Nova Versão - TCC Completo Paula Anderson Paiter

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE DIREITO

PAULA ANDERSON PAITER

O CABIMENTO DE JUSTIÇA RESTAURATIVA PARA CASOS DE VIOLÊNCIA


CONTRA AS MULHERES NO ÂMBITO DA LEI MARIA DA PENHA

CRICIÚMA
2019
PAULA ANDERSON PAITER

O CABIMENTO DE JUSTIÇA RESTAURATIVA PARA CASOS DE VIOLÊNCIA


CONTRA AS MULHERES NO ÂMBITO DA LEI MARIA DA PENHA

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado


para obtenção do grau de bacharel no curso de
Direito da Universidade do Extremo Sul
Catarinense, UNESC.

Orientador: Profª. Me. Mônica Ovinski de


Camargo Cortina.

CRICIÚMA
2019
PAULA ANDERSON PAITER

O CABIMENTO DE JUSTIÇA RESTAURATIVA PARA CASOS DE VIOLÊNCIA


CONTRA AS MULHERES NO ÂMBITO DA LEI MARIA DA PENHA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado


pela Banca Examinadora para obtenção do
Grau de bacharel, no Curso de Direito da
Universidade do Extremo Sul Catarinense,
UNESC.

Criciúma, 28 de novembro de 2019.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Me. Mônica Ovinski de Camargo Cortina (Orientadora)

Prof. Me. Leandro Alfredo da Rosa – UNESC

Prof. Me. Sheila Martignago Saleh – UNESC


AGRADECIMENTOS

Chegou ao fim uma etapa da vida de muitas alegrias e frustações. Este


trabalho é dedicado a toda as pessoas que me auxiliaram e que assim fizeram parte
da minha vida durante essa etapa.
A toda minha família, que sempre torceram e acreditaram no meu
potencial, nunca medindo esforços para me ajudar em qualquer que fosse a
situação, mantendo-me firme para chegar nesta reta final do curso. Aos meus pais
Zilda e Rogério por terem propiciado a realização deste sonho. Obrigada Fernanda,
minha irmã, por me ouvir nos momentos difíceis. Ao meu noivo Hébano, por todo
amor e carinho, paciência, companheirismo, sempre me dando forças.
Aos meus amigos, que me mantiveram alegre, transmitindo energias
positivas e tentando me ajudar de alguma forma, minha gratidão, pois vocês fazem
meus momentos mais felizes e leves. A minha amiga Carol que mesmo de longe
sempre me apoiou. E a minha amiga Larissa, que esteve junto comigo na faculdade
e também está fazendo seu TCC e juntas conseguimos aguentar toda pressão uma
dando força pra outra, obrigada amiga e força para continuar o seu. A todos que me
deram a mão, cooperaram, me deram carinho e palavras de conforto, meu obrigada.
Aos professores do curso, sempre tão atenciosos e compreensivos que
foram de extrema importância para todo esse período acadêmico. Agradeço
principalmente a minha orientadora Mônica Ovinski de Camargo Cortina, que
dedicou seu tempo e sua sabedoria sempre que o solicitei.
Não podia também deixar de agradecer aos meus colegas de trabalho
que me deram muitos ensinamentos durante a faculdade, a família PCSC e PMSC,
meu muito obrigada!
“Que todas as Mulheres, não só hoje, mas
todos os dias, sejam livres de qualquer
violência e que não lhe sejam negados
direitos á vida. Que sejam associadas a
respeito e dignidade.”
Maria Simão Torres
RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo estudar o cabimento da justiça restaurativa


para casos de violência contra as mulheres no âmbito da Lei Maria da Penha. A fim
de alcançar o objetivo, a presente pesquisa examinou a violência de gênero contra
as mulheres e suas consequências. Também analisou-se a justiça restaurativa
como via de resolução de conflitos de forma ampla como, por exemplo: quais são
seus objetivos, conceitos, princípios, bem como sua aplicabilidade/utilização na
resolução de conflitos no Brasil. Com relação à violência doméstica, identificou-se o
assunto e identifica-se a relação de dominação que permeia esse problema,
inclusive, deve ser analisada com cuidado no momento de escolha de um método
adequado para enfrentar a questão, uma vez que está intimamente ligado a sua
efetividade. Por fim, foi abordado o debate sobre a aplicação da Justiça Restaurativa
nos casos de violência doméstica contra as mulheres, identificando os principais
argumentos contrários e favoráveis a sua aplicação.

Palavras-chave: Lei Maria da Penha; violência doméstica; violência de gênero;


mulheres; justiça restaurativa.
ABSTRACT

The present work aimed to study the suitability of restorative justice for cases of
violence against women under the Maria da Penha Law. For the purpose of
achieving the goal, the present research examined gender violence against women
and its consequences. Restorative justice was also analyzed as a path to conflict
resolution in a broad way, such as: what are its objectives, concepts, principles, as
well as its applicability / use in conflict resolution in Brazil. Regarding domestic
violence, the issue was identified and the relationship of domination that permeates
this problem was identified, and should be carefully analyzed when choosing an
appropriate method to deal with the issue, since it is closely linked to its
effectiveness. Finally, the debate on the application of Restorative Justice in cases
of domestic violence against women was addressed, identifying the main against and
favorable arguments to its application.

Keywords: Maria da Penha Law; domestic violence; gender violence; women’s;


restorative justice.
SUMÁRIO

1.
INTRODUÇÃO.............................................................................................................9

2. VIOLÊNCIA DE GÊNERO CONTRA AS MULHERES E SUAS


CONSEQUÊNCIAS.....................................................................................................10

2.1 A violência de gênero na Convenção de Belém do Pará.....................................10

2.2 A criação da Lei Maria da Penha..........................................................................14

2.3 Aspectos pontuais da Lei Maria da Penha: violência doméstica, violência familiar
e em relações de afeto................................................................................................18

3. A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO VIA PARA A RESOLUÇÃO DE


CONFLITOS................................................................................................................23

3.1 A Justiça Restaurativa é um caminho possível?..................................................24

3.2 A Justiça Restaurativa e a mediação penal: os modelos possíveis de justiça


restaurativa..................................................................................................................28

3.3 Aplicação da Resolução 225/16 do CNJ no Brasil...............................................31

3.4 A Justiça Restaurativa conforme a Resolução 225/2016 do CNJ........................34

4. A LEI MARIA DA PENHA E O DEBATE EM TORNO DA APLICAÇÃO DA


JUSTIÇA RESTAURATIVA EM CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA
AS MULHERES..........................................................................................................38

4.1 Os aspectos normativos da Lei Maria da Penha em relação a aplicação de


métodos extrajudiciais.................................................................................................39

4.2 Argumentos favoráveis à aplicação da Justiça Restaurativa...............................46

4.3 Argumentos contrários à aplicação da Justiça Restaurativa................................50

5. CONCLUSÃO..........................................................................................................55

6. REFERÊNCIAS.......................................................................................................58
9

1. INTRODUÇÃO

A Lei Maria da Penha surgiu em 2006 e trouxe um novo tratamento sobre


a violência doméstica ou familiar contra as mulheres é definida como aquela que
ocorre no âmbito doméstico ou em relações familiares ou de afetividade,
caracterizando pela discriminação, agressão ou coerção, podendo acontecer
entre pessoas com laços de sangue como pais e filhos, ou unidas de
forma civil, como marido e esposa ou genro e sogra. A violência de
gênero está caracterizada pela ocorrência dos atos violentos em função do gênero
que remete a hierarquia imposta socialmente que desiguala homens e mulheres. A
expressão violência de gênero é associada à violência contra as mulheres por conta
da desigualdade na qual ela se fundamenta, pois são as mulheres as maiores
vítimas da violência.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (2016), pode-se definir a Justiça
Restaurativa como uma técnica de solução de conflitos que busca escutar as vítimas
e os ofensores, por meio da mediação e conciliação. Já a Lei Maria da Penha foi
criada com a possibilidade de que o ofensor do crime de violência doméstica seja
punido com mais rigidez, pois antes da lei específica, a violência doméstica era
julgada pelos Juizados Especiais Criminais, encarregado das infrações penais de
menor potencial ofensivo.
Tendo isso em vista, o objetivo desta monografia é analisar acerca da
possibilidade da aplicação da justiça restaurativa nos casos que envolvem violência
doméstica e familiar contra as mulheres em razão da Lei Maria da Penha. Para
cumprir com este objetivo a monografia que segue se divide em três capítulos, no
primeiro capítulo pretende-se estudar acerca da violência de gênero contra a mulher
e suas consequências, no qual se manifesta como uma forma particular de violência
pela ordem patriarcal, que remete aos homens o direito de dominar e controlar suas
mulheres, podendo com isso praticar a violência.
No segundo capítulo pretende-se examinar-se-á a justiça restaurativa
como via de resolução de conflitos no qual é aplicada para amparar a vítima e o
ofensor a solucionar problemas causados pela prática do delito, prejudicial não
somente à vítima, mas a toda comunidade, trazendo-a no centro do conflito para a
busca de uma solução justa e duradoura. E por fim, no terceiro e último capítulo
10

pretende-se analisar a Lei Maria da Penha e o debate em torno da aplicação da


justiça restaurativa em casos de violência doméstica contra as mulheres em que tais
práticas podem gerar risco as mulheres, como o desequilíbrio de poder entra as
partes.
A relevância dessa pesquisa é que a violência contra a mulher é um
problema atual e de grande complexidade, por este motivo necessita de uma maior
atenção em relação à resolução desses conflitos. Discute-se sobre a justiça
restaurativa poder gerar ou não a redução/prevenção da violência contra as
mulheres. Para, além disso, a pesquisa que segue pretende investigar se esse
modelo de justiça é adequado para os casos de violência doméstica e familiar contra
as mulheres.
Para o presente trabalho será utilizado o método dedutivo, em pesquisa
do tipo teórica e qualitativa, com emprego de material bibliográfico diversificado em
livros, artigos de periódicos, teses e dissertações com a finalidade de analisar
acerca da justiça restaurativa quanto à violência das mulheres em razão da Lei
Maria da Penha.
10

2. VIOLÊNCIA DE GÊNERO CONTRA AS MULHERES E SUAS


CONSEQUÊNCIAS

Para entender a diversidade da violência à mulher é necessário


desvendar suas estruturas a partir do conceito de gênero. Entende-se gênero como
uma construção histórica e sociocultural. Determinam-se para as mulheres os
sentimentos como a passividade, a fragilidade, a emoção e a submissão e já para
aos homens, como a atividade, a força, a racionalidade e a dominação. A
perspectiva de gênero é organizada como a relação de poder, e configurando-se
entre homens e mulheres (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011, p.15).
Atualmente, a violência, independentemente do olhar do gênero, é
interposta por alguns aspectos psicológicos, físicos, como também, sexuais, e
considerada uma violação de direitos humanos (WHO, 2013, p. 5).
O sofrimento da violência contra a mulher é recorrente e aprisionante,
afeta a autonomia, arruína a autoestima e desvaloriza a qualidade de vida,
ocasionando consequências à construção pessoal, familiar e social (BRASIL,
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011, p. 20).
O capítulo que segue tem como objetivo a identificação da violência de
gênero contra as mulheres e suas consequências na sociedade atual.

2.1 A violência de gênero na Convenção de Belém do Pará

Para Scott (1995, p. 86), “o conceito de gênero repousa numa conexão


integral entre duas proposições: (1) o gênero é um elemento constitutivo de relações
sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e (2) o gênero é uma
forma primária de dar significado às relações de poder”.
A motivação do gênero passou a compor o conceito de violência
doméstica e familiar contra a mulher na lei protetiva brasileira com o principio da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a
Mulher (Convenção de Belém do Pará) (VARGAS; MACHADO, 2017, p. 99).
Pasinato (2015, p. 408) afirma que com o reconhecimento de leis
específicas para o enfrentamento da violência fundamentada no gênero, no qual tem
sido um método adotado pelos movimentos de feministas em vários países para
garantir o acesso à justiça e a direitos para as mulheres em situação de violência.
E complementa ainda que:
11

Este processo de mudanças legislativas tem seus avanços registrados


particularmente a partir da década de 1990 no contexto de duas importantes
convenções internacionais de direitos das mulheres: a Convenção para
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres –
CEDAW (1979) e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher – Convenção de Belém do Pará
(1994). Além das Conferências Internacionais de Direitos Humanos (Viena,
1993), População (Cairo, 1994), Mulheres (Beijing, 1995) que colocaram em
relevo os direitos das mulheres como direitos humanos e as estratégias
para seu reconhecimento e promoção.

A Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher foi


aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em
1993. Desta forma, o termo “violência contra a mulher” passou a ser tratado como
assunto específico. Foi o primeiro dispositivo sobre a proteção aos direitos humanos
das mulheres a identificar as mulheres em situação de violência. O primeiro
mecanismo com a marca da proteção aos direitos humanos das mulheres a
reconhecer a violência contra a mulher como um assunto controverso na sociedade
foi a Convenção de Belém do Pará (PASINATO, 2015, p. 81).
E então em 1994 o Estado do Pará, hospedou as delegações dos países
da Caribe e da América Latina para então debater o combate à violência contra a
mulher. Foram diversos dias de debates que resultaram com a criação do
documento como a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher e ficou mais conhecida como a Convenção de Belém do
Pará, na qual adotada pela Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados
Americanos) sendo ratificada por 32 países e reconhecida pelo Brasil somente em
1995. Foi o acordo internacional mais importante sobre a violência contra a mulher
(CINTRA, 2015, p. 4).
A Convenção de Belém do Pará consolida a violência contra a mulher,
destaca os direitos protegidos e indica os deveres dos Estados como também define
a violência contra a mulher nos artigos 1º e 2º:

Art. 1º - Para os efeitos desta Convenção deve-se entender por violência


contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no
âmbito público como no privado.
Art. 2º - Entender-se-á que violência contra a mulher inclui violência física,
sexual e psicológica:
§1. Que tenha ocorrido dentro da família ou unidade doméstica ou em
qualquer outra relação interpessoal, em que o agressor conviva ou haja
convivido no mesmo domicílio que a mulher e que compreende, entre
outros, estupro, violação, maus-tratos e abuso sexual:
§2. Que tenha ocorrido na comunidade e seja perpetrada por qualquer
pessoa e que compreende, entre outros, violação, abuso sexual, tortura,
maus tratos de pessoas, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro
12

e assédio sexual no lugar de trabalho, bem como em instituições


educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar, e
§3. Que seja perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde
quer que ocorra. (OEA, 1994).

