William & Sharon S C Hnoebelen PDF
William & Sharon S C Hnoebelen PDF
William & Sharon S C Hnoebelen PDF
c
S hnoebelen
Tradução do original em inglês Lucifer Dethroned – A true story
Textos bíblicos conforme a versão Almeida, Revista e Atualizada, 2. ed., da Sociedade Bíblica
do Brasil (RA), exceto quando for indicada outra fonte.
Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional, publicada pela Editora Vida (nvi).
Almeida, Revista e Corrigida, da SBB (rc).
Nova Tradução na Linguagem de Hoje, da SBB (ntlh).
CDD 235.47
CDU 235.2
1 Entronização .....................................................................9
2 Caça-fantasmas?................................................................19
5 “O vingador do Diabo”.....................................................59
9 A infra-estrutura do satanismo.........................................121
10 “A catedral da dor”..........................................................139
11 Os saduceus de hoje........................................................153
16 O profano graal...............................................................221
18 Falando do inferno..........................................................245
19 Testemunhando a um adorador do Diabo ......................257
20 Descendo na contramão..................................................273
Você não faz ideia do que seja acordar com uma necessidade de
sentir gosto de sangue em sua boca.
Você não pode imaginar o que é dirigir o carro à meia-noite,
pelas ruas molhadas de chuva de uma cidade, torcendo para en-
contrar uma mulher solitária com quem possa satisfazer um forte
desejo... e, ao mesmo tempo, com outra parte sua torcendo para
que não a encontre, temendo o que realmente você possa fazer.
Sem dúvida que esse é um pensamento apavorante, até mes-
mo ofensivo, para a maioria das pessoas. Tenha paciência comigo,
porém, ao introduzi-lo num mundo por onde poucos têm andado.
Isso lhe dará condições de compreender de onde vim, a fim de poder
avaliar melhor o que Satanás pode fazer às pessoas e, o que é mais
importante, o que Jesus Cristo pode fazer por elas.
Eu costumava acordar com uma forte necessidade de sentir
Lúcifer Destronado
Entronização
encontram-se neste livro — na história real de alguém que foi vítima
de uma trajetória maligna, da qual não há como escapar, exceto
por meio de Jesus.
31 de outubro de 1959
Entronização
por alguma coisa.
Toda a abóbada celeste agora parecia contorcer-se como algo
vivo ou, talvez, como um grupo de coisas vivas. A princípio, o
menino não conseguiu discernir o que estava vendo. Pareciam
muitos cachos de uvas que se sacudiam de dor, suspensos como se
fossem tumores obscenos, escuros, que obscureciam o firmamento 13
estrelado.
Assim que o menino, boquiaberto, foi saindo bem devagar
de sob os galhos daquelas árvores que se espalhavam por todas
as direções, as coisas ficaram um pouco mais nítidas. Cada um
daqueles cachos começou a se abrir, aos poucos, tornando-se hor-
ripilantes. Então ele percebeu o que de fato eram: um bando de
enormes criaturas que se pareciam com morcegos, furando com
suas pequenas garras ossudas o manto aveludado da escuridão
noturna!
Os olhos de tais criaturas, então, se abriram. Apesar de serem
demasiadamente horrorosas, foi desse modo que ele pôde ver, com
maior facilidade, quantas eram. O que viu, deixou-o estarrecido.
Pareciam milhares! Milhares de olhos de um vermelho acentuado
faiscavam naquela massa de seres mórbidos que dele se aproxima-
vam. Os olhos que ele via pareciam entorpecer a sua alma.
— Agora você nos pertence.
Estas palavras ressoaram em sua mente como a badalada de
um grande sino.
— Agora você nos pertence.
Um sentimento de terror, não apenas um medo desconfortá-
vel, mas um gélido e horrendo pavor, como um calafrio, percorreu
de cima a baixo toda a sua espinha dorsal. Um estranho poder,
com uma força irresistível, despencou sobre ele, fazendo-o cair
Lúcifer Destronado
de joelhos.
— Ei, Bill! O que você está fazendo aí?
O ansioso e amistoso grito do seu companheiro, que havia se
afastado um pouco dele, captou de volta sua atenção. Ele olhou
para o amigo, agora muitos metros à sua frente, e arreganhou os
dentes num falso sorriso, nervoso, demonstrando não saber o que
estava acontecendo. Voltou então a olhar para o céu, mas nada viu,
senão estrelas. Era evidente que o seu amigo não havia percebido
nada de anormal.
Desvencilhando-se de todo o seu deprimente terror, e recupe-
14 rando-se da visão assustadora que quase o matou, o garoto correu
então para alcançar seu amigo.
No ano seguinte, ele observou o céu da Rua Três e apenas uma
estrela cadente perturbou o cenário daquela noite. Desde então, a
cada noite de Halloween, com o passar dos anos e avançando em
sua adolescência, olhava para o céu para ver se aquelas horrorosas
e desagradáveis criaturas de olhos vermelhos apareceriam de novo
no céu. Mas nunca voltaram.
Quando chegou à maturidade, ele se tornou cada vez mais
fascinado pelo desconhecido. Passou a estudar a respeito de dis-
cos voadores, fantasmas, casas mal-assombradas, parapsicologia e
Triângulo das Bermudas. Devorava todos os livros sobre esses
assuntos que podia encontrar, para estranheza de seus pais. Todo
ano, saía fielmente a cumprir o seu ritual do Halloween, mas jamais
voltou a ter uma visão como aquela.
Um encontro bem diferente daquele, no entanto, o esperava,
alguns anos depois. Sua mente já havia sido preparada para encarar
o desconhecido, o extraordinário. Além disso, naquela amaldiçoada
noite de Halloween, uma porta se abrira totalmente na alma do
menino. Algo pernicioso, asqueroso, destrutivo e maligno viera
entronizar-se nele.
Ao ser alguém tocado pelas gélidas asas do submundo,
parece que a pessoa — mesmo uma criança — fica excepcional-
mente sensibilizada por certos momentos e lugares. É quando
o véu que separa o nosso mundo “real” do Mal Supremo parece
rasgar-se levemente, e um horror sem controle penetra em nosso
tempo e espaço.
Entronização
Rhinelander, Wisconsin —
1965
Entronização
meno que acabara de presenciar. Com um arrepio e uma forte
sensação de náusea, ele retornou à cabana. Como era de esperar,
não comentou nada com seus pais.
Apesar do que lhe aconteceu nesse verão assombrado nas flo-
restas do Norte, o rapaz jamais teve outro Halloween como aquele
da visão na Rua Três, tempos atrás.
17
•••
Três anos depois, em 31 de outubro de 1968, Bill Schnoebelen
atingira a maioridade.
Naquela noite, do pináculo de um penhasco, contemplava as luzes
de Dubuque, Iowa — olhando para o horizonte noturno do Haloween,
pela primeira vez, na condição de um iniciado em bruxaria.
2
caça-fantasmas?
Era escuro como uma cripta naquele subsolo. Talvez porque esti-
véssemos sentados num lugar bem junto a uma cripta, no porão, em-
baixo do departamento de música da faculdade que eu frequentava.
Éramos cinco ou seis estudantes, sentados em círculo no chão, com
as pernas cruzadas, de mãos dadas, no escuro. Invocávamos o espírito
da mulher que estava sepultada do outro lado de duas enormes portas
de carvalho, naquele subsolo do departamento de música.
O líder do círculo na nossa pequena sessão espírita estava um
ano à minha frente na faculdade e, sem dúvida, havia se desen-
volvido mais do que eu em magia negra. Era Halloween, e nada
melhor do que comemorá-lo invocando o espírito de alguém que
tinha sido uma das pessoas de maior destaque naquela comuni-
dade. A mulher fora sepultada no subsolo do departamento de
música porque seu marido contribuíra não só para a construção
da capela situada acima, como também para a edificação de vários
outros edifícios no campus universitário. Tal como acontecia com
os benfeitores na Idade Média, foi desejo seu que o túmulo da
esposa ficasse instalado sob o altar principal da igreja que ele havia
construído.
Nosso líder, Dave (não é esse o seu verdadeiro nome), clamou,
em voz grave e bem fúnebre:
— Invocamos o espírito de F... W... . Queremos penetrar o
véu do além e falar com ela.
Nada ouvimos, a não ser o nosso coração batendo um pouco
Lúcifer Destronado
ca ç a - fa n t a s m a s ?
mento, foi imediatamente arremessado para fora por poderosas
mãos invisíveis, com uma força tal que chegou a deslocar os
seus ombros.
De outra feita, uma freira viu uma mulher de baixa estatura,
mas bastante robusta, descendo pelos corredores, trajando um
vestido verde de cetim. Posteriormente, ficamos sabendo que a
descrição da mulher coincidira com o retrato oficial de F... W... !
21
Em outra ocasião, ainda, uma aparição atingiu-me em cheio.
Eu tinha o cuidado de nunca ficar nas salas com a luz apagada. Por
experiência, sabia que as pessoas que se aventurassem a entrar no
departamento de música com as luzes todas apagadas, normalmente
sairiam dali com lesões no corpo.
Mas, numa noite, tinha acabado de sair do departamento com
um casal de amigos, quando me dei conta de que havia esquecido
alguma coisa. Voltei ao recinto, estando as luzes apagadas, e nem
me lembrei de acendê-las. Mal havia dado alguns passos no hall
de entrada quando senti uma coisa repugnante agarrar a barriga da
minha perna esquerda, prendendo-a com garras abrasadoras.
Em toda a minha perna que latejava, senti como se a pele
estivesse queimando. Gritei e saí mancando do departamento,
quase chorando de dor. O exame médico constatou que havia
uma lesão do tipo queimadura, aproximadamente do tamanho
de uma mão, na barriga da minha perna. Por várias semanas,
depois desse incidente, tive que andar visivelmente mancando.
Por estranho que pareça, durante cerca de dez anos não cresceram
pêlos na região afetada.
Um dos episódios mais espantosos, com respeito a essas coisas
assombrosas, ocorreu quando a cidade de Dubuque foi atingida,
certa noite, por forte tempestade. O mau tempo causou a interrup-
ção do fornecimento de energia elétrica em todo o campus. Como
Lúcifer Destronado
ca ç a - fa n t a s m a s ?
amigos meus reuniram-se do lado de fora do porão da capela. Ali
estavam para ver o que iria acontecer comigo! Eu abri a porta do
departamento de música e, segurando o livro, fui até as terríveis
portas de carvalho. Meu coração disparava como uma britadeira.
Abri as portas que davam para o túmulo e entrei.
O jazigo, em mármore, atingia um metro de altura do piso do
subsolo. Eu já sabia disso, pois tinha feito previamente um reco-
23
nhecimento do local à plena luz do dia. Agora, porém, a única luz
que havia era a da rua, que vinha de um semicírculo de janelas que
circundavam a enorme cripta. Fazia tanto frio no local que dava
para ouvir a minha respiração ofegante. Eu sabia, de meus estudos,
que um frio sobrenatural é sinal de um elevado grau de atividade
paranormal.
Andei, então, em volta do túmulo e comecei a recitar o ritual
de exorcismo do livro, com a voz mais firme e autoritária que eu
conseguia naquelas circunstâncias. Minha voz soava de modo so-
brenatural e reverberava no espaço vazio de pedra da cripta, mas
não fui interrompido por outros sons e movimentos.
Do lado de fora, meus amigos aguardavam os acontecimentos
com ansiedade; uma grande parte deles esperava ver-me arremessado
para fora, pelas janelas, fragmentado em pequenos pedaços, por ter
ousado entrar no túmulo da pobre mulher. Estavam também de
guarda, pela segurança do campus.
Lá dentro, finalmente, concluí todo o ritual, um tanto enfado-
nho. Então, “conjurei” o espírito a que fosse embora e que nunca
mais retornasse. Contive minha respiração por um instante, para
ver se algo acontecia.
Nada aconteceu.
Finalmente, num ato de triunfalismo jovem, subi no túmulo
e desafiei a temível F... W... a fazer alguma coisa.
Lúcifer Destronado
Nada.
Depois de alguns minutos, fechei o livro, deixei calmamente
a cripta, saí e tranquei a porta do departamento de música. Meus
amigos se alegraram quando me viram, mas, no fundo do meu
coração, eu achava que eles estivessem esperando uma manifestação
visível e espetacular, com raios e luzes saindo do lugar.
Pelo que sei, isso foi o fim das ocorrências paranormais no
departamento de música. Fiquei conhecido como o “exorcista”
da faculdade.
Toda essa minha experiência contribuiu para apoiar ainda mais
24 minha crença nos poderes da magia e do ocultismo. Minha carreira
como feiticeiro tinha, oficialmente, começado.
ca ç a - fa n t a s m a s ?
casa infestada de espíritos malignos e poderosos, situada no alto de
uma colina, de onde se descortinava toda a cidade de Dubuque.
Os proprietários nos relataram a difícil situação que estavam
vivendo, e decidimos ajudá-los. Tínhamos sido recentemente trei-
nados e chegado ao nível de alto sacerdócio; assim, achávamos estar
preparados para enfrentar qualquer tipo de fantasma.
O casal tinha se apavorado, principalmente porque um dos
fantasmas ameaçava as crianças. Elas se queixavam de pesadelos 25
e de verem coisas assustadoras no quarto. O pai, apático e mate-
rialista, tinha sido acordado numa noite por algo que puxava as
cobertas da sua cama. Viu uma aparição branca pairando no ar,
aos pés da cama. Tinha garras afiadas, que começaram a puxar
as cobertas. Quando ele se levantou da cama para acossá-la, ela
deslizou pelo corredor de um modo tão suave que parecia ter ro-
lamentos nos pés. O homem a perseguiu passando pelos quartos
das crianças e escada abaixo. O vulto o levou pela grande sala,
à cozinha e, alcançando a porta dos fundos, passou por ela. O
homem tentou alcançá-lo, mas, quando abriu a porta, teve um
enorme choque: no lugar do seu quintal, havia um abismo infinito
de estrelas! Ele sentiu o vento da eternidade roçando seu rosto e
voltou correndo para dentro de casa, tomado de terror. Foi então
que fomos chamados.
Visitamos a casa, discutimos o problema e nos inteiramos
do histórico da mansão. Em seguida, pedimos aos proprietá-
rios permissão para ver o “coração” da casa. Os ocultistas e os
parapsicólogos acreditam que as casas mal-assombradas, em sua
maioria, têm um “coração”, ou seja, um centro espiritual do qual
provém toda a ação sobrenatural. Geralmente é um lugar bastante
frio. No caso deles, rapidamente descobrimos que era o quarto
principal, o do casal.
Esse quarto era gelado. Dava para sentir a própria respiração.
Lúcifer Destronado
ca ç a - fa n t a s m a s ?
Como cada um de nós estava trabalhando num quarto diferente
da casa, eu não tinha ciência do que exatamente Sharon tinha feito.
Naturalmente, presumi que nossos rituais tinham tido êxito e nem
me preocupei mais com o assunto. Nós dois e os demais do grupo
fomos, então, para o andar térreo, e o casal proprietário nos disse
sentir que a casa estava ótima. Naturalmente acharam ter sido pelos
27
nossos “poderes místicos” altamente desenvolvidos que a opressão
desaparecera.
Mas aquela noite ainda não terminara. Sentamo-nos na sala de
estar para tomar um chá, enquanto nos deliciávamos com o sabor
da nossa vitória, quando de repente um som de um uivo, horri-
pilante, irrompeu naquela noite. Seguiu-se a ele o barulho de um
forte impacto, como se alguém tivesse dado um tiro de canhão na
porta de entrada. Corremos até a porta e a abrimos. Vimos à nossa
frente o gato da casa, tremendo de forma incontrolável, tomado de
um terrível pavor. Olhando com atenção para a porta, pareceu-nos
que alguém (ou alguma coisa) tinha arremessado o gato com uma
incrível violência contra a porta.
O pobre gato estava tão aterrorizado que tinha se arranhado
todo. A dona da casa nos informou que o bichano era tão bravo
que já tinha até enfrentado cães duas vezes maiores do que ele. Ela,
então, o pegou e, quando o colocou no chão, ele disparou e foi
esconder-se debaixo do sofá, tremendo de medo, e ali permaneceu
por muitos dias.
Uma pequena camada de neve cobria o gramado lá fora, mas
não havia pegadas humanas sobre a neve em parte alguma nas pro-
ximidades da entrada da casa, tampouco pegadas do gato. Assim,
concluímos que os espíritos, ao saírem da casa, vingaram-se no gato
Lúcifer Destronado
ca ç a - fa n t a s m a s ?
bastante confiante, pois, como parte do meu treinamento ocul-
tista, havia iniciado meus estudos de preparo para o secerdócio
da Igreja Católica Romana Antiga [Igreja existente nos Estados
Unidos — Old Roman Catholic Church, que se declara sucessora
da Igreja Católica histórica, não sendo ligada ao Vaticano], e já
recebido o grau menor de ordenação. Significa que eu havia rece-
bido a “Santa Ordenação” de exorcista e com ela, supostamente,
o poder de expelir demônios. Considerando todo o nosso treina- 29
mento em magia, nosso poder de grande sacerdote na feitiçaria e
os manuais que consultávamos, achamos que a nossa tarefa seria
extremamente fácil.
Quatro horas depois, no entanto, nossa aluna continuava se
retorcendo, chutando e proferindo pragas malignas contra nós.
