diz a Vulgata. O manuscrito A omite
“todas as coisas” (panta) aqui, e lê, “Ouvi a todos (pantas) dizer”: o que
expressa o concerto harmonioso de todos os que estavam nos quatro
cantos do universo.
o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio — Tributação
quádrupla que indica a universalidade mundial.
14. diziam (RC) — Assim o manuscrito A, a Vulgata e a Siríaca;
mas o B e a Cóptica dizem, “(Ouvi-os) dizendo”.
Amém — Assim reza o manuscrito A; mas o B: dizendo o
(acostumado) amém”. Como em Ap_4:11, os vinte e quatro anciãos
asseveram a dignidade de Deus para receber a glória, por ter criado
todas as coisas, assim os quatro seres viventes ratificam com seu
“amém” toda a tributação de glória a Deus da parte da criação.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 91
vinte e quatro — omitido nos manuscritos mais antigos; a Vulgata
o apoia.
ao que vive para todo o sempre (RC) — Palavras omitidas em
todos os manuscritos, inseridas pelos comentadores, de Ap_4:9. Mas ali,
onde a ação de graças se expressa, são pertinentes; mas aqui o são
menos, porquanto sua adoração é de prostração silenciosa. “Adoraram”
(isto é, a Deus e ao Cordeiro). Também em Ap_11:1, “adoram” usa-se
no absoluto.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 92
Apocalipse 6

Vv. 1-17. A abertura do primeiro selo.


Coteje-se a nota, Ap_5.1. Muitos (Mede, Fleming, Newton etc.)
sustentam que todos os selos se cumpriram, que o sexto foi no
desmoronamento do paganismo e o estabelecimento do cristianismo sob
o decreto do Constantino, em 312 d.C. Contudo, não pode haver dúvida
de que o sexto selo ao menos está ainda no futuro, pois se deve verificar
na segunda vinda de Cristo. A maior objeção à hipótese de que os selos
estejam final e completamente cumpridos (sem prejuízo de que
provavelmente eventos particulares possam ser cumprimento parcial
típico do final e completo) é que, sendo assim, deveriam assinalar (como
a destruição de Jerusalém, segundo a profecia de Cristo, o faz) alguma
forte evidência externa da Revelação. Mas é claro que não podem ser
usadas com este fim, porque dificilmente dois intérpretes desta escola
estão concordem em quais eventos constituem o cumprimento de cada
selo. Provavelmente não são fatos isolados mas sim classes de eventos
que preparam o caminho para a vinda do reino de Cristo, o que deve
representar a abertura dos selos. Os quatro seres viventes clamam por
turno, ao abrir-se cada um dos quatro e primeiros selos, “Vem,” o que
marca a divisão dos sete, como ocorre muitas vezes com este número
sagrado, em quatro e três.
1. um dos selos — Os manuscritos A, B e C, a Vulgata e a Siríaca
“um dos sete selos.”
como em voz de trovão — Uns manuscritos dizem, “com voz
como de trovão.” O primeiro ser vivente era como leão (Ap_4:7); sua
voz, pois, correspondia a tal animal; o que denota a valentia como de
leão, com que em avivamentos sucessivos, os fiéis testificaram por
Cristo, e em especial, testificarão um pouco antes de Sua vinda, ou seu
ardor em orar pela vinda de Cristo.
Vem e vê — Um dos manuscritos mais antigos diz: “E vê.” Mas o
A, C, e a Vulgata omitem a frase. Alford com razão objeta nossa versão:
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 93
“Aonde devia ir João? Separado como estava pelo mar de bronze, como
devia cruzá-lo?” Veja-se em contraste a expressão de Ap_10:8. É muito
mais provável que seja o clamor dos redimidos dirigido ao Redentor,
“Vem” e livra a gemente criação da servidão de corrupção. Assim em
Ap_6:2, em resposta ao clamor, “vem”, saiu o cavalo branco. “Vem”, diz
Grocio, é palavra dirigida pelo ser vivente a João, chamando sua atenção
seriamente; mas parece difícil entender como “vem” em si signifique
isto. Vejam-se as outras passagens no Apocalipse onde é usado, Ap_4:1;
Ap_22:17. Se os quatro seres representarem os quatro Evangelhos, o
“vem” será o convite deles para todos (porque não está escrito que se
dirigissem a João) para que aceitem a salvação de Cristo enquanto
houver tempo, porque a abertura dos selos assinala um passo progressivo
rumo ao fim. (Ap_22:17). Predizem-se os juízos que acompanharão a
pregação do evangelho como testemunho às nações (Ap_14:6-11;
Mt_24:6-14). De modo que o convite de “vem” aqui é propriamente
paralelo a Mt_24:14. A abertura dos primeiros quatro selos é seguida
pelos juízos preparatórios para Sua vinda. À abertura do quinto selo, os
mártires que estavam acima expressam o mesmo (Ap_6:9-10; com
Zc_1:10). À abertura do sexto, introduz-se a vinda do Senhor com os
terrores para os ímpios. A do sétimo, chega-se à consumação completa
(Ap_11:15).
2. o que estava assentado — Evidentemente o próprio Cristo, fora
em pessoa, ou representado por um anjo, preparatório a Seu retorno,
como aparece por Ap_19:11, 12.
arco — (Sl_45:4-5.)
coroa — Gr., stephanos, a grinalda de vencedor, que se infere
também pelo cavalo branco, sendo o branco emblema de vitória. Em
Ap_19:11, 12 se representa o último passo de Seu vitorioso progresso;
de conseguinte, ali leva muitas diademas (não meramente grinaldas), e é
acompanhado pessoalmente pelas hostes do céu. Comp. Zc_1:7-17;
Zc_6:1-8, especialmente Ap_6:10 com Zc_1:12; comp. também as cores
dos quatro cavalos.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 94
saiu vencendo e para vencer — Gr., “Saiu vencendo e para
vencer,” isto é, de modo a ganhar uma vitória duradoura. Os quatro selos
introduzem juízos sobre a terra, como o poder que se opõe ao Seu reino e
de Sua Igreja. Este é o sentido primordial, antes que a obra da conversão,
embora, sem dúvida, em segunda ordem, os escolhidos serão ou reunidos
por Sua palavra e por Seus juízos.
3. e vê (RC) — Omitidas nos manuscritos A, B, C, e na Vulgata.
4. vermelho — a cor do sangue. A cor do cavalo em cada caso
corresponde à missão do cavaleiro. Veja-se Mt_10:24-36, “Não penseis
que vim para trazer paz à terra: não vim para trazer paz, mas espada.” O
cavalo branco das vitórias incruentas de Cristo é logo seguido por causa
da perversão humana do evangelho, pelo cavalo vermelho do
derramamento de sangue; mas isto está rebatido para tirar os obstáculos
da vinda do reino de Cristo. O paciente boi é o emblema do segundo ser
vivente, que, ao abrir-se o segundo selo, diz: “Vem”. Os santos no meio
dos juízos que vêm sobre a terra “perseveram até o fim.”
5. Vem e vê (RC) — Os manuscritos A e C, e a Vulgata omitem “e
vê;” O manuscrito B as retém.
preto — que denota tristeza e necessidade.
uma balança — uma balança, símbolo de escassez de comestíveis,
quando se reparte o pão por peso.
6. uma como que voz — Os manuscritos A e C dizem “como se
fosse uma voz.” A voz é ouvida “no meio dos quatro seres viventes”
(como Jeová na nuvem da Shekiná manifestava Sua presença entre os
querubins); porque é só por amor de Seus redimidos e com relação a eles
que Deus mitiga Seus juízos sobre a terra.
Uma medida — Gr., “choinix”. Escasseando o alimento, não o
façam tanto que um choinix (provisão diária de trigo, medida como de
um litro a litro e meio) não se possa “conseguir” por um “denário” (o
provável salário diário de um operário). A fome geralmente segue à
guerra. Usualmente se vendia de dezesseis a vinte medidas por um
denário. A espada, a fome, as bestas daninhas, e a pestilência, são os
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 95
quatro juízos de Deus sobre a terra. Uma fome espiritual, também, pode
incluir-se no juízo. O “vem” no caso do terceiro selo é dito pelo terceiro
ser vivente, cuja semelhança é de um homem; símbolo de simpatia e
compaixão humanas para com os que padecem. Deus tempera o juízo
com a misericórdia. Comp. Mt_24:7, que assinala as mesmas
calamidades preditas nestes selos, nação que se levanta contra nação (a
espada), fomes, pestilências (Ap_6:8), e terremotos (Ap_6:12).
três medidas de cevada — mais barata e menos nutritiva que o
trigo, que comprava o operário que não podia comprar bastante trigo
para sua família com o jornal que ganhava, um denário.
o azeite e o vinho — Assim a ordem do grego. Representam o luxo
da vida, não as necessidades; o azeite e o vinho devem ser economizados
para aliviar os que padecem.
7. e vê (RC) — Omitidas, como nos casos mencionados acima. O
quarto ser vivente, “como a águia em voo,” introduz este selo; expressa a
excelsa inteligência, e o juízo fatal que desce do alto sobre os ímpios
como o rei das aves sobre sua presa.
8. amarelo — “lívido.” [Alford.]
Morte — personificada.
inferno — O inferno personificado.
foi-lhes dada — À morte e ao hades. Assim leem o A e o C. Mas o
B e a Vulgata leem “a ele.”
quarta parte da terra — correspondente aos primeiros quatro
selos; a porção dele como um dos quatro, sendo a quarta parte.
mortandade — a pestilência; comp. Ez_14:21 com os quatro juízos
mencionados aqui: a espada, a fome, a pestilência e as feras: a fome que
é a consequência da espada; a pestilência, a consequência da fome; as
feras, que se multiplicam pelo consequente despovoamento.
por meio das feras — Gr., “por”; agentes diretos. Estes quatro
selos se distinguem dos três últimos pelos quatro seres viventes que os
introduzem, clamando “vem.” As calamidades indicadas não se
restringem a um tempo, mas sim que se estendem através de todo o
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 96
período da história da Igreja, até a vinda de Cristo, antes do qual dia
grande e terrível do Senhor, elas alcançarão seu maior agravamento. O
primeiro selo é o resumo: Cristo, que sai vencendo até que todos os Seus
inimigos fiquem subjugados sob Ele, para o fim do qual os juízos depois
especificados acompanham a pregação do evangelho para ser um
testemunho a todas as nações.
9. Os últimos três selos se relacionam com o mundo invisível, como
os quatro e primeiros com o visível; o quinto refere-se aos mártires,
crentes mortos por sua fé; o sexto, com os que tenham morrido
incrédulos, ou que serão achados assim na vinda de Cristo, ou seja, “os
reis … os grandes … servos … livres;” o sétimo com o silêncio no céu.
O cenário muda da terra ao céu; de modo que as interpretações que
fazem consecutivos estes três selos aos primeiros quatro, são muito
duvidosas.
vi — no espírito. Pois as almas não são naturalmente visíveis.
debaixo do altar — Como o sangue das vítimas sacrificais
degoladas sobre o altar se derramava ao pé do mesmo, assim se
representam as almas dos sacrificados pelo testemunho de Cristo,
simbolicamente, como debaixo do altar, no céu; pois a vida ou a alma
animal está no sangue, e o sangue com frequência se representa como
clamando por vingança (Gn_4:10). Como é o altar o que santifica a
oferta, assim é Cristo somente aquele que torna aceitável perante Deus
nossa obediência, e até o sacrifício de nossa vida pela verdade. O altar do
sacrifício não estava no santuário, mas sim fora dele: assim o sacrifício
literal de Cristo, e o sacrifício figurativo dos mártires, teve lugar, não no
santuário celestial, mas sim fora, aqui na terra. O único altar no céu é
aquele que é antitípico do altar do incenso do templo. O sangue dos
mártires clama da terra, sob a cruz de Cristo, onde os pode considerar
virtualmente sacrificados; as almas deles clamam de debaixo do altar do
incenso, aquele que é Cristo no céu, pelo qual só o incenso de louvor é
aceitável a Deus. Elas estão debaixo de Cristo, em Sua imediata
presença, encerradas para Ele na prazerosa e viva expectativa até que Ele
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 97
deva levantar os mortos que dormem. Comp. a linguagem de 2Mac_7:36,
em indicação da opinião judaica sobre o particular: Nossos irmãos que
sofreram uma breve dor estão mortos sob (grego) a aliança divina da
vida eterna.
testemunho que sustentavam — ou seja, aquele que deram, em
obediência ao mandato. Comp. Ap_12:17, “Têm (o mesmo grego que
aqui) o testemunho de Jesus.”
10. Até quando — Como a mulher da parábola (símbolo da Igreja)
clama dia e noite ao juiz injusto em demanda de justiça contra seu
adversário, que sempre a oprime (comp. Ap_12:10), assim os escolhidos
(não só na terra, mas também sob a proteção de Cristo e em Sua
presença no Paraíso) clamam dia e noite a Deus, quem por certo, a Seu
devido tempo, vingará a causa dela e a deles, “embora seja longânimo
para com eles”. Estes textos não devem limitar-se a martírios
particulares, mas sim receberam, recebem e receberão, cumprimentos
parciais até a vinda de Cristo. O mesmo referente a outros eventos aqui
preditos. A glória até dos que estão no Paraíso não será completa senão
até quando os inimigos de Cristo e de Sua Igreja sejam descartados, e a
terra venha a ser o reino de Cristo em Sua vinda para levantar os santos
que dormem.
Senhor — Gr., “Amo”, que denota que os tem a eles como aos
inimigos deles e a todas Suas criaturas à Sua absoluta disposição, como o
amo tem a seus escravos; daí que segue em Ap_6:11, “conservos,” ou
“co-escravos.”
santo — Gr., “o santo …”
dos que habitam sobre a terra — os ímpios, da terra, terrenos, em
contraste com a Igreja, cujo lar e coração estão ainda agora nos lugares
celestiais.
11. a cada um deles foi dada uma vestidura branca — Gr., lit.,
“Foi dada uma roupa branca a cada um;” um manuscrito dos mais
antigos omite “a cada um”. Embora seu clamor para que se livre à terra
dos ímpios não está concedido, é-lhes insinuado que isso será feito no
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 98
tempo oportuno; enquanto isso recebem individualmente a roupa branca,
símbolo de luz, alegria e vitória triunfante sobre seus inimigos, deste
modo como o Capitão da salvação deles sai montado em cavalo branco
vencendo e para vencer; também de pureza e santidade por meio de
Cristo. Maimonides diz que os judeus estavam acostumados a vestir a
seus sacerdotes de branco, uma vez aprovados; o significado é assim,
que estão admitidos entre os bem-aventurados, que quais sacerdotes sem
mancha, servem a Deus e ao Cordeiro.
repousassem — Assim diz o manuscrito C, mas o A e B dizem
“repousarão.”
por pouco tempo — Assim o A e o C; mas o B diz, “por um
tempo.” Embora se omita, não se infere que é curto o tempo em
comparação com a eternidade? Bengel por imaginação faz com que um
tempo (Gr., chronos, neste caso) seja mil cento e onze e um nono anos, e
um tempo (Gr., kairos, Ap_12:12, 14), a quinta parte de chronos
(tempo), ou 222 e 2/9 anos. A única diferença é que no grego uma época
(chronos) é como um agregado de tempos. O grego kairos, um tempo
específico, e portanto de curta duração. Quanto a seu descanso, comp.
Ap_14:13 (o mesmo grego anapauomai); Is_57:2; Dn_12:13.
até que também se completasse — em número. Até que seu
número pleno se tenha cumprido. O número dos escolhidos está fixado
definitivamente: talvez para substituir o dos anjos caídos. Mas isto é
mera conjetura. A plena bem-aventurança dos santos será simultânea. Os
primeiros não anteciparão os últimos. Os manuscritos B e Álef leem,
“Até que terminem seu curso.”
12. Como Ap_6:4, Ap_6:6-8: a espada, a fome e a pestilência,
corresponde a Mt_24:6-7; Ap_6:9, 10, sobre os martírios corresponde a
Mt_24:9-10; assim esta passagem, Ap_6:12-17, corresponde a
Mt_24:29-30. “o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas
cairão do céu;… então todas as tribos da terra lamentarão e verão o Filho
do homem vindo …;” linguagem figurada descritivo dos prenúncios da
vinda imediata do dia do Senhor; mas não a própria vinda até que os
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 99
escolhidos sejam selados, e os juízos reclamados pelos mártires, caiam
sobre a terra, o mar, e as árvores (Ap_7:1-3).
e eis que — (RC). Assim diz o manuscrito A; mas B e C omitem.
terremoto — Gr., “uma sacudida” dos céus, o mar, a terra seca; a
sacudida das coisas mutáveis sendo o preliminar necessário do
estabelecimento das coisas que não podem ser sacudidas. Esta é uma das
palavras-chave [Wordsworth] que une o sexto selo com a sexta trombeta
(Ap_11:13) e com a sétima taça (Ap_16:17-21), também o sétimo selo
(Ap_8:5).
saco de crina — Um pano feito de “pelo” da cabra ciliciana, e
chamado “cilicium”, ou pano ciliciano. Era usado para tendas. Paulo, um
ciliciano, fazia tais tendas (At_18:3).
lua — A, B, C, e as versões mais antigas dizem “a lua cheia;” não
meramente a crescente.
como sangue — (Jl_2:31.)
13. estrelas … caíram … como a figueira ... deixa cair os seus
figos verdes — (Is_34:4; Na_3:12.) A Igreja estará então amadurecida
para a glorificação, o mundo anticristão para a destruição, o que será
acompanhado pelos poderosos fenômenos na natureza. Quanto à queda
das estrelas à terra, a Escritura descreve os fenômenos naturais tal como
aparecem perante o espectador, não na linguagem do arranjo científico; e
entretanto, enquanto que se adapta assim a homens comuns, dá-nos
insinuações antecipatórias dos descobrimentos da ciência moderna.
14. recolheu-se — Gr., “foi separado de” seu lugar; “foi retirado.”
Não como Alford, “fez-se pedaços;” pois, ao contrário, diz-se que foi
enrolado e posto de lado. Não há nenhum “apartar-se um de outro” no
gr., como em At_15:39, passagem que Alford copia.
todos os montes … movidos — (Sl_121:1; Jr_3:23; Jr_4:24;
Na_1:5.) Este desmoronamento total será o precursor da nova terra,
assim como as convulsões pré-adâmicas prepararam-na para seus
habitantes atuais.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 100
15. reis … se esconderam — “Onde estava agora o espírito
daqueles que o mundo tanto temia?” [Bengel].
os grandes — os estadistas e altos oficiais civis.
comandantes ... ricos — manuscritos A, B, C, leem, “capitães …
ricos”.
os poderosos — Fisicamente: assim dizem os manuscritos A, B, e
C (Sl_33:16).
16. da face — (Sl_34:16). Sobre todo o versículo, veja-se Os_10:8;
Lc_23:30.
17. Lit., “chegou o grande Dia …” que não pode significar senão o
último grande Dia. Depois que o Senhor tenha utilizado todos os Seus
juízos comuns, a espada, a fome, a pestilência, e as feras selvagens, e
haja ainda pecadores impenitentes, o próprio grande Dia do Senhor virá.
Mt_24:6-29 forma um paralelo perfeito com os seis selos, não só nos
eventos, mas também na ordem de sua ocorrência, ou seja: Mt_24:3,
com o primeiro selo; Mt_24:6, com o segundo selo; Mt_24:7, com o
terceiro selo; Mt_24:7, final, com o quarto selo; Mt_24:9, com o quinto
selo, sob o qual as perseguições e a grande iniquidade são detalhadas em
particular assim como também os juízos conseguintes acompanhados por
certo da pregação do evangelho a todas as nações como um testemunho,
são particularmente detalhados, Mt_24:9-28, Mt_24:29, com o sexto
selo.
suster-se — O grego: “estar em pé;” justificado diante do Juiz, e
não condenado. Assim o sexto selo nos leva até o bordo da vinda do
Senhor. As ímpias “tribos da terra” tremem perante os sinais de Sua
iminente chegada. Mas antes que dê com efeito o golpe em pessoa, “os
escolhidos” devem ser reunidos entre eles.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 101
Apocalipse 7

Vv. 1-17. O selamento dos escolhidos de Israel. A inumerável


multidão dos gentios escolhidos.
1. E (RC) — segundo o manuscrito B e a Siríaca; omitido pela, C, a
Vulgata e a Cóptica.
Depois disto — A, B, C, e Cóptica leem, “depois disto.” As duas
visões deste capítulo formam um episódio depois do sexto selo e antes
do sétimo. É claro que, embora “Israel” possa em outras partes assinalar
o Israel espiritual, “os escolhidos (a Igreja) na terra” [Alford], aqui, onde
os nomes das dez tribos estão especificadas uma por uma, tais nomes não
podem ter outro significado que o literal. O segundo advento será o
tempo da restauração do reino a Israel, quando os tempos dos gentios
estejam cumpridos, e os judeus por fim digam, “Bendito o que vem em
nome do Senhor.” O período da ausência ao Senhor foi uma lacuna na
história dos judeus como nação. Como o Apocalipse, pois, é o livro do
segundo advento [De Burgh], naturalmente a menção do favor de Deus
restaurado a Israel ocorre entre os eventos precursores da vinda de
Cristo.
terra … mar … árvore — Os juízos que estão para descer sobre
estes, são a resposta à oração dos mártires sob o quinto selo. Comp. os
mesmos juízos sob a quinta trombeta, estando isentos os selados
(Ap_9:4).
nem sobre árvore alguma — Gr., “contra nenhuma árvore” (epi ti
dendron; mas “sobre a terra,” epi tes gees).
2. do nascente do sol — do levante, a direção de onde se manifesta
a maior parte das vezes a glória de Deus.
3. Não danifiqueis — soltando os ventos destrutivos.
até selarmos — Gr., “até que selemos …” Paralelo com Mt_24:31 :
“Seus anjos … ajuntarão os escolhidos desde os quatro ventos.” O amor
de Deus é tal, que nada pode fazer a respeito de juízo, enquanto Seu
povo não estiver a salvo do dano (Gn_19:22). Israel, às vésperas da
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 102
vinda do Senhor, será reincorporado como nação; pois suas tribos estão
especificadas distintamente (José, entretanto, substituído por Dã; seja
porque o Anticristo tenha que vir de Dã, ou porque Dã deva ser seu
instrumento especial [Aretas, do século dez], comp. Gn_49:17. Jr_8:16;
Am_8:14; assim como houve um Judas entre os doze). Dentre estas
tribos um remanescente crente será conservado dos juízos que destruirão
a toda a confederação anticristã (Ap_6:12-17), e será transfigurado junto
com a eleita Igreja de todas as nações, ou seja os … 144.000 (ou seja
qual fosse o número significado por este número simbólico), os quais
resistirão fielmente as seduções do Anticristo, enquanto que outros da
nação, restaurada a Palestina na incredulidade, são os enganados dele, e
enfim suas vítimas. Anteriormente aos juízos do Senhor sobre o
Anticristo e suas hostes, estes destruirão as duas terças partes da nação;
outros escapando, e tornando-se ao Senhor mediante a operação do
Espírito na aflição, serão o remanescente que formará o núcleo na terra
da nação israelita, a que certamente estará à cabeça das nações
milenárias do mundo. A ressurreição espiritual de Israel será “como vida
dos mortos a todas as nações. Como agora se está operando uma
regeneração para cá e acolá de indivíduos, assim haverá então uma
regeneração de nações universalmente, e isto com relação à vinda de
Cristo. Mt_24:34 : “Esta geração (a nação judaica) não passará até que
todas estas coisas sejam cumpridas,” o que indica que se as palavras do
próprio Cristo não passarão, tampouco passará (o mesmo gr.,
Mt_24:35) Israel antes da vinda de Cristo. Assim o diz precisamente
Zc_13:8-9; Zc_14:2-4, Zc_9:21; comp. Ap_12:2-14; Ap_13:1, 2. Assim
também o expressa Ez_8:17-18; Ez_9:1-7, especialmente Ez_9:4. Veja-
se também Ez_10:2 com Ap_8:5, onde os juízos finais caem com efeito
sobre a terra, com o mesmo acompanhamento, o fogo do altar lançado
sobre a terra, inclusive o fogo esparso sobre a cidade. Assim de novo,
Ap_14:1, os mesmos 144.000 aparecem sobre Sião com o nome de seu
Pai nas frontes deles, no fim da seção de caps. 12, 13, 14, referente à
Igreja e seus inimigos. Não que os santos estejam livres das provas:
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 103
Ap_7:14 prova o contrário; mas suas provas são distintas dos juízos
destruidores que caem sobre o mundo; destes estão isentos, como foi
Israel das pragas do Egito, especialmente da última, tendo as portas
israelitas o selo protetor da mancha de sangue.
fronte — a parte mais conspícua e mais nobre do corpo do homem:
onde se leva o elmo, “a esperança da salvação.”
4. Doze é o número das tribos, e é próprio para a Igreja: três por
quatro; três, o número divino, multiplicado por quatro, o número da
extensão mundial. Doze por doze significa fixidez e plenitude, que se
toma mil vezes em 144.000. Um Mil denota o mundo perfeitamente
penetrado pelo divino; porque é dez, o número do mundo elevado à sua
terceira potência, três o número divino.
de todas as tribos — não … 144.000 de cada tribo; mas sim o
agregado de 12.000 de cada tribo. Ap_3:12; Ap_21:12 não são
contrários, como pensa Alford, ao sentido literal de Israel, pois, na glória
consumada, ainda a Igreja será aquela que foi “edificada sobre o
fundamento dos (doze) apóstolos (israelitas), sendo Jesus Cristo (um
israelita) a principal pedra angular.” Os crentes gentílicos terão o nome
de Jerusalém escrito sobre eles, porquanto participarão da cidadania
antitípica daquela da Jerusalém literal.
5-8. Judá (que significa louvor) vem primeiro, como a tribo de
Jesus. Benjamim, o menor de todos, é o último; e com ele está associado
José, o penúltimo. Rúben, o primogênito, segue em ordem inferior a
Judá, por ter perdido pelo pecado o direito à primogenitura. Além da
mesma razão acima (Ap_7:2), dá-se outra parecida pela omissão de Dã,
ou seja, por ter sido o primeiro em cair na idolatria (Juízes 18); por cuja
razão o nome de Efraim, também (Jz_17:1-3; Os_4:17) é omitido, e o de
José substituído. Além disso, fazia muito que tinha ficado quase extinta
tal tribo. Com muita anterioridade, dizem os hebreus [Grocio.], tinha
sido reduzida a uma só família, a de Hussim, a que pereceu
subsequentemente nas guerras havidas antes do tempo de Esdras.
Portanto, omite-se em 1 Crônicas 4-8, onde os poucos de Dã estão
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 104
unidos à tribo de Naftali, seu irmão uterino. [Bengel]. As doze vezes
doze mil selados, são o núcleo da humanidade transfigurada [Auberlen],
ao que se unem os gentios escolhidos, “grande multidão que ninguém
podia enumerar” (Ap_7:9; quer dizer, a Igreja de judeus e gentios
indistintamente, da qual os gentios são o elemento predominante,
Lc_21:24. A palavra “tribos” no gr., como em Ap_7:4-8, indica que há
israelitas crentes nesta multidão inumerável). Uns e outros estão no céu,
contudo reinando sobre a terra, como ministros de bênção aos habitantes
dela; enquanto que na terra o mundo de nações adiciona-se ao reino de
Israel. Os doze apóstolos permanecem na cabeça do todo. A congregação
superior e a inferior, sendo distintas, associam-se intimamente.
9. A raça humana é uma nação por origem, mas depois se separou
em tribos, povos e línguas; portanto o primeiro vocábulo é singular,
seguido pelos três no plural.
de todas as nações — Gr., “De toda nação.”
tribos — Gr., “tribos.” As “primícias para o Cordeiro,” os 144.000
(Ap_14:1-4) de Israel, segue-as uma copiosa colheita de todas as nações,
uma eleição dentre todas as nações como são os 144.000 dentre Israel
(Nota, Ap_7:3).
vestiduras brancas — (Nota, Ap_6:11; também Ap_3:5, 18;
Ap_4:4.)
com palmas nas mãos — antítipo da entrada de Cristo em
Jerusalém entre a multidão que levava palmas. Isto será quando Ele
estiver para vir visivelmente para tomar posse de Seu reino. O ramo da
palma é símbolo de alegria e de triunfo. Usava-se na festa dos
tabernáculos, nos dia quinze do sétimo mês, quando observavam a festa
de ação de graças pela colheita recolhida. O antítipo será a ceifa
completa dos escolhidos redimidos aqui descritos. Veja-se Zc_14:16,
onde parece que a terrestre festa das cabanas será renovada, em
comemoração da conservação de Israel em sua longa peregrinação
desértica entre as nações, das quais será agora livrada, tal como a festa
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 105
original devia comemorar sua morada durante quarenta anos em tendas e
tabernáculos no deserto literal.
10. clamavam — Gr., “clamam,” nos três manuscritos mais
antigos, A, B, C, Vulgata, Siríaca, e Cóptica. É a ocupação incessante
deles.
a salvação — lit., “a salvação;” todo o louvor por nossa salvação se
atribui a nosso Deus. Deste modo na entrada do Senhor em Jerusalém, o
tipo, salvação foi o clamor da multidão que levava as palmas. Hosana
significa salva-nos agora; vem do Salmo 118:25, onde (vv. 14, 15, 22,
26) a mesma relação ocorre entre a salvação, os tabernáculos dos justos,
e o clamor dos judeus, que há de ser repetido por toda a nação na vinda
de Cristo, “Bendito o que vem em nome do Senhor.”
11. Os anjos, como em Ap_5:11, por sua vez se unem no cântico de
louvor. Ali eram “muitos anjos;” aqui, “todos os anjos.”
12. Gr., “A bênção, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra,
o poder, a força [a doxologia é sétupla, denotando sua totalidade e
inteireza] até os séculos dos séculos”.
13. dizendo — quer dizer, à mente inquisitiva de João; falou,
fazendo a pergunta que João teria querido fazer por causa do que tinha
visto. Um dos vinte e quatro anciãos, que representam o ministério do
Antigo e Novo Testamentos, faz de intérprete próprio desta visão da
Igreja glorificada.
14. meu Senhor — Assim dizem o B, C, Vulgata, Siríaca, Cóptica
e Cipriano.
tu o sabes — Tomado de Ez_37:3. Muito ignorantes nós mesmos
sobre as coisas divinas, é bom que olhemos para cima em busca de
conhecimento divinamente comunicado.
vêm — como diz o grego, o que indica que acabam de vir.
grande tribulação — Gr., “A tribulação grande;” ou seja, a
tribulação a que eram expostos os mártires sob o quinto selo, a mesma
que Cristo predisse, que deve preceder a Sua vinda (Mt_24:21, grande
tribulação), seguida pelos mesmos sinais que as do sexto selo
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 106
(Mt_24:29-30), comp. Dn_12:1; inclusive também retrospectivamente
toda a tribulação que os santos de todas as idades tiveram que
atravessar. Assim este capítulo sete é uma recapitulação da visão dos seis
selos (Ap_6:1-17), para completar o esboço ali dado, na parte que afeta
os fiéis daquele dia. Ali, por certo, o número deles devia completar-se;
aqui está completo, e os vê tirados da terra antes que caiam os juízos
sobre a apostasia anticristã; com seu Senhor, eles, e todas as Suas fiéis
testemunhas e discípulos das idades passadas, aguardam Sua vinda e a
deles para ser glorificados e para reinar juntamente com Ele. Enquanto
isso, em contraste com seus padecimentos anteriores, estão isentos da
fome, da sede e do calor abrasador da vida terrestre (Ap_7:16), e são
alimentados e refrescados pelo próprio Cordeiro de Deus (Ap_7:17;
Ap_14:1-4, Ap_14:13); penhor de sua futura bem-aventurança perfeita
em corpo e alma unidos (Ap_21:4-6; Ap_22:1-5).
lavaram … vestiduras ... alvejaram no sangue do Cordeiro —
(Ap_1:5; Is_1:18; Hb_9:14; 1Jo_1:7; com Is_61:10; Zc_3:3-5). A fé
aplica ao coração o sangue purificador; uma vez por todas para a
justificação, continuamente através da vida para a santificação.
15. Por isso (RC) — Porquanto estão assim lavados e brancos; pois
sem isso nunca poderiam ter entrado no santo céu de Deus; Ap_22:14,
“Bem-aventurados os que lavaram suas vestiduras (segundo os
manuscritos mais antigos) para que tenham direito à árvore da vida, e
entrem pelas portas na cidade,” com Ap_22:15; Ap_21:27; Ef_5:26-27.
diante do — Mt_5:8; 1Co_13:12, “face a face.”
trono … santuário — Estes se relacionam porque nos
aproximamos do Rei celestial pela mediação sacerdotal; portanto, Cristo
é ao mesmo tempo Rei e Sacerdote sobre o Seu trono.
de dia e de noite — isto é, perpetuamente; como aqueles aprovados
para o sacerdócio pelo Sinédrio se vestiam de branco, e guardavam uma
vigília perpétua, por turnos, no templo de Jerusalém; veja-se quanto aos
cantores, 1Cr_9:33, “de dia e de noite:” Sl_134:1. Estritamente “não há
noite” no santuário celestial (Ap_22:5).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 107
no seu santuário — no que é a analogia celestial de seu templo na
terra, pois, “ali não há templo” (Ap_21:22), “Deus e o Cordeiro são o
templo” penetrando o todo, de modo que ali não há distinção de lugares
sagrados e seculares: a cidade é o templo, e o templo a cidade. Compare-
se Ap_4:8, “os quatro seres viventes ... não têm descanso, nem de dia
nem de noite, proclamando: Santo …”
estenderá — Sem o complemento pavilhão no grego: “será (o)
tabernáculo ou tenda, sobre eles” (veja-se Ap_21:3; Lv_26:11;
especialmente Is_4:5-6; Is_8:14; Is_25:4; Ez_37:27). Sua “morada” com
eles (segundo a versão inglesa) deve entender-se em ordem secundária
ao expresso aqui: que Deus é seu refúgio e protetor. Quando uma vez
estendeu (sua tenda) entre nós, o Verbo feito carne, esteve em suma
humildade; mas esta vez estará em grande glória.
16. (Is_49:10).
Jamais terão fome — como a tiveram nesta vida.
nunca mais terão sede — (Jo_4:13.)
o sol — literalmente cai, abrasador, no Oriente. Também,
simbolicamente, o sol da perseguição.
nem ardor algum — como o do siroco.
17. no meio do trono — isto é, no ponto médio em frente do trono
(Ap_5:6).
fontes da água da vida — A, B, Vulgata, e Cipriano, dizem
“fontes de vida (eterna) de águas.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 108
Apocalipse 8

Vv. 1-13. O sétimo selo. Preparação para as sete trombetas. As


quatro primeiras e as pragas resultantes.
1. silêncio … céu … meia hora — Quebrado o último dos sete
selos, é aberto o livro do eterno plano de Deus a respeito da redenção,
para que o Cordeiro o leia aos bem-aventurados no céu. A meia hora de
silêncio contrasta com os cânticos jubilosos da grande multidão,
secundadas pelos anjos (Ap_7:9-11). É a solene introdução aos usos e às
alegrias do eterno descanso sabático do povo de Deus, que começa com
a leitura feita pelo Cordeiro do livro, que selado até agora, não podemos
conhecer senão depois. Em Ap_10:4, similarmente, na véspera do sétimo
som da trombeta, quando os sete trovões deram suas vozes, proíbe-se a
João de escrevê-las. A sétima trombeta (Ap_11:15-17) dá fim ao vasto
plano de Deus de providência e de graça na redenção, assim como o
sétimo selo o leva à consumação. Da mesma maneira, a sétima taça
(Ap_16:17). Não que os sete selos, as sete trombetas, e as sete taças,
embora sejam paralelos, sejam repetições. Traçam, cada um deles, o
curso de ação divina até a grande consumação onde todos se encontram,
sob aspecto diferente. Trovões, relâmpagos, terremoto, e vozes, dão
clausura da mesma maneira aos sete trovões e aos sete selos (Ap_8:5
com Ap_11:19). Comp. a sétima taça, as vozes, trovões, relâmpagos, e
terremoto (Ap_16:18). A meia hora de silêncio é uma breve pausa que se
DÁ A JOÃO entre a visão anterior e a seguinte, o que expressa, por um
lado, a solene introdução ao sabatismo eterno que segue ao sétimo selo, e
por outro, o silêncio que continuou durante as orações acompanhadas do
incenso que introduziu a primeira das sete trombetas (Ap_8:3-5). No
templo judaico, ressoavam os instrumentos e o canto durante todo o
tempo que durava a oferta dos sacrifícios, que formavam a primeira parte
do serviço. Mas ao oferecer o incenso se guardava solene silêncio
(Sl_62:1 marginal: “Em Deus está fazer calada minha alma;” comp.
Sl_65:1), enquanto o povo orava em silêncio. A meia hora de silêncio
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 109
expressa além disso, a ardente expectativa com que os espíritos felizes e
os anjos aguardavam o desenvolvimento sucessivo dos juízos de Deus. O
que se indica é um tempo breve, pois em tal sentido é usada a palavra
hora (Ap_17:12; Ap_18:10, 19).
2. os sete anjos — Comp. o apócrifo Tobias (Tob_12:15), “Sou
Rafael, um dos sete anjos santos que apresentam as orações dos santos, e
que saem e entram diante da glória do Santo.” Comp. Lc_1:19, “Eu sou
Gabriel, que assisto diante de Deus.” Gr., “Estou de pé.”
sete trombetas — Assinalam os eventos que intervêm enquanto os
mártires descansam, até que sejam mortos seus conservos assim como
eles; porque é sobre os habitantes do mundo que devem cair os juízos,
em resposta às orações dos mártires (Ap_6:10). Quer dizer todos os
ímpios, e não meramente alguma porção deles: toda a oposição e os
obstáculos que estão no caminho do reino de Cristo e Seus santos, como
os comprova Ap_11:15, 18, fim, no final das sete trombetas. A
Revelação torna-se mais específica só à medida que avança (Apocalipse
13; Ap_16:10; Ap_17:18). Pelas sete trombetas os impérios do mundo
são transtornados. As primeiras quatro vão relacionadas; e as últimas três
que só têm “ai, ai, ai” (Ap_8:7-13).
3. outro anjo — Não o Cristo, como muitos pensam, porque Ele no
Apocalipse sempre é determinado por um de Seus títulos devidos;
embora, sem dúvida, Ele seja o único verdadeiro Sumo Sacerdote, o
Anjo da aliança, que está diante do altar de ouro do incenso e ali, como
Mediador, eleva as orações de Seu povo, feitas aceitas perante Deus pelo
incenso dos Seus méritos. Aqui o anjo age meramente como espírito
ministrador (Hb_1:4), assim como os vinte e quatro anciãos têm taças
cheias de perfume, ou seja, incenso, que são as orações dos santos
(Ap_5:8), e que eles apresentam diante do Cordeiro. Com que precisão
se exerce o ministério deles de perfumar as orações dos santos e as
oferecer sobre o altar do incenso, não o sabemos, mas sabemos que não
se ora a eles. Se enviarmos uma oferta de tributo ao rei, não se permite
aos mensageiros do rei apropriar-se do que pertence apenas ao rei.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 110
foi-lhe dado — O anjo não provê o incenso; é-lhe dado por Cristo,
cuja obediência meritória e cuja morte são o incenso que faz com que as
orações dos santos sejam gratas a Deus. Não são os santas os que dão o
incenso ao anjo; nem se identificam suas orações com o incenso; nem
oferecem ao anjo suas orações. Cristo só é o Mediador pelo qual e ao
qual se deve oferecer a oração.
oferecê-lo com as orações — para as tornar eficazes como suave
aroma a Deus. Só os méritos de Cristo podem incensar nossas orações,
embora seja empregado o ministério angélico para unir este incenso às
orações. São simultâneas as orações dos santos na terra e a incensação
dos anjos no céu.
todos os santos — As orações tanto dos santos no descanso
celestial como os militantes na terra. O clamor dos mártires é o mais
proeminente, e faz descer sobre a terra os juízos resultantes.
altar de ouro — O antítipo do terrestre.
4. subiu … a fumaça do incenso, com as orações — antes, “Subiu
a fumaça do incenso que foi dado (subentendido Ap_8:3) às orações. O
anjo somente queima o incenso que foi dado por Cristo o Sumo
Sacerdote, de modo que a fumaça se confunde com as orações dos santos
que ascendem. Os próprios santos são sacerdotes, e os anjos nesta
ministração sacerdotal não são senão conservos daqueles (Ap_19:10).
5. o atirou à terra — quer dizer, até a terra; os carvões acesos
tirados do altar e lançados sobre a terra simbolizam os tremendos juízos
de Deus prontos a cair sobre os inimigos da Igreja, em resposta às
perfumadas orações dos santos que acabavam de ascender a Deus, e às
dos mártires. Quão maravilhoso é o poder das orações dos santos!
trovões, vozes — O manuscrito B coloca “vozes” depois de
“trovões. O manuscrito A põe depois de “relâmpagos.”
6. para tocar — “as tocar”; o gr., “trombetear.”
7. O característico em comum das primeiras quatro trombetas é que
os juízos que elas anunciam afetam objetos naturais, os acessórios da
vida, a terra, a erva, o mar, os rios, as fontes, a luz solar, a lua e as
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 111
estrelas. As outras três, as dos ais (Ap_8:13) afetam a vida do homem
com dor, a morte e o inferno. A linguagem é tomada, evidentemente, das
dez pragas do Egito, cinco ou seis das mesmas correspondem com
precisão: a saraiva, o fogo (Êx_9:24), a ÁGUA transformada em sangre
(Êx_7:19), as trevas (Êx_10:21), os gafanhotos (Êx_10:12), e talvez a
morte (Ap_9:18). A retribuição judicial em classe caracteriza os castigos
das primeiras quatro: os elementos usados com abuso castigam a seus
abusadores.
com sangue — (comp. Ap_16:3, 4.)
à terra — A, B, Vulgata, dizem “E a terça parte da terra foi
queimada.” Do mesmo modo, sob a terceira trombeta, a terça parte dos
rios fica afetada: o mesmo, sob a sexta trombeta, matam-se a terça parte
dos homens. Em Zc_13:8-9 aparece esta divisão tripartida; com a
proporção invertida, duas terças partes são mortas, só se salva uma terça
parte. O fogo foi o elemento predominante.
toda erva verde — já não a terça parte, mas sim tudo é devorado
pelo fogo.
8. uma como que grande montanha — não literalmente; mas sim
uma massa ardente do tamanho de uma montanha. Há uma clara alusão a
Jr_51:25; Am_7:4.
mar, cuja terça parte se tornou em sangue — Na segunda taça
correspondente, todo o mar, não meramente uma terça parte, se torna em
sangue. O desmoronamento de Jericó, tipo da Babilônia anticristã,
depois do que Israel, vitorioso, sob José (sinônimo de Jesus) tomou
possessão de Canaã, tipo do povo e reino de Cristo, é talvez o que se
alude nas SETE trombetas, o que se finalizará na derrota de todos os
inimigos de Cristo e no estabelecimento de Seu reino. No sétimo dia, na
sétima volta, quando os sete sacerdotes soaram os sete chifres de
carneiro, o povo gritou, e os muros desabaram; e logo seguiu o
derramamento do sangue do inimigo. Uma massa como montanha de
chamas não mudaria a água naturalmente em sangue; nem por ela ficaria
destruída a terça parte dos navios.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 112
9. Os intérpretes simbolistas entendem que as embarcações são
igrejas. Porque o termo grego aqui usado não é o comum, mas sim
aquele usado nos Evangelhos pelo barco apostólico em que Jesus
ensinou, e os primeiros templos eram da forma de um navio invertido, e
o grego para morreu é usado também para expressar as corrupções
heréticas (1Tm_6:5).
11. Os simbolistas interpretam a estrela caída do céu como ministro
principal (Ário, segundo Bullinger, Bengel, etc.; ou algum futuro mestre
herético) que caiu de seu alto posto na Igreja, e que em vez de brilhar
com célica luz, como estrela, torna-se em tocha acesa de fogo terrestre
que se sufoca em sua própria fumaça. O absinto, embora seja medicinal
em certos casos, se fosse tomado como água comum não só seria
desagradável ao gosto, mas também fatal para a vida: assim “o herético
absinto muda os doces Siloés da Escritura em mortíferas Maras.”
[Wordsworth]. Comp. a mudança ao contrário da água amarga de Mara
em água doce (Êx_15:23). Alford dá como exemplo de um ponto de
vista físico, a conversão de água em álcool ou espíritos ardentes
(bebidas espirituosas), que podem seguir ainda destruindo até uma terça
parte dos ímpios nos últimos tempos.
12. a terça parte — Não um escurecimento total como no sexto
selo (Ap_6:12-13). Este parcial escurecimento, pois, intervém entre as
orações dos mártires sob o quinto selo e os últimos juízos fulminantes
sob o sexto selo, na véspera da vinda de Cristo.
como também a noite — se retirou a terça parte da luz noturna das
brilhantes lua e estrelas orientais.
13. uma águia — A, B, Vulgata, Siríaca, e Cóptica, por “um anjo”
(RC), leem “uma águia:” o símbolo do juízo que desce fatalmente do
alto; a rainha das aves que cai sobre a presa. Compare-se esta quarta
trombeta e a águia em voo com o quarto selo apresentado pelo quarto ser
vivente, “como uma águia que voa” (Ap_4:7; Ap_6:7-8): o aspecto de
Jesus como apresentado pelo quarto evangelista. Compara-se a João
(segundo a primitiva interpretação dos querubins) com uma águia em
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 113
voo: a divina majestade de Cristo nesta similitude está exposta no
Evangelho segundo João, Suas visitações judiciais no Apocalipse de
João. Contraste-se “outro anjo,” ou mensageiro, que tem “o evangelho
eterno” (Ap_14:6).
pelo meio do céu — Gr., “no meio-céu,” ou seja, na parte do céu
onde o sol alcança o meridiano: em tal posição a águia é um objeto
conspícuo a todos.
dos que moram na terra — os ímpios, “os do mundo,” cuja
“porção está nesta vida” e contra os quais os mártires pediram que se
vingasse seu sangue (Ap_6:10). Não que eles procurassem a vingança
pessoal, mas sim seu zelo era pela honra de Deus contra os inimigos de
Deus e de Sua Igreja.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 114
Apocalipse 9

