Desenvolvimentodeconceptartparapersonagens PDF
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All content following this page was uploaded by Marcelo Castro Andreo on 17 August 2018.
Para tornar possível a compreensão do design de Segundo a Zupi [2010] o concept art, que no
personagem e sua inserção na indústria do português pode ser traduzido como arte-conceito, trata-
entretenimento, é necessária a compreensão do termo se de uma forma de arte completa, desafiadora e
concept art (ou concept design). Isto deve-se ao fato de excitante, embora possa ser considerada a arte mais
que, na abordagem do processo do design de “invisível” aos olhos do público. É necessário destacar
personagem, existe o momento da criação e que concept art é algo que se difere da chamada Arte
desenvolvimento iterativo do personagem. Esta etapa, Conceitual (conceptual art), que representa uma
extremamente crítica, encontra-se inserida no domínio abordagem do universo das artes plásticas.
do concept art.
[Concept art é a] arte capaz de traduzir ou vender uma
Entendendo o concept art como a conceituação idéia, de representá-la de forma que uma história possa
ser lida; seja o resultado um elemento, um personagem,
visual de um determinado projeto, pode-se dizer que
um ambiente ou um mundo inteiro de sonhos. Essa forma
este representa um guia visual/conceitual auxiliador de de arte pode ser expressa pela ilustração, escultura e
papel crucial no desenvolvimento do projeto. A muitas outras, é mais requisitada hoje pela indústria de
metodologia do processo criativo do design de entretenimento e é o âmago artístico por trás de um novo
personagens apresenta-se como um processo iterativo título de game ou filme vencedor de Oscar. Aqueles que
de design. assumem essa tarefa são altamente especializados, pois
há uma demanda seleta para esse tipo de trabalho. [ZUPI
Sua execução independe da técnica ou do nível de 2010, p. 04]
acabamento (embora este artigo, tenha uma especial
consideração à representação bidimensional, ou seja, a A revista ainda cita que a habilidade mais
ilustração), abrangendo desde o mais grosseiro esboço importante de um concept artist (artista de conceitos)
até o trabalho finalizado em mínimos detalhes. seria a habilidade de interpretação de ideias, tornando
possível atribuir “vida” em um sonho e torná-lo
acessível a um determinado público.
2. Concept Art
Pipes [2007] sugere que o estágio conceitual de um
O concept art, pode ser considerado como projeto é o momento em que existe mais liberdade para
representações visuais que buscam a materialização de o designer, que pode esboçar “ideias loucas” antes de
conceitos idealizados para a indústria de pensar em praticabilidades do projeto. Este momento
entretenimento (como filmes de animação, ação livre e possibilita a exploração de ideias criativas
jogos eletrônicos), de forma a auxiliar de forma fundamentais para o design. Embora este autor
relevante no desenvolvimento dos projetos, pois direcione o livro para a área do design de produto, é
possível utilizar a mesma linha de pensamento para o
presente tópico, pois, assim como o design de produto, para que seja restaurada a ordem cósmica. A plêiade de
o concept art também visa um produto final, que heróis e vilões sagazes, brutais, trágicos ou cômicos, e
seriam os filmes, animações, jogos eletrônicos e, em a variedade de personagens secundários fazem parte de
alguns casos, até mesmo peças publicitárias.
uma longa tradição narrativa, que remonta às histórias
Um esboço de conceito, de acordo com Pipes de origem mítica e religiosa até as da literatura mais
[2007], pode ser definido, de forma teórica como um recente [Withrow; Danner 2009 p. 22].
conjunto de dicas visuais para sugerir um determinado
design para um observador informado, possibilitando Seegmiller [2008] afirma que a mídia é responsável
ao último a compreensão da proposta, abarcando o por apresentar visualmente personagens e ambientes
design como um todo e suas características visuais para uma audiência. Um fato interessante seria que,
específicas. atualmente, as percepções de cada indivíduo integrante
desta audiência, embora ainda únicas para cada um,
O desenho de conceito explicita a mente do estão mais próximas umas das outras do que nunca.