Tínhamos colocado um “círculo mágico” em torno dela, dentro
dos limites do nosso templo, e tentado de tudo, para expelir os
demônios que a atormentavam. Lançamos mão dos rituais de exor-
cismo do livro A Maior Chave de Salomão e dos manuais e textos
de bruxaria de que dispúnhamos. Cheguei até mesmo a ler todo
o ritual católico romano de exorcismo, rezando em nome de Jesus
Cristo e borrifando sobre ela um pouco de água benta. Mas tudo
isso só fez aumentar sua fúria (dela ou deles).
O dia já ia amanhecer e nos encontrávamos exaustos, mas
não os demônios. Eu havia praticado todo o ritual de exorcismo
duas ou três vezes, assim como outros rituais e atos simbólicos
— mas tudo foi totalmente inútil. Finalmente, minha esposa,
Sharon, suspirou, desesperada, pondo para trás o cabelo que lhe
caía sobre os olhos, e me olhou como quem dissesse: “Neste caso,
nada funciona!”
Sharon, então, pôs as mãos sobre a cabeça da mulher, depois
de já ter feito isso inúmeras vezes, mas agora dizendo:
— Em nome de Jesus Cristo, eu ordeno que todos os demônios
Lúcifer Destronado
mentira.
o se u in i m i g o
rio — a “leal oposição”. Seu pensamento é que “Deus não pode
ser visto como bom sem que haja alguém que o faça parecer ser
bom”; desse modo, Satanás existe como um trágico contraste. Esse
Satanás não aflige ninguém e, por certo, não é um ser malévolo.
Ele é apenas o senhor das forças das trevas e ajuda a humanidade
co n h e ç a
com seu “lado de trevas”.
3. Satanistas de nível mais elevado alcançam o patamar se-
guinte da verdade, ou seja, creem que Satanás é maligno, mas que
a sua malignidade é melhor do que o que Deus tem a oferecer. 33
Segundo essa visão, Satanás é quem, de modo injusto, recebe
toda a responsabilidade dos erros de Deus. Eles creem que, por
ciúmes, Deus o expulsou do céu, e assim Satanás procura recuperar
a sua glória. Deus é apresentado como o Deus das “massas”, um
rebanho de pessoas tolas que têm mentalidade de escravo. O insano
filósofo Friedrich Nietschze teria isso em mente quando afirmou
que o cristianismo é uma religião “de escravos”.
O satanismo — dizem — é uma religião de senhores. O rei-
no de Satanás é para os criativos e ousados, para os que querem
viver grandes emoções. O céu é apresentado como sendo um lugar
maçante, cheio de tolos dedilhando harpas o tempo todo. O inferno,
por outro lado, é apresentado como um lugar de uma orgia eterna.
O cristianismo — dizem ainda — é bom para os que são meramente
humanos (costumávamos nos referir a eles como “me-hums”), mas,
para os que são senhores, o satanismo é a única opção. Eles crêem que,
quando alguém se alista no exército de Satanás (vendendo a alma ao
diabo), está entrando numa guerra que tem por objetivo retomar de
Deus o céu. Deus é visto como o usurpador, e Satanás como o gover-
nante de direito do céu. Desse modo, Satanás é tido como um grande
herói libertador, lutando contra um rei imperialista.
4. Para os que estão em nível de mestrado no satanismo,
Satanás é apresentado como o deus legítimo do Universo, que
extrai poder do sofrimento, da perversão e da morte.
Lúcifer Destronado
o se u in i m i g o
deus, então pode matar, destruir, roubar e estuprar quem quiser,
porque é ela quem estabelece as regras. Daí decorre a máxima
satânica de Aleister Crowley:
Fazer o que tu queres será toda a lei; o amor é a lei, amor
submisso à vontade.1
co n h e ç a
Para eles, o amor tem de subordinar-se à vontade satânica
do senhor de todas as magias. Paradoxalmente, eles sabem,
no entanto, que Satanás é um cruel senhor que impõe tarefas
a seus subordinados. Não é mais aquele rebelde romântico; 35
agora, ele é mais como o chefe supremo de um implacável
sindicato cósmico do crime, que tortura e castiga sem pie-
dade seus servos. Ele é o Capo di Capo,2 ao passo que eles (os
satanistas desse alto nível) são seus “afilhados”. Eles acreditam
ter também um grande poder e “prerrogativas especiais”, mas
no fundo sabem que o seu reinado é bastante vulnerável. Um
só movimento errado, e o seu Capo se voltará contra eles e os
punirá com extrema severidade.
Foi-lhes ensinada ainda a mentira de que não há alternativas
para as suas vidas, e o Deus do céu jamais os receberá, uma vez que
já praticaram atos demasiadamente perversos e malignos. E que, se
tentarem sair ou desertar para o “outro lado”, serão mortos de um
modo horrível e torturados eternamente no além. Sem dúvida, o
que já viram de torturas e sacrifícios humanos é mais do que sufi-
ciente para saberem até que ponto vão os horrendos atos maldosos
que Satanás e seus escravos humanos lhes poderiam fazer.
É muito importante para o cristão que quer ganhar almas com-
preender que tais satanistas encontram-se totalmente convencidos
de que “venderam a alma” ao diabo e que Jesus não pode fazer nada
para os salvar. Essa mentira precisa ser primeiramente desfeita para
que o testemunho do evangelho seja eficiente. Eles acreditam que
estão fora do alcance da salvação.
Esta é uma das razões pelas quais este livro foi escrito. Que-
Lúcifer Destronado
c
Outro risto?
o se u in i m i g o
Alguns comentaristas da Bíblia acreditam que ele foi incum-
bido do louvor musical a Deus diante do trono — uma espécie de
regente do coro celestial. Isso explicaria por que hoje Satanás tem
tanto interesse pela música e a usa com tanta eficácia.
Adicionalmente, Lúcifer é descrito como o “querubim ungido
co n h e ç a
para proteger”. Ele era o quinto querubim e, assim, parece ter sido o
que protegia o trono do Senhor. Dois pontos são reveladores aqui.
O primeiro, e mais importante, é que Satanás, uma vez tendo sido
ungido, tem uma unção! A Bíblia nunca menciona que ele tenha
37
perdido essa unção. Na verdade, ele é o único querubim a respeito
de quem é dito ter sido ungido.
O termo hebraico que exprime “aquele que é ungido” é
transliterado como “messias”, cuja palavra grega correspondente
é “cristo”. A expressão “Jesus Cristo”, na verdade, significa “Jesus,
o Messias”, ou “Jesus, o Ungido”. Assim, há pelo menos “outro
cristo”, e este é o diabo! Paulo adverte-nos:
Pois, se alguém lhes vem pregando um Jesus que não é aquele
que pregamos, ou se vocês acolhem um espírito diferente do
que acolheram, ou um evangelho diferente do que aceitaram,
vocês o toleram com facilidade. (2Co 11.4 – nvi)
E o próprio Senhor Jesus confirma:
Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão
grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os
eleitos. (Mt 24.24 – nvi)
Há, então, uma perigosa armadilha em que poderemos cair,
pois há muitos que dizem haver encontrado “o Cristo”, e até alguns
(como Maitreya, o Senhor da Nova Era) que se dizem ser “o Cristo”.
Outros, até mesmo, declaram estar ligados a um “Jesus Cristo”. Há
quem diga ter “a unção” ou meios para ensinar os crentes a adquirir
“a unção”. Entretanto, as palavras podem enganar e, em muitos
casos, o crente deverá ter discernimento suficiente para perguntar:
Lúcifer Destronado
o se u in i m i g o
(1Co 14.29).
Frequentemente, as pessoas acham que têm uma “unção de
Deus” e que “o Senhor lhes disse” tais e tais coisas, quando, na
verdade, estão sendo enganadas por outra unção.
Em capítulo mais adiante, consideraremos o assunto de como
co n h e ç a
podemos pôr à prova os espíritos para termos a certeza de que o
que estamos recebendo provém, de fato, do verdadeiro Deus vivo.
o se u in i m i g o
outra Rocha; não conheço nenhuma. (Is 44.7-8 – nvi)
co n h e ç a
4. Satanás tem, comparativamente, pouco poder.
Especialmente no que concerne aos cristãos. Embora mais pode-
roso do que qualquer ser humano, e podendo realizar falsos sinais e
maravilhas, ele quase nada pode contra os filhos de Deus! Somente pode
41
tocar em nós à medida que nossos pecados lhe concedem pontos
de acesso ou por uma permissão especial de Deus. Até mesmo uma
simples criança, se nascida de novo, consciente de sua posição em
Cristo, poderá lançar Satanás de um lado para o outro (em nome
de Jesus) como uma bola de pingue-pongue. Veja, por exemplo:
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autori-
dade me foi dada no céu e na terra. (Mt 28.18)
6. Satanás é egomaníaco.
O orgulho do diabo o leva a intrometer-se em tudo. É por
isso que Deus se agrada em estar sempre humilhando-o por meio
de nós, Seus frágeis instrumentos humanos. Satanás, na verdade,
pensa que poderá vencer, apesar de o livro de Apocalipse proclamar
seu destino final e de suas históricas derrotas em sua oposição a
Deus. Seu orgulho, a causa de sua queda, continuará sendo ainda
sua ruína, vez após vez. Ele cometeu o seu último erro, o de crer em
suas próprias mentiras!
Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das
estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da con-
gregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei
acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
(Is 14.13-14)
o se u in i m i g o
É por isso que essas áreas são precisamente as que Deus
usa para continuamente frustrar os planos do inimigo. Deus se
utiliza da nossa fraqueza, junto com a Sua graça, para derrotar
os planos de Satanás. Por não conseguir compreender esses
sentimentos, Satanás os considera como sendo as áreas da na-
co n h e ç a
tureza humana mais difíceis de serem previstas e entendidas.
Ele, a todo momento, é surpreendido pelas obras que o Espírito
Santo tem capacitado simples cristãos a realizar, em submissão ao
Senhor.
43
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo
se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em
semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,
a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte
e morte de cruz. (Fp 2.5-8)
N ot a s
44 1
Aleister Crowley (1875-1947) foi o filósofo satânico e ocultista que mais
se destacou até agora em nossa época. Suas ideias e escritos tiveram uma
grande influência tanto em partidários da Wicca como em satanistas de
todo tipo. A citação é do seu livro Liber Al ver Legis [O Livro da Lei], e é
a regra áurea da sua religião, que é conhecida como Thelema (segundo a
palavra grega que corresponde a “vontade”) ou crowleyanismo.
2
Uma expressão italiana para “o chefão supremo” de uma quadrilha, “o
poderoso chefão”.
A Árvore da Vida:
Graus de Iniciação
Ipsissimus
10o
o se u in i m i g o
Magister
Magus
Templi
9o
8o
“O Abismo”
co n h e ç a
Adeptus Adeptus
Major Exemptus
Adeptus 7o
6o
Minor
5o 45
Practicus Philosophus
3o 4o
2o Zealator
Neófito
1o
4
A cerimônia de
inocência acabou
erro?
O ma l p o r re e m b o l s o po st a l ?
E n tr e la ç a nd o en e r g ia s
52
Seja do Conhecimento de Todos
* William Schnoebelen legalmente mudou o seu nome para Christopher
P. Syn. Quando deixou o satanismo, voltou a mudá-lo, passando a ter
novamente seu nome original.
A primeira era entrar para a Maçonaria, tornar-me um Mestre
Maçom e depois ascender aos graus mais elevados. A segunda, por
incrível que pareça, era ordenar-me como sacerdote católico! Isso
foi uma surpresa total para mim, pois eu tinha sido criado como
católico. Na verdade, cheguei a frequentar um seminário nos meus
tempos de faculdade, quando comecei a me envolver com o ocultis-
mo, enquanto estudava para o sacerdócio. Conhecia o catolicismo
Lúcifer Destronado
“A Irmandade
Branca”
Ipsissimus
Sacerdote Bispo
Luciferiano Ordem de
Católico
Melquisedeque “A Irmandade
(Católica) Escarlate”
55
Bruxa Diaconato
Rainha Católico
Sumo
Sacerdote
da Wicca
Sacerdote
da Wicca “A Irmandade
Negra”
feitiçaria e quis estudar conosco. Ele disse que, em retribuição, po-
deria conseguir que eu estudasse para o sacerdócio na I.C.R.A. Isso
me parecia algo que “tinha caído do céu”, ou ainda, “do inferno”,
e prontamente aceitei a oferta.
Dois anos depois, fui ordenado sacerdote nessa seita, numa missa
muito solene, na Paróquia de São Paulo, em Plainfield, Illinois.5
Além disso, alguns meses depois, um rapaz quis entrar em
Lúcifer Destronado
nosso “coven”, cujo pai era oficial na Loja Maçônica. Ele pôde,
então, me apoiar em todo o processo de entrar na Maçonaria e
avançar em seus graus.6
Com essas duas conquistas, parecia que só me restava mesmo
“ascender” cada vez mais na hierarquia do Reino das Trevas.
N ot a s
1
Notarikon é uma forma de codificação cabalística em que letras do alfa-
beto hebraico são transpostas, tanto num sentido como no outro, para
56
ocultar um nome ou um feitiço. Neste caso, as letras foram transpostas
para a frente, formando o nome transliterado de Sa-A-Ka-Zay-M, ou
“Sakazayim”.
2
O carma é um conceito ocultista e hindu relativo à reencarnação. Segundo
o que se crê, por meio de um processo de sucessivas reencarnações, o espí-
rito pode vir a evoluir e superar tal ciclo; quando isso acontece, a pessoa
torna-se um “Mestre” ou “Bodhisatva”. Mas um exame mais acurado
desse processo de carma e reencarnação revela que se trata de um conceito
totalmente errôneo. Ninguém jamais consegue aprimorar-se. Para mais
informações a respeito, veja o livro de minha autoria Wicca: Satan’s Little
White Lie [Wicca: Mentirinha Branca de Satanás].
3
O que Crowley teria descoberto seria o segredo supremo do cerne de
toda a maçonaria: escondido na alegoria do ritual de Mestre Maçom
estaria o segredo da vida eterna! Os alquimistas falavam a respeito dele
como sendo o Elixir da Vida e, reservadamente, referiam-se a ele como
Amrita. Os maçons o chamam de “O Real Segredo”. Relaciona-se com
o desconhecido nome de Deus, supostamente revelado no Real Arco
no sétimo grau do rito de York. Este segredo é que o nome de Deus,
YHVH, nada mais é do que o gemido orgásmico da suprema criação,
e que o segredo da vida eterna acha-se na consumação sacramental de
certos fluidos envolvidos no ato da reprodução humana. Crê-se que
esse segredo tem condições de possibilitar a alguém viver eternamente.
Afirma-se que alguns alquimistas maçônicos, tais como Fulcanelli e o
U ma ig r e ja sa t â nic a s e m o Di a b o ?
LaVey deu início às atividades de sua Igreja em 1966, depois de
uma vida de múltiplas atividades, pois fora antes domador de
leões, organista e fotógrafo policial. Era, além disso, faixa preta em
judô. O relato “oficial” da razão pela qual ele concebeu a Igreja
de Satanás diz que havia se desiludido com o cristianismo. Via na
igreja aos domingos os mesmos homens que, no dia anterior, ele
tinha visto em shows de striptease, em boates onde tocava órgão.
Depois de certo tempo atuando como fotógrafo policial,
LaVey ficou “farto” de Deus por ver, em função do seu trabalho,
tanta brutalidade e tantas mulheres e crianças mortas. Ele não
podia compreender como Deus, supostamente o bom Deus dos
cristãos, pudesse valer alguma coisa, já que permitia que todo esse
mal acontecesse.
Na noite de 1o de maio de 1966, rapou a cabeça, imitando
o famoso e genial satanista Aleister Crowley, os homens fortes
do circo e os sacerdotes egípcios. Nesse dia, proclamou o início
do primeiro ano da Era de Satanás. Até o dia de hoje, a Igreja de
Satanás estabelece as datas a partir daquele dia. Assim, 1993 seria
XXVII A.S. (ano de Satanás)!
“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
A combinação inicial de um desprezível profissional dos pra-
zeres da carne com sua genialidade incomum e sua condição de
alguém que buscava a magia com seriedade é o que veio caracterizar,
em grande parte, o desenvolvimento da Igreja de Satanás.
LaVey começou com um grupo de estudos de magia negra, e
desse grupo foi que se desenvolveu o núcleo central do início da
Igreja de Satanás. Logo depois, escreveu A Bíblia Satânica, não
propriamente como uma “revelação satânica”, mas como uma
combinação bem montada de uma filosofia, um psicodrama e um
detestável equívoco. Com a publicação dessa “Bíblia”, a sua repu- 61
tação e a membresia da sua Igreja decolaram como um rojão.
A certa altura, ele fez o circuito das boates com uma apresentação
intitulada “Anton LaVey e suas bruxas topless”. Comprou uma casa na
Rua Califórnia, em San Francisco, e a pintou de preto. Sua decoração
foi feita com o que no mínimo seria considerado de tenebroso mau
gosto. Mesas para café na forma de túmulos, múmias pelos cantos,
e um leão da Núbia, negro, vivo, adulto, que vivia no porão.
LaVey promoveu o primeiro batismo satânico do mundo aber-
to ao público, o de sua filha Zeena, que então tinha três anos de
idade, diante de um altar com uma figura de nu feminino. Dirigiu
também o primeiro funeral satânico, com todas as honras militares,
no cemitério de Arlington. Serviu ainda como assessor técnico do
filme O Bebê de Rosemary, e chegou mesmo a aparecer no filme,
fazendo o papel do diabo na cena em que Satanás violenta a heroína.