Vv. 1-21. O quinto som da trombeta: a estrela caída abre o abismo


de onde saem os gafanhotos. O som da sexta trombeta. Soltam-se os
quatro Anjos no Eufrates.
1. As últimas três trombetas das sete se chamam as trombetas dos
ais (Ap_8:13).
caída — ou “que tinha caído.” Assim João a viu, caída, e não no
ato de cair. Este é o elo que relaciona esta quinta trombeta com Ap_12:8,
9, 12. “Ai dos que habitam na terra, porque o diabo desceu..!” Comp.
Is_14:12, “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva!”
poço do abismo — o orifício do inferno, onde habitam Satanás e
seus demônios.
3. escorpiões da terra — em contraste com os “gafanhotos,” que
sobem do inferno, e não são da terra.
foi-lhes dado poder — quer dizer, para picar.
4. não causassem dano, etc. — ao alimento natural e comum do
gafanhoto. Fica restringido sobrenaturalmente seu instinto natural para
manifestar que o juízo é totalmente divino.
sobre a fronte — Assim fica provado que esta quinta trombeta
segue depois do selamento sob o sexto selo (Ap_7:1-8). Nenhum dos
santos é danificado por estes gafanhotos, o que não é o caso dos crentes
perante os ataques de Maomé, que muitos creem que estão representados
pelos gafanhotos; porque muitos dos fiéis caíram nas invasões da
cristandade pelos maometanos.
5. cinco meses — o tempo do ano quando ordinariamente o
gafanhoto destrói. Este e o versículo 6 não podem referir-se a um
exército invasor, pois um exército mataria, e não atormentaria
simplesmente.
6. fugirá — Assim dizem B, a Vulgata, a Siríaca, e a Cóptica. Mas
o A e Álef têm “foge,” foge continuamente. Em Ap_6:16, numa época
posterior dos juízos de Deus, os ímpios buscam o aniquilamento, não por
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 115
causa de seus tormentos e torturas, mas por temor ao rosto do Cordeiro
diante do qual devem apresentar-se.
7. preparados para a peleja — Comp. nota, Jl_2:4, onde se traça a
semelhança dos gafanhotos aos cavalos: as couraças do cavalo preparado
para a batalha são figura em grau superior à casca exterior de cicádidos.
coroas — (Na_3:17). Elliot explica isto dos turbantes dos
maometanos. Mas como poderiam ser estes “semelhantes a oro”? Alford
entende que a cabeça da gafanhoto com efeito termina num filamento de
matéria dourada.
o seu rosto era como rosto de homem — o que indica que
gafanhotos aqui não significa homens. Ao mesmo tempo, não são
gafanhotos naturais, pois estes não picam os homens (Ap_9:5). Devem
ser sobrenaturais.
8. cabelos de mulheres — longos e ondulantes. Um provérbio
arábico compara as antenas de gafanhoto com o cabelo das meninas.
Ewald, em Alford, entende que é alusão ao cabelo nas patas e corpos dos
gafanhotos: compare-se “gafanhotos arrepiados,” Jr_51:27.
como dentes de leões — (Jl_1:6.)
9. como couraças de ferro — como as que formam o tórax da
gafanhoto natural.
como … carros — (Jl_2:5-7.)
peleja — Gr., “guerra.”
10. poder — lit., “autoridade,” autorizadas para fazer mal.
11. e — Assim a versão siríaca; A, B, Álef, omitem “e.”
o anjo do abismo — Satanás (Ap_9:1).
Abadom — isto é, a perdição ou a destruição (Jó_26:6; Pv_27:20).
Os gafanhotos são instrumentos sobrenaturais nas mãos de Satanás para
atormentar, mas não para matar, os ímpios, sob esta quinta trombeta.
Assim como no caso do piedoso Jó, permitiu a Satanás atormentá-lo com
a sarna maligna, mas não tocar sua vida. Em Ap_9:20 estas duas
trombetas de ais se chamam expressamente “pragas.” Andréas de
Cesareia, em 500 d.C., em seu comentário sobre Apocalipse, disse que
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 116
os gafanhotos significam espíritos malignos que terão permissão para
sair de novo à terra e afligir os homens com várias pragas.
12. Concordamos com De Burgh, Alford, etc., em que estes
gafanhotos do abismo significam juízos que estão prestes a cair sobre os
ímpios imediatamente antes do segundo advento de Cristo. Não
satisfazem nenhuma das interpretações que as têm como passadas.
Jl_1:2-7; Jl_2:1-11 é estritamente paralelo, e se refere expressamente
(Jl_2:11) ao DIA DO SENHOR GRANDE E MUITO TERRÍVEL: Jl_2:10
dá os portentos que acompanharão Sua vinda, o tremor da terra e dos
céus, o abalo do sol, da lua e das estrelas; Jl_2:18, Jl_2:31-32 também
assinalam a libertação de Jerusalém que seguirá imediatamente depois:
veja-se também o prévio último conflito no vale de Josafá, e a morada
conseguinte de Deus em Sião, para abençoar a Judá. De Burgh limita o
juízo dos gafanhotos à terra de Israel, assim como os selados em
Ap_7:1-8 são israelitas, não que não haja outros selados como escolhidos
na terra, mas sim estando limitado o juízo a Palestina, só os selados de
Israel precisavam ser expressamente excetuados da visitação. Portanto,
ele traduz em toda a passagem “A TERRA” no sentido da de Israel e
Judá. Parece acertado este parecer.
13. uma voz — O grego, sublinha o numeral uma.
dos — o Gr., “dentre.”
quatro ângulos — A, a Vulgata (manuscrito Amiatino), a Cóptica,
e a Siríaca, omitem “quatro.” B e Cipriano o têm. Os quatro chifres
juntos deram sua voz, não vozes diversas, mas sim uma só. A revelação
de Deus (o evangelho), embora de aspecto quádruplo (quatro expressa a
extensão mundial: daí quatro é o número dos evangelistas), contudo tem
uma e a mesma voz. Entretanto, pelo paralelismo desta sexta trombeta
com o quinto selo (Ap_6:9, 10), o clamor dos mártires, em demanda da
vingança, do altar, que alcança sua consumação sob o sexto selo e a
sexta trombeta, eu prefiro entender que este clamor dos quatro chifres do
altar refere-se às súplicas dos santos dos quatro cantos da terra,
incensados pelo anjo e que, ascendendo a Deus do altar de incenso de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 117
ouro, fazem cair em consequência os juízos ardentes. Álef omite toda a
frase, “uma dos quatro chifres.”
14. junto ao — Gr., “sobre o rio:” sobre a margem. Eufrates (comp.
Ap_16:12). O rio sobre o qual estava Babilônia, antiga inimiga do povo
de Deus. Outra vez, seja da região literal do Eufrates, ou da Babilônia
espiritual (a Igreja apóstata, especialmente Roma), que sairão quatro
ministros angélicos dos juízos de Deus, reunindo um exército de
cavaleiros por todos os quatro cantos da terra, para matar a terça parte
dos homens, o desastre da visitação cairá sobre a Palestina.
15. que se achavam preparados — Gr., “que tinham sido
preparados.”
para a hora e dia e mês e ano (TB) — O artigo grego posto uma
só vez indica que a hora do dia, e o dia do mês, e o mês do ano, e o
próprio ano, tinham sido fixados definitivamente por Deus. O artigo teria
sido omitido se tivesse sido especificado uma soma total de períodos, por
exemplo, 391 anos e um mês (o período desde 1281, quando os turcos
venceram primeiro os cristãos, até 1672, sua última conquista, da qual
data o seu império decaiu).
a fim de matarem — não meramente “danificar” (Ap_9:10), como
na quinta trombeta.
a terça parte — (Nota, Ap_8:7-12.)
dos homens — terrestres (Ap_8:13), “os que habitam sobre a
terra,” como diferença do povo selado de Deus (do qual os selados de
Israel formam o núcleo, Ap_7:1-8).
16. Comp. com os 200.000.000, Sl_68:17; Dn_7:10. As hostes aqui
não são, por seus números e sua aparência (Ap_9:17), hostes meramente
humanas, mas sim provavelmente infernais, embora constrangidos a
cumprir a vontade de Deus (Comp. Ap_9:1, 2).
e ouvi (RC) — B, Álef, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica e Cipriano
omitem a conjunção “e”.
17. Assim — da seguinte maneira.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 118
de fogo — a cor acesa de suas couraças corresponde ao fogo que
saía da boca deles.
de jacinto — lit., “de cor de jacinto”, o azul escuro das liliáceas:
assim suas couraças corresponderiam em cor à fumaça que saía das
bocas deles.
de enxofre — A cor sulfúrea corresponderia ao enxofre que saía
das bocas deles.
18. Por meio destes três — Gr., “desde estes três …” que significa
a procedência, antes que a instrumentalidade da matança.
19. a força — A, B, C, Álef, dizem, “o poder dos cavalos.”
na sua boca — de onde saíam fogo, fumaça e enxofre (Ap_9:17).
Muitos intérpretes entendem que os cavaleiros são os milhares de
cavalaria turca uniformizados de cor escarlate, azul e amarelo (fogo,
jacinto e enxofre), os cavalos de cabeças de leão que significam
invencível coragem, e o fogo e o enxofre que saíam de seus bocas, a
pólvora e a artilharia introduzidas na Europa a esta época e empregadas
pelos turcos; as caudas como de serpentes, de picada venenosa, a falsa
religião de Maomé que suplantava ao cristianismo, ou como pensa
Ellicott, as caudas de cavalo levavam os paxás turcos como símbolos de
autoridade. (!) Tudo este é muito duvidoso. Cotejando-se esta sexta
trombeta com o paralelo do sexto selo, fica a probabilidade de que estes
eventos devem preceder imediatamente a vinda do Senhor. “O falso
profeta” (como o comprova Is_9:15), ou a segunda besta, que tem os
chifres de cordeiro, mas fala como o dragão, é o que parece significar.
Maomé, sem dúvida, é precursor dele, mas não é aquele que cumpre
plenamente esta profecia: Satanás provavelmente, rumo ao fim, tirará
todas as forças do inferno para o último conflito (Nota, “demônios,”
Ap_9:20; com Ap_9:1, 2, 17, 18).
20. Os outros homens — ou seja, os ímpios.
nem assim (NVI) — assim leem A, a Vulgata, a Siríaca, e a
Cóptica. B e Álef leem, “Não se arrependeram” de abandonar “as obras
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 119
…” Como Faraó, que endureceu a nuca contra o arrependimento, não
obstante as pragas.
das suas mãos — (Dt_31:29.) Especialmente os ídolos feitos pelas
mãos deles. Comp. Ap_13:14, 15, “a imagem da besta;” Ap_19:20.
para que não adorassem (TB) — Assim diz o manuscrito B; mas
A, C, Álef dizem, “… não adorarão;” o que expressa a certeza do
cumprimento da profecia.
demônios — os quais espreitam debaixo dos ídolos adorados.
21. feitiçarias — sortilégios, por meio de drogas (assim o grego).
Uma das obras da carne: o pecado dos gentios, que está por ser repetido
pelos cristãos apóstatas nos últimos dias (Ap_22:15). Os pagãos, que
tenham rejeitado o evangelho oferecido, apegado a suas concupiscências
carnais, e os cristãos apóstatas que tenham caído nos mesmos pecados,
participarão dos mesmos terríveis juízos. O culto às imagens foi
estabelecido no Oriente em 842 d.C.
sua prostituição — no singular, enquanto que outros pecados estão
no plural. Outros pecados se cometem ocasionalmente; aqueles que
carecem da pureza de coração se entregam a uma perpétua fornicação.
[Bengel].
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 120
Apocalipse 10

Vv. 1-11. A visão do livrinho.


Como se introduziu um episódio entre o sexto e o sétimo selos,
assim há um aqui (Ap_10:1–11:14) depois da sexta trombeta e
introdutório da sétima (Ap_11:15), que forma a grande consumação. A
Igreja e sua fortuna são o tema de este episódio: como os juízos sobre os
incrédulos habitantes da terra (Ap_8:13) eram o tema das trombetas
quinta e sexta. O Ap_6:11 está claramente referido em Ap_10:6; em
Ap_6:11 os mártires que reclamam a vingança é-lhes dito que devem
repousar “até um pouco de tempo:” em Ap_10:6 é-lhes assegurado que
não haverá mais tempo, prazo de espera: suas orações não terão que
esperar já a resposta, mas sim (Ap_10:7) que ao som da trombeta do
sétimo anjo, também será consumado o mistério de Deus (seu majestoso
plano até agora escondido, mas para ser revelado então). O livrinho
aberto é dado a João pelo anjo com a ordem (Ap_10:12, 9, 10, 11) de
que deve outra vez profetizar sobre (a respeito de, assim o grego) povos,
nações, línguas e reis: a qual profecia afeta (conforme parece em
Ap_11:15-19) àqueles povos, nações, línguas e reis só com relação a
Israel E A IGREJA, principais objetos da profecia.
1. outro anjo forte — como diferente do outro anjo forte que fez a
pergunta (Ap_5:2) sobre o mais compreensivo livro anterior: “Quem é
digno de abrir o livro?”
envolto em nuvem — vestido de autoridade, emblema do iminente
juízo de Deus.
o arco-íris — o já mencionado (Ap_4:3), emblema da misericórdia
da aliança para o povo de Deus, no meio dos juízos de Deus sobre seus
inimigos. Resumido de Ap_4:3 (cf. Nota).
rosto … como o sol — (Ap_1:16; Ap_18:1.)
as pernas, como colunas de fogo — (Ap_1:15; Ez_1:7). O anjo,
como representante de Cristo, reflete Sua glória, e leva a insígnia
atribuída (Ap_1:15-16; Ap_4:3) ao próprio Cristo. A coluna de fogo de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 121
noite guiou a Israel através do deserto, e era o símbolo da presença de
Deus.
2. na mão — na esquerda: pois em Ap_10:5 “levantou sua mão
direita (assim o grego) ao céu.”
um livrinho — Um rolo pequeno em comparação com o “livro”
(Ap_5:1) que continha todo o vasto plano dos propósitos de Deus, que
não devia ser lido completamente até sua final consumação. Este, um
livro menor, continha só uma porção, a qual João devia agora fazer dela
(Ap_10:9, 11) e logo usar para profetizar a outros. O Novo Testamento
começa com a palavra “livro” (gr., biblos), da qual “livrinho” (gr.,
bibliaridion) é a forma diminutiva, “A Bíblia pequena,” a Bíblia em
miniatura.
sobre o mar … terra — embora a besta com as sete cabeças está
prestes a subir do mar (Ap_13:1), e a besta com os dois chifres como de
cordeiro (Ap_13:11), da terra, embora por um pouco de tempo, e esse
tempo já não será mais (Ap_10:6, 7) quando uma vez a sétima trombeta
estiver para soar; o anjo que tem o pé direito sobre o mar e o esquerdo
sobre a terra reclama aquela e esta como propriedade de Deus, as quais
logo serão libertadas do usurpador e de seus seguidores.
3. como … leão — Cristo, a quem representa este anjo, está muitas
vezes simbolizado assim (Ap_5:5, “o Leão da tribo de Judá”).
sete trovões — Gr., “os sete trovões.” Estes formam parte do
simbolismo apocalíptico, e portanto estão assinalados pelo artigo como
bem conhecidos. Assim os trovões marcam a abertura do sétimo selo
(Ap_8:1, 5); deste modo da sétima taça (Ap_16:17, 18). Wordsworth o
chama o uso profético do artigo: “os trovões, dos quais voltaremos a
ouvir mais adiante.” Seu sentido completo só se conhecerá na grande
consumação assinalada pelo 7.º selo, a 7.ª trombeta (Ap_11:19), e a 7.ª
taça.
fizeram soar as suas vozes (RC) — vozes peculiarmente suas, e
ainda não reveladas aos homens.
4. suas vozes — Omitidas pela, B, C, Álef.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 122
Sela — Comp. a contra-ordem em Ap_22:10. Embora no tempo do
fim as coisas seladas no tempo de Daniel deviam ser reveladas, não
assim as vozes destes trovões. Embora João as tenha ouvido, não deviam
ser transmitidas a outros neste livro de Revelação; tão terríveis são que
Deus em misericórdia as retém, visto que “basta a cada dia o seu mal”.
Os piedosos são guardados assim de ponderações mórbidas de males
futuros; e os ímpios não são levados pelo desespero à vida desenfreada.
Alford acrescenta outro motivo de sua retenção, ou seja, “o temor
reverencial, visto que não se acabaram as setas da aljava de Deus.” Além
dos terrores preditos, há outros inexprimíveis e mais horrorosos que
ficam no fundo do quadro.
5. levantou a mão — Assim o A e a Vulgata: B, C, Álef, a Siríaca,
a Cóptica, leem: “… a (sua) mão direita.” Era costume levantar a mão
rumo ao céu, invocando o Deus da verdade, ao dar-se um juramento. Há
nesta parte da visão uma alusão a Daniel 12. Comp Ap_10:4 com
Dn_12:4, Dn_12:9; e Ap_10:5, 6 com Dn_12:7. Em Daniel o anjo
vestido de linho e estando sobre as águas, jurou que “um tempo, tempos
e metade de um tempo” deviam intervir antes da consumação; aqui, ao
contrário, o anjo estando com o pé esquerdo sobre a terra e o direito
sobre o mar, jura que “já não haverá mais tempo (prazo).” Ali levantou
as duas mãos ao céu; aqui tem o livrinho agora aberto (em Daniel o livro
está fechado) na esquerda (Ap_10:2), e portanto só levanta a direita
rumo ao céu.
6. para todo o sempre — Gr., “para os séculos dos séculos”
(Comp. Dan_12:7).
criou o céu … terra … mar — Esta designação detalhada da
criação de Deus é própria do tema do juramento do anjo, ou seja, a
consumação do mistério de Deus (Ap_10:7), que certamente será levado
a cabo pelo mesmo Todo-Poderoso que criou todas as coisas, e por Ele
somente.
Já não haverá demora — O grego: “que tempo (prazo) já não
haverá mais.” Os mártires não terão mais espera para a realização de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 123
suas orações pela purificação da terra mediante os juízos de Deus, que
tirarão dela os inimigos deles e de Deus (Ap_6:11). O período, ou prazo
de espera, chega a seu fim (o mesmo vocábulo grego, chronos,
Ap_6:11). Não se expressa o tempo em contraste com a eternidade.
7. mas — conjunção consecutiva neste caso.
cumprir-se-á — A, C, Álef, e Cóptica leem “acabou,” tempo
pretérito; B usa o futuro (Ap_11:15-18). Quão doce consolo para os
santos que esperam! Soará a sétima trombeta sem mais demora.
o mistério de Deus — O tema do “livrinho,” e também do resto do
Apocalipse. Quão grande é o contraste com “o mistério da iniquidade,
Babilônia”! O mistério do plano de Deus a respeito da redenção, uma
vez escondido nos conselhos secretos de Deus, e fracamente prefigurado
nos tipos e profecias, mas agora cada vez mais claramente revelado
conforme vê desenvolvendo o reino evangélico, até alcançar sua plena e
perfeita consumação enfim. Então, finalmente, Seus servos O louvarão
com perfeição, pela gloriosa consumação do mistério, quando tiver
tomado para Si e para Seus santos o reino tão longo tempo usurpado por
Satanás e pelo povo ímpio. De modo que este versículo está em
antecipação de Ap_11:15-18.
segundo ele anunciou — Gr., “como evangelizou,” “O mistério de
Deus” é o evangelho dos bens, das boas novas. O ofício do profeta é
receber as boas novas de Deus, a fim de declará-la a outros. A grande
consumação é o grande tema do evangelho anunciado aos profetas e
pelos profetas (Gl_3:8).
8. falava … e dizia (AV) — Assim a Siríaca e a Cóptica; mas A,
B, C, “(Ouvi) outra vez a voz me falando e dizendo …”
o livro — Álef e B leem “o livrinho.” ; mas A e C têm “o livro.”
9. Gr., “fui embora” (apelthon). João se separa do céu, seu ponto de
observação até agora, para chegar-se ao anjo, que está sobre o mar e a
terra.
que me desse — Assim A, B, C, e Vulgata: não, “dê-me.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 124
devora-o — Apropria-te do conteúdo tão completamente para
assimilá-lo (qual comida) e fazê-lo encarnar em ti, de modo de poder
comunicá-lo mais vividamente a outros. Achou o rolo doce a seu
paladar, primeiro porque é a vontade de Deus o que está fazendo, e
porque despojando do sentir carnal, teve como agradável sempre a
vontade de Deus, por amargo que pudesse ser a mensagem de juízo que
devia anunciar. Veja-se o Sl_40:8, margem, referente à completa
apropriação íntima feita por Cristo da palavra de Deus.
será amargo ao teu estômago — Paralelo de Ez_2:10, “Tinha
escritas nele lamentos, e lamentações, e ais.”
como mel — (Sl_19:10; Sl_119:103). O mel, doce à boca, às vezes
se torna em bílis no estômago. O pensamento de que Deus seria
glorificado (Ap_11:3-6, Ap_11:11-18) deu-lhe o prazer mais doce.
Entretanto, logo o ventre, ou seu natural sentir carnal, foi amargurado de
tristeza pela profecia das amargas perseguições que vinham sobre a
Igreja (Ap_11:7-10), comp. Jo_16:1-2. A revelação dos secretos do
futuro é doce no princípio, mas amarga e desanimada quando se leva em
conta a cruz que se deve levar antes de ganhar a coroa. João se
lamentava da apostasia vindoura e dos padecimentos da Igreja às mãos
do Anticristo.
10. o livrinho — Assim A, e C; mas B, Álef, e a Vulgata, dizem “o
livro.”
ficou amargo — Gr., “se amargou.”
11. me disseram — A, B, e Vulgata dizem “me dizem;” expressão
impessoal, por “foi dito,” ou “me diz.”
É necessário — “Te é necessário:” a obrigação repousa sobre ti
como o servo de Deus, de profetizar sob a ordem dEle.
de novo (NVI) — como já fizeste na primeira parte deste livro do
Apocalipse.
a respeito de muitos — como o grego, “a respeito de muitos …”
quer dizer, em sua relação com a Igreja. O comer o livro, como no caso
de Ezequiel, marca a inauguração de João em seu ofício profético —
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 125
aqui a uma nova etapa do mesmo, ou seja, a revelação das coisas que
sobrevirão à cidade Santa e à Igreja de Deus — o tema do resto do livro.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 126
Apocalipse 11

Vv. 1-19. A medição do templo. O testemunho das duas


testemunhas: sua morte, ressurreição e ascensão. O terremoto. O
terceiro ai. A sétima trombeta introduz o reino de Cristo. Ação de
graças dos vinte e quatro anciãos.
Este capítulo onze é um resumo volumoso e, ao mesmo tempo, uma
introdução das profecias mais detalhadas a respeito dos eventos futuros
dos capítulos doze ao vinte. Por isso achamos alusões antecipadas às
profecias subsequentes; comp. Ap_11:7, “a besta que sobe do abismo”
(não mencionada antes), com os detalhes de Ap_13:1-11; Ap_17:8;
também Ap_11:8, “a grande cidade,” com Ap_14:8; Ap_17:1, 5;
Ap_18:10.
1. uma cana (RC) — o cânon da Escritura, a vara de medida da
Igreja, nossa regra de fé, fala.
e disse — Tradução literal, “Foi dada um cano … dizendo” (que
dizia)”. Assim entende Wordsworth. Assim em Ap_16:7 o altar é
personificado. O Espírito fala no cânon da Escritura (a palavra cânon se
deriva do hebraico kaneh, “um cano,” vocábulo usado aqui; e João foi
quem terminou o cânon). Assim Vitorino, Aquinas e Vitringa.
semelhante a uma vara — ou seja, direita: como a vara de ferro
(Ap_2:27), inflexível, que destrói todo erro e que “não pode ser
quebrada.” Ap_2:27; Hb_1:8, gr., “vara de retidão;” isto se diz para que
não se pense que era uma “vara sacudida pelo vento.” O estilo abrupto
do Apocalipse pode permitir o indefinido, “me dizia.” Contudo, o
parecer de Wordsworth concorda melhor com o grego. Deste modo o do
antigo comentador, Andréas de Cesareia, a fins do século V (Nota,
Ap_11:3-4).
o santuário — O grego, naos (distinto de hieron, ou templo em
geral), o lugar santo, “o santuário.”
o seu altar — do incenso; porque este só estava no santuário
(naus). A medida do lugar santo me parece estar paralela com o
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 127
selamento dos escolhidos de Israel sob o sexto selo. Os escolhidos de
Deus são simbolizados pelo santuário de Jerusalém (1Co_3:16-17, onde
ocorre, como aqui o mesmo vocábulo gr., naos, templo). O Israel literal
com o templo restaurado (Ez_40:3, Ez_40:5, onde também o templo é
medido com o cano medidora, 41, 42, 43, 44), estará à cabeça da eleita
Igreja. A medição denota logo a exatidão das proporções do templo que
ia ser restaurado, e a totalidade determinada do número dos israelitas e
dos gentios escolhidos. O templo literal de Jerusalém será o precursor
típico da Jerusalém celestial, onde tudo será templo, e nenhuma porção
será exclusivamente apartada como o templo. O traçado arranjado
praticado por João em capítulos subsequentes da distinção entre os
servos de Deus e os que têm a marca da besta, é sua maneira de cumprir
a ordem dada aqui de medir o templo. O fato de que se distingue o
templo dos que nele adoram, favorece a opinião de que não se significa o
templo espiritual, ou seja a Igreja de judeus e de cristãos, mas antes, o
templo literal. Será reedificado com o retorno dos judeus à sua terra. Ali
o Anticristo exporá suas blasfemas apropriações. Só os escolhidos
selados de Israel, a cabeça da Igreja escolhida, rejeitarão aquelas
pretensões. Estes constituirão o verdadeiro santuário que aqui é medido,
isto é, corretamente assinalados e guardados por Deus, enquanto que
outros cederão às pretensões do maligno. Wordsworth objeta que nas
vinte e cinco passagens dos Atos onde se menciona o templo judeu,
chama-se sempre hieron, e não naos; deste modo nas Epístolas; mas isto
é simplesmente porque não há ocasião nos Atos e nas Epístolas para
mencionar o literal lugar santo (naos); com efeito, em At_7:48, ocorre o
termo naos, embora não se refira diretamente ao lugar santo do templo
de Jerusalém. Quando se falava aos cristãos gentios, que não conheciam
os detalhes do templo de Jerusalém, era de esperar-se o uso do termo
naos, mas no sentido espiritual. Em Ap_11:19 emprega-se naos no
sentido local; veja-se também em Ap_14:15, 17; Ap_15:5, 8.
2. pátio … fora (RC) — tudo o que está de fora, tudo menos o
lugar santo.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 128
não o meças — O pronome é enfático; não deve ser medido;
“lança-o fora,” como profanado.
foi ele dado — Pela ordem de Deus.
aos gentios — Em sentido mais amplo, significa “os tempos dos
gentios,” quando Jerusalém será “pisada pelos gentios,” como o prova o
paralelo de Lc_21:24, onde usa-se a mesma palavra (gr., patein). Comp.
também Sl_79:1; Is_63:18.
quarenta e dois meses — (Ap_13:5). O mesmo prazo de Daniel,
“tempo, e tempos, e a metade de um tempo” (Ap_12:14), e em Ap_12:6,
a mulher andou fugitiva no deserto “mil duzentos e sessenta dias.” Em
sentido mais amplo, podemos ou adotar a teoria de um dia-ano, que dá
1260 anos (sobre o qual, e o reinado papal de 1260 anos, vejam-se
minhas notas, Dn_7:25; Dn_8:14; Dn_12:11), ou tomar os 2300 dias
(Dn_8:14), os 1335 dias (Dn_12:11-12), 1290 dias, e 1260 dias,
simbolicamente pelo longo período dos tempos dos gentios, datando-se
desde a subversão da teocracia judaica no cativeiro babilônico (o reino
nunca foi restabelecido a Israel desde então.), ou desde a última
destruição de Jerusalém por Tito, e estendendo-se até a restauração da
teocracia com a vinda dAquele “a quem pertence de direito;” os
diferentes períodos nunca se entenderão claramente antes da grande
consumação; mas enquanto isso, nosso dever e privilégio nos urgem a
investigá-los. Algum dos períodos explicados por muitos pode ser o
verdadeiro, mas até agora não está assegurado.
Os tempos das monarquias gentílicas, enquanto Israel é castigado
sete vezes, serão em sentido restringido (Ap_11:2), sucedidos pelos
tempos muito mais limitados da tirania na Terra Santa do Anticristo
pessoal. Os longos anos do mau governo papal serão seguidos talvez
pelo curto período do homem do pecado, quem reconcentrará em si toda
a apostasia e a maldade dos vários anticristos precursores, Antíoco,
Maomé, o papado, um pouco antes do advento de Cristo. Em seu tempo
se fará A RECAPITULAÇÃO e a visível consumação do “mistério da
iniquidade”, que tanto tempo tem levedado o mundo. As igrejas que
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 129
testificam poderão ser seguidas pelos indivíduos que testifiquem, aquelas
durante o período maior, estes durante o mais breve. Os três e meio (os
1260 dias sendo três anos e meio de 360 dias cada um, tempo durante o
qual profetizarão as duas testemunhas vestidos de saco) formam a
metade do sagrado número sete, o que denota que o poder mundial do
Anticristo na melhor das hipóteses é quebrantado; corresponde ao
período (três anos e meio) quando Cristo testificou da verdade, rejeitado
por Seu próprio povo, e crucificado pelo pagão poder imperial
(Dn_9:27). Assinala, enfim, o tempo em que o reino terrestre domina
sobre o celestial. Da mesma duração é o pisotear do templo por Antíoco
e da perseguição dos israelitas fiéis. A ressurreição das duas testemunhas
depois de três dias e meio corresponde à ressurreição de Cristo depois de
três dias. Os tempos do poder mundial nunca alcançaram a sagrada
plenitude das sete vezes 360, ou seja, 2520, embora se aproximaram dela
nos 2300 (Dn_8:14). Os quarenta e dois meses correspondem às quarenta
e duas jornadas de Israel (Nm_33:1-50) no deserto, em contraste com o
repouso sabático em Canaã; o que faz lembrar à Igreja que aqui, no
deserto que é este mundo, não pode esperar seu descanso sabático.
Também, foi por três anos e meio que se fecharam os céus e sobreveio a
fome nos dias de Elias. Representa, pois, aos cristãos a ideia de fadigas,
peregrinações, e perseguições.
3. Darei — autoridade, ou a ordem.
às minhas duas testemunhas — “As duas minhas testemunhas:” o
artigo denota que eram bem conhecidos menos a João.
que profetizem — pregarão sob a inspiração do Espírito,
anunciando juízos contra os apóstatas. Descreve-os como “as duas
oliveiras, e “os dois castiçais que estão diante do Deus de toda a terra”.
A referência é a Zc_4:3, Zc_4:12, onde significa dois indivíduos, Josué e
Zorobabel, que serviram à Igreja Judaica, assim como as duas oliveiras
que se esvaziaram de seu azeite para encher o depósito do castiçal. De
modo que na apostasia final Deus levantará duas testemunhas inspiradas
para que animem e consolem o afligido, embora selado, remanescente.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 130
Como são dois os castiçais mencionados em Ap_4:2, e um só em Zc_4:3,
me parece que poderão significar a Igreja dupla, judaica e gentílica,
representada pelas duas testemunhas: assim como em Ap_7:1-8 se
descreve primeiro os selados de Israel, logo os de todas as nações. Mas
veja-se Nota, Ap_ 11:4. As ações das duas testemunhas são precisamente
as de Moisés, quando testificou por Deus contra Faraó (tipo do
Anticristo, o último e o maior inimigo de Israel), tornando as águas em
sangue, e ferindo com pragas; e as de Elias (testemunha de Deus durante
uma apostasia de Israel quase universal — restando os 7.000, entretanto,
como os 144.000 selados, Ap_7:4), que por sua palavra fez com que o
fogo devorasse o inimigo, e fechou os céus para que não chovesse por
três anos e seis meses, igual tempo (1260 dias) em que profetizaram as
duas testemunhas. Além disso, as palavras “testemunha” e “profetizar”
usualmente se aplicam a indivíduos, não a abstrações (Sl_52:8). De
Burgh crê que Elias e Moisés voltarão a aparecer, como Ml_4:5-6 parece
ensinar (veja-se Mt_17:11; At_3:21). Moisés e Elias apareceram com
Cristo na transfiguração a qual prefigurou o futuro reino milenário.
Quanto a Moisés, veja-se Dt_34:5-6; Jd_1:9. O gênio e modo de
proceder de Elias levam a mesma relação com a segunda vinda de Cristo
que os de João Batista levaram com a primeira vinda. [Bengel]. Muitos
da Igreja primitiva creram que os duas testemunhas eram Enoque e Elias.
Isto evitaria a dificuldade de que morreram eles duas vezes, porque estes
nunca morreram; mas talvez serão as testemunhas mortas. Contudo, a
conversão da água em sangue, e as pragas (Ap_11:6), aplicam-se melhor
a Moisés que a Enoque (comp. Ap_15:3, “o cântico de Moisés”). A
glória de Moisés e Elias na transfiguração não era seu permanente estado
de ressuscitados, que não será até que Cristo venha para glorificar a Seus
santos, porque só Ele é primícias dos que dormiram. Uma objeção a esta
interpretação é que aqueles dois servos bem-aventurados de Deus teriam
que submeter-se à morte (Ap_11:7, 8), e Moisés pela segunda vez, o que
é negado por Hb_9:27. Veja-se minha Nota, Zc_4:11-12. sobre as duas
testemunhas, que correspondem às “duas oliveiras.” Estes são meios de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 131
prover o azeite para alimentar a Igreja, e símbolos de paz. O Espírito
Santo é o azeite neles. As testemunhas de Cristo, nos notáveis tempos da
história da Igreja, apareceram geralmente em pares: como Moisés e
Arão, as autoridades civil e espiritual; Calebe e Josué; Ezequiel
sacerdote e Daniel profeta; Zorobabel e Josué.
de pano de saco — O gênero de vestir dos profetas, especialmente
quando chamavam o povo à contrição e arrependimento. Seu mesmo
aspecto exterior concordava com seus ensinos: assim Elias, e João, que
veio no espírito e poder dele. O saco das duas testemunhas é uma
palavra chave que liga este episódio com a sexta trombeta, e com o sexto
selo, quando o sol torna-se negro como saco de cilício (em justa
retribuição sobre os apóstatas, que rejeitaram as testemunhas de Deus,
Ap_6:12).
4. diante do Senhor da terra — A, B, C, a Vulgata, a Siríaca, a
Cóptica, e Andréas dizem: “Senhor por Deus:” assim Zc_4:14. Servindo
a Ele (Lc_1:19), e como diante dos olhos dEle, desconhecido por grande
parte da terra agora, mas sendo ao Rei dela por direito, e logo a ser
reconhecido como tal abertamente (Ap_11:15). A frase alude a Zc_4:10,
Zc_4:14, “os dois ungidos que estão diante do Senhor da terra.” O artigo
“os” indica a alusão. São “os dois castiçais,” não que sejam a Igreja, mas
sim como estrelas representativos (Fp_2:15) dela, e ministros de consolo
em tempo de apostasia. Vale a pena considerar a opinião de Worsworth,
se talvez constitua um sentido secundário: as duas testemunhas, as duas
oliveiras, são OS DOIS TESTAMENTOS que administram seu
testemunho à Igreja da antiga dispensação assim como a da nova, o que
explica que os duas testemunhas são chamadas também os dois castiçais
(as Igrejas do Antigo e Novo Testamentos: o castiçal em Zacarias 4 é um
só, como então havia uma só Igreja, a judaica. A Igreja em ambas as
dispensações não tem luz em si, mas a deriva do Espírito por meio do
testemunho da palavra dupla, as duas oliveiras: comp. Ap_11:1 (Nota),
relacionado com este, o cano, o cânon da Escritura, sendo a medida da
Igreja: assim Primasius [X., pág. 314]: as duas testemunhas pregam em
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 132
pano de cilício, em sinal do trato ignominioso que a palavra, como Cristo
mesmo, recebe no mundo. Assim os vinte e quatro anciãos representam
os ministros das duas dispensações pelo dobro de doze. Mas Ap_11:7
prova que os dois testamentos em primeira ordem não podem ser o que
se significa; porque estes nunca serão “mortos”, nem “acabarão seu
testemunho” até que o mundo acabe.
5. sai fogo — Não literalmente, mas sim Deus faz com que as
denúncias de juízos deles se verifiquem e devorem (Jr_5:14; Jr_23:29) a
seus inimigos.
pretende causar-lhes dano — Duas vezes repetido, para marcar a
certeza imediata da realização.
deve morrer — assim, da mesma maneira que ele tratar de
danificá-los (veja-se Ap_13:10). Retribuição em espécie.
6. autoridade — “poder autorizado.”
não chova — lit., “não chova água,” não regue a terra.
7. concluído o testemunho — O mesmo verbo é empregado por
Paulo a respeito do término de seu ministério com a morte violenta.
besta que surge — Esta besta (gr., besta selvagem, fera) não se
mencionou antes, porque já estava descrita por Daniel (Dn_7:3, 11), e há
de sê-lo plenamente mais adiante (Ap_13:1; Ap_17:8). Assim, João de
uma vez se apropria das profecias do Antigo Testamento; e também,
olhando todo o tema de um golpe de vista, menciona como conhecidos
(embora não o sejam ao leitor) objetos que descreverá ele mesmo depois.
É uma prova da unidade que atravessa toda a Escritura.
pelejará contra elas — Alusão a Dn_7:21, onde diz-se o mesmo
do chifre pequeno, que brotou entre os dez chifres da quarta besta.
8. seus corpos (AV) — Assim a Vulgata, a Siríaca e Andréas; mas
A, B, C, os manuscritos mais antigos, e a Cóptica dizem no singular, “o
corpo deles.” Os dois caídos por uma só causa são considerados como
um.
grande cidade — Oito vezes em outras partes do Apocalipse
aplicada a BABILÔNIA (Ap_14:8; Ap_16:19; Ap_17:18; Ap_18:10,
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 133
Ap_18:16, Ap_18:18-19, Ap_18:21). Ap_21:10 não é exceção, referente
à nova Jerusalém, pois os manuscritos mais antigos omitem as palavras
anexas, “a grande.” Deve ter, pois, uma referência antecipada à
Babilônia mística.
que — melhor “a qual,” conforme ao grego.
espiritualmente — em sentido espiritual.
Sodoma — O mesmo termo aplicado por Is_1:10 à Jerusalém
apóstata (comp. Ez_16:48).
Egito — A nação, apoiar-se na qual era o pecado tentador dos
judeus.
onde … Senhor foi crucificado — Isto identifica à cidade como
Jerusalém, embora o Senhor tenha sido crucificado fora da cidade.
Eusébio menciona o fato de que o cenário da crucificação foi incluído
dentro da cidade por Constantino; assim o será também provavelmente
na data quando as duas testemunhas forem mortas. A besta (por
exemplo, Napoleão e os esforços da França) faz muito que luta para
conseguir bases na Palestina; depois de sua ascensão do abismo, suas
lutas se acrescentarão muito mais. [Bengel]. Alguém da dinastia
napoleônica pode ser que obtenha uma base ali, e que até seja tido como
Messias pelos judeus, em virtude de ele lhes restaurar a pátria, e que
resulte assim ser o último anticristo. A dificuldade é: como pode chamar-
se Jerusalém “a grande cidade,” quer dizer, Babilônia? Por chegar a ser
ela a capital mundial da apostasia idolátrica, da mesma maneira que
Babilônia foi, e logo Roma o foi; assim como é chamada também
“Sodoma e Egito.”
também o seu Senhor — A, B, C, Origens, Andréas, etc., dizem
“Também seu Senhor.” Onde o Senhor deles, assim como eles, foi
morto. Veja-se Ap_18:24, onde o sangue de todos os mortos na terra é
dito ser achado EM BABILÔNIA assim como em Mt_23:35, Jesus diz
que “sobre os judeus e Jerusalém” (Comp. Mt_23:37, 38) “virá TODO O
SANGUE justo derramado sobre a terra;” de onde segue que Jerusalém
será a última capital da apostasia mundial, e receberá assim a última e a
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 134
pior visitação de todos os juízos jamais infligidos ao mundo apóstata, o
penhor da qual lhes foram dadas na destruição de Jerusalém pelos
romanos. No sentido mais amplo, no período histórico eclesiástico, a
Igreja sendo o santuário, todo o exterior a ela é o mundo, a grande
cidade, onde o martírio de todos os santos teve lugar. Babilônia tipifica
sua idolatria, Egito sua tirania, Sodoma sua profunda corrupção,
Jerusalém suas pretensões de santidade com base nos privilégios
espirituais, enquanto que é sempre a que mata a Cristo na pessoa de Seus
membros. Todo o qual é exato referente a Roma. Assim Vitringa. Mas
no sentido mais definido, Jerusalém é tida, até em Hebreus (Hb_13:12-
14), como a cidade mundial, de onde os então crentes deviam sair, a fim
de buscar a vindoura.
9. os — antes, “alguns dos povos e linhagens …,” a ordem do
grego.
tribos — Gr., “tribos;” todos salvo os escolhidos (por isso não se
diz os povos, mas sim alguns dos povos; ou a ideia partitiva pode referir-
se a indivíduos das nações, etc., que então tenham que ter a possessão da
Palestina e Jerusalém).
verão (AV) — Assim a Vulgata, a Siríaca e a Cóptica; mas A, B,
C, Andréas, dizem em presente: “Veem;” ou melhor, “Olham.” O
presente profético.
os corpos (AV) — Assim a Vulgata, a Siríaca, Andréas; mas A, B,
C, a Cóptica, no singular, como em Ap_11:8, “o corpo deles.” Os três
dias e meio correspondem aos três anos e meio (Notas, Ap_11:2, 3), a
metade de sete, o número pleno e perfeito.
não permitirão (RC) — Assim B, a Siríaca, a Cóptica e Andréas;
mas A, C, e a Vulgata dizem, “não permitem” [RA].
em sepulcros (RC) — Assim a Vulgata e Primasius; mas B, C, a
Siríaca, a Cóptica, e Andréas no singular, “num sepulcro,” lit., num
monumento. De conseguinte, em justa retribuição, a carne das hostes
anticristãs não é enterrada, mas sim dada às aves do céu (Ap_19:17, 18,
21).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 135
10. Os que habitam sobre a terra — os que pertencem à terra,
como cidadãos dela, não ao céu (Ap_3:10; Ap_8:13; Ap_12:12;
Ap_13:8).
se regozijarão — Assim a Vulgata, a Siríaca e a Cóptica; mas A,
B, C, dizem o presente; veja-se sobre “não permitirão.”
sobre eles — O anticristianismo dos últimos dias provavelmente
estará sob o nome da iluminação filosófica e da civilização, mas na
realidade será a deificação feita pelo homem de si mesmo. O fanatismo
levará os seguidores do anticristo a festejar o fato de ter sido silenciados
aparentemente na morte seus censuradores cristãos. Como o Senhor dela,
a Igreja terá sua funesta semana da paixão, seguida pela bela manhã da
ressurreição. É uma curiosa coincidência histórica que, no quinto
Concílio Laterano, em 5 de maio de 1514, nenhuma testemunha (nem
mesmo os morávios, que foram citados) testificou em favor da verdade,
como o tinham feito Huss e Jerônimo em Constança; um orador ocupou
a tribuna perante os representantes da cristandade papal, e disse: “Não há
quem reclame, quem se oponha” Lutero, em 31 de outubro de 1517,
precisamente três anos e meio depois, cravou suas famosas teses na
igreja de Wittenberg. Objeta-se que os anos são de 365 dias, não de 360
e que assim faltam dois dias e meio; mas contudo, a coincidência é
curiosa; e se permite a esta profecia outros cumprimentos que o final e
literal, é razoável que este seja tido como um deles.
atormentado — ou seja, com as pragas que tiveram o poder de
infligir (Ap_11:5, 6); também por seu testemunho contra os mundanos.
11. um espírito de vida — o mesmo que alentou a vida nos ossos
secos de Israel, Ez_37:10 (veja-se minha Nota, Ez_37:10, 11), “e entrou
espírito neles.” O texto aqui, como ali, relaciona-se intimamente com a
restauração de Israel como nação à vida política e religiosa. Veja-se
também sobre o mesmo, Os_6:2, onde Efraim diz, “dará vida depois de
dois dias: ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 136
se ergueram sobre os pés — as palavras idênticas de Ez_37:10, o
que prova que a alusão é à ressurreição de Israel, em contraste com os
tempos dos gentios,” quando “é pisada a cidade Santa.”
grande medo — como aquele que caiu sobre os soldados que
guardavam a tumba de Cristo quando Ele ressuscitou (Mt_28:4), quando
houve também grande terremoto.
12. ouviram — Assim A, C, e a Vulgata; mas B, a Cóptica, a
Siríaca e Andréas dizem “Ouvi”.
numa nuvem — Gr., “na nuvem;” o que pode ser meramente a
expressão pelo que bem conhecemos, como estamos acostumados dizer
“as nuvens.” Mas eu prefiro tomar o artigo como alusão definida à
nuvem que recebeu a Jesus em Sua ascensão (At_1:9, onde não há artigo,
pois não há alusão a nuvem anterior como é o caso presente). Como eles
se assemelhavam a Ele em seus três anos e meio de testemunho, seus três
dias e meio de jazer mortos (não precisamente pelo mesmo tempo, nem
foram enterrados, como Ele) assim também em sua ascensão é o traslado
e transfiguração dos selados de Israel (Ap_7:1-8), e os escolhidos de
todas as nações, arrebatados fora do poder do inimigo anticristão. Em
Ap_14:14-16 Ele é representado como sentado numa nuvem branca.
seus inimigos as contemplaram — e foram assim abertamente
reprovados por sua incredulidade e pela perseguição dos fiéis; diferente
da ascensão de Elias, à vista de amigos somente. A Igreja arrebatada ao
encontro do Senhor nos ares, e transfigurada em corpo, é justificada
diante do mundo por seu Senhor, assim como o filho varão (Jesus) foi
“arrebatado a Deus e ao seu trono” de diante do dragão que estava
esperando para devorar o menino quando nascesse.
13. grande terremoto — que corresponde ao “grande terremoto”
(o mesmo grego) sob o sexto selo, com a aproximação do Senhor
(Ap_6:12). Cristo foi entregue a Seus inimigos no quinto dia da semana,
no sexto foi crucificado, e no sábado descansou; assim é sob o sexto selo
e a sexta trombeta que o último padecimento da Igreja, começado sob o
quinto selo e a quinta trombeta, deve ser consumado antes que ela entre
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 137
ao sabatismo eterno. Seis é o número do maior triunfo do império
mundial, mas ao mesmo tempo limita com sete, o número divino, que
prenuncia sua completa destruição. Comp. 666 em Ap_13:18, “o número
da besta.”
ruiu a décima parte da cidade — isto é, “a grande cidade”
(Ap_16:19; Zc_14:2). Dez é o número dos reinos do mundo (Ap_17:10-
12), e dos chifres da besta (Ap_13:1) e do dragão (Ap_12:3). Assim, na
interpretação histórico-eclesiástica, ensina-se aqui que cai um dos dez
reinos mundiais apóstatas. Mas no sentido restringido uma décima parte
de Jerusalém que está sob o anticristo, cai. Ficam os nove décimos, e
uma vez purificadas chegam a ser o reino de Cristo na terra.
foram mortos sete mil homens (RC) — Lit., “foram mortos …
sete mil nomes de homens;” tão exatamente enumerados como se seus
nomes estivessem dados.
sete mil — Elliott interpreta sete quiliadas ou províncias, ou seja,
as sete Províncias Unidas holandesas perdidas ao papado; e “nomes de
homens”, como títulos de dignidade, ducados, senhorios, etc. Antes, sete
mil combina os dois místicos números perfeitos e compreensivos, sete e
mil, o que denota a plena e completa destruição dos impenitentes.
os demais (RC) — habitantes israelitas que não foram mortos. Sua
conversão forma um contraste bendito com Ap_16:9, e acima Ap_9:20,
21. Estes arrependidos (Zc_12:10-14; Zc_13:1) devem ser em carne os
súditos leais de Cristo, que reinará sobre a terra com Seus santos
transfigurados.
deram glória ao Deus do céu — o que não faziam enquanto eram
apóstatas e adoravam a imagem da besta.
Deus do céu — Os apóstatas dos últimos dias, com sua pretendida
iluminação científica, não reconhecem poder celestial algum, mas
somente as forças naturais da terra que chegam perante sua observação.
O recolhimento ao céu por Deus das duas testemunhas, que tiveram
poder durante seus dias na terra de fechar o céu para que não chovesse
(Ap_11:6) constrangeu os inimigos, dEle e deles, que o tinham
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 138
presenciado, a reconhecer o Deus do céu como Deus também da terra
(Ap_11:4). Como em Ap_11:4 se declarou ser Deus da terra por meio de
Suas duas testemunhas, assim agora se comprova ser Deus do céu
também.
14. o segundo ai — O da sexta trombeta (Ap_9:12-21), inclusive a
profecia de Ap_11:1-13: Ai do mundo; alegria para os fiéis conforme se
aproxima sua redenção!
sem demora, vem o terceiro ai — Não se menciona em detalhe
presentemente, até que se dê um esboço da história da origem,
padecimento e fidelidade da Igreja em tempo de perseguição e apostasia.
Em lugar de dar-se os detalhes do terceiro ai!, nota-se sumariamente a
grande consumação, a ação de graças dos vinte e quatro anciãos no céu
pelo estabelecimento do reino de Cristo na terra, juntamente com a
destruição dos que destruíram a terra.
15. tocou a trombeta — Evidentemente “O ÚLTIMO som da
trombeta.” Seis está perto de sete, mas não o alcança. Os juízos do
mundo se completam em seis, e pelo cumprimento de sete os reinos do
mundo chegam a ser de Cristo. Seis é o número do mundo entregue a
juízo. É a metade de doze, o número da Igreja, como três e meio é a
metade de sete, o número divino da perfeição. Bengel crê que o anjo
aqui terá sido Gabriel, nome composto de El, Deus e Geber, homem
forte (Ap_10:1). Gabriel, pois, propriamente anunciou a Maria o advento
do forte Deus-homem; veja-se o relato do nascimento do menino varão
que segue (Ap_12:1-6), ao que a presente passagem forma a transição,
embora a sétima trombeta seja em tempo subsequente, sendo a
consumação do episódio histórico dos caps. 12 e 13. A sétima trombeta,
como o sétimo selo e a sétima taça, sendo a consumação, é acompanhada
de uma maneira diferente daqueles: nos expõem, não as consequências
que seguem na terra, mas sim as que seguem NO CÉU, as grandes vozes
e a ação de graças dos vinte e quatro anciãos no céu, como o silêncio de
meia hora no céu com o sétimo selo, e a voz de dentro do templo no céu,
“Está feito” (Ap_16:17), com a sétima taça. Isto é paralelo a Dn_2:44,
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 139
“O Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem
passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá
todos esses reinos, e subsistirá para sempre.” É o estabelecimento visível
da soberania do Céu sobre a terra, a qual, visivelmente exercida uma vez,
foi rejeitada até agora pelos governantes terrestres. A diferença entre o
terrestre e o espiritual cessará então. Não haverá besta que se oponha à
mulher. A poesia, a arte, a ciência, e a vida social serão ao mesmo tempo
mundanas e cristãs.
reino — A, B, C, e a Vulgata dizem no singular, “O reino
(soberania) do (sobre o) mundo chegou a ser de nosso Senhor e de seu
Cristo.” Não há boa autoridade para a versão comum. Os reinos do
mundo cedem lugar ao senhorio do mundo exercido por Cristo. Os
reinos terrestres são muitos; o dEle será um. O nome “Cristo,” o ungido,
aqui onde se menciona Seu reino, aparece propriamente pela primeira
vez no Apocalipse. Porque equivale a REI. Embora se ungisse também a
sacerdotes e profetas, entretanto este termo aplica-se especialmente a Ele
como Rei, porquanto “o Ungido do Senhor” é seu título como REI, nos
textos onde é distinguido dos sacerdotes. O glorificado Filho do homem
governará a humanidade por meio de Sua transfigurada Igreja no céu, e
pelo povo de Israel na terra: Israel será o mediador sacerdotal de bênçãos
a toda a terra, tendo-as recebido primeiro.
e ele reinará — “até os séculos dos séculos.” Aqui começa o reino
milenial, a consumação do “mistério de Deus” (Ap_10:7).
16. diante de Deus — B e Siríaca dizem “diante do trono de
Deus;” mas A, C, a Vulgata e a Cóptica concordam com nossa versão.
trono — Gr., “tronos.”
17. Graças — pela resposta a nossas orações (Ap_6:10-11),
destruindo os que destroem a terra (Ap_11:18), preparando assim o
caminho para o estabelecimento do Teu reino e de Teus santos.
e que hás de vir (RC) — Omitida a frase na B, C, na Vulgata, na
Siríaca, em Cipriano e Andréas. Chegada, com efeito, já a consumação,
não se dirigem a ele já como quando era ainda futura, “que há de vir.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 140
Comp. Ap_11:18, “e veio.” Da voz da sétima trombeta é a Seu povo
JAH, o sempre presente Senhor, aquele que é, mais propriamente que
Jeová “aquele que é, era e há de vir.”
tomaste — Cristo toma o reino como Seu por direito.
18. iraram-se as nações (RC) — Aludindo ao Sl_99:1, LXX
“Jeová reinou”; enfureçam-se os povos.” A ira deles se combina com o
alarme (Êx_15:14; 2Rs_19:28, “Iraste-te contra mim, e teu estrondo
subiu a meus ouvidos, eu portanto porei meu anzol em teus narizes …”).
Quão fútil é a impotente ira do homem ao lado da do onipotente Deus!
mortos … julgados (RC) — o que prova que a sétima trombeta
vem no fim de todas as coisas, quando terá lugar o juízo sobre os
inimigos de Cristo, e a recompensa de Seus santos, tão longo tempo
reclamada por eles em oração.
os profetas — por exemplo, as duas testemunhas que profetizam
(Ap_11:3), e os que os trataram benignamente por amor a Cristo. Jesus
virá para efetuar por Sua presença aquilo que em Sua ausência
esperávamos em vão, e por outros meios.
destruíres … destroem — A retribuição em espécie (comp.
Ap_16:6; Lc_19:27). Notas, Dn_7:14-18.
19. Uma conclusão solene similar à do sétimo selo (Ap_8:5) e à da
sétima taça (Ap_16:18). Parece, pois, que os sete selos, as sete trombetas
e as sete taças, não representam acontecimentos consecutivos, mas sim
paralelos, e terminam na mesma consumação. Apresentam o
desenvolvimento dos planos de Deus para levar a cabo a grande
finalidade sob três diferentes aspectos, que se complementam
mutuamente.
o templo (RC) — O santuário ou lugar santo (naos), não o templo
inteiro (hieron).
abriu-se no céu (RC) — A e C dizem, “o templo de Deus que está
no céu foi aberto.”
a arca da Aliança — ou “de seu concerto,” “aliança.” Como no
primeiro versículo o santuário terrestre foi medido, assim aqui seu
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 141
antítipo celestial fica descoberto, e o antítipo da arca da aliança do lugar
santíssimo terrestre, fica à vista, a garantia da fidelidade de Deus à Sua
aliança, salvando a Seu povo e castigando os inimigos deles e dEle. De
modo que isto forma uma terminação própria da série de juízos
anunciados pelas trombetas e uma introdução ao episódio dos caps. 12 e
13, com relação à fidelidade de Deus para com sua Igreja. Aqui se abre
primeiro seu lugar secreto, o santuário celestial, para reconfortar a Seu
povo; e depois seguem Seus juízos a favor deles (Ap_14:15, Ap_14:17;
Ap_15:5; Ap_16:17), juízos aplaudidos pela grande companhia no céu
como “verdadeiros e justos.” Isto é paralelo, pois, à cena desenvolvida
perante o altar celestial, no final dos selos e no começo das trombetas
(Ap_8:3), à clausura do episódio dos caps. 12-15., e da abertura das taças
(Ap_15:7-8).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 142
Apocalipse 12