Dias (2019, p. 61) cita que a Lei Maria da Penha em sua ementa invoca a
Convenção de Belém do Pará que define a violência contra as mulheres como
“qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano, ou sofrimento
físico, sexual ou psicológico à mulher” em seu artigo primeiro como já citado.
Freire (2007, p. 9) entende que o Brasil é aquele que está apto a assinar
todos os acordos internacionais que certificam os direitos humanos das mulheres
bem como a Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
e violência baseada no gênero.
Assim pela primeira vez, a Convenção de Belém do Pará estabeleceu o
direito das mulheres combinado com uma vida livre de violência, ao proceder à
violência contra as mulheres como uma violação aos direitos humanos. Deste modo,
adotou um novo modelo na luta internacional e de direitos humanos, considerando-
se que o privado é público cabendo aos Estados a se responsabilizar e assumirem
os deveres de erradicar e legalizar as situações de violência contra as mulheres
(BANDEIRA; ALMEIDA, 2015, p. 505).
A Assembleia Geral da OEA afirmou que a violência de gênero contra a
mulher é um insulto à dignidade humana, sendo uma manifestação de relações de
poder distintas entre mulheres e homens. Isto posto, a violência contra as mulheres
ultrapassa todos os setores da sociedade, independente de raça, classe ou grupo
étnico, cultura, nível educacional, níveis salariais, idade ou religião, afetando
negativamente as bases da própria sociedade (OEA, 1994).
E ainda Barsted (2006, p. 249), explica que ,
os esforços dos movimentos feministas em todo o mundo e os diversos
tratados internacionais das Nações Unidas deram visibilidade ao problema
da violência de gênero. Considerada como a discriminação que afeta mais
seriamente a qualidade de vida das mulheres, ela gera insegurança e medo,
além de sofrimentos físicos, mentais, sexuais, coerções e outras formas de
privação do direito à liberdade.

O afastamento da violência contra a mulher é circunstância essencial e


indispensável no avanço individual e social para sua total atuação diante de todas as
áreas da vida. A Convenção Belém do Pará afirma que a violência contra a mulher é
uma ofensa contra a dignidade humana, no qual é a demonstração das relações de
poder tradicionalmente desiguais entre os homens e as mulheres e que está em
13

todas as partes da população, diferentemente de classe, raça, grupo étnico, renda,


cultura, nível educacional, idade ou religião que afeta negativamente suas próprias
bases. (CAVALCANTI, 2006, p. 103)
Diante disso, cabe apresentar o significado da violência de gênero, mais
utilizado como sinônimo de violência contra a mulher e violência doméstica. No
Brasil destaca-se a expressão “violência de gênero” como um conjunto envolvendo a
violência doméstica e intrafamiliar. Assim, a violência de gênero pode ocorrer por
uma mulher contra uma mulher, bem como um homem contra um homem e por fim
um homem contra uma mulher. A violência familiar abrange pessoas da mesma
família e a violência doméstica abrange aquelas pessoas que não envolvem a
família, mas que convivem com o ofensor, mesmo que relativamente. (SAFFIOITI,
2004, p. 30).
Pasinato (2004, p. 84) identifica que a violência de gênero pode ser
compreendida como um ato que envolve a violência física, visível ou não. E assim
as relações de gênero podem ser caracterizadas também como uma relação de
poder. O significado tem importância porque está no âmbito cultural e social, quanto
à mulher e o homem na sociedade. Gênero é um termo que procura ressaltar a
criação social da personalidade da mulher e do homem, pretendendo distinguir o
social do biológico, já que na percepção do sexo é uma categoria biológica.
Assim, a característica sexual do masculino e do feminino não é a única
diferença entre eles, já que são construídos em diferentes épocas e sociedades,
ocasionando a desigualdade. Desta maneira a cultura é o que afirma, como o
exemplo da autora: o lar como lugar da mulher, da submissão ao homem. Assim
como a desobediência da mulher e a superioridade que o homem acreditar ter sobre
a mulher, possa então agredi-la (SAFFIOTI, 2004, p. 85).
A violência de gênero simboliza nas relações de poder no qual se cruza
com as categorias de gênero, raça, etnia e classe. A violência pela ordem matriarcal
se expressa de uma forma especifica, em que o homem acredita ter o direito de
dominar e controlar a mulher sendo capaz de usar isso com a violência. Desta
forma, um fator que influencia na produção da violência de gênero é a ordem
patriarcal, já que está como uma base das representações de gênero que
caracteriza a desigualdade (ARAUJO, 2008, p. 3).

2.2 A criação da Lei Maria da Penha


14

O confronto à violência doméstica contra mulheres no ano de 2006 deu


um formidável passo a partir da adoção da legislação específica Lei 11.340/06,
chamada Lei Maria da Penha. Essa reconhece a violência doméstica como uma
violação dos direitos humanos e esta fundada em uma perspectiva de gênero
(SANTOS; MACHADO, 2018, p. 245).
Em consideração às recomendações da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH), o então Presidente da República, Luís Inácio Lula da
Silva, sancionou o projeto de lei de iniciativa do Executivo, nº 37 de 2006, que teve
vigência em setembro de 2006, conforme artigo 226, § 8º, da Constituição Federal
do Brasil de 1988, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres e também da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. A nova Lei foi identificada
como Lei nº 11.340/2006, a Lei Maria da Penha, como menção à mulher que lutou
contra a impunidade passando a representar tantas outras mulheres vítimas de
violência doméstica no Brasil (OLIVEIRA, 2011, p. 36).
A lei em questão tem como destaque a Maria da Penha Maia Fernandes,
uma farmacêutica casada com um professor universitário e economista. Residentes
de Fortaleza (CE) o casal teve três filhas. Maria foi vitima de inúmeras agressões,
sendo que em duas oportunidades o marido tentou matá-la. Na primeira vez, em 29
de maio de 1983, o marido simulou um assalto, no qual portava uma espingarda,
como resultado a mulher ficou paraplégica. E depois numa nova tentativa, enquanto
ela tomava banho, ele tentou eletrocutá-la mediante uma descarga elétrica (DIAS,
2019, p. 21).
Em junho de 1983 as investigações iniciaram e a denúncia foi oferecida
somente no mês de setembro em 1984 pelo Ministério Público. Em 1991, ele foi
condenado pelo tribunal do júri a oito anos de prisão, em que recorreu em liberdade
e um ano depois o julgamento foi anulado. Um novo júri, em 1996, lhe impôs a pena
de dez anos e seis meses de prisão. Novamente recorreu em liberdade e somente
dezenove anos e seis meses após as agressões é que ele foi preso em 2002, e
colocado em liberdade em 2004, depois de cumprir somente dois anos de prisão
(DIAS, 2019, p. 21).
O Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-
Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) efetivaram
15

uma denúncia na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) devido a


um grande impacto. A Comissão solicitou quatro vezes informações para o governo
brasileiro, mas não recebeu nenhuma resposta. Em seguida, foi determinado pelo
relatório da OEA, o pagamento de uma indenização a Maria da Penha no valor de
20 mil dólares e também condenou o Brasil por negligencia e omissão quanto à
violência doméstica (DIAS, 2019, p. 14).
Maria da Penha Maia Fernandes como forma de reconhecimento, cedeu
seu nome à lei que estabeleceu mecanismos para coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, que atualmente é de conhecimento geral, mudando o
contexto da violência de gênero no Brasil. A Lei 11.340/2006 modificou a analise da
violência doméstica, que assim então a tornou crime e auxiliando a denunciar a
violência da qual as mulheres são sujeitadas (TELES, 2013, p. 110).
A lei 11.340/2006 ficou conhecida como um grande passo na história e
em seu processo histórico de construção e reconheceu os direitos das mulheres
como direitos humanos no Brasil, sendo muito aplaudida e respeitada como uma das
leis mais avançadas no enfrentamento da violência contra as mulheres pela ONU
(UNWOMEN, 2011). São consideradas por meio dessa legislação medidas judiciais
e extrajudiciais, tornando uma concepção ampla de acesso à justiça e aos direitos a
partir da perspectiva de gênero. O seu texto também considerou um conjunto de
políticas públicas no enfrentamento da violência baseada no gênero, combinado
com o comprometimento de sua aplicação juntamente com os três poderes do
governo (PASINATO, 2015, p. 409).
A Lei Maria da Penha, mesmo padecendo da falsa crença da eficiência
dos mecanismos penais, trouxe como inovação as medidas protetivas, as quais se
firmam como uma nova dinâmica de se responder ao conflito penal, buscando
instrumentos legais para salvarguadar a lesão de direito decorrentes da pratica da
violência (CAMARGO, 2008, p. 49).
A Lei apresentou a oportunidade de instaurar medidas mais rígidas sobre
o agressor, não ocorrendo mais o julgamento da violência de gênero como “menor
potencial ofensivo” e excluindo a pena de cestas básicas ou serviços comunitários,
como estabelecia a Lei 9.099/95. A grandeza que a Lei Maria da Penha conquistou
um grande debate que o movimento de mulheres destacou que não pode se afastar
a responsabilização dos agressores (AZEVEDO, 2008, p. 120).
16

A grande mudança promovida com sua criação foi o afastamento da Lei


dos Juizados Especiais Criminais, pois os casos de violência doméstica eram
encaminhados para os Juizados Especiais estabelecidos pela Lei 9.099/1995, que
eram julgados como crimes de “menor potencial ofensivo”, que são os crimes com
pena menor ou igual a um ano. Como exemplo, os crimes de lesão corporal leve da
qual a pena era de seis meses a um ano, era tratada pelos Juizados como crimes de
menor potencial ofensivo. Levando em consideração a relação de poder existente
nos casos das mulheres em situação de violência, a Lei 9.099/95 por si só
estimulava a desistência dessas mulheres em representar contra os seus
agressores (PIOVESAN; PIMENTEL, 2011, p. 112).
Ao constatar de que a violência contra a mulher era um crime de menor
potencial ofensivo, passava uma resposta insatisfatória quanto a sua aplicação, já
que era uma grave violação aos direitos humanos. A autora cita que as pesquisas
feitas demonstraram o quanto à aplicação da Lei 9.099/95 para os casos de
violência contra a mulher provocava a naturalização e legitimação deste padrão de
violência, e reforçava a hierarquia entre os gêneros (PIOVESAN; PIMENTEL, 2011,
p. 112).
A lei dos Juizados Especiais Criminais associada quanto à violência
contra as mulheres reuniu diversas críticas de modo a forma como ela tem sido
aplicada, tanto a classificação da violência como um crime de menor potencial
ofensivo, o menor número de denúncia que chegaram a uma decisão judicial e o tipo
da decisão que tem sido apresentada (IZUMINO, 2004, p. 9).
Santos e Machado (2018, p. 246) compreendem que:

Ao receber e tratar os casos de violência doméstica como infrações de


menor potencial ofensivo, em boa parte com mecanismos consensuais,
esvaziava-se também o significado social do fenômeno, transmitindo a
mensagem de que qualquer prática de enfrentamento da violência
doméstica contra mulheres deve ser feita no âmbito doméstico e privado.

Dessa forma no artigo 41 da Lei Maria da Penha, foi expressamente


vedada à aplicação da Lei 9.099/95, independentemente da pena cominada aos
crimes que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher. Segue a
redação do artigo: “Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra
a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26
de setembro de 1995” (BRASIL, 2006).
17

Assim, Barsted (2011, p. 17) entende que essa Lei está direcionada para
“a promoção da equidade de gênero e para a redução das diferentes formas de
vulnerabilidade social, apontando a necessidade de políticas públicas articuladas e
capazes de incidir sobre o fenômeno da violência contra a mulher”.
Ela não almeja somente a punição do autor do fato, preocupa-se também
com a reeducação e tratamento, visto que o Direito Penal sozinho não é capaz de
modificar o agressor da violência. Particularmente no contexto da violência
doméstica, a violência de gênero é feita de uma construção sociocultural e na maior
parte, essa violência é repetitiva e tem grandes possibilidades a se reproduzir em
todas as relações no seu ciclo tanto pessoal, como no seu trabalho. Desta maneira
ela inseriu na sua atribuição, a proteção, mas não só da mulher, mas como também
a entidade familiar na questão da violência doméstica. No entanto, o seu foco
principal é a visão protetiva das mulheres em situação de violência.

2.3 Aspectos pontuais da Lei Maria da Penha: violência doméstica,


violência familiar e em relações de afeto

A Lei Maria da Penha regulamentou referente a violência de gênero e


então estabeleceu o conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher no
art. 5º: “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”. Definiu
também as formas de proteção para as mulheres em situação de violência e utilizou
o termo gênero, que é citado outras vezes na lei.
Teles e Melo (2003, p. 15) conceituam a violência como:

[...] uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar outra pessoa a
fazer algo que não está com vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é
incomodar, é impedir a outra pessoa de manifestar seu desejo e sua
vontade, sob pena de viver gravemente ameaçada ou até mesmo ser
espancada, lesionada ou morta. É um meio de coagir, de submeter outrem
ao seu domínio, é uma violação dos direitos essenciais do ser humano.

E Piovesan (2002, p. 214) conceitua a violência contra a mulher como:

[...] qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação, agressão ou


coerção, ocasionado pelo simples fato de a vítima ser mulher, e que cause
dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral,
psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Essa
violência pode acontecer tanto em espaços públicos como privados.

A violência contra as mulheres encarrega-se de vários aspectos, e em


grande parte dos casos, um episódio agudo e mais greve, como uma lesão grave,
18

uma tentativa de homicídio, é o trágico desfecho para uma situação de violência


crônica, e cruel, que pouco a pouco derruba a defesa das mulheres, até deixa-las
completamente a favor do agressor, sem nenhuma condição física ou principalmente
psíquica de buscar ajuda. As mulheres ficam com sua autoestima baixa, o que
tantas vezes é lhe dita à mesma inverdade, que a vítima passa até mesmo a
acreditar naquilo que é proferido, sentindo-se culpada e realmente responsável pela
violência desencadeada de maneira injusta, egoísta e insana pelo agressor, que
não, em raros casos, se sente a verdadeira vitima do lamentável episódio
(CAMPOS; CORRÊA, 2007, p. 221-222).
Para alcançar o conceito de violência domestica é fundamental à junção
dos artigos 5º e 7º da Lei Maria da Penha. Permanecer somente no artigo 5º é
insuficiente, pois as expressões são vagas: “qualquer ação ou omissão baseada no
gênero”, “âmbito de unidade doméstica”, “âmbito da família” e “relação íntima de
afeto”. Em contra partida, não se extrai o conceito legal de violência contra a mulher
apenas do artigo 7º. E então para se extrair o conceito de violência doméstica e
familiar contra a mulher, o jeito é junta-los e em conjunto interpreta-los para ter uma
melhor definição. Qualquer das ações expressas no artigo 7º quais são: violência
física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral, é reconhecida como violência
domestica praticada contra a mulher tendo em conta o vinculo de âmbito familiar ou
afetiva (DIAS, 2019, p. 62-63). Desta forma, toda e qualquer violência doméstica ou
familiar contra a mulher, não é abrangida pela Lei Maria da Penha, mas
exclusivamente aquela que pode ser entendida como violência de gênero, melhor
dizendo, não somente agressões motivadas por problemas pessoais e sim expondo
a dominação de homem e submissão da mulher (SILVA JUNIOR, 2006, p. 3).
A violência doméstica fundamenta‐se, segundo Cavalcanti (2006, p. 108)

Em relações interpessoais de desigualdade e poder entre homens e


mulheres ligados por vínculos consanguíneos, parentais, de afinidade ou
afetividade. O agressor se vale da condição privilegiada de uma relação de
casamento, convívio, confiança, amizade, namoro, intimidade, privacidade
que tenha ou já tenha tido com a vítima, bem como da relação de hierarquia
ou poder que detenha sobre a vítima para praticar a violência.