designer em funcionamento, em um processo iterativo,
solidificando um pensamento, avaliando-o seguindo Um fato a se ressaltar, segundo o autor, seria que
rumo a um design mais refinado. Segundo o autor é o este público está se tornando cada vez mais sofisticado
momento em que o designer avalia as possibilidades com relação às expectativas visuais. Seegmiller [2008
futuras, procurando atribuir forma à incerteza. p.04] cita o exemplo do Frankenstein, que costumava
ser uma figura muito assustadora em tempos
O próprio ato de desenhar pode ser um modo de anteriores, hoje em dia, porém, é preciso figuras muito
cristalizar a ideia vaga que vale a pena ou não perseguir. mais apelativas e complexas para gerar o mesmo
Frequentemente, a feitura de um esboço simples para impacto na audiência.
expressar um conceito pode, em si mesma, sugerir
futuras ideias conceituais. [PIPES 2007 p. 113] Cada vez mais, personagens são tão bem projetados
que as imagens e ideias são relativamente interpretadas
Frederic St-Arnaud, em depoimento dado à Zupi do mesmo modo, independente da pessoa que assiste.
[2010 p.37], conta que considera como o fator mais De acordo com o autor, juntamente com este poder de
apreciativo do concept art o fato de não existirem manipulação da imaginação alheia, adquire-se uma
regras ou um processo específico a ser seguido, grande responsabilidade em desenvolver personagens
contanto que expresse de forma bem sucedida o bem sucedidos.
conceito. St. Arnaud enfatiza que um bom concept
artist deve ter uma boa noção em desenho, com um Quantificar o que faz de personagem um bom
bom senso de perspectiva e de cores, necessita ser design, afirma Seegmiller [2008 p.05], é uma tarefa
criativo e dominar variadas habilidades técnicas. difícil, isto porque cada pessoa é única, e o que é bom
para um, pode não ser para outro. A maioria dos
Eu acho que a nossa profissão chegou para vencer. processos de desenvolvimento de personagens possui
Houve uma época que as pessoas pensavam que era
ideias ambíguas sobre o que é criativo e o que não é.
apenas brincadeira de criança, mas agora nós somos
profissionais completos, com fortes conhecimentos, e
para mim é certamente um dos melhores trabalhos do 3.1 Etapas de desenvolvimento
mundo. [BLANCHÉ, Pascal. Em entrevista dada à Zupi,
2010, p.81] Seegmiller [2008] explica que o design de personagem
vai muito além de apenas desenhar uma figura
O concept art agrupa o desenvolvimento de qualquer no papel, pois é necessário levar em conta
diferentes elementos como personagens, cenários, vários fatores no momento da criação de personagens.
acessórios, climatização, entre outros, os quais tendem Alguns artistas tendem a ir diretamente para o desenho
a influenciar e interagir mutuamente. sem ter nenhum tipo de plano a seguir. O autor declara
que tal método é ineficaz e que ter um plano específico
é extremamente importante, pois possibilitará uma
3. Design de personagens maior produtividade e diminuíra o nível de frustração
do artista.
Mais do que apenas criar ou desenhar alguma coisa, o
O design de bons personagens não costuma surgir de
design de personagens tem o poder de trazer à tona as
ficar sentado batendo um lápis na mesa ou de ir
crenças, expectativas e reações do público quanto aos diretamente para os sketches. Planejamento e trabalhos
aspectos formais, compleição física e o caráter destes preliminares são sempre necessários e iram pagar grandes
personagens [Seegmiller]. dividendos no final do projeto. [Seegmiller 2008, p. 20]
Sob cada personagem subjazem camadas de O processo empregado na criação do concept art
trata-se de um processo de design, e assim como em
significado que remetem a arquétipos contidos nos
qualquer outro processo possui algumas etapas
mitos e lendas, como os heróis míticos e os monstros,
representativos do caos, que necessitam ser derrotados
fundamentais em seu desenvolvimento para o sucesso para que não haja uma falha de comunicação e
do projeto. consequente perda de produtividade, já que o artista
terá que refazer o trabalho em casos assim.