Vv. 1-17. Visão da mulher, seu filho, e o dragão perseguidor.


1. Este episódio (Apocalipse 12:1–15:8) descreve em detalhe a
perseguição de Israel e da Eleita Igreja, pela besta, mencionada
sumariamente em Ap_11:7-10; assim como o triunfo dos fiéis, e a
tortura dos infiéis. Deste modo nos capítulos 16 a 20, acha-se a descrição
em detalhe do juízo seguido sobre a besta, etc., notado sumariamente em
Ap_11:13, 18. A besta do v. 3 vê-se que não está sozinha, mas sim é o
instrumento na mão de outro poder sinistro maior, Satanás. Que isto é
assim, aparece no cap. 11, sendo a época em que têm lugar os eventos
descritos nos capítulos 12 e 13, ou seja, os 1260 dias (Ap_12:6, 14;
Ap_13:5; com Ap_11:2, 3).
grande — em tamanho e significado.
no céu — não o nosso, mas sim o de além (Ap_11:19; com
Ap_12:7-9).
uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés — A
Igreja, primeiro Israel, e logo a Igreja gentílica: vestida de Cristo, “o Sol
da justiça.” A Igreja é a portadora da luz sobrenatural no mundo. Assim
as sete igrejas (isto é, a Igreja Universal, a mulher) estão representadas
como castiçais, portadoras de luz (Ap_1:12, 20). Por outro lado, a lua,
embora esteja acima da terra e da mar, está totalmente relacionada com
elas, e é uma luz terrestre: mar, terra e lua representam o elemento
mundano, em oposição ao reino de Deus — o céu, o sol. A lua não pode
dispersar as trevas e mudá-las em dia: assim representa ela a religião do
mundo (o paganismo) com relação ao mundo sobrenatural. A Igreja tem
a lua, pois, debaixo de seus pés; mas as estrelas, como estrelas celestiais,
sobre a cabeça. O diabo dirige seus esforços contra as estrelas, os anjos
das igrejas, que estão para brilhar para sempre. As doze estrelas, ao redor
da cabeça, são as doze tribos de Israel. [Auberlen]. As alusões anteriores
a Israel concordam com isto: comp. Ap_11:9, “o templo de Deus;” “a
arca da aliança.” A arca, perdida no cativeiro babilônico, e nunca achada
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 143
desde então, vê-se no templo de Deus “aberto no céu,” o que significa
que Deus restabelece Sua aliança de novo com Seu antigo povo.
A mulher não pode significar, literalmente, a virgem mãe de Jesus,
porque ela não fugiu ao deserto para permanecer lá durante 1260 dias,
enquanto o dragão perseguiu o resto de sua semente (Ap_12:13-17). [De
Burgh]. O sol, a lua, e as doze estrelas são emblemáticos de Jacó, de
Leia (ou se não, Raquel) e os doze patriarcas, ou seja, a Igreja Judaica:
em segunda ordem, a Igreja universal, que tem debaixo dos pés, em
devida subordinação, a lua sempre flutuante, que ilumina com uma luz
emprestada, emblema da dispensação judaica, que agora está numa
posição de inferioridade, embora sustente à mulher, e também das coisas
mutáveis do mundo, tendo sobre a cabeça a coroa de doze estrelas, os
doze apóstolos que, entretanto, se relacionam intimamente com as doze
tribos de Israel.
A Igreja, ao passar ao mundo gentil, é (1) perseguida, e logo (2)
seduzida, conforme o paganismo começa a reagir com relação a ela. Isto
é a chave do sentido da mulher simbólica, besta, meretriz e falso profeta.
A mulher e a besta formam o mesmo contraste que o Filho do homem e
as bestas em Daniel. Como o Filho do homem vem do céu, assim a
mulher é vista no céu (Ap_12:1). As duas bestas ascendem
respectivamente do mar (comp. Dn_7:3) e da terra (Ap_13:1,
Ap_13:11): a origem delas não é o céu, mas sim a terra. Daniel
contempla o Noivo celestial que vem visivelmente a reinar. João vai à
mulher, a noiva, cuja chamada é celestial, no mundo, antes do retorno do
Senhor.
A característica de uma mulher, em contraste com o homem, é sua
submissão, a entrega de si mesma, sua receptividade. Esta do mesmo
modo, é a relação do homem com Deus, ser sujeito a Deus, receber de
Deus. Toda a autonomia do espírito humano inverte a relação do homem
com Deus. A receptividade feminina para com Deus constitui a fé. Pela
fé o indivíduo chega a ser filho de Deus; os tais filhos coletivamente se
veem na figura da “mulher.” A humanidade, enquanto pertença a Deus, é
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 144
a mulher. Cristo, o Filho da mulher, é chamado enfaticamente (Ap_12:5)
“o filho VARÃO” (gr., “filho masculino”). Nascido de mulher, e sob a
lei por causa do homem, Ele é também Filho de Deus, e assim é o
MARIDO da Igreja. Como Filho da mulher, é “Filho do homem;” como
filho varão, é Filho de Deus, e Marido da Igreja. Todos os que se
imaginam ter vida em si mesmos estão apartados dEle, a fonte da vida, e
estando confiantes em sua própria força, afundam-se até o nível das
bestas sem sentido. Assim a mulher assinala universalmente o reino de
Deus; a besta, o reino do mundo. A mulher da qual Jesus nasceu,
representa a congregação de Deus do Antigo Testamento. A mulher em
dores de parto (Ap_12:2) representa os anelos ardentes dos crentes do
Antigo Testamento pelo Redentor prometido. Veja-se a alegria de seu
nascimento (Is_9:6). Como a nova Jerusalém (chamada também “a
mulher,” ou “esposa”, Ap_21:2, Ap_21:9-12) com suas doze portas, está
exaltada e transfigurada, assim a mulher com as doze estrelas é a Igreja
militante.
2. dores de parto — Gr., “atormentada” (basanizomene). De Burgh
explica isto como o retorno do Filho primogênito ao mundo, quando
Israel o há de receber por fim, e quando “o filho varão regerá todas as
nações com vara de ferro.” Mas há um claro contraste entre o parto
penoso da mulher aludido aqui, e a segunda vinda de Cristo à Igreja
Judaica, o remanescente crente de Israel, “Antes que estivesse de parto,
deu à luz; antes que lhe viessem dores, deu a luz um filho!” (Is_66:7),
isto é, quase sem as dores, ela recebe (em Seu segundo advento), como
nascido a ela, o Messias e uma semente numerosa.
3. dragão vermelho (RC) — Assim A e a Vulgata; mas B, C, e a
Cóptica dizem “dragão de fogo.” Em todo caso, a cor do dragão sugere
sua ira extrema como homicida desde o princípio. Seu representante, a
besta, (Ap_13:1), corresponde-a, tendo sete cabeças e dez chifres (o
número de chifres da quarta besta de Dn_7:7). Mas ali há dez diademas
nos dez chifres (pois antes do fim, o quarto império é dividido em dez
reinos); aqui, sete diademas estão em suas sete cabeças. Em Dn_7:4-7 os
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 145
poderes anticristãos até a segunda vinda de Cristo estão representados
por quatro bestas, que têm entre si sete cabeças; ou seja, a primeira, a
segunda e a quarta têm uma cada uma; a terceira, quatro cabeças. Seu
domínio universal como príncipe deste caído mundo, infere-se pelas sete
diademas (veja-se contraste de “muitas diademas” na cabeça de Cristo,
Ap_19:12, quando há de destruir àquele), a caricatura dos sete Espíritos
de Deus. Seus instrumentos mundanos de poder estão indicados pelos
dez chifres, sendo dez o número do mundo. Expõe sua contradição de si
mesmo o fato de ele, como também a besta, levar tanto o divino número
sete como o mundano dez.
4. arrastava — Gr., “arrasta,” para baixo. Este arrastar das estrelas
com a cauda (chicoteando com ela para adiante e para atrás em sua fúria)
denota sua ação de persuadir à apostasia e à mundanalidade, àqueles
anjos e também a eminentes mestres humanos que antes foram piedosos
(comp. Ap_12:1; Ap_1:20; Ap_14:12.)
se deteve — “Está de pé” [Alford]: pretérito perfeito, grego,
hesteken.
a fim de lhe devorar — Assim o dragão, representado por seu
agente Faraó (nome comum a todos os reis egípcios, que significa,
segundo alguns, crocodilo, réptil parecido ao dragão, e constituído em
ídolo deles), estava preparado para devorar os meninos, no nascimento
da nação. Antitipicamente o Israel verdadeiro, Jesus, tendo nascido, foi
buscado por Herodes, quem matou a todos os meninos de Belém e seus
arredores, em seu esforço para matar a Jesus.
5. filho varão — Gr., “um filho, um varão”. Quanto ao profundo
significado deste termo, veja-se Notas em Ap_12:1, 2.
reger — Gr., poimainein, “pastorear” (Nota, Ap_2:27).
vara de ferro (RC) — A vara é para a obstinação longo tempo
praticada, até que se submetam à obediência [Bengel]: Ap_2:27, Sl_2:9,
texto que comprova que se trata do Senhor Jesus. Toda interpretação que
ignore isto deve ser errônea. O nascimento do filho varão não pode ser a
origem do estado cristão (o triunfo do cristianismo sobre o paganismo
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 146
sob Constantino), que não era filho divino da mulher, mas sim tinha
muitos elementos mundanos impuros. Num sentido secundário a
ascensão das testemunhas ao céu, corresponde à ascensão do próprio
Cristo, “arrebatado a Deus e a seu trono:” como também Seu governo
das nações com a vara de ferro há de ser compartilhado pelos crentes
(Ap_2:27). O que teve lugar primariamente no caso do divino Filho da
mulher, terá lugar também no caso dos que são um com Ele, os selados
de Israel (Ap_7:1-8), e os escolhidos de todas as nações, que estão para
ser trasladados e para reinar com Ele sobre a terra quando Ele aparecer.
6. A mulher, porém, fugiu — A fuga de Maria ao Egito com Jesus
é um tipo desta.
onde já tinha (RC) — Assim diz C; mas A e B acrescentam “ali.”
lugar — aquela porção do mundo pagão que não recebeu o
cristianismo declaradamente, ou seja, principalmente o quarto reino, que
tem sua sede na Babilônia Moderna, Roma, o que significa que nem todo
o mundo pagão seria cristianizado na presente ordem de coisas.
preparado por Deus (RC) — lit., “desde Deus.” Não por capricho
humano nem por temor, mas pelo determinado conselho e a presciência
de Deus, a mulher, a Igreja, fugiu ao deserto.
para que nele a sustentem — Gr., “alimentem-na.” O mundo
pagão, o deserto, não poderia alimentar a Igreja, mas só lhe prover
refugio externo. Aqui, como em Dan_4:26, etc., a terceira pessoa do
plural refere-se aos poderes celestiais que administram o alimento à
Igreja. Como Israel teve seu tempo do primeiro amor conjugal, ao sair do
Egito ao deserto, assim o primeiro tempo de amor da Igreja cristã no
deserto, foi a idade apostólica, quando foi separada deste mundo, não
tendo aqui cidade, mas sim somente um lugar no deserto preparado por
Deus (Ap_12:6, Ap_12:14). A meretriz toma como sua a cidade-mundo,
assim como Caim foi o primeiro edificador de cidade, enquanto que os
patriarcas crentes habitaram em tendas. Depois o Israel apóstata foi a
meretriz e a jovem Igreja Cristã, a mulher; mas logo se insinuou nela a
fornicação espiritual, e a Igreja no Cap. 17 já não é a mulher (esposa),
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 147
mas sim a meretriz, a grande Babilônia, a que tem em si, entretanto,
escondido o verdadeiro povo de Deus (Ap_18:4). Quanto mais penetrava
a Igreja no paganismo, tanto mais ela se paganizava. Em vez de vencer o
mundo, foi vencida pelo mundo. [Auberlen]. De modo que a mulher é
“uma inseparável Igreja do Antigo e Novo Testamentos, [Hengstenberg],
sendo Israel o tronco da Igreja cristã (Cristo e Seus apóstolos sendo
judeus), em que os crentes gentios foram enxertados, e na qual Israel,
quando se converter, será reenxertado, como a sua própria oliveira.
Durante todo o período histórico eclesiástico, “os tempos dos gentios,”
quando “Jerusalém é pisada pelos gentios,” a Igreja cristã pode ser a
mulher. Ao mesmo tempo se significa, em segunda ordem, a preservação
dos judeus durante este período da Igreja, a fim de que Israel, que uma
vez foi a mulher, e de quem nasceu o filho varão, possa voltar a sê-lo de
novo no fim dos tempos dos gentios e estar à cabeça das duas eleições, o
Israel literal e o Israel espiritual, ou seja a Igreja escolhida dentre judeus
e gentios sem distinção. Ez_20:35-36, “E lhes tenho que trazer para o
deserto de povos, e ali litigarei convosco … Como litiguei com vossos
pais no deserto da terra do Egito” (veja-se Notas em Ez_20:35-36): não
um deserto literal nem local, mas sim espiritualmente um estado de
disciplina e de prova entre “povos” gentios, durante os longos tempos
dos gentios, e consumado finalmente no último tempo de angústia sem
paralelo sob o anticristo, no qual o remanescente selado (Ap_7:1-8), que
constitui a mulher,” é conservado “da presença da serpente” (Ap_12:14).
mil e duzentos e sessenta dias — em antecipação de Ap_12:14,
onde se menciona a perseguição que motivou sua fuga. Ap_13:11-18 dá
os detalhes da perseguição. É o mais improvável que se fizesse a
transição do nascimento de Cristo até o último anticristo, sem mencionar
o longo período intermédio da história da Igreja. É provável que os 1260
dias, ou períodos, que representam este longo intervalo, sejam
RECAPITULADOS em escala mais curta analogicamente durante o
último reinado breve do anticristo. São equivalentes a três anos e meio,
que como a metade de sete, número divino, simbolizam a aparente
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 148
vitória do mundo sobre a Igreja. Como incluem todos os tempos em que
os gentios pisam Jerusalém, devem ser mais longos que 1260 anos;
porque já passaram mais de cinco séculos e meio dos 1260 anos, desde
que Jerusalém caiu.
7. Em Jó_1:6-11; Jó_2:1-6, Satanás aparece entre os filhos de Deus,
e se apresenta perante Deus no céu como acusador dos santos; outra vez
em Zc_3:1-2. Mas na vinda de Cristo como nosso Redentor, caiu do céu,
especialmente quando Cristo padeceu, ressuscitou, e subiu ao céu.
Quando Cristo apareceu diante de Deus como nosso Advogado, Satanás,
o adversário acusador, já não podia apresentar-se contra nós, mas sim foi
expulso judicialmente (Ro_8:33-34). Desde então ele e seus anjos
percorrem o ar e a terra por um tempo (entre a ascensão de Cristo e Sua
segunda vinda), destinados a ser lançados e atados no inferno. Que “céu”
aqui não significa meramente o ar, e sim a morada dos anjos, aparece em
Ap_12:9, 10, 12; 1Rs_22:10-22.
peleja no céu — Que aparente contradição de termos, mas
constituindo uma verdade! Contraste o feliz resultado do triunfo de
Cristo (Lc_19:38), “a paz no céu.” Cl_1:20, “fazendo a paz pelo sangue
de sua cruz, para reconciliar a si por ele todas as coisas, quer seja na
terra, quer nos céus.”
Miguel e os seus anjos … o dragão e seus anjos — Está
propriamente ordenado que, como a rebelião se suscitou dos anjos infiéis
e seu chefe, fossem eles atacados e vencidos por anjos fiéis e seu
arcanjo, no céu. Na terra serão em devida forma encontrados e vencidos,
representados pela besta e o falso profeta, pelo Filho do homem e Suas
hostes, os santos redimidos (Ap_19:14-21). O conflito na terra, como em
Dn_12:1, tem seu correspondente conflito de anjos no céu. Miguel é
peculiarmente o príncipe, ou anjo presidente, da nação judaica. O
conflito no céu, embora decidido já judicialmente contra Satanás desde o
tempo da ressurreição e ascensão de Cristo, recebe sua consumação
efetiva na execução do juízo levado a cabo pelos anjos que expulsam
Satanás do céu. Desde a ascensão de Cristo ele não tem direito judicial
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 149
contra os crentes escolhidos. Lc_10:18, “Eu via (no penhor do pleno
cumprimento futuro dado na sujeição dos demônios aos discípulos) a
Satanás, como um raio que caía do céu.” Como Miguel lutou antes com
Satanás pelo corpo do mediador da velha aliança (Jd_1:9), assim agora o
Mediador da nova aliança, oferecendo Seu corpo imarcescível, arma a
Miguel com o poder de renovar e terminar o conflito com uma vitória
completa. Que Satanás não está ainda expulso efetiva e finalmente do
céu, embora se ratificou a sentença judicial de fato na ascensão de
Cristo, deduz-se de Ef_6:12, “malícias espirituais nos ares” (Gr., lugares
celestiais). Tal é o sentido eclesio-histórico aqui; mas pela incredulidade
de Israel, Satanás teve poder contra ela, a nação escolhida, para aparecer
perante Deus e acusá-la. Na véspera de sua restauração, no sentido final,
seu poder no céu de estar contra Israel lhe será tirado, e “o Senhor, que
escolheu a Jerusalém”, reprová-lo-á e o arrojará do céu efetivamente e
para sempre, por meio de Miguel, o príncipe, ou anjo presidente dos
judeus. Assim Zc_3:1-9 é estritamente paralelo, Josué sumo sacerdote,
sendo representante de sua nação Israel, e Satanás estando à mão direita
de Deus como adversário para opor-se à justificação de Israel. Então, e
não antes (Ap_12:10, “agora,”) serão plenamente “pacificadas TODAS
as coisas no céu a Cristo (Cl_1:20), e haverá paz NO CÉU (Lc_19:38).
8. não prevaleceram — A e a Cóptica dizem “não prevaleceu; mas
B e C, como nossa versão.
nem — A, B, C, “nem mesmo” (gr., oude), um clímax. Não só não
prevaleceram, mas também nem foi achado mais o seu lugar no céu. Há
quatro graduações na queda cada vez mais profunda de Satanás: (1)
Priva-o de sua excelência celestial, embora tenha ainda acesso ao céu
como o acusador do homem, até a primeira vinda de Cristo. Como o céu
não estava ainda plenamente aberto ao homem (Jo_3:13), assim
tampouco estava fechado a Satanás e seus demônios. A dispensação do
Antigo Testamento não pôde derrotá-lo. (2) Desde Cristo até o milênio,
está judicialmente expulso do céu como acusador dos escolhidos e um
pouco antes do milênio perde seu poder contra Israel, e se efetua a
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 150
sentença de expulsão contra ele e os seus por Miguel. Sua ira contra a
terra, portanto, é maior e reconcentra contra ela seu poder, especialmente
rumo ao fim, quando “sabe que tem pouco tempo” (Ap_12:12). (3) Fica
preso durante o milênio (Ap_20:1-3). (4) Solto por um pouco de tempo,
é lançado para sempre ao lago de fogo.
9. a antiga serpente — Aludindo a Gn_3:1, Gn_3:4.
diabo — o grego por “acusador” ou “caluniador.”
Satanás — Heb. para “adversário,” especialmente na corte de
justiça. A designação dupla, o grego e o hebraico, marca os dois objetos
de suas acusações e tentações, os gentios escolhidos e os judeus
escolhidos.
mundo — Gr., “mundo habitável.”
10. Agora — Visto que Satanás foi expulso do céu. Cumprido
primariamente em parte para a ressurreição e ascensão de Jesus, quando
disse (Mt_28:18): “Todo poder me é dado no céu e na terra;” quando
(Ap_12:5) “Seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono.” Em
sentido final refere-se à véspera da segunda vinda de Cristo, quando
Israel estiver para ser restaurado como a Igreja mãe do cristianismo,
quando Satanás, que resistiu a restauração dela com base em sua
indignidade, tenha sido expulso pela instrumentalidade de Miguel,
príncipe angélico de Israel (Veja-se Nota, Ap_12:7). Assim este evento é
paralelo, e o preliminar necessário do glorioso evento similar de
Ap_11:15: “Os reinos (domínio) do mundo vieram a ser … de nosso
Senhor e do seu Cristo,” por ter recuperado Israel seu posto.
a salvação — Gr., “a salvação (plena, final e vitoriosamente
consumada, Hb_9:28; com Lc_3:6, ainda futura; portanto, não antes de
agora elevam os bem-aventurados sua mais plena aleluia pela salvação
do Cordeiro, Ap_7:10; Ap_19:1), o poder (Gr., dunamis); e a autoridade
(exousia, poder legítimo) de seu Cristo.”
os acusa de dia e de noite — Daí a necessidade de que a Igreja
oprimida, os escolhidos próprios de Deus (como a viúva que vinha ao
juiz injusto até o cansar) deveria clamar a Ele de dia e de noite.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 151
11. Eles — Enfático no grego. “Eles” em particular. Eles sozinhos.
Eles são os que venceram.
o venceram — (Ro_8:33-34, Ro_8:37; Ro_16:20; 1Jo_2:14-15). É
a mesma vitória (frase peculiarmente joanina) sobre Satanás e o mundo
que descreve o Evangelho segundo João na vida de Jesus; sua Epístola,
na vida de cada crente, e seu Apocalipse na vida da Igreja.
por causa — “Por causa (preposição, gr., diá com o acusativo) do
sangue do Cordeiro;” “por causa de”; por virtude de ter sido derramado.
Se o sangue não tivesse sido derramado, as acusações de Satanás teriam
sido incontestáveis; com efeito, aquele sangue anula toda acusação.
Schottgen menciona a tradição rabínica de que Satanás acusa os homens
todos os dias do ano salvo o dia do perdão. Tittmann interpreta o grego
diá como em atenção do sangue do Cordeiro; esta foi a causa impulsora
que os induziu a empreender a contenda; mas a opinião anterior é bom
grego e concorda melhor com o sentido geral da Escritura.
da palavra do testemunho que deram — Gr., “por causa da
palavra de seu testemunho.” Com base no seu testemunho fiel, até
mesmo a morte, são constituídos vencedores. Seu testemunho evidenciou
sua vitória sobre ele em virtude do sangue de Cristo. Desta maneira se
confessam adoradores do Cordeiro imolado, e derrotam a besta, o
representante de Satanás; uma antecipação de Ap_15:2: “os que tinham
alcançado a vitória sobre a besta” (Ap_13:15, 16).
12. Por isso — porquanto Satanás está expulso do céu (Ap_12:9).
habitais — Gr., “habitais em tendas,” ou tabernáculos. Não só os
anjos e as almas dos justos que estão com Deus se alegram de que
Satanás esteja expulso do lar deles, mas também os fiéis militantes na
terra, os que já em espírito habitam em tendas no céu, onde têm sua
cidadania e seu lar. Não pertencem ao mundo, e portanto, alegram-se
porque o juízo foi decretado contra o príncipe deste mundo.
dos que habitam na (RC) — Assim Andréas; mas A, B e C
omitem estas palavras, copiadas talvez de Ap_8:13.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 152
a vós — a terra e o mar, com os seus habitantes; os que pertencem
essencialmente à terra (Jo_3:7, margem, contraste Fp_3:19; 1Jo_4:5),
com a maré turbulenta de sua política. Furioso por sua expulsão do céu,
e sabendo que seu tempo na terra é curto, quando, na vinda de Cristo
para estabelecer Seu reino (Ap_20:1-2) será lançado ainda mais abaixo,
Satanás concentra todos seus poderes para destruir quanto mais almas
puder. Não podendo acusar os escolhidos no céu, pode, contudo, tentar e
perseguir na terra. Quanto mais vitoriosa a luz, tanto maiores serão as
lutas dos poderes das trevas; de modo que, na última crise, o anticristo se
manifestará com uma intensidade de iniquidade maior que nunca.
pouco tempo — Gr., kairos, “época”: oportunidade para seus
ataques.
13. Resumindo desde Ap_12:6 o fio do discurso, interrompido pelo
episódio de Ap_12:7-12 (que dá no mundo invisível a razão do
correspondente conflito entre a luz e as trevas no visível), explica a fuga
da mulher ao deserto (Ap_12:6).
14. foram dadas — por ordem precisa de Deus, não pela sorte
humana (At_9:11).
duas — Gr., “as duas asas da águia grande.” Aludindo a Êx_19:4 :
o que prova que a Igreja do Antigo Testamento tanto como a do Novo,
incluem-se na “mulher.” Todos os crentes são incluídos (Is_40:30-31). A
grande águia é o poder imperial; em Ez_17:3, Ez_17:7, Babilônia e
Egito; na anterior história eclesiástica, Roma, cujo estandarte era a águia,
convertida pela providência de Deus de ser hostil, em protetora da Igreja.
Como “asas” expressa as partes remotas da terra, as duas asas aqui
podem significar as divisões oriental e ocidental do império romano.
deserto — a terra dos pagãos, os gentios: em contraste com Canaã,
terra agradável e gloriosa. Deus habita na terra gloriosa; os demônios
(governantes do mundo pagão, Ap_9:20; 1Co_10:20), no deserto.
Portanto, Babilônia chama-se o deserto do mar (Is_12:1-10; com
Ap_14:8; Ap_18:2). O paganismo, em sua natureza essencial, sem Deus,
é um deserto desolado. Assim, a fuga da mulher ao deserto é a passagem
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 153
do reino de Deus dos judeus para estar entre os gentios (tipificado pela
fuga de Maria com o menino, da Judeia ao Egito). A fuga da águia é do
Egito ao deserto. O Egito indicado virtualmente diz-se (Ap_11:8) ser
Jerusalém, é-o espiritualmente por ter crucificado o Senhor. Dela escapa
à Igreja do Novo Testamento assim como a do Antigo fugiu do Egito
literal; como também se clama à verdadeira Igreja depois para que fuja
de Babilônia (a mulher transformada em meretriz, ou seja a Igreja
apóstata). [Auberlen].
ao seu lugar — a sede principal do então império mundial, Roma.
Os Atos dos Apóstolos descrevem a passagem da Igreja de Jerusalém a
Roma. A proteção romana foi a asa de águia que com frequência
protegeu a Paulo, o grande instrumento desta transmigração, e ao
cristianismo de seus opositores judeus que excitaram os tumultos pagãos.
Pouco a pouco a Igreja teve “seu lugar” cada vez mais seguro, até que
sob Constantino o império fez-se cristão. Entretanto, todo este período
eclesio-histórico se considera como a estada no deserto, quando a Igreja
é em parte protegida, em parte oprimida, pelo império, até que um pouco
antes do fim, o poder imperial que está sob Satanás, se desencadeará
contra a Igreja pior que nunca. Como Israel esteve no deserto quarenta
anos e teve 42 jornadas em sua peregrinação, assim a Igreja por quarenta
e dois meses, três anos e meio, ou tempos (lit., estações, que significa
anos no grego helenista, grego kairous, Dn_7:25; Dn_12:7), ou 1260
dias entre a queda de Jerusalém e a próxima vinda de Cristo, será ela
peregrina no deserto antes que alcance seu repouso milenial. É possível
que além deste cumprimento eclesio-histórico, haja também um
cumprimento ulterior e reduzido na restauração de Israel a Palestina,
quando o anticristo por sete tempos (prazos curtos análogos aos longos)
tenha ali poder, guardando a aliança com os judeus durante os primeiros
três anos e meio, logo quebrantando-o no meio da semana, fugindo a
massa da nação num segundo êxodo ao deserto, enquanto um
remanescente permaneça na terra exposto à horrível perseguição (os
“144.000 selados de Israel”, Ap_7:1-8; Ap_14.1, que estarão com o
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 154
Cordeiro, terminado o conflito, sobre o monte Sião: “as primícias” de
uma grande companhia reunida com Ele). [De Burgh]. Estes detalhes são
muito conjecturais. Em Dn_7:25; Dn_12:7, o tema como talvez aqui, é o
tempo da calamidade de Israel. Que os sete tempos não necessariamente
significam anos, em que cada dia seja um ano, isto é, 2520 anos, aparece
pelos sete tempos de Nabucodonosor (Dn_4:23), que corresponde ao
anticristo, a duração da besta.
15, 16. rio — Veja-se Êx_2:3; Mt_2:20, e especialmente Êxodo
14). É a corrente de tribos germânicas que, inundando Roma,
ameaçaram destruir a cristandade. Mas a terra ajudou a mulher,
sorvendo o rio. A terra, em contraste com o mar, é o mundo consolidado
e civilizado. As massas germânicas cederam à influência da civilização
romana e do cristianismo. [Auberlen]. Talvez se inclui também, em
geral, a ajuda dada por poderes terrestres (os menos aptos, mas induzidos
pela providência de Deus a prestar ajuda) à Igreja contra as perseguições
e contra as heresias que várias vezes a atacaram.
17. os restantes — O remanescente de sua semente, distinta em
algum sentido da própria mulher. O primeiro esforço de Satanás foi o de
desarraigar a própria Igreja, de modo que não houvesse mais profissão
visível da religião. Zombado nisto, peleja (Ap_11:7; Ap_13:7) contra a
Igreja invisível, quer dizer, contra “os que guardam os mandamentos de
Deus, e têm o testemunho de Jesus” (A, B, C omitem “Cristo”). Estes
são “o remanescente,” ou outros de sua semente, em distinção da
semente dela, “o filho varão” (Ap_12:5), por um lado, e dos que só
professam, por outro. A Igreja, em sua beleza e unidade (Israel à cabeça
da cristandade, formando ao todo uma Igreja perfeita), não está agora
manifesta, mas sim aguarda as manifestações dos filhos de Deus na
vinda de Cristo. Impotente para destruir o cristianismo e a Igreja como
um todo, Satanás dirige sua inimizade contra os cristãos verdadeiros, o
remanescente eleito; os outros ele os deixa sem incomodar.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 155
Apocalipse 13