Há muito tempo a violência contra a mulher especificamente a doméstica


está presente na sociedade, segundo Izumino (2004, p. 90) a visão que ainda se
tem da mulher é que ela é enxergada como uma posse do homem, o chefe da
família, pois em muitos casos a mulher depende desse sustento. A violência contra
19

as mulheres é um meio de muita opressão, sendo difícil indicar o lapso em que se


começaram os abusos físicos e psicológicos no contexto familiar. Com o
crescimento da população e a autonomia da mulher, que passa a trabalhar fora de
sua residência, tal dependência reduziu, todavia, a violência continuou e continua
até hoje.
Cavalcanti (2006, p. 120) afirma que:

O mito da família perfeita leva os indivíduos a pensá‐la como lugar de afeto,


respeito e harmonia. Esta idealização está associada a outros mitos,
notadamente, o de que a violência doméstica se constitui num
comportamento relativamente raro, que ocorre apenas em famílias
consideradas “anormais” ou das classes baixas. Tal idealização é, em parte,
responsável pela negligência com a gravidade da violência doméstica,
considerando‐a, muitas vezes, como um componente necessário à
educação dos filhos, ao relacionamento conjugal e a certas interações
familiares.

As circunstâncias da violência doméstica e familiar contra a mulher é um


efeito de subordinação e submissão a princípios masculinos, que demonstram
classes hierárquicas entre as mulheres e os homens, trazendo como causa de
opressão das mulheres imposta pela sociedade com discriminação, diferença de
tratamento e condições (CAMPOS; CORRÊA, 2007, p. 212-213).
Especificado o conceito de violência doméstica, cabe explicar as formas
da violência doméstica que são a violência física, a psicológica, a sexual, a
patrimonial e a moral. A violência física é definida como “qualquer conduta que
ofenda a integridade física ou saúde corporal da mulher”, como diz o artigo 7, inciso
I. Ela se apresenta de diversas formas, que podem ir de um empurrão ao final
trágico como o homicídio. Desse modo, a agressão pode não deixar marcas, mas
com o uso da força física, que violenta o corpo e a saúde da mulher, está inserida no
conceito de violência física (DIAS, 2019, p. 65).
Já no que lhe diz respeito à violência psicológica é qualquer conduta que
cause dano emocional ou diminuição da autoestima, pretendendo controlar seu
comportamento ou ações, através de uma ameaça, constrangimento ou humilhação.
A violência psicológica está conectada muitas vezes com a física, pois não há
violência física sem que anteriormente não tenha acontecido a violência psicológica.
Mas somente a violência psicológica, pode deixar um abalo emocional tão grande
(HIRIGOYEN, 2006, p. 27).
Segundo Machado e Dezanoski (2014, p. 101), a violência moral consiste,
20

Na desmoralização das mulheres em situação de violência, entrelaçando-se


com a violência psicológica. É entendida como qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria. São delitos que ofendem a honra,
mas quando cometidos no âmbito familiar ou afetivo, configuram violência
doméstica.

O inciso III do artigo 7º, da Lei Maria da Penha, conceitua de forma ampla
a violência sexual. Ela é entendida como:

Qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de


relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso
da força, que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a
force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante
coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos (BRASIL, 2006).

A violência sexual assimila uma diversidade de ações ou tentativas de


abuso sexual sob ameaça ou mediante do uso da força, podendo ter ou não uma
violência, e algumas vezes ocorrem por pessoas desconhecidas da vítima, mas
frequentemente praticada por pessoas conhecidas da vítima. Para que configure a
violência doméstica e familiar contra a mulher à violência sexual deve ser praticada
por autores que possuam com as mulheres vínculo conjugais, doméstico, familiar ou
afetivo, não se exigindo que tenha acontecido no âmbito doméstico ou familiar
(CAMPOS; CORRÊA, 2007, p. 292).
A violência patrimonial está definida no Código Penal identificados como
crimes contra o patrimônio, que são o furto em seu artigo 155, o dano no artigo 163
e apropriação indébita conforme o artigo 168. Ela foi identificada como violência
doméstica com a criação da Lei Maria da Penha, quando a mulher tem um
vínculo/relacionamento de modo familiar, doméstico ou em relações de afeto. Com a
Lei Maria da Penha a violência patrimonial foi reconhecida como violência
doméstica, quando a vitima é mulher e mantém com o autor vínculo de natureza
doméstica, familiar ou em relações de afeto. Cabe ser tipificado como violência
patrimonial quando a subtração ocorre com a finalidade de causar dor à mulher,
pouco importando o valor dos bens subtraídos. Conclui-se que está tipificada como
subtrair, destruir e deter (DIAS, 2019, p. 99).
De acordo com Maria Berenice Dias (2019, p. 65), a definição de família
como uma relação de afeto condiz ao conceito de família em si. O conceito
interposto pela lei de comunidade familiar é imenso, englobando uma diversidade de
convivências existente na natureza familiar e doméstica e não só a conflitos
21

contendo relações amorosas. Destaca-se que os indivíduos podem ter ou não esse
vínculo domestico e familiar, pois a lei protege também qualquer relação íntima de
afeto. Além disso, não há necessidade que o agressor tenha um convívio com a
vítima, basta que já tenha convivido independentemente de morar junto ou não. E lei
também abrange diversas pessoas de maridos a ex-maridos, namorados a ex-
namorados, bem como os avós, pais, irmãos, cunhados, tios, enteados e padrastos,
incluindo várias ligações no âmbito doméstico (SIMIONI; CRUZ, 2011, p. 189).
Basta a comprovação de que a ação agressiva decorreu da relação de
afeto, não importando o tempo do relacionamento e o tempo após o término.
Independentemente de que ambos não vivem sob o mesmo teto e identificado a
violência, a mulher deve receber o amparo da Lei Maria da Penha. Para a
confirmação da violência no âmbito doméstico, é preciso uma ligação entre a
agressão e o fato que a gerou, ou seja, a causa precisa ter a relação intima de afeto
(DIAS, 2019, p. 67-68).
Por fim, os conceitos que abrangem a violência doméstica e suas formas,
a violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, como também a violência
familiar e as relações de afeto bastando à comprovação de que ocorreu o fato nesse
âmbito. E a identificação da violência de gênero contra as mulheres, que tem como
consequências o abalo emocional, familiar e social, tudo isso como uma relação de
poder e geralmente constituída entre o homem e a mulher.

3. A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO VIA PARA A RESOLUÇÃO DE


CONFLITOS

Ao viver em sociedade, o ser humano cotidianamente se depara com


situações que geram conflitos de interesses, sejam eles, coletivos e/ou individuais.
Entretanto, nem sempre pode-se ver essas discordâncias como um ponto negativo,
pois é através desses diferentes pontos de vista que o individuo desenvolve-se
consequentemente desenvolvendo a sociedade ao seu redor também. Todavia,
deve-se munir a população de soluções para suas discordâncias, implementando
seus direitos e deduzindo seus anseios. No decorrer da história, a humanidade
continuamente preocupou-se com a construção e o aprimoramento dos meios de
pacificação dos conflitos (SOUZA; FABENI, 2013, p. 137).
O tema a ser retratado no presente capitulo é a Justiça Restaurativa, um
método consensual de tratamento de conflitos, que tanto viabilizam acesso à justiça,
22

como também auxiliam o papel do sistema jurisdicional (ORSINI; LARA, 2013, p. 1).
E deste modo, relacionar a resolução 225 de 2016 do CNJ que trata sobre a Justiça
Restaurativa demonstrar como está sendo aplicada no Brasil e por fim, e identificar
como ela é aplicada e em que casos podem ser aceitos.
A justiça restaurativa apresenta-se como uma nova forma de aplicação de
justiça em que agressor e vítima buscam através do dialogo a superação do dano e
na reintegração do réu à sociedade. Tendo como objetivo o fim dos sentimentos
negativos, em detrimento da pena que simplesmente pune, sem qualquer outra
finalidade. Essa nova concepção já é realidade em países como a Nova Zelândia
onde a medida vem se mostrando eficiente, em virtude de o principal método de
resolução do antagonismo seja o dialogo. (PELLENZ; BASTIANI, 2015, p. 232).
Resumindo, a Justiça Restaurativa busca prevenir e evitar que a violência
germine ou se repita. Procurando assim, resgatar o dignamente o justo e ético não
se resume a um procedimento especial voltado a resolver os litígios, apesar de
compreender uma gama deles (SALMASO, 2016, p. 37).

3.1 A Justiça Restaurativa é um caminho possível?

O universo teórico da Justiça Restaurativa, no mundo anglo-saxão, tem


sido bastante plural e criativo. Desde a obra pioneira de Howard Zehr, desenvolveu-
se um conjunto de teorias e conceitos próprios, com vinculação do ideal restaurativo
a diferentes perspectivas (teoria das lentes, teoria da vergonha, teoria do cuidado,
cultura de paz restaurativa) que, imprimindo maior ou menor potencialidade à Justiça
Restaurativa (uma nova visão do crime e da justiça, um novo modelo de resolução
de conflitos, um modo de se relacionar entre as pessoas e em sociedade ou um
novo paradigma de sociabilidade, um caminho para a cultura da paz) (ANDRADE,
2018, p. 57).
Desde as décadas de 1970 e 1980 no Canadá e na Nova Zelândia, e
mais recentemente no Brasil e em outros países da América Latina, as respostas do
Estado para aumentar as demandas de justiça foram orientadas em direção ao uso
do conhecimento e dos recursos locais através da participação ativa dos membros
da comunidade na administração do processo de justiça. Os membros da
comunidade que recebem treinamento em facilitação de justiça restaurativa
aprendem habilidades novas na governança da justiça. Os agentes que facilitam
processos de justiça restaurativos são das comunidades nas quais os projetos
23

funcionam, assim geralmente com mais conhecimento do contexto e das questões


que envolvem os membros da comunidade. Este conhecimento representa um valor
agregado na administração da justiça, e beneficia a comunidade em retorno
(OXHORN; SLAKMON, 2005, p. 204).
Em países como o Canadá e a Nova Zelândia, onde o desenvolvimento e
a igualdade socioeconômica tem índices altíssimos, o acesso à justiça tende a ser
mais universal e menos propenso a variar em relação ao estado socioeconômico.
Consequentemente, em países onde o nível de desigualdade socioeconômica, que é
o caso do Brasil e seus vizinhos sul-americanos, o acesso a justiça tende a ser mais
exclusivo e diretamente influenciado pelo estado socioeconômico. Em outras
palavras, o individuo que tem menor poder aquisitivo tende a ter menor acesso a
justiça também (OXHORN; SLAKMON, 2005, p. 201).
Segundo Aguiar (2007, p. 10), a Nova Zelândia foi o primeiro país que
implementou o sistema de justiça restaurativa, isso porque a edição do Children,
Young Persons, and Their Families Act  (Ato das crianças, jovens e suas famílias)
em 1989, obteve grande sucesso na reformulação do Sistema de Justiça da Infância
e da Juventude, conseguindo precaver e minimizar a reincidência dos jovens
infratores.
Passado o lapso temporal de mais de 30 anos desde o principio das
primeiras experiências anglo-saxônicas de justiça restaurativa, esta prática
espalhou-se para diversos países, sendo sua institucionalização orientada pela
Resolução 2002/12, elaborada pelo Conselho Econômico e Social da Organização
das Nações Unidas – ONU, a qual determina os critérios para as práticas
restaurativas na Justiça Criminal. Na realidade nacional, competiu ao Conselho
Nacional de Justiça - CNJ, através da Resolução 225/16 a padronização da justiça
restaurativa (SECCO; LIMA, 2018, p. 9).
A Justiça Restaurativa surge, assim, como um resgate de princípios
holísticos para a construção de um paradigma fundado em valores diferentes
daquela lógica do sistema penal. Sua pretensão é pensar nos danos para propor
ações voltadas para o futuro, com foco na reparação (de objetos, de pessoas e de
relacionamentos). Suas práticas não se baseiam em leis ou regras abstratas, mas
nos relacionamentos e nos valores adotados pelo grupo. O facilitador, longe de ser
um profissional que manipula o processo, assume o papel de resguardar esses
valores e de guiá-los de modo justo e responsável (ANDRADE, 2018, p. 68).
24