Ele se deu muito bem com os manda-chuvas de Hollywood, o que
em nada nos deve surpreender.
M as on d e es t á o Dia b o?
Talvez surpreenda os cristãos o fato de a linha “oficial” da Igreja de
Satanás não acreditar na existência de Satanás! Para LaVey, Satanás seria
apenas o que o psicólogo ocultista Carl Jung4 chamou de “arquétipo”,
um símbolo do desejo de Prometeu, da humanidade, de roubar
fogo dos deuses e reinarem, os seres humanos, como deuses e deu-
sas sobre a terra. O diabo não teria existência a não ser como uma
Lúcifer Destronado
“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
O homem não necessita de ninguém mais, a não ser de si mes-
mo, para salvar-se; e a necessidade de salvação no sentido cristão é
negada: “Eu sou meu próprio redentor!”5
4. Psicoterapia de Reich:
A forma de freudianismo um tanto bizarra de Wilhelm Reich
é baseada na crença do “orgônio”, ou unidade de energia orgásmi-
ca e na ideia de que toda enfermidade é causada pela repressão da
energia sexual. Envolve ainda o uso de “caixas orgônio” especiais
e a liberação de toda inibição sexual. As ideias de Reich estão no 63
“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
U ma re l ig iã o d e vio l ê n c ia e mo rt e !
U ma de u s a d o am o r am a l di ço a da
Estamos agora falando do caso de uma discípula de LaVey, a famosa
“deusa do sexo” Jayne Mansfield. Essa conhecida atriz de cinema,
tornou-se membro da Igreja de Satanás em 1965. Ela pregava as
66 ideias do satanismo, proclamando que a castidade é “realmente
uma perversão que causa doenças, um verdadeiro mal”.10 Apareceu
em fotos de propaganda bebendo do enorme cálice cerimonial de
LaVey, junto com ele, vestido de todos os seus aparatos satânicos:
um terno preto, um manto acetinado preto e um boné preto com
chifres do diabo. O envolvimento de Jayne Mansfield com LaVey
alarmou um amigo dela de nome Sam Brody, que a advertiu de que
esse relacionamento poderia tornar-se para ela um enorme desastre
em sua imagem pública como atriz.
Brody ameaçou LaVey de expô-lo como charlatão e vigarista.
LaVey, em resposta, amaldiçoou ritualmente Brody e advertiu Jayne
que se mantivesse bem longe dele, para que a maldição lançada
sobre ele não a atingisse também. Jayne achou melhor ignorar a
advertência de LaVey. Em cerca de apenas um ano, a 29 de junho
de 1967, Brody sofreu uma violenta batida de frente com seu carro,
na qual Jayne estava também, ao lado dele. Nesse terrível acidente,
ambos foram instantaneamente decapitados!11
Problemática é também a glorificação do ódio e do terrorismo
no livro de LaVey:
Odeie seus inimigos de todo o coração, e se alguém lhe
bater no rosto, quebre a cara dele! Bata nele sem dó nem
piedade, pois a lei maior é a da autopreservação. Quem
oferece a outra face é um cão covarde. Revide golpe por
golpe, desprezo por desprezo, destruição por destruição — com
uma desforra bem aumentada, formada pelos seus interesses.
“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
Olho por olho, dente por dente, sempre quadruplicado, e até
multiplicado por cem! Torne-se um terror para o seu adver-
sário, que, quando cair fora, terá muito no que refletir.12
E como poderíamos deixar de lado as “Bem-aventuranças
Satânicas”? Observe a glorificação da violência e do assassinato a
quem não tiver escape:13
• Bem-aventurados são os fortes, pois possuirão a terra —
amaldiçoados são os fracos, pois herdarão o jugo.
• Bem-aventurados são os poderosos, pois serão reveren- 67
“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
Esse programa de televisão, com Zeena tendo a seu lado
Schreck, que com tudo concordava, balançando a cabeça, trouxe
à luz, de modo espantoso, o tenebroso niilismo e desespero que
estão por trás desse satanismo metido a burlesco, de LaVey. O
resultado foram tremendas vaias do auditório, que geralmente é
bastante liberal.
LaVey e sua Igreja não devem ser, porém, subestimados. Ele é
um homem muito inteligente e, não há dúvida, um dos feiticeiros
mais talentosos da sua geração. Quanto ao fato de se ele crê ou não
no diabo, isso não se sabe ao certo. Mas não é necessário acreditar 69
num deus ou diabo para ser praticante da magia negra. Basta ter
uma firme disposição de abrir a alma às tenebrosas e gélidas atrações
malignas de Lúcifer.
Se LaVey já tem como causar tanto dano a uma geração, sem
nem mesmo professar sua crença em Satanás, imagine quão pior
não seria alguém que realmente adorasse o Velho Demônio...
N ot as
1
Frederickson, Bruce G. How to Respond to Satanism [Como Responder
ao Satanismo]. Concordia, 1988. p. 18.
2
Lyons, Arthur Satan Wants You [Satanás o Quer]. Mysterious Press, 1988.
p. 115.
3
Ibid., p. 123.
4
Para uma visão mais profunda do impacto que os ensinamentos de
Jung causaram sobre a bruxaria e o ocultismo moderno, veja meu livro
Wicca, Satan’s Little White Lie [Wicca, a Mentirinha Branca de Satanás].
ChickPub., 1990. p. 27-36.
5
LaVey, A. S. The Satanic Bible [A Bíblia Satânica]. Avon, 1969. p. 33.
6
Cavendish, Richard. (Ed.) Man, Myth and Magic [Homem, Mito e
Magia]. Marshall Cavendish Corp. 1970. v. 23, p. 3204.
7
LaVey, p. 25.
8
Ibid., p. 149-150.
Lúcifer Destronado
9
Ibid.
10
Cavendish, op. cit., p. 3.205.
11
Lyons, op. cit., p. 108-109.
12
LaVey, op. cit., p. 33.
13
Ibid., p. 34.
14
Raschke, C. A., Painted Black [Pintado de Preto]. Harper Paperbacks,
1992. p.391.
70
6
N as entranhas da besta
O me s s ia s d a no v a er a
Crowley, com a ajuda de sua primeira esposa, Rose Kelly, su-
postamente foi o portador de uma mensagem dada por um ser
“sobre-humano” (um espírito guia) chamado Aiwass (pronuncia-
-se “ai-uás”). Seu livro, Liber Al vel Legis [O Livro da Lei], passou
a ser considerado pelos seguidores de Crowley como o livro que
veio substituir todas as outras escrituras, inclusive a Bíblia Sagrada.
72
Observa-se que Crowley subordina o princípio cristão do
amor Agape (o amor não egoísta) ao princípio gnóstico da Thelema
(vontade). Ele convenceu o cabeça da O.T.O. quanto à validade
dessa nova religião, e Reuss fez do ramo da O.T.O. na Inglaterra,
dirigido por Crowley, a primeira ordem “thelêmica” do mundo.
Desse modo, Crowley recebeu o pretensioso título maçônico de
“Supremo e Mais Sagrado Rei da Grã-Bretanha, Irlanda, Iona e todas
as ilhas que estão no Santuário da Gnose”.
Sharon e eu, e o principal núcleo dos sumos sacerdotes do nosso
grupo, nos considerávamos thelemitas, acreditando na religião de
Crowley como sendo a evolução lógica do cristianismo no século
20. E, como membros da O.T.O., ensinávamos aos nossos alunos
em estágio avançado a forma de magia praticada por Crowley.
Em nossa associação com a O.T.O., fomos a um suposto Mestre
de Vama Marg — um caminho à esquerda, ou seja, de ocultismo
tântrico, sendo a Tantra, a ioga do sexo. Os termos “caminho à
direita e à esquerda” originam-se do ocultismo, procedendo da
Índia a ioga tântrica, a ioga da magia sexual.
O caminho à direita é tido como masculino (ou Yang,
em Chinês) e geralmente considerado como bom por todos
os ocultistas. Assim, a Tantra da direita é predominantemente
masculina, envolvendo formas de castidade. Seu ponto principal
é também a deliberada contenção da consumação do ato sexual
por parte do homem, o que é chamado de maithuna. Acreditam
N a s en t r a n h a s d a be s t a
que isso contribui para adquirir união (ioga) com o deus Shiva e
com a deusa Shakti.
O caminho da esquerda é predominantemente feminino
(Yin), sendo considerado mau por alguns ocultistas, exceto
pelos bruxos e satanistas, que consideram tais distinções como
cristãs e sexistas. A Tranta da esquerda permite a consumação
total do ato sexual pelo homem fazendo uso de outros métodos
extremamente perversos para, supostamente, alcançar os mesmos
objetivos da ioga.
Acredita-se que, por meio de certos exercícios e treinamento 73
de ordem sexual, pode se alcançar a imortalidade humana, e que
alguns canais do corpo humano podem ser desenvolvidos como
portas de entrada para outras dimensões do tempo e do espaço.
A ioga tântrica é considerada blasfema e maligna pela maioria
dos praticantes da ioga, mas desde o surgimento de Crowley está
sendo ensinada no Ocidente.
O “Mestre” com quem iríamos nos relacionar era ao que su-
púnhamos, verdadeiro pioneiro no desenvolvimento da tecnologia
mágica que tinha a ver com a Tantra da esquerda. Vamos chamá-lo
de Aquarius. Ele era, por certo, o homem mais esquisito que eu já
conheci e, possivelmente, o mais perigoso. Aquarius foi grandemen-
te recomendado pelo Chefe Exterior da O.T.O. (algo assim como
o seu papa), de modo que fomos assistir a um de seus seminários
em Chicago. Não era como o havíamos imaginado. Era um sujeito
bem forte, meio calvo, de estatura mediana, com uma barba preta
e branca bem cerrada e olhos bastante expressivos.
Sua palestra foi sobre a Arquitetura da Magia e sobre a teoria
da Arqueometria Transespacial. Ele era, usando uma expressão
popular, “da pesada”. Aprendi com ele, naquelas duas horas, mais
do que tinha aprendido em cinco anos de um intensivo estudo do
ocultismo, acho eu. Simpatizou comigo, mas Sharon não gostou
nada dele! Durante os intervalos das várias palestras, ele me procu-
rou. Disse que queria me matricular no Mosteiro dos Sete Raios,
Lúcifer Destronado
N a s en t r a n h a s d a be s t a
Aquarius veio buscar-me na estação ferroviária, e tomamos
um ônibus para chegarmos até sua residência. Ele não tinha carro
e recusava-se a dirigir em Chicago, o que me fez pensar que era
bem mais inteligente do que eu havia suposto.
Seu apartamento era ímpar; ficava no trigésimo andar de um
prédio bem alto e moderno e era totalmente extravagante. Sua de-
coração era a mistura de uma mansão de Playboy, H. P. Lovecraft,
Igreja Ortodoxa Russa e hinduísmo.
Dominando a sala de estar havia uma enorme mesa coberta
com um brocado de cetim. Explicou-me que ali era o altar de sua
75
celebração da Liturgia Divina, tendo ainda um pano de altar litúr-
gico grego, um brocado com relíquias de um santo tecidas sobre ele.
Debaixo achava-se o que me disse ser uma “relíquia santa” ainda
mais importante, alguns metros de um tecido de algodão que tinha
sido da casa de Madame Blavatsky, a matriarca do movimento da
Nova Era, fundadora da Sociedade Teosófica.
As paredes estavam literalmente cheias de uma arte muito
estranha, como eu nunca tinha visto. Aquarius sorriu chamando-a
de “pornografia pré-cambriana”. Eu não tinha razão alguma para
duvidar do que ele dizia. Era de um aspecto rude, primitivo, como se
fora uma pintura a dedo feita por um predador sexual demente.
Havia ainda figuras mais convencionais, como de deuses, demônios,
extraterrestres e shaktis2 com quem ele trabalhava. Outras eram de
furiosos dervixes [religiosos muçulmanos] rodopiando com um ar
totalmente misterioso.
Aquarius me disse acreditar firmemente nos princípios da
engenharia mágica, ensinados pela Igreja Ortodoxa Russa. Eram
como ícones, explicou. Cada um representava um deus ou demônio
ou poder e tudo o que se tinha de fazer para invocar a força ou o
demônio era meditar em frente à pintura. Esclareceu que era como
uma máquina de magia, como se fosse um aparelho para poupar
nosso esforço, e que, sendo ele do signo de Capricórnio, adorava
tudo o que lhe poupasse as energias.
A janela da sua enorme sala de estar estava cheia de plantas,
Lúcifer Destronado
sendo que nenhuma delas parecia ser..., bem, nenhuma delas pa-
recia normal! Mais da metade das espécies eram-me totalmente
desconhecidas, e algumas delas estavam como que querendo saltar
do vaso para atacar as pessoas! Outras tinham uma aparência um
tanto obscena, que não dá para descrever.
Aquarius preparou o jantar e então trouxe uma garrafa do uís-
que Wild Turkey. Agradeci, mas disse-lhe que não bebia. Ele sorriu
com um ar de velhaco e me disse que, se eu quisesse chegar a ser
um patriarca gnóstico e arcebispo, teria que me acostumar com a
bebida.
76 Eu não estava mentindo. Nunca bebi muito em minha vida.
Qualquer vinho ou licor tinha o mesmo sabor para mim: horrível.
Sentia uma forte aversão sempre que tinha de tomar o vinho da
eucaristia durante a missa, mas, como cria que era o sangue de Jesus,
conseguia suportá-lo. No entanto, meu gentil anfitrião insistiu em
que eu colaborasse com ele para acabar totalmente com o conteúdo
de sua garrafa de Wild Turkey. Tinha gosto de fluido de isqueiro,
e eu quase vomitei. Resolvi, então, ir bebericando pequenos goles
do uísque, aos poucos, durante algumas horas, enquanto o ouvia
com atenção falar de sua magia bizarra e incomum.
Para Aquarius, a chave do poder de um cientista mágico estava
na compreensão de todos os ramos da ciência e da filosofia. Sentia-se
satisfeito com os cursos que eu fizera, mas insistiu em que eu tinha
de levar para casa comigo uma cópia da série filosófica de Coppleton
e dos Principia Mathematica de Bertrand Russell. Disse-me que eu
teria de me submeter a um teste completo sobre esse material antes
da minha consagração como bispo.
Ele conseguiu acabar com dois terços do conteúdo da garrafa
de uísque, e mesmo assim permaneceu lúcido. Percebendo meu
espanto, explicou que o segredo era ter tantas entidades (espíritos
do vodu) dentro da gente que, ao beber, elas é que ficavam bêba-
das, não nós. A maioria das entidades do vodu — assegurou-me
ele — adora a bebida alcoólica, principalmente uísque e rum.
Explicou-me ainda que era necessário aplacar a ira das entidades,
de diversas maneiras, se pretendesse ter acesso ao universo B. Eram
N a s en t r a n h a s d a be s t a
as guardiãs da entrada a esse universo.
De acordo com Aquarius, o universo B é um universo alterna-
tivo em que se aplicam leis totalmente diferentes da física quântica
e da matemática. Seria um universo governado por magos mestres
da Atlântida, que haviam fugido da terra para escapar da destruição
do “continente perdido”, há milhares de anos.3
A partir do universo B, o praticante da magia que saiba o
que está fazendo pode ter acesso a outros universos alternativos. É
possível ainda trazer energias e até mesmo criaturas do universo B
para o nosso universo, para que (espera-se) nos sirvam. No entan- 77
to, sabe-se que uma parte dessas criaturas é muito perversa, e que
somente fazem alguma coisa quando se lhe dão copiosas doses de
uísque ou rum, sexo e sangue. O objetivo final seria descobrirmos
nosso “próprio” universo, em alguma parte desse intercâmbio
cósmico, para nele reinar como se fôssemos um deus. Tais conceitos
estavam entre os elementos mais elevados do seu sistema de magia.
Então ele me perguntou quando eu estaria disposto a receber
o sacerdócio luciferiano. Eu quase vomitei o que estava bebendo...
e pedi-lhe que me desculpasse, pois não havia entendido.
Ele me explicou, então, que eu teria de me tornar sacerdote
de Lúcifer antes de poder tornar-me bispo católico. Referindo-se
à estrutura, normalmente aceita no ocultismo, que representa a
cabalística árvore da vida, Aquarius mostrou-me que o quinto grau
de sacerdócio era consagrado ao Sol e ao deus que havia sido morto
e que ressuscitou, Osíris ou Jesus. Pertencia ao mundo cabalístico,
ou esfera, de Tiferet. Isso era uma cerimônia elementar de magia
com a qual eu estava bem familiarizado. Pedi-lhe que prosseguisse.
A Árvore da Vida:
Caminhos Astrais e Tarô
Lúcifer Destronado
Coroa
ágico
de Kether 0-O
1- O M Tolo
“Conhecimen- “Sabedoria”
3- A Imperatriz
to” de 2- A Suma Sacerdotisa de Hokmah
Binah
11 - Força
7 - Carruagem 5- Hierofante
la
6-
tre
Os
Es
Am
-A
an
17
“Força” de “Misericórdia”
tes
Geburah 8 - Fo
remi
ta de Hesed
78 rtuna 9-E
“Beleza” de
12 - Enforcado Tipharet 10 — Sorte
15 - Diabo 13- M
orte
14 - Arte
a
Lu
-A
E
-A
ter
18
21- universo
n
ida
de
“Reino” de
Malkuth
Explicou, então, que o grau sexto (Adeptus Major) pertencia
ao mundo de Geburah, governado por Marte. Seu sacerdócio era o
sacerdócio de Lúcifer, seu metal era o ferro, sua pedra preciosa o rubi.