3.1.1 Briefing
3.1.3 Expansão de ideias
A primeira etapa, segundo Seegmiller [2008], trata-se
do momento que, no campo do design pode ser Seegmiller [2008, p.20] explana sobre algumas
chamado de briefing, o qual configura uma série de estratégias básicas que podem ajudar no
perguntas vitais para o projeto. Para o design de desenvolvimento de ideias criativas:
personagens, o autor propõe as seguintes perguntas,
porém mais podem ser adicionadas de acordo com o • Respirar fundo e relaxar. Conversar consigo
projeto: mesmo sobre o problema;
• Observar o que está à sua volta, deixar a mente
• Como o personagem será usado? vagar. Libertar a sua mente;
• Como o personagem será exibido (mídia)? • Sempre observar atentamente as pessoas à sua
• Qual o tamanho do personagem com relação aos volta todos os dias. Perceber qualidades
outros? especiais que não havia visto antes;
• O personagem será animado? Como? • Praticar brainstorm com outras pessoas;
• O personagem será visto por quais ângulos? • Tentar ver o assunto sobre uma nova
• Quanto movimento o personagem terá? perspectiva.
• O personagem estará perto o suficiente para ver
expressões faciais? A pesquisa de material de referência é fundamental,
• O personagem necessitará falar? assim como saber utilizá-lo de forma apropriada.
• Qual o nível de detalhamento necessário para o Segundo Seegmiller [2008, p.22], uma das mais
personagem? importantes habilidades do artista seria a capacidade de
• O personagem será simples ou complexo? discernir informações úteis e inspiradoras em prol do
• A quem o personagem necessita apelar design do personagem.
visualmente (público-alvo)?
• O personagem consegue sustentar a si próprio O autor agrupa algumas dicas que podem ajudar no
se retirado de seu ambiente? momento da criação da personalidade dos personagens,
permitindo que se desenvolvam de maneira mais
• A silhueta ou perfil do personagem é
profunda e complexa:
reconhecível por si próprio?
Esta etapa do briefing é uma parte fundamental do • Fantasiar sobre o personagem que está
projeto, pois elas deverão estar sempre junto com o projetando, imaginar situações do tipo “o que
artista e nortear várias decisões, a influência destas aconteceria se...”. Por exemplo: o que
perguntas irá sempre aparecer na base estrutural do aconteceria se se encontrasse um pinguim no
design. deserto?
• Conceder ao design do personagem elementos
3.1.2 Identificação do problema simbólicos, pois estes são facilmente
apreendidos pelo público, possibilitando dicas
O segundo passo, de acordo com Seegmiller [2008], visuais sobre a personalidade do personagem.
visa identificar e compreender de forma clara o • Construir o personagem em volta de um mito,
problema, e a partir disto, buscar uma solução. ou criar um próprio para o personagem.
anotações para concretizar o registro e gerar novas • Distorção: é possível cortar, dobrar, girar e
ideias. O autor recomenda que jamais se faça uso da mutilar o personagem. Nada é sagrado e
borracha, pois isto irá apenas limitar e diminuir o fluxo impassível de transformação.
da criatividade. • Evolução do personagem: Pegar algo do
design do personagem e modificar
Alguns métodos que podem auxiliar na ligeiramente. Continuar em um processo
concretização de ideias vagas: iterativo.
aos eventos como pessoas reais, não como recortes de • Objetivos (o que o personagem quer ou pensa
papéis. Suas crenças e experiências passadas irão que quer?);
determinar como irão corresponder às situações, o que
• Arco (como o personagem muda com o decorrer
eles falariam e como eles falariam isto, e como as ações
visíveis podem ser diferentes do que seu desejo interior.
da história?);
[Perry e DeMaria 2009, p.191] • Falhas e limitações;
• Força pessoal;
Perry e DeMaria [2009, p.162] afirmam que uma • Emoções básicas (estado de espírito,
das melhores maneiras de criar personagens é o temperamento);
constante questionamento de tudo. Os autores contam • Peculiaridades (o personagem possui alguma
sobre outro autor best-seller chamado Orson Scott peculiaridade?);
Card, que sugere que haja um frequente interrogatório • Manias (ex: roer unhas, mexer no cabelo
sobre seus personagens e ideias. O primeiro constantemente, evitar contato visual, etc.);
pensamento que vem a mente sobre a criação • Medos (o que personagem teme?);
dificilmente resultará em um bom design, pois • Atividades e hobbies;
geralmente trata-se de estereótipos ou clichês. Sempre • Animais de estimação (o personagem possui ou
deve haver uma continuação de perguntas sobre causas gosta de animais?);
e consequências, motivações e significados, até que se • Preferências (ex: comida, música, etc.);
desenvolva uma ideia mais profunda e complexa sobre • Sexualidade (quais as preferências sexuais?);
o design. • Viagem (como o personagem viaja/desloca-
se?);
Seegmiller [2008] sugere que o primeiro passo
• Habilidades (possui habilidades ou poderes
seria imaginar o passado, presente e futuro do
especiais?);
personagem. O autor elabora algumas possíveis
• Administração do stress (como se comporta em
perguntas que podem ajudar no desenvolvimento da
situações estressantes?);
história do personagem:
• O lado espiritual (quais as crenças espirituais ou
religiosas?);
• Qual a personalidade do personagem e como
sua história influencia a mesma? • Relação com outros personagens;
• Qual o nome do personagem? • Descrições físicas e mudanças;
• Qual a árvore genealógica do personagem? • Humor (o personagem é engraçado?).