Vale salientar que práticas restaurativas não foram criadas para substituir
o sistema de justiça tradicional, mas sim para acrescentar as instituições legais
existentes e aprimorar a conclusão do processo de justiça. Ao descentralizar a
administração de certas demandas da justiça que são topicamente determinadas de
acordo com a gravidade moral e legal da ofensa e ao transferir o poder de tomada
de decisão ao nível local, o sistema de justiça estatal e os cidadãos podem se
beneficiar de modos importantes (OXHORN; SLAKMON, 2005, p. 204).
O principal norte na justiça restaurativa é atender às necessidades
imediatas, especialmente as da vítima. Depois disso a justiça restaurativa busca
identificar necessidades e obrigações mais extensa. Para isso ocorrer o processo
deverá, na medida do possível, colocar o poder e a responsabilidade nas mãos da
vítima e do infrator. Devendo ter também lugar para o envolvimento da comunidade.
Em segundo lugar, ela deve tratar do relacionamento vítima-ofensor facilitando sua
interação e a troca de informações sobre o acontecido, sobre cada um dos
envolvidos e sobre suas necessidades. Em terceiro lugar, ela deve se focar na
solução dos problemas, visando não apenas as necessidades presentes, mas
consequentemente das intenções futuras (ZEHR, 2008, p. 24).
Os programas de justiça restaurativa devem procurar trabalhar para dar
poder aos desprivilegiados, em específicos tipos de vítimas de cinco formas
principais: 1) pela participação ativa no processo da justiça; 2) pelo maior acesso à
informação e aos recursos da justiça; 3) pela reparação e reabilitação ao invés da
punição; 4) por consensos em lugar de coerção; e 5) pelo uso de conhecimento e
sabedoria de base. Essencialmente, os programas de justiça restaurativa diferem de
justiça tradicional no espaço que oferecem para a participação no processo de
justiça. A participação dá poder. O envolvimento ativo em projetos de microjustiça,
como administradores, usuários, ou como testemunhas participativas funcionam
para dar poder aos cidadãos e comunidades desprivilegiados (OXHORN;
SLAKMON, 2005, p. 203).
O parâmetro mostra que a justiça restaurativa procura ser uma justiça
transformadora. Para reparar a situação muitas vezes é necessário muito mais do
que simplesmente retornar a pessoa ao seu estado original, ou seja, existem casos
onde o dano é irreversível. Nos casos de violência matrimonial, por exemplo, reaver
os danos não é suficiente. Para chegar-se a verdadeira justiça, as pessoas
envolvidas devem passar por uma transformação na qual a violência não se torne
25

algo recorrente. Nessa circunstancia, a justiça deve impor o significado de uma


mudança ao invés da volta à situação precedente (ZEHR, 2008, p. 15-16).
Contudo, mesmo em tempos atuais, a justiça restaurativa traduz matéria
ainda pouco palpável, na medida em que se caracteriza por apresentar conceito
fluído e impreciso. Com efeito, enquanto movimento internamente complexo, a
justiça restaurativa apenas é capaz de sustentar um conceito aberto,
constantemente restaurado e desenvolvido com base na experiência
(PALLAMOLLA, 2009, p. 55).
Assim, a Justiça Restaurativa traz uma verdadeira mudança de
paradigma, daquele retributivo (punitivo) para o restaurativo, pois, tomando como
foco central os danos e consequentes necessidades, tanto da vítima como também
do ofensor e da comunidade, trata das obrigações decorrentes desses prejuízos de
ordem material e moral. Para tanto, vale-se de procedimentos inclusivos e
cooperativos, nos quais serão envolvidos todos aqueles direta ou indiretamente
atingidos, tudo de forma a corrigir os caminhos que nasceram errados (ZEHR, 2008,

p. 257). JOGAR PARA DISSERTAÇÃO DIRETA


Deste modo, Zehr (2008, p. 12) distingue a lente retributiva da lente
restaurativa, como a retributiva que foca inicialmente na comunidade, na sociedade.
E o faz tornando a comunidade algo abstrato e impessoal. A justiça retributiva define
o Estado como vítima, define o comportamento danoso como infração e julga como
insignificante o relacionamento entre vítima e ofensor. Os crimes, portanto, estão em
outra categoria, separados dos outros tipos de dano. E a lente restaurativa identifica
as pessoas como vítimas e reconhece a centralidade das dimensões interpessoais.
As ofensas são definidas como danos pessoais e como relacionamentos
interpessoais. O crime é uma violação de pessoas e relacionamentos.
Vale ainda salientar os princípios que conduzem a Justiça Restaurativa,
dentre eles: o princípio da voluntariedade, da informalidade e da consensualidade. O
primeiro e mais importante princípio é o Princípio da Voluntariedade. Ninguem inicia
os trabalhos se uma das partes não quiser participa, todavia, se a vitima e/ou o
ofensor não quiserem participar a Justiça restaurativa torna-se nula. Porém, elas
devem ser encorajadas (e não forçadas). O sentido de tal princípio (ou regra) é a
facilidade na busca de um acordo. Quando uma das partes não tiver a vontade de
26

participar da sessão, o acordo não será feito; ou, se feito, não será eficaz (GODOY;
PERES, 2015. p. 6).
O princípio da informalidade é o que caracteriza a Justiça Restaurativa.
Não há rituais solenes para o início dos trabalhos, muito menos depoimentos
reduzidos a termos técnicos ou burocracias abundantes. Outro ponto citável desse
princípio é o local onde são realizadas as sessões. Nunca no Forum, para abdicar
do ambiente formal do Poder Judiciario. Exceção se faz à informalidade no quesito
elaboração do termo constante, o acordo. Tal termo deve ser lavrado em termos
objetivos, sendo que as prestações das partes devem ser proporcionais e possíveis
de serem satisfeitas, além de dever prever formas de fiscalização, bem como
garantia para o cumprimento. Posteriormente, com obviedade, deve ser o acordo
homologado (GODOY; PERES, 2015. p. 6).
E por fim, o princípio da consensualidade decorre do princípio da
voluntariedade e traduz a ideia de que as partes envolvidas devem em consenso
aceitar as condições. As partes deverão acordar em respeito ao funcionamento,
regras, métodos e princípios. Por ser algo consensual, ambas devem apresentar-se
abertas a negociação para então, em concordância de opinião, solucionarem o
conflito. Esse princípio oferece a possibilidade de se alcançar acordos em que todos
sejam de certa forma beneficiados, diferente do que ocorreria no sistema tradicional
(ARAUJO, 2017, p. 9).

3.2 A Justiça Restaurativa e a mediação penal: os modelos possíveis de


justiça restaurativa

Os procedimentos da justiça restaurativa exigem que as partes exponham


com toda sinceridade seus sentimentos, anseios, e temores, e tornem claras suas
expectativas. A ideia de que devam contar suas verdades é fundamental para
conseguir chegar num acordo que seja agradável para ambas as partes, para assim
obter o sucesso de todo o empreendimento restaurativo. Esse compromisso pode
ser conquistado porque todo o processo é voluntário. Ou seja, não funcionará se não
agradar todas as partes envolvidas ou, se as partes forem obrigadas a integrá-lo
(ROLIM, 2006, p. 250-251).
A mediação penal entende-se como um processo comunicativo de
consenso, de um acordo; uma sequencia de etapas nas quais esta se desenvolve, e
existem neste momento diferentes “processos” que variam em função das teorias,
27

dos modelos, dos campos e contextos de aplicação. A reparação, mediante o


procedimento de mediação penal, pode requerer algo mais ou algo diferente da
mera indenização, ou pode, em alguns casos, requerer menos para desdobrar os
efeitos de atenuar ou reduzir as penas previstas em alguma condenação (PAZ; PAZ,
2005, p. 133).
As técnicas restaurativas (mediação, conciliação, reunião familiar ou
comunitária e círculos decisórios) são empregadas para ajudar a vítima e o ofensor
a solucionar problemas causados pela prática delitiva. A mediação consiste em um
processo informal, que se desenvolve entre pessoas que se encontram em situação
de conflito e que expressam um espontâneo interesse em buscar uma “solução” por
meio de um diálogo construtivo e absolutamente voluntário guiado pela figura de
uma mediadora (ou mediador). O papel desta é auxiliar as partes, de maneira justa e
imparcial, a fazerem uma reflexão sincera sobre os efeitos deste conflito em suas
próprias vidas, isso obviamente implica que cada uma das partes também possa
enxergar o outro para além de si (SABADELL; PAIVA, 2019, p. 5).
A mediação penal surge como um conjunto de procedimentos
substitutivos ou complementares ao sistema penal e tem como base nas ideias da
justiça restaurativa. Paz e Paz (2005, p. 131) explicam que:

Mediação penal consistirá na busca, com a intervenção de um terceiro, de


uma solução, negociada livremente entre as partes, para um conflito
nascido de uma infração penal, no marco de um processo voluntário,
informal, e confidencial. A mediação é um fenômeno múltiplo, não existe um
modelo único visto que deve fazer frente a diferentes formas de conflito,
sendo submetida à realidade social em que cada conflito se incorpora, deve
ser dotada de particularidades de acordo com o tema.

Nos programas da mediação penal, duas ou mais pessoas, que estejam


envolvidas no conflito, com a colaboração de um terceiro imparcial, que é o
mediador, expõem o problema e dialogam construtivamente, com o objetivo de
identificar os interesses e chegar a um acordo. A função do mediador será restrita a
acompanhar as partes a chegarem a uma solução do conflito e homologar, se for o
caso, o acordo. Em outras palavras, ele ajudará a transformar a relação rompida,
introduzindo a comunicação a fim de que as partes esclareçam suas insatisfações e
dúvidas, exponham seus interesses e possam fazer nascer à consciência da
responsabilidade pelo conflito (SOUZA; GAMA, 2017, p. 190).
Diante disso, tem-se que a mediação é uma resposta penal complementar
à justiça retributiva, cujo parâmetro é a estruturação de um novo meio de regulação
28

social, no qual o objetivo precípuo é superar o que desenvolveu o conflito,


produzindo, então, uma solução consensual e procurando a manutenção da paz
social (SOUZA; GAMA, 2017, p. 191).
Já as conferências de família foram adotadas pela legislação da Nova
Zelandia para os casos de jovens que cometeram delito no ano de 1989, o que fez
deste país o pioneiro na utilização oficial a justiça restaurativa e também esta prática
de maneira mais organizada e como primeiro recurso para os infrações cometidos
por menores de idade (PALLAMOLLA, 2009, p. 117).
São processos especialmente utilizados quando se deseja focar ao apoio
que familiares, amigos, e outros integrantes da comunidade podem disponibilizar ao
ofensor, tanto no cumprimento de condutas acordadas com a vítima e com a
comunidade, como na mudança de seu comportamento. É um procedimento mais
amplo, no qual tem como foco o ofensor, podendo ser incluídas propostas para a
reparação dos danos, uma punição e formas de prevenir a ocorrência de outros
delitos, por parte do ofensor (ALMEIDA; PINHEIRO, 2017, p. 192).
Das conferências de família participam, além da vítima e infrator,
familiares e pessoas que lhes dão apoio (amigos, professores, etc.): é a chamada
community of care1. Também é comum a participação da polícia ou agentes de
liberdade vigiada (instituto similar ao livramento condicional brasileiro) ou assistentes
sociais. O projeto busca organizar encontros entre os “facilitadores” de cada uma
das partes, antes do encontro direto entre vitima e ofensor (PALLAMOLLA, 2009, p.
117-118).
Os círculos restaurativos, também são chamados sentencing circles2,
peacemaking circles3 ou community circles, cada um possui propósitos diferentes.
Os círculos começaram a ser aplicados por juízes no Canadá em 1991, e em 1995
já eram utilizados nos EUA em um projeto piloto. Sua utilização abrange delitos
cometidos tanto por jovens quanto por adultos, sendo também empregadas para
delitos graves, disputas da comunidade, em escolas e casos envolvendo o bem-
estar e proteção da criança (PALLAMOLLA, 2009, p. 119).
Estes círculos vêm sendo utilizados em processos de diálogo que envolve
construção de consenso em questões comunitárias e institucionais, transcendendo o
seu emprego a questões relativas a delitos. Os círculos envolvem a presença do juiz
1
Comunidade de atendimento.
2
Círculos de sentença.
3
Círculos de pacificação.
29

e a construção consensual da sentença para a infração. Os encontros que


antecedem o círculo são chamados de pré-círculos e se destinam a averiguar a
possibilidade de encaminhamento do caso, obter o consentimento das partes
envolvidas e, repassar todo o procedimento para ofensor e vítima, a fim de que
estejam plenamente cientes do desenrolar de todo o processo restaurativo. Nos
círculos há participação da vítima, do ofensor, familiares de ambos, pessoas da
comunidade, além de profissionais do judiciário, sem obrigatoriedade de sua
participação (ALMEIDA; PINHEIRO, 2017, p. 193).
A estrutura dos círculos segue a seguinte dinâmica: escolha do centro e
do objeto da palavra; realização da cerimônia de abertura; apresentação; escolha
dos valores a serem respeitados; fixação das diretrizes; abordagem dos problemas;
perguntas orientadoras; geração de acordos; consenso; cerimônia de encerramento.
Durante a realização do círculo o facilitador é um participante e o objeto da palavra é
que regulamenta o diálogo, ou seja, quem estiver com o objeto escolhido é quem
poderá falar. A posse do objeto da fala possibilita que a pessoa expresse seus
sentimentos e suas vontades, mas não a obriga a falar, o bastão da fala impõe a
escuta qualificada, já que somente a pessoa que o detém poderá falar, todas as
outras precisam ouvir atenta e respeitosamente o que ela falar. A intervenção do
facilitador, quando não estiver com o objeto, é permitida apenas para manter a
ordem no processo circular. Após a realização do círculo e ocorrendo a elaboração
de um acordo, são feitos pós-círculos, novamente com a participação de todos
aqueles que estiveram presentes ao círculo, a fim de averiguar se o acordo foi
cumprido, qual o resultado para todos eles (ALMEIDA; PINHEIRO, 2017, p. 193).
Por fim, no que tange as práticas restaurativas, todos os conflitos em que
as partes e as comunidades envolvidas possam beneficiar-se podem ser tratados
pelo paradigma restaurativo, utilizando-se de quaisquer dos instrumentos que
tenham como resultados os propósitos restaurativos (ALMEIDA; PINHEIRO, 2017, p.
194).
Como exposto, os modelos possíveis da justiça restaurativa que são a
mediação, conciliação, reunião familiar ou comunitária e círculos decisórios são
aplicadas para amparar a vítima e o ofensor a solucionar problemas causados pela
prática do delito, prejudicial não somente à vítima, mas a toda comunidade,
trazendo-a no centro do conflito para a busca de uma solução justa e duradoura.
30

3.3 Aplicação da Resolução 225/16 do CNJ no Brasil

No Brasil, as experiências em Justiça Restaurativa, de modo institucional,


tiveram início com a elaboração, no final de 2004, do projeto “Implementando
Práticas Restaurativas no Sistema de Justiça Brasileiro”, pelo Ministério da Justiça,
por meio da Secretaria da Reforma do Judiciário, em parceria com o PNUD –
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento que possibilitou iniciativas
pioneiras nas áreas da Infância e Juventude (nos Estados de São Paulo e Rio
Grande do Sul) e com adultos (em Brasília). Assim, dentro do “Sistema de Justiça”,
inicialmente, os avanços das experiências iniciais se fizeram pelas “janelas legais”
existentes, como a Lei n. 9.099/95, e pelo Estatuto da Criança e Adolescente (Lei n.
8.069/90), especialmente em face do instituto da remissão 4, por meio do qual seria
possível aplicar a Justiça Restaurativa independentemente da gravidade do delito a
que o ato infracional se referia (PENIDO; MUMME; ROCHA, 2016, p. 173-174).
Como já mencionado, além da Lei 9.099/95, também o Estatuto da
Criança e do Adolescente enseja e recomenda implicitamente o uso do modelo
restaurativo, em vários dispositivos, particularmente quando dispõe sobre a
remissão (art. 126) e diante do amplo elastério das medidas socioeducativas
previstas no art. 112 e seguintes do diploma legal. Também nos crimes contra
idosos, o processo restaurativo é possível, por força do art. 94, da Lei n. 10.741/03 –
o Estatuto do Idoso – que prevê o procedimento da Lei 9.099/95 para crimes contra
idosos cuja pena privativa de liberdade não ultrapasse 4 anos. Mas é preciso ter
sempre presente que o procedimento restaurativo não é, pelo menos por enquanto,
expressamente previsto na lei como um devido processo legal no sentido formal
(PINTO, 2005, p. 32).
Uma vez observados os resultados das primeiras práticas restaurativas
brasileiras, o legislador positivou a Justiça Restaurativa no ordenamento, por meio
da Lei 12.594/2012, que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(SINASE). O art. 35, inciso III, da referida lei estabelece como um princípio da
execução da medida socioeducativa a “prioridade a práticas ou medidas que sejam
restaurativas e, sempre que possível, atendam às necessidades das vítimas”
(ORSINI; LARA, 2013, p. 11).