Isto encaixava-se muito bem no que eu já sabia. Se Tiferet per-
tencia ao sacerdócio católico, era uma combinação perfeita! O metal
de Tiferet era o ouro, e o seu perfume era o do incenso olíbano.
Tanto o ouro como o olíbano participam de modo predominante
na missa e no simbolismo cristão.
N a s en t r a n h a s d a be s t a
Quando eu recebesse o grau luciferiano, declarou Aquarius,
estaria em condições de ir para o sétimo. Este seria o grau Adeptus
Exemptus, ou seja, o episcopado, ou bispado católico romano!
Essa esfera na Árvore da Vida, Hesed, é governada por Júpiter, na
Cabala. Sua ferramenta de magia é o báculo (o bastão episcopal),
e sua pedra, a ametista.
Eu sabia que, por séculos, a pedra do anel usado pelos bispos
de Roma sempre foi a ametista! Acho que essa tradição vem dos
antigos pontífices pagãos romanos, que usavam um anel de ame-
79
tista na mão direita, como talismã, para lhes dar juízo e sobriedade
(evitando, assim, que se embriagassem).
Sem poder esconder a excitação em que me encontrava,
perguntei-lhe o que implicaria tornar-me um sacerdote luciferiano.
Aquarius sorriu benignamente, com um ar presunçoso de quem
tudo sabe, e disse:
— Você precisa vir para a Luz!
De algum modo eu sabia que algo não estava certo naquela
afirmação.
— Como vou fazer isso? — perguntei, com a voz um tanto
rouca pelo efeito do uísque.
Ele exibiu um sedutor sorriso amarelo e tentou cativar-me,
explicando que eu teria de passar por um arcaico ritual dos Templá-
rios.4 Tive que passar por esse ritual naquela mesma noite. É melhor
não descrever como foi; apenas vou dizer que está relacionado com
a cúpula clerical e envolvendo vampirismo sexual.
“H os p e d a r ia inf e r n o ” ?
Concluídos, finalmente, os ritos e blasfêmias naquela noi-
te, houve, ao encerramento, um certo toque de ironia. Antes de
Aquarius recolher-se, pegou cópias do Santo Ofício do Breviário
e me conduziu na recitação da sua última parte, o Completório,5
dirigindo-se depois para o quarto de rituais, que era ao mesmo
tempo o seu dormitório.
Lúcifer Destronado
N a s en t r a n h a s d a be s t a
os Salmos que nele estão, valendo-me da luz da lua, procurando manter
minha mente afastada daquelas figuras arrepiantes e rastejantes, como
também das plantas, que pareciam sussurrar de um modo bastante
estranho, na escuridão. As sombras daquela vegetação não terrestre,
projetadas pelo luar, moviam-se sobre as páginas do meu Breviário
de um modo lascivo que jamais seria efeito de uma brisa, pois era
inverno, e as janelas estavam completamente fechadas!
Nenhum alvorecer foi mais bem-vindo do que aquele. Aqua-
rius levantou-se cerca de uma hora após raiar o dia e parecia mais
estranho ainda à luz solar do que quando o vi à noite. Sua pele era 81
pálida, como o ventre de um peixe. Formava um total contraste
com seu cabelo preto e sua barba grisalha.
Sorriu e me perguntou se eu tinha dormido bem.
— Muito bem! — respondi-lhe.
— Ótimo, isso é muito bom! Vou preparar para nós um café
e em seguida vamos cantar laudes [recitativos do Breviário], tomar
uns coquetéis e depois trabalhar no nosso vodu.
O “café da manhã”, para ele, era na verdade um mingau que
parecia ser feito de aveia, mas que tinha um gosto estranho, como
se tivesse pelo menos dois ou três vegetais entorpecentes.
O restante do fim de semana transcorreu daquele mesmo
modo agitado e estranho. Aquarius transbordava de gentileza e
hospitalidade tipicamente europeias, para não falar de sua religio-
sidade convencional. Tinha sempre consigo um rosário e insistia
em rezarmos todo o Ofício Divino; contudo, narrava-me histórias
de magia e perversão sexuais com divertido prazer.
Para Aquarius, o vodu não era um sincretismo religioso da
feitiçaria africana com o catolicismo, como a maioria das pessoas
“pensa”, mas sim, uma forma sofisticada de magia que fazia uso da
Matemática e da Física e que ele acreditava ter sua origem no con-
tinente perdido da Atlântida. Sugeriu que eu entrasse no primeiro
nível de sua escola de vodu, chamada Culto à Serpente Negra.
Tudo o que eu teria que fazer para receber as lições era enviar-lhe
Lúcifer Destronado
N a s en t r a n h a s d a be s t a
versidade onde eu havia estudado, que professava santidade mas
buscava meios de seduzir estudantes e distorcia os ensinos morais do
cristianismo para adequá-los às necessidades do momento? Aquarius
era exatamente o oposto dele. Embora secretamente piedoso, era
publicamente um advogado de Lúcifer!
Para mim, Lúcifer era a chave para todo o problema. Cresci
acreditando que ele era mau, mas, praticamente, todo o sistema
de crenças que eu passei a conhecer desde meus tempos do ensino
médio dizia que, de um modo ou de outro, ele era tão importante,
85
ou mais até, para a minha salvação, do que Jesus!
Eu tinha que descobrir qual era a minha real posição com
respeito a Jesus e a Lúcifer. Havia em mim um senso bem forte
de que eu queria estar com Jesus. Será que Jesus aprovava Lúcifer,
ou não? Será que Lúcifer era seu pai, ou um irmão mais velho
(como me ensinaram diversas vezes)? Ou será que ele é seu
eterno inimigo?
Se eu tivesse tido condições de acreditar na Bíblia, estaria
muito bem. Mas, àquela altura, eu achava que a Bíblia era menos
confiável do que O Livro da Lei, de Crowley!
Eu não sabia que o Senhor Deus tinha todo o poder do
universo, e que Satanás já tinha sido vencido. Eu não sabia que
poderia ser totalmente liberto pelo sangue de Cristo. Assim,
tomei duas atitudes.
Em primeiro lugar, lancei-me totalmente no meu sacerdócio.
Isso me deu a ilusão de santidade. Comecei a celebrar a missa
diariamente, sendo bastante zeloso com meu encargo divino. Co-
mecei a sentir-me melhor com toda essa “santidade”. Muita coisa
começou a acontecer em minha vida na Igreja Católica Antiga, o que
me foi bastante positivo. Fui designado chanceler da arquidiocese e
consegui, também, uma capela num bairro elegante de Milwaukee.
Era num convento de frades franciscanos, chamado Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro, dirigido pelo padre Daniel, O. F. M. (Daniel
Lúcifer Destronado
não é o seu verdadeiro nome).6 Ele tinha dois irmãos leigos e dirigia
um lar para homens retardados. Começamos a ter a missa domi-
nical lá; às terças-feiras à noite, tínhamos novena; e nas noites de
sextas-feiras, a Bênção do Sagrado Sacramento.
Tínhamos atraído um grupo relativamente grande de fiéis das
vizinhanças, chegando a 25 ou 30 pessoas, em sua maioria católicos
confusos ou desiludidos, que gostavam do estilo antigo (anterior ao
Concílio Vaticano II). Poder ministrar a tais pessoas era uma fonte
de grande satisfação para mim. Eu estava fazendo o que sempre
tinha sonhado fazer desde minha infância!
86
Achando estar tendo grande desenvolvimento espiritual,
levei minhas preocupações a Deus, pedindo-lhe que me
desse um sinal quanto ao modo como deveria proceder com
respeito a Jesus e a Lúcifer. Ainda mantínhamos nossos “co-
vens” de feiticeiros e dávamos aulas em nossos cursos de magia
thelêmica; mas eu realmente queria saber qual era a vontade do
Senhor para mim. Então me pus de joelhos e orei para receber
a resposta certa.
Não sei o que eu esperava receber: se um raio de luz do céu,
ou se uma voz em meus ouvidos, ou a visita de um mensageiro
angelical. Nada disso aconteceu. O que de fato recebi foi pelo
correio, no dia seguinte. Meu nome estava em muitas listas de
correspondência, por causa da minha participação em numerosos
grupos do ocultismo. Naquele dia, o carteiro me trouxe uma revista
num envelope marrom. Esse envelope iria levar-me a direções ainda
mais profundas das trevas.
N ot as
1
Supõe-se que os Ritos de Mênfis-Mitzraim, da Maçonaria, tenham sido
restaurados pelo conde de Saint Germain no século 18, na Europa (tendo
Saint Germain, supostamente, se mantido vivo desde o antigo Egito). Essa
corrente de magia egípcia emigrou para as colônias francesas no Novo
Mundo, onde sincretizou-se com crenças africanas e o catolicismo francês,
produzindo o vodu. O vodu é uma das formas de feitiçaria mais perigo-
N a s en t r a n h a s d a be s t a
sas e perversas, envolvendo endemoninhamento da pessoa, alcoolismo,
necromancia e bestialidade. Por trás da fachada de algo aparentemente
primitivo, esconde-se, na verdade, um terrível e sofisticado sistema de
magia que implica o ingresso em outros universos e faz com que a pessoa
se renda à possessão satânica da pior espécie.
Embora originalmente praticado apenas por negros e hispânicos, hoje
em dia muita gente está se envolvendo com ele. Fique longe de qualquer
coisa que tenha a ver com vodu! É a forma mais poderosa de magia negra
e, provavelmente, a mais ousada. Somente Jesus pode libertá-lo dela, se
você recebê-lo em seu coração e fizer dele seu Senhor. 87
2
Shakti é um termo hindu para uma das deusas consortes do deus Shiva.
Usa-se também para descrever suas sacerdotisas, que atuam como prosti-
tutas no templo. Este termo significa ainda um ser totalmente demonía-
co, do tipo súcubo, essencialmente uma personificação do órgão sexual
feminino e invocado para se fazer sexo astral/demoníaco.
3
A crença em Atlântida é uma doutrina comum do ocultismo. Supõe-se
ter sido um continente que existiu em alguma parte do que é hoje o
Oceano Atlântico, com elevado grau de civilização e tecnologia, tanto
do modo convencional quanto relativamente a magia. Julga-se ter sido
destruída por um cataclismo (um dilúvio ou terremoto) milhares de anos
antes de Cristo, por motivos misteriosos — possivelmente por causa da
sua maldade e ou seu envolvimento com coisas ocultas tão perigosas que
nem se poderia imaginar. É mais um exemplo de um mito pagão que
reflete a verdade do dilúvio de Noé. Muitos dos mestres da Nova Era e dos
espíritos guias de hoje dizem ter vindo da Atlântida, e grande parte dos
ocultistas acredita ter tido pelo menos uma ou duas encarnações naquele
continente — evidentemente!
4
Para abordar de modo adequado o tema dos Cavaleiros Templários e a
Maçonaria, seria necessário um livro inteiro. Veja meu livro Maçonaria,
do Outro Lado da Luz [Editora Luz e Vida], especialmente o capítulo 15.
Embora haja muita controvérsia sobre sua história, os Templários foram
adotados, de um modo correto ou não, como símbolo tanto da Maçona-
Lúcifer Destronado
ria como do culto a Lúcifer — sendo grande parte desse culto orientado
para o homossexualismo e a blasfêmia. Isso porque os Templários foram
acusados pelo rei da França, Filipe o Belo, e pelo papa (talvez injustamen-
te) de pisarem crucifixos, de sodomia, de pederastia e de adorarem um
ídolo chamado Baphomet. Desde 1700, os Templários têm servido de
pretexto para os satanistas, os feiticeiros e (num grau menor) os maçons
desenvolverem o seu simbolismo ritual. Todo tipo de rituais de blasfêmia
tem sido atribuído a eles, e sua reputação de “ocultistas” vem sendo, de
todo modo, ampliada pelos séculos. Muitas sociedades, tanto do culto
luciferiano como da Maçonaria, declaram descender dos Templários e
88 seguir os “rituais secretos” deles. Tais declarações são altamente suspeitas.
5
“Completório” ou “Completas” é uma das oito partes devocionais do
Breviário Romano, geralmente cantado ou recitado às 9 horas da noite.
O clero católico e anglicano normalmente eram solicitados a recitar todas
as partes devocionais do Breviário: Matinal, Louvores, Primeiro, Terço,
Sexto, Nono, Vesperal e Completas.
6
O.F.M., que significa Ordem dos Frades Menores, ou Ordem dos Peque-
nos Irmãos, é a ordem franciscana original.
7
O que a noite tem
para revelar
O te mp l o d e se t
O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
Desde seu início, em 1975, o Templo de Set tem refletido os desejos
do seu fundador. Tem sido mais elitista e com menor mentalidade
de publicidade do que a Igreja de Satanás. Assim, sua membresia
não tem passado de algumas centenas de pessoas, tendo talvez alcan-
çado o máximo de mil membros,1 ao passo que a Igreja de LaVey
tinha milhares de membros, muitos dos quais pessoas simples que
enviaram dinheiro para se filiarem à organização e receberam seu
cartão de membro.
Aquino preferiu deixar de lado o nome de “Satanás”, que mexe
com as pessoas. Para ele, essa palavra tinha adquirido uma conotação
demasiadamente negativa. Por isso, sua divindade é chamada “Set”.
Os membros do Templo de Set chamam-se a si mesmos “setianos”,
e não “satanistas”. Aquino considera Set como sendo uma forma 91
mais antiga e mais pura do arquétipo ou imagem de Satanás.
Set era um deus egípcio (cerca de 3400 a.C.), considerado
um deus do mal por faraós posteriores, que chegaram a alterar
seus templos e monumentos visando a erradicar sua memória e
seu culto.2 Estava ligado aos cultos sumerianos e à estrela Sirius.
Seu símbolo é o pentagrama invertido, que os setianos usam com
muito orgulho.3
Pode-se falar muita coisa sobre uma Igreja simplesmente ana-
lisando o seu deus, e Set não é exceção. É o equivalente egípcio de
Caim, que os ocultistas acreditam não ter sido filho de Adão com
Eva, mas com uma hipotética mulher, anterior a Eva, chamada
Lílite.4
Segundo alguns comentários rabínicos (não conforme o Antigo
Testamento), Adão teve uma mulher que havia sido feita, como
ele, do barro. Era Lílite. Ela, no entanto, não era a mulher mansa,
submissa e humilde ajudadora de que Adão necessitava. Ela não se
submetia, diz essa história, à autoridade dele, fosse no ato conjugal
ou em qualquer outra coisa. Assim, Adão foi à presença de Deus e
queixou-se, na verdade pedindo-lhe o divórcio.
As lendas rabínicas dizem que Deus ficou do lado de Adão e
expulsou Lílite do Jardim do Éden, ocorrendo assim o primeiro
divórcio. Deus fez então Eva a partir da costela de Adão, para que
desse modo ela fosse mais dócil para com ele. Todavia, como ocorre
Lúcifer Destronado
O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
de Aquino é bastante sintomática, pois o culto a Set, como agora
restaurado, gira em torno do livro Liber Al vel Legis [O Livro da
Lei], anteriormente mencionado. Este livro foi “revelado” em 1904
a Aleister Crowley, e supostamente “psicografado” pela primeira
esposa de Crowley, Rose Kelly, de um ser supostamente super-
-humano, extraterrestre, de nome Aiwass, que seria o próprio Set
ou um seu precursor.
“T o M e g a Th e r io n ”
Para que uma parte do que se segue possa fazer sentido, temos que
fazer nova pausa no nosso assunto, para explicar melhor o que dis-
93
semos até agora acerca da posição de Aleister Crowley em tudo isso.
Edward Alexander Crowley nasceu na Inglaterra em 1875.
Seu pai era um próspero fabricante de cerveja que, um dia, teve
um encontro com Cristo e tornou-se uma nova criatura, passando
a fazer parte da membresia de uma denominação austera, a dos
Irmãos de Plymouth. Em decorrência de sua conversão, vendeu
o seu pecaminoso negócio de cervejas, aplicando os proventos no
sustento do seu ministério. A mãe de Edward era também uma
mulher muito piedosa e austera, mas o tanto que ela tinha em fé,
infelizmente, compensou com sua total inabilidade como mãe.
Papai Crowley viajava pelo interior do país como medíocre
pregador de rua, enquanto a mãe ficava com a responsabilidade
de criar o pequeno Edward, que cresceu e acabou tornando-se um
pesadelo chamado “o filho do pregador”.
Ele era, sem dúvida, um menino brilhante e muito precoce,
mas, como acontece com muitas crianças, cheio de demônios
(Pv 22.15). Certa vez, quando tinha seis anos, sua mãe lhe disse,
num ímpeto de raiva, que ele era tão maligno que só podia ser a
“Grande Besta” do livro de Apocalipse. Infelizmente, o pequeno
Crowley tomou aquilo como um reconhecimento de mérito.
Rebelou-se violentamente contra toda forma de religião e poste-
riormente, quando adulto, batizou um sapo com o nome de “Jesus
Cristo” e crucificou o infeliz batráquio de cabeça para baixo.