Vv. 1-18. Visão da besta que saiu do mar. A segunda besta. saída
da terra, exerce o poder da primeira, e faz com que a terra a adore.
1. pus-me (RC) — Assim B, Álef e a Cóptica; mas A, C, a Vulgata
e a Siríaca dizem: “ficou em pé.” [TB]. De pé sobre a areia do mar, o
dragão deu seu poder à besta que subiu do mar.
sobre a areia do mar — Onde os quatro ventos deviam ser vistos
em luta contra o grande mar (Dn_7:2).
besta — Gr., “besta selvagem,” fera. O homem torna-se brutal
quando se aparta de Deus, o arquétipo e verdadeiro ideal, a cuja imagem
foi feito no princípio, ideal que é alcançado pelo homem Cristo Jesus.
Portanto, os impérios mundiais, que buscam sua própria glória e não a de
Deus, são representados como bestas; e Nabucodonosor, quando
deificando-se a si mesmo, esqueceu-se de que “o Altíssimo reina sobre o
reino dos homens,” foi expulso entre as bestas. Em Dn_7:4-7 há quatro
bestas; aqui uma besta expressa a totalidade do poder mundial
antidivino, não restringido a uma manifestação apenas, como de Roma.
Esta primeira besta expressa o poder mundial que ataca a Igreja pelo
lado de fora; a segunda, que é uma renovação e ministro da primeira, é o
poder mundial como falso profeta, que corrompe e destrói a Igreja pelo
lado de dentro.
do mar — (Dn_7:3; com a Nota, Ap_8:8) — subiu das turbulentas
ondas de povos, multidões, nações e línguas. A terra, por outro lado,
significa (Ap_13:11) o mundo consolidado e ordenado das nações, com
sua cultura e conhecimento.
dez chifres e sete cabeças — De acordo com os MSS. A, B, C. Os
dez chifres aparecem primeiro (em contraste com a ordem de Ap_12:3)
porque estão coroados. Não estarão assim antes da última etapa do
quarto reino (o romano), aquele que continuará até que o quinto, o de
Cristo, substitua-o e o destrua totalmente; esta última etapa é indicada
pelos dez dedos dos dois pés da imagem de Dn_2:33, 41, 42. O sete
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 156
indica que o poder mundial se levanta como Deus, caricaturando os sete
Espíritos de Deus; entretanto, seu verdadeiro caráter como oposto a Deus
é revelado pelo número dez que acompanha o sete. O dragão e a besta
levam diademas, mas aquele nas cabeças e esta sobre os chifres
(Ap_12:3; Ap_13:1). Portanto, as cabeças assim como os chifres se
referem a reinos; comp. Ap_17:7, 10, 12 “reis” representando os reinos,
cujas cabeças eles são. Os sete reis, poderosos em maneira especial —
quer dizer, as poderosas nações do mundo — se distinguem dos dez,
representados pelos chifres (chamados simplesmente “reis”, Ap_17:12).
Em Daniel, os dez significam a última fase do poder mundial, o quarto
reino dividido em dez partes. Estão relacionados com a sétima cabeça
(Ap_17:12), e são ainda futuros. [Auberlen].
O erro dos que interpretam a besta como Roma exclusivamente, e
os dez chifres pelos reinos que substituíram a Roma na Europa já, é que
o quarto reino na imagem tem DUAS pernas, que representam o império
oriental tanto quanto o ocidental; os dez dedos não estão num pé (o
ocidental), como estas interpretações requerem, mas nos dois juntos
(oriental e ocidental), de modo que qualquer teoria que aplique os dez
reinos ao ocidente só deve ser errônea. Se os dez reinos significassem os
que surgiram com o desmoronamento de Roma, os dez seriam
perfeitamente conhecidos, enquanto que existem vinte e oito listas
diferentes feitas por outros tantos intérpretes, somando entre todos
sessenta e cinco reinos! [Tyso em De Burgh].
As sete cabeças são os sete impérios mundiais, Egito, Assíria,
Babilônia, Pérsia, Grécia, Roma e o império Germânico; sob este último,
vivemos nós [Auberlen], aquele que se desenvolveu por um tempo, sob
Napoleão, depois que Francisco, imperador da Alemanha e rei de Roma,
ter renunciado ao título em 1806. Faber explica que a cura da ferida
mortal é o ressurgimento da dinastia napoleônica depois de sua derrota
em Waterloo. Tal dinastia secular, em aliança com o poder eclesiástico,
o papado (Ap_13:11), sendo a “oitava cabeça,” e contudo “das sete”
(Ap_17:11), triunfará temporariamente sobre os santos, até ser destruído
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 157
no Armagedom (Ap_19:17-21). Um Napoleão, segundo esta teoria, será
o anticristo, que restaurará os judeus à Palestina, e será aceito como o
Messias deles no princípio, para oprimi-los ferozmente depois. O
anticristo, a recapitulação e a concentração de toda a maldade do mundo,
é o oitavo, mas contudo, um dos sete (Ap_17:11).
nome de blasfêmia (RC) — Assim C, a Cóptica, e Andréas; A, B,
e a Vulgata dizem “nomes,” um nome em cada uma das cabeças; a
apropriação blasfema dos atributos que pertencem somente a Deus
(Nota, Ap_17:3). Característica do chifre pequeno de Dn_7:8, Dn_7:20-
21; 2Ts_2:4.
2. leopardo … urso … leão — Esta besta une em si as
características antidivinas dos três reinos anteriores, que se assemelham
respectivamente ao leopardo, ao urso e ao leão. Sobe do mar, e tem dez
chifres, como a quarta besta de Daniel, e sete cabeças, tantas quantas
tinham entre todas as quatro bestas de Daniel, quer dizer, uma a
primeira, uma a segunda, quatro a terceira, e uma a quarta. De modo que
representa compreensivamente numa só figura o império, ou poder,
mundial (que em Daniel se representa em quatro) de todos os tempos e
lugares, não meramente de um período e uma localidade, visto como
contrário a Deus; assim como a mulher é simbólica da Igreja de todas as
idades. Favorece também esta interpretação o fato de que a besta é o
representante vicário de Satanás, quem como ela tem sete cabeças e dez
chifres: descrição geral de seu poder universal em todas as idades e
lugares do mundo. Satanás aparece como serpente, sendo arquétipo da
natureza bestial (Ap_12:9). “Se as sete cabeças significassem meramente
sete imperadores romanos, não se pode entender por que eles sozinhos
seriam mencionados na imagem original de Satanás, enquanto que é
perfeitamente inteligível se supusermos que representam o poder de
Satanás na terra contemplado coletivamente.” [Auberlen].
3. ferida … curada — Outras duas vezes repetido enfaticamente
(Ap_13:12, 14); com Ap_17:8, 11: “A besta que era, e já não é, e há de
subir do abismo” (Ap_13:11); o império germânico, a sétima cabeça
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 158
(revivificada na oitava), futuro ainda no tempo de João (Ap_17:10).
Contraste a mudança em que Nabucodonosor, humilhado por causa de
seu orgulho egolátrico, foi convertido de sua forma e caráter bestiais em
forma HUMANA e a sua posição verdadeira para com Deus;
simbolizado pelo arrancar de suas asas e pela ordem de pôr-se em pé
como homem (Dn_7:4). Aqui, ao contrário, a cabeça da besta não é
mudada em cabeça humana, mas sim recebe uma ferida mortal, quer
dizer, o império mundial que esta cabeça representa não volta seriamente
a Deus, mas por um tempo seu caráter de antidivino fica paralisado
(“como se estivesse morta;” as próprias palavras indicando a semelhança
exterior da besta com o Cordeiro, “um Cordeiro como imolado”. Notas,
Ap_5:6. Comp. também a semelhança da segunda besta com o Cordeiro,
Ap_13:11). Embora pareça morta (gr., ferida), continua sendo a besta,
para levantar-se de novo em outra forma (Ap_13:11). As primeiras seis
cabeças são os pagãos Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia, Roma; o
novo e sétimo império mundial (as pagãs hordas germânicas que se
desencadearam sobre a Roma cristã), pelo qual Satanás tinha esperado
afogar o cristianismo (Ap_11:15-16), por sua vez fez-se cristão (o que
corresponde à, como se fosse, ferida mortal da besta; que era, e já não é
(Ap_17:11). Sua ascensão do abismo corresponde à cura de sua ferida
mortal (Ap_17:8). Não se nota em Daniel nenhuma mudança essencial
como o efetuado pelo cristianismo sobre o quarto reino; permaneceu
essencialmente contrário a Deus até o fim. A besta curada de sua
temporária ferida externa, agora retorna, não só do mar, mas também do
abismo, de onde arrasta novas forças anticristãs infernais (Ap_13:3,
Ap_13:11-12, 14; Ap_11:7; Ap_17:8). Comp. os sete espíritos imundos
que entram naquela casa temporariamente desocupada, e cujo último
estado é pior do que o primeiro (Mt_12:43-45). Um paganismo novo e
péssimo irrompe sobre o mundo cristão, mais diabólico que o das
primeiras cabeças da besta. Aquela foi uma apostasia somente da
revelação geral de Deus na natureza e na consciência; mas esta é da
revelação do Deus de amor em Seu Filho. Culmina no anticristo, o
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 159
homem do pecado, o filho da perdição (comp. Ap_17:11); 2Ts_2:3;
comp. 2Tm_3:1-4, as mesmas características do antigo paganismo
(Rm_1:29-32). [Auberlen]. Parece-me que se significa mais de uma
ferida: por exemplo, aquela inferida sob Constantino (quando o culto
pagão à imagem do imperador, cedeu seu lugar ao cristianismo), seguida
pela cura, quando o culto às imagens e outros erros papistas foram
introduzidos na Igreja; outra vez, aquela da reforma, que foi seguida pela
letárgica forma de piedade sem o poder, que está para culminar na última
apostasia, que eu identifico com a segunda besta (Ap_13:11), o
anticristo, o mesmo sétimo poder mundial em outra forma.
se maravilhou — seguindo-a em admirada contemplação.
4. porque ele tinha dado (NTLH) — A, B, C, e a Vulgata, a
Siríaca, e Andréas dizem, “porque deu” [RA].
autoridade — Gr., “a autoridade,” a que tinha, a sua.
Quem é semelhante à besta? — A mesma linguagem própria de
Deus (Êx_15:11; de onde, no hebraico, os Macabeus tomaram seu nome;
os opositores do anticristo do Antigo Testamento, Antíoco); Sl_35:10;
Sl_71:19; Sl_113:5; Mq_7:18; blasfêmia (Ap_13:1, Ap_13:5) atribuída à
besta. É uma paródia do nome de “Miguel” (comp. Ap_12:7), que
significa, “quem semelhante a Deus?”
5. blasfêmias — Assim Andréas, mas B diz “blasfêmia,” e A,
“coisas blasfemas” (comp. Dan_7:8; Dan_11:25).
autoridade — “autoridade;” poder legítimo (gr., exousia).
para agir — B diz: “de fazer guerra” (Ap_13:4).
quarenta e dois meses — (Notas, Ap_11:2-3; Ap_12:6).
6. abriu a boca — a fórmula comum de uma oração formal, ou de
uma série de discursos. Ap_13:6 e 7 amplificam Ap_13:5.
blasfêmias — Assim B e Andréas. A e C dizem “blasfêmia.”
e dos — “que habitam (lit., “vivem em tendas”) no céu”, não só os
anjos, e as almas dos santos mortos, mas sim dos crentes na terra, que
têm sua cidadania no céu, cuja verdadeira vida está escondida do
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 160
perseguidor anticristão no segredo do tabernáculo do Deus. Nota,
Ap_12:12; Jo_3:7.
7. autoridade — Gr., “autoridade.”
tribo, povo, língua e nação — A, B, C, a Vulgata, a Siríaca,
Andréas e Primasius dizem assim; não omitem “nação.”
8. os que habitam sobre a terra — sendo terrenos; em contraste
com “os que habitam no céu.”
cujos nomes não foram escritos — A, B, C, a Siríaca, a Cóptica e
Andréas leem no singular, “cujo (gr., hou, mas B, gr., hon, plural) nome
não está escrito.”
Cordeiro … morto desde a fundação do mundo — A ordem
grega favorece esta tradução. Foi morto nos eternos conselhos do Pai:
comp. 1Pe_1:19-20, texto virtualmente paralelo. Outra tradução é: “…
escritos desde o começo do mundo no livro …” Assim em Ap_17:8.
Aquela é no grego a mais óbvia e simples. “Toda virtude que houvesse
nos sacrifícios se efetuava só por meio da morte de Cristo. Como Ele era
o Cordeiro morto desde a fundação do mundo, toda a propiciação jamais
feita, foi efetuada só pelo sangue dEle.” [Bispo Pearson, Exposition of
the Creed].
9. Exortação geral. As próprias palavras admoestadoras de Cristo
reclamam solene atenção.
10. Se alguém leva para cativeiro — A, B, C, e a Vulgata dizem:
“Se alguém for para cativeiro …” Comp. Jr_15:2, aludido aqui. Álef, B e
C omitem “em cativeiro” depois de “leva.”
Se alguém matar à espada — Assim B e C; mas A diz: “Se
alguém for para ser morto …” Há muito tempo, assim agora, os que
devem ser perseguidos pela besta, têm já suas respectivas provas
determinadas pelo fixo conselho de Deus. Em nossa versão o sentido é
muito distinto: o de admoestação aos perseguidores de que alcançarão o
castigo de retribuição em espécie.
Aqui — em suportar seus padecimentos determinados consiste “a
perseverança dos santos.” Este deve ser o lema ou contra-senha dos
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 161
escolhidos durante o período do império mundial. Como devia enfrentar
a primeira besta com paciência e fé (Ap_13:10), à segunda deve
combater-se o com verdadeira sabedoria (Ap_13:18).
11. outra besta — “o falso profeta.”
da terra — dentre a sociedade civilizada, consolidada, e ordenada,
mas não obstante sua cultura toda, era terrestre em distinção de “do
mar,” as agitações turbulentas de vários povos dos quais emergiram o
poder mundial e seus vários reinos. “O poder perseguidor sacerdotal,
pagão e cristão; o sacerdócio pagão que faz com que os cristãos sejam
forçados a adorar a imagem do imperador e que faz maravilhas e sinais
por meio da magia e tem superstições, que são como cordeiros em suas
profissões cristãs, e como dragões em suas palavras e atos” [Alford e
assim o jesuíta espanhol Lacunza que escreve sob o nome do Ben Ezra].
Como a primeira besta era semelhante ao Cordeiro, com ferida mortal,
como se fosse, assim a segunda é semelhante ao Cordeiro tendo dois
chifres de cordeiro (sua diferença essencial do Cordeiro está em que tem
DOIS chifres, enquanto o Cordeiro tem SETE chifres, Ap_5:6). O
paganismo anterior do poder mundial, segundo parece ferido de morte
pelo cristianismo, volta a viver. Em sua segunda forma de besta é o
paganismo cristianizado, que serve ao anterior e que tem a cultura e
conhecimentos terrestres que o recomendam. O surgimento da segunda
besta, ou seja, o falso profeta, coincide em tempo com a cura da ferida
mortal da besta e sua ressurreição (Ap_13:12-14). Seu caráter múltiplo
foi assinalado pelo Senhor em Mt_24:11, Mt_24:24, “… muitos falsos
profetas se levantarão”, falando Ele dos últimos dias. Como a primeira
das duas bestas corresponde às primeiras quatro de Daniel, assim esta
segunda, ou o falso profeta, o chifre pequeno que brotou dentre os dez
chifres da quarta besta de Daniel. Este chifre anticristão não só tem a
boca de blasfêmia (Ap_13:5), mas também “os olhos de homem”
(Dn_7:8): aquela, mas não estes, tem também a primeira besta (Ap_13:1,
5). “Os olhos de homem” simbolizam a astúcia e a cultura intelectual, as
mesmas características do “falso profeta” (Ap_13:13-15; Ap_16:14). A
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 162
primeira besta é física e política; a segunda é um poder espiritual, o
poder do saber, das ideias (termo favorito da escola francesa de política),
e do cultivo científico. Ambos são bestas, são de baixo e não de cima;
fiéis aliados, a mundana sabedoria anticristã ao serviço do mundano
poder anticristão: o dragão é tanto leão como serpente: a força e a astúcia
são sua armadura. O dragão dá seu poder externo à primeira besta
(Ap_13:2), seu espírito à segunda, de modo que fala como dragão
(Ap_13:11). A segunda, que sobe da terra, diz-se em Ap_11:7; Ap_17:8
que ascende do abismo; sua mesma cultura e sua sabedoria mundana só
intensificam seu caráter infernal, a pretensão de conhecimento superior e
filosofia racionalista (como na tentação primitiva, Gn_3:5, Gn_3:7, “seus
OLHOS [como aqui] foram abertos” dissimulando a deificação da
natureza, do eu e do homem. Daí surgiram idealismo, materialismo,
deísmo, panteísmo e ateísmo. O anticristo será a culminação. A
pretensão do papado ao duplo poder, tanto o secular como o espiritual, é
um exemplo e tipo da besta dupla, a que sai do mar, e a que sai da terra,
ou seja do abismo. O anticristo será, o clímax, a forma final. Primasius
de Andrumetum, do século seis, diz, “Pretende ser um cordeiro para
poder atacar o Cordeiro, o corpo de Cristo.”
12. autoridade — Gr., “autoridade.”
na sua presença — servindo-a, e apoiando-a. “A não existência da
besta abrange todo o período germânico cristão. A cura da ferida, e o
retorno da besta, representa-se (quanto à sua manifestação anticristã
final, embora inclua também, enquanto isso, sua cura e seu retorno sob o
papado, o paganismo batizado) naquele princípio que, desde 1789, se
vem manifestando em irrupções bestiais.” [Auberlen].
habitantes — Os mundanos. A Igreja torna-se meretriz: o poder
político mundial, a besta anticristã; a sabedoria e a civilização do
mundo, o falso profeta. Os três ofícios de Cristo são assim pervertidos: a
primeira besta é o reinado falso; a meretriz, o sacerdócio falso; a
segunda besta, o falso profeta. A besta é o poder corporal, o falso
profeta o intelectual, a meretriz o espiritual do anticristianismo.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 163
[Auberlen]. A Igreja do Antigo Testamento estava sob o poder da besta,
o império mundial pagão; a da Idade Média sob o poder da meretriz; em
tempos modernos o falso profeta prepondera. Mas nos últimos tempos
todos estes poderes antidivinos que se sucederam uns aos outros,
cooperarão, e uns e outros alcançarão o poder mais terrível e intenso de
sua natureza: o falso profeta fará com que os homens adorem à besta, e
a besta leva a meretriz. Estas três formas de apostasia são redutíveis a
duas, a Igreja apóstata e o mundo apóstata, o pseudocristianismo e o
anticristianismo, a meretriz e a besta; pois o falso profeta é também uma
besta; e as duas bestas, como diferentes manifestações do mesmo
princípio bestial, ficam distintamente da meretriz, e no fim são julgados
juntos, enquanto que sobre a meretriz cai um juízo separado. [Auberlen].
ferida mortal —gr., “ferida de morte,” ou mortal.
13. fogo do céu faz descer — Este é o mesmo milagre que
operaram as duas testemunhas, e que fazia tempo Elias operou; isto é
imitado pela besta do abismo, ou seja, o falso profeta. Não meramente
embustes, mas sim milagres de gênero demoníaco, e com a ajuda de
demônios, como aqueles dos magos egípcios, serão operados, os mais
capazes para enganar: feito segundo a operação (gr., energia) de Satanás.
14. engana os que habitam na terra (RC) — os de mente carnal,
mas não os escolhidos. Não basta um milagre para merecer a fé numa
revelação professada, a menos que tal revelação esteja em harmonia com
a vontade de Deus já revelada.
por causa dos sinais — Gr., “por causa (em consequência) dos
sinais …”
à besta, àquela que — a primeira besta (Ap_13:3). “a que tem …”
segundo A, C, e a Vulgata; B e Andréas dizem “tinha.” A, B, C, dizem:
“tem”, personificando a besta simbólica, o anticristo.
15. fôlego à imagem — Nabucodonosor levantou em Dura uma
imagem de ouro que adorassem, provavelmente de si mesmo; porque seu
sonho tinha sido interpretado: “Tu és a cabeça de ouro”; os três hebreus
que se negaram a adorar à imagem foram lançados no forno aceso. Tudo
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 164
isto tipifica a última apostasia. Plínio, em sua carta a Trajano, declara
que consignou o castigo àqueles cristãos que não quiseram adorar a
imagem do imperador com incenso e vinho. Assim Juliano, o apóstata,
pôs sua própria imagem com os ídolos dos deuses pagãos no Fórum, de
modo que os cristãos ao lhe fazer reverência parecessem prestar culto
aos ídolos. Assim a imagem de Carlos Magno foi levantada para a
homenagem; e o papa adorou o novo imperador (Dupin, vol. 6, p. 126).
Napoleão, sucessor do Carlos Magno, propôs-se, depois de rebaixar o
Papa, removendo-o a Fontainbleau, fazer logo “dele um ídolo”
(Memorial do Sainte Helene); guardando perto de si o Papa, teria, com a
influência dele, dirigido tanto o mundo religioso como o político. A
dinastia napoleônica revivida pode ser que, em alguma pessoa
representativa, realize o projeto, chegando a ser a besta auxiliada pelo
falso profeta (talvez algum suplantador abertamente ateu do papado, sob
uma máscara espiritual, depois que a meretriz, ou igreja apóstata, que é
distinta da segunda besta, tenha sido despida e julgada pela besta,
Ap_17:16); pode ser que então faça levantar uma imagem em sua honra
como prova de fidelidade secular e espiritual.
falasse — “A falsa doutrina dará alguma aparência espiritual,
filosófica à apoteose insensata da criatura personificada pelo anticristo.”
[Auberlen]. Jerônimo, sobre Daniel 7, diz que o anticristo “será um da
raça humana no qual o todo de Satanás habitará corporalmente.” As
imagens falantes de Roma e os quadros cintilantes da virgem Maria não
são senão penhor dos futuros milagres demoníacos do falso profeta, ao
fazer falar a imagem da besta (o anticristo).
16. certa marca — como a que os amos estampavam em seus
escravos, e os monarcas em seus súditos. Os soldados voluntariamente
tatuavam nos braços as marcas do general que os mandava. Os devotos
de ídolos se marcavam com a cifra ou símbolo do ídolo. Assim Antíoco
Epifânio imprimiu aos judeus a figura da folha de hera, símbolo de Baco
(2Mac_6:7; 3Mac_2:29). Contraste o selo e nome de Deus na fronte de
Seus servos, Ap_7:3; Ap_14:1; Ap_22:4; e Gl_6:17 : “Levo em meu
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 165
corpo as marcas do Senhor Jesus,” quer dizer, sou seu soldado e seu
escravo. A marca na mão direita e na fronte expressa a prostração dos
poderes físicos e intelectuais à dominação da besta. “Na fronte por via de
profissão; na mão com relação à obra e serviço.” [Agostinho].
17. E (AV) — Assim A, B, e Vulgata; mas C, Irineu Cóptica e
Siríaca omitem a conjunção.
a marca, o nome — “a marca da besta” pode ser, como no
selamento dos santos na frente, não uma marca visível, mas sim uma
simbólica de fidelidade. Assim o sinal da cruz do papismo. A interdita
do papa com frequência excluiu os excomungados das relações sociais e
comerciais. Sob o final anticristo isto se fará em sua forma mais violenta.
o número do seu nome — indica que o nome tem algum sentido
numérico.
18. sabedoria — A armadura contra a segunda besta, como a
perseverança e a fé contra a primeira. A sabedoria espiritual é preciso
para resolver o mistério da iniquidade, para que não ser enganado por
ele.
calcule … porque — O “porque” indica a possibilidade de calcular
ou contar o número da besta.
número de homem — quer dizer, conta-se como geralmente
contam os homens. Assim a frase é usada em Ap_21:17. O número é
número de homem, não de Deus; exaltar-se-á sobre o poder da divindade,
como o HOMEM do pecado. [Aquinas]. Embora seja uma imitação do
nome divino, não é mais que humano.
seiscentos e sessenta e seis — A e a Vulgata escrevem os números
completos no grego, mas B põe somente as três letras, signos numéricos:
Ch, X, St. C lê 616, mas Irineu o refuta e defende o 666. Irineu discípulo
do Policarpo, discípulo de João, explica que este número é o valor das
letras gregas na palavra Lateinos (Latino). L significa 30; A, 1; T, 300;
E, 5; I, 10; N, 50; Ou, 70; S, 200; total, 666. O latim é peculiarmente a
linguagem da Igreja de Roma em todos os seus atos oficiais; a unidade
forçada de idioma no ritual sendo a falsificação da verdadeira unidade,
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 166
que há de realizar-se só na vinda de Cristo, quando toda a terra falará
“uma língua” (Sf_3:9). O último anticristo pode ser que tenha uma
relação íntima com Roma, e assim o nome Lateinos (666) seja aplicado a
ele. As letras hebraicas de Balaão somam 666 [Bunsen]; tipo de profeta
falso, cuja característica, como a de Balaão, será um alto conhecimento
espiritual pervertido para fins satânicos. O número seis é número
mundano; em 666 ocorre em unidades, dezenas, e centenas. Aquele que
lhe segue é sete o número sagrado, mas está separado dele por um
abismo infranqueável. É o número do mundo que está entregue a juízo;
portanto, há uma pausa entre o sexto e sétimo selos, e entre a sexta e
sétima trombetas. Os juízos sobre o mundo se completam em seis; pelo
cumprimento de sete, os reinos do mundo chegam a ser de Cristo. Como
doze é o número da Igreja, assim seis, a metade, simboliza o império
mundial, poder do mundo, quebrantado. A ascensão de seis a dezenas e
centenas indica que a besta, não obstante sua progressão a cifras
superiores, não pode engrandecer-se além da maturidade para o juízo.
Assim o 666, o poder do mundo julgado, está em contraste com os
144.000 selados e transfigurados (o número da Igreja quadrado e
multiplicado por mil, o número que simboliza o mundo dirigido por
Deus: dez, o número do mundo elevado à sua terceira potência, o
número de Deus. [Auberlen]. A marca e o nome são um e o mesmo. As
primeiras duas consoantes são as mesmas de Cristo (gr., Christos, no
grego) e de marca (gr., charagma), e formaram o monograma imperial
da Roma cristã. O anticristo, que se finge Cristo, adota um símbolo
similar, mas não concordante com o monograma de Cristo (Ch, X, St.);
enquanto que as consoantes de “Cristo” são Ch, R, St. A Roma Papal de
modo similar substituiu o estandarte das chaves pelo da cruz. Assim na
cunhagem papal (a imagem de poder, Mt_22:20). As primeiras duas
letras de “Cristo,” Ch, R, representam 700 o número perfeito. As Ch, X
St., representam um número imperfeito, uma tríplice apostasia da
perfeição setenária. [Wordsworth].
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 167
Apocalipse 14

Vv. 1-20. O Cordeiro visto em Sião com os 144.000. Seu cântico. O


evangelho proclamado antes do fim por um anjo. A queda de Babilônia
anunciada por outro. A condenação dos que adoraram à besta, por um
terceiro. A bem-aventurança dos mortos no Senhor. A ceifa. A vindima.
Em contraste com a besta, o falso profeta, e a Igreja apóstata
(Apocalipse 13), e introdutórios ao anúncio de juízos que estavam para
descer sobre eles e sobre o mundo (Ap_14:8-11, em antecipação de
Ap_18:2-6), estão aqui os redimidos, “a divina semente da humanidade,
os frutos positivos da história do mundo e da Igreja.” [Auberlen]. Os
Caps. 14-16. descrevem os preparativos para o juízo messiânico. Como o
Cap. 14 começa com os 144.000 de Israel (Comp. Ap_7:4-8, já não
expostos às provas como então, mas agora triunfantes), assim o Cap. 15
começa com aqueles que dentre os gentios venceram (comp. Ap_15:1-5
com Ap_7:9-17); as duas classes de escolhidos formam juntos a
companhia inteira dos santos transfigurados que reinarão com Cristo.
1. Cordeiro … sobre ... Sião — tendo deixado sua posição “no
meio do trono,” e ocupado seu posto no monte Sião.
de seu Pai — A, B, C, dizem “o nome dele e o nome de seu Pai.”
na fronte — o Gr., “sobre suas frontes.” O nome de Deus e de
Cristo aqui corresponde ao “selo sobre suas frontes” em Ap_7:3). Como
os 144.000 são “as primícias” (Ap_14:4), assim “a ceifa” (Ap_14:15) é a
assembleia geral dos santos gentios que hão de ser trasladados por Cristo
como seu primeiro ato ao assumir Seu reino, anterior a Seu juízo
(Ap_16:17-21, as sete últimas taças) sobre o mundo anticristão, juízo em
que participarão os Seus santos. Como Noé e Ló foram tirados
oportunamente do juízo, mas expostos à prova no último momento [De
Burgh], assim os que reinarão com Cristo, primeiro sofrerão com Ele,
sendo libertados dos juízos, mas não das provas. “Os santos do
Altíssimo” significa os judeus: porque os verdadeiros israelitas não
podem participar da idolatria da besta, o mesmo que os cristãos
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 168
verdadeiros. A comum aflição unificará àqueles e a estes em oposição ao
culto à besta. Assim se prepara o caminho para a conversão de Israel.
Este último e terrível recreio do poder do povo santo, levá-los-á, sob o
Espírito, a buscar o Messias, e a clamar ao Ele Se aproximar, “Bendito o
que vem em nome do Senhor.”
2. voz de muitas águas — como é a voz dEle mesmo, tal é a voz de
Seu povo.
a voz que ouvi era como de harpistas quando tangem a sua
harpa — A, B, C, e Origens dizem: “a voz que ouvi era como de
tocadores …”
3. Entoavam — Gr., “cantam.”
novo cântico — (Ap_5:9-10). Assim B, a Siríaca, a Cóptica,
Origens, Andréas; mas A, C, e a Vulgata dizem: “como (se fosse) um
cântico novo:” porque é na verdade tão antigo como o eterno propósito
de Deus. O cântico é de vitória depois do conflito com o dragão, a besta
e o falso profeta: nunca cantado antes, pois jamais se levou a cabo antes
semelhante conflito; portanto novo: até agora o reino de Cristo estava
usurpado; cantam o novo cântico em antecipação à assunção por Ele com
os santos de Seu reino comprado com Seu sangue.
quatro seres viventes — gr., “quatro seres animados,” ou seres
viventes. Os tocadores e cantores incluem evidentemente os 144.000:
assim comprova o paralelo (Ap_15:2-3), onde se atribui o mesmo ato a
geral companhia dos santos, a ceifa (Ap_14:15) de todas as nações. Não
como Alford: “os tocadores e o cântico estão no céu, mas os 144.000 na
terra.”
comprados — Nem mesmo os anjos podem aprender aquele
cântico, porque eles não sabem experimentalmente o que é “ter saído da
grande tribulação, e embranquecido suas vestes no sangue do Cordeiro”
(Ap_7:14).
4. virgens (RC) — Espiritualmente (Mt_25:1); em contraste com a
Igreja apóstata, Babilônia (Ap_14:8), espiritualmente uma “meretriz”
(Ap_17:1-5; Is_1:21 contraste: 2Co_11:2; Ef_5:25-27). O fato de que
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 169
não foram contaminados com mulheres significa que não foram
desencaminhados da fidelidade cristã pelos tentadores, que
conjuntamente constituem a meretriz.
os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai (RC) — na
glória, estando especialmente perto de Sua pessoa; a recompensa própria
à sua fidelidade em segui-Lo tão perfeitamente na terra.
primícias — Não meramente no sentido em que todos os crentes o
são, mas sim que os 144.000 escolhidos de Israel são as primícias; a
Igreja escolhida judaica e gentílica é a ceifa; em outro sentido mais, o
todo da Igreja transfigurada e trasladada que reina com Cristo em Sua
vinda, são as primícias, e a convocação geral posterior de Israel e das
nações, que termina no juízo final, é a ceifa plena e final.
5. engano — Assim Andréas num lugar; mas A, B, C, Orígenes e
Andréas em outro lugar, dizem: “mentira.” Comp. Sl_32:2; Is_53:9;
Jo_1:47.
porque — Assim B, a Siríaca, a Cóptica, Origens, Andréas:
omitida por A e C.
irrepreensíveis — gr., “sem culpa,” irreprocháveis: quanto à
sinceridade de sua fidelidade ao Senhor. Não absolutamente, e em si
mesmos sem culpa; mas tidos por justos com base na justiça do Senhor,
em quem somente haviam confiado, e a quem fielmente tinham servido
por Seu Espírito neles. Parece fazer-se alusão ao Sl_15:1-2. Comp.
Ap_14:1: “estava sobre o monte Sião.”
diante do trono de Deus — A, B, C, a Siríaca, a Cóptica, Orígenes
e Andréas omitem estas palavras. O manuscrito mais antigo da Vulgata
as tem.
6. Aqui começa a porção relativa ao mundo gentílico, como a
primeira parte tem que ver com Israel. Antes do fim o evangelho deve ser
pregado como um TESTEMUNHO a todas as nações: não que todas as
nações devam ser convertidas, antes todas as nações terão a oportunidade
de decidir-se a favor ou contra Cristo. Os assim evangelizados são “os
que habitam” (assim dizem A, a Cóptica e a Siríaca. Mas B, C,
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 170
Orígenes, a Vulgata, Cipriano, dizem “estão sentados,” Mt_4:16;
Lc_1:79, que têm seu domicílio estabelecido) na terra,” sendo terrenos;
este é o último prazo de graça que lhes é dado no caso de até se
arrependerem, antes que o “juízo” (Ap_14:7) caia, do contrário, ficarão
sem desculpa, como o mundo que resistiu à pregação de Noé durante os
120 anos “enquanto a longanimidade de Deus esperava.” Assim também
os profetas deram ao povo uma última oportunidade para arrepender-se
antes da destruição babilônica de Jerusalém, e nosso Senhor e Seus
apóstolos antes da destruição romana da cidade Santa.” [Auberlen].
proclamar aos — a preposição grega, é epi, “sobre,” “com relação
a” (assim na e C, Mc_9:12; Hb_7:13). Deste modo “sobre toda nação”
(A, B, C, Orígenes, Andréas, Cipriano, e Primasius). Isto denota talvez
que o evangelho, embora difundido sobre o globo, não virá para salvar
senão os escolhidos. O mundo não há de ser evangelizado senão até
quando Cristo vier; enquanto isso, é o propósito de Deus “tirar dentre os
gentios um povo para o Seu nome,” para que sejam testemunhas da
operação efetiva de Seu Espírito durante o desenvolvimento contrário do
“mistério da iniquidade.”
evangelho eterno — o evangelho que anuncia as boas novas do
reino eterno de Cristo, que está para seguir imediatamente depois do
“juízo” sobre o anticristo, anunciado como iminente em Ap_14:7. Como
o anjo anterior, que “voava pelo meio do céu” (Ap_8:13) anunciou o
“ai,” assim este “voando pelo meio do céu” proclamou a alegria. Os três
anjos que fazem esta última proclamação do evangelho, da queda de
Babilônia (Ap_14:8), da meretriz, e do juízo contra os que adoravam a
besta (Ap_14:9-11), a voz do céu a respeito dos mortos bem-aventurados
(Ap_14:13), a visão do Filho do homem na nuvem (Ap_14:14), a ceifa
(Ap_14:15), e a vindima (Ap_14:18), formam o resumo volumoso,
amplificado no resto do livro.
7. Temei a Deus — O prenúncio, para que aceitem o amor de Deus
manifestado no evangelho. O arrependimento acompanha a fé.
dai-lhe glória — A Deus, e não à besta (Ap_13:4; Jr_13:16).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 171
a hora do seu juízo — “A hora” denota tempo determinado.
“Juízo,” não o geral, mas sim aquele que vem sobre Babilônia, a besta e
seus adoradores (Ap_14:8-12).
adorai aquele que fez o céu — não ao anticristo, aquele que “se
assenta no templo de Deus, fazendo-se parecer Deus” (Veja-se
Ap_14:15).
mar … fontes das águas — perceptível também em Ap_8:8, 10.
8. outro anjo — Assim a Vulgata; mas A, B, a Siríaca e Andréas
acrescentam “segundo;” “Outro segundo anjo.”
Caiu — Gr., “Caiu;” Antecipação de Ap_18:2. B, C, e a Cóptica
omitem o segundo “caiu.”
Babilônia — Aqui mencionada pela primeira vez; idêntica à
meretriz, a Igreja apóstata; distinta da besta, e julgada separadamente.
a grande — A, B, C, a Vulgata, a Siríaca e a Cóptica omitem
“cidade:” traduza-se: “Caiu Babilônia, a grande.” O cumprimento
ulterior e completo de Is_21:9.
porque (AV) — Assim Andréas, mas A, C, a Vulgata e a Siríaca
dizem: “a que.” B e a Cóptica omitem. Embora leiamos o relativo,
devemos entendê-lo como razão de sua queda.
vinho da fúria da sua prostituição — o vinho da ira de Deus, em
consequência de sua fornicação. Como ela tinha embebedado as nações
com o vinho de sua fornicação, assim fará a ela beber do vinho da ira de
Deus.
9. outro anjo, o terceiro — A, B, C, e Andréas dizem: “outro anjo,
um terceiro.” Comp. com Ap_13:15, 16.
10. também esse beberá — como justa e inevitável retribuição.
cálice da sua ira — (Sl_75:8.)
sem mistura — enquanto que tão usualmente se misturava o vinho
com água o fato de lançar vinho significava mesclá-lo; este vinho da ira
de Deus é “sem mistura,” nem uma gota de água há para esfriar seu
calor. Nenhuma graça nem esperança o acompanham. Esta terrível
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 172
ameaça bem pode nos elevar acima das ameaças dos homens. Esta taça
sem mistura já está preparada para Satanás e para os seguidores da besta.
sua ira — Gr., orges, “ira habitual.” O vocábulo anterior (“vinho
da ira”; gr., thumou) é indignação fervendo, de um radical (gr., thuoo)
que significa ferver; esta é a ebulição momentânea da ira; aquela a
permanente [Ammenius], acompanhada com o propósito da vingança
(Orígenes sobre o Sl_2:5).
atormentado … diante dos santos anjos — (Sl_49:14; Sl_58:10;
Sl_139:21; Is_66:24). Os inimigos de Deus os santos os consideram
como seus inimigos, e passado o dia da prova, sua mente será tanto uma
com a de Deus, que se alegrarão ao ver a vindicação judicial da justiça
de Deus no castigo dos pecadores.
11. pelos séculos dos séculos — Gr., “até os séculos dos séculos.”
não têm descanso algum, nem de dia nem de noite — Note o
contraste de sentido em que se diz o mesmo dos quatro seres viventes
(Ap_4:8). Os do Senhor têm repouso do pecado e da tristeza, provas e
tentações (Ap_14:13); mas os perdidos não descansarão do pecado e de
Satanás, do terror, do tortura nem do remorso.
12. Aqui, etc. — Resumido de Ap_13:10; veja-se Nota em
Ap_13:10. Na fogosa prova da perseguição que espera a todos os que
não querem adorar a besta, será provada seriamente a fé e a paciência
dos que seguem a Deus e a Jesus.
perseverança — Gr., hupomene, paciência perseverante. O
segundo “aqui” é omitido pela B, C, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica e
Primasius. Traduza-se: “Aqui está a paciência dos santos, os que …”
a fé em Jesus — a fé que tem a Jesus como seu objeto.
13. Consolo para animar aos que são perseguidos sob a besta.
Escreve — para constância permanente.
Bem-aventurados — no descanso de suas fadigas, e no caso dos
santos aqui aludidos, perseguidos pela besta, descanso de suas
perseguições, etc. A plena bem-aventurança é agora “desde agora,” quer
dizer, A PARTIR DE AGORA, quando o juízo sobre a besta e o
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 173
recolhimento dos escolhidos são iminentes. O tempo desejado tão
ardentemente pelos mártires está já quase por chegar; o número pleno
dos conservos deles está prestes a cumprir-se; já não devem repousar (o
mesmo grego como aqui, anapausis) nem mesmo um pouquinho; seu
descanso eterno, sua cessação das fadigas (2Ts_1:7, grego anesis,
quietude ou cessação dos trabalhos duros. Hb_4:9-10, sabatismo de
descanso; e o grego, katapausis) já se aproximou. São felizes porque
logo hão de apresentar-se às bodas do Cordeiro (Ap_19:9), porque têm
parte na primeira ressurreição (Ap_20:6) e têm parte na árvore da vida
(Ap_22:14). Em Ap_14:14-16, segue a explicação de por que são
chamados “bem-aventurados” agora especialmente, ou seja, porque o
Filho do homem sobre a nuvem já vem, para juntá-los como a ceifa
amadurecida para pelos Seus ceifeiros.
Sim, diz o Espírito — As palavras de Deus o Pai (a “voz do céu”)
são repetidas e confirmadas pelo Espírito (falando no Verbo, Ap_ 2:7;
Ap_ 22:17; e nos santos, 2Co_5:5; 1Pe_4:14). Todas “as promessas de
Deus em Cristo são Sim” (2Co_1:20).
dizendo — A, B, C, a Vulgata, a Siríaca e a Cóptica, omitem “me”
[RC: me dizia].
pois as suas obras — Descansam de seus trabalhos, porque o
tempo dos trabalhos já passou; entram em feliz descanso, por causa de
sua fé evidenciada por suas obras, as quais portanto “seguem COM
(assim o grego) eles.” Especificam-se suas obras, porque devia levá-las
em conta para o juízo que vinha, quando cada um será “julgado segundo
as suas obras.” Suas obras não precedem o crente, nem tampouco vão a
seu lado, mas sim seguem ao mesmo tempo quando vão com ele como
prova de que é de Cristo.
14. coroa — Gr., stephanos, grinalda de vitória; não a diadema de
rei. A vitória se descreve em detalhe em Ap_ 19:11-21.
sentado — “um sentado,” gr., cathemenon homoion. é a leitura de
A, B, a Vulgata, e a Cóptica.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 174
15. Toma a tua foice — Gr., “Envia.” O anjo não ordena ao “Filho
do homem” (Ap_ 14:14), mas sim é somente o mensageiro que anuncia
ao Filho a vontade de Deus o Pai, em cujas mãos estão guardados os
tempos e as estações. A foice alude a Mc_4:29, onde também é dito logo
se lhe mete a foice. O Filho envia a Seu anjo, que leva a foice para segar
os justos quando estiverem bem amadurecidos.
a seara — a colheita. Com a ceifa da colheita os justos escolhidos
são recolhidos dentre o mundo; com a vindima os ofensores anticristãos
são tirados da terra, o cenário do futuro reino de Cristo. O próprio Filho
do homem, com uma coroa de ouro, apresenta-Se no recolhimento dos
santos; um verdadeiro anjo na vindima (Ap_14:18-20).
amadureceu — para a glória.
17. do santuário … céu — (Ap_11:19, )
18. do altar — onde foram oferecidas as orações dos santos,
acompanhadas pelo incenso, que são respondidas com o ardente juízo de
Deus que cai sobre os inimigos da Igreja, tomado o fogo do altar e
lançado sobre a terra.
amadurecidas — Gr., “vindas a seu acme (cúmulo);”
amadurecidas para o juízo.
19. “A vinha” é o sujeito do juízo porque suas uvas não são o que
Deus esperaria, dado o cuidadoso cultivo, mas sim “uvas selvagens”
(Isaías 5). O mundo apóstata do cristianismo, não o mundo do
paganismo que não ouviu que Cristo é o objeto do juízo aqui. Comp. o
emblema, Ap_19:15; Is_63:2-3; Jl_3:13.
20. fora da cidade — Jerusalém. O cenário do derramamento do
sangue de Cristo e de Seu povo será o cenário da vingança de Deus sobre
o inimigo anticristão. Veja-se o “cavaleiro,” Ap_9:16, 17.
sangue — correspondente ao sangue vermelho. A matança dos
apóstatas é do que se trata aqui, não o castigo eterno.
até aos freios dos cavalos — dos vingadores “exércitos do céu.”
numa extensão de mil e seiscentos estádios — Lit., “desde (a
distância de) 1600 estádios.” [W. Kelly]. 1600 é número quadrado; 4 por
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 175
4 por 100. Os quatro cantos da Terra Santa, ou do mundo (a consumação
e a universalidade da destruição mundial indicadas aqui). Não
corresponde precisamente ao longo da Palestina dado por Jerônimo, 160
milhas romanas. Bengel opina que se trata do vale de Cedrom, entre
Jerusalém e o monte das Oliveiras, que a torrente do vale seria colorido
com sangre até os 1600 estados. Isto parece que concorda com a profecia
de Joel a respeito de que o vale de Josafá há de ser o cenário da derrota
dos inimigos anticristãos.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 176
Apocalipse 15