4
Ação ou efeito de remitir, de perdoar, de conceder o perdão.
31

No Estado de São de Paulo a Justiça Restaurativa tem sido utilizada em


dezenas de escolas publicas e privadas, auxiliando na prevenção e no agravamento
do conflito. No Estado do Rio Grande do Sul, Estado do Paraná, Estado do Rio de
Janeiro e outros estados estão adotando esta forma de sistema adequado de
solução, nos casos mais complexo os juízes aplicam o método das medidas
socioeducativas cumpridas por adolescentes em conflito com a lei, através de
processos circulares restaurativos (SANTIAGO; ADORNO; FIALHO; BRUM, 2018, p.
11).
Estado da Bahia e Estado do Maranhão, o método razoavelmente teve
êxito solucionando os crimes de menor potencial ofensivo, sem necessidade de
prosseguir com processos judiciais, não pode ser aplicados em crimes graves, a
justiça restaurativa esta surtindo efeitos aos poucos, uma pratica que esta buscando
um conceito, linhas gerais é possível que se trata de um processo colaborativo
voltado para a resolução de um conflito entre vitima e ofensor, que envolve a
participação maior do infrator e da vitima (SANTIAGO; ADORNO; FIALHO; BRUM,
2018, p. 11).
Até onde se tem conhecimento, os projeto pioneiros, como o de Porto
Alegre (na 3ª Vara Regional do Juizado da Infância e da Juventude) e o de São
Caetano do Sul passaram por reformulações e seguem bastante ativos.
Coincidentemente (ou não), estas duas experiências com a Justiça Restaurativa,
são desenvolvidas no âmbito da justiça juvenil e utilizam a prática do círculo de
construção de paz e ou círculo restaurativo. O motivo de os dois projetos de Justiça
Restaurativa do Brasil com maior repercussão terem sido implementados na área da
Infância e da Juventude e utilizado a prática dos círculos de construção de paz e ou
círculo restaurativo, pode explicar a confusão feita com essas práticas. Muitas
vezes, apenas como sendo aquela que aplica o círculo restaurativo como
procedimento e apenas como um modelo adequado aos casos envolvendo crianças
ou adolescentes autores de ato infracional (DIEHL; PORTO, 2016, p. 277)
Ao se ver as experiências positivas em justiça restaurativa no Canadá e
na Nova Zelândia, parece correto esperar que o programa de justiça restaurativa
implementado no Brasil não apenas trabalhará para melhorar o processo e o
resultado da justiça. Os programas de justiça restaurativa têm um valor positivo
intrínseco para o sistema de justiça, as comunidades, e os cidadãos, e não podem
ser explicados apenas como sendo uma resposta da sociedade, ou uma solução
32

paliativa do governo, para as decadentes instituições legais. Os programas de


justiça restaurativa podem ter um impacto positivo no processo e no resultado da
justiça, independentemente do desempenho institucional e do nível de desigualdade,
e ainda mais assim no contexto de desigualdade enraizada e desconfiança nas
instituições (OXHORN; SLAKMON, 2005, p. 205).
Por fim, cumpre destacar que se encontra em tramitação no Congresso
Nacional o projeto de lei nº 7006/2006, que pretende a regulamentação do uso de
procedimentos restaurativos no sistema de justiça criminal brasileiro. Além de
estabelecer princípios e regras para os procedimentos restaurativos, o projeto
contempla a criação de núcleos restaurativos junto a varas e juizados especiais
criminais, onde possa ocorrer o encaminhamento de casos em que, pela
personalidade do agente e circunstâncias do crime, recomende-se o uso de práticas
restaurativas, por sugestão da polícia ou determinação do juiz, com anuência do
Ministério Público. As vantagens seriam a suspensão do processo durante o
procedimento restaurativo e a extinção da punibilidade caso fosse cumprido o
acordo restaurativo, com a interrupção da prescrição da homologação judicial do
acordo até seu cumprimento (SPOSATO; NETO, 2013, p. 421).
Todavia, conforme constado no dia 28 de outubro de 2019, o projeto é
fruto de vários arquivamentos, desarquivamentos e mudança de relatores, e foi
apensado ao projeto de lei nº 8045/2010 que está aguardando parecer do relator na
comissão especial.

3.4 A Justiça Restaurativa conforme a Resolução 225/2016 do CNJ

Inicialmente elaborada por Ricardo Lewandowski, então Presidente do


CNJ, através da Portaria nº 74/2015, instituiu juntamente com um grupo de
magistrados a Resolução nº 225/2016 do Conselho Nacional de Justiça com o fim de
normatizar, na esfera do Poder Judiciário, a disseminação e execução da Justiça
Restaurativa. Conceitos básicos, condutas, princípios orientadores são alguns dos
pontos elementares abarcados pela mencionada resolução diante da conveniência
em se buscar a padronização ao programar os mecanismos restaurativos.
Igualmente, envidar esforços buscando uniformidade por meio da positivação de
definições, estabelecimento de princípios, estímulo à presença da vítima, garantia do
respeito à dignidade etc., só reforça a figura da Justiça Restaurativa e,
principalmente, dá maior credibilidade e força de sua execução no país como uma
33

célere e justa metodologia para pacificação de conflitos (CARDOSO; SOARES,


2018, p. 252).
Ademais, vale ressaltar que a referida resolução do CNJ traz em seu bojo
algumas das atribuições específicas do Conselho Nacional de Justiça, o qual deverá
fomentar o acesso às práticas restaurativas, divulgá-las, incentivar a
interdisciplinaridade e aplicá-las em conjunto com outros órgãos do Poder Judiciário
suscitando a ampliação de abordagens dos litígios pautados pelas práticas
reparadoras (CARDOSO; SOARES, 2018, p. 252).
A Resolução é importante na história da construção de uma Justiça
Restaurativa, tendo resultado de um pacto possível na convergência de suas raízes,
tanto contextuais quanto judiciais e legislativas. Ela foi tanto objeto de críticas de
viés comunitaristas, pela ausência da “comunidade” como fonte e destinatária do
modelo adotado, quanto saudada justamente por ter conferido espaço à comunidade
na Justiça Restaurativa. E foi saudada com positividade entre os atores que
originariamente tinham reservas em relação à normatização da Justiça Restaurativa;
pois, como se escutou em campo, face à ausência de normas padronizadoras,
coisas inadmissíveis estavam a acontecer, como intimações judiciais para
comparecimento às práticas, juízes apenando adolescentes com atividades de
lavação de banheiros e similares em nome da Justiça Restaurativa (ANDRADE,
2018, p. 93-94).
A edição da Resolução 225/2016, com ousadia, buscou legitimar ações
interdisciplinares e interinstitucionais para além das ambiências forenses,
considerando a complexidade do fenômeno da violência em suas múltiplas causas.
Além ainda de prever cuidadosa forma de implementação da Justiça Restaurativa,
considerando os contextos institucionais e sociais onde esta vier a ser efetivada
(PENIDO; MUMME; ROCHA, 2016, p. 172).
A prática da Justiça Restaurativa é uma técnica que prima pela
sensibilidade na escuta das vitimas e dos ofensores objetivando alcançar a
pacificação das relações sociais saindo do paradigma da decisão judicial buscando
uma forma mais efetiva através dos meios consensuais voluntários para alcançar a
pacificação das disputas (SOARES; SANTOS; MATIAS, 2018, p. 05).
A Justiça Restaurativa não faz restrição à aplicação no âmbito dos
Tribunais Estaduais ou Federais, em vez disso, respalda a implementação da
Justiça Restaurativa não apenas em áreas nas quais já se tem experiências, com os
34

adolescentes, mas também em áreas novas, em que não se dispõe ainda de


experiências prévias (ex.: nas audiências de custódia) (PENIDO; MUMME; ROCHA,
2016, p. 178).
A definição de Justiça Restaurativa adotada na Resolução 225/2016 em
seu artigo primeiro considerou “os fatores relacionais, institucionais e sociais
motivadores de conflitos e violência” (PENIDO; MUMME; ROCHA, 2016, p. 179). A
abrangência ali exposta, envolvendo diversas outras pessoas (direta e indiretamente
afetadas), pessoas que podem apoiar e/ou contribuir para a reparação do dano ou,
ainda, para a prevenção das ações, bem como que contribuíram indiretamente para
o mal feito (PENIDO; MUMME; ROCHA, 2016, p. 197).
Segue o artigo primeiro com a definição da Justiça Restaurativa conforme
a Resolução 225/16 do CNJ:

Art. 1º. A Justiça Restaurativa constitui-se como um conjunto ordenado e


sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à
conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais
motivadores de conflitos e violência, e por meio do qual os conflitos que
geram dano, concreto ou abstrato, são solucionados de modo estruturado
na seguinte forma:
I – é necessária a participação do ofensor, e, quando houver, da vítima, bem
como, das suas famílias e dos demais envolvidos no fato danoso, com a
presença dos representantes da comunidade direta ou indiretamente
atingida pelo fato e de um ou mais facilitadores restaurativos;
II – as práticas restaurativas serão coordenadas por facilitadores
restaurativos capacitados em técnicas autocompositivas e consensuais de
solução de conflitos próprias da Justiça Restaurativa, podendo ser servidor
do tribunal, agente público, voluntário ou indicado por entidades parceiras;
III – as práticas restaurativas terão como foco a satisfação das
necessidades de todos os envolvidos, a responsabilização ativa daqueles
que contribuíram direta ou indiretamente para a ocorrência do fato danoso e
o empoderamento da comunidade, destacando a necessidade da reparação
do dano e da recomposição do tecido social rompido pelo conflito e as suas
implicações para o futuro.
§ 1º Para efeitos desta Resolução, considera-se:
I – Prática Restaurativa: forma diferenciada de tratar as situações citadas no
caput e incisos deste artigo;
II – Procedimento Restaurativo: conjunto de atividades e etapas a serem
promovidas objetivando a composição das situações a que se refere o caput
deste artigo;
III – Caso: quaisquer das situações elencadas no caput deste artigo,
apresentadas para solução por intermédio de práticas restaurativas;
IV – Sessão Restaurativa: todo e qualquer encontro, inclusive os
preparatórios ou de acompanhamento, entre as pessoas diretamente
envolvidas nos fatos a que se refere o caput deste artigo;
V – Enfoque Restaurativo: abordagem diferenciada das situações descritas
no caput deste artigo, ou dos contextos a elas relacionados,
compreendendo os seguintes elementos:
a) participação dos envolvidos, das famílias e das comunidades;
b) atenção às necessidades legítimas da vítima e do ofensor;
c) reparação dos danos sofridos;
35

d) compartilhamento de responsabilidades e obrigações entre ofensor,


vítima, famílias e comunidade para superação das causas e consequências
do ocorrido.
§ 2° A aplicação de procedimento restaurativo pode ocorrer de forma
alternativa ou concorrente com o processo convencional, devendo suas
implicações ser consideradas, caso a caso, à luz do correspondente sistema
processual e objetivando sempre as melhores soluções para as partes
envolvidas e a comunidade BRASIL, 2016).

A noção de corresponsabilidade também é central na Justiça


Restaurativa, estando disposta como princípio no artigo 2º da Resolução 225/2016.
Assim, nos procedimentos restaurativos deve-se buscar responsabilidades, tanto em
relação à situação de ofensa, como também quanto à reparação de danos e a
atendimentos das necessidades de todos os envolvidos. Os procedimentos
restaurativos não se destinam a “qualificar melhor a culpa do adolescente e/ou do
ator do ato ofensivo”; tampouco são procedimentos que visam transferir a culpa para
terceiros. Eles se prestam para que todos aumentem a capacidade de consciência
sobre o ocorrido e se responsabilizem com aquilo que devem se responsabilizar de
acordo com seu grau de envolvimento (PENIDO; MUMME; ROCHA, 2016, p. 180).
Como não poderia deixar de ser, a Resolução do CNJ traz alguns
contornos sobre o procedimento a ser adotado para que a prática restaurativa possa
ser incluída em âmbito judicial (MEZZALIRA, 2017, p. 101).

Art. 7º. Para fins de atendimento restaurativo judicial das situações de que
trata o caput do art. 1º desta Resolução, poderão ser encaminhados
procedimentos e processos judiciais, em qualquer fase de sua tramitação,
pelo juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, da Defensoria
Pública, das partes, dos seus Advogados e dos Setores Técnicos de
Psicologia e Serviço Social. Parágrafo único. A autoridade policial poderá
sugerir, no Termo Circunstanciado ou no relatório do Inquérito Policial, o
encaminhamento do conflito ao procedimento restaurativo (BRASIL, 2016).

Portanto, todos os atores envolvidos com o procedimento judicial estão


autorizados a encaminhar situações de conflito para a prática restaurativa, inclusive
o juízo, mesmo sem provocação de nenhuma das partes. Até mesmo a autoridade
policial, ao se deparar com um termo circunstanciado ou inquérito policial que
envolve uma situação conflitiva, poderá sugerir a Justiça Restaurativa para solução,
o que confirma o caráter extrajudicial do procedimento restaurativo (MEZZALIRA,
2017, p. 101).
Ponto que chama a atenção é a possibilidade de aplicação da JR também
nas hipóteses em que já houver ocorrido a condenação criminal do indivíduo
(MEZZALIRA, 2017, p. 101):
36

A Justiça Restaurativa é uma alternativa ao processo penal, mas sem


perder de vista que as suas práticas qualificam, de forma mais humana, a
pena e as alternativas penais. Em assim sendo, é possível realizar o
processo circular após a condenação, para o cumprimento da medida ou da
pena, ou, ainda, para reintegração do egresso na sociedade (SALMASO,
2016, p. 43).