Lúcifer Destronado
O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
U m nov o É o n ?
Crowley achava que o evento mais importante da sua vida tinha
sido o contato, já mencionado, que ele tivera com Aiwass, um ser
dotado de “inteligência super-humana”. Isso ocorreu em 1904,
quando ele visitava o Museu do Cairo com a primeira das muitas
mulheres que teve, Rose, durante a lua-de-mel. Ela foi tomada por
uma força sobrenatural, levando Crowley a seguir um corredor até
determinado objeto em exposição. Era uma estela egípcia, uma laje,
mais ou menos quadrada, entalhada tal como uma das tábuas dos
Dez Mandamentos, que exibia uma arte egípcia com hieróglifos. 95
Essa estela pertencera a um sacerdote egípcio chamado
Ankh-af-na-Khonsu, e o número da peça, na exposição, era 666.
Para alguém tão versado em magia, como era Aleister, isso só poderia
ser um presságio de imensas proporções, uma vez que ele tinha feito
desse número o tema cabalístico de sua carreira. Dias depois, no
início de abril, sua esposa “incorporou”9 aquela entidade, Aiwass.
Por três dias, esse espírito ditou, por meio dela, todo o texto do
Livro da Lei [Liber Al vel Legis].
Crowley chegou a acreditar que era a reencarnação de
Ankh-af-na-Khonsu, e que aquele livro não muito extenso que
ele havia recebido era a “Bíblia” para um novo éon da história da
humanidade. Julgava que o reino de Jesus (a Era de Osíris, o deus
morto e ressuscitado) tinha terminado e que um novo deus, o “Filho
Coroado e Vencedor”, havia assumido o trono do céu. Esse novo
deus manifestava-se de duas formas: Heru-Par-Kraat, uma entidade
benigna que curava enfermidades, e Ra-Hoor-Khuit, um deus da
guerra e da morte, com cabeça de falcão. Eram as duas divindades
gêmeas egípcias, Hórus e Set.
Essa experiência foi o que basicamente deu as linhas para o
resto da vida de Crowley. Ele quis então fundar uma religião, à
qual chamou de Thelema (segundo a palavra grega que significa
“vontade”) ou crowleyanismo, e escreveu um grande número de
livros de poesia, de rituais e de ensino de magia. A regra básica da
Lúcifer Destronado
sua religião, que consta no seu livro Liber Al, é: “Fazer o que queres
deve ser toda a lei; o amor é a lei, o amor submisso à vontade.”
Achava que a era de Jesus fora governada pelo amor (agape,
em Grego), mas que na Nova Era de Hórus e Set esse amor seria
subordinado à vontade de ferro (thelema) do mestre da magia.
Diz-se que Crowley manifestou certa simpatia pelo surgimento
e ascensão de Hitler, e alguns dos seus discípulos chegaram a de-
clarar que Hitler era o resultado dos esforços que Crowley fizera,
por meio da magia, para que aparecesse o “senhor da guerra dos
anos 40” (uma frase profética contida no Liber Al).10 Se Hitler
96 conhecia ou não Crowley, não existe evidência histórica alguma a
respeito, embora ambos tivessem em comum o ódio pelos judeus
e fascinação pela magia negra.
Crowley teve muitos casos com mulheres e com alguns ho-
mens também (era um bissexual assumido), e arruinou a vida de
quase todos eles. Sua primeira esposa, Rose, acabou internada
como alcoólatra.
Além de racista e antissemita, Crowley era também discrimi-
natório contra as mulheres. Ensinava que as melhores mulheres
eram as prostitutas, e que a maior experiência religiosa que uma
mulher poderia ambicionar era ter sexo com “a Besta”. Assim,
costumava zombar do movimento Wicca, de seu amigo e colega
Gerald Gardner, quando no início11 recusava-se a tornar-se um
bruxo, dizendo que não queria submeter-se às ordens de um bando
de mulheres.
Crowley quis estabelecer uma abadia dedicada à sua religião
na ilha da Sicília, na Itália, mas foi expulso daquele país pelo regime
de Mussolini por causa do incrível grau de imoralidade, suspeita
de morte e rumores de prática de sacrifício humano. Passou seus
últimos anos na condição de viciado em heroína, morando ao lado
de um cemitério, na Inglaterra. Quando morreu, em 1947, até
mesmo seu enterro escandalizou a imprensa britânica. Seu mais
famoso poema, “Hino ao Deus Pã”, foi lido ao ser enterrado, e os
O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
jornais disseram ter sido uma missa negra.
Ironicamente, Crowley, assim como Aquino uma geração
depois, não se considerava satanista. Para ele, os satanistas eram
heréticos. Ele era thelemita e luciferiano, adorador da “imaculada”
luz de Lúcifer. Contudo, alegrava-se quando os jornais o chamavam
de “o homem mais maligno do mundo” e “a Grande Besta”.
U ma vi s ã o sa t â nic a
Michael Aquino parecia aspirar ser tal como Aleister Crowley. En-
quanto LaVey fez uso de alguns conceitos e ensinos de Crowley à
medida que se adequavam aos seus interesses, Aquino levou bem a
sério Crowley e sua “pregação”. Com efeito, ele via sua missão como: 97
O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
terrível pela qual ele construiu os campos do holocausto. Hitler
acreditava estar trabalhando para alcançar o sacrifício humano
de 7.777.777 — o povo escolhido por Deus (sete setes — uma
combinação numérica consagrada à “Mulher de Escarlata”, consorte
da Nova Era). Se ele tivesse conseguido alcançar aquele número
— assim nos disseram —, o judaísmo e o cristianismo teriam sido
destruídos para sempre, e os deuses pagãos estariam reinando so-
beranamente.
As “energias” captadas com aquelas mortes seriam canalizadas,
através de Wewelsburg, como uma espécie de raio laser mágico,
para abrir “a porta” e desencadear a Götterdammerung , mediante
a convergência especial de linhas de poder, que supostamente se 99
dirigiam para o lugar daquele castelo.
Assim, o castelo de Wewelsburg era o coração espiritual da
Alemanha nazista! Ali, Himmler e seu quadro de elite da SS reali-
zaram rituais na “Sala da Morte” para invocar a Götterdammerung
— a destruição de Deus e a reentronização dos sangrentos deuses
nórdicos da morte. Felizmente, Deus tinha outros planos, e esse
castelo foi bombardeado, até a sua ruína quase total, pelos aliados,
durante a Segunda Guerra Mundial.
Em outubro de 1984, Aquino viajou para Wewelsburg a fim
de invocar “energias”, tendo supostamente experimentado outra
“epifania” de Satanás nas ruínas do coração espiritual do nazismo!
Na torre norte do castelo, “Walhalla”, ele fez um “trabalho” de
magia e teve uma profunda revelação mística.16
Foi ali que ele concebeu a ideia da autoconsciência humana
e sua separação das demais criaturas. Aquino agora ensina que Set
representa essa alienação fundamental que separa o homem do res-
tante do Universo. Eis uma definição de pecado bastante adequada,
embora secular! Aquino optou por fazer da personificação do pecado
o seu deus! Não é de admirar que ele ache que invocar “energias” no
baluarte metafísico da ordem nazista seja um ato profundamente
religioso. Não há como não questionarmos a moral — para não
dizer a sanidade mental — de alguém que escolhe um lugar como
esse para absorver quanto possa de suas fontes espirituais!
Lúcifer Destronado
D e i x a r se t fa l a r p o r si me sm o ?
Para se ter uma compreensão ainda melhor do terreno sobre o
qual Aquino firmou seus pés, talvez seja interessante examinar-
mos com um pouco mais de atenção o livro de seu herói, Aleister
Crowley. Se Aquino acredita ser o sucessor de Crowley, então
um pouco da cosmovisão que ele tem deve evidenciar-se com a
leitura do livro que, supõe-se, foi comunicado por Set por meio
de seu porta-voz, Aiwass!
100 A esta altura, o leitor poderá não se surpreender com o fato de
que o livro transmitido por Set, Liber Al vel Legis, é mais maligno
que a Bíblia Satânica de LaVey. Mas há uma significativa diferença
entre os dois. O livro de LaVey não reivindica nada mais do que
ser um simples livro (embora muitos satanistas o considerem como
quase sendo uma “escritura não sagrada”). Liber Al, no entanto, pro-
clama conter oráculos de um deus, comunicados por um espírito,
que suplantam a Bíblia cristã. Assim, presumivelmente, a maioria
dos adeptos de Set — e Aquino, com certeza — o considera uma
revelação “divina”.
Bem, mas o que, afinal, o Liber Al ensina em sua “teologia”?
Veja alguns exemplos, selecionados:
No Capítulo 1:
Esses são tolos que os homens adoram; tanto seus Deuses como
seus homens são tolos (1.11).
Agora vós sabereis que o sacerdote escolhido e apóstolo do espaço
infinito é o príncipe-sacerdote, a Besta; e na sua mulher, cujo nome
é Mulher de Escarlata, está todo o poder concedido (1.14).
O vocábulo Pecado significa Restrição (1.41).
No Capítulo 2:
O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
Observe que os rituais dos velhos tempos são negros.
Que os maus caiam fora; que os bons sejam purgados pelo
profeta (2.6).
Eu sou a Serpente que deu Conhecimento e Prazer e esplendo-
rosa glória, e que excito os corações humanos com a embria-
guez. Para me adorar, tomai vinho e estranhas drogas, a respeito
das quais falarei a meu profeta, e ficai embriagados (2.22).
Estou só: não há Deus onde estou (2.23).
Há um perigo maior em mim; pois quem não compreende estes
mistérios sofrerá uma grande perda. Cairá na cova chamada 101
“Porque” e nela perecerá junto com os cães da Razão (2.27).
Sou ímpar e vencedor. Não sou um dos escravos que perecem.
Que eles sejam condenados e morram! (2.49).
No Capítulo 3:
Agora compreenda-se, antes de mais nada, que eu sou um
deus de Guerra e Vingança. Vou tratar todos com severidade.
Escolhei uma ilha! Fortificai-a! Adubai a ilha, por toda parte,
com maquinário de guerra. Com ele, derrotareis as pessoas
e ninguém vos resistirá (3.3-8).
Pisoteai os infiés: ficai sobre eles, ó guerreiros, e vos darei
a carne deles para comer! Sacrificai o gado, miúdo e graúdo;
depois, uma criança (3.11,12).
Nada de misericórdia; danem-se os que se compadecerem!
Matai e torturai; não tenhais dó; ficai em cima deles! (3.18).
Para perfumar, misturai farinha com mel e bastante sobras de
vinho tinto; depois, óleo de Abramelin e azeite de oliva; em
seguida, tornai tudo macio e suave com rico sangue fresco. O
melhor sangue é o da lua mensal; depois, o sangue fresco de uma
criança, ou o que cai das hostes do céu; depois, o dos inimigos;
depois, o do sacerdote ou dos adoradores; por fim, o de algum
animal, não importa qual (3.23-24).
Lúcifer Destronado
O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
2
Kenneth Grant. The Magical Revival [O Reavivamento da Magia]. Weiser,
1972, p. 71.
3
Kenneth Grant. Aleister Crowley and the Hidden God [Aleister Crowley e
o Deus Oculto]. Weiser, 1973, p. 71.
4
Ibid., p. 155.
5
Arthur Lyons. Satan Wants You [Satanás o Quer]. Mysterious Press, 1988,
p. 119.
6
Office of Criminal Justice Planning Research Update, ibid.
7
Ibid.
8
Kenneth Grant. Outside the Circles of Time [Por Fora dos Ciclos do Tem-
po]. Frederick Muller, 1980, p. 39.
9
Ela funcionou, basicamente, como médium, em transe, com um demônio
103
falando por seu intermédio.
10
Liber Al vel Legis [O Livro da Lei]. Thelema Pub., (1909) 1976, 3:46.
11
Veja o livro Wicca, de Schnoebelen p. 14-42.
12
Lyons, ibid., p. 126.
13
Ibid., p. 126-127.
14
Ibid.
15
Veja Trevor Ravenscroft, The Spear of Destiny [O Avanço do Destino],
Bantam, 1973. Também, Hitler: The Occult Messiah [Hitler, o Messias
Oculto], de Gerald Schuster, St. Martin’s Press, 1981.
16
Michael A. Aquino. The Wewelsburg Working [A Obra de Wewelsburg],
(10/19/84).
17
Citações do Liber Al vel Legis [The Book of the Law] [O Livro da Lei],
Thelema Publications, (1909), 1976, p. 25-36.
18
Lyons, p. 131.
8
L i d a n d o c o m a confraria
L i d a n d o c o m a confraria
A carta que recebi desse tal Orion em resposta foi um pouco
estranha. Veio junto com um boletim, também escrito por ele, que
era um tanto lúgubre. A capa mostrava o Bode de Mendez à frente
de uma orgia de pessoas nuas, em prazer umas com as outras. No
seu interior, havia artigos sobre a perspectiva de Lúcifer sobre as
coisas, cada um mais intrigante que o outro. Havia também uma
denúncia à magia branca. O jornal declarava ser a máxima fonte
do satanismo de primeira linha.
A carta estava escrita com uma grafia de garranchos, do tipo 107
infantil, em tinta preta, num papel escarlate de alta qualidade, com
uma exagerada figura de cabeça de bode satânico impressa no seu
cabeçalho. Expressava uma ironia reles, dizendo que tínhamos que
marcar um encontro, uma vez que Orion morava em Wheaton,
Illinois. Era assinada por Orion — Ipsissimus, Sumo Sacerdote e
Rei da Estrela da Manhã.
Minha reação imediata foi observar que a grafia de Orion não
era sua melhor qualidade, e que deveria investir numa máquina de
escrever ou numa secretária. Na verdade, parecia a escrita de alguém
destro usando a mão esquerda! Por outro lado, porém, a filosofia dele
era intrigante. Talvez fosse por ali que eu devesse seguir.
Ele me pediu uma foto, e então enviei-lhe uma fotografia
em que eu usava as vestes de bispo católico, mas portando
um medalhão satânico que mostrava uma enorme espada, que
recebera de LaVey. Ele, por sua vez, me enviou uma foto sua
que o mostrava vestido com um manto escarlate com capuz que
escondia tudo, exceto seu cavanhaque e sua mão esquerda erguida
com o sinal dos chifres,1 a tradicional saudação dos satanistas por
todo o mundo.
Ficou apenas pendente o nosso encontro. Ele sugeriu vir
encontrar-se com o nosso grupo, que estava envolvido “nas trevas”,
conforme disse. Assim, certo dia ele veio de carro, e chegou com
Lúcifer Destronado
L i d a n d o c o m a confraria
satânico Hell’s Angels [Anjos do Inferno] dilacerando gatos e mu-
lheres e promovendo o mal. Ele me mostrou seus braços, cheios de
tatuagens de demônios, cabeças e caveiras.
Então me disse, num tom de voz bem baixo, da existência de
um centro de controle, um Pentágono ou Comando de Defesa
do poderio satânico, nas proximidades de Los Angeles. Seu chefe
supremo, um sujeito que adotara o codinome de “Adrian”, o tinha
tomado sob seus cuidados. Esse homem era tão rico e poderoso
que ninguém do sul da Califórnia e Hollywood ousaria interpor-se 109
em seu caminho.
Orion me contou que o ator e diretor de cinema Roman Po-
lanski ousara fazer um filme (O Bebê de Rosemary) que continha
uma simples alusão à existência de Adrian, e veja só o que havia
acontecido à sua família (como se sabe, a esposa de Polanski, a
atriz Sharon Tate, e vários amigos seus foram massacrados por uma
quadrilha satânica, de Charles Manson).
Com um olhar tenebroso, Orion me disse que conhecia
Manson pessoalmente e que, por algum tempo, pertencera ao
grupo que havia iniciado Manson na magia, a “Igreja do Processo
do Juízo Final”.
Adrian, ao que parece, vira em Orion o cumprimento de uma
profecia satânica e, com rituais de magia, adotou-o como filho.
Isso foi feito na encosta de uma colina, num ambiente cercado
de relâmpagos, ao mesmo tempo em que três moças virgens eram
crucificadas de cabeça para baixo, para aumentar o poder.
Hierarquia do Satanismo
SATANÁS
Lúcifer Destronado
Os “Sete”
(Principados?)
Nove Homens
Desconhecidos
A Irmandade
Trieste, Itália
Vodu Santeria
Templo de Ordem dos Igreja da
Set Lobisomens Liberação
Satânica Palo Mayumbe
L i d a n d o c o m a confraria
éramos todos forçados a ir para o céu, um lugar terrivelmente
enfadonho!
Informou-me, ainda, que o cristianismo fora criado por Satanás
como uma contrapartida de simbiose com o satanismo.
— Os cristãos são as ovelhas, e nós somos os lobos — disse.
— Para os cristãos, o ato mais sagrado que podem realizar é morrer
pela fé, como mártires. Vão, então, diretamente para o céu. Para
o satanista, o ato mais sagrado que se pode fazer é assassinar um
cristão; de preferência, jovem e virgem!
111
Assegurou-me que isso invalidava toda “conversa mole” escrita
sobre o diabo.
Se o diabo realmente quisesse almas, argumentou, por que
faria com que seus seguidores matassem virgens e bebês, quando
esses são os únicos que certamente vão diretamente para o céu? Se
a intenção do diabo fosse roubar almas de Deus, não seria mais
lógico matar pecadores, velhos, não arrependidos?
