Fichamento Mal Estar Na Civilização
Fichamento Mal Estar Na Civilização
Fichamento Mal Estar Na Civilização
Nele o vínculo
com a realidade é ainda mais frouxo, a satisfação é obtida de ilusões que a
pessoa
reconhece como tais, sem que a discrepância entre elas e a realidade lhe
perturbe
a fruição. O âmbito de que se originam tais ilusões é aquele da vida da
fantasia; quando ocorreu o desenvolvimento do sentido da realidade, ele foi
expressamente poupado do teste da realidade e ficou destinado à satisfação
de
desejos dificilmente concretizáveis. Entre essas satisfações pela fantasia se
destaca a fruição de obras de arte, que por intermédio do artista se torna
acessível também aos que não são eles mesmos criadores.9 Quem é receptivo
à
influência da arte nunca a estima demasiadamente como fonte de prazer e
consolo
para a vida. Mas a suave narcose em que nos induz a arte não consegue
produzir mais que um passageiro alheamento às durezas da vida, não sendo
forte o bastante para fazer esquecer a miséria real. (pg 25)
Devido a
essa hostilidade primária entre os homens, a sociedade é permanentemente
ameaçada de desintegração. O interesse do trabalho em comum não a
manteria;
paixões movidas por instintos são mais fortes que interesses ditados pela
razão. A civilização tem de recorrer a tudo para pôr limites aos instintos
agressivos do homem, para manter em xeque suas manifestações, através de
formações psíquicas reativas. (pg 50)
A agressividade é introjetada,
internalizada, mas é propriamente mandada de volta para o lugar de
onde veio, ou seja, é dirigida contra o próprio Eu. Lá é acolhida por uma parte
do Eu que se contrapõe ao resto como Super-eu, e que, como “consciência”,**
dispõe-se a exercer contra o Eu a mesma severa agressividade que o Eu
gostaria
de satisfazer em outros indivíduos. À tensão entre o rigoroso Super-eu e o
Eu a ele submetido chamamos consciência de culpa; ela se manifesta como
necessidade
de punição. A civilização controla então o perigoso prazer em
agredir que tem o indivíduo, ao enfraquecê-lo, desarmá-lo e fazer com que
seja vigiado por uma instância no seu interior, como por uma guarnição numa
cidade conquistada, (pg 59)