Entretanto, a nobre intenção de buscar uma efetividade da prestação


jurisdicional através dos meios consensuais para a solução de conflitos, através da
Justiça Restaurativa, esbarra na obscuridade da norma principalmente no que
concerne a metodologia utilizada para a efetivação dos seus objetivos, tendo em
vista que ela abre margem para indagações quanto a sua aplicabilidade e as
possíveis mudanças que ocorrerão, principalmente na esfera processual e penal
(SOARES; SANTOS; MATIAS, 2018, p. 06).
E por fim, algum tempo depois as mesmas pessoas se reúnem para
verificar se os acordos vêm sendo cumpridos da maneira combinada. Em caso
positivo, o próprio grupo conclui que o processo circular atingiu o seu objetivo com o
máximo de eficiência, encerrando-se o procedimento restaurativo. Mesmo assim, as
pessoas envolvidas, caso queiram, podem permanecer nos projetos ou nas ações a
que se conectaram por força do trabalho restaurativo e, inclusive, desenvolver outras
ações voltadas ao crescimento pessoal, ao bem e à paz. Muitas vezes, identifica-se,
nessa etapa, que, por uma série de motivos, se faz necessário algum ajuste para a
integral consecução do acordo pactuado. Nesse caso, os acertos são combinados,
designando-se data posterior para novo encontro (SALMASO, 2016, p. 50-51).
Examinou-se até aqui acerca da origem da justiça restaurativa, suas
formas de aplicação nos casos possíveis no Brasil, que busca solucionar conflitos a
partir do diálogo entre as partes e membros da comunidade, visando restaurar o que
foi rompido pelo fato delituoso. Pode ser um meio de se reduzir a quantidade de
processos e encarceramento, dando mais efetividade e confiança no trabalho do
Judiciário e resolver de forma eficaz. Espera-se que sejam adotadas cada vez mais
medidas nesse sentido com o intuito de criar um Direito Penal mais humano e com
melhores resultados práticos. Mas também, é preciso analisar com cuidado os casos
possíveis na sua aplicação, como será visto no capitulo seguinte sobre a
aplicabilidade da justiça restaurativa para casos abrangidos pela Lei Maria da
Penha.
37

4. A LEI MARIA DA PENHA E O DEBATE EM TORNO DA APLICAÇÃO DA


JUSTIÇA RESTAURATIVA EM CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA
AS MULHERES

O texto da Lei Maria da Penha é exato em seu artigo 41, afastando


qualquer dúvida acerca da inaplicabilidade dos instrumentos da Lei nº 9.099/95 aos
casos de violência doméstica e familiar. Há que se questionar, porém, se, mesmo
diante do afastamento da conciliação, característica dos Juizados Especiais, há a
impossibilidade de uso dos demais meios consensuais de resolução de conflitos nas
demandas referentes à violência doméstica. Tal problematização deve-se à intenção
explícita de ressignificar a complexidade desses tipos de conflitos para vítimas e
agressores, intentando, em última análise, dar maior efetividade às sentenças
prolatadas, assim como prevenir a reincidência ou aceitação de futuras violências de
gênero, cometidas ou sofridas pelas mesmas partes (BARBOSA; SILVA; MATTOS,
2018, p. 146).
O último capítulo tem como objetivo analisar os aspectos normativos da
lei Maria da Penha em relação à aplicação da justiça restaurativa, como a mediação.
Nesse ponto é que se faz crucial a consideração acerca da autonomia da mulher no
processo de mediação, uma vez que a finalidade da atuação das instituições do
sistema de justiça nessas demandas deve prezar em primeiro lugar pela proteção da
mulher em situação de violência (BARBOSA; SILVA; MATTOS, 2018, p. 146).
Por sequência, alguns argumentos favoráveis e contrários à aplicação da
justiça restaurativa no âmbito da Lei Maria da Penha, no qual é muito questionável,
já que a própria lei diz que não cabe. É preciso observar, por sua vez, que a
Resolução 254 do CNJ, que institui a Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à
Violência contra as Mulheres, não prevê expressamente o uso de nenhuma técnica
restaurativa, apenas motivando a célere resolução dos casos, entre outras medidas
(SANTOS; MACHADO, 2018, p. 251).
A resolução da violência doméstica conjugal através de programas de
mediação é bastante controvertida entre os teóricos e pesquisadores. A justiça
restaurativa é, por conseguinte, incipiente para comprovar seu autêntico grau de
eficácia. Num primeiro momento, parece ser absolutamente impossível determinar
abstratamente se os mecanismos restaurativos são adequados a todas as
hipóteses, tendo em vista que as infrações podem oferecer riscos diversos. A
doutrina admite que cada tipo de agressão, física ou psíquica, nas relações
38

conjugais e domésticas, apresenta manifestações diversas, de tal modo que nem


todos os delitos podem ser qualificados como violência de gênero (GIONGO, 2011,
p. 195).

4.1 Os aspectos normativos da Lei Maria da Penha em relação a


aplicação de métodos extrajudiciais

A elaboração da Lei 11.340/06 parte, em grande medida, de uma


perspectiva crítica aos resultados obtidos pela criação dos Juizados Especiais
Criminais para o enfrentamento da violência de gênero. Os problemas normativos e
as dificuldades de implantação de um novo modelo para lidar com conflitos de
gênero levaram diversos setores do campo jurídico e dos movimentos feministas a
adotar um discurso de confrontação e crítica aos Juizados, especialmente
direcionado contra a chamada banalização da violência que por via deles estaria
ocorrendo. Apresentada na prática corriqueira da aplicação de uma medida
alternativa correspondente ao pagamento de uma cesta básica pelo acusado, ao
invés de investir na mediação e na aplicação de medida mais adequada para o
equacionamento do problema sem o recurso à punição (AZEVEDO; CRAIDY, 2011,
p. 11).
A lei traz em seu conteúdo uma série de medidas protetivas que têm por
finalidade absoluta assegurar à mulher o direito a uma vida sem violência, essas
medidas são imediatas, cabendo à vítima, no momento em que realiza o registro do
delito, que deixou de ser de menor potencial ofensivo, solicitar a adoção das
medidas de proteção que sejam pertinentes ao caso concreto. A nova legislação
possibilitou ainda, a criação de Juizados Especiais de atendimento às mulheres em
situação de violência doméstica e familiar e promoveu o incentivo à pesquisa e
estudos com perspectivas de gênero, raça ou etnia, concernentes às causas, às
consequências e à frequência da violência doméstica (AQUINO; COSTA; PORTO,
2014, p. 11).
Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar são instâncias
especializadas na aplicação da Lei Maria da Penha, cuja criação é uma
recomendação da própria legislação visando à elaboração de condições para que as
medidas de punição, proteção, assistência e prevenção possam ser aplicadas
integralmente. A criação destes Juizados é atribuição dos Tribunais de Justiça
Estaduais e do Distrito Federal. Na maioria dos estados, o que se encontra são
39

varas criminais adaptadas e Juizados Especiais Criminais que acumulam a


aplicação da Lei Maria da Penha (PASINATO, 2011, p. 134).
No estado de Santa Catarina, conforme consta no site do Tribunal de
Justiça, a relação de Juizados Especiais unidades/varas autônomas com dados
captados em 24/07/2018, existem 32 Juizados Especiais Criminais e três nomeados
como sendo Juizado Especial Criminal e de Violência Doméstica Familiar (TJSC,
2019).
A Lei Maria da Penha também trouxe com a sua efetivação a garantia de
um atendimento e assistência à mulher em situação de violência doméstica,
humanizado, qualificado e que possibilite a retomada da cidadania e da dignidade,
perdidas com os atos de violência, através do incentivo à criação de centros de
atendimento integral e multidisciplinar de atendimento às vítimas e de educação e
reabilitação para os agressores. Assim, com a implementação desses centros será
possível à aplicação de uma nova política pública, onde o atendimento pauta-se no
exercício da escuta e do diálogo, em que agentes da comunidade como
pesquisadores, educadores e assistentes sociais constituirão uma equipe
multidisciplinar para possibilitar às vítimas e ao agressor o momento da escuta,
proporcionando a reabilitação de todos os envolvidos (AQUINO; COSTA; PORTO,
2014, p. 11-12).
A recente resolução nº 288 de 2019 definiu a política institucional do
Poder Judiciário para a promoção da aplicação de alternativas penais, com enfoque
restaurativo, em substituição à privação de liberdade e em seu artigo segundo
explica o que se entende por alternativas penais (CNJ, 2019).

Art. 2º Para os fins desta Resolução entende-se por alternativas penais as


medidas de intervenção em conflitos e violências, diversas do
encarceramento, orientadas para a restauração das relações e a promoção
da cultura da paz, a partir da responsabilização com dignidade, autonomia e
liberdade, decorrentes da aplicação de:
I - penas restritivas de direitos;
II - transação penal e suspensão condicional do processo;
III - suspensão condicional da pena privativa de liberdade;
IV - conciliação, mediação e técnicas de justiça restaurativa;
V - medidas cautelares diversas da prisão; e
VI - medidas protetivas de urgência.

E por sequência definiu em seu artigo terceiro a finalidade da aplicação


de alternativas penais:

Art. 3º A promoção da aplicação de alternativas penais terá por finalidade:


40

I - a redução da taxa de encarceramento mediante o emprego restrito da


privação de liberdade, na forma da lei;
II - a subsidiariedade da intervenção penal;
III - a presunção de inocência e a valorização da liberdade;
IV - a proporcionalidade e a idoneidade das medidas penais;
V - a dignidade, a autonomia e a liberdade das partes envolvidas nos
conflitos;
VI - a responsabilização da pessoa submetida à medida e a manutenção do
seu vínculo com a comunidade;
VII - o fomento a mecanismos horizontalizados e autocompositivos, a partir
de soluções participativas e ajustadas às realidades das partes;
VIII - a restauração das relações sociais, a reparação dos danos e a
promoção da cultura da paz;
IX - a proteção social das pessoas em cumprimento de alternativas penais e
sua inclusão em serviços e políticas públicas;
X - o respeito à equidade e às diversidades;
XI - a articulação entre os órgãos responsáveis pela execução, aplicação e
acompanhamento das alternativas penais; e
XII - a consolidação das audiências de custódia e o fomento a outras
práticas voltadas à garantia de direitos e à promoção da liberdade.

A abordagem restaurativa nas relações de gênero requer a propositura de


se articular estratégias de diálogo, que avancem para os círculos de convívio
interpessoal. Com efeito, se objetiva a pacificação de conflitos, pois quando uma
mulher sofre de violência doméstica, constata-se que sua voz foi silenciada pela dor
e o seu direito de lamentar tal perda, juntamente com outras reivindicações também
fora subtraído ou violado pelo ato violento. Embora a Justiça Restaurativa seja a
possibilidade de aproximar a vítima, o ofensor e a sua comunidade para exercitarem
o seu direito de lamentação, de informação e de sobrevivência ao dano sofrido,
sabe-se da complexidade e inclusive, a dificuldade de transformar esse cenário em
realidade, quando a violência é de natureza doméstica (AQUINO; COSTA; PORTO,
2014, p. 12).
A ênfase em afastar a incidência da Lei dos Juizados Especiais nada
mais significa do que a reação à maneira absolutamente inadequada com que a
Justiça cuidava da violência doméstica. A partir do momento em que a lesão
corporal leve foi considerada de pequeno potencial ofensivo, surgindo a
possibilidade de os conflitos serem solucionados de forma consensual, praticamente
deixou de ser punida a violência intrafamiliar. O excesso de serviço levava o juiz a
forçar desistências impondo acordos. O seu interesse, como forma de reduzir o
volume de demandas, era não deixar que o processo se instalasse (DIAS, 2007, p.
8).
As técnicas restaurativas (mediação, conciliação, reunião familiar ou
comunitária e círculos decisórios) são empregadas para ajudar, sobretudo, a vítima
41

e o ofensor a solucionar problemas causados pela prática delitiva (SABADELL;


PAIVA, 2019, p. 6). Seguindo esse raciocínio, pretende-se analisar a pertinência do
uso da mediação nos conflitos supramencionados. Esta se caracteriza como um
método supostamente pacífico de resolução ou administração de conflitos,
conjuntamente à negociação e à conciliação, integrando, portanto, um meio
adequado ou alternativos de resolução de conflitos, nos quais as partes tentam
encontrar entre si a solução de suas demandas. Diferencia-se, desse modo, da
arbitragem, também um meio alternativo, mas embasado pela heterocomposição, na
qual um terceiro nomeado de árbitro torna-se responsável pela decisão que obrigará
as partes (GRINOVER, 2009, p. 2).
A mediação, por meio da proposta de uma resolução de demandas por
um viés não adversarial, acaba por apresentar uma lógica diferenciada daquela
encontrada no uso comum do poder Judiciário. Diferentemente da racionalização
ganhador-perdedor presente nas Varas de Justiça, na qual se estimula o
antagonismo e a rivalidade entre as partes, a técnica tem o objetivo de fazer autor e
réu voltarem a dialogar (MUSZKAT, 2003, p. 34). Ou seja, em contextos de violência
doméstica a mediação poderia favorecer uma percepção mais ampla do conflito
vivenciado, favorecendo inclusive a responsabilização do réu e concedendo maior
efetividade de sentenças porventura proferidas. Para além do consenso, a utilização
da técnica de mediação, entre outros objetivos, visa a fazer as partes perceberem
outras facetas do conflito-raiz sobre as quais possam não estar conscientes
(BARBOSA; SILVA; MATTOS, 2018, p. 140).
Vale conceituar e apontar as diferenças entre mediação e conciliação. A
expressão mediação tem como origem no termo latino mediar ou mediare, que
significa interpor-se, abrir, dividir ao meio. A mediação surgiu como um meio de
estabelecer canais de diálogo entre as partes conflitantes, através de um terceiro
neutro, para possibilitar a resolução de um conflito, cujos litigantes não tem
capacidade de resolvê-lo por si só (FERREIRA, 2006, p. 73; SICA, 2007, p. 46).
Francisco Amado Ferreira (2006, p. 74), ao explicar as origens da
mediação, a distingue, de imediato, da conciliação:

Desde que dois indivíduos entraram em conflito e surgiu um terceiro a tentar


estabelecer entre eles uma comunicação, no sentido de discutirem as
soluções possíveis para o conflito, eis que surgiu a mediação. Quando esse
terceiro foi mais além, sugerindo (primeiro nível de conciliação) ou propondo
soluções (segundo nível de conciliação) para a crise, augurando alcançar –
42

através de uma espécie de “diplomacia itinerante” entre as partes ou da


organização de um foro de discussão, negociação, e decisão coletiva – o
restabelecimento das relações em crise, eis que surgiu a conciliação.