Tive de admitir que sim. Era estranho, mas, à medida que eu
ouvia Orion falando, observava sua personalidade se desvanecen-
do, e algo escuro, bruto, complexo e incrivelmente poderoso ia
surgindo nele. Era muito mais do que o simples efeito da cerveja.
Ele começava a falar com uma inteligência sobrenatural.
Orion, sem dúvida, estava possesso, e eu quis, então, en-
tender o ser que estava falando por meio dele! Senti mais poder
emanando dele do que jamais poderia imaginar. O que estava
dentro de Orion sabia que eu queria obter conhecimento e
sabedoria, mais do que qualquer outra coisa, e isso me atraía pelo
valor que representava.
Estava, porém, chocado com a possibilidade de ter um dia que
lidar com sacrifício humano. Isso ia contra tudo o que eu sempre
acreditara em minha vida. Mas muito do que agora eu acreditava
era contrário ao que tinha acreditado antes! Lembrava-me ainda
de que fora derramado sangue na minha iniciação na feitiçaria:
Lúcifer Destronado
L i d a n d o c o m a confraria
tinha todo o dinheiro de que necessitava. Adrian o sustentava
com milhares de dólares, depositados numa conta bancária que
tinha em Wheaton.
— Você tem que parar de bancar o bobo com esse lixo da Wicca
e começar a fazer a vontade do verdadeiro Senhor da Luz! — disse-
-me, então. — Você precisa tocar na Fonte da Sabedoria Imaculada,
uma sabedoria que não foi atingida pelas almas humanas. Você
tem muito potencial para ser desperdiçado com esses trouxas! Eles
estão, de qualquer modo, adorando Satanás, só que são inocentes
113
demais para perceber isso!
Perguntei-lhe, então, o que esperava que eu fizesse.
Ele riu de mim, já fora de si pela bebida, mas, quando falou,
suas palavras foram muito claras. Uma chama escarlate escura co-
meçou a tremular por trás de seus óculos escuros — ou será que
era apenas o reflexo dos faróis de carros distantes?
— Faça um pacto, irmãozinho. Prometa servi-lo, dando-lhe
o seu corpo, a sua alma e o seu espírito para sempre, e tudo o que
você quiser, terá!
Continuou ainda, dizendo:
— Por sete anos, você será escravo de Satanás. Ele tomará conta
de você, com todo o cuidado. Depois desse tempo, nosso Mestre
o matará e o levará para o inferno, para gozar uma eternidade de
êxtase pleno. Se você for realmente um escravo dedicado, no entan-
to, talvez ele o deixe viver, para servi-lo por mais sete anos. Quem
sabe? Isso aconteceu comigo.
Senti-me preso a um gélido horror. De algum modo, eu sabia
que ia dar naquilo. Mas, mesmo assim, tive que perguntar-lhe:
— E o que você me diz de Jesus?
Orion sorriu, ou algo sorriu dentro dele.
— Você ainda não percebeu? Ele próprio teve que passar por
isso. Isso acontece com todos para chegarem a Ipsissimus. Lembre-
-se do que ele disse: “Não seja a minha vontade, mas seja feita a tua
Lúcifer Destronado
L i d a n d o c o m a confraria
grande decisão espiritual. Fui até o mosteiro e celebrei uma
missa para mim mesmo, a Missa do Espírito Santo. Esta missa
é realizada, na tradição católica, com a intenção de dar uma
forte direção espiritual ou força a quem esteja passando por um
momento de necessidade ou de decisão. Eu estava me valendo
de tudo o que podia!
Naquela missa, o padre Daniel, que estava comigo, acendeu
todas as velas e regulou o órgão para tocar “fortíssimo” naquela
hora. Ele cantou “Vem, Espírito Santo” valorosamente, em seu
barítono solene, e mais uma vez fui tocado pela singeleza de sua 115
piedade.
Voltei para casa e peguei meus estudos bíblicos sobre numero-
logia. Deparei-me com a passagem de Apocalipse 13, e meus olhos
pousaram no versículo 18, o mais famoso desse livro:
Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule
o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse
número é seiscentos e sessenta e seis.
Comecei a somar os números na Cabala Grega,3 cruzando os
dados com os de outras passagens. De repente, mediante uma per-
cepção que me veio, e que até hoje me deixa intrigado sobre como
foi que aconteceu, “concluí” com uma ofuscante convicção, ao
mesmo tempo horripilante e tranquilizadora, que Aleister Crowley
era uma reencarnação de Jesus Cristo!
Eu não tinha tomado droga alguma (a não ser o vinho da eu-
caristia), mas perdi o equilíbrio e caí para trás, contra a parede. O
quarto, ao meu redor, desapareceu, e me senti banhado por uma
luz tão intensa que parecia estar derretendo e fundindo o lóbulo
frontal do meu cérebro. Caí de joelhos pelo poder do seu brilho,
diáfano e fulgurante.
Não tenho a menor ideia de quanto tempo permaneci sob
aquela cascata de fogo, que ardia em meus olhos, literalmente,
como a chama de um maçarico de gás acetileno. Pareciam estar
Lúcifer Destronado
O pa c t o e o “ mi l a g r e ”
Desse modo, estava dando uma nova largada em minha vida.
Telefonei para Orion e marcamos a cerimônia para a próxima lua
nova. Compartilhei minha experiência com Sharon, e ela aceitou,
mas com muita relutância. Não quis ir à cerimônia comigo, em
parte porque não apreciava nada daquilo que Orion representava
e, em parte, por causa de profundas apreensões que sentia quanto
à situação.
Foi num ambiente dramático que fiz minha “profissão de fé”
para o diabo. Fui levado com os olhos vendados a um enorme
parque em alguma parte dos subúrbios de Chicago. Era um lugar
L i d a n d o c o m a confraria
cheio de esculturas e altares egípcios. Orion assegurou-me que
aquela propriedade fora adquirida secretamente por satanistas e
que ninguém nos ousaria incomodar.
Orion ficou por trás do altar de cimento, em forma trapezoi-
dal, vestido com uma toga escarlate. Tirei um manto branco, que
simbolizava minha inocência anterior, e ajoelhei-me diante dele
declarando minha total lealdade a Satanás. Do processo, fazia parte
a assinatura de um pacto com o meu próprio sangue, entregando
meu corpo, minha alma e meu espírito a ele.
Orion invocou o poder de Lúcifer, e chamas de fogo surgiram 117
sobre o altar. Meu “contrato” foi arremetido às chamas, sendo con-
sumido instantaneamente, com uma lufada de fogo escarlate. Por
fim, vestiram-me com uma veste preta de satanista e me foi dado
um novo nome.
Como um gesto final de desafio, eu teria de pisar num crucifi-
xo. Essa prova, que constava ter vindo da tradição dos Templários,
incomodava-me um pouco. Explicaram-me que era para mostrar
desprezo por aquilo que o cristianismo acredita que a cruz simbo-
liza, não um ato propriamente contra a crucificação de Jesus, que,
a nosso ver, tinha contribuído para que ficássemos livres para servir
melhor a Satanás.
No dia seguinte, voltei para Milwaukee, sentindo-me um
tanto impuro. Falei sobre isso com Sharon, e ela sugeriu que eu
celebrasse uma missa.
Tínhamos uma pequena capela particular num de nossos quar-
tos, completa, com uma mesa e uma pedra de altar (esta, com uma
relíquia de São Francisco), que o padre Daniel tinha gentilmente
nos doado. Rezei, então, outra missa do Espírito Santo — em
busca de alguma confirmação para o que eu estava fazendo —, mas
encontrava-me totalmente despreparado para o que aconteceu!
No momento da consagração do vinho, assim que falei as
palavras de costume, aconteceu com o vinho o que supostamente
teria que sempre acontecer, mas nunca tinha acontecido: ele se
Lúcifer Destronado
L i d a n d o c o m a confraria
com ela como parte do ritual. Muito mais do que sexo, tive
prazer na experiência por achar que, por intermédio dela, estaria
ferindo o “falso Deus”, inimigo de Satanás!
O sétimo candidato foi fácil. Era um feiticeiro quase lunático,
ansioso por assinar o pacto. Achava-se bastante envolvido com
Lovecraft e com Satanás, e buscava apenas quem pudesse fazê-lo
ingressar oficialmente nessa.
Depois disso, tive o direito de receber uma cópia de um
documento satânico, A Grande Mãe, para aprender algumas das
119
cerimônias ultra-secretas que me seriam necessárias para progredir.
Passei então a ir atrás de estudantes da Universidade Marquet-
te, próxima de casa, para corrompê-los. (Só que eu pensava que
não os estava corrompendo, mas, sim, iluminando-os!) Valendo-
-me do meu próprio passado, descobri que os estudantes daquela
universidade católica eram campos particularmente férteis para
as sementes de Satanás. Num período relativamente curto em
que me empenhei por conseguir convertidos a Satanás, consegui
atrair vários dos estudantes ao culto satânico — todos, com exce-
ção de apenas um, eram praticantes entusiastas do jogo de RPG
Calabouços e Dragões.
Os adeptos da “alta crítica” da Bíblia tinham feito o seu traba-
lho muito bem na Universidade Marquette. Aqueles pobres jovens
não sabiam mais no que crer e sentiam muita fome espiritual. Que
Deus me perdoe, pois fui eu quem acabou levando a eles o pão
envenenado que o diabo amassou para “alimentá-los”.
Notas
1
A saudação do corno, ou sinal dos chifres, é a mais amplamente reco-
nhecida saudação satânica. Tradicionalmente é feita com a mão esquerda
erguida, com o indicador e o mínimo dirigidos para cima e o polegar e os
outros dois dedos virados para baixo. Representa a negação da Trindade
e a exaltação dos dois chifres de Satanás.
2
Os ocultistas acreditam que as religiões se movem em ciclos (ou eras) de
Lúcifer Destronado
A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
estão fazendo nada de ilegal, todos eles estão, com certeza absoluta,
totalmente perdidos e destinados a passar a eternidade no inferno. E
fazem parte do exército de Satanás, não importando se nele creem
ou não.
A classificação dos satanistas mais comumente mencionada
baseia-se numa versão ampliada de um esquema estabelecido pelo
dr. Dale Griffis, capitão de polícia de Tiffin, Ohio, um dos pioneiros
na investigação científica e criminológica das infrações penais no
ocultismo:2
1) Inteiramente envolvidos
2) Satanistas religiosos ou organizados
3) Satanistas dissimulados ou isolados
4) Espíritas culturais 123
5) Satanistas tradicionais (geralmente hereditários, de várias
gerações).
Eis uma breve descrição de cada um desses tipos:
1) Inteiramente envolvidos
Geralmente são adolescentes, embora haja cada vez mais meni-
nos e meninas de 12 anos ou menos de algum modo envolvidos
com o ocultismo. Nós e outros fazemos certa restrição ao uso
do termo “envolvido”, uma vez que dá a ideia de que a pessoa
não chegou a ser prejudicada, o que não é verdade. Assim, este
termo é um tanto inapropriado. Como diz Raschke, pode-se ter
um envolvimento com o satanismo com tanta facilidade quanto
se pode “entrar numa turma” de consumo de heroína.3 Estas
duas experiências levam o praticante quase que instantaneamente
a um nível irresistível de compulsão, e de ambas é extremamente
difícil escapar sem a ajuda do Senhor.
Usa-se o termo “envolvido”, no entanto, porque o envolvimen-
to geralmente é desorganizado, não premeditado e casual. Geral-
mente ninguém é envolvido de imediato com grupos de feitiçaria
maiores.
O interesse de jovens pelo satanismo poderá surpreender
muitos dos leitores. Isso, porém, não é, absolutamente, uma no-
vidade. Houve época em que o infame de Anton LaVey, A Bíblia
Lúcifer Destronado
A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
oferece tudo o que os pais proíbem. Ou, então, os adolescentes são
informados de que o inferno não existe — não passa de história
da carochinha, de uma invenção, como Papai Noel, para fazê-los
obedecer. E passam a considerar o inferno como não sendo um pro-
blema. Também, assim como muitos adolescentes deliberadamente
se vestem ou falam de um modo que aborreça seus pais, os mais
rebeldes poderão fazer opções de natureza espiritual, ou religiosa,
somente com o propósito de atingi-los.
Uma vez atraído para essa cultura de rebeldia, o modo mais
comum pelo qual um jovem é levado a aprofundar-se no satanismo
é o “pacto”. De modo geral, fazer um pacto com Satanás é, hoje,
bastante conhecido. Embora os termos de tal acordo possam variar, as
principais cláusulas são de que a pessoa vende a sua alma ao diabo e, 125
em troca, Satanás lhe promete dar poder (na magia, ou sob qualquer
outra forma), ou fama, favores sexuais ou riquezas.
O jovem que faz esse pacto, “vende” a Satanás, na verdade, o
que Satanás já possui. Observe a malvada sutileza da armadilha que
o diabo coloca, aqui! Ele trabalha em cima da maior carência da
vida de um adolescente: o poder. Os adolescentes, em sua maioria,
sentem-se desprovidos de poder. São jovens demais para serem adul-
tos, mas o seu corpo rapidamente está se tornando maduro, de modo
que são velhos demais para serem crianças. Também não ajuda nada
o fato de receberem orientação, um tanto confusa, de seus pais. Por
um lado, dizem-lhes que devem agir com maturidade e esperam
que procedam como adultos; por outro lado, dizem-lhes que não
são ainda suficientemente adultos para fazerem certas coisas de
adultos. Satanás conhece esta situação e explora o desejo natural
do jovem de ter poder e controle sobre o meio em que se encontra
e sobre o seu destino.
Com o pacto, Satanás promete a esses adolescentes que terão
poder para dominar aqueles que, com autoridade, os estejam per-
turbando. Terão como “dobrar” as pessoas — até mesmo seus pais
— como quiserem. E receberão doses ilimitadas de dinheiro, sexo,
drogas e poder. Basta assinar na linha em branco — com o próprio
sangue!
É, realmente, uma oferta bastante sedutora para um jovem
Lúcifer Destronado
A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
vens que tenham “aptidão” para a feitiçaria. As personagens que os
disputantes assumem no jogo são um excelente treinamento para
o feiticeiro noviço.
Temos de ter certo cuidado para com aqueles que tenham se
envolvido com o ocultismo, isoladamente ou não. Embora esses
jovens e adolescentes, em sua maioria, não sejam perigosos, ex-
ceto para si mesmos, muitos deles são levados, quer por poderes
demoníacos ou pelos feiticeiros que os recrutaram, a realizar atos
de violência e antissociais, inclusive assassinatos. Todavia, mesmo
que nunca venham a causar dano a alguém, os males que fazem a
si mesmos, tanto emocionais como espirituais, são incalculáveis. O
satanismo lhes dá uma cosmovisão anarquista, niilista, segundo a
qual todas as emoções de afeição e carinho ficam bloqueadas, e os 127
piores aspectos da natureza humana carnal predominam. A violên-
cia e a magia tornam-se a única solução para qualquer problema,
e um sentimento de amor real de sua parte torna-se praticamente
impossível.
2) Satanistas religiosos ou organizados
Estes (LaVey, Aquino, etc.) estão voltados para si mesmos e já foram
abordados nos capítulos anteriores.
3) Satanistas dissimulados ou isolados
Os satanistas isolados geralmente são adultos não ligados a nenhu-
ma seita satânica, mas que se valem do satanismo para a prática
de crimes — principalmente abuso de crianças, estupro, tortura,
assassinato e tudo mais.
Geralmente são pessoas solitárias, que não conseguem rela-
cionar-se com os outros de maneira normal e saudável. Optam,
então, por se identificar com Satanás: o maior de todos os marginais.
Deixam-se também corromper, com frequência, pelo rock heavy
metal e por apavorantes filmes de terror.
Há quem se preocupe em definir se tais pessoas são satanistas
que sofrem de insanidade mental, ou se são psicopatas também
satanistas. Tais discussões não fazem sentido. O fato de alguém
envolver-se com o satanismo, qualquer que tenha sido a causa, abre
Lúcifer Destronado
A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
a. Vodu
O vodu, ou voodoo, também conhecido como obeah ou hoodoo, é
praticado principalmente no Haiti e em outros países do Caribe,
na Louisiana e em outros estados do Sul dos Estados Unidos.
Este culto desenvolveu-se como resultado do tráfico de escravos
procedentes da África Ocidental, levados para o Caribe. Origina-
-se da religião ocultista africana conhecida como Juju, que data
de milhares de anos atrás, praticada pela tribo achanti, que era
adoradora de serpentes.
A religião Juju foi então sincretizada com o catolicismo,
produzindo o culto a toda uma gama de entidades ou divindades 129
demoníacas. Essas entidades, em sua maioria, são identificadas
com santos católicos. Por exemplo, imagens de São Patrício são
usadas para personificar Danballah, o principal deus-serpente,
porque as gravuras católicas geralmente mostram São Patrício
expulsando serpentes da Irlanda. Os rituais do vodu geralmente
são executados pelo ogã (sacerdote) ou pela mambo (sacerdotisa).