Vv. 1-8. As últimas sete taças de pragas. Cântico dos vitoriosos


sobre a besta.
1. pragas (RC) — Gr., “tinham sete pragas (que são) as últimas.”
se consumou — “Se cumpriu:” o pretérito profético pelo futuro: o
futuro é para Deus como se estivesse passado, tão segura de realização é
Sua palavra. Este versículo é resumo da visão que segue; os anjos não
recebem as taças com efeito senão até Ap_15:7; mas aqui, em Ap_15:1,
por antecipação diz-se que as têm. Depois destas, não há mais pragas até
que o Senhor venha em juízo. A destruição de Babilônia (Ap_18:2) é a
última; logo, no Ap_19:11-16, Ele aparece.
2. mar de vidro — Corresponde ao mar de bronze ou grande bacia
de bronze diante do propiciatório no templo de Jerusalém, para a
purificação dos sacerdotes; tipifica o batismo de água e do Espírito de
todos os que são feitos reis e sacerdotes para Deus.
mesclado de fogo — correspondente ao batismo de fogo na terra,
quer dizer, as provas por fogo, assim como do Espírito Santo, que o povo
de Cristo recebe para sua purificação, de igual maneira que o ouro no
forno é purificado de sua escória.
os vencedores da — Gr., “os vencedores saídos de (o conflito com)
a besta.”
do número do seu nome — B, C, a Vulgata, a Siríaca e a Cóptica
omitem “do seu sinal.” A marca é, com efeito, o número do seu nome,
que os fiéis se negam a receber, e assim ficam vitoriosos sobre o mesmo.
que se achavam em pé no mar de vidro — Alford e De Burgh
explicam “sobre (a ribeira de) o mar;” ao mar. Assim se usa a preposição
epi com o acusativo em Ap_3:20, “Estou à porta.” Tem um sentido
pleno; o verbo estar significa repouso, e a preposição grega epi com o
acusativo moção na direção de. O sentido é, pois, Tendo vindo ATÉ o
mar, estão agora em pé LÁ. Em Mt_14:26, onde Cristo caminha sobre o
mar, os manuscritos mais antigos têm o caso genitivo, não o acusativo
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 177
como aqui. Faz-se alusão aos israelitas quando estiveram à margem do
mar Vermelho, tendo-o cruzado vitoriosamente, depois que o Senhor
destruiu o inimigo egípcio (tipo do anticristo) no mar. Moisés e o cântico
triunfal dos israelitas (Êx_15:1) têm seu antítipo no cântico de Moisés e
do Cordeiro” (Ap_15:3). Contudo, nossa versão é consequente com o
bom grego, e o sentido, pois, seria: Como o mar tipifica o estado de
perturbação do qual ascende a besta, estado que já não há de existir no
bendito mundo vindouro (Ap_21:1), assim os santos vitoriosos estão em
pé sobre ele, tendo-o debaixo dos pés (como a mulher tinha a lua,
Ap_12:1); mas já não é traiçoeiro para deixar que os pés afundem, mas
está sólido como vidro, como esteve sob os pés de Cristo, em cujo
triunfo e poder participam os santos agora. A firmeza de pé no meio da
aparente instabilidade, representa-se assim. Podem estar em pé, não
meramente como Israel vitorioso no mar Vermelho, e como João sobre a
areia do mar, mas sim sobre o próprio mar, arrojando mais brilho seus
conflitos passados sobre seu presente triunfo. Sua felicidade aumenta
olhando retrospectivamente os perigos já passados. Isto, pois,
corresponde a Ap_7:14, 15.
harpas de Deus — nas mãos destas virgens celestiais, sobrepujam
imensamente os pandeiros de Maria e suas donzelas.
3. cântico de Moisés … e o cântico do Cordeiro — O cântico
neotestamentário do Cordeiro (isto é, aquele que o Cordeiro guiará,
como “Capitão de nossa salvação”, assim como Moisés guiou os
israelitas, o cântico que os que vencerem por Ele (Rm_8:37) reunirá
(Ap_12:11), é o antítipo daquele de Moisés e os israelitas no mar
Vermelho (Êx_15:1-21). A Igreja do Antigo e a do Novo Testamento,
são essencialmente uma em seus conflitos e em seus triunfos. As duas
parecem unidas nesta frase, como o são-nos vinte e quatro anciãos. Do
mesmo modo, Is_12:1-6 prediz o cântico dos redimidos (Israel diante de
todos), depois do segundo êxodo e libertação antitípicos no mar Egípcio.
A passagem pelo mar Vermelho sob a coluna de nuvem, foi o batismo de
Israel, ao que corresponde o batismo de conflitos do crente. Os
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 178
escolhidos depois de seus conflitos (especialmente os causados pela
besta), serão arrebatados antes que as taças de ira sejam derramadas
sobre a besta e sobre seu reino. Assim Noé e sua família foram tirados do
mundo condenado, antes do dilúvio; Ló foi levado de Sodoma antes da
destruição dela; os cristãos escaparam por uma interposição especial da
Providência até Pela antes da destruição de Jerusalém. Como a coluna de
nuvem e de fogo se interpôs entre Israel e seus inimigos egípcios, de
modo que Israel chegou a salvo até a margem oposta, antes que os
egípcios fossem destruídos; assim o Senhor, vindo com nuvens e em
chamas de fogo, recolherá primeiro a Seus escolhidos “nas nuvens ao
encontro dele no ar,” e logo com o fogo destruirá o inimigo. O Cordeiro
guia o cântico em louvor ao Pai no meio da congregação. Este é o
“cântico novo” mencionado em Ap_14:3. Os vitoriosos cantores serão os
144.000 de Israel, “as primícias,” e a “ceifa” geral dos gentios.
servo de Deus — (Êx_14:31; Nm_12:7; Js_22:5). O Cordeiro é
mais: Ele é o FILHO.
Grandes e admiráveis são as tuas obras — Parte do último
cântico de Moisés (Ap_32:3-4). A vindicação da justiça de Deus de
modo que seja glorificado, é a grande finalidade dos procedimentos de
Deus. Portanto, Seus servos repetidas vezes tratam isto em seus louvores
(Ap_16:7; Ap_19:2; Pv_16:4; Jr_10:10; Dn_4:37). Especialmente no
juízo (Sl_50:1-6; Sl_145:17).
das nações — Assim leem A, B, a Cóptica e Cipriano. C lê: “dos
séculos,” o mesmo a Vulgata e a Siríaca. O ponto debatido, a
controvérsia do Senhor com a terra é a respeito de se Ele, ou o favorito
de Satanás, a besta, é “o Rei das nações.” Aqui às vésperas dos juízos
que caem sobre o reino da besta, os santos na glória o saúdam como “o
Rei das nações” (Ez_21:27).
4. Quem não temerá — Gr., “Quem há que não te há de temer?”
Veja-se o cântico de Moisés, Êx_15:14-16, sobre o temor que os juízos
de Deus inspiram no inimigo. A, B, C, Vulgata e Cipriano omitem “te”:
“quem não temerá?”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 179
todas as nações virão — Alusão ao Sl_22:27-31; comp. Is_66:23;
Jr_16:19. A conversão de todas as nações será, pois, quando Cristo vier,
e não antes; a primeira causa movedora serão os juízos manifestos que
preparam os corações para receber a misericórdia de Cristo. Ele efetuará
por Sua presença o que nós em vão procuramos efetuar em Sua ausência.
A atual pregação do evangelho é para reunir o remanescente eleito;
enquanto isso “o mistério da iniquidade” opera, e virá a sua crise, logo
cairá juízo sobre os apóstatas na ceifa, que põe fim a este século
(Mt_13:39-40), quando o joio será limpo da terra, a qual daí em diante
será o reino do Messias. A confederação dos apóstatas contra Cristo,
derrotada pelos terríveis juízos, converte-se nos próprios meios na
providência soberana de Deus para preparar as nações não unidas à liga
anticristã para que se submetam ao Senhor.
atos de justiça — Gr., “justiças.”
se fizeram manifestos — o pretérito profético pelo futuro imediato.
5. Deste modo Ap_11:19; Comp. Ap_16:17. O tabernáculo do
testemunho naturalmente aparece na vista quando está por expor-se a
fidelidade de Deus em vingar a Seu povo com os juízos. Precisamos dar
uma olhada dentro do Lugar Santo para poder “entender” a fonte secreta
e o objeto dos justos procedimentos de Deus.
eis que (RC) — Omitido pela, B, C, a Siríaca e Andréas. Apoiam-
no as versões Vulgata e Cóptica, mas nenhum manuscrito.
6. sete — Gr., “os sete anjos que tinham …” Assim dizem A e C,
mas B reza: “tendo.” Não que já o tivessem (Ap_15:7), mas por
antecipação são descritos segundo seu ofício.
linho — Assim o manuscrito B; mas A, C e a Vulgata dizem: “uma
pedra” (lithon, por linon). Sobre o princípio de que a leitura mais difícil é
a menos provável de ser uma interpolação, devemos ler: “uma pedra
pura e brilhante” (assim o grego); provavelmente o diamante. Compare-
se At_1:10; At_10:30.
cintos de ouro — Como o Senhor neste particular (Ap_1:13).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 180
7. um dos quatro animais — Gr., “seres viventes.” A apresentação
das taças aos anjos por um dos seres viventes expressa o ministério da
Igreja como o meio de manifestar aos anjos as glórias da redenção
(Ef_3:10).
taças — “tigelas:” uma xícara rasas e largas. Sua largura na parte
superior permitiria que se derramasse o conteúdo todo de uma vez, o que
denota a precipitação assoladora dos ais.
cheias da cólera — Quão doce é o contraste daquelas taças cheias
de perfumes, as orações dos santos!
8. O santuário se encheu — Is_6:4; Veja-se Êx_40:34; 2Cr_5:14,
quanto ao templo terrestre, do qual este é antítipo.
da glória de Deus … poder — Então plenamente manifestados.
ninguém podia penetrar — por causa da presença de Deus em Sua
manifesta majestade e poder durante a execução destes juízos.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 181
Apocalipse 16

Vv. 1-21. As sete taças e as pragas resultantes.


As trombetas sacudiram os reinos do mundo num processo muito
longo; as taças destroem com um desmoronamento rápido e repentino o
reino da besta em particular, a qual se investiu do reino mundial. Os
hebreus pensavam que as pragas egípcias foram infligidas
sucessivamente com um intervalo de só um mês em cada caso. [Bengel,
referindo-se a Seder Olam]. Como Moisés tomava as cinzas do comum
forno terreno, assim os anjos, como ministros sacerdotais do templo
celestial, tomaram o fogo santo nas taças sagradas do altar celestial para
lançá-las para baixo (Ap_8:5): O mesmo altar celestial que teria aceso o
doce perfume da oração que traria a bênção sobre a terra, por causa do
pecado do homem, acende o fogo que desce em maldição. Do mesmo
modo o rio Nilo, que usualmente era a fonte da fertilidade do Egito,
tornou-se rio de sangue e maldição pelo pecado do Egito.
1. uma grande voz — ou seja, de Deus. As sete taças (a expansão
detalhada da vindima, Ap_14:18-20), por chamá-las “últimas,” devem
pertencer ao período quando o poder da besta tiver terminado (porquanto
se faz referência em todas elas aos que adoram a besta como objeto dos
juízos), perto do fim ou da vinda do Filho do homem. As primeiras
quatro se distinguem das outras três, assim como no caso dos selos e das
trombetas. As primeiras quatro são mais gerais, afetando a terra, o mar,
os mananciais, e o sol, não meramente uma porção de corpos naturais,
como é o caso das trombetas, mas sim o todo deles; as três últimas são
mais particulares, e afetam o trono da besta, o Eufrates, e a grande
consumação. Alguns destes juízos se expõem em detalhe nos Caps. 17 a
20.
do santuário — Assim A, C, a Vulgata e Andréas; mas B e a
Siríaca omitem.
as sete taças — Assim A, B, C, Vulgata, e Andréas. Mas a Siríaca
e a Cóptica omitem “sete.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 182
pela — A preposição grega eis com o acusativo: “a,” ou “em.”
2. Saiu — Gr., “foi embora.”
derramou — Assim o anjo lançou fogo à terra antes da série de
trombetas (Ap_8:5).
pela — A, B, C, a Vulgata, a Siríaca dizem “em, ou a, a terra;” eis
com o acusativo.
aos homens … úlceras — Antítipo da sexta praga egípcia. “Má;”
veja-se Dt_28:27, 35. O mesmo substantivo grego na LXX como aqui. A
razão por que a sexta praga egípcia está primeiro aqui, é porque dirigiu-
se contra os magos egípcios Janes e Jambres, de modo que não pudessem
contradizer a Moisés; e assim aqui a praga é enviada contra os que no
culto à besta tinham praticado o sortilégio. Porquanto se submeteram à
marca da besta, devem sofrer a marca do Deus vingador. Comp. o
contraste de Ap_7:3; Ez_9:4, Ez_9:6.
malignas e perniciosas — aflitivas, molestas.
portadores da marca da besta — Portanto, esta primeira taça é
subsequente ao período do reinado da besta.
3. anjo (RC) — Assim B e Andréas; A, C, e a Vulgata dizem: “o
segundo derramou …”
no — gr., eis com o acusativo.
sangue — análoga a outra praga egípcia.
como de morto — putrefata.
alma vivente (RC) — Assim B e Andréas; mas A, C, e a Siríaca
dizem “toda alma de vida” (comp. Gn_1:30; Gn_7:21-22).
no mar — Assim B e Andréas; mas A, C, e a Siríaca dizem: “(a
respeito das) coisas no mar.”
4. (Êx_7:20).
anjo (RC) — Assim a Siríaca, a Cóptica e Andréas: A, B, C, e a
Vulgata o omitem; dizem: “E o terceiro derramou …”
5. anjo das águas — isto é, que preside sobre as águas.
ó Senhor — Omitidas pela, B, C, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica e
Andréas.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 183
e que eras — O Senhor já não é “aquele que há de vir,” porque veio
em vingança; portanto, não aparece aqui a frase acrescentada em
Ap_1:4, 8, Ap_4:8; omitido em Ap_11:17.
6. (Comp. Ap_16:18, fim; Gn_9:6; Is_49:26.) Uma antecipação de
Ap_18:20, 24; comp. com Ap_13:15.
porquanto — Omitido por B, C, e Andréas.
7. outro do altar (RC) — A, C, a Siríaca e a Cóptica dizem: “Ouvi
o altar (personificado) dizer …” Nele se apresentam as orações dos
santos: debaixo dele estão as almas dos mártires que clamam pela
vingança sobre os inimigos de Deus.
8. anjo (RC) — A, B, C, a Vulgata e a Siríaca o omitem; dizem: “E
o quarto derramou …”
sobre — não como em Ap_16:2, 3.
o sol — enquanto que pela quarta trombeta o sol se tornou escuro
(Ap_8:12) numa terça parte, pela quarta taça o poder abrasador do sol é
intensificado.
foi-lhe dado — isto é, ao sol.
os homens — quer dizer, os que tinham o sinal da besta (Ap_16:2).
9. nem se arrependeram … glória — (Ap_9:20). A aflição, se não
abrandar o pecador, endurece-o. Compare o melhor resultado sobre
outros (Ap_11:13; Ap_14:7; Ap_15:4).
10. anjo (RC) — Assim a Cóptica e Andréas; A, B, C, a Vulgata e
a Siríaca dizem: “E o quinto derramou …”
trono — Gr., “o trono da besta:” levantado em arrogante caricatura
do trono de Deus; o dragão deu seu trono à besta (Ap_13:2).
em trevas — paralelo da praga egípcia das trevas, sendo Faraó tipo
do anticristo (Ap_15:2, 3, Notas; comp. a quinta trombeta, Ap_9:2).
remordiam a língua por causa da dor — Gr., “da dor,” causado
pelas pragas anteriores, intensificado pela escuridão. Ou como o ranger
de dentes é um dos característicos do inferno, “a roedura de suas
línguas” deve-se à raiva de ver zombadas suas esperanças e o
desmoronamento de seu reino. Planejam a vingança, e são incapazes de
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 184
levá-la a cabo: resulta, pois, o frenesi. [Grocio]. Os que estão em
angústia mental e física, mordem os lábios e a língua.
11. úlceras — O que demonstra que cada nova praga vai
acompanhada da continuação dos efeitos das anteriores: há, pois, uma
acumulação de pragas, não uma mera sucessão das mesmas.
não se arrependeram — comp. Ap_16:9.
12. o sexto anjo (RC) — A, B, C, Vulgata e Siríaca omitem “anjo.”
reis do Oriente (RC) — Gr., “os reis que são da saída do sol.”
Referência ao Eufrates que deste modo ocorre na sexta trombeta. O
secamento do Eufrates deve entender-se figurativamente, parece-me,
como a própria Babilônia, senta em tal rio, sem dúvida assim se entende
(Ap_17:5). As águas do Eufrates (Is_8:7-8) são as da Babilônia
espiritual, ou seja, os poderes espiritual e temporal da Igreja apóstata (da
qual Roma é a representativa principal, mas não a exclusiva). O
secamento das águas de Babilônia expressa a mesma coisa que o ato dos
dez reis de despir, comer e queimar a meretriz. A frase “fosse preparado
o caminho” é a aplicada à vinda do Senhor (Is_40:3; Mt_3:3; Lc_1:76).
Ele há de vir do Oriente (Mt_24:27; Ez_43:2, “a glória do Deus de Israel
vinha de rumo ao oriente”: mas não apenas, pois seus eleitos santos
transfigurados de Israel e dos gentios O acompanharão, os que são “reis
e sacerdotes para Deus” (Ap_1:6). Como os dez reis anticristãos
acompanham a besta, assim os santos quais reis acompanham o Rei dos
reis até o último conflito decisivo.
De Burgh entende que se trata dos judeus, que também estavam
destinados a ser reino de sacerdotes para Deus na terra. Chegarão a ser,
sem dúvida, reis sacerdotes na carne nas nações na carne na vinda do
Senhor. Abraão, sendo do Oriente (Se Is_41:2, 8, 9 refere-se a ele, e não
a Ciro), que vence os reis caldeus, é um tipo da restauração vitoriosa de
Israel como reino sacerdotal. O êxodo de Israel depois das últimas
pragas egípcias tipifica a restauração de Israel depois que tenha sido
vencida a Babilônia espiritual, ou seja, a Igreja apóstata. A promoção de
Israel a reino sacerdotal depois da queda de Faraó, e à descida do Senhor
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 185
no Sinai para estabelecer a teocracia, tipifica o reino restaurado de Israel
na descida mais gloriosa do Senhor, quando o anticristo for totalmente
destruído. De modo que, além dos santos transfigurados, Israel em
ordem secundária pode ser o significado dos “reis do oriente,” que
acompanharão o “Rei dos reis”, de retorno “do caminho do oriente,” para
reinar sobre o antigo povo. Quanto ao secamento de novo das águas que
se opõem a que Seu povo assuma o reino, Is_10:26; Is_11:11, Is_11:15;
Zc_10:9-11. O nome Israel (Gn_32:28) significa príncipe de Deus. Veja-
se Mq_4:8 sobre o retorno do reino a Jerusalém. Durham, há 200 anos,
interpretou o secamento do Eufrates no sentido do esgotamento do poder
turco — que tinha dominado a Palestina até então, que assim preparava o
caminho para a restauração de Israel. Mas como Babilônia aplica-se à
Igreja apóstata, não ao maometismo, o secamento do Eufrates (em alusão
à marcha de Ciro pelo canal seco do Eufrates quando tomou a Babilônia
literal) deve corresponder ao esgotamento dos recursos da Igreja
apóstata, a corrupta Igreja romana e grega tendo sido até agora com suas
idolatrias e perseguições a maior barreira no caminho da restauração e
conversão de Israel. Os reis da terra, que são terrenos (Ap_16:14), estão
em contraste com os reis do oriente, que são celestiais.
13. o dragão — Satanás, quem dá seu poder e seu trono à besta
(Ap_13:2).
falso profeta — distinto da meretriz, a Igreja apóstata, da qual
Roma é a principal mas não única representativa (Ap_17:1-3,
Ap_17:16); e idêntico à segunda besta (Ap_13:11-15), como aparece se
se compara Ap_19:20 com Ap_13:13; consignado no fim ao lago de
fogo com a primeira besta; como foi também o dragão mais tarde
(Ap_20:10). O dragão, a besta, e o falso profeta, “o mistério da
iniquidade,” formam uma anti-trindade blasfema, a falsificação do
“mistério da piedade,” Deus manifestado em Cristo, testificado pelo
Espírito. O dragão faz o papel de Deus o Pai, atribuindo sua autoridade a
seu representante, a besta, como o Pai o faz com seu Filho. São
adorados, portanto, conjuntamente; veja-se o Pai e o Filho, Jo_5:23:
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 186
como a besta com seus dez chifres coroados com diademas (Ap_13:1),
assim Cristo tem sobre a cabeça muitas diademas. Enquanto que o falso
profeta, como o Espírito Santo, não fala de si mesmo, mas diz aos
homens que adorem a besta, e confirma o testemunho da besta com
milagres, como o Espírito Santo testemunha a divina missão de Cristo de
maneira similar.
espíritos imundos semelhantes a rãs — antítipo da praga de rãs
enviada sobre o Egito. A presença do “espírito imundo” na terra
(Palestina) é predita por Zc_13:2, em conexão com os profetas idólatras.
Começando pela incredulidade com relação à vinda de Cristo na carne,
acabarão os homens na mais grosseira idolatria da besta, a encarnação de
tudo o que se deifica e do que dos poderes mundanos de todas as idades
opõe-se a Deus; tendo rejeitado àquele que veio em nome do Pai,
adorarão a um que vem em seu próprio nome, embora seja na realidade o
representante do diabo; como coaxam as rãs de noite nos pântanos e
atoleiros, assim estes espíritos imundos nas trevas do erro ensinam
mentiras no lodo das baixas concupiscências. Falam da liberdade, não da
liberdade evangélica, mas sim da licença carnal. O fato de haver três,
como também sete, na descrição do estado último e pior da nação
judaica, insinua uma paródia dos dois números divinos, três da trindade,
e sete do Espírito Santo (Ap_1:4). Alguns observam que três rãs eram o
escudo original da França, país que foi o centro do ateísmo, do
socialismo, e do falso espiritualismo. A, B, dizem: “como se fossem
rãs,” em vez de “como rãs.” O espírito imundo da boca do dragão
simboliza a arrogante incredulidade que se opõe a Deus e a Cristo. O
Aquele que sai da boca da besta é o espírito do mundo, que na política
dos homens, quer seja a democracia anárquica ou o despotismo, coloca o
homem acima de Deus. Aquele que sai da boca do falso profeta é o
espiritismo mentiroso e os embustes religiosos que ocuparão o lugar da
meretriz quando ela tenha sido destruída.
14. demônios — gr., “demônios”.
operadores de sinais — gr., “sinais”.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 187
os reis da terra e (AV) — A, B, a Siríaca e Andréas omitem “da
terra e,” palavras que não estão em nenhum manuscrito. Traduza-se:
“Reis de todo o mundo habitável,” os que são “deste mundo,” em
contraste com os “reis do oriente” (o nascimento do sol), Ap_16:12, ou
seja, os santos aos quais Cristo ordenou um reino, e que são “filhos de
luz.” Deus ao permitir os milagres satânicos, como no caso dos magos
egípcios que foram Seus instrumentos para o endurecimento do coração
de Faraó, entrega aos réprobos a uma decepção judicial preparatória para
sua destruição. Quando a vara de Arão foi convertida em víbora, as dos
magos se transformaram da mesma forma. Arão tornou as águas em
sangue; o mesmo fizeram os magos. Arão fez subir as rãs; fizeram-no
também as magos. Com as rãs cessou o poder dos magos. Deste modo
este, e tudo o que seja antitípico dele, será o último esforço do dragão, da
besta e do falso profeta.
peleja — Gr., “guerra:” o conflito final para o senhorio do mundo,
descrito em Ap_19:17-21.
15. A reunião dos reis mundiais com a besta contra o Cordeiro é o
sinal para a vinda de Cristo; portanto, aqui se nos dá o mandamento de
vigiar a espera de Sua vinda, vestidos na roupagem da justificação e da
santificação, para ser aceitos perante Ele.
ladrão — (Mt_24:43; 2Pe_3:10.)
não se veja — os santos e os anjos.
vergonha — “indecência” (gr., aschemosunee) 1Co_13:5, diferente
vocábulo grego do de Ap_3:18 (gr., aischunee).
16. os ajuntaram — antes: “Congregaram-nos” (os três espíritos
imundos). Se retivermos nossa versão, será Deus quem os “congregou,”
para entregá-los à fraude dos três espíritos imundos, ou se não, ao sexto
anjo (Ap_16:12).
Armagedom — Heb., Har, um monte, e Megido, de Manassés na
Galileia, o cenário da derrota dos reis cananitas pela interposição
milagrosa de Deus mediante Débora e Baraque; a grande planície de
Esdralom. Josias também, como aliado de Babilônia, foi derrotado e
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 188
morto ali; e o pranto dos judeus na época imediata anterior àquela em
que Deus intervenha a seu favor contra as nações aliadas contra
Jerusalém, compara-se com o pranto por Josias em Megido. Maggido se
deriva do radical gadad, “cortado”, que significa matança. Comp. Jl_3:2,
Jl_3:12, Jl_3:14, onde “o vale Josafá” (significa no hebraico “juízo de
Deus”) indica-se como o cenário da vingança final de Deus contra os
Seus inimigos. Provavelmente alguma planície grande, antitípica dos
vales de Megido e Josafá, será o cenário.
17. anjo — Assim Andréas, mas A, B, a Vulgata e a Siríaca
omitem o substantivo.
pelo ar — Andréas diz “no ar” (eis com acusativo); A e B têm:
“sobre o ar” (epi com o acusativo).
grande voz — A omite “grande.”
do céu (RC) — Assim B e Andréas; mas A, a Vulgata, a Siríaca e a
Cóptica omitem estas palavras.
Feito está — A voz de Deus referente à consumação final, como a
de Jesus sobre a cruz, quando a obra da expiação ficou terminada, “Está
consumado.”
18. relâmpagos, vozes e trovões — Este é a ordem em A; outros
manuscritos e versões levam: “vozes e trovões e relâmpagos,” a mesma
ordem fechada que o dos sete selos e os sete trovões; com a diferença de
que eles não formam meramente a conclusão mas sim introduzem a
consequência da última taça, ou seja, a completa destruição de Babilônia
e depois a dos exércitos anticristãos.
terremoto — que com frequência é precedido por um estado
lôbrego da atmosfera, tal qual resultaria da taça derramada sobre ela.
homens (RC) — Assim B, a Vulgata, a Siríaca e Andréas; mas A e
a Cóptica dizem: “homem.”
tal — Gr., “tal,” ou “semelhante terremoto.”
19. a grande cidade — a capital e sede da Igreja apóstata, a
Babilônia espiritual (da qual Roma é representativa, se se denotar uma
cidade literal). A cidade de Ap_11:8 (comp. Nota em Ap_11:8) é
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 189
provavelmente distinta, ou seja a Jerusalém que está sob a potestade do
anticristo (a besta que é distinta da meretriz ou igreja apóstata). Em
Ap_11:13 só a décima parte de Jerusalém cai, enquanto que aqui a
cidade (Babilônia) “se dividiu em três partes” pelo terremoto.
as cidades — outras cidades grandes que estavam em liga com a
Babilônia espiritual.
lembrou-se Deus da grande Babilônia — Gr., “Babilônia, a
grande foi lembrada …” (Ap_18:5). É agora a última chamada dada ao
povo de Deus nela para que escapem da Babilônia (Ap_18:4).
furor — a ebulição de sua ira (veja-se nota Ap_14:10).
20. Evidente paralelo com Ap_6:14-17. e por antecipação descritivo
do último juízo.
os montes — Gr., “(já) não se acharam montanhas.”
21. desabou — Gr., “desce.”
blasfemaram — não os que foram mortos pela saraiva, mas outros:
diferença do caso de Jerusalém (Ap_11:14), quando “outros foram
espantados, e deram glória ao Deus do Céu.
sobremodo grande — Gr., “é muito grande.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 190
Apocalipse 17