O autor ressalta ainda que, diferentemente da mediação, na conciliação a


presença de um terceiro conciliador é prescindível, podendo as partes se conciliar
sem qualquer intermediação humana. Porém, as diferenças essenciais entre
mediação e conciliação residem no tratamento do conflito em si. Na mediação
incentiva-se a gestão dos conflitos de modo construtivo, tendo o mediador um papel
mais neutro, que apenas facilita a discussão entre as partes, encorajando a
expressão das emoções como elemento útil na resolução do conflito, buscando
precipuamente o bem-estar entre as partes, e aumentando a capacidade dessas de
gerir as consequências do conflito. Já na conciliação, o conflito é visto como um
problema que deve ser resolvido, tendo o conciliador um papel muito mais diretivo,
conduzindo as partes a uma solução que beneficie a todos. Assim a ideia de
sucesso em uma conciliação é que os litigantes cheguem a um acordo (SICA, 2007,
p 48).
Apesar de a mediação penal ainda resguardar o seu caráter extrajudicial,
esta obviamente, deve ser submetida ao controle do poder jurisdicional, cabendo ao
juiz com o auxílio ou não do Ministério Público, determinar quais casos podem ser
remetidos a mediação, levando-se em consideração a vontade das partes, e quando
da obtenção do resultado, recepcioná-lo no sistema de justiça, concedendo-lhe
forma jurídica, preservando assim o caráter público da demanda (SICA, 2007, p. 55).
Assim, a mediação por ter um caráter extrajudicial e pré-processual,
consegue preservar as regras mais importantes da justiça restaurativa, tais como:
um papel mais ativo das partes no sistema penal, a reconciliação e a reparação do
dano como os principais objetivos da justiça criminal (SICA, 2007, p. 73).
É por essa razão que a criação da Lei Maria da Penha é compreendida
como a politização da justiça frente à violência doméstica. Significa requisitar a
atuação de um Estado que historicamente omitiu-se de atuação na violência
doméstica sob a falsa oposição entre as esferas pública e privada da vida social
(ROCHA, 2007, p. 31).
O conflito existente entre as partes envolvidas em episódios de violência
doméstica e familiar muitas vezes não está restrito a aspectos criminais, mas
também envolve questões de competência civil. A Lei Maria da Penha inovou ao
43

determinar que os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher


tenham competência civil e criminal, visando à solução integral do conflito. Apesar
da previsão legal, o Fórum Nacional de Juízes de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher (Fonavid) entende, em seu enunciado nº 3, que a competência civil
é restrita às medidas protetivas de urgência, devendo as ações relativas a direito de
família serem processadas e julgadas pelas Varas de Família. Essas ações irão
correr em Varas que não tem conhecimento do processo criminal em andamento e
as decisões ali tomadas podendo aumentar o conflito existente e acarretando novas
violações de direitos (PERRONE, 2015, p. 1-2).
A mediação familiar já é proposta atualmente como etapa do processo de
divórcio e guarda dos filhos, mesmo em caso de violência, pois o processo tramita
na Vara Cível/de Família. Essa, inclusive, é uma crítica ao modelo atual.
Recentemente foi inclusa na Lei Maria da Penha no artigo 9ª, §2º, o inciso III, como
também no artigo 11 o inciso V e no artigo 18 o inciso II, que ambos falam sobre a
assistência judiciária para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio,
de anulação de casamento ou de dissolução de união estável (BRASIL, 2019).
No âmbito das conciliações preliminares, o Judiciário tem sido povoado
por propostas diversas, entre as quais as chamadas terapias alternativas. No rol das
terapias alternativas, confere-se certo privilégio, atualmente no Brasil, às chamadas
“constelações familiares” (SANTOS; MACHADO, 2018, p. 251-252).
A utilização da técnica das Constelações Familiares como proposta
precedente ao uso dos meios consensuais de resolução de conflitos (conciliação e
mediação), que se analisa se o uso desta técnica pode ou não facilitar a percepção
e compreensão de vítimas e agressores dos diversos fatores que se fazem
presentes nas demandas referentes à violência doméstica e familiar contra mulheres
(BARBOSA; SILVA; MATTOS, 2018, p. 140).
Em nota emitida pelo CNJ, no ano de 2016, anuncia-se a disseminação
das constelações em diversos tribunais do país, proposta apresentada e celebrada
por, de acordo com o órgão, aumentar as chances de conciliação. O procedimento,
conforme a nota é legal (se cotejado com a Resolução 125/2010-CNJ) e dura
aproximadamente duas horas (SANTOS; MACHADO, 2018, p. 252).
Resta saber se o suposto resgate da “paz” com base nos círculos de
“constelação familiar” atende não apenas às expectativas legais, mas também
44

éticas, para lidar com as diversas situações de violência doméstica contra mulheres
(SANTOS; MACHADO, 2018, p. 252).
Com o aval do Judiciário brasileiro, sob a justiça restaurativa, é preciso
pontuar que esse modelo de justiça se trata de uma intervenção insuficiente, porque
a sua aplicação aos casos de violência doméstica se dá em um nível meramente
individual, o que não possibilita a transformação das suas causas estruturais e
institucionais, produzidas e reproduzidas inclusive pelo próprio sistema de justiça
que, não raro, reage contra a implementação no todo ou em parte da Lei Maria da
Penha (SANTOS; MACHADO, 2018, p. 254).
Portanto, para que se conceba um modelo de justiça transformadora
aplicável aos casos de violência doméstica, deve-se coordenar alternativas
individuais e coletivas, reconfigurando a política de valoração das mulheres a partir
de sua experiência de vida, mas também se propondo a enfrentar a violência
enquanto fenômeno. Isso quer dizer que não dá pra creditar todas as expectativas
de enfrentamento da violência doméstica contra mulheres em soluções únicas e
apenas ao nível da intervenção individual (SANTOS; MACHADO, 2018, p. 258).

4.2 Argumentos favoráveis à aplicação da Justiça Restaurativa

No mundo moderno, torna-se imprescindível o combate à violência em


todas as suas formas. Os índices de violência que são praticados contra as
mulheres no interior dos lares, bem como os efeitos desastrosos e negativos são
alarmantes, pois atingem a dignidade da mulher. Não só a lesão corporal, mas a
forma de violência mais invisível, como a violência psicológica, que são desprezadas
e aceitas e originam-se, principalmente, em virtude da predominância da dominação
masculina, acaba na desestruturação do núcleo familiar, ou seja, acaba com
qualquer possibilidade de afeto e respeito dentro da família (AQUINO; COSTA;
PORTO, 2014, p. 15).
Muitas vezes, o ambiente doméstico, torna-se uma escola de agressores,
num futuro bem próximo, causando um inevitável círculo vicioso, que precisa ser
combatido pelo Direito, como também por políticas públicas amplas, voltadas à
mulher em situação de violência, ao agressor e àquelas pessoas que estão inseridas
neste campo de violência. Para tanto, é fundamental a participação do Estado para
que, em parceria com a sociedade, e todas as organizações que formam um Estado
Democrático de Direito, o quanto antes, criam-se e estruturem-se eficazes redes de
45

atendimento multidisciplinar às mulheres em situação de violência doméstica


(AQUINO; COSTA; PORTO, 2014, p. 15-16).
A aplicação das práticas de Justiça Restaurativa, que podem ser
empregadas tanto às mulheres, como aos homens, demonstram-se como poderosos
aliados para a reabilitação desses agentes. Essas experiências possibilitarão um
exame detalhado das atitudes e sentimentos nutridos pela mulher em situação de
violência e pelo agressor, permitindo que seja reconstruído e que um conjunto de
medidas reparatórias sejam adotadas pelos agentes (AQUINO; COSTA; PORTO,
2014, p. 16).
Esse modelo de restauração da justiça possibilitará a reinserção da
cidadania e da dignidade humana, rompida pelo ciclo da violência. A mobilização em
torno dessa temática deve causar alterações expressivas no comportamento social,
transformando a prática da justiça e produzindo mudanças fundamentais nas
relações de gênero. Com isso, a importância da participação imprescindível do
Estado perante a proteção da família. Para que de fato sejam aplicados os direitos
humanos, valores fundamentais da República Federativa do Brasil e que
representam a razão de ser do Estado, nas questões referentes aos direitos das
mulheres, dentre eles o de viver sem violência, garantindo, dessa maneira, a
efetivação da dignidade da mulher (AQUINO; COSTA; PORTO, 2014, p. 16).
Os benefícios da Justiça Restaurativa são notáveis: auxiliam a vítima a
reduzir o medo, insegurança e ressentimento, diminuindo os efeitos traumáticos
relacionados à transgressão. De outra parte, oportuniza ao ofensor ouvir o relato do
sofrimento causado pela violência, visualizar sua real dimensão e reparar seus
danos, promovendo, com isso, sua inclusão social. No tocante à violência por razões
de gênero, a Justiça Restaurativa opera como um instrumento que pode tirar a
pessoa que sofre o conflito da posição de vítima, permitindo seu papel como
protagonista. Suas vantagens se tornam ainda mais evidentes diante do
empoderamento de todas as partes afetadas pelo conflito (BAZO; PAULO, 2015, p.
202).
Portanto, compreender que as mulheres em situação de violência
merecem a escuta e a devida responsabilização, quando de um crime, é o primeiro
passo. A garantia dos direitos fundamentais, do devido processo legal, do
cumprimento da Lei Maria da Penha, na sua efetividade, sinaliza para uma justiça da
experiência, transformadora, que devolve principalmente a mulher em situação de
46

violência o empoderamento. Nesse sentindo, a restauração da justiça possibilita que


não apenas a mulher seja proporcionada a reparação dos traumas causados pelos
atos de violência, mas que alcance também ao agressor (COSTA; AQUINO;
PORTO, 2011, p. 63-64).
As alternativas de soluções dos conflitos propostas atualmente pelos
diferentes juizados brasileiros imprimirão indiscutíveis reflexos no processo de
consolidação da Lei Maria da Penha. Em uma tomada de posição, acredita-se na
necessidade de implementação das equipes multidisciplinares, o que pode ocorrer
por meio de parcerias como exemplo, entre a Instituição de Ensino Superior e
Juizados, pela possibilidade de encaminhar o agressor a programas de recuperação
e reeducação como dinâmica da solução do conflito e da própria realização da
mediação, em alguns casos. Uma equipe multidisciplinar, capaz de auxiliar o juiz a
diagnosticar os casos graves de violência e de encaminhar corretamente as partes
em casos de violência que leve a programas de mediação ou de recuperação e
reeducação, respeitará o fenômeno da violência de gênero na sua globalidade e
complexidade (STOCK; PANZENHAGEN; SILVEIRA, 2011, p. 88).
Os métodos restaurativos possibilitam que, através do diálogo, o agressor
entenda os sentimentos da mulher no momento da agressão, suas preocupações,
seus medos e, da mesma maneira, a mulher em situação de violência entenda o que
motivou tais atos. Inseri-los neste ambiente de comunicação é se preocupar com o
futuro, tendo em vista especialmente os casos em que o convívio entre as partes
será mantido, seja em virtude da prole constituída, seja por ligações de parentesco.
Esta atuação ativa das partes na busca do entendimento, proposta pela Justiça
Restaurativa, possibilita que sejam sujeitos da própria história, lidando com seus
conflitos e problemas, criando um espaço de participação e comunicação. É preciso
que os sujeitos experimentem a Justiça ativamente e não deleguem exclusivamente
ao Estado a tarefa de resolução de seus litígios (COSTA; REUSCH, 2015, p. 14-15).
Em razão de tudo que foi exposto, possivelmente percebe-se a
necessidade de se recorrer a mecanismos modernos que possibilitem a efetivação
dos direitos fundamentais das vitimas de violência doméstica e familiar. Assim, as
práticas restaurativas representam elementos capazes de romper com os paradoxos
punitivos definidos pela norma, quando esta, por sua vez, torna-se símbolo da
retributividade presente no processo de conversações da comunidade. A Justiça
Restaurativa é o espaço de dialogo, que, como recurso tecnológico, possibilita
47

práticas de cidadania. Sabe-se que a Jurisdição é uma conquista constitucional, pois


é o caminho que serve como garantia do processo (COSTA; AQUINO; PORTO,
2011, p. 60-61).
Para tanto, os recursos restaurativos são adaptáveis e flexíveis aos
modelos e categorias que se instauram. Com o fim de que as práticas restaurativas
sejam efetivas no contexto em que são adotadas, e importante que se remova das
relações sociais o habito de punir, pois não esta em discussão a violação da norma,
e, sim, a relevância de se abrir espaços públicos para suprir déficits de comunicação
que são alimentados cotidianamente pela linguagem. A adoção de uma linguagem
não violenta e primordial para o sucesso dessas práticas (COSTA; AQUINO;
PORTO, 2011, p. 62-63).
Diante disso, acredita-se que a Justiça Restaurativa pode ser uma
alternativa viável para a resolução dos conflitos, tendo em vista que objetiva
envolver as partes, restabelecendo um canal comunicativo, focando nos sujeitos
envolvidos para que se obtenha um entendimento razoável e de acordo com a
vontade das partes. Baseada neste procedimento de consenso, onde infrator e a
mulher em situação de violência tem a oportunidade de expor seus anseios, medos
e angústias, a Justiça Restaurativa torna-se um meio mais célere e com resultados
que possam agradar ambos os envolvidos, pois não se trata, neste modelo, de
definir um ganhador ou perdedor, uma pena ou sanção, como é o caso das
sentenças judicias, e sim a possibilidade de um acordo construído e cumprido pelas
partes (COSTA; REUSCH, 2015, p. 2).
Conforme argumenta Bavaresco (2006, p. 103), essas vias de acesso
permitem aumentar a compreensão e o reconhecimento dos participantes, construir
a possibilidade de ações coordenadas, mesmo que na diferença, incrementar os
diálogos e a capacidade das pessoas e comunidades para se comprometerem
responsavelmente com decisões e acordos participativos. Evidenciar a autonomia,
democracia e cidadania é, em certo sentido, ocupar-se da capacidade das pessoas
de se autodeterminarem em relação e com os outros, considerando-se as
especificidades das mulheres em situação de violência doméstica.
No mesmo sentido, Bavaresco (2006, p. 110) explica que a autonomia no
processo de mediação é uma forma de produzir diferenças e tomar decisões em
relação às alternativas do conflito que se encontram impressas nos indivíduos e os
configura em termos de identidade e cidadania. Trata-se, portanto, de um trabalho
48

de reconstrução simbólica dos processos conflitivos das diferenças que permite


formar identidades culturais, visando a integrar os conflitantes com um sentimento
de pertinência comum. Pode-se considerar que a mediação aplicada aos casos de
violência doméstica contribui para favorecer a responsabilização do agressor e para
dar maior segurança às mulheres em situação de violência.
Assim sendo, o que se buscaria com a mediação diante da violência
doméstica e/ou intrafamiliar de gênero não seria a reconciliação do casal, mas sim a
compreensão da gravidade, complexidade e naturalização das agressões sofridas
pela mulher e quanto ao agressor possam melhor compreender o fenômeno da
violência doméstica no qual se encontram, e assim, haver maior possibilidade de
efetividade tanto das decisões e/ou sentenças proferidas no curso das ações
judicializadas nestes tipos de demanda, quanto das decisões e sentenças prolatadas
nas demanda de família, envolvendo as mesmas partes, logo, os mesmos filhos, que
frequentemente tramitam simultaneamente (BARBOSA; SILVA, MATTOS, 2018, p.
150).