Grande parte dos rituais é para que os praticantes sejam incorpo-
rados pela entidade.
b. Candomblé e Umbanda
São praticadas no Brasil. São também um sincretismo do catolicis-
mo com as religiões africanas, principalmente de tribos da Nigéria
e do Congo (Nossurubi, Nagê e Malei). Tal como no vodu, os pais-
-de-santo (sacerdotes) sincretizaram as entidades africanas (orixás)
com os santos católicos. São quatro os principais componentes do
ritual candomblista: adivinhação, sacrifícios (geralmente de animais),
incorporação de espíritos e iniciação. Há uma linha que é mais
voltada para o mal, a quimbanda.
c. Santeria (ou Lucúmi)
A santeria é essencialmente a forma cubana de candomblé, sendo
assim também um sincretismo de religiões africanas com o catoli-
cismo. Provém principalmente da tradição ioruba, da Nigéria. Seus
Lúcifer Destronado
A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
poder, riqueza e sexo, que fazem os mais propriamente chamados
satanistas. São grupos extremamente poderosos e perigosos, e os
feitiços que empregam são, surpreendentemente, muito eficazes.
Mas, felizmente, podem ser vencidos pelo sangue de Jesus.
5) Satanistas tradicionais ou “fiéis” (de várias gerações)
Se os satanistas isolados são os soldados rasos de Satanás, os
tradicionais são seus oficiais de elite, de “batalhões especiais”.
Tal como aqueles, dedicam-se a infligir terror ao coração da
sociedade, mas são mais conscientes de sua posição e função.
São chamados, nos círculos de feitiçaria, de “hereditários”. Isto
significa que já nasceram no satanismo, da mesma forma como
há pessoas nascidas em famílias presbiterianas, batistas, católicas 131
ou judias. Tais satanistas foram, portanto, criados dentro da
ideologia do seu grupo de feitiçaria, e muitas vezes pertencem
a um mundo tão diferente do nosso que bem poderiam ser con-
siderados alienígenas. Em seus grupos, há famílias nas quais a
feitiçaria e o satanismo vêm sendo praticados por muitas gerações,
talvez até durante vários séculos.
(É importante compreender que, embora todos os satanistas
sejam feiticeiros, nem todo feiticeiro é satanista, no sentido estrito
da palavra. Os feiticeiros da magia “branca”, ou participantes da
Wicca, como são muitas vezes chamados, não acreditam num
diabo e adoram uma deusa mãe e um deus chifrudo. Na verdade,
eles estão adorando Satanás por trás das máscaras de suas divindades
supostamente do bem, mas muitos deles não têm consciência disso.
Pela minha experiência, sei que os wiccanos dos níveis mais elevados
realmente conhecem a verdade, mas ela é mantida desconhecida
do público em geral e dos iniciantes dessa magia.)
As famílias satanistas hereditárias geralmente têm suas origens
na Europa e muitas vezes se sustentam de heranças. Para alguém que
nasce numa dessas famílias, há duas alternativas à sua frente: ou a
criança é mimada, treinada em magia e ensinada a considerar-se um
deus vivo sobre a terra, ou é horrivelmente vitimada com abusos na
infância, tornando-se basicamente um ninho ambulante de ódio e
temores. Em ambos os casos, a criança não é ensinada a aprender
Lúcifer Destronado
A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
atingir o nível físico; depois, os níveis emocional, mental e
espiritual. Constituem um programa detalhado e planejado
para fazer com que a criança volte-se contra si mesma, contra
a sociedade e contra Deus.7
Nosso ministério, With One Accord, tem um setor de aconse-
lhamento e oração que já ministrou a muitas vítimas de ARS. O
Senhor tem-se disposto a abençoar nossos esforços. Mais adiante,
falo de nossas estratégias ministeriais quanto à oração. Por ora, o
importante é compreendermos que o abuso ritual satânico geral-
mente ocorre numa família de satanistas e, em ocasiões mais raras,
no contexto de escolas, creches e (infelizmente) igrejas.
Aqueles que falam a respeito desses grupos de satanistas tra-
dicionais e do abuso ritual satânico muitas vezes são acusados de 133
lunáticos — a mesma atitude adversa aos que protestavam, décadas
atrás, nos Estados Unidos, contra o flúor na água potável, acusados
de participar de uma trama comunista para arruinar a saúde dos
americanos. Agora, as revistas publicam reportagens sobre o efeito
cancerígeno do flúor na água! O problema com teorias apontadas
como “conspiração” é que muitas vezes acabam sendo reconhecidas
como verdadeiras.
Pessoas que sobreviveram ao ritual de abusos na infância
declaram ser de famílias em que o satanismo já era praticado por
muitas gerações. Embora não seja fácil provar a veracidade dessas
histórias, elas são em número considerável para que sejam total-
mente desprezadas.
Um enorme império secreto de drogas, pornografia infantil e
satanismo tem sido exposto por pessoas. Será esse fenômeno uma
novidade? Há claras evidências bíblicas de que, nos dias dos israeli-
tas em Canaã, havia civilizações que em sua totalidade adoravam o
diabo sob os nomes de Baal e Moloque. A adoração a esses deuses
envolvia o sacrifício de animais (Jz 6.25), prostituição e perversão
sexual (Êx. 34.15). Envolvia, também, queimar “a seus filhos e suas
filhas em sacrifício” (2 Rs 17.16,17). Isto significava queimar bebês
vivos nos braços incandescentes de um ídolo de ferro! Vemos que,
praticamente, todos os elementos do satanismo estavam presentes
muito tempo antes dos dias de Jesus.
Lúcifer Destronado
A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
acaso é uma energia perdida, e, louvado seja o Senhor, a energia
de Satanás é limitada. Assim, não pode desperdiçá-la com um
bando de excêntricos desorganizados, retalhando gatos e pessoas
e tropeçando uns sobre os outros. Faz sentido pela lógica (e pela
Bíblia) haver um plano mestre, uma conspiração, por trás do
que fazem todas essas diversas famílias de satanistas tradicionais.
Carl Raschke, em seu excelente livro, mencionado anteriormente,
apresenta um mal adicional (embora mundano) que pode estar
alimentando essa conspiração:
Com certeza, grupos amplamente separados uns dos outros
podem muito bem ler a Bíblia Satânica, de LaVey, e fazer
feitiços do clássico do ocultismo O Necronomicon. Mas eles
não se associam entre si, nem “conspiram” de um modo 135
claro e regimental. O que geralmente não se percebe,
porém, é que o elo de ligação entre as diversas células na
sua organização cultual pode nada ter a ver com religião.
Pelo contrário, a ligação pode ser bastante mundana e
comercial... drogas.9
Talvez nunca venhamos a saber se esses vários grupos secre-
tos estão ligados fisicamente, mas podemos aceitar o fato de que
há profundas ligações espirituais e que quase nada acontece em
qualquer um deles sem o controle de Satanás. Os demônios que
estão no controle dos líderes de cada grupo acham-se em cons-
tante comunicação entre si, de modo que o conjunto de todos
eles vai sendo conduzido, em escala continental (e quem sabe até
em escala mundial), como se fosse uma orquestra regida por um
bastão invisível.
Esses satanistas exultam na destruição da inocência! Rego-
zijam-se em fazer obras más, não porque o mal seja divertido
(geralmente não é!), mas porque sabem que tais obras são pecados
e ofensas a um Deus santo. Sabem que, uma vez que Jesus ama as
crianças, então, para atingi-lo, eles as afligem com malignidades
inexprimíveis. O que eles portam é bem mais do que uma simples
“doença mental” ou uma “patologia social”. São máquinas infernais,
movidas por forças que a maioria das pessoas não pode nem mesmo
imaginar. Assim como costumamos falar de cristãos totalmente
Lúcifer Destronado
A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
Notas
1
Pessoas famosas, como Jayne Mansfield e o cantor e ator Sammy Davis Jr.,
foram reconhecidas publicamente como pertencentes à Igreja de Satanás,
de Anton LaVey. Outras, como o ator e diretor Roman Polansky e sua
falecida esposa, Sharon Tate, andaram bem próximo dela. A confraria
satânica [nos Estados Unidos] tem uma poderosa base em Hollywood e
na indústria do entretenimento.
2
Raschke, Painted Black, p. 129-131.
3
Ibid., p. 404.
4
Veja o livro do autor Wicca: Satan’s Little White Lie [Wicca: a Mentirinha
Branca de Satanás]. Chick Pub., 1990, p. 14-49, para um conhecimento
mais amplo de sua carreira na feitiçaria. 137
*
Nota do Editor — No Brasil, estatísticas correspondentes são, sem dúvida,
incomparavelmente maiores.
5
Office of Criminal Justice Planning Research Update [Atualização de
Pesquisa Planejada do Gabinete de Justiça Criminal], v. 1, n. 6, inverno
de 1989/90; Occult Crime, a Law Enforcement Primer, Sacramento, CA,
p. 10.
6
Raschke, op. cit., p. 35.
7
Dr. Lawrence Pazdur. Notas de uma palestra (sem data).
8
Frederickson, B. G. How to Respond to Satanism [Como Responder ao
Satanismo]. Concordia, 1988. p. 14.
9
Raschke, p. 31.
10
“A catedral da dor”
“A catedral da dor”
dos príncipes do inferno — como os chamávamos. Contudo, fosse
quem fosse, dizia ser Lúcifer.
Por vezes, a voz que falava fazia vibrar as vigas daquele velho
porão, e pequenas porções de poeira, de teias de aranha e de pó
de madeira caíam sobre nós. Eventualmente, a pessoa que estava
fazendo o pacto encolhia-se para trás com medo daquela voz, e eu
me sentia profundamente satisfeito em meu interior. 141
Certa noite, uma mulher não se encolheu de medo. Sem
nenhum constrangimento, sem receio algum, ajoelhou-se diante
de seu novo “dono” no centro do círculo mágico, dentro de um
triângulo de manifestação.
Isto não é o que normalmente ocorre. O círculo é usado
pelos praticantes da magia e pelos feiticeiros, de modo geral,
para protegê-los de ataques demoníacos (ou, no caso da Wicca,
para reprimir o cone de poder que se eleva de dentro do corpo
dos bruxos). O triângulo de manifestação geralmente é colocado
fora do círculo, e é onde o demônio tem permissão de aparecer,
nas nuvens da fumaça do incenso. Assim, o feiticeiro fica dentro
do círculo mágico e a energia do demônio é retida e concentrada
dentro do triângulo. Naquele tempo, entretanto, achávamos que
não precisávamos de proteção alguma em relação aos demônios.
Na verdade, dávamos boas-vindas à presença deles e até à possessão
do nosso corpo.
Assim, aquela mulher ajoelhou-se bem no meio do que con-
siderávamos o “ponto de impacto” dos demônios e prostrou-se,
rogando que todo demônio do inferno viesse para ela. Ela jurou
pertencer a Lúcifer de corpo, alma e espírito.
No encerramento da cerimônia, depois de ter vestido o manto
de adoradora do diabo e escrito o seu nome no pacto, o poder ficou
muito mais intenso ao meu redor. As muralhas tremeluzentes de
Lúcifer Destronado
“A catedral da dor”
quem conhece a magia (daquele que já está num estágio avançado)
é bastante semelhante ao alpinismo — esporte que ele conhecia
muito bem. Disse ele que na magia, assim como acontece no esporte
de escalar montanhas, é tudo uma questão de permanente esforço
para subir, com pouco tempo para descanso.
O alpinista praticamente não tem tempo para descansar
quando se encontra na parte íngreme de uma grande monta- 143
nha, segurando-se com os dedos ou pinos encravados na rocha.
É uma situação em que ocorre um desgaste contínuo de energias até
a exaustão muscular e que exige muita força de vontade. É muito
raro o alpinista chegar a uma parte plana ou a um ponto sem declive
em que possa finalmente descansar. E é isso que o praticante da
magia vive. Se relaxar, se “afrouxar” por um pouco mais de tempo,
corre o risco de se soltar do seu gancho e cair no “abismo”, que é,
como já foi dito, o equivalente ao inferno no ocultismo, onde se
acaba morrendo de “acidente” causado pela magia.
Isso acontece, em parte, porque na magia há sempre quem
queira ou arruinar ou acabar com a vida de outros praticantes.
É tal como ser um atirador. Há sempre alguém querendo provar
ser melhor do que outros. As compensações por esse tipo de inte-
ração selvagem são muitas, pois há uma crença de que quem mata
outro participante da magia recebe todo o poder de que o morto
era dotado, e ainda os seus demônios e a sua sabedoria, em herança.
Deste modo, aquele que mata vários outros bem desenvolvidos na
magia acaba ficando com um enorme poder.
Por exemplo, quando, numa determinada ocasião, o avião em
que estava LaVey “desapareceu no radar”, os boatos na confraria
eram de que ele fora assassinado secretamente por sua filha Zeena,
que assim se “beneficiaria”, recebendo toda a sabedoria do seu pai,
Lúcifer Destronado
A vi n d a d o s il u m i n oi d e s
“A catedral da dor”
Eu não tinha compreendido muito bem o fenômeno dessa luz
ofuscante que experimentara quando da evidente presença de Lú-
cifer (ou, pelo menos, diante de energias luciferianas). De quando
em quando, Orion deixava escapar um riso de escárnio alusivo à
“luz”, mas ele se mantinha irredutivelmente calado a esse respeito.
Eu nunca lhe disse que, por vezes, havia passado por estranhas
experiências de “fundir a cuca”, e não sei se ele dispunha de outros 145
meios para saber disso.
Por vezes, ele fazia veladas referências aos Illuminati (vocá-
bulo latino que significa “Iluminados”). Fora-me dito, alguns anos
antes, por um grão-mestre druida, que Illuminati era um termo
que se referia aos níveis mais elevados da magia e do druidismo,
também conhecido como “A Grande Irmandade Branca”, ou a A...
A... (que significa Argentinium Astrum, ou “Ordem da Estrela de
Prata”).
Eu já tinha também ouvido dizer que os Illuminati eram
líderes de uma conspiração internacional de judeus, de anciãos
de Sião, de jesuítas, extraterrestres malignos, comunistas ou ban-
queiros (ou de todos eles), que procurariam destruir os Estados
Unidos. Como eu me mantinha demasiadamente ocupado, não
dava tempo para sequer investigar e assim descobrir se quaisquer
das explicações acima tinham algo a ver com a verdade. Nos
meses que se seguiram à minha experiência inicial de “epifania”
daquela luz branca, quente e ardente, Orion fez obscuras referências
aos Illuminatti.
Então, numa noite, passei por uma experiência bastante fora
do comum. Não posso dizer se foi um sonho ou se foi real, mas
foi uma viagem para fora do meu corpo físico (que se chama de
projeção astral). O fato é que as consequências do que aconteceu
foram definitivamente reais.
Lúcifer Destronado
“A catedral da dor”
Marte Júpiter
“Hórus” “Zeus”
“Áries” Sol “Thor”
“Osíris”
“Apolo”
Mercúrio Vênus 147
“Thoth” “Afrodite”
“Hermes” “Rhiannon”
Lua
“Diana”
“Ishtar”
Terra
“Gaia”
“Deméter”
A catedral da dor
Lúcifer Destronado
“A catedral da dor”
exceto de um, daquele salão que agora dava para ver que tinha
nove lados. Nove é um dos números mais apreciados pelos sata-
nistas, pois é o único número que se reduz a si mesmo, sempre.2
Somente a parede atrás do trono se mostrava ainda como sendo
de pedra preta.
— Esses aí são os filhos do Mestre — proclamou meu guia,
com um estranho orgulho em sua voz. — Não são belos? 149
Minha garganta ficou tão seca que eu nem conseguia dar-lhe
uma resposta. É incrível, mas de um modo sinistro muitos deles
eram belos. Envergonho-me de ter reagido com certa lascívia à vista
de muitas das mulheres que flutuavam à minha frente. Era como
se eu estivesse tendo o pesadelo mais desagradável que se possa
imaginar, mas tudo me parecia ser muito real.
— Todos os que morrem desta maneira são privilegiados de
pertencerem ao Mestre — explicou-me H. — E agora você pertence
a ele também, para sempre!
Sua última afirmação foi como um mau agouro já consu-
mado, fazendo sentir-me atingido por dolorosa punhalada de
terror, já me vendo flutuando atrás das paredes de vidro daquele
maldito lugar.
Antes que tivesse condições de falar ou de fazer qualquer coisa,
um raio de luz caiu do teto, trovejando, vindo de cavernas não vistas,
atingindo o trono escuro com uma luz tão intensa e brilhante que
fez com que eu não conseguisse mais ver aquelas horríveis imagens
dos corpos flutuantes ao meu redor.
Saindo daquele feixe de luz, surgiu um enorme ser, difícil de
descrever. Vestia também um manto branco e tinha cabelos bran-
cos que caíam sobre seus ombros, dos quais saíam poderosas asas.
Todavia, tudo nele se alterava a cada segundo. Num momento,
parecia um homem normal, mas extremamente bonito, vistoso.
Lúcifer Destronado
“A catedral da dor”
brancelhas, entrando até o meu cérebro, como se fosse uma barra
metálica incandescente. Quis gritar, mas não consegui. Todo o meu
corpo sentia-se como se fosse estourar, por ter-se enchido de uma
extraordinária luz ardente.
Outra garra tocou em mim, e senti a dor de uma forte ferroada.
Então, as duas mãos se afastaram, e uma voz falou; era a mesma voz
que eu já tinha ouvido e que surgira dentro de mim várias vezes 151
em que estava celebrando um ritual.
— “Agora você me pertence para sempre!”
O som de uma centena de vozes de repente ressoou por todo
o salão, cantando:
— “Glória e amor a Lúcifer! Ódio!, ódio!, ódio! a Deus, amaldi-
çoado!, amaldiçoado!, amaldiçoado!”