• O personagem é baseado em alguma lenda ou
Seegmiller [2008, p.44] cita algumas considerações
mito? O público irá conhecer e entender sua
que podem ou devem ser pensadas no desenvolvimento
origem?
do design:
• Qual é a linguagem corporal do personagem e
como isso ajuda a definir sua personalidade?
• Utilização de estereótipos (apenas quando
• Como foi ou é a relação familiar do
apropriado e não ofensivo);
personagem? Boa, ruim, neutra ou
• Fazer o público de bobo (não vá muito longe do
inexistente?
esperado, pois irá confundir o público);
• O personagem é educado ou analfabeto?
• Sensibilidade (cuidado ao lidar com elementos
• Qual são as condições de vida atuais do
simbólicos e culturais);
personagem?
• Conexão do personagem com a realidade (o
• O personagem tem trabalho, comércio ou
personagem precisa de um ponto de
habilidades comerciais?
referência, pois, ao criar-se algo
• O personagem tem ou precisa de status irreconhecível o público não irá se relacionar
financeiro? com o personagem);
• Quais são as comidas favoritas do personagem? • Originalidade (balancear entre a total
• O personagem pratica alguma atividade ou originalidade e o comum).
hobbie?
Uma questão vital sobre o design do personagem é
Perry e DeMaria [2009] listam outras questões a definição do ambiente em que o ele se encontra ou se
importantes para a delimitação do perfil do origina, pois isto irá influenciar em uma boa fração da
personagem: aparência física (e até mental) do personagem. Manter
uma consistência com o ambiente do personagem é
• O papel do personagem (ex: herói, vilão, vítima, vital. Na criação de personagens provenientes do
etc); mesmo ambiente é necessário considerar que eles
• Idade, sexo, etnia, status econômico e social, devem ser similares.
estado civil e nome.
• Profissão; Também de extrema importância para o projeto é
• A situação (quais os eventos que levaram o silhueta do personagem. Raynes & Raynes [ 2000 p.
personagem ao presente momento); 16] sugerem que o desenho da silhueta é uma das
habilidades mais importantes que um artista precisa aparência que reflete a do mundo natural, já no caso de
desenvolver, pois, sem fixar-se de antemão em áreas criações de algo que não refletem em nada a realidade,
restritas como os olhos ou o rosto, permite que se então a dica é deixar a imaginação livre. Entretanto a
pense a forma de maneira integral. Se a figura completa desvinculação da realidade é arriscada, pois o
consegue se sustentar por si própria, então o design do público pode não se relacionar ao personagem e
personagem será mais bem sucedido. resultar em um design fracassado.
Sketching é a tão chamada prática que leva a perfeição. É as vezes, e tentar gravar notas visuais nele sempre que
o exercício mais importante para o desenho e acabará por puder. [LIPPINCOTT 2007, p.21]
se tornar arte com base em suas idéias criativas. [...]
Sketching possibilita ao artista a habilidade de tomar De acordo com Lippincott [2007, p.22] existem
decisões sobre suas ideias iniciais sem medo de estragá- alguns tipo diferentes de sketches, cada um com um
las por causa de erros que demoram em se corrigir propósito diferente. Alguns sketches podem ser usados
posteriormente. Quando se faz desenhos rápidos e
para a prática do desenho ou para geração de novas
simples de um assunto, o artista na verdade permite
mudanças na arte antes de se tornarem presos à ideias ideias, enquanto outros tipos de sketches podem ser
que acabam por se tornar difíceis de mudar por causas do uma forma de apresentação, como, por exemplo, no
tempo e esforço gasto neles. [LIPPINCOTT 2007 p.20] caso de um desenho necessário para dar aos diretores
de arte ou editores a ideia visual do que da intenção do
Lippincott [2007] afirma que os sketches permitem artista. E o último tipo de sketch seria aqueles quase
a consideração visual de poses alternativas para que completamente abstratos, que ajudam no
personagens, explorando também diferentes pontos de planejamento dos elementos (personagens, arquitetura,
vista ou recortes da figura, possibilitando uma visão paisagem, etc.) na peça gráfica.