Vv. 1-18. O adorno da meretriz babilônia. A besta em que cavalga,


que tem sete cabeças e dez chifres, será o instrumento do juízo que lhe
sobrevém.
Como Ap_16:12 postula em geral o juízo das taças que será
derramado sobre a meretriz, o poder babilônico, como os Caps. 17 e 18
dão o mesmo em detalhe, assim o 19 dá em detalhe o juízo sobre a besta
e o falso profeta, que foi aludido em Ap_16:13-15 em conexão com a
vinda de Cristo.
1. a mim (AV) — A, B, Vulgata, Siríaca, e Cóptica omite.
muitas águas — “sobre muitos” segundo A. Mas B, “as muitas
águas.” (Jr_51:13). Ap_17:15 explica o sentido. A meretriz é a Igreja
apóstata, assim como a mulher (Ap_12:1-6) é a Igreja enquanto for fiel.
Satanás, tendo fracassado pela violência, tenta cativá-la, e com muito
êxito, por meio das seduções mundanas; mas não como seu Senhor, ela
foi vencida por estas tentações; de modo que a vê sentada sobre a besta
de cor vermelha, sendo, já não a esposa, mas sim a meretriz; já não a
Jerusalém, mas sim a Sodoma espiritual (Ap_11:8).
2. se embebedaram — Não pode ser a Roma pagã, mas sim a
Roma papal, se se denotar uma sede particular de erro; mas me inclino a
crer que o juízo (Ap_18:2) e a fornicação espiritual (Ap_18:3), embora
encontrem sua culminação em Roma, não se restringem a Roma, antes
compreendem toda a Igreja apóstata, romana, grega e até protestante, até
o grau em que esteja seduzida de seu “primeiro amor” (Ap_2:4) para
com Cristo, o Noivo celestial, e tenha dado seu afeto às pompas e ídolos
mundanos. A mulher (esposa, Ap_12:1) é a congregação de Deus em sua
pureza sob o Antigo e Novo Testamentos, e aparece de novo como a
Noiva do Cordeiro, a Igreja transfigurada preparada para as bodas. A
mulher, a Igreja invisível, está latente na Igreja apostólica, e é a Igreja
militante; a Noiva é a Igreja triunfante.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 191
3. a um deserto — Em contraste com o Ap_12:6, 14: tem ela um
lugar no deserto mundo, mas não um lar; peregrina na terra, que busca a
cidade que virá. Agora, porém, ela se contenta com ter sua porção neste
deserto moral.
besta escarlate — A mesma que em Ap_13:1, é descrita tanto ali
como aqui, “que tinha sete cabeças e dez chifres” (deixando ver que é
representativa do dragão, Ap_12:3), e sobre suas cabeças nomes (no
plural) de blasfêmia;” comp. também Ap_17:12-14 com Ap_19:19, 20, e
com Ap_17:13, 14, 16. Roma, que descansa no império mundial, e o
dirige com suas pretensões à supremacia, é a representativa principal,
mas não exclusiva, de este simbolismo. Como o dragão é vermelho como
o fogo, assim a besta é de cor carmesim, o que denota crimes de sangue,
de pecados como o carmesim.
repleta — por toda parte; não somente nas cabeças, como em
Ap_13:1, pois sua oposição para com Deus está agora prestes a
desenvolver-se em toda sua intensidade. Sob a direção da meretriz, o
poder imperial expõe suas pretensões blasfemas piores que as dos
tempos pagãos. Assim o papa é posto pelos cardeais no templo de Deus,
para que sentado no altar, beijem-lhe os pés. Esta cerimônia chama-se
entre os escritores romanistas “a adoração”. [Historie de Clerge,
Amsterd., 1716; and Lettenburgh’s Notitia Curiae Romanae, 1683, p.
125; Heidegger, Myst. Bab., 1, 511, 514, 537]; uma moeda papal
(Numismata Pontificum, Paris, 1679, pág. 5) tem a lenda blasfema,
“Quem creant, adorant.” Ajoelhar-se e beijar é a adoração denotada pela
palavra usada por João nove vezes referente ao rival de Deus (gr.,
proskunein). Abominação, também, é o termo escriturário para ídolo, ou
por qualquer criatura adorada com a homenagem que se deve ao Criador.
Contudo, há alguma retenção contra este poder mundial antidivino
enquanto a meretriz anda sobre ele; o anticristo consumado será quando
a besta, tendo destruído àquela, seja revelada como a concentração e a
encarnação dos princípios antidivinos auto-divinizados, antes aparecidos
em formas e graus variáveis. “A Igreja se granjeou o reconhecimento
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 192
externo com o fato de apoiar-se é o poder político, aquele que por sua
vez usa da Igreja para suas próprias finalidades; tal é o quadro que se
apresenta aqui do cristianismo já amadurecido para o juízo.” [Auberlen].
As sete cabeças são, segundo o parecer de alguns, as sete formas
sucessivas de governo registradas em Roma: reis, cônsules, ditadores,
decênviros, tribunos militares, imperadores, os imperadores alemães
[Wordsworth], dos que Napoleão é o sucessor (Ap_17:11). Mas veja-se a
interpretação, de Ap_17:9, 10, Notas, a qual eu prefiro. Já desapareceram
as coroas que estavam antes sobre os dez chifres (Ap_13:1), uma
indicação talvez de que os dez reinos em que deve dividir o mundo
germano-eslavo (o antigo Império Romano, inclusive o Oriente e o
Ocidente, as duas pernas da imagem de cinco dedos cada uma: dez no
total), perderá enfim sua forma monárquica [Auberlen]; mas veja-se
Ap_17:12, que parece denotar reis coroados.
4. A cor escarlata — que notável é! — está reservado para os Papas
e cardeais. Paulo II declarou que cairia sob pena o fato de alguém usar
chapéu de escarlata sem ser cardeal; comp. Roman Ceremonial [3.5.5].
Este livro foi compilado faz mais de 340 anos por Marcelo, arcebispo
romanista, e dedicado a Leão X. Nele se enumeraram cinco objetos de
vestir diferentes de cor escarlate. Menciona-se um colete adornado de
pérolas. A mitra do papa é de ouro e pedras preciosas. São as mesmas
características externas que o Apocalipse atribui três vezes à meretriz ou
Babilônia. Assim Joaquim, abade da Calábria perto do ano 1200,
chamado a Palestina por Ricardo da Inglaterra e interrogado por ele a
respeito do anticristo, respondeu que “nasceu já faz muito em Roma, e
está-se exaltando sobre tudo o que se chama Deus.” Roger Hoveden
[Annals, 1.2], e em outras partes, escreveu: “A meretriz embelezada de
ouro é a Igreja de Roma.” Em todo tempo e lugar (não somente em
Roma) quando a Igreja, já não “vestida do sol” (como no princípio,
Ap_12:1), se viste de falsos atavios terrestres, comprometendo a verdade
de Deus por temor, ou pela adulação do poder mundano, da ciência ou da
riqueza, converte-se na meretriz sentada sobre a besta, e condenada em
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 193
justa retribuição a ser julgada pela besta (Ap_17:16). Logo, de igual
maneira que Roma e que os judeus do tempo de Cristo e dos apóstolos,
em liga com a Roma pagã, ela chega a ser a perseguidora dos santos
(Ap_17:6). Em vez de beber a “taça” de aflição de seu Senhor, “tem uma
taça cheia de abominações e de sujeiras.” Roma se representa a si mesma
em suas medalhas, tendo um cálice com a inscrição que a condena:
“Sedet super universum.” Enquanto isso o império mundial abandona a
hostilidade e aceita o cristianismo externamente; a besta abandona seu
caráter antidivino, a mulher abandona seu caráter divino. Eles
encontram-se na metade do caminho por concessões mútuas; o
cristianismo torna-se mundano; o mundo fica cristianizado. Quem ganha
é o mundo, quem perde, a Igreja. A besta por um tempo recebe uma
ferida mortal (Ap_13:3), mas não é seriamente transfigurada; se tornará
pior que nunca (Ap_17:11-14). Só o Senhor em Sua vinda pode fazer
com que os reinos do mundo cheguem a ser de nosso Senhor e do Seu
Cristo. A “púrpura” é emblema imperial; mesmo com escárnio a
puseram sobre nosso Senhor.
pedras — Gr., “pedra”.
imundícias — A, B, e Andréas dizem: “coisas sujas,” impuras.
5. Na sua fronte, achava-se escrito um nome — segundo o
costume das prostitutas. Que contraste com a expressão: “Santidade ao
Senhor,” que se inscrevia na mitra na fronte do sumo sacerdote!
mistério — significa um fato espiritual antes escondido, e
impossível de descrever com a mera razão, mas que agora é revelado.
Como a união de Cristo e a Igreja é um “grande mistério” (uma verdade
espiritual de suma importância, uma vez escondida, agora revelada,
Ef_5:31-32); assim a Igreja conformando-se ao mundo e por isso
tornando-se meretriz, é um “mistério” oposto (uma verdade espiritual.
simbolicamente revelada). Como a iniquidade da meretriz é levedura que
trabalha em “mistério,” e que é chamado portanto “o mistério da
iniquidade,” assim quando ela for destruída, a iniquidade que até agora
trabalha latentemente (em comparação) nela, será revelada no homem da
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 194
iniquidade, a encarnação aberta de todo o mal anterior. Comp. o
“mistério de Deus” e “piedade” Ap_10:7; 1Tm_3:16. Foi Roma quem
crucificou a Cristo; quem destruiu a Jerusalém e espalhou os judeus;
quem perseguiu os cristãos primitivos nos tempos pagãos; e
provavelmente será quem há de ser restaurada à sua grandeza antiga, tal
como sob os césares, um pouco antes da queima da meretriz e a sua
própria conjuntamente. Assim pensava Hipólito (On Antichrist) (que
viveu no segundo século). O papismo não pode ser ao mesmo tempo “o
mistério da iniquidade” e o anticristo manifestado ou revelado.
Provavelmente, mediante o poder político (Ap_17:3) fará um
compromisso com aquela parte do cristianismo mesmo de seu credo, e
preparará assim o caminho para a manifestação do anticristo. O nome
Babilônia, que na imagem de Dn_2:32, 38 é dado à cabeça, aqui é dado
à meretriz, o que a relaciona com o quarto reino, Roma, a última parte da
imagem. Benedito XIII, em sua proclamação de um jubileu, em 1725
d.C., chamou Roma “a mãe de todos os crentes, e soberana de todas as
igrejas” (meretrizes como ela mesma). A correspondência de sílabas e
acentos no grego chama a atenção: he porne kai to therion; He numfe kai
to arnion. “A meretriz e a besta; a Noiva e o Cordeiro.”
mãe das meretrizes — Gr., “das meretrizes e das abominações.”
Não somente Roma, mas sim toda a cristandade, assim como Israel antes
como um todo, fez-se como meretriz. A Igreja invisível dos crentes
verdadeiros está escondida e dispersa na Igreja visível. Os limites que
separam à meretriz e à mulher não são denominacionais nem se traçam
objetivamente, mas sim podem discernir-se só espiritualmente. Se Roma
fosse a única sede da Babilônia, perder-se-ia para nós muito do proveito
espiritual do Apocalipse; mas a meretriz “se acha sentada sobre muitas
águas” (Ap_17:1) e TODAS as nações “se embriagaram com … sua
prostituição” (Ap_17:2; Ap_18:3; “a terra,” Ap_19:2). A extensão
externa que cobre todo mundo, e a conformidade interna ao mesmo
mundo — a mundanalidade em extensão e em contido — está
simbolizada pelo mundo da cidade mundial, “Babilônia”. Como o sol
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 195
ilumina toda a terra, assim a mulher vestida do sol deve fazer com que
sua luz penetre até os limites da terra. Mas ao cristianizar o mundo
externamente, deixou-se seduzir pelo mundo; de modo que sua
universalidade ou catolicidade não é a da Jerusalém que esperamos (“a
MÃE de todos nós,” Ap_21:2; Is_2:2-4; Gl_4:26), mas sim a de
Babilônia, a cidade mundial, mas adulterina! (Como Babilônia foi
destruída, e os judeus restaurados a Jerusalém por Ciro, assim nosso Ciro
— nome pérsico que significa sol, o Sol da justiça, trará para o Israel,
literal e espiritual, à santa Jerusalém, em Sua vinda. Babilônia e
Jerusalém são os dois polos opostos do mundo espiritual.) Contudo, a
Igreja romanista não é só acidentalmente, nem como um fato positivo,
mas também em virtude de seu próprio PRINCÍPIO, uma meretriz, a
metrópole da fornicação, “a mãe das meretrizes;” enquanto que a Igreja
protestante, de conformidade com seu princípio e credo fundamental, é
mulher pura; a Reforma foi um protesto da mulher contra a meretriz. O
espírito mundano do pagão império romano, antes da Reforma, tinha
mudado a Igreja do oeste em estado eclesiástico, e a do Este em Igreja
estatal, encadeada esta pelo poder mundano, com sua sede em Bizâncio;
as igrejas romana e grega, pois, têm caído da invisível essência espiritual
do evangelho aos elementos do mundo. [Auberlen]. Compare-se com a
“mulher” aqui chamada “Babilônia,” a chamada “iniquidade,”
“anarquia,” etc., Zc_5:7-8, Zc_5:11, levada a Babilônia, comp. “o
mistério da iniquidade” e “o homem de pecado,” “aquele início,” lit., “o
anárquico” (2Ts_2:7-8; Mt_24:12).
6. mártires (AV) — gr., testemunhas.
admirei-me com grande espanto — Substantivo e verbo da
mesma raiz: hebraísmo comum. João não teve admiração pela mulher:
causou-lhe surpresa, consternação, espanto. Em outras partes (Ap_17:8;
Ap_13:3), todos os mundanos (“os que habitam sobre a terra”) admiram
a besta. João se maravilha, não da besta, mas sim da mulher afundada
até ser meretriz; a Igreja apóstata amante do mundano, motiva sua
consternação e tristeza por tão funesta mudança. Que o mundo fosse
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 196
bestial é natural, mas que a fiel esposa chegasse a ser meretriz é
monstruoso, e produz nele a mesma estupefação que a mesma terrível
mudança em Israel produziu em Isaías e Jeremias. “Corruptio optimi
pessima,” quando a Igreja cai, afunda-se mais que o mundo ímpio, na
proporção em que seu devido lugar é mais alto que o do mundo. É de
notar-se que em Ap_17:3 “mulher” não leva o artigo, “a mulher,” como
se tivesse sido mencionada antes: porque embora seja idêntica num
sentido, com a mulher de Ap_12:1-6, em outro não o é. Os escolhidos
nunca degeneram em apóstatas, e até permanecem como a verdadeira
mulher invisivelmente contida na meretriz; entretanto, o cristianismo
simbolizado pela mulher apostatou que sua primeira fé.
8. besta … era e não é — (Comp. Ap_17:11). O tempo em que a
besta “não é” é o tempo em que tem “a ferida mortal”: o período
enquanto a sétima cabeça faz-se externamente cristã, quando seu caráter
de besta fica temporariamente em suspensão. A cura da ferida
corresponde à sua ascensão do abismo. A besta, ou seja, o império
mundial anticristão, volta pior que nunca, com poderes satânicos do
inferno (Ap_11:7), não meramente do mar de nações convulsas
(Ap_13:1). A civilização cristã só dá à besta uma ferida temporária,
portanto sempre se menciona a ferida de morte com a cura da mesma, a
não existência da besta em conexão com seu reaparecimento; e Daniel
não nota mudança alguma efetuada na besta pelo cristianismo.
Perigamos, por um lado, pelo cristianismo espúrio da meretriz, e por
outro pelo aberto anticristianismo da besta: a terceira classe é “o pequena
rebanho” de Cristo.
irá (RC) — Assim B, Vulgata, e Andréas leem no tempo futuro.
Mas A e Irineu dizem “vai.”
à perdição (RC) — A continuação desta sétima (isto é, a oitava)
cabeça é breve: portanto chama-se “filho de perdição,” que está
virtualmente condenado à perdição no momento em que ele aparecer.
nomes — Assim a Vulgata e Andréas; mas A, B, a Siríaca e a
Cóptica dizem “nome.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 197
escritos — no Gr., “sobre.”
era e não é, mas aparecerá — A, B e Andréas dizem: “… e estará
presente” (Gr., kai parestai). O tetragrammaton hebraico, as quatro
letras sagradas de Jeová, “que é, que era, e que há de vir,” objeto de
adoração do crente, tem seu contraste análogo na besta “que era, e não é,
ma aparecerá,” adorado no culto terrestre. [Bengel]. Alegram-se e se
admiram vendo que a besta que parece ter recebido o golpe mortal do
cristianismo, está às vésperas da ressurreição com maior poder que
nunca sobre as ruínas daquela religião que os atormentava (Ap_11:10).
9. Comp. Ap_13:18; Dan_12:10, onde se expõe necessidade similar
de discernimento para compreender a profecia simbólica.
sete cabeças são sete montes — A relação entre montes e reis deve
ser mais profunda que o mero fato óbvio a que se faz alusão incidental,
de que Roma (a então cidade imperial) está sobre sete colinas (pelo que a
cidade pagã tinha uma festa nacional chamada Septimontium, a festa da
cidade de sete montes [Plutarco]; e nas moedas imperiais está
representada, como aqui, por uma mulher sentada sobre sete montes.
Moeda de Vespasiano, descrita pelo capitão Smith (Roman Coins, p.
310; Ackerman, 1, p. 87). As sete cabeças quase não podem ser ao
mesmo tempo sete reis ou reinos (Ap_17:10), e sete montanhas
geográficas. A verdadeira relação é que como a cabeça é a parte
proeminente do corpo, assim a montanha o é da região. Como “mar,”
“terra,” “águas,” e “povos” (Ap_17:15), assim “montanhas” tem um
sentido simbólico, ou seja, proeminentes sedes de poder. Especialmente
aquelas que são notáveis estorvos à causa de Deus (Sl_68:16-17;
Is_40:4; Is_41:15; Is_49:11; Ez_35:2); Babilônia em especial
(geograficamente na planície, mas espiritualmente chamada montanha
destruidora, Jr_51:25), em contraste majestoso com os quais está o
monte Sião, “o monte da casa de Deus” (Is_2:2), e o monte celestial;
Ap_21:10, “um grande e alto monte … e aquela grande cidade, a santa
Jerusalém.” Assim em Dn_2:35, a pedra se transforma em monte — o
reino universal que suplanta os prévios impérios mundiais. Como a
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 198
natureza prefigura as grandes realidades do mundo espiritual, assim a
sétima Roma montanha é representativa do império mundial de sete
cabeças, do qual o dragão foi e é o príncipe. Os “sete” reis nisto se
distinguem dos dez reis” (Ap_17:12): aqueles são o que estes não são,
“montes”, grandes centros do poder mundial. As sete monarquias
universais antidivinas são o Egito (o primeiro império mundial que se
opôs ao povo de Deus), Assíria, Babilônia, Grécia, Medo-Pérsia, Roma,
o império Germano-eslavo (o barro cozido do quarto reino misturado
com seu ferro na imagem de Nabucodonosor, uma quinta matéria,
Dn_2:33-34, Dn_2:42-43, que simboliza a última cabeça). Estas sete
talvez parecem não corresponder às sete cabeças de Dan_7:4-7, uma
cabeça na primeira besta (Babilônia), uma na segunda (Medo-Pérsia),
quatro na terceira (Grécia: 1. Egito, 2. Síria, 3. Trácia com Bitínia, 4.
Grécia com a Macedônia): mas o Egito e Grécia estão em ambas as
listas. Síria corresponde a Assíria (abreviatura do mesmo nome), e
Trácia com Bitínia corresponde às hordas gótico germano eslavas que,
descendo sobre Roma do norte, fundaram o império germano escravo. A
mulher sentada sobre os sete montes denota a Igreja do Antigo e Novo
Testamentos, que se conforma com o poder mundial e se apoia no
mesmo, quer dizer, em todos os sete impérios. Abraão e Isaque,
dissimulando com relação a suas mulheres por temor dos reis do Egito,
prefiguram isto. Veja-se Ezequiel 16 e 23 sobre as fornicações de Israel
com o Egito, Assíria e Babilônia; e Mt_7:24; Mt_24:10-12, Mt_24:23-
26, sobre as características da infidelidade da Igreja do Novo
Testamento, ou seja, desconfiança, suspeita, ódio, traição, dissensões,
heresias.
10. caíram cinco, um existe — Gr., os cinco ... um.” Os primeiros
cinco dos sete caíram. Não é que a forma de governo deixe de existir,
mas sim a queda daqueles cinco impérios poderosos: Egito (Ezequiel 29
e 30), Assíria e Nínive (Na_3:1-19), Babilônia (Ap_18:2; Jeremias 50 e
51), Medo-Pérsia (Dn_8:3-7, Dn_8:20-22; Dn_10:13; Dn_11:2), Grécia
(Dn_11:4). Roma era “um” que existia nos dias de João. “Reis” é a frase
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 199
escriturística que expressa reinos, porque estes reinos são usualmente
representados em caráter por alguma cabeça proeminente, como
Babilônia por Nabucodonosor, Medo-Pérsia por Ciro, Grécia por
Alexandre, etc.
o outro ainda não chegou — Não como Alford, representando
erroneamente Auberlen, o império cristão que principia com
Constantino; antes, o império germano eslavo, que principia e continua
em seu caráter de besta, isto é, pagão e anticristão, só por “breve tempo.”
o tempo em que se diz que “não é,” é o tempo em que foi ferida de morte
e enquanto tinha a “ferida mortal” (Ap_17:11; Ap_13:3). A
cristianização externa das hordas imigrantes do norte que desceram sobre
Roma, é a ferida que a besta recebe, a qual corresponde à absorção feita
pela terra, do rio de água (tribos pagãs) enviado pelo dragão, Satanás,
para afogar a mulher, a Igreja. A ênfase evidente está em “pouco tempo,”
que vem primeiro no grego; não na palavra “dure.” O tempo da
cristianização externa do mundo (enquanto continua a ferida da besta)
durou já como quatorze séculos, desde Constantino. Roma e a Igreja
Grega curaram parcialmente a ferida com o culto às imagens.
11. besta ... que já não é — Seu caráter “bestial” fica dissimulado
pela cristianização externa do estado até que se reavive como “o oitavo”
rei, sua ferida já curada (Ap_13:3), o anticristo manifestado em sua
plena e mais intensa oposição a Deus. O grego é enfático: “o mesmo
oitavo é:” peculiar e preeminentemente, correspondente ao “chifre
pequeno” com olhos de homem, e boca que falava grandezas, diante do
qual três dos dez chifres são desarraigados, e ao qual todos os dez “dão
seu poder e autoridade” (Ap_17:12-13, Ap_17:17). Que um anticristo
pessoal dirija o reino anticristão é provável pela analogia de Antíoco
Epifânio, o anticristo do Antigo Testamento, “o chifre pequeno” de
Dn_8:9-12; também “o homem do pecado, filho da perdição” (2Ts_2:3-
8), corresponde aqui a “vai à perdição,” e se aplica a um indivíduo, ou
seja, Judas, no único outro texto onde a frase ocorre (Jo_17:12). Ele é
essencialmente um filho de destruição, e portanto não tem senão pouco
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 200
tempo de ter ascendido do abismo, quando “vai à perdição” (Ap_17:8,
Ap_17:11). “Enquanto que a Igreja passa pela morte da carne à glória do
Espírito, a besta passa pela glória da carne à morte.” [Auberlen].
é dos sete — melhor “surge dos sete.” O oitavo não é meramente
um dos sete, restaurado, mas sim é um novo poder ou pessoa que
procede dos sete, e ao mesmo tempo encarna todos os característicos
antidivinos dos sete anteriores concentrados e consumados; por esta
razão diz-se que não são oito, mas sim só sete cabeças, porque a oitava é
toda a encarnação de todas as sete. Nos dores de parto que preparam “a
regeneração” há guerras, terremotos, e convulsões [Auberlen], no meio
dos quais o anticristo surge (do “mar”, Ap_13:1; Mc_13:8; Lc_21:9-11).
Não cai como os outros sete (Ap_17:10), mas sim é destruído, indo à sua
própria perdição, pelo Senhor em pessoa.
12. ainda não receberam … como reis, com a besta — Pelo que,
com Ap_17:14, 16, devem ser contemporâneos com a besta em sua
última ou oitava forma, ou seja, o anticristo. Dn_2:34, Dn_2:44 : “a
pedra feriu a imagem nos pés,” isto é, nos dez dedos, interpretados como
reis (Dn_2:41-44). Os dez reinos não são, pois, dez que surgiram com a
derrota da Roma pagã; antes, devem surgir na última época do quarto
reino sob a oitava cabeça. Estou de acordo com Alford em que a frase
“como reis” denota que eles retêm seus direitos reais em sua aliança com
a besta, na qual “oferecem à besta o poder e a autoridade” (Ap_17:13).
Eles têm o nome de reis, mas não o poder indiviso real. [Wordsworth].
Veja-se a interpretação não tão provável de Auberlen, Nota, Ap_17:3.
uma hora — um prazo determinado de pouca duração, durante o
qual “o diabo desceu aos habitantes da terra e do mar, tendo grande ira,
porque sabe que não tem senão pouco tempo.” Provavelmente os três
anos e meio (Ap_11:2-3; Ap_13:5). O anticristo está em existência desde
muito antes da queda de Babilônia; mas é só a queda da mesma quando
recebe a vassalagem dos dez reis. Ele, em primeiro termo, impõe-se aos
judeus como o Messias, vindo em seu próprio nome; logo persegue os
que rejeitam suas blasfemas pretensões. Não antes da sexta taça, na
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 201
última parte de seu reino, associa-se com os dez reis na guerra contra o
Cordeiro, havendo-os ganho para si com a ajuda dos demônios e com os
sinais milagrosas deles. Sua relação com Israel aparece no sentar-se ele
“no templo de Deus” (2Ts_2:4), e como a antitípica “abominação de
desolação que está no lugar santo” (Dn_9:27; Dn_12:11; Mt_24:15), e
“na cidade onde foi crucificado nosso Senhor” (Ap_11:8). É notável
aquele que Irineu (Against Heresies, 5:25), e Cirilo de Jerusalém
(Rufino, Historia Monachorum, 10.37), profetizaram que o anticristo
teria sua sede em Jerusalém, e restauraria o reino dos judeus. Juliano, o
apóstata, muito depois, tomou a parte dos judeus e os ajudou na
edificação de seu templo, sendo assim precursor do anticristo.
13. um só pensamento — uma só mente, ou sentimento.
darão (AV) — Assim a Cóptica; mas A, B, e a Siríaca dizem
“dão.”
autoridade — Gr., autoridade. Fazem-se aliados dependentes dele
(Ap_17:14). Assim o anticristo se constitui em Rei dos reis, mas assim
que se adota o título aparece o verdadeiro REI DOS REIS e o entrega
num momento à destruição.
14. Pelejarão eles contra o Cordeiro — em liga com a besta. Esta
é uma antecipação sumária de Ap_19:19. Isto não se leva a cabo senão
depois que tenham executado juízo sobre a meretriz (Ap_17:15, 16).
Senhor dos senhores — antecipando Ap_19:16.
os chamados — São não está no grego; traduza-se: “e (vencerão
os) os que estão com ele chamados, eleitos e fiéis.” Estes estiveram com
Cristo no céu, invisíveis, mas agora aparecem com Ele.
15. (Ap_17:1; Is_8:7). Uma paródia ímpia de Jeová que se senta
sobre as águas.” [Alford]. Também, contraste-se “as muitas águas,”
Ap_19:6, “Aleluia.”
povos — o que marca a universalidade da fornicação espiritual da
Igreja. As “línguas” nos lembram a Babel original, a confusão das
línguas, o princípio da Babilônia, e o primeiro começo da apostasia
idolátrica depois do dilúvio, como a torre foi dedicada, sem dúvida, aos
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 202
céus deificados. De modo que Babilônia é o nome apropriado da
meretriz. O papa, como o principal representativo da meretriz, adota-se a
dupla supremacia sobre todos os povos, tipificada nas “duas espadas”
segundo a interpretação de Bonifácio VIII na Bula, “Unam Sanctam,” e
representada pelas duas chaves, ou seja, a espiritual como bispo
universal, pelo qual é coroado com a mitra; e a temporal, pelo qual é
coroado também com a tiara em sinal de sua supremacia imperial.
Contraste-se com as diademas do papa, as “muitas diademas” daquele
único que tem o direito a este duplo domínio e há de exercê-lo quando
vier (Ap_19:12).
16. viste na besta (RC) — A, B, a Vulgata e a Siríaca dizem: “… e
a besta.”
a farão devastada — depois de havê-la deposto de seu assento
sobre a besta (Ap_17:3).
despojada — despida de todo seu adorno (Ap_17:4). Como
Jerusalém usou do poder imperial para crucificar a seu Salvador, e
depois foi destruída por esse mesmo poder, Roma; assim a Igreja, tendo
apostatado ao mundo, receberá o juízo que lhe foi imposto primeiro, pelo
poder imperial, a besta e seus aliados; estes por sua vez receberão o juízo
executado sobre eles por Cristo em pessoa. Assim Israel, que se apoiou
no Egito, o cana trilhada, foi transpassado pela cana, e logo o Egito foi
castigado. Assim as fornicações de Israel com Assíria e Babilônia foram
castigadas pelo cativeiro assírio e o babilônico. Da mesma maneira, a
Igreja, quando se torna infiel após o mundo como se o mundo fosse a
realidade, deixando de testificar contra a apostasia do mundo, ela trai sua
profissão; não sendo já uma realidade mas sim uma fraude, a Igreja é
justamente julgada por aquele mundo que a tinha usado para suas
próprias finalidades, que sempre tinha “odiado” tal religião mundana, e
já não tem necessidade da ajuda da Igreja.
lhe comerão as carnes — suas posses carnais, o que sugere a
plenitude da carnalidade em que a Igreja se atolou. O juízo da meretriz é
descrito outra vez em Ap_18:1; Ap_19:5, primeiro por um anjo que tem
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 203
“grande poder” (Ap_18:1), logo por “outra voz do céu” (Ap_18:4-20), e
depois por “um anjo forte” (Ap_18:21-24). Veja-se Ez_16:37-44, dito
referente a Israel, mas aplicável também à Igreja do Novo Testamento,
quando tiver caído na fornicação espiritual. Sobre a frase “lhe comerão
as carnes”, a depredação de propriedade pessoal e a injúria do caráter e
pessoa, Sl_14:4; Sl_27:2; Jr_10:25; Mq_3:3. O decreto do primeiro
Napoleão, promulgado em Roma em 1809 d.C. mediante o qual se
confiscaram os domínios papais e os uniu a França, e a separação recente
de grandes extensões do território do papa e sua união aos domínios do
rei da Itália, virtualmente por meio de Luis Napoleão, é a primeira parte
no cumprimento completo da profecia a respeito da destruição da
meretriz. “Suas carnes” parece assinalar suas dignidades temporais,
como distintas de sua pessoa. Que notável retribuição, o fato de ter
recebido seus primeiros domínios, o exarcado de Ravena, o reino dos
lombardos, e o estado de Roma, reconhecendo ao usurpador Pepino
como rei legítimo da França: ela fora privada de seus domínios por outro
usurpador da França, a dinastia napoleônica!
queimarão no fogo (RC) — o castigo legal de uma abominável
fornicação.
17. pôs (TB) — o passado profético pelo futuro.
realizem — Gr., “fazer” ou “realizar”. O grego, “poiesai,” é
distinto do que se traduziu sob “cumpridas”, gr., “telesthesontai”.
o seu pensamento — Gr., “a mente (vontade, parecer,) dele.”
o executem à uma — Gr., “fazer um só propósito” (parecer). A e a
Vulgata omitem esta frase; B a inclui.
as palavras de Deus — que predisseram a ascensão e a queda da
besta; gr., hoi logoi segundo A, B, e Andréas, não meramente os
vocábulos pronunciados (ta remata), mas sim as palavras eficazes do
que é o Verbo (gr., logos).
se cumpram — (Ap_10:7).
18. domina — “autoridade real sobre os reis.” A meretriz não pode
ser literalmente uma mera cidade, mas assim é chamada no sentido
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 204
espiritual (Ap_11:8). Tampouco pode a besta representar um poder
espiritual, mas sim um poder mundano. Aqui nos é apresentado a besta
preparada para o juízo. No capítulo seguinte se dão os detalhes.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 205
Apocalipse 18

Vv. 1-24. A queda de Babilônia. O povo de Deus chamado a sair


dela. Choram os reis e comerciantes de mundo, enquanto que os santos
se alegram de tal queda.
1. E (RC) — Assim a Vulgata e Andréas, mas A, B, a Siríaca, e a
Cóptica omitem “e”.
autoridade — Gr., “autoridade.”
2. com potente voz — A, B, a Vulgata, a Siríaca e a Cóptica
dizem: “com uma voz potente.”
Caiu! Caiu — B e a Cóptica omitem o segundo “caiu” (Is_21:9;
Jr_51:8). Esta frase é profética da queda, que é ainda futura, como o
prova Ap_18:4.
morada — prisão.
3. do vinho — Assim B, a Siríaca e a Cóptica; mas A, C, e a
Vulgata omitem “o vinho.”
bebido — comp. Ap_14:8, de onde talvez “o vinho” fosse
interpolado aqui. Beberam da fornicação dela, e a consequência será o
furor para eles mesmos. Mas A, B, e C dizem: “(devido à ira de sua
fornicação) todas as nações têm caído.” A Vulgata e quase todas as
versões concordam com a nossa, que pode ser a correta, embora não o
apoiam aqui os manuscritos mais antigos. Babilônia, a meretriz, fica
destruída antes de a besta matar as duas testemunhas (Ap_11:7), e depois
a própria besta é destruída.
luxúria — Gr., “luxúria.” Veja-se Nota, 1Tm_5:11, onde o verbo
grego “se tornam levianas” é da mesma raiz. A referência não é à
mercadoria terrestre, mas sim a artigos espirituais, indulgências,
idolatrias, superstições, compromissos mundanos, com os que a meretriz,
a Igreja apóstata, comercializou com os homens. Isto se aplica
especialmente a Roma; mas a Igreja Grega, e num grau menor até igrejas
protestantes não estão isentas de culpa. Entretanto, o princípio do
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 206
protestantismo evangélico é puro, mas não o é o princípio de Roma, nem
o da Igreja Grega.
4. Retirai-vos dela, povo meu — Citação de Jr_50:8; Jr_51:6,
Jr_51:45. Até na Igreja Romanista Deus tem povo, mas estão em grande
perigo: sua única segurança está em sair dela logo. Igualmente em toda
igreja apóstata e mundana há alguns da Igreja invisível e verdadeira de
Deus, os quais devem sair, se é que desejam ser salvos. Especialmente às
vésperas do juízo divino sobre a cristandade apóstata: como Ló foi
admoestado a sair de Sodoma antes de sua destruição, e Israel para que
saísse dentre as tendas de Dotã e Abirão. Assim os primeiros cristãos
saíram de Jerusalém quando foi julgada a Igreja apóstata judaica. “O
estado e a Igreja são dons preciosos de Deus. Mas o estado profanado
para um fim distinto do que Deus propôs, ou seja, para governar para
Deus e sob Deus, torna-se bestial, a Igreja apóstata deve ser a meretriz.
A mulher verdadeira é o fruto; a besta e a meretriz são a casca; quando o
fruto amadurece, a casca é tirada.” [Auberlen]. “A meretriz não é Roma
sozinha (embora o é preeminentemente), mas também toda igreja que
não tem a mente e o espírito de Cristo. O falso cristianismo, dividido em
muitíssimas seitas, é uma verdadeira Babilônia, isto é, confusão.
Entretanto, em todo o cristianismo a verdadeira congregação de Jesus, a
mulher vestida do sol, vive e é protegida. O cristianismo corrupto,
estéril, é a meretriz, cuja finalidade é o prazer da carne, e que é
governada pelo espírito da natureza e do mundo.” [Hahn em Auberlen].
A primeira justificação da mulher está em que é chamada a sair da
meretriz Babilônia, na culminação do pecado desta, quando o juízo está
prestes a cair; porque o cristianismo apóstata, Babilônia, não há de ser
convertido, mas sim destruído. Em segundo termo, ela há de passar pela
prova da perseguição da parte da besta, o que a purifica e a prepara para
a glória da transfiguração com a vinda de Cristo (Ap_20:4; Lc_21:28).
cúmplices — os que comungam, fazem causa comum.
dos seus flagelos — como a mulher de Ló, por haver-se demorado
muito perto da contaminada e condenada cidade.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 207
5. seus pecados — como um grande montão.
se acumularam — Gr., “alcançaram tanto quanto para fazer
contato com o céu e apegar-se a ele.”
6. Dirigido aos executores da ira de Deus.
ela retribuiu — “a vós” não está em nenhum dos manuscritos mais
antigos; A, B, C, a Vulgata, a Siríaca e a Cóptica o omitem. Ela não
tinha recompensado o poder mundial por nenhuma injúria que aquele lhe
tivesse infligido; antes ela lhe tinha dado o que ele merecia: desilusões
espirituais, porque não quis reter a Deus em seu conhecimento; o
princípio da infiel Igreja era, Populus vult decipi, et decipiatur, “A
pessoa quer ser enganada, e deixem que seja enganada.”
em dobro — de tristeza. Contraste-se com o dobro de alegria que
Jerusalém receberá por seus padecimentos passados (Is_61:7; Zc_9:12);
assim como recebeu o castigo em dobro por seus pecados (Is_40:2).
no cálice — (Ap_18:3; Ap_14:8; Ap_17:4.)
misturai dobrado — do cálice da ira de Deus.
7. O quanto — na mesma proporção.
em luxúria — luxuosamente: veja-se nota correspondente ao
Ap_18:3, onde o grego é afim.
pranto — como de luto por um marido morto.
Viúva, não sou — porque o império é meu marido e meu sustento.
Pranto, nunca hei de ver! — “luto.” “Estou sentada (tanto tempo a
esta parte) … não sou viúva … não verei luto,” indica sua completa
despreocupação por sua segurança passada, presente e futura. [Bengel].
Nunca terei que chorar como quem perde o seu marido. Como Babilônia
era a rainha do Oriente, assim Roma foi a rainha do Ocidente, e é
chamada nas moedas imperiais “a cidade eterna.” Assim é chamada a
Roma papal por Ammian Marcellin [15.7]. “Babilônia é uma Roma
anterior, e Roma uma Babilônia posterior. Roma é uma filha de
Babilônia, e por ela, como por sua mãe, foi o propósito de Deus subjugar
o mundo sob um poder”. [Agostinho]. Como a restauração dos judeus
não teve lugar até a queda de Babilônia, assim escreve R. Kimchi, sobre
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 208
Obadias: “Quando Roma (Edom) for devastada, haverá redenção para
Israel.” As idolatrias romanistas foram grandes tropeços para que os
judeus aceitem o cristianismo.
8. morte — sobre ela mesma, embora cria-se segura até da morte
de seu marido.
pranto — em lugar de seu banqueteio.
fome — em lugar de suas delícias luxuosas (Ap_18:3, 7).
fogo — (Nota, Ap_17:16). Fogo literal pode queimar a cidade
literal de Roma, que está situada em meio de agentes vulcânicos. Como a
terra foi amaldiçoada pelo pecado de Adão, e a terra foi destruída pelo
dilúvio no tempo de Noé, e Sodoma foi queimada com fogo, assim pode
ocorrer também a Roma. Mas como a meretriz é mística (a Igreja infiel
toda), a queima pode ser principalmente mística, simbolizando a
completa destruição e desaparecimento. Bengel provavelmente tem
razão ao pensar que Roma voltará a subir ao poder. Os elementos
carnais, infiéis e mundanos de todas as Igrejas, Romana, Grega e
Protestante, inclinam-se para um centro comum, e preparam o caminho
para a última forma da besta, ou seja, o anticristo. Os fariseus eram em
geral, sãos no credo; entretanto, o juízo lhes sobreveio assim como aos
racionalistas saduceus e aos semipagãos samaritanos. Tampouco as
infiéis igrejas protestantes carnais e mundanas, escaparão por causa de
sua ortodoxia de credo.
o Senhor — Assim B, C, a Siríaca e Andréas; mas A e a Vulgata
omitem. “Forte” é o sentido do nome hebraico de Deus, El.
que a julgou — A, B, C, dizem no passado (krinas) “que a julgou:”
o pretérito profético pelo futuro: a ordem dada ao povo da parte de Deus,
a respeito de que saísse (Ap_18:4) denota que o juízo ainda não estava
feito.
9. viveram em luxúria — Gr., “viver em luxo.” A Igreja infiel, em
vez de reprová-los, viveu em conivência com o luxo e a luxúria dos
grandes do mundo, sancionando-os com sua própria prática. Contraste o
regozijo do mundo sobre os corpos das duas testemunhas (Ap_11:10),
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 209
que os tinham atormentado com sua fidelidade com as lamentações do
mundo sobre a meretriz que fez tão brando o caminho ao céu, e que tinha
achado um instrumento útil para guardar os súditos na tirania abjeta. A
mente carnal dos homens gosta de uma religião como a da Igreja
apóstata, que dá ópio à consciência, e concede ao pecador licença para
satisfazer suas concupiscências.
com ela — A, B, C, Siríaca, Cóptica, e Cipriano omitem “ela.”
10. Os juízos de Deus inspiram temor até aos mundanos, mas é de
curta duração, pois os reis e os grandes não demoram para unir-se à besta
em sua última e pior forma, como o anticristo descarado, que adota tudo
que a meretriz se adjudicou em suas blasfemas pretensões e mais,
retribuindo-lhes assim a perda da meretriz.
poderosa cidade — Roma no grego significa fortaleza; mas tal
derivação é duvidosa.
11. mercadoria — Gr., “carregamento” (Ap_18:17). Roma não é
cidade comercial, e devido a sua situação não é provável que o seja. A
mercadoria deve pois ser espiritual, assim como a meretriz não é literal,
mas sim espiritual. Ela não testificou contra o luxo carnal e a sede de
prazer, a fonte dos lucros comerciais, mas se conformou a eles
(Ap_18:7). Não se interessou nas ovelhas senão em sua lã. Os
comerciantes cristãos dela viviam como se este mundo fosse o sumo
bem, não o céu, e eram inescrupulosos referente aos meios de seu lucro.
Veja-se Zc_5:4-11 (Notas), sobre o mesmo tema, o juízo sobre os
comerciantes de Babilônia por seus lucros injustos. Toda esta mercadoria
aqui mencionada ocorre repetidas vezes no “cerimonial romano.”
12. (Nota, Ap_17:4.)
pedras … pérolas — Gr., “pedra … pérola.”
linho finíssimo — A, B, e C. leem o grego, bussinou por bussou,
isto é, “manufatura fina de linho.” [Alford]. A fabricação pela qual era
famoso o Egito (tipo da Igreja apóstata, Ap_11:8). Contraste o “linho
fino” (Ez_16:10) de Israel, e da Igreja do Novo Testamento (Ap_19:8), a
esposa (Sl_132:9).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 210
odorífera — o citrus dos romanos: provavelmente o cypressus
thyoyides, ou a thuia articulata. “Madeira do Citron” [Alford]. Uma
árvore cheirosa de Cirene de Líbia, usado para incenso.
toda qualidade de móvel — ou “todo móvel.”
13. canela — Proposta por Deus para melhores fins: sendo
ingrediente do santo óleo de unção, e uma planta do “jardim do Amado”
(Ct_4:14); mas profanada para usos vis pela meretriz (Pv_7:17).
especiarias — de incenso. A, C, a Vulgata e a Siríaca prepõem “e
amônia” (unguento custoso para o cabelo, feito de um arbusto asiático).
A leitura da Versão Inglesa é suportada pela Cóptica e Andréas, mas não
os antigos manuscritos.
incenso — Contraste o verdadeiro que agrada a Deus (Sl_141:2;
Ml_1:11).
flor de farinha — O similago dos latinos. [Alford].
animais (AV) — de carga, e gado.
escravos — Gr., “corpos.”
almas de homens — (Ez_27:13.) Dito de escravos. Próprio da
meretriz espiritual, o cristianismo apóstata, especialmente de Roma, que
tantas vezes escravizou tanto o corpo como a alma dos homens. Embora
o Novo Testamento não proíba diretamente a escravidão, o que no então
estado do mundo teria incitado uma revolta dos escravos, virtualmente a
condenação, como faz aqui. O papismo recebe seus maiores lucros com a
venda das missas pela alma dos homens finados, e das indulgências
compradas à chancelaria papal, pelos ricos comerciantes de vários
países, para ser revendidas com muito lucro. [Mosheim, III, 95, 96]
14. Dirigido à própria Babilônia.
fruto do desejo da tua alma (RC) — Gr., “seus amadurecidos
frutos outonais da concupiscência (ardente desejo) de sua alma.”
coisas gostosas (RC) — “comidas suntuosas.”
excelentes (RC) — esplendor de roupagem e de bagagem.
se foram de ti — em nenhum manuscrito: A, B, C, a Vulgata, a
Siríaca e a Cóptica dizem: “pereceram.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 211
não mais as acharás (RC) — A, C, a Vulgata e a Siríaca leem: “…
acharão;” sendo o sentido, “não se acharão mais;” não existirão mais.
15. destas coisas — que se acabam de mencionar (Ap_18:12-13).
se enriqueceram — O grego acrescenta “da parte dela:”
comercializaram mediante o visto bom da meretriz.
pelo temor — (comp. Ap_18:10.)
16. e — Assim a Vulgata e Andréas; mas A, B, C, omitem a
conjunção.
pedras … pérolas — Gr., “pedra … pérola”. B e Andréas dizem
“pérolas;” mas A e C, “pérola.”
17. piloto — Gr., “piloto.”
todo o que navega em naus — A, C, a Vulgata, a Siríaca leem,
“todo aquele que navega a alguma parte” (B tem “… ao lugar”): todo
viajante. Os navios iam repletas de peregrinos para vários santuários, de
modo que num só mês (1300 d.C.) 200.000 peregrinos foram contados
em Roma [D’Aubigne, Histoire de la Reformation]: uma fonte de lucro,
não só para a sede papal, mas também para os navais, comerciantes,
pilotos, etc. Estes não se restringem literalmente aos “navais” etc., mas
também que se refere, em sentido místico, a todos os que participam do
tráfico espiritual do cristianismo apóstata.
18. vendo — Gr., horontes. Mas A, B, C e Andréas leem, gr.,
blepontes, “olhando a.” Gr., blepo, deve usar os olhos, para ver; ou ato
de ver sem o pensamento do objeto visto. Gr., horao, refere-se a coisa
vista ou apresentada perante os olhos [Tittmann].
fumaça — Assim B e C, mas A lê “lugar de seu incêndio.”
Que cidade se compara à grande cidade? — Veja-se a jactância
similar referente à besta, Ap_13:4: tão parecidas assim são a meretriz e a
besta. Contraste-a atribuição deste louvor a Deus, a quem somente é
devida por Seus servos (Êx_15:11). Martial diz de Roma: “Nada se
iguala a ela;” e Ataneo: “Ela é o epítome do mundo.”
19. navios — A, B, e C leem “os navios:” seus próprios.
opulência — Seus tesouros custosos.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 212
20. vós, santos, apóstolos — A, B, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica
e Andréas: “vós os santos e os apóstolos …”
julgou — Gr., “julgou seu juízo sobre (lit., exigindo-o a) ela.” “Há
mais alegria no céu pela derrota da meretriz que pela das duas bestas.
Porque o mais grave de todos os pecados é o pecado daqueles que
conhecem a palavra da graça de Deus e não a guardam. A
mundanalidade da Igreja é a mais mundana de toda mundanalidade.
Portanto, a Babilônia do Apocalipse tem não só os pecados dos israelitas,
mas também os pecados dos pagãos; e João espraia-se mais sobre as
abominações e juízos da meretriz que sobre os da besta. O termo
meretriz descreve o caráter essencialmente falso da Igreja. Ela retém a
forma de mulher, não toma a forma de besta: tem a forma da piedade,
mas nega o poder da piedade. Seu Senhor e Marido como direito, Cristo
Jeová, e as alegrias e bens de sua casa já não são o sumo bem dela, mas
sim corre após as vãs coisas visíveis do mundo em seus múltiplos forma.
A forma mais plena e perniciosa de sua fornicação é que onde a Igreja
quer ser ela mesma um poder mundano, usa da política e da diplomacia,
utiliza os meios profanos para fins santos, estende seu domínio com a
espada e o dinheiro, encanta os homens com o ritualismo sensual, faz-se
a “diretora das cerimônias” perante os dignitários do mundo, lisonjeia ao
povo e ao príncipe, e como Israel, ajuda a um império mundial contra as
ameaças e perigos da parte de outro.” [Auberlen]. O juízo, pois, começa
com a meretriz, como em privilégios a casa de Deus.
21. um anjo — Um no grego é numeral, não o artigo.
pedra — Comp. o juízo sobre as hostes egípcias no mar Vermelho,
Êx_15:5, Êx_15:10; Ne_9:11, e a condenação predita de Babilônia,
império mundial, Jr_51:63-64. Este versículo demonstra que esta
profecia se entende como sendo ainda de cumprimento futuro.
22. tocadores de flautas — Músicos, pintores e escultores
contaminaram sua arte para prestar fascinação ao culto sensual do
cristianismo corrupto.
artífice — artesão.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 213
23. Que contraste tão precioso apresenta-se com relação à cidade de
Deus, em (Ap_22:5), “Não têm necessidade de luz de tocha (igual a
Babilônia já não terá mais a luz de tocha, mas em ampla e diferente
razão), porque o Senhor Deus os iluminará”!
luz de candeia — Traduza-se como o grego, “lâmpada.”
noivo … noiva — “Noivo, noiva …” Contraste-a cidade celestial,
com seu Noivo, a Noiva, as bodas (Ap_19:7, Ap_19:9; Ap_21:2,
Ap_21:9; Is_62:4-5).
teus mercadores — Assim dizem as melhores autoridades; mas A
omite o artigo, o que daria a tradução: “Os magnatas … eram seus
mercadores.”
feitiçaria — Gr., feitiçaria.
24. Palavras usadas por Cristo (Mt_23:35) com relação à Jerusalém
apóstata, o que comprova que não só a cidade literal de Roma (principal
representativa da apostasia), mas sim o TODO da Igreja infiel tanto do
Antigo Testamento como do Novo, compreende-se por Babilônia a
meretriz; deste modo como a Igreja inteira (de ambos os Testamentos) é
o que significa “a mulher” (Ap_12:1). Quanto à cidade literal, Aringhus
em Bengel diz que a Roma pagã foi o matadouro geral para as ovelhas
de Jesus. Fred Seyler, em Bengel, calcula que a Roma papal, entre os
anos 1540 e 1580 d.C. matou mais de 900.000 protestantes.
Três são as razões que se dão da queda da meretriz: (1) A grandeza
mundana de seus comerciantes, que se devia a seu ímpio negócio em
coisas espirituais. (2) Suas feitiçarias e imposturas, nas coisas que o
falso profeta que serve à besta em sua última forma a excederá;
“feiticeiros” (Ap_21:8; 22:15), especialmente mencionados entre os
condenados ao lago de fogo. (3) Sua perseguição dos profetas (do
Antigo Testamento) e os santos (do Novo).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 214
Apocalipse 19