4.3 Argumentos contrários à aplicação da Justiça Restaurativa

Embora seja difícil esgotar todas as críticas existentes acerca da


aplicação da Justiça Restaurativa nos casos de violência doméstica, importante
destacar alguns argumentos utilizados por aqueles que desaprovam sua aplicação.
Os mais comuns, são: 1) em alguns casos, os desequilíbrios de poder são muito
grandes e não podem ser ignorados durante o processo restaurativo, sob pena de
revitimização da mulher em situação de violência – alguns chegam a afirmar,
inclusive, que a justiça restaurativa contribui para que as mulheres permaneçam em
situações abusivas; 2) a informalidade típica dos processos restaurativos favorece a
manipulação do processo por parte do agressor, que mais facilmente do que no
processo penal estenderá o recurso à violência, muitas vezes culpabilizando a
mulher em situação de violência; e 3) a justiça restaurativa não pode ser utilizada
para crimes graves, os quais requerem uma intervenção punitiva do Estado, sem a
qual ocorreria a “banalização” da violência. Com efeito, para alguns, a informalidade
do processo restaurativo, em comparação ao modelo de justiça tradicional, pode
levar a um olhar que menospreza a violência exercida pelo agressor sobre a vítima
(CNJ, 2018, p. 269).
49

Um dos argumentos baseia-se na ideia de que a Justiça Restaurativa


acarretaria risco à integridade física da vítima, tendo em vista que a mesma não
consegue deter a violência. Explicam os defensores do posicionamento que a
ocorrência de novas agressões relacionam-se com o fato de tal técnica não ser
intimidatória nem corretiva, além de necessitar da aproximação entre vítima e
acusado. Esse confronto entre as partes poderia, inclusive, aumentar a
agressividade do autor do fato e, dessa forma, a vítima estaria exposta a um maior
risco se comparado à aplicação da resposta penal tradicional (GIONGO, 2011, p.
184).
Sabe-se que a participação no processo de mediação penal constitui uma
carga para os envolvidos: enfrentar de forma autônoma a outra parte, bem como ter
que conduzir os encontros sob sua responsabilidade. Trata-se da busca pela
solução da própria controvérsia. Dessa forma, é necessário dentro de um processo
de mediação penal que ambos os interessados cooperem a fim de se chegar a uma
solução, exigindo como pressuposto fundamental a equivalência ou o equilíbrio de
poder (VALVERDE, 2008, p. 59).
A mediação acarreta risco à integridade física das mulheres em situação
de violência, pois não pode deter o exercício da violência. A preocupação dos
teóricos com a confrontação entre autor e a mulher durante as sessões de mediação
se dá em razão da possibilidade de gerar o aumento do nível de agressividade no
autor do fato, expondo a mulher a um maior risco, se comparado com a aplicação
dos métodos tradicionais (GIONGO, 2011, p. 183).
Parizotto (2018, p. 290) explica que para os defensores dos Juizados de
Violência Doméstica híbridos, discutir o enfrentamento à violência doméstica de
gênero a partir de suas particularidades significa,

pensar os aspectos cíveis imbricados nos aspectos criminais. É preciso


reconhecer uma desigualdade instalada nas relações de gênero entre
homens e mulheres, o que, portanto, não coaduna com a igualdade
geralmente presumida entre as partes em uma audiência cível.

Sendo assim, a autora concorda com a disposição da Lei Maria da Penha


sobre a criação dos JVD como juizados híbridos, pois compreendem que, o Poder
Judiciário atenderia com coerência a particularidade da violência doméstica, além de
diminuir a quantidade de audiências, o que garantiria maior celeridade, menor
exposição da intimidade das mulheres e menos reencontros com os seus ex-
50

maridos/companheiros em audiências. Consequentemente, reduziria a rota crítica


percorrida pelas mulheres em situação de violência (PARIZOTTO, 2018, p. 291-
290).
Alegam os críticos que a mediação imposta coercivamente importa uma
vitimização secundária, em face da obrigatoriedade do convívio com seu (ex)
cônjuge, podendo, inclusive, traumatizar a mulher em situação de violência
(VALVERDE, 2008, p. 90).
Além do mais, as habilidades do agressor em exercer seu poder podem
ser tão intensas que podem vir a influenciar, inclusive, terceiros intervenientes nos
encontros, como salienta Soares (1999, p. 211):

O perpetrador do abuso pode manipular os mediadores e, sutilmente,


intimidar a vitima para conseguir um acordo que lhe seja inteiramente
favorável. Através de sinais imperceptíveis, até mesmo o mais para o mais
experiente dos mediadores, o agressor pode fazer valer o poder de
dominação e controle, por tanto tempo exercido sobre a parceira ao longo
da relação. Um trincar de dentes, uma expressão facial ou um movimento
corporal podem ser suficientes, lembram as feministas, para reconduzir a
vitima ao estado de tensão e medo tantas vezes experimentado durante o
casamento. O resultado pode ser um acordo injusto, que a vitima endossa,
simplesmente por temer retaliações.

Giongo (2011, p. 187) explica que o resultado da maioria dos acordos


proferidos em sede de justiça restaurativa e a reparação da vítima através de uma
petição de desculpas, reparação econômica ou simbólica ou algum tipo de trabalho
em beneficio a comunidade, o que contribui para que muitos vejam esta justiça como
mais branda, ou seja, menos punitiva do que a tradicional.
Outro argumento utilizado pela a autora contra a aplicação do método de
mediação nos casos de violência contra a mulher é o de que um simples encontro
não é suficiente para interromper o circulo de agressões e modificar a conduta
violenta do agressor. Sabe-se, entretanto, que a mediação apenas introduz um
processo de mudança que se dá em longo prazo. Trata-se, pois, de uma etapa
inicial de mudança das relações violentas, (des) cobrindo-se as reais necessidades
da vitima, preponderando pela sua proteção e pelo fortalecimento da sua posição
social (GIONGO, 2011, p. 188).
Há argumentos ainda que afirmam que o recurso à Justiça
Restaurativa/mediação penal acarreta na perda do efeito simbólico do direito penal.
Nesse sentido, complementam que a aplicação do método acaba por reduzir a
gravidade do fato e que reconhecer sua legitimidade implica dizer que a violência
51

doméstica é negociável, o que faz temerem, os críticos, um retrocesso das


conquistas feministas (GIONGO, 2011, p. 187). Além disso, alegam que um
encontro de mediação não é capaz de modificar a atitude violenta do acusado.
Nesse sentido, de acordo com o modelo feminista,

Reconhecer a legitimidade da mediação, nesses casos, significa veicular a


mensagem de que a violência é negociável, quando se procura mostrar
exatamente o contrario: bater em uma mulher constitui um ato criminoso
que não pode ser tolerado pela vitima e tampouco pela sociedade
(SOARES, 1999, p. 213-214).

Com isso, entende-se que a resposta restaurativa dada à violência de


gênero sai barata para o agressor, pois passa a impressão de ser menos grave,
quando deveria ser punida conforme as leis penais, de preferência com uma pena
de prisão. Só assim, seria dada a devida importância à gravidade do delito, uma vez
que a justiça restaurativa não tem carga intimidatória suficiente para coibir as
agressões praticadas contra a mulher pelo seu (ex) marido/companheiro. Nesse
sentindo, faltaria à Justiça Restaurativa a carga intimidatória necessária para coibir
as condutas agressivas (POZZOBON; LOUZADA, 2013, p. 8).
Ao refletir sobre tal forma de audiência para os casos de violência
doméstica, Parizotto (2018, p. 294) entende que a questão gira em torno de um
elemento essencial à mediação: a igualdade entre as partes. Segundo a Lei de
Mediação, seriam princípios norteadores dessa modalidade jurídica:

Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes princípios:


I — imparcialidade do mediador;
II — isonomia entre as partes;
III — oralidade;
IV — informalidade;
V — autonomia da vontade das partes;
VI — busca do consenso;
VII — confidencialidade;
VIII — boa-fé (BRASIL, 2015).

Considerando que a violência de gênero de homens contra mulheres


desenvolve-se a partir da disparidade de poder entre as partes (SAFFIOTI, 2004, p.
45), a hipótese é que esse modelo de solução de conflitos não atende às
particularidades do fenômeno da violência doméstica de gênero.
Uma preocupação típica quando se pensa na utilização de práticas
restaurativas para a resolução de conflitos marcados pelo desequilíbrio de poder
entre as partes, diz respeito à possibilidade de manipulação do processo pelo
infrator e consequente sobrevitimização da vítima. Quer dizer, um dos riscos
52

apontados pela literatura restaurativista crítica é que a justiça restaurativa, como faz
o modelo tradicional de justiça criminal, pode provocar danos adicionais à vítima.
Igualmente, ao buscar a reparação de danos e de relacionamentos, a justiça
restaurativa pode acabar forçando uma reconciliação entre as partes. Isto é,
enquanto o modelo tradicional de justiça criminal pode acabar forçando o
rompimento da relação entre as partes, este “novo” modelo pode acabar tolhendo a
vontade que algumas vítimas de violência doméstica têm de romper com o seu
parceiro – em ambos os casos, a mulher permanece silenciada no processo de
resolução do seu próprio conflito (ROSENBLATT; MELLO, 2015, p. 106-107).
Diante do exposto, nota-se que os próprios críticos apontam a
desigualdade da vítima e agressores como ponto principal com a intenção de
impossibilitar a aplicação do método nos casos de violência doméstica. Fica
compreendido, ainda que, a mudança de comportamento só será possível através
do medo por uma sanção. E ainda, a mediação como uma solução de conflitos
reforça as desigualdades instaladas nas relações de gênero em contextos de
violência doméstica. A utilização dessa modalidade jurídica aparenta ser superficial
e insuficiente ao enfrentamento da violência doméstica de gênero. Desse modo,
situa a banalização e a invisibilidade vigente dos crimes dessa natureza dentro do
Poder Judiciário, não apenas pelo uso de instrumentos que não atendem às suas
particularidades, mas também pelo risco que tais práticas podem gerar as mulheres.
53

5. CONCLUSÃO

A Lei Maria da Penha surgiu como uma resposta do governo brasileiro


quanto às recomendações de que fosse criada uma legislação mais rígida com
relação à violência doméstica, afastando-se, dessa forma, a sensação de
impunidade dos agressores quando julgados pelos Juizados Especiais Criminais,
nos quais, muitas vezes, bastava o pagamento de cestas básicas ou prestação
pecuniária dos acusados, instituindo-se a reclusão como única sansão aplicável nos
casos de violência doméstica contra as mulheres.
No desenvolver do presente trabalho, buscou-se analisar a justiça
restaurativa frente à aplicação aos casos de violência contra as mulheres, se é ou
não um mecanismo que possibilite a solução de conflitos. O fenômeno da violência
se caracteriza como uma questão cultural que se posiciona no incentivo da
sociedade para que os homens exerçam sua força de dominação e potência contra
as mulheres. A violência decorrente da diversidade de gênero inserida em um
contexto social marcado por um pensamento que engrandece as desigualdades
entre os sexos. Como uma alternativa de solução de conflitos, a justiça restaurativa
se caracteriza na sensibilidade de ouvir as vítimas e os ofensores em um
procedimento judicial que almeja ir além da conciliação. Sendo um assunto muito
54

controverso, visto que a própria Lei Maria da Penha estabelece que não exista mais
a possibilidade de conciliação dos envolvidos.
O objetivo desta monografia foi cumprido e os resultados alcançados são
os seguintes, no primeiro capitulo constatou-se que a Lei Maria da Penha foi
construída sobre o paradigma de gênero, no qual muitos movimentos feministas
trouxeram a público a realidade da violência doméstica. Como solução ao problema,
clamaram para que o Estado reconhecesse a gravidade dos crimes de violência
doméstica, e conseguiram, já que em 2006 ela entrou em vigor. Em que pese tenha
sido uma grande conquista a sua promulgação, pois tornou possível o debate acerca
do assunto, bem como trouxe muitos dispositivos a fim de prevenir a conduta,
proteger as mulheres e garantir maior assistência do Estado nos casos de violência,
exigindo politicas publicas para sua implementação.
São muitos os aprendizados resultantes da pesquisa realizada. Ter
consciência de que a violência doméstica é o resultado de uma relação de
dominação entre homem e mulher, é imprescindível, uma vez que para combater
qualquer problema é necessário, primeiro, conhecer as suas origens. Sabe-se
também que inúmeras mulheres sofrem agressões domésticas diariamente. Embora
esse quadro não seja recente, o mesmo só recebeu status de problema social nos
últimos anos. Anteriormente ele era tratado como fato doméstico, que tinha que ser
resolvido entre homem e mulher dentro de casa.
Já no segundo capítulo debateu sobre a justiça restaurativa como via para
resolução de conflitos, exposto a origem da justiça restaurativa, suas formas de
aplicação nos casos possíveis no Brasil, que busca solucionar conflitos a partir do
diálogo entre as partes e membros da comunidade, visando restaurar o que foi
rompido pelo fato delituoso.
E por último no terceiro capítulo constatou-se o debate da aplicação da
justiça restaurativa no âmbito da Lei Maria da Penha. Entretanto, ainda é cedo para
determinar se a justiça restaurativa é eficaz e adequada para intervir nos casos de
violência doméstica, já que as infrações podem oferecer riscos diversos as
mulheres. Além disso, outra questão que deve ser observada é se a mulher em
situação de violência quer ou não ser atendida por esse sistema. Resolver o seu
caso conforme o procedimento restaurativo deve ser de escolha livre e estritamente
voluntária da mulher.
55

Por fim, o que se pretendeu demonstrar com essa pesquisa, sem a


pretensão de esgotar qualquer estudo sobre a temática, é que podem existir outras
formas viáveis de resolver os conflitos de gênero. Um novo sistema, porém,
depende de uma forte conexão entre órgãos públicos e a comunidade para que seja
implementado satisfatoriamente, a fim de atender aqueles que lhe requisitarem.
A presente pesquisa demonstrou que, apesar do movimento feminista
avançar em favor da independência focados na desigualdade e opressão de gênero
como a única causa da violência doméstica conjugal contra as mulheres. Tendo em
vista no que foi colocado, a Lei Maria da Penha veda em seu artigo 41 a aplicação
dos Juizados e por analogia se os juizados trazem os mecanismos conciliatórios e o
histórico da criação da lei foi contra a esta aplicação. No modelo em que a Lei Maria
da Penha está estabelecida não há espaço para mecanismos conciliatórios como é
as formas de justiça restaurativa que inclui forma de mediação penal, como também
coloca a mulher em situação de violência em contato ao agressor. Por mais que
existam diversos argumentos de possíveis benefícios, esses benéficos precisam ser
questionados a luz da própria lei. Porém futuramente quando existir maior igualdade
entre homens e mulheres e talvez em situações de ameaças, onde não há uma
agressão física seria possível, mas não contexto atual, mesmo porque a lei veda.
56

6. REFERÊNCIAS

AGUIAR, Carla Zamith Boin. Mediação e justiça restaurativa: a humanização do


sistema processual como forma de realização do sistema processual dos princípios
constitucionais. São Paulo: Quartier Latin. 2007.

ALMEIDA, Cristiane Roque de. PINHEIRO, Gabriela Arantes. Justiça Restaurativa


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ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Relatório analítico propositivo: justiça pesquisa
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judiciário. FUNDAÇÃO JOSÉ ARTHUR BOITEUX DA UFSC Florianópolis: Conselho
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