geral da composição, e por consequência, uma escolha
mais segura da melhor alternativa para o refinamento 3.2.2 A Estrutura da Figura
do desenho, diminuindo o nível de frustração em
projetos. Os sketches de composição são pequenos Para o design de personagens o conhecimento da
thumbnails (miniaturas em português) que permitem o anatomia é sem dúvida indispensável e configura algo
acesso rápido do aspecto compositivo da imagem, vital para o sucesso da representação correta ou mesmo
permitindo a consideração de elementos como o ponto um representação distorcida (proposital), sendo
focal e o equilíbrio. possível também a manipulação das partes integrantes
da figura em combinações únicas e não-naturais.
Costumam ser rápidos de se produzir, permitindo
um maior fluxo da criatividade e a geração de mais Ao saber como um humano mediano se parece, você terá
ideias alternativas. Os sketches podem até mesmo uma maior chance de sucesso ao distorcer a figura para
permitir a escolha de começar tudo novamente sem que alcançar suas necessidades específicas. [LIPPINCOTT
2007, p.50]
o artista fique com a sensação de que o trabalho até
então foi uma perda de tempo.
Lemen [2010 p. 16] explica que o designer que
deseja trabalhar em algo como ilustrações de histórias,
capas de livros, projetos conceituais de jogos ou
desenho de storyboards, deve ter como parte de sua
constituição o domínio dos fundamentos da
representação de figuras, já que na maioria dos
projetos, ocorre o envolvimento da figura humana.
Sketching não só transfere nossos pensamentos para o Existem várias técnicas para desenhar o corpo humano,
papel para que possamos consultá-los posteriormente, todas levam a um objetivo similar: uma figura
como o processo persistente do desenho também melhora tridimensional e realista. Embora não seja necessário ser
nossa habilidade de representar idéias com clareza. um especialista em anatomia para produzir ilustrações,
Estimula a coordenação mão-cérebro e, finalmente, quanto mais conhecimento você tiver, mais fácil será
torna-se tão natural quanto escrever os nossos nomes. para resolver problemas e encontrar soluções claras para
Desenhando a partir da imaginação e do mundo real é qualquer desenho que você faz. [LEMEN 2010, p.16]
igualmente importante - até mesmo na arte de fantasia, o
mais realista dos personagens, objetos e fundos, maior o Lemen [2010, p.17] explica que existem dois
impacto da fantasia. Leve um sketchbook com você todas
modos distintos de aproximação do desenho da figura
humana – o desenho por observação e o desenho por confere uma aparência diferenciada aos dois objetos.
fórmulas. Em geral, objetos que se encontram mais perto terão
cores mais fortes e o contraste entre luz e sombra será
O desenho por observação se apoia em uma mais evidente, enquanto objetos mais distantes tendem
metodologia dependente da visão, treinando os olhos a a ficar mais opacos e perder detalhes, rumo à
apreender as imagens com precisão, tendo um modelo abstração.
definido; sendo possível a comparação lado a lado do
desenho e o real. Cheeseman-Meyer [2007, p.13] destaca duas
palavras importantes para o aprendizado da
A metodologia do desenho por fórmulas trata da perspectiva: o horizonte e o ponto de fuga.
utilização de ritmos abstratos e formas entrelaçada para
a constituição da figura. O horizonte representa a linha que divide o céu do
chão. Como a linha do oceano que pode ser vista se o
Entender as duas formas de estudo, segundo Lemen observador estiver na praia.