Vv. 1-21. Ação de graças da igreja no céu pelo juízo sobre a


meretriz. As bodas do Cordeiro: a preparação da noiva. João é proibido
adorar o anjo. O Senhor dos Exércitos sai à guerra: a besta e o falso
profeta lançados no lago de fogo; os reis e seus seguidores mortos pela
espada da boca de Cristo.
1. Como no caso da abertura da profecia (Ap_4:8; Ap_5:9, etc.);
assim agora no término de um dos grandes eventos vistos em visão, o
juízo da meretriz (descrito em Apocalipse 18), há um cântico de louvor a
Deus no céu: comp. Ap_7:10., rumo à clausura dos selos, e Ap_11:15-
18, à clausura das trombetas: Ap_15:3, à vitória dos santos sobre a besta.
uma como grande voz — A, B, C, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica
e Andréas dizem, “como se fosse uma grande voz.” Que contraste com
as lamentações do Cap. 18! Comp. Jr_51:48. A grande manifestação do
poder de Deus ao destruir a Babilônia evoca a grande voz de louvor no
céu.
Aleluia — Heb., “Louvem a JAH,” ou “a Jeová:” usado aqui pela
primeira vez no Apocalipse, pelo que infere Elliott que os judeus têm um
papel importante nesta ação de graças. Jah não é a contração de Jeová,
visto que ocorre às vezes conjuntamente com este. Significa “Aquele que
é”, enquanto que Jeová significa, “Aquele que é, era e será.” Denota o
socorro de Deus na experiência PRESENTE; de modo que “Aleluia” —
diz Kimchi em Bengel — se acha primeiro naqueles salmos que tratam
da destruição dos ímpios. “Aleluia” ocorre quatro vezes nesta passagem.
Veja-se Sl_149:4-9, evidentemente um paralelo, e com efeito idêntico
em muitas das frases, assim como na ideia geral. Israel, em especial, se
unirá no aleluia, quando acabarem suas guerras e for destruído seu
inimigo.
A salvação — Gr., “a salvação … a glória … o poder.” A versão
cóptica acrescenta “e a honra.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 215
são do nosso Deus — Andréas lê: “ao Senhor Deus nosso”; mas A,
B, C e a Cóptica dizem: “(É) de nosso Deus,” isto é, pertence-lhe.
2. corrompia — Gr., “corrompia;” ação continuativa. “Em vez de
impedir e fazer minguar, ela promoveu a vida pecaminosa do mundo
com sua própria mundanalidade, permitindo que o sal perdesse seu
sabor.” [Auberlen.]
vingou — Gr., “exigiu em retribuição.” Uma aplicação particular
do princípio (Gn_9:5).
sangue dos seus servos — derramado literalmente pela Igreja
adulterina do Antigo Testamento e pela apóstata do Novo; também
virtual, embora não literalmente, por todos os que, chamados cristãos
aborrecem a seu irmão, ou não amam os irmãos em Cristo, que se
esquivam da ignomínia da cruz, e carecem de caridade para com aqueles
que a levam.
3. Segunda vez — Gr., “pela segunda vez.”
sobe — Gr., “sobe.”
pelos séculos dos séculos — Gr., “até os séculos dos séculos.”
4. os quatro seres viventes — “os quatro seres animados,” ou
viventes.
se acha sentado — O grego permite a tradução: “está sentado.”
5. do trono — Gr., “do trono”, na B, C.
Dai louvores ao nosso Deus — Comp. o solene ato de louvor dos
levitas, 1Cr_16:36; 1Cr_23:5, especialmente quando a casa de Deus se
enchia da glória divina (2Cr_5:13).
os pequenos e os grandes — A, B, C, a Vulgata, a Cóptica, a
Siríaca omitem “assim.” Traduza-se como o grego: “os pequenos e os
grandes.”
6. muitas águas — Contraste as “muitas águas” onde está
assentada a meretriz (Ap_17:1). Este versículo é a resposta corajosa a
vibrante aclamação “Aleluia! Louvai ao nosso Deus.” (Ap_19:4-5).
Todo-Poderoso — Gr., “o Todo-Poderoso.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 216
reina — uma vez por todas. Seu reino é um fato já estabelecido.
Babilônia, a meretriz, era um grande impedimento para que Seu reino
não fosse reconhecido. Sua derrota agora abre o caminho para o advento
dEle para reinar; portanto não só Roma mas também todo o cristianismo,
até onde seja carnal e traia a Cristo perante o mundo, compreende-se no
termo “meretriz.” A besta assim que se apresentar, “irá à perdição:”
portanto se considera profeticamente que Cristo já reina, porque segue
Sua vinda imediatamente depois do juízo da meretriz.
7. demos-lhe — Assim B e Andréas; mas A diz: “Dar-lhe-emos.”
glória — Gr., “a glória.”
são chegadas as bodas do Cordeiro — O cumprimento pleno e
final dá-se em Ap_21:2-9 etc. Previamente devem intervir a derrota da
besta, etc., na vinda do Senhor, a atadura de Satanás, o reino milenial, a
libertação de Satanás, e sua última derrota, assim como o juízo geral. A
eleita Igreja, a Noiva celestial, imediatamente depois da destruição da
meretriz, é transfigurada com a vinda do Senhor, e une-se a Ele em Seu
triunfo sobre a besta. Sobre o emblema do Noivo e da Noiva, veja-se
Mt_22:2; Mt_25:6, Mt_25:10; 2Co_11:2. A perfeita união com Ele em
Sua santidade, alegria, glória e reino, incluem-se no símbolo do
“casamento”; compare-se Cantares de Salomão. Além da Noiva
celestial, a Igreja ressuscitada, transfigurada e trasladada, que reina
sobre a terra com Cristo, está também a Noiva terrestre, Israel, na carne,
nunca jamais divorciada, embora por um tempo separada de seu marido
divino, que voltará a unir-se ao Senhor, e será a Igreja mãe da terra
milenial, cristianizada por ela. Nota: devemos restringir, como faz a
Bíblia, a linguagem sugerida pelo amor marital à Noiva, a Igreja como
um todo, e não aplicá-lo a indivíduos em nossa relação com Cristo, como
o faz Roma com suas monjas. Individualmente, os crentes são chamados,
com efeito, hóspedes; coletivamente, eles constituem a Noiva. A
meretriz divide seus afetos entre muitos amantes; a noiva dá os seus
exclusivamente a Cristo.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 217
8. lhe foi dado — Embora num sentido ela “se preparou,” tendo-se
vestido de “veste nupcial” pela obra do Espírito, entretanto, no sentido
mais pleno, não é ela, mas sim o Senhor quem a veste, “concedendo-lhe
que se vista de linho fino.” É Ele que, dando-Se por ela, apresenta-a a Si
mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga nem coisa
semelhante. Ele é quem a santifica, naturalmente vil e sem beleza, com a
bacia de bronze da água pela palavra, e a ela sua própria, beleza, que
assim deve ser dela.
resplandecente e puro — A e B leem assim: “brilhante e puro:” ao
mesmo tempo esplendoroso e imaculado, como é a noiva mesma.
atos de justiça — Gr., “as justiças:” em sentido distributivo. Cada
santo deve ter esta justiça: não meramente justificado, como se a justiça
pertencesse à Igreja no agregado; os santos juntos têm justiças, ou seja,
cada santo quando crê é considerado como o “Senhor nossa justiça”,
sendo suas vestes embranquecidas no sangue do Cordeiro. A justiça dos
santos não é, como declara Alford erroneamente, inerente, mas sim é
imputada: se fosse de outra maneira, Cristo simplesmente estaria
habilitando o pecador para que se justificasse a si mesmo. Rm_5:18 é
decisivo sobre este particular. Comp. Art. IX., Igreja da Inglaterra. A
justificação dada já aos santos é título e em possessão invisível, é-lhes
DADO agora de maneira manifesta: caminham já abertamente com
Cristo com vestiduras brancas. A esta última, antes que a sua
justificação inicial na terra refere-se o texto aqui. Sua justificação diante
do mundo apóstata, que os tinha perseguido, contrasta-se com o juízo e a
condenação da meretriz. “Visto que a meretriz caiu, a mulher triunfa.”
[Auberlen]. Contraste-se com o linho fino e puro (que indica a
simplicidade e a pureza) da noiva com a áspera ornamentação da
meretriz. Babilônia, a Igreja apóstata, é a antítese da nova Jerusalém, a
transfigurada Igreja de Deus. A mulher (Ap_12:1-6), a meretriz
(Ap_17:1-7), a noiva (Ap_19:1-10), são os três aspectos principais da
Igreja.
9. me falou — Deus por seu anjo me disse.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 218
são chamados — de uma maneira efetiva, não meramente externa.
É o que parece expressar a preposição grega: não meramente convidados
a (gr., epi), mas sim chamados dentro (gr., eis) a participar; comp.
1Co_1:9.
à ceia — A ceia das bodas; tipificada pela ceia do Senhor.
verdadeiras — Gr., “genuínas;” ditos verazes que com toda
segurança serão cumpridos; quer dizer, tudo o até aqui revelado.
10. Prostrei-me ante os seus pés — Gr., “Caí diante …” Do
intento de João de adorar o anjo, que se alude aqui, como em Ap_22:8,
ao lhe ser revelada a glória da nova Jerusalém, é o impulso involuntário
da alegria de adorar por uma esperança tão preciosa. Forma um marcado
contraste com a triste maravilha com que tinha contemplado a Igreja em
sua apostasia adulterina (Ap_17:6). Exemplifica as tendências corruptas
de nossa natureza caída, aquele que até João, um apóstolo, tivesse quase
caído na “humildade voluntária e a adoração de anjos,” contra a qual
Paulo nos adverte.
o testemunho de Jesus — (Nota, Ap_12:17.)
de Jesus — isto é, com relação a Jesus.
é o espírito da profecia — É o mesmo resultado do espírito da
profecia tanto em ti como em mim mesmo. Nós, os anjos, como vós os
apóstolos, temos o testemunho de (que levar respeito a) Jesus pela
operação de um e o mesmo Espírito, que nos capacita para lhes dar estas
revelações, e a vós para as escrever; portanto, somos conservos; não sou
eu vosso senhor para ser adorado por vós. Comp. Ap_22:9, “Sou servo
contigo e com teus irmãos, os profetas;” de onde se pode explicar a
frase, “PORQUE o testemunho … etc.” para dar a razão por que
acrescentar, “E servo com teus irmãos que têm o testemunho de Jesus.”
Quero dizer, dos profetas; “porque é de Jesus que seus irmãos, os
profetas, testificam pelo Espírito que há neles.” Uma clara condenação
da invocação romanista dos santos, como se estes fossem nossos
superiores, para que os adorássemos.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 219
11. e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro — Idêntico a Ap_6:2.
Aqui como ali sai “vencendo e para vencer.” Comp. o jumentinho de
asna sobre o qual entrou em Jerusalém. O cavalo era usado para a
guerra: e aqui sai a guerrear com a besta. O jumentinho é para a paz. Sua
entrada em Jerusalém (Mt_21:1-7) sobre um jumentinho era o penhor de
Seu reino em Jerusalém sobre a terra, como o Príncipe da Paz, quando
todos os poderes hostis tenham sido derrotados. Quando a segurança do
império mundial, e as aflições do povo de Deus tenham alcançado a
cúspide, o Senhor Jesus aparecerá visivelmente do céu para pôr fim a
todo o curso do mundo, e estabelecer Seu reino de glória. Vem para
julgar com vingança o poder mundial, e para trazer para a Igreja a
redenção, glorificação, e domínio sobre o mundo. Faça-se distinção entre
esta vinda (Mt_24:27, Mt_24:29, Mt_24:37, Mt_24:39, gr., parousia) e o
fim, ou juízo final (Mt_25:31; 1Co_15:23). Poderosos fenômenos
naturais acompanharão seu advento.
12. Identifica-o como o Filho do homem similarmente descrito
(Ap_1:14).
diademas — não grinaldas, mas sim coroas reais, como REI DOS
REIS. As diademas de Cristo compreende todas as diademas da terra e
dos poderes celestiais também. Contraste a tiara do Papa composta de
três diademas. Veja-se também o chifre pequeno (o anticristo), que
vence aos três chifres, ou reinos, Dn_7:8, Dn_7:24 (Quaere, o papado?
ou alguns três reinos que sucedem o papado, o mesmo que como reino
temporal, formou-se primeiro de três reinos, o exarcado da Ravena, o
reino dos lombardos, e o estado de Roma, obtidos pelo Papa Zacarias e
Estêvão II, de Pepino, o usurpador do domínio francês). Também, as sete
coroas (diademas) nas sete cabeças do dragão (Ap_12:3), e as dez
diademas nas dez cabeças da besta. Estes usurpadores pretendem as
diademas que pertencem a Cristo somente.
tem um nome escrito — B e a Siríaca inserem, “Tinha nomes
escritos e um nome escrito …” significando que o nome de cada domínio
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 220
estava escrito na diadema correspondente. Mas A, a Vulgata, Orígenes e
Cipriano omitem estas palavras, como nossa versão.
ninguém conhece, senão ele mesmo — Jz_13:18; 1Co_2:9,
1Co_2:11; 1Jo_3:2). O mesmo é dito do “nome novo” dos crentes. Neste
como em qualquer outro respeito, o discípulo chega a ser como seu
Senhor. O “nome novo” do Senhor mesmo há de ser deles, e de estar
“em suas frontes;” pelo que temos que inferir que seu nome até agora
não conhecido também está escrito em sua fronte; como o sumo
sacerdote tinha inscritas “Santidade ao Senhor” em sua mitra sobre a
fronte. João o viu “escrito”, mas não sabia seu significado. É, pois, um
nome que se entenderá em todo seu significado glorioso só quando a
união dos santos com Ele e o conjunto, triunfo e reino dEle e deles,
sejam perfeitamente manifestados na final consumação.
13. manto tinto de sangue — Is_63:2 aludido aqui, e em
Ap_19:15. Ali o sangue não é dEle, mas de Seus inimigos. Assim aqui o
sangue sobre Sua roupa, que nos lembra Seu próprio sangue derramado
a favor até dos ímpios que o pisoteiam, é uma admoestação do
derramamento do sangue deles em justa retribuição. Ele derrama o
sangue, não dos piedosos, como fazem a meretriz e a besta, mas sim dos
ímpios sanguinários inclusive estas duas.
o Verbo de Deus — o logos, aquele que fez o mundo é o mesmo
que sob o mesmo caráter e atributos o renovará. Seu título, Filho de
Deus, é aplicável, em sentido inferior, a Seu povo também; mas o
“Verbo de Deus” indica Sua incomunicável divindade, unida à Sua
humanidade, que Ele então manifestará na glória. “A Noiva não teme o
Noivo; seu amor lança fora o temor. Ela O recebe com alegria. Não pode
ser feliz senão ao Seu lado. O Cordeiro (Ap_19:9, o aspecto de Cristo
para Seu povo em Sua vinda) é o símbolo de Cristo em Sua ternura.
Quem pode ter medo de um cordeiro? Ainda um garotinho, longe de lhe
ter medo, deseja acariciá-lo. Não há nada que nos faça temer a Deus
senão o pecado, e Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo. Que terrível contraste haverá no aspecto que terá para com os
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 221
Seus inimigos! Não como o Noivo, nem como o Cordeiro, mas sim
como o juiz (vingador) e guerreiro tingido no sangue de Seus inimigos.”
14. exércitos que há no céu — Comp. “os freios dos cavalos,”
Ap_14:20; os santos glorificados, aos quais Deus “trará com” Cristo em
Seu advento; comp. Ap_17:14, “os que estão com ele, chamados, eleitos,
fiéis;” como também “seus anjos poderosos.”
branco e puro — A, B, a Vulgata, a Siríaca e Cipriano omitem
“e.”
15. da sua boca … espada — (Ap_1:16; Ap_2:12, 16.) Aqui seu
poder vingador (2Ts_2:8) “matará com o sopro de sua boca” (Is_11:4,
ao que se alude aqui); não em Sua eficácia de reprovar e converter
(Ef_6:17; Hb_4:12-13, onde também se inclui a acuidade judicial de Sua
palavra, qual espada). O Pai delega o juízo ao Filho.
ele mesmo as regerá — O ele é enfático; Ele e nenhum outro, em
contraste com os usurpadores que governaram imperfeitamente o mundo.
“Regerá,” lit., pastoreará; mas aqui no sentido punitivo. Aquele que os
teria cuidado com a vara pastoral e com o cetro dourado de Seu amor os
fará em pedaços, como rebeldes refratários, com uma “vara de ferro.”
pisa o lagar (Is_63:3).
do furor e da ira (RC) — Assim Andréas; mas A, B, a Vulgata, a
Cóptica e Orígenes leem: “com a ferocidade (indignação fervendo) da
ira”.
Todo-Poderoso — O furor da ira de Cristo contra Seus inimigos
será executado com os recursos da onipotência.
16. “Seu nome escrito sobre sua vestimenta e sobre sua coxa”,
assim diz-se porque numa figura equestre a vestimenta cai do quadril. A
coxa simboliza a humanidade de Cristo, como vindo, segundo a carne,
dos lombos de Davi, e aparecendo agora como o glorificado “Filho do
homem.” Por outro lado, seu incomunicável nome divino, “que ninguém
pode conhecer,” está sobre Sua cabeça (Ap_19:12). [Menochius].
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 222
REI DOS REIS — compare-se Ap_17:14 em contraste com
Ap_19:17, sendo a besta numa pretendida usurpação um rei dos reis,
entregando-lhe os dez reis os seus domínios.
17. um anjo — Um é numeral no grego.
no sol — de modo de estar conspícuo à vista de todo o mundo.
a todas as aves — (Ez_39:17-20.)
e ajuntai-vos — A, B, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica e Andréas
dizem: “sede congregadas,” e omitem “e.”
do grande Deus — A, B, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica e Andréas
dizem: “a grande ceia de Deus.”
18. Contraste-se com esta “ceia” (Ap_19:17-18), com as bodas do
Cordeiro (Ap_19:7).
comandantes — Gr., “quiliarcas,” capitães de milhares, os
principais. Os “reis” são “os dez” que dão seu poder à besta.”
livres e servos (RC) — especificados em Ap_13:16 como
“recebendo o sinal da besta.” Carnes no plural, e repetida cinco vezes
neste versículo, sublinha a crassa carnalidade dos seguidores da besta.
Outra vez, a entrega de sua carne às aves é uma justa retribuição pelo
não permitir eles o enterro dos corpos das testemunhas de Cristo.
19. reunidos — no Armagedom, sob a sexta taça. “Seus exércitos”:
deles segundo B e Andréas; dele, segundo A.
guerra — Assim Andréas; mas A, e B dizem “a guerra,” ou seja, a
predita (Ap_16:14; Ap_17:4).
20. e, com ela — A diz “e os com ela;” e B: “e aquele que estava
com ela, o falso profeta.”
os sinais — já mencionadas (Ap_13:14), feitas pela segunda besta
na presença da primeira. Daí segue-se que a segunda besta é idêntica ao
falso profeta. Muitos expositores interpretam a primeira besta como o
poder secular de Roma, e a segunda como o poder eclesiástico desta; e
explicam que a mudança de título para esta, da outra besta” ao de “falso
profeta”, deve-se a que pelo juízo sobre a meretriz o poder eclesiástico já
não retém nada de seu caráter anterior salvo o poder de enganar. Parece-
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 223
me improvável que o falso profeta deva ser o sucessor das pretensões
espirituais do papado; enquanto que a besta em sua última forma como o
anticristo plenamente revelado, será o representativo secular e a
encarnação do quarto império mundial, Roma, em sua última forma de
oposição intensificada a Deus. Veja-se com esta profecia, Ez_38:1–
39:29; Dn_2:34-35, Dn_2:44; Dn_11:44-45; Dn_12:1; Jl_3:9-17;
Zacarias 12; 13; 14. Daniel (Dn_7:8) não faz menção da segunda besta,
nem do falso profeta, mas menciona que “o chifre pequeno” tem “olhos
de homem,” isto é, cultura sutil e intelectual: este não é um característico
da primeira besta do cap. 13, mas está expresso pelo “falso profeta”
apocalíptico, a encarnação do conhecimento profano do homem, e a
sutileza da antiga serpente. A primeira besta é um poder político; a
segunda é um poder espiritual — o poder das ideias. Mas ambas são
bestas, a sabedoria mundana anticristã a serviço do poder mundano
anticristão. O dragão é tanto leão como serpente. Como a primeira lei do
divino governo moral é que “o juízo deve começar pela casa de Deus,” e
ser levado a cabo sobre a meretriz, a Igreja infiel, pelo poder mundial
com o qual ela havia cometido o adultério espiritual, assim uma segunda
lei é que o poder mundial depois de servir como instrumento de Deus
para castigo, é também castigado. Como a meretriz é castigada pela besta
e os dez reis, assim estes são destruídos pelo próprio Senhor ao vir em
pessoa. Igualmente Sofonias 1 comparado com Sofonias 2. E Jeremias,
depois de denunciar os juízos que vinham sobre Jerusalém da parte de
Babilônia, termina denunciando a própria condenação de Babilônia.
Entre o juízo sobre a meretriz e a destruição da besta pelo Senhor, etc.,
mediará aquele período quando a mundanalidade alcançará seu cúmulo,
e o triunfo anticristão em sua curta duração de três dias e meio, durante
os quais as duas testemunhas jazem mortas. Então a Igreja estará apta
para sua glorificação, e o mundo anticristão para sua destruição. O
mundo na cúspide do desenvolvimento de seu poder material e espiritual,
não é mais que um cadáver a cujo redor se juntam os abutres. É
característico que o anticristo e seus reis, em sua cegueira, imaginem que
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 224
podem guerrear contra o Rei dos céus com exércitos terrestres; eis aqui a
extrema insensatez da confusão babilônica. A simples aparição do
Senhor, sem encontro algum de forças opositoras, demonstra ao
anticristo sua futilidade; veja-se o efeito da aparição de Jesus até em Sua
humilhação, Jo_18:6. [Auberlen].
receberam — Ato inicial, de decisão, de uma vez por todas.
os adoradores — os que adoravam, em seu culto habitual, não um
ato de uma vez por todas, como implica “receberam,” mas aqueles que o
faziam no hábito de “adoração.”
lago de fogo — Gr., “o lago de fogo,” o Gehenna. Ali é lançado
Satanás subsequentemente, no fim do assalto que tem lugar depois do
milênio (Ap_20:10). Então a Morte e o Inferno (o hades), assim como
todos os que no juízo geral não estiverem “escritos no livro da vida,”
serão lançados no mesmo; isto constitui “a segunda morte.”
vivos — uma morte vivente; não é o aniquilamento. “Seu verme
não morre, e seu fogo não se apaga.”
21. Os restantes — Ou seja, “os reis e seus exércitos” (Ap_19:19),
tidos juntos num todo indistintos. Uma solene confirmação do Sl_2:10.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 225
Apocalipse 20

Vv. 1-15. Satanás preso, e os primeiros santos ressuscitados


reinam com Cristo, mil anos. Satanás solto junta as nações, Gogue e
Magogue, em redor do acampamento dos santos, e é finalmente
consignado ao lago de fogo. A ressurreição geral e o último juízo.
1. A destruição dos representantes de Satanás, a besta e o falso
profeta, aos quais tinha dado seu poder, seu trono e sua autoridade, é
seguida pela atadura dele mesmo durante mil anos.
a chave do abismo — tirada já das mãos de Satanás, a quem Deus
tinha permitido usar para soltar as pragas sobre a terra; agora lhe faz
sentir o tortura que ele tinha infligido aos homens, mas sua tortura
completa não se faz até que não seja lançado “ao lago de fogo”
(Ap_20:10).
2. a antiga serpente — (Ap_12:9).
mil anos — Como sete misticamente denota a universalidade,
assim mil denota a perfeição, quer seja no bem ou no mal. [Aquinas
sobre o cap. 11]. Mil simboliza que o mundo está perfeitamente levedado
e penetrado pelo divino; visto que mil é dez, o número do mundo,
elevado à terceira potência, três sendo o número de Deus. [Auberlen].
Pode ser que denote literalmente também mil anos.
3. fechou-o — A, B, a Vulgata, a Siríaca e Andréas omitem “-o.”
pôs selo sobre ele — uma porta “sobre ele,” a porta do abismo
sobre sua cabeça. Um selo para evitar sua saída, mais seguro que aquele
que puseram para guardar a Jesus na tumba de José, e que foi quebrado
na manhã da ressurreição. A prisão de Satanás a este ponto não é
arbitrária, mas sim é a necessária consequência dos eventos (Ap_19:20);
assim como sua expulsão do céu, onde antes tinha estado acusando os
irmãos, foi o juízo legítimo que foi posto por meio da morte, ressurreição
e ascensão de Cristo (Ap_12:7-10). Satanás imaginou que tinha
derrotado a Cristo no Gólgota, e que seu poder estava seguro para
sempre, mas o Senhor na morte o venceu, e por Sua ascensão como
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 226
nosso justo Advogado lançou Satanás, o acusador, fora do céu. Deu-lhe
tempo na terra para tornar poderosas a besta e a meretriz, e logo
concentrar todo seu poderio no anticristo. O reino anticristão, seu último
esforço, sendo completamente destruído pela aparição de Cristo, acabou
seu poder na terra. Ele tinha pensado destruir o povo de Deus na terra
pelas perseguições anticristãs (assim como imaginou previamente
destruir a Cristo); mas a Igreja não é destruída da terra, antes é exaltada
para reinar sobre a terra, e o próprio Satanás fica encerrado por mil anos
no “abismo” (gr., “fossa sem fundo”), o cárcere preparatório para “o lago
de fogo” seu destino final. Como pela ascensão de Cristo, ele tinha
deixado de ser um acusador no céu, assim durante o milênio deixa de ser
o sedutor e o perseguidor na terra. Enquanto o diabo reinar nas trevas do
mundo, vivemos numa atmosfera impregnada de elementos mortíferos.
Uma poderosa purificação do ar será feita pela vinda de Cristo. Embora
o pecado não será desfeito por completo — pois os homens estarão ainda
na carne, Is_65:20 — o pecado já não será um poder universal, pois a
carne já não se verá, seduzida por Satanás. Ele já não será, como é agora,
“o deus e príncipe do mundo” — nem jazerá mais “o mundo no iníquo”
— a carnalidade deverá ser cada vez mais isolada e finalmente derrotada.
Cristo reinará com Seus santos transfigurados sobre os homens em carne.
[Auberlen]. Isto será a manifestação “do mundo vindouro,” que já está
estabelecido invisivelmente nos santos em meio de “este mundo”
(2Co_4:4; Hb_2:5; Hb_5:5). Os rabinos judaicos pensavam que como o
mundo foi criado em seis dias, e Deus descansou no sétimo, assim
haveria seis períodos mileniais, seguidos por um milênio sabático. De
cada sete anos o sétimo é o ano de remissão; assim dos sete mil anos do
mundo, o sétimo milênio será o da remissão. Uma tradição da casa de
Elias, ano 200, diz que o mundo tem que durar 6.000 anos: duas mil
antes da lei, duas mil sob a lei, e dois mil sob o Messias. Veja-se nota e
lição marginal, Hb_4:9; Ap_14:13. Come, Justino Mártir, Irineu e
Cipriano, entre os primeiros pais, todos defendiam a doutrina do reino
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 227
milenial sobre a terra; não foi mas sim quando as ideias milenárias
degeneraram na tosca carnalidade, que esta doutrina foi abandonada.
para que não mais enganasse — Assim A, mas B diz: “porque
não engana.”
4, 5. sentaram-se — os doze apóstolos, e os santos em geral.
aos quais foi dada autoridade de julgar — (Nota, Dn_7:22). O
ofício de julgar lhes foi dado. Embora num sentido devem estar perante o
trono do juízo de Cristo, “não vêm à condenação, mas sim já passaram
da morte para a vida.”
almas — Este termo se usou como razão para negar a literalidade
da primeira ressurreição, como se fosse esta a ressurreição espiritual das
almas dos crentes nesta vida; a vida e o reino sendo da alma nesta vida
levantada da morte do pecado mediante a fé vivificadora. Mas “almas”
expressa o estado imaterial deles (Ap_6:9) tal como os viu João no
princípio; “e viveram …” denota sua volta à vida de novo no corpo, de
modo que fossem visíveis, como a frase (Ap_20:5) “esta é a primeira
ressurreição” prova; porque se for verdade que os demais mortos não
reviveram (de novo) até …” refere-se à ressurreição geral corporal,
então também deve referir-se a primeira ressurreição” ao corpo. Isto
também concorda com 1Co_15:23, “Os que são de Cristo na sua vinda.”
Veja-se Sl_49:11-15. Por Ap_6:9 eu infiro que “almas” usa-se aqui no
sentido estrito de espíritos desincorporados vistos primeiro por João;
embora sem dúvida “almas” usa-se com frequência para denotar pessoas,
e até corpos mortos.
decapitados — lit., “os mortos pelo machado;” um castigo romano,
embora a crucificação, o ser rasgados pelos leões e a fogueira, eram os
modos mais comuns de execução. A guilhotina da França revolucionária
continuou ainda na França imperial, e é a renovação de um modo de
pena capital da pagã Roma imperial. Paulo foi decapitado, e sem dúvida
participará da primeira ressurreição, de acordo com sua oração de que
“chegasse à ressurreição dentre outros dos mortos” (gr., exanastasis). Os
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 228
atos anteriores podem explicar a especificação desta classe particular de
castigo.
por causa do … por causa do — Gr., “a favor de”; “por causa de”.
nem tampouco — Gr., “os quais tampouco …” Proeminentes entre
esta classe (os decapitados) são os que não adoraram a besta. Deste
modo em Ap_1:7, o grego, “e os quais,” ou “tais como” particulariza
proeminentemente entre a classe geral os que seguem na descrição.
[Tregelles]. O alcance da primeira ressurreição não se menciona aqui.
Em 1Co_15:23, 1Co_15:51; 1Ts_4:14 achamos que todos os “em Cristo”
participarão dela. João mesmo não foi “decapitado,” mas quem duvida
de que ele não participe da primeira ressurreição? Os mártires são postos
em primeiro lugar, porque se assemelham mais a Jesus em Seus
sofrimentos e morte, portanto estão mais próximos a Ele na vida e reino
deles; porque Cristo indiretamente afirma que há postos por graus e
lugares de honra, relativos, em Seu reino, sendo os mais altos para os
que bebem a taça dos padecimentos dEle. Em segunda ordem estarão os
que não se dobraram ao poder mundano, mas sim esperaram antes as
coisas invisíveis e eternas.
reinaram com Cristo — sobre a terra.
fronte … mão — Gr., “a fronte … a mão.”
5. Mas (RC) — B, a Cóptica e Andréas dizem: “E.” A e a Vulgata
omitem.
não reviveram — Gr., “Não viveram outra vez.” A, B, a Vulgata, a
Cóptica e Andréas omitem “outra vez.” Viveram usa-se para viveram
outra vez, como em Ap_2:8. João os viu não só restaurados à vida, mas
também no ato de ressuscitar [Bengel].
primeira ressurreição — “a ressurreição dos justos.” A terra não
está ainda transfigurada, e não pode ser, pois, a devida localidade para a
Igreja transfigurada; mas do céu os santos transfigurados com Cristo
governam a terra, porquanto existe uma comunhão muito mais livre das
Igrejas, tanto celestial como terrestre (um tipo de tal estado pode ser
visto nos quarenta dias do Salvador ressuscitado, durante os quais
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 229
aparecia a Seus discípulos), e eles não conhecem alegria maior que a de
levar a seus irmãos da terra à mesma salvação e glória que eles mesmos
desfrutam. O reino milenial na terra não descansa sobre uma passagem
isolada do Apocalipse, mas sim toda a profecia do Antigo Testamento
segue o mesmo critério (Comp. Is_4:3; Is_11:9; Is_35:8). Jesus,
enquanto que se opunha às ideias materiais do reino de Deus
prevalecentes em Seu tempo, não contradiz, antes confirma a tese do
Antigo Testamento a respeito de um vindouro reino judaico terrestre, de
glória: começando de dentro e estendendo-se agora espiritualmente, o
reino de Deus se manifestará externamente na volta de Cristo à terra. O
papado é uma falsa antecipação do reino durante o período eclesio-
histórico. “Quando o cristianismo chegou a ser um poder mundial sob
Constantino, a esperança do futuro se debilitou com a alegria do êxito
presente.” [Bengel]. Fazendo-se meretriz, a Igreja deixou de ser a esposa
que saiu ao encontro do marido; por esta razão desapareceram as
esperanças milenárias. Os direitos que Roma usurpou como meretriz
serão exercidos em santidade pela Noiva. São “reis” porque são
“sacerdotes” (Ap_20:6; Ap_1:6; Ap_5:10); seu sacerdócio para Deus e
Cristo (Ap_7:15) é a base de seu poder real em relação aos homens. Os
homens são os súditos voluntários dos transfigurados reis sacerdotes, no
dia do senhorio do Senhor. O poder deles é o de atração, ganhando o
coração, e não sendo transgredidos pelo diabo e a besta. A Igreja e o
Estado então serão coexistentes. O homem criado “para ter domínio
sobre a terra” há de alegrar-se em seu mundo com alegria pura e santa.
João nos diz que, em vez do diabo, a transfigurada Igreja de Cristo
governará o mundo; Daniel nos diz que, em vez da besta pagã, o santo
Israel o fará [Auberlen].
6. Bem-aventurado — (comp. Ap_14:13; Ap_19:9).
a segunda morte não tem autoridade — assim como não tem
nenhuma em Cristo, agora ressuscitado.
sacerdotes de Deus — Destruído o cristianismo apóstata e
trasladada a Igreja fiel na vinda de Cristo, ficarão Israel e o mundo
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 230
incrédulo, que constituirão a maioria dos homens então vivos, os que
porquanto não tiveram um próximo contato com o evangelho, não terão
incorrido na culpa de havê-lo rejeitado. Estes serão os sujeitos de uma
conversão geral (Ap_11:15). “O véu” será tirado a Israel primeiro,
depois a “todas as nações.” Os gloriosos eventos que acompanharão a
aparição de Cristo, tais como a destruição do anticristo, a transfiguração
da Igreja, e a prisão de Satanás, prepararão as nações para aceitar o
evangelho. Como se efetua agora a regeneração individual, assim então
haverá uma “regeneração” de nações. Israel, como nação, “nascerá de
uma vez — num dia.” Como a Igreja iniciou com a ascensão de Cristo,
assim o reino iniciará com Seu segundo advento. É a humilhação das
modernas nações civilizadas, aquele que as nações que aquelas mais
desprezam, ou seja, os judeus e os bárbaros não civilizados, os
descendentes negros de Cam, que pela maldição de Noé foram tão
atrasados, Cuxe e Seba: suplantá-las-ão e as ultrapassarão como centros
da história do mundo (Dt_32:21; Rm_10:19; Rm_11:20, etc.). Os judeus
são nossos mestres até nos tempos do Novo Testamento. Desde a
rejeição deles fica silenciosa a revelação. Toda a Bíblia, inclusive até o
Novo Testamento, foi escrita por judeus. Se a revelação tiver que
reiniciar-se no reino milenial, Israel convertido há de estar à cabeça da
humanidade. De um ponto de vista religioso, os judeus e gentios estão
em pé de igualdade, ambos necessitados da misericórdia; mas com
relação às instrumentalidades de Deus para estabelecer Seu reino sobre a
terra, Israel é Seu povo eleito para a execução de Seus planos. Os reis
sacerdotes israelitas na terra são o que os transfigurados reis sacerdotes
são no céu. Há uma bendita cadeia de dar e receber — Deus, Cristo, a
transfigurada Noiva ou seja a Igreja, Israel, o mundo das nações. Uma
nova época da revelação iniciará com o derramamento da plenitude do
Espírito. Ezequiel (40-48), filho de sacerdote ele mesmo, expõe o caráter
sacerdotal de Israel; Daniel o estadista, seu caráter real; Jeremias
(Jr_33:17-21), seu caráter sacerdotal assim como real. No Antigo
Testamento toda a vida nacional judaica era religiosa só numa maneira
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 231
legal externa. A Igreja neotestamentária insiste numa renovação interior,
mas deixa livres suas manifestações exteriores. Mas no reino milenial,
todas as esferas da vida serão seriamente cristianizadas de dentro para
fora. A lei cerimonial mosaica corresponde ao ofício sacerdotal de Israel;
a lei civil, a seu ofício real: a Igreja gentil adota a lei moral, e exerce o
ofício profético pela palavra que trabalha interiormente. Mas quando
estiver reavivado o ofício real e sacerdotal, então — os princípios da
Epístola aos Hebreus ficando os mesmos — também a lei cerimonial e
civil mosaica desenvolverá sua profundidade espiritual no culto divino
(comp. Mt_5:17-19).
Agora é o tempo da pregação; mas então virá o tempo da Liturgia
das almas convertidas que formarem “a grande congregação”. Então
nossos atuais governos defeituosos darão lugar a governos perfeitos,
tanto na Igreja como no estado. Enquanto que no Antigo Testamento os
judeus exclusivamente, e no Novo, os gentios também de maneira
exclusiva, desfrutam da revelação (estando em ambos os casos dividida e
separada a humanidade), no milênio os judeus e os gentios serão unidos,
e todo o organismo da humanidade sob o irmão primogênito, Israel,
caminhará à luz de Deus, e a plena vida da humanidade enfim se
realizará. A Escritura não contempla a raça humana como um agregado
de indivíduos e de nacionalidades, mas sim como um todo orgânico,
ordenado uma vez por todas nas primeiras páginas da revelação.
(Gn_9:25-27; Gn_10:1, Gn_10:5, Gn_10:18, Gn_10:25, Gn_10:32;
Dt_32:8 reconhecem o fato de que desde o começo a divisão das nações
foi feita com uma relação a Israel.). Daí nasce a importância que dá o
Antigo Testamento à Igreja, agora como sempre. Os três grandes grupos
de nações, os camitas, jafetitas e semitas, correspondem respectivamente
aos três elementos fundamentais do homem — corpo, alma e espírito. A
flor de Sem, o representativo da vida espiritual, é Israel, assim como a
flor de Israel é Aquele no qual toda a humanidade é recapitulado, ou seja
o segundo Adão (Gn_12:1-3). Assim Israel é o mediador das revelações
divinas para todos os tempos. Até a natureza e o mundo animal
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 232
participarão da bem-aventurança milenial. Conforme o pecado vá
perdendo seu poder, a decadência e a morte decrescerão. [Auberlen]. As
glórias terrestres e celestiais se unirão na dupla eleição. Israel eleito na
carne estará à cabeça das terrestres, e a escolhida Igreja espiritual, a
Noiva, das celestiais. Estas duas eleições não são meramente para o bem
dos próprios escolhidos, senão para o bem de todos aqueles aos quais
servem. A Igreja celestial é escolhida não meramente para a salvação,
mas também para reinar em amor, e administrar as bênçãos sobre todo o
mundo, como reis sacerdotes. A glória dos transfigurados santos será
sentida pelos homens na carne, com a mesma consciência da bênção que
experimentaram os três discípulos ao presenciar a glória de Jesus, de
Moisés e de Elias, no monte da Transfiguração, quando Pedro exclamou;
“É bom que estejamos aqui;” em 2Pe_1:16-18, a transfiguração é tida
como penhor da vinda de Cristo em glória. O privilégio de “nossa alta
vocação em Cristo” está limitado ao tempo atual do reino de Satanás;
quando ele estiver preso, já não haverá agrado em sofrer por Cristo, para
logo reinar com Ele (Ap_3:21; comp. Nota, 1Co_6:2). Além disso,
ninguém pode ser salvo no presente século e dentro da reunião da Igreja
cristã, que não haja de reinar também com Cristo depois, o necessário
preliminar do qual é sofrer com Cristo agora. Se deixarmos de lançar
mão à coroa, perdemos tudo, “o dom da graça tanto como a recompensa
do serviço.” [De Burgh].
7. se completarem — Gr., “concluídos.”
8. Gogue e Magogue — (Notas, Ezequiel 38 e 39. veja-se Nota
sobre Ez_38:2). Magogue é o nome geral das nações setentrionais da
posteridade de Jafé, cuja cabeça ideal é Gogue (Gn_10:2). O MS. A tem
um só artigo perante “Gogue e Magogue,” por aquele que ambos, o
príncipe e o povo, representam ter a relação mais íntima, o MS. B
erroneamente coloca o segundo artigo perante Magogue. Hiller
(Onomasticon) explica que ambos os vocábulos significam altivo,
elevado.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 233
para a peleja — Gr., “para a guerra,” em A e B; mas Andréas
omite o artigo.
9. superfície da terra — de modo de cobri-la completamente.
Talvez devemos traduzir: “… da terra (santa)”.
o acampamento dos santos … cidade querida — o acampamento
dos santos rodeia a cidade amada, Jerusalém (Eclo_24:11). Contraste-se
o “odioso” de Babilônia (Ap_18:2; Dt_32:15, LXX). A profecia de
Ezequiel referente a Gogue e Magogue (38 e 39) refere-se ao ataque
feito pelo anticristo a Israel antes do milênio; mas este ataque faz-se
depois do milênio, de modo que “Gogue e Magogue” são nomes
místicos que representam os adversários finais guiados por Satanás em
pessoa. Os Gogue e Magogue de Ezequiel vêm do norte, mas estes vêm
“dos quatro ângulos da terra.” Gogue, segundo alguns, relaciona-se com
o radical hebraico “coberto.”
de Deus (AV) — Assim B, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica e
Andréas; mas A omite “de Deus.” Até durante o milênio há uma
separação entre o céu e a terra, a humanidade transfigurada e a
humanidade em carne. Portanto, é possível que se efetue uma apostasia
no final dele. No juízo sobre esta apostasia o mundo da natureza é
destruído e renovado, como o mundo da história foi antes do reinado
milenial; só então serão realizados o novo céu e a nova terra na perfeição
final. O novo céu e a nova terra milenários não são senão umas primícias
deste estado eterno, quando as congregações superior e inferior já não
estarão separadas, relacionadas, porém no milênio e quando a nova
Jerusalém descerá do céu de Deus. A pecaminosidade hereditária será a
única influência durante o milênio, que impedirá a Igreja transfigurada
salvar a todas as almas. Quando terminar este prazo da graça, não será
sucedido por outro. Porque o que pode mover àquele no qual a glória
visível da Igreja, restringida a influência do mal, não desperte nenhum
anelo pela comunhão com o Rei da Igreja? Como a história do mundo
das nações terminou com a manifestação da Igreja em glória visível,
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 234
assim terminará a da humanidade em geral com a grande separação dos
justos e dos ímpios (Ap_20:12). [Auberlen].
10. o sedutor — Gr., “engana.”
lago de fogo — seu destino final, como “o abismo” (Ap_20:1) era
sua prisão temporária.
onde — Assim a Cóptica, mas A, B, a Vulgata e a Siríaca leem:
“onde também.”
a besta e o falso profeta (RC) — (Ap_19:20.)
de dia e de noite — figurativamente, sem intermissão (Ap_22:5),
tal como é motivada agora pela interposição da noite entre dia e dia. A
mesma frase foi usada para o estado eterno dos bem-aventurados
(Ap_4:8). Como é eterna a sorte destes, assim deve ser a miséria de
Satanás e dos perdidos. Como a besta e o falso profeta dirigiram a
conspiração anterior contra Cristo e seu povo, assim Satanás em pessoa
encabeça a última conspiração. Satanás não terá permissão de entrar
neste Paraíso recuperado, para demonstrar a perfeita segurança dos
crentes, diferente do primeiro Adão a quem Satanás pôde despojar do
Paraíso; e como Faraó no mar Vermelho, receberá nesta tentativa final
sua condenação final.
pelos séculos dos séculos — Gr., “até os séculos dos séculos.”
11. grande trono — em contraste com os “tronos” (Ap_20:4).
branco — o emblema da pureza e a justiça.
aquele que nele se assenta — O Pai. [Alford]. Melhor, o Filho, a
quem “o Pai entregou todo juízo.” Deus em Cristo, ou seja, o Pai
representado pelo Filho, é aquele perante cujo trono de juízo todos
devemos comparecer. O reino mediador do Filho há de, por fim, preparar
o reino para a aceitação do Pai, fazendo o qual, entregará o reino ao Pai,
“para que Deus seja tudo em todos,” entrando em direta comunhão com
Suas criaturas, sem a intervenção de um Mediador, pela primeira vez
depois da queda. Anteriormente a mediação profética de Cristo tinha
sido proeminente em Seu ministério terrestre, Sua mediação sacerdotal é
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 235
proeminente agora entre o primeiro e segundo adventos, e Sua mediação
real há de ser durante o milênio e o juízo geral.
fugiram a terra e o céu — A conflagração final, pois, precede o
juízo final. Este é seguido pelo novo céu e a nova terra (Apocalipse 21).
12. os mortos — “outros dos mortos” que não tinham participado
da primeira ressurreição, e os que morreram durante o milênio.
os grandes e os pequenos — Gr., “os grandes e os pequenos.” B
inverte: “os pequenos e os grandes.” Os ímpios mortos desde o tempo de
Adão até a segunda vinda de Cristo, e todos os justos e ímpios, mortos
durante o milênio e depois receberão então sua eterna porção que lhes
será atribuída. Quão piedosos foram transfigurados e reinaram com
Cristo no milênio, também estarão presentes, não por certo para receber
sua recompensa assinalada pela primeira vez (porque já o estava fazia
tempo, Jo_5:24), senão para que fosse confirmada e para que a justiça de
Deus fosse vindicada no caso tanto dos salvos como dos perdidos, na
presença do universo congregado. Comp. “É mister que TODOS nós
compareçamos …”, Rm_14:10; 2Co_5:10. Os santos tendo sido
declarados justos por Cristo pelo “livro da vida,” se sentarão como
assessores do Juiz. Comp. Mt_25:31-32, Mt_25:40, “estes meus irmãos.”
A onisciência de Deus não permitirá que o mais insignificante passe sem
ser observado, e Sua onipresença fará com que os mais poderosos
obedeçam a seus chamados. Os vivos não são mencionados
especialmente: porque estes provavelmente primeiro (antes da destruição
dos ímpios, Ap_20:9) serão transfigurados, e arrebatados com os santos
muito anteriormente transfigurados, e embora presentes para a
confirmação de sua justificação pelo Juiz, não receberão então seu estado
eterno que se lhes atribua, antes, se sentarão como assessores do Juiz.
se abriram livros — (Dn_7:10.) Os livros das memórias de Deus,
tanto dos ímpios como dos bons (Sl_56:8; Sl_139:4; Ml_3:16): a
consciência (Rm_2:15-16), a palavra de Cristo (Jo_12:48), a lei
(Gl_3:10), o conselho eterno de Deus (Sl_139:16).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 236
Livro da Vida — (Ap_3:5; Ap_13:8; Ap_21:27; Êx_32:32-33;
Sl_69:28; Dn_12:1; Fp_4:3). Além do livro geral que registra as obras de
todos, há um livro especial para os crentes em que seus nomes estão
escritos, não para registrar suas obras, senão para assentar a obra de
Cristo realizada neles e por eles. Portanto é chamado, “o Livro da Vida
do Cordeiro.” A graça eletiva os assinalou dentre a massa geral.
segundo as suas obras — Somos justificados pela fé, mas julgados
segundo (não por) nossas obras. Porque o juízo geral tem por propósito
primário a final vindicação da justiça de Deus diante de todo o mundo, a
que nesta dispensação agitada de bem e mal, embora governando na
verdade o mundo, foi pelo tempo menos manifesta. A fé é só apreciável a
Deus e ao crente (Ap_2:17); mas as obras são discerníveis a todos.
Estas, pois, devem ser a prova evidencial que decide a condição eterna
dos homens, e demonstram que a administração do juízo levado a cabo
por Deus é totalmente justa.
13. a morte e o inferno (RC) — Gr., “hades.” A identidade
essencial do corpo moribundo e ressuscitado assim se demonstra, pois o
mar e a tumba (hades) entregam seus mortos. O corpo que pecou ou que
serviu a Deus, em justa retribuição, será também o corpo que sofrerá ou
que será recompensado. O “mar” pode ter um sentido simbólico [Cluver
de Agostinho] além do literal, como em Ap_8:8; Ap_12:12; Ap_13:1;
Ap_18:17, 19: assim “morte” e “hades” são personificações (veja-se
Ap_21:1). Mas o sentido literal quase não deve ser abandonado: todas as
diferentes regiões onde os corpos e as almas dos homens estiveram,
entregaram-nos.
14. A morte e o hades, como representativos dos inimigos de Cristo
e Sua Igreja, diz-se que foram lançados no lago de fogo, para expressar a
verdade de que Cristo e Seu povo já nunca mais morrerão, nem estarão
no estado dos espíritos desincorporados.
Esta é a segunda morte — (ou seja) “o lago de fogo,” adiciona-se
em B, e Andréas. No inferno, a antiga forma da morte, que foi um dos
inimigos destruídos por Cristo, não continuará, mas uma morte muito
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 237
diferente reinará ali, “a eterna destruição de (separada de) a presença do
Senhor;” um testemunho permanente da vitória de Cristo.
15. A sorte ditosa dos justos não está mencionada aqui
especialmente, como sua ventura tinha começado antes do juízo final.
Veja-se, entretanto, Mt_25:34, Mt_25:41, Mt_25:46.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 238
Apocalipse 21