[2010, p17], apresenta-se como algo muito importante
para um bom artista, pois o desenho por observação irá Os pontos de fuga geralmente se encontram na
ajudar na habilidade de apreensão de imagens pelos linha do horizonte, e representam pontos imaginários
olhos e pela mente e, consequentemente, na reprodução nos quais linhas paralelas convergem formando guias
da figura humana. Já o desenho por fórmulas viabiliza para o desenho. O número de pontos de fuga pode
o desenho sem utilização de modelos, possibilitando o variar de acordo com as necessidades do desenho.
ato de desenhar pela imaginação, utilizando os “olhos
da mente”. O autor utiliza o termo “ângulos de câmera”, do
ramo cinematográfico, para denotar o fato de que a
3.2.3 A Perspectiva perspectiva, conforme sua utilização, pode conferir um
clima (emocional) à imagem, como, por exemplo, a
Desenhar em perspectiva é uma das habilidades cena do tipo “olho de minhoca”, que configura uma
fundamentais para qualquer artista. Ser capaz de cena vista de baixo para cima, visando pela expressão
desenhar objetos que parecem encurtar com a distância é de superioridade, ou então a cena de “olho de pássaro”,
essencial para fazer qualquer coisa, e todo o resto,
que demonstra o oposto à anterior. Cabe ao ilustrador
parecer realista – edifícios, paisagens, interiores e
figuras. [LIPPINCOTT 2007, p.70]
saber manipular a perspectiva em prol de suas
necessidades.
Cheeseman-Meyer [2007 p.07] afirma que em tudo
– cidades, pessoas, árvores, carros, cartas de jogo, entre 3.3. A ilustração
outros – a perspectiva é percebida pelos olhos das
pessoas, ou seja, se existe no espaço, então o objeto é Zeegen e Crush [2009] afirmam que a essência da
afetado pela perspectiva. ilustração se encontra no pensamento, ou seja, nas
ideias e conceitos que formam a estrutura fundamental
Em histórias em quadrinhos e peças gráficas com da mensagem que a imagem tenta comunicar. O
temas fantasiosos, nas quais o artista está inventando trabalho do ilustrador é atribuir vida e
mundos inteiros com base em sua imaginação, para representatividade gráfica a uma mensagem,
conseguir concretizar estas cenas de forma satisfatória, combinando pensamento analítico inteligente com
é imprescindível o domínio das técnicas de ilusão de habilidades práticas.
profundidade, ou seja, o estudo da perspectiva em si.
Após o desenvolvimento desta habilidade pelo artista, Para toda a ilustração o desenho representa uma
ele se torna capaz de concretizar intuitivamente “a habilidade fundamental, pois sem a capacidade de
partir do zero” uma imagem com base em uma ideia. desenhar e visualizar bem, o ilustrador carece de uma
das ferramentas mais importantes para seu trabalho. O
O conceito mais básico da perspectiva, segundo desenho permite que imagens complexas se tornem
Cheeseman-Meyer [2007 p.11], é o fato de que as possíveis por meio de uma infinidade de técnicas.
coisas, quanto mais longe estiverem do observador,
menores pareceram em relação ao que está mais perto. Segundo Zeegen e Crush [2009, p.20] as
Objetos como trilhas, linhas de postes de luz, linhas de habilidades e técnicas são inestimáveis para o trabalho
trem, ficam menores com a distância e acabam por do ilustrador, assim como dominar uma abordam que
convergir em um único ponto no infinito. E é a partir poderia ser considerada única. E tão importante quanto
desta convergência que as ferramentas da perspectiva isto, é a capacidade de criação de imagens fundadas em
se concretizam. pensamento criativo sólido, capaz de gerar soluções
gráficas com base em ideias coerentes.
Outra questão a se levar em conta é a perspectiva
atmosférica, que significa que existe mais atmosfera Lippincott [2007] afirma que boas ilustrações
entre o observador e um objeto distante do que outro sempre têm algo a contar, seja relacionada a uma
objeto que se encontre perto daquele que observa. Isto história ou à expressão de uma ideia.
Boas ilustrações [...] incentivam o espectador a pensar, a Outro elemento importante para a composição, de
tirar mais do texto do que a mensagem que salta à vista e acordo com Lippincott [2007] seria a aparente atitude
a alcançar um entendimento maior e mais profundo do dos personagens, tornando-se necessário que o
assunto. Grandes ilustrações são como grandes histórias e ilustrador tenha a perspicácia de saber representar
narrativas – exigem que o espectador se envolva
corretamente as intenções do personagem, se
ativamente para que possa compreendê-las plenamente.
O conceito pode parecer oculto em um primeiro adequando ao contexto representado, e tornando a peça
momento, mas é transmitido quando o espectador mais concisa.
permeia a imagem. A grande ilustração é um casamento
com a excelência no ofício, a habilidade e o pensamento As ferramentas para a confecção da ilustração
criativo. [Zeegen e Crush 2009, p.20] podem ser tradicionais, digitais ou mistas. A escolha da
ferramenta depende da escolha do designer e também
A concepção geral da peça gráfica atuando como do tempo concedido para a execução. Na indústria de
um todo é muito importante e, segundo Lippincott entretenimento a ferramenta mais utilizada atualmente
[2007], cabe ao ilustrador equilibrar os elementos seria a digital, devido à sua praticidade, rapidez e
visuais de forma concisa, conduzindo o olhar do possibilidade de edição com maior flexibilidade.
observador por determinada rota. É possível manipular
a ordem de apreensão dos elementos e,
consequentemente do grau de importância atribuído a 3. Conclusão
cada um, revelando a intenção de forma gradual. Tudo
isto visando pela transmissão de uma determinada Como considerações finais, é possível perceber o
mensagem. concept art de personagens como um universo
complexo e de inúmeras possibilidades criativas.
A composição global do projeto como um todo
pode ser planejada por meio de rápidos rascunhos, O concept art configura, sem dúvida, algo de
gerando uma série de possíveis alternativas, crucial importância para o desenvolvimento de projetos
possibilitando a partir deste ponto, uma etapa de voltados para a indústria do entretenimento. Torna o
escolha e refinamento. (Como abordado em 3.2.1 A projeto mais conciso, previsível e diminui
importância dos sketches) exponencialmente as chances do perder o foco dos
objetivos, proporcionando um melhor planejamento, o
Construindo a obra em torno de desenhos simples, o que possibilita a racionalização dos processos e uma
artista simplifica todos os aspectos do trabalho, tendo a
maior produtividade.
certeza de que as figuras irão interagir com seus
arredores para criar uma cena verossímil. É mais fácil ver
onde detalhes são requeridos quando se começa pelas O designer de personagem deve compreender e
linhas básicas. [Lippincot 2007, p.50] saber manipular o processo criativo (que se pode agora
entender como um processo de design de fato) para que
O emprego de acessórios (ou qualquer outro tipo consiga obter os melhores resultados possíveis dentro
elemento secundário) pode auxiliar de forma do prazo estipulado para o projeto. E para isso, deve ter
significativa na interpretação do personagem, servindo boas fundações em desenho e saber manipular algum
como pistas visuais ao expectador, como, por exemplo, tipo de técnica para que possa exprimir de forma
a profissão do personagem ou sua próxima ação no gráfica suas intenções (aqui apresentou-se o uso da
decorrer da história. Em alguns casos a composição por ilustração com este intuito); e o mais importante de
si só pode se tornar o elemento narrativo da obra, o tudo seria a habilidade de interpretação de idéias, assim
autor cita o exemplo de um castelo sozinho no topo de como a tradução destas para o meio visual, tornando-as
uma grande quantidade de montanhas e no seu arredor compreensível ao público a que se destina.
um vazio que se estende por milhas, com certeza esta
composição contaria uma história diferente do que
outra obra representando o interior bagunçado do Referências
mesmo castelo. Até mesmo a escolha de cores pode
influenciar a narrativa no aspecto emocional. CHEESEMAN-MEYER, J., 2007. Vanishing Point: Perspective
for Comics From the Ground Up. Ohio: Impact Books
A história presente em um jogo pode tornar-se mais
DANNER, A.; WITHROW, S., 2009. Diseño de personajes para
instigante através da linguagem visual. Ainda que o
novela gráfica. Barcelona: Gustavo Gili.
tema principal conte boa parte da história, a adição de
outros elementos, como personagens secundários, com LEMEN, R., 2010. Human Anatomy: A complete workshop on
todas as referências gráficas e conceituais, pode bringing your body drawing to life. In: HOWLETT,
Claire (Edi.), 2010. How to draw and paint anatomy.
expandir a rede de significados e ajudar a contar, de Imaginefx, p. 16-57.
forma mais detalhada, os propósitos, as motivações ou
as ações do personagem principal. [Lippincott 2007, LIPPINCOTT, G., 2007. The Fantasy Illustrator’s technique
p.28]. book. London: Barron’s.