Vv. 1-27. O novo céu e a nova terra. A Nova Jerusalém que desce
do céu.
Os dois capítulos restantes descrevem o eterno e consumado reino
de Deus e dos santos na nova terra. Como o mundo das nações há de
compenetrar-se da influência divina no milênio, assim o mundo da
natureza será, não aniquilado, mas sim transfigurado universalmente no
estado eterno que o sucederá. A terra foi amaldiçoada por causa do
homem; mas é redimida pelo segundo Adão. Agora é a Igreja; no
milênio será o reino; e afinal de contas isso será o mundo no qual Deus
será o tudo em todos. O “dia do Senhor” e a conflagração da terra se
considera em 2Pe_3:10, 11 como unidos pelo que muitos arguem contra
o intervalo milenial transcorrido entre Sua vinda e a conflagração geral
da antiga terra, preparatória para a nova; mas “dia” é muitas vezes usado
para denotar todo um período que compreende eventos intimamente
relacionados, como são a segunda vinda do Senhor, o milênio, assim
como a conflagração geral e o juízo. Veja-se Gn_2:4, referente ao uso
amplo de dia.” A alma do homem é redimida pela regeneração do
Espírito Santo agora; o corpo do homem será redimido na ressurreição; a
morada do homem, sua herança, a terra, será redimida perfeitamente na
criação do novo céu e da nova terra, que excederão em glória o primeiro
Paraíso tanto quanto o segundo Adão excede em glória o primeiro Adão
antes da queda, e quanto o homem regenerado em corpo e alma excederá
o homem como estava na criação.
1. o primeiro — isto é, o anterior.
passaram — Gr., na e B, “tinham passado” (gr., apeelthon, não
como na Authorized Version, pareelthe).
o mar já não existe — O mar é tipo do desassossego perpétuo.
Portanto, o Senhor a repreende como perturbador hostil de Seu povo.
Simboliza os tumultos políticos de onde se suscitou “a besta” (Ap_13:1).
Como o mundo físico corresponde ao espiritual e moral, assim a
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 239
ausência do mar, depois da metamorfose da terra por meio do fogo,
corresponde ao estado imperturbável de sólida paz que então
prevalecerá. O mar, separando as terras umas das outras, agora,
porquanto Deus tira o bem do mal, deve ser o meio de comunicação
entre os países por meio da navegação. Então o homem possuirá os
poderes inerentes que farão com que o mar já não seja uma necessidade,
mas sim o elemento que piorará um estado perfeito. Fala-se de um “rio”
e de “água” em Ap_22:1, 2, provavelmente literal (isto é, com tais
mudanças das propriedades naturais da água, como correspondem
analogicamente ao corpo transfigurado do próprio homem), tanto como
simbólica. O mar foi uma vez o elemento da destruição do mundo, e é
ainda a origem da morte para milhares, portanto, é dito que, depois do
milênio, no juízo geral, “O mar deu os mortos que nele havia.” Então
deixará de destruir, de perturbar, sendo tirado totalmente por causa de
suas destruições anteriores.
2. E eu, João (RC) — “João” omite-se em A, B, na Vulgata, na
Siríaca, na Cóptica e em Andréas; tampouco consta o pronome “eu” no
grego. A inserção de “eu, João” no grego interromperia um pouco a
relação íntima entre o novo céu e a nova terra” do v. 1 e “a nova
Jerusalém” aqui.
Jerusalém, que descia do céu — (Comp. Ap_3:12; Gl_4:26, “a
Jerusalém que é de acima;” Hb_11:10; Hb_12:22; Hb_13:14). A descida
de dentro do céu é claramente distinta da Jerusalém terrestre em que
Israel, na carne, habitará durante o milênio, e segue depois da criação do
novo céu e da nova terra. João em seu Evangelho sempre escreve (grego)
Hierosoluma pela antiga cidade; no Apocalipse sempre Hierousalem
pela celestial (Ap_3:12). Hierousalem é nome hebraico, o título original
e santo. Hierosoluma é o termo grego comum, usado em sentido político.
Paulo observa a mesma distinção ao refutar o judaísmo (Gl_4:26; comp.
com Gl_1:17, 18; Gl_2:1; Hb_12:22), mas não nas Epístolas aos
Romanos e aos Coríntios. [Bengel].
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 240
noiva — Gr., “noiva,” composta dos bem-aventurados cidadãos da
“Cidade Santa.” Já não é meramente um Paraíso como o Éden (embora
esteja também isso, Ap_2:7), já não um mero jardim, mas sim a cidade
de Deus na terra, mais preciosa, mais solene, e mais gloriosa, mas ao
mesmo tempo o resultado do trabalho e dores tais como não foram as
dedicadas pelo homem no cuidado do primitivo Éden. “As pedras vivas”
foram com o tempo cinzeladas laboriosamente cada uma, segundo o
modelo da “principal pedra angular,” para prepará-las para o lugar que
deviam ocupar eternamente na Jerusalém celestial.
3. do trono — Assim A e a Vulgata. Mas Andréas lê: “do céu.”
o tabernáculo — Alusão ao tabernáculo de Deus no deserto (no
qual se davam muitos sinais de Sua presença), do qual este é antítipo,
tendo estado previamente no céu: Ap_11:19; Ap_15:5, “o templo do
tabernáculo no céu”; também Ap_13:6. Note o contraste em Hb_9:23-24,
entre “as figuras” e “as coisas próprias celestiais,” entre “as figuras” e “o
verdadeiro.” O penhor do tabernáculo verdadeiro e celestial foi dado no
templo de Jerusalém descrito por Ezequiel 40:1–42:20, que estava para
ser, isto é, durante o milênio.
habitará com eles — “lit., “habitará com eles em tendas;” o
mesmo verbo é usado a respeito do divino Filho que “habitou em tendas
conosco.” Então estava na fraqueza da carne; porém, na nova criação do
céu e da terra viverá em tendas entre nós na glória de Sua manifesta
divindade (Ap_22:4).
eles — no grego enfático.
povos de Deus — Gr., “povos dele;” “as nações dos redimidos”,
“sendo peculiarmente Suas todas, como foi Israel. Assim diz A; mas B, a
Vulgata, a Siríaca e a Cóptica leem “seu povo”, no singular.
Deus mesmo … com eles — realizando plenamente Seu nome
Emanuel.
4. a morte já não existirá — Não é, pois, o milênio, porque nele
há morte (Is_65:20; 1Co_15:26, 1Co_15:54, “o último inimigo … a
morte,” Ap_20:14, depois do milênio).
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 241
passaram — Gr., “foram-se,” como em Ap_21:1.
5. está assentado — Gr., “está sentado.”
novas todas as coisas — não recentes, mas sim mudadas das
velhas (gr., kainós, não néos). Um penhor desta regeneração e
transfiguração da natureza já nos é dada na alma regenerada.
disse — A Cóptica e Andréas leem “me disse”, mas A, B, a
Vulgata e a Siríaca omitem “-me.”
fiéis e verdadeiras — Assim A, B, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica;
mas Andréas lê: “fiéis e verdadeiras” (lit., genuínas).
6. Tudo está feito — O mesmo grego como em Ap_16:17. Mas A
diz no plural, “estão feitas (estas palavras, Ap_21:5)”. Tudo está tão
seguro como se estivesse já realizado, pois repousa na palavra do Deus
imutável. Quando for a consumação, Deus se alegrará da obra de Suas
próprias mãos, como na primeira criação viu Deus tudo o que havia,
feito, e eis que era bom (Gn_1:31).
Alfa … Ômega — Gr., “o Alfa … o Ômega (Ap_1:18), a primeira
e última letras do alfabeto grego.
sede … darei … água da vida — (Ap_22:17; Is_12:3; Is_55:1;
Jo_4:13-14; Jo_7:37-38). Isto é acrescentado para que não aconteça de
alguém se desesperar para alcançar este mui grande peso de glória. Em
nosso presente estado podemos beber do rio, então beberemos da Fonte.
de graça — o mesmo grego traduzido em Jo_15:15,
“(Aborreceram-me) sem causa.” Como é gratuito o ódio do homem para
com Deus, assim é gratuito o amor de Deus ao homem: havia toda razão
em Cristo para que o homem O amasse, e contudo, o homem O
aborreceu; havia toda razão no homem para que (humanamente falando)
Deus o aborrecesse, e, contudo, Deus o amou; justamente o contrário do
que era de esperar-se teve lugar em ambos os casos. Até em nosso céu
beber da Fonte será o dom gratuito de Deus.
7. O vencedor — Outro aspecto da vida do crente: um conflito com
o pecado, Satanás, e o mundo. A sede da salvação é o primeiro princípio
do caráter do crente, e continua sendo sempre (no sentido de um apetite e
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 242
gosto pelas alegrias divinas). Em sentido diferente, o crente “nunca mais
terá sede.”
herdará estas coisas — A, B, a Vulgata e Cipriano dizem:
“herdará estas coisas,” ou seja, as bênçãos descritas em toda esta
passagem. Comp. “todas as coisas,” 1Co_3:21-23.
eu lhe serei Deus — Gr., “ser-lhe-ei Deus a ele,” isto é, tudo o que
se compreende no nome “Deus.”
ele me será filho — “ele” é enfático: ele em particular e em sentido
peculiar, sobre todas: Gr., “será para mim um filho,” na mais plena
realização da promessa feita em tipo a Salomão, filho de Davi, e
antitipicamente ao divino Filho de Davi.
8. aos covardes — Gr., “os covardes,” que não se portam
varonilmente de modo a vencer na boa peleja; que têm o espírito do
“temor” servil, não o amor para com Deus; e que por temor do homem
não são valentes para Deus, ou “se retiram.” Comp. Ap_21:27;
Ap_22:15.
incrédulos — Gr., “infiéis.”
abomináveis — os que beberam da taça de abominações” da
meretriz.
feiticeiros — uma das características do tempo do anticristo.
todos os mentirosos — Veja-se 1Tm_4:1-2, onde deste modo a
mentira e os procedimentos com espíritos e demônios se relacionam
como característicos dos “últimos tempos.”
a segunda morte — Ap_20:14: “eterna destruição,” 2Ts_1:9;
Mc_9:44, Mc_9:46, Mc_9:48, “onde não lhes morre o verme, nem o
fogo se apaga.”
9. O mesmo anjo que tinha mostrado Babilônia, a meretriz a João, é
usado corretamente para lhe mostrar em contraste a nova Jerusalém, a
Noiva (Ap_17:1-5). Tal anjo foi aquele que tinha as sete pragas, para
demonstrar que a final bem-aventurança da Igreja é uma finalidade dos
juízos divinos sobre seus inimigos.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 243
a esposa do Cordeiro — em contraste com aquela que está
assentada sobre muitas águas (Ap_17:1), quer dizer, intrigada com
muitos povos e nações da terra, em vez de dar seus afetos indivisos,
como faz a Noiva ao Cordeiro.
10. As palavras correspondem a Ap_17:3, para aprofundar o
contraste entre a noiva e a meretriz.
montanha — Veja-se Ez_40:2, onde uma visão similar é dada de
um monte alto.
a grande (RC) — Omitidas em A, B, na Vulgata, na Siríaca, na
Cóptica e em Cipriano. Traduza-se, pois, “a cidade Santa de Jerusalém”
(RV89).
que descia — Até o milênio a terra não será morada própria dos
santos transfigurados, aqueles que portanto reinarão no céu sobre a terra.
Mas depois da renovação da terra no fim do milênio e do juízo, descerão
do céu para viver numa terra que se assemelha ao próprio céu. “Da parte
de Deus” denota que nós (a cidade) somos a “feitura de Deus.”
11. tem a glória de Deus — não meramente a nuvem Shekiná, mas
sim o próprio Deus pela glória dela, que habita no meio dela. Veja-se o
tipo, a Jerusalém terrestre durante o milênio (Zc_2:5; com Ap_31:23)
O seu fulgor — Gr., “sua estrela;” propriamente aplicado às
estrelas celestiais que difundem luz. Veja-se Nota, Fp_2:15, o único
outro texto onde ocorre. A conjunção “e” perante “sua luz” se omite em
A, B, e na Vulgata.
jaspe — que representa um brilho cristalino aquoso.
12. E (RC) — omitida em A e B. Ez_48:30-35, tem uma descrição
similar, que denota que a Jerusalém milenial terá seu preciso antítipo na
Jerusalém celestial que descerá a finalmente regenerada terra.
grande e alta muralha — significando a segurança da Igreja.
Também, a exclusão dos ímpios.
doze anjos — guardas das doze portas: emblema adicional da
segurança perfeita, enquanto que as portas que nunca se fecham
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 244
(Ap_21:25) expressam a perfeita liberdade e paz. Também, os anjos
serão os irmãos dos cidadãos celestiais.
nomes das doze tribos — A inscrição dos nomes nas portas denota
que ninguém, salvo o Israel espiritual, os escolhido de Deus, entrarão na
cidade celestial. Como o milênio, onde o Israel literal na carne será a
Igreja mãe, é o antítipo da teocracia terrestre do Antigo Testamento na
Terra Santa, de modo que a nova Jerusalém celestial é a consumação
antitípica do Israel espiritual, a eleita Igreja dos judeus e gentios estando
já reunidos fora: como o Israel espiritual é agora um progresso sobre o
prévio Israel literal e carnal, assim a Jerusalém celestial será em alto grau
uma melhora sobre a milenial.
13. a norte … ao sul — A, B, a Vulgata, a Siríaca, e a Cóptica
dizem “E a norte e ao sul.” Em Ez_48:32, José, Benjamim e Dã
(substituído por Manassés em Ap_7:6) estão ao oriente (Ez_48:32).
Rúben, Judá, Levi, ao norte (Ez_48:31). Simeão, Issacar, Zebulom, ao
sul (Ez_48:33). Gade, Aser, Naftali ao ocidente (Ez_48:34). Em
Números, Judá, Issacar, Zebulom estão a leste (Nm_2:3, 5, 7); Rúben,
Simeão, Gade, ao sul (Nm_2:10, 12, 14); Efraim, Manassés, Benjamim,
a oeste (Nm_2:18, 20, 22). Dã, Aser, Naftali, ao norte (Nm_2:25, 27, 29).
14. doze fundamentos — Josué, o tipo de Jesus, escolheu a doze
homens dentre o povo para levarem consigo doze pedras ao outro lado
do Jordão, como Jesus escolheu a doze apóstolos para serem os doze
fundamentos da cidade celestial, da qual Ele é a principal pedra angular.
Pedro não é a única pedra apostólica sobre cuja pregação Cristo edifica
Sua Igreja. Cristo mesmo é o verdadeiro fundamento: os doze são
fundamentos só com relação a seu testemunho apostólico referente a Ele.
Embora Paulo fosse apóstolo além dos doze, contudo o número místico é
retido, doze, representando a Igreja, quer dizer, três, o número divino
multiplicado por quatro, o número do mundo.
sobre estes os doze nomes — Como os arquitetos com frequência
fazem inscrever seus nomes em suas grandes obras, assim os nomes dos
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 245
apóstolos se terão em eterna memória. A Vulgata lê “neles,” mas A, B, a
Siríaca a Cóptica e Andréas leem: “sobre eles.”
15. uma vara de ouro para medir — Assim a Cóptica. Mas A, B,
a Vulgata, e a Siríaca leem: “tem uma medida, uma cana de ouro.” Em
Ap_11:2 a não medição dos pátios exteriores indica sua entrega à
profanação secular e pagã. Assim aqui, pelo contrário, a medição da
cidade denota a inteira consagração de todas suas partes, feitas todas as
coisas de conformidade com a alta norma dos santos requisitos de Deus;
e a custódia mais precisa exercida por Deus daí em diante até das partes
mais minuciosas de sua cidade Santa, ao amparo de todo mal.
16. doze mil estádios — sendo de mil estádios o espaço entre uma
e outra das doze portas. Bengel faz o comprimento de cada lado da
cidade de 12.000 estádios. As estupendas alturas, comprimentos e
larguras são precisamente iguais, o que denota sua simetria perfeita, que
sobrepuja todos os nossos conceitos mais brilhantes.
17. cento e quarenta e quatro côvados — Doze por doze: o
número da Igreja ao quadrado.
medida de homem, isto é, de anjo — A medida comum usada
pelos homens é a medida usada aqui pelo anjo, distinta da medida do
santuário.” Os homens serão então iguais aos anjos.
18. A estrutura — “A estrutura.” [Tregelles]. Gr., “endomeesis.”
ouro … semelhante a vidro límpido — O ouro ideal, transparente,
como nenhum ouro é aqui. [Alford]. Excelências se combinarão na
Cidade Santa que agora parecem incompatíveis.
19. E (RC) — assim dizem a Siríaca, a Cóptica e Andréas, mas A,
B e a Vulgata omitem. Ap_21:14, também Is_54:11.
toda espécie de pedras preciosas — Contraste-se Ap_18:12
referente à meretriz, Babilônia. Estas pedras preciosas constituíam os
“fundamentos”.
calcedônia — A ágata de Calcedônia: semi-opaca, celeste, com
raios de outras cores. [Alford].
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 246
20. sardônio — Uma gema com o vermelho de cornalina e a
brancura da ônix.
sárdio — (Nota, Ap_4:3).
crisólito — Descrito por Plínio como transparente e de um brilho
dourado, como nosso topázio; diferente de nosso crisólito de verde
pálido.
berilo — de cor verde-mar.
topázio — Plínio [37.32], fá-lo verde e transparente, como nosso
crisólito.
crisópraso — algo pálido, e com a cor purpúrea da ametista
[Plínio, 37, 20, 21].
jacinto — O radiante brilho violeta da ametista está diluído no
jacinto. [Plínio, 37.41].
22. seu santuário é o Senhor — Como Deus agora habita na Igreja
espiritual, seu templo” (gr., naos, santuário; 1Co_3:17; 1Co_6:19), assim
a Igreja feita perfeita habitará nele como “seu templo” (naos, o mesmo
grego). Como a Igreja era “o santuário” dEle, assim Ele há de ser o
santuário dela. Os meios de graça cessarão quando chegar o fim da
graça. As ordenanças da Igreja darão lugar ao Deus das ordenanças. A
comunhão sem interrupção, imediata, direta com Ele e o Cordeiro
(Jo_4:23) substituirá as cerimônias intermediárias.
23. nela (RC) — Assim a Vulgata, mas A, B, e Andréas dizem:
“que lhe resplandeçam,” ou, lit., “para ela.”
lâmpada — Gr., “lâmpada.” (Is_60:19, 20). A luz direta de Deus e
do Cordeiro fará independentes os santos das criações de Deus, o sol e a
lua, para ter luz.
24. andarão mediante a sua luz — A, B, a Vulgata, a Cóptica e
Andréas dizem “… por meio de sua luz:” e omitem “que tiverem sido
salvas.”
os reis da terra — que uma vez só faziam caso de sua própria
glória, convertidos e agora na nova Jerusalém, levam lá sua glória e a
depositam aos pés de seu Deus e Senhor.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 247
e honra (RC) — Assim B, a Vulgata, e Siríaca. Mas A omite a
cláusula.
25. não se fecharão de dia — então nunca serão fechadas, porque
será sempre dia. Usualmente fecham-se as portas de noite; mas lá não
haverá noite. Haverá livre ingresso contínuo nela, de modo que todo o
bendito e glorioso pode ser introduzido continuamente. Assim no tipo
milenário.
26. Tudo o que é verdadeiramente glorioso e excelente na terra e
em suas nações convertidas será reunido nela; e enquanto que todos
formarão uma Noiva, haverá várias ordens entre os redimidos, análogas
às divisões de nações na terra que constituem a grande família humana, e
às várias ordens de anjos.
27. coisa alguma contaminada — Gr., “koinoun.” A e B leem,
“koinon”, “alguma coisa impura.”
Livro da Vida do Cordeiro — (Nota, Ap_20:12, Ap_20:15.)
Como toda a imundície da antiga Jerusalém era levada fora de seus
muros e queimada, assim nada sujo entrará na cidade celestial, mas sim
será queimado fora (Ap_22:15). É de notar-se que o apóstolo do amor,
que nos ensina as glórias da cidade celestial, seja também aquele que fala
nos termos mais claros dos terrores do inferno. Sobre Ap_21:26, 27,
escreve Alford uma Nota temerária em especulação, fora do que está
escrito, a respeito das nações pagãs e de maneira nenhuma requerida
pelo sagrado texto. Comp. Nota em Ap_21:26.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 248
Apocalipse 22

Vv. 1-21. O rio da vida; a árvore da vida; as outras bem-


aventuranças dos redimidos. A proibição de adorar o anjo. A
proximidade da vinda de Cristo para determinar o estado eterno do
homem. O testemunho de Jesus, de seu Espírito, e da noiva, todo
acréscimo ao qual, e retirada do qual será eternamente castigado. A
bênção final.
1. puro (RC) — A, B, a Vulgata e Hilary omitem.
água da vida — imensamente superior às águas típicas do primeiro
Paraíso (Gn_2:10-14); e até superior às figurativas da Jerusalém
milenária (Ez_47:1, 12; Zc_14:8), como a fruta amadurecida é superior à
flor. As águas milenárias representam a plena graça evangélica; as águas
da nova Jerusalém representam as glórias evangélicas aperfeiçoadas. Sua
contínua fluência de Deus, a Fonte de vida, simboliza a continuação
ininterrupta da vida derivada pelos santos, sempre fresca da parte dele; a
vida na plenitude de alegria assim como de vitalidade perpétua. Como
cristal puro, está livre de toda contaminação: Compare-se Ap_4:6,
“diante do trono um mar de vidro, como cristal.”
claro (RC) — Gr., “brilhante.”
2. A harmoniosa unidade da Escritura está aqui exibida. Os pais a
comparavam a um anel, um círculo sem quebra, que sempre volta sobre
si. Entre os eventos do Gênesis e os do fim do Apocalipse, intervêm
quando menos 6.000 ou 7.000 anos; entre Moisés o primeiro escritor, e
João, o último, como 1.500 anos. Quão chamativo é que como no
princípio encontramos a Adão e Eva, sua noiva, na inocência do Paraíso,
logo tentados pela serpente, e expulsos da árvore da vida e das
prazenteiras águas do Éden, mas não sem uma promessa de um Redentor
que esmagaria a serpente; assim no final, a antiga serpente é lançada para
sempre pelo segundo Adão, o Senhor do céu, que aparece com Sua
Noiva, a Igreja, num melhor Paraíso, e entre águas melhores (Ap_22:1):
a árvore da vida também está ali com todas as suas propriedades
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 249
salutíferas, não guardado pela espada ardente, mas sim disponível a todo
aquele que vencer (Ap_2:7), e já não há mais maldição.
de uma e outra margem do rio — Alford traduz: “No meio da rua
(praça) dela e do rio, de um lado e do outro” (em vez do segundo gr.,
enteuthen, A, B, e a Siríaca, dizem ekeithen, mas o sentido é o mesmo;
Jo_19:18); assim as árvores estavam a cada lado no meio do espaço
compreendido pela rua e o rio. Mas de Ez_47:7, prefiro nossa versão. O
antítipo excede o tipo: no primeiro Paraíso havia somente uma árvore da
vida; agora há “muitíssimas árvores sobre a banda do rio de um lado e
do outro.” Para fazer sentido, se não houvesse mais que uma árvore, ou
teríamos que supor, com Mede, que a palavra grega para rua, refira-se a
uma planície banhada por ambos os lados pelo rio (como o era o
primeiro Paraíso por uma lado banhado pelo Tigre e pelo outro pelo
Eufrates), e que no meio da planície, que está entre os braços do rio,
estava a árvore: em tal caso poderíamos traduzir: “No meio da rua
(planície) mesma, e do rio (que corre em dois braços) neste lado e
naquele, estava a árvore da vida.” Ou se não, teríamos que supor com
Durham que a árvore estava no meio do rio e estendia seus ramos sobre
ambas as margens. Mas veja-se Ez_47:12, o tipo milenário do último
Paraíso, que demonstra que há várias árvores de uma classe, todas
chamados “a árvore da vida.” A morte reina agora por causa do pecado;
até na terra milenária o pecado, e por causa dele a morte, limitados por
certo, não cessarão totalmente. Mas na cidade final e celestial, deixarão
de existir totalmente o pecado e a morte.
dando o seu fruto de mês em mês — Gr., “segundo cada mês;”
cada mês tinha seu próprio fruto, assim como as diferentes estações do
ano se destacam por seus próprios produtos, com a diferença de que não
haverá então, como agora, nenhum mês sem seu fruto, e haverá uma
variedade interminável, correspondente a doze, o número simbólico da
Igreja mundial (comp. Notas, Ap_12:1; Ap_21:14). O Arcebispo
Whately pensa que a árvore da vida estava entre as árvores de que Adão
comia livremente (Gn_2:9, Gn_2:16-17), e que o continuar sendo imortal
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 250
dependia dele continuar comendo desta árvore; tendo deixado de fazê-lo,
ficou exposto à morte; mas contudo, os efeitos de ter comido dele por
um tempo se manifestaram na longevidade dos patriarcas. Deus podia,
sem dúvida, dotar uma árvore com poderes medicinais especiais. Mas
Gn_3:22 parece ensinar que o homem não tinha comido ainda da árvore
da vida, e que se o tivesse feito, teria vivido para sempre, o que em seu
estado de caído teria sido a maior maldição.
folhas … para a cura — (Ez_49:7, Ez_49:12.) As folhas são
remédios salutíferos preventivos, que protegem os redimidos contra as
doenças, mas que não os cura delas. Enquanto isso, “o fruto será para
alimento.” No milênio descrito por Ezequiel 47, e por Apocalipse 20, a
Igreja dará a árvore evangélica às nações existentes para além de Israel e
da Igreja, e assim lhes curará seus doenças espirituais; mas na final e
perfeita nova Jerusalém, o estado de todos está eternamente fixo, e já
não se leva a cabo processo salvador algum (Ap_22:11). Alford erra
totalmente ao falar de “nações de fora,” e “que habitam na terra
regenerada, organizadas sob reis, e salvas pelas influências da cidade
celestial.” (!) Comp. Ap_22:2, Ap_21:10-27; as “nações” mencionadas
(Ap_21:24) são as que fazia longo tempo, ou seja, no milênio
(Ap_11:15), chegaram a ser do Senhor e de seu Cristo.
3. Nunca mais haverá qualquer maldição — do que se dará o
penhor no milênio (Zc_14:11). Deus não pode habitar senão onde a
maldição e sua maldita causa, o pecado (Js_7:12) foram tirados. De
modo que se segue com razão: “Mas sim o trono de Deus e do Cordeiro
(que nos redimiu da maldição, Gl_3:10, Gl_3:13) estará nela.” Veja-se
no milênio, Ez_48:35.
o servirão — com a adoração (Ap_7:15).
4. contemplarão a sua face — revelada na divina glória, em Cristo
Jesus. Vê-lo-ão e O conhecerão pelo conhecimento intuitivo dEle,
conhecerei como sou conhecido (1Co_13:9-12), face a face. Comp.
1Tm_6:16; Jo_14:9. Deus o Pai pode ser visto só em Cristo.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 251
na sua fronte — Gr., “sobre suas frontes.” Não só conhecerão
pessoalmente e em segredo (Ap_3:17) sua filiação, mas também serão
conhecidos como filhos de Deus pelos cidadãos da nova Jerusalém, de
modo que não será impedida pela suspeita, como aqui, a livre fluência do
mútuo amor entre os membros da família de Cristo.
5. ali (RC) — Assim Andréas, mas A, B, a Vulgata, e a Siríaca
leem: “Não haverá mais noite já;” Gr., eti por ekei.
nem precisam — A, a Vulgata e a Cóptica leem o futuro: “Não
terão necessidade …” B lê: “e não haverá necessidade.”
luz de candeia — Gr., “lâmpada.” A, a Vulgata, a Siríaca e a
Cóptica inserem “luz (de tocha ou de lâmpada)”. Mas B o omite.
do sol — Assim A, mas B omite a frase.
brilhará sobre eles — a Vulgata e a Siríaca dizem: “dá luz,” ou
“ilumina;” B e Andréas, “iluminá-los-á;” mas A diz, “… sobre eles.”
reinarão — com uma glória que provavelmente transcenderá a de
seu reino no céu com Cristo sobre as nações milenárias na carne, descrito
em Ap_20:4, 6; aquele reino não foi senão um reino limitado, a “mil
anos;” este reino final é “para os séculos dos séculos.”
6. Estas palavras são … verdadeiras — Três vezes repetidas
(Ap_19:9; Ap_21:5). Somos tardios para crer que Deus é tão bom como
é. A notícia nos parece, tão habituados como estamos à miséria do
mundo caído, boa demais para ser verdade. [Nangle]. Não são sonhos de
um visionário, mas sim as realidades da firme palavra de Deus.
o Deus dos espíritos dos profetas — A, B, a Vulgata, a Siríaca e a
Cóptica dizem: “… Deus dos espíritos dos profetas.” Andréas lê:
“santos.” O Senhor Deus, que com Seu Espírito inspirou os espíritos
deles, de modo que pudessem profetizar. Há um só Espírito, mas os
profetas individuais, segundo a medida que lhes foi dado (1Co_12:4-11),
tinham seus próprios espíritos [Bengel] (1Pe_1:11; 2Pe_1:21).
devem acontecer — Gr., “aconteçam.”
7. E (ASV, RSV) — É omitida na Cóptica e Andréas, como na AV,
na RC, na RA, na TB; inserida pela, B, na Vulgata e na Siríaca.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 252
Bem-aventurado — (Ap_1:3.)
8. Tanto aqui como em Ap_19:9, 10, a prostração do apóstolo aos
pés do anjo está precedida por uma gloriosa promessa à Igreja,
acompanhada pela segurança de que “São estas as verdadeiras palavras
de Deus,” e que “bem-aventurados” são os que as guardam. A emoção
enlevada, a gratidão, e a adoração, na contemplação da futura glória da
Igreja, arrebata-o fora de si, de modo que pouco falta para cometer um
ato injustificável; contraste-se seu sentimento de caráter oposto ao
contemplar a profunda queda da Igreja [Auberlen], Ap_17:6; comp.
Nota, Ap_19:9, 10.
as ouvi e vi — A, B, Vulgata, e Siríaca transpõem estes verbos.
Traduza--se literalmente: “Eu João (ele foi) quem ouviu e viu estas
coisas.” É observável que em Ap_19:10 a linguagem é: “Caí diante dos
pés para o adorar”; mas aqui, “Prostrei-me para adorar (a Deus?) diante
dos pés do anjo.” Parece improvável que João, uma vez repreendido,
voltasse a cair no mesmo erro. O parecer de Bengel é, portanto,
provável; João na primeira vez ia adorar o anjo (Ap_19:10), mas agora
aos pés dele pensa adorar a Deus. Nem mesmo isto o anjo lhe permite.
9. Lit., “olhe que não;” a brutalidade da frase assinala o horror do
anjo ao pensar que ele fosse adorado sequer indiretamente. Contraste a
tentação do anjo caído: “Tudo isto te darei, se prostrado me adorares”
(Mt_4:9).
porque (RC) — A, B, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica, Andréas e
Cipriano omitem “porque:” o que concorda com o zelo repentino da
proibição feita pelo anjo de um ato ofensivo a Deus.
e dos que — Gr., “teu conservo e de seus irmãos os …”
10. Não seles — Mas em Dn_12:4, Dan_12:9 (comp. Dn_8:26)
ordena-se: “Sela o livro,” porque a visão será “para muitos dias.” O
cumprimento da profecia de Daniel estava distante, o da profecia de João
está próximo. O Novo Testamento é o tempo do fim e do cumprimento.
A Igreja Gentílica, para quem João escreveu seu Apocalipse, precisa ser
impressionada pela brevidade do período, porquanto se inclina, devido a
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 253
sua origem, a conformar-se ao mundo e a esquecer-se da vinda do
Senhor. O Apocalipse assinala, por um lado, a sucessão dos sete selos,
trombetas, e taças, por outro, proclama: “Eis que venho sem demora,”
Deste modo Cristo sublinha muitos eventos que sucederão antes de Sua
vinda, e contudo diz também: “Eis que logo venho,” porque nossa
atitude devida é a de contínua vigilância aguardando em oração Sua
vinda (Mt_25:6, Mt_25:13, Mt_25:19; Mc_13:32-37; [Auberlen]; comp.
Ap_1:3.
11. injusto — em suas relações com seu próximo. Mais
literalmente: “Aquele que faz injustamente, faça injustamente ainda.”
imundo — com relação a sua própria alma como imunda perante
Deus; o contrário de “santo,” consagrado a Deus puro. A omite esta frase
completa. Na uma carta dos mártires de Viena e Lyons (em Eusébio) do
século dois, lê-se: “Aquele que é anárquico (anomos) seja anárquico; e
aquele que é justo, seja justo (lit., “justificado”) ainda”. Sua data é
anterior a todo manuscrito existente hoje. A, B, a Vulgata, a Siríaca, a
Cóptica, Andréas e Cipriano dizem: “Faça justiça ainda” (1Jo_2:29;
1Jo_3:7). O castigo do pecado é o pecado; a recompensa da santidade é a
santidade. O castigo eterno não é tanto uma lei arbitrária como um
resultado que necessariamente segue na mesma natureza das coisas,
como o fruto resulta da flor. Nenhum castigo pior pode Deus infligir aos
ímpios que o de entregá-los a eles mesmos. A lição solene que tiramos
deste versículo é: Converta-te agora no breve prazo que resta (Ap_22:10)
antes que “eu venha” (Ap_22:7, Ap_22:12), ou se não, deves permanecer
inconverso para sempre, o pecado no mundo eterno será deixado a suas
próprias consequências naturais: a santidade em germe, ali se
desenvolverá em santidade perfeita, a qual é felicidade.
12. E — omitida pelas melhores autoridades.
eis que venho sem demora — (comp. Ap_22:7.)
comigo está o galardão — (Is_40:10; Is_62:11.)
tenho para retribuir — B diz no futuro: “conforme tenha que ser.”
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 254
13. Eu sou o Alfa e o Ômega — Gr., “o Alfa e o Ômega.” A, B, a
Vulgata, a Siríaca, Orígenes e Cipriano transpõem, em continuação: “o
primeiro e o último, o princípio e o fim.” Com estes títulos assumidos
pelo Senhor Jesus, veja-se Ap_1:8, 17; Ap_21:6. Nesta finalização de
todo o plano da revelação Se anuncia a Si mesmo como Aquele antes e
depois de quem não há Deus.
14. guardam os seus mandamentos (ACF) — Gr., “Fazem …”
Assim B, a Siríaca, a Cóptica e Cipriano; mas A, Álef e a Vulgata
dizem: “Bem-aventurados os que lavam as suas vestes,” isto é, no
sangue do Cordeiro (Veja-se Ap_7:14). Esta leitura tira o pretexto da
salvação pelas obras. Mas até esta versão (ACF) é bastante compatível
com a salvação pela graça, visto que o mandamento evangélico primeiro
e grande de Deus é o de crer em Jesus. De modo que nosso poder (gr.,
exousia, “privilégio”, ou “autoridade legal”) sobre a árvore da vida não
se deve a nossas obras, mas sim ao que Ele operou por nós. O direito, ou
privilégio, baseia-se não em nossos méritos, mas na graça de Deus.
15. Mas (NKJV) — assim a versão Cóptica, mas A, B, Hipólito;
Andréas e Cipriano a omitem.
os cães — os impuros, sujos (Ap_22:11; Fp_3:2).
pratica — “aquele que pratica mentira.” [W. Kelly].
16. meu anjo — pois Jesus é o Senhor dos anjos.
para vos testificar — a vós ministros e povo das sete igrejas
representativas, e para testificar por seu meio aos cristãos de todos os
tempos e lugares.
a Raiz e a Geração de Davi — Título próprio aqui onde assegura à
Sua Igreja “as misericórdias seguras de Davi,” asseguradas a Israel
primeiro, e por Israel aos gentios. Raiz de Davi, sendo Jeová; geração de
Davi, sendo homem. O Senhor de Davi, e contudo, filho de Davi
(Mt_22:42-45)
Estrela da manhã — que anunciou o dia da graça no princípio
desta dispensação, e que inaugurará o eterno dia de glória quando este
terminar.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 255
17. A resposta da Igreja espiritual e de João às palavras de Cristo
(Ap_22:7, Ap_22:12, Ap_22:16).
o Espírito — nas igrejas e nos profetas.
a noiva — Gr., “A Noiva:” não chamada aqui “esposa”, como tal
título aplica a ela só quando o pleno número dos que a constituem se
cumpriu. O convite de “vir” é efetivo enquanto a Igreja é ainda a Noiva
comprometida, e não com efeito a esposa casada. Entretanto, “Vem”
pode ser, antes, a oração do Espírito na Igreja e nos crentes em resposta
às palavras de Cristo, “venho sem demora,” clamando: “Assim seja,
vem!” (Ap_22:7, Ap_22:12); Ap_22:20 confirma este parecer. Todo o
assunto de sua salvação depende disto: que possam ouvir com alegria o
anúncio de Cristo, “Eis aqui, venho,” e responder, “Vem.” [Bengel].
Vem para glorificar plenamente a sua Noiva.
Aquele que ouve, diga — quer dizer, aquele que ouve o Espírito e
à Noiva dizendo ao Senhor Jesus: “Vem,” una-se à Noiva qual fiel
crente, seja parte dela, e assim diga com ela a Jesus, “Vem.” Ou “ouve”
quer dizer “obedece;” porque enquanto não se tenha obedecido à
chamada evangélica, não pode pedir a Jesus que “venha;” tal é o uso de
“ouvir” em Ap_1:3; Jo_10:16, etc. Aquele que ouve e obedece a voz de
Jesus (Ap_22:16; Ap_1:3) uma sua voz na oração dizendo “Vem.”
Comp. Ap_6:1, Ap_6:10. Na outra interpretação, de que o convite de vir
dirige-se a pecadores, esta frase insiste com os que ouvem para salvação
a que se dirijam a outros, como fizeram André e Filipe, depois que
tiverem eles mesmos ouvido e obedecido o convite de Jesus.
Aquele que tem sede venha — Como a Igreja ora a Jesus, dizendo:
“Vem,” ela insiste com todos os que têm sede de participar da plena
manifestação da glória da redenção na vinda dEle, a que VENHAM a
Ele enquanto isso, e que bebam das águas vivas, que são penhor da
“água da vida resplandecente como cristal … do trono de Deus e do
Cordeiro” (Ap_22:1), no céu e na terra regenerados.
e — Assim a versão Siríaca; mas A, B, a Vulgata, e a Cóptica
omitem a conjunção.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 256
quem quiser — Há um clímax descendente: aquele que ouve
efetiva e intimamente a voz de Cristo, ore individualmente, como o faz a
Igreja coletivamente, dizendo: “Vem, Senhor Jesus” (Ap_22:20). Aquele
que talvez não ouviu com efeito para salvação e portanto não pode ainda
dizer: “Vem, Senhor Jesus”, mas contudo “tem sede” disso, venha a
Cristo. Todo aquele que esteja disposto sequer, embora seus desejos não
signifiquem uma positiva sede, que tire da água da vida gratuitamente.
18. Porque eu testifico (RC) — Nenhum dos manuscritos a tem. A,
B, a Vulgata e Andréas dizem “eu” “enfaticamente no grego. “Eu
testifico”.
acrescentar … fará vir sobre ele (RC) — Gr., “acrescentará”:
justa retribuição em espécie.
alguma coisa (RC) — A, B, e Andréas dizem, “a elas,” quer dizer,
“às palavras”.
19. livro — Nenhum dos manuscritos tem “livro”. A, B, Álef,
Siríaca e Cóptica dizem: “(Tirará sua parte, ou porção) da árvore da
vida”, quer dizer, será privado da participação na árvore da vida.
e das coisas — Assim a Vulgata, mas A, B, Álef, a Siríaca, a
Cóptica e Andréas omitem a conjunção; neste caso, “as coisas escritas
neste livro” se referem à cidade Santa e à “árvore da vida”. Como no
princípio deste livro (Ap_1:3) foi prometida uma bênção ao estudante
devoto e obediente dele, assim agora em seu fim se promete uma
maldição contra os que lhe acrescentarem ou lhe tirarem.
20. Amém! Vem — O livro dos Cantares de Salomão (Ct_8:14)
termina com o mesmo anelo pela vinda de Cristo. A, B, e Álef omitem
“assim seja”, gr., nai; então, traduza-se por “Amém”, “Assim seja, vem
Senhor Jesus”, não com o que diz Jesus (pois Ele Se chama a Si mesmo
o “Amém” no princípio das proposições, antes que no final), mas com a
resposta de João. O “Venho” de Cristo e o “Vem” de João quase
coincidem em tempo; assim verdadeiramente reflete o crente a mente de
seu Senhor.
Apocalipse (Jamieson-Fausset-Brown) 257
21. nosso (RC) — Assim a Vulgata, a Siríaca e a Cóptica; mas A,
B, e Álef omitem.
Jesus Cristo (RC) — Assim B, a Vulgata, a Siríaca, a Cóptica e
Andréas, mas A e Álef dizem “Cristo”.
com todos vós (RC) — Em nenhum dos manuscritos; mas B tem
“com todos os santos” A e a Vulgata têm “com todos”; Álef, “com os
santos”. Esta bênção final, o sinal característica de Paulo, foi assumida
por João depois da morte daquele. O Antigo Testamento terminou com
uma “maldição” em conexão com a lei; o Novo Testamento termina com
uma “bênção” em união com o Senhor Jesus.
Amém — Assim o manuscrito B, Álef, e Andréas. A e a Vulgata
Fuldensis o omitem.

Que o bendito Senhor, que fez com que as Escrituras Sagradas


fossem escritas para nossa instrução, digne-se abençoar este humilde
esforço em fazer com que a Escritura se interprete a si mesma, e que o
faça um instrumento para a conversão de pecadores e para a edificação
dos santos, para a glória de Seu grande nome e para o adiantamento de
Seu reino! Amém.

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