Parecia que a garra ardia dentro da minha mente. Meu corpo
estremecia-se todo, estendido sobre o altar, com o poder daquele
cântico. Sentia-me como um peixe preso num anzol, sendo arras-
tado para fora d’água pelo meu próprio cérebro. Quis soltar um
grito de dor, mas o que saiu foi:
— “Glória e amor a Lúcifer! Ódio!, ódio!, ódio! a Deus, amaldi-
çoado!, amaldiçoado!, amaldiçoado!”
O ensurdecedor estrondo de um trovão atingiu a catedral. Fui
arrastado para fora do altar a uma incrível velocidade e levado para
aquele terrível aquário de cadáveres. Por um segundo, pensei que fosse
ser colocado no meio deles. Por fim, consegui dar um grito. Mas,
antes que o grito terminasse, eu já havia ultrapassado o aquário
e viajava no que parecia ser o relâmpago de um raio passando pelas
nuvens e movendo-se rapidamente em direção à terra.
Em menos de um segundo, achei-me deitado, de barriga para
baixo, sobre a relva molhada pela chuva do quintal da minha casa,
envolvido pelo inconfundível aroma do ozônio. A grama ao meu
Lúcifer Destronado
Notas
1
Na Cabala, a Árvore da Vida é composta de dez esferas, oito das quais
têm o nome de um planeta. Essas esferas são ligadas por 22 caminhos,
correspondendo cada um a uma letra do alfabeto hebraico. Para os magos
cerimoniais, é comum a projeção astral, por meio de cartas de Tarô — que
se relacionam com os caminhos —, usando-as para viajar por eles a dife-
rentes esferas planetárias. Esta técnica avançada é chamada de “operação
caminho”.
2
Na numerologia, ou gematria, do ocultismo, com o número 9 ocorre o
seguinte: 27 é múltiplo de 9; 2+7=9. 63 é múltiplo de 9; 6+3=9. 9x62=558;
5+5+8=18 e 1+8=9. É muito curioso, mas este esquema funciona sempre
com qualquer múltiplo de 9.
11
O s Saduceus de hoje
O s S a d u c e u s es t ã o d e vo l t a
A maioria dos cristãos, até mesmo líderes e instrutores, não leva
muito em consideração a esfera espiritual. Este é o fenômeno
que um missiólogo, dr. Paul Hiebert, chamou de “o meio ex-
cluído”.1 O que isto significa é, simplesmente, que a maior parte
das pessoas das nações industrializadas do Ocidente acredita no
mundo racional de todos os dias, que inclui carros, telefones e
tudo o mais, mas dão muito pouca (ou nenhuma) atenção às
coisas da realidade espiritual.
É certo que os cristãos do mundo ocidental acreditam em Deus
e em Jesus Cristo. Reconhecem, de fato, a existência da Trindade
do Pai, Filho e Espírito Santo. Creem (assim espero) na Bíblia e
nos registros históricos que ela contém. Todavia, normalmente
conseguem ver apenas duas dimensões:
O s sa d u c e u s d e ho j e
1) A do mundo “real” do dia a dia da vida.
2) A dimensão de Deus.
Deste modo, detêm uma mentalidade essencialmente oci-
dental, pós-racionalista (isto é, científica, empírica), que não é
realmente bíblica. Esquecem-se de que a Bíblia é um livro oriental,
escrito por homens inspirados pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). A
visão bíblica (ou seja, a visão do Senhor) não é particularmente,
ocidental ou racionalista. É uma cosmovisão pela qual, quase todo
155
dia, acontecem encontros do divino, angélico e humano. E é esta
a mentalidade que permanece pela maior parte do mundo afora,
uma mentalidade que inclui um mundo acima das atividades hu-
manas diárias, com as quais nos ocupamos em todo o tempo, mas
abaixo do mundo de Deus. É a região dos anjos (tanto eleitos como
malignos) e demônios. É a região do meio, que está faltando, e que
foi “excluída” do pensamento da maioria dos cristãos ocidentais.
Já conversei com crentes, que são sinceros e inteligentes, mas
que acham que a esfera espiritual tem muito pouco, ou nenhum,
efeito sobre a vida deles. Admitem que talvez haja um demônio
que por vezes atue, por exemplo, na China, e que pode acontecer
que alguém, ao passar por uma grande dificuldade, possa ter a
visão de um anjo. No entanto, em sua quase totalidade, rejeitam
a possibilidade de uma interação diária com a esfera sobrenatu-
ral. Alguns deles até mesmo estão totalmente convencidos de que tal
interação é impossível.
De certo modo, podemos comparar tais pessoas com a antiga
seita judaica dos saduceus, do tempo de Jesus. A aristocracia teo-
lógica judaica naqueles dias estava essencialmente dividida em dois
grupos: os fariseus e os saduceus. O ponto que mais diferenciava a
seita dos saduceus é que eles não acreditavam na ressurreição, nos
anjos e nos espíritos.2 (Veja Mateus 22.23; Atos 23.8.)
Os saduceus eram religiosos muito devotos. Ninguém ja-
Lúcifer Destronado
V e n d o o D i a b o e m tu d o ?
O s sa d u c e u s d e ho j e
No que se refere à ação demoníaca dentro da esfera espiritual, há
sempre o perigo de se cair no extremo oposto. C. S. Lewis faz uma
conhecida observação, em seu livro The Screwtape Letters [Cartas
do Inferno], de que há duas mentiras que Satanás promove de um
modo especial: a plena negação da existência do diabo, ou, então,
uma ênfase exagerada a Satanás e seus servos, desenvolvendo assim
uma obsessão doentia. Quero dizer que não estamos promovendo
a segunda alternativa, de jeito nenhum.
Frequentemente aqueles que ministram nesta difícil área são 157
acusados de “ver demônios em tudo”. Chegam a dizer que eles vêem
demônios até na própria sombra. Eu, em particular, posso dizer
com segurança que nunca vi demônio algum desse jeito. Também
não quero negar que alguns dos que oram para a libertação de
pessoas sob opressão demoníaca acabam deixando de ter uma po-
sição equilibrada. Não obstante, não é pelo exagero de alguns que
devemos ignorar a esfera espiritual e abrir mão do nosso dever de
enfrentar batalhas espirituais. Há quem exagere em suas orações por
aqueles que se acham enfermos. E isso significa que não devemos
orar pelos doentes? Creio que bem poucos o recomendariam. No
entanto, a libertação espiritual é tão importante quanto as demais
áreas do nosso ministério na igreja; mas tem sido negligenciada,
para prejuízo do rebanho.
Há, porém, realmente, aqueles que atribuem tudo como
sendo da esfera demoníaca. Expulsam demônios das mínimas coi-
sas; até mesmo das frieiras nos pés. Ou culpam os demônios por
qualquer pecado da carne. Obviamente, isso não é razoável nem
bíblico. Mas não podemos permitir que os abusos de alguns ve-
nham a destruir as bênçãos que são alcançadas por aqueles que
realmente estejam querendo praticar o discernimento e a oração
segundo a Bíblia.
A verdade, porém, é que aqueles que optam por ignorar a esfera
dos anjos e demônios — esse “meio excluído” — também tendem
Lúcifer Destronado
O s sa d u c e u s d e ho j e
exército de Hitler mais praticava], e esse ataque os contaminou
de uma malignidade transcendental — que a mente humana
nem pode imaginar.
Contudo, este é um conceito que não entra na mente da nossa
cultura, por estar muito próximo daquelas duas malfadadas pala-
vras “tabus”, quais sejam, “pecado” e “inferno”. Vem de encontro
aos conceitos teológicos de muitos cristãos, cujo entendimento
do cristianismo é que se trata de uma instituição em que se entra
para ser salvo, passando a integrar o clube do “Deus Me Abençoe” 159
e ouvir sermões e participar de eventos sobre como ser melhor pai
ou mãe, como ser próspero e como melhorar a autoestima.
Esquecem-se tais cristãos de que o exemplo mais notável de
auto-estima é o de Satanás. Esquecem-se de que o cristianismo
deve ter uma voz profética na cultura, e não render-se aos valores
da cultura. É muito certo e bom que os pregadores cristãos se
voltem contra o aborto ou contra o movimento pelos direitos dos
homossexuais. No entanto, muitos desses pregadores têm-se dei-
xado levar por valores bem mais sutis e perigosos da cultura, em
aspectos bem mais insidiosos. São afetados por uma mentalidade
mundana, orientada por marketing, centralizado na mídia, tendo
uma visão da Igreja e sua função baseada na Psicologia moderna.
Tal concepção não os protegerá, nem às suas ovelhas, quando os
ventos de enxofre de Satanás começarem a soprar fortemente em
seu santuário acarpetado e provido de ar condicionado, levando
o rebanho ao desespero.
Assim, precisamos estar atentos de que a nossa cosmovisão e as
nossas expectativas sejam baseadas na Bíblia. Temos de reexaminar
nossos pressupostos de como o universo funciona. E, acima de tudo,
precisamos parar de nos ajoelharmos diante dos falsos deuses do
secularismo e “da falsamente chamada ciência” (1Tm 6.20 — rc).
Tendo estas considerações em mente, fica fácil compreender por
que tais questões são levantadas sobre o satanismo. Procuraremos
Lúcifer Destronado
Notas
1
Anderson. Neil T. Quebrando as Correntes. Ed. Mundo Cristão, 1994.
p. 33.
2
Elwell, Walter A. (Ed.) The Shaw Pocket Bible Handbook [Manual Shaw
Bíblico de Bolso]. Wheaton, USA: Harold Shaw Publishers, 1984. p. 378.
3
Jeffrey Daumer foi condenado, em Milwaukee, por atos terríveis de tor-
tura homossexual, assassinato e possível canibalismo de jovens e meninos.
160 É apenas um dos muitos casos, ocorridos recentemente, de criminosos
que cometeram “assassinatos em série”, levados, certamente, pelo Mal
sobrenatural. O claro envolvimento de Daumer com o satanismo foi,
evidentemente, desprezado.
4
A par dos inúmeros crimes de Hitler, e do seu pseudocatolicismo, ele
era também profundamente envolvido no ocultismo. Era iniciado num
grupo teosófico chamado Thule Gesellschaft e fez com que sua organização
SS desenvolvesse uma agência para o estudo da magia e do satanismo
chamado Annerbe. Para mais informações sobre o conteúdo ocultista
e satânico da filosofia nazista, veja a obra de LaVey The Satanic Rituals
[Rituais Satânicos]; Hitler: the Ocult Messiah [Hitler, o Messias Ocultista],
de Gerald Schuster; e ainda The Twisted Cross [A Cruz Quebrada], de
Joseph Carr (autor cristão).
12
“ . . . A M aldição sem
c
não se umpre”
c au s a
apostasia?
Orion pediu-nos que o deixássemos usar nossa capela de missa
gnóstica e thelêmica, para o ritual de maldição. Sharon concordou,
com alguma insistência minha, mas com certa relutância. No en-
tanto, decidiu não participar do ritual.
Orion me pediu, então, que eu fosse conhecer melhor nosso
“cliente”, enquanto ele iria preparar o lugar para o ritual. Estava
até curioso, de modo que fui para a sala e me sentei ao lado do
sujeito. Ele parecia estar sob uma forte tensão, fumando um cigarro
após outro. Apresentei-me, e ele tossiu, um tanto nervoso, dizendo
Lúcifer Destronado
O Ritual de Destruição
A cerimônia do pacto transcorreu, como sempre, sem nenhuma
manifestação extraordinária. Em seguida, passamos diretamente
para o ritual de amaldiçoamento. Andy tinha trazido uma foto da
sua ex-mulher, e dela Orion havia feito uma boneca de barro. Tinha
também conseguido alguns fios de cabelo da infeliz, retirados de
uma velha escova. Estas duas coisas formavam o que os ocultistas
chamam de “objetos de ligação”.
É uma doutrina não só do satanismo, mas da maioria dos
grupos de feitiçaria e ocultismo, que é muito mais fácil amaldiçoar
alguém quando se tem alguma coisa dessa pessoa que dê condição
Lúcifer Destronado
Notas
1
Naquela ocasião, eu ainda não sabia que os adventistas não acreditam
num inferno eterno, mas na aniquilação total dos maus. Neste, e em diver-
sos outros pontos importantes, carecem de uma base bíblica doutrinária.
Todavia, pessoalmente, não os considero uma seita, no mesmo sentido dos 173
mórmons ou das testemunhas de Jeová. Muitos dos adventistas que conheci
parecem-me novas criaturas em Cristo, apesar de se encontrarem presos ao
seu estranho sistema legalista, que é quase um judaísmo.
13
R espostas a Algumas
Perguntas Difíceis
facilidade que, por meio de seus servos, pode apresentar uma ten-
tação que o agente funerário considere irresistível. Isto acontece não
somente com não-cristãos. Pelo que podemos observar, até mesmo
“poderosos homens de Deus”, do Corpo de Cristo, podem cair em
abomináveis pecados ao serem tentados. Não temos que ficar tão
surpresos, assim, ao sermos informados de que um agente funerário
não-cristão (ou até mesmo salvo por Cristo) foi corrompido por
Satanás. Digamos que o cidadão tenha uma fraqueza pelo jogo ou
pelo sexo ilícito. O grupo de satanistas, sob a direção de seus mes-
tres demoníacos, providencia tudo o que a pessoa almeja e ainda faz
182
feitiços para torná-lo mais suscetível e vulnerável à tentação.
Sabemos que isso é realmente possível de ser feito, pois no
passado lançamos tais feitiços, com eficácia. Tínhamos rituais com
os quais podíamos fazer com que a pessoa ficasse irresistivelmente
atraída em lascívia por alguém. Era uma força com tamanho poder
de compulsão que quase ninguém teria como resistir. A menos que
a pessoa fosse cristã e estivesse vivendo bem próxima de Jesus, teria
bem poucas defesas contra as manipulações desse tipo.
O agente funerário é levado a ficar com uma enorme dívida
no jogo, ou então a ter encontros sexuais comprometedores com
uma moça atraente (e talvez de menor idade) do grupo satânico.
Isso é filmado em videoteipe. Então chantagens e ofertas de pagar
a dívida lhe são apresentadas, em troca de sua membresia e leal-
dade ao grupo. Tendo tal pessoa entrado no grupo satânico, ela é
filmada em situações ainda mais agravantes (geralmente sem ter
conhecimento disso), e assim a armadilha fica completa. A pes-
soa fica amarrada e compelida a fazer tudo que o grupo lhe peça
e não tem como recusar nada, pois do contrário, cairá em total
desgraça (e talvez até mesmo seja objeto de uma ação judicial)
para os sacrifícios.
Notas
1
Raschke. Painted Black, op. cit., p. 105.
2
Para obter uma exposição mais detalhada sobre este assunto triste e
difícil, veja o livro do autor, Wicca: Satan’s Little White Lie [Wicca: a
mentirinha branca de Satanás]. Chick Pub., 1990, (especialmente o
capítulo 4).
3
É importante entender que os satanistas não constituem uma seita
unificada, tal como acontece com os mórmons ou as testemunhas de
Jeová. Sua única unidade se dá em nível espiritual, uma vez que todos
O s tún e i s d e T y p h o n
nes ortodoxos típicos que fiz, de São Pedro, São Paulo e da Virgem
(lembre-se de que eu era consagrado bispo da Igreja Ortodoxa
Russa), fiz também ícones que representariam portas de acesso
a universos alternativos, assim como outros que retratavam seres
sagrados da magia. Então eu me projetava de modo astral naquelas
pinturas e procurava explorar outros universos.
O s te r r í v e i s se n h o r e s d o es p a ç o cósmico
193
Foi aqui que a magia, a ficção científica e a fantasia começaram a
interligar-se. Um dos objetivos dessas visitas a outras dimensões do
tempo e do espaço era o de contatar as entidades que mandavam por
lá. Fora-nos explicado que o nosso universo é relativamente jovem
em relação a outros. Assim, os seres supremos do nosso universo
(Deus e Lúcifer)1 estavam ultrapassados por “seres supremos” de
outros universos.
Isto, pensava eu, poderia ser a solução do dilema sobre quem seria
mais poderoso do que Lúcifer. Meus mentores diziam haver seres nesses
outros universos anteriores aos tempos em que o nosso Deus e Satanás
estavam ainda de fraldas. Eram os assim chamados “Terríveis Senhores”
dos espaços exteriores: o espaço que existiria além do espaço.
Comunicando-me com uma entidade que dizia ser Aleister
Crowley falando do além — por meio de uma incorporação —,
fiquei sabendo que isso era uma parte substancial dos segredos
arcanos contidos em sua obra The Book of the Law [O Livro da
Lei].2 Isso se confirmou posteriormente nos escritos de Kenneth
Grant, um dos sucessores de Crowley como dirigente para assuntos
externos da O.T.O.3
Grant demonstrou que a religião de Crowley era um reavivamento do
culto, feito na Antiguidade, à estrela Sirius (isto é, Set, o deus-demônio
egípcio). Uma característica singular de Sirius é que ela é uma estrela
binária, sendo Sirius A a brilhante estrela avermelhada que se vê na
constelação Canis Major (Cão Maior), e Sirius B, uma estrela escura,
totalmente invisível da Terra, exceto através de modernos radiotelescó-
Lúcifer Destronado
O clamor a cihulhu
Howard Phillips Lovecraft tornou-se um escritor famoso entre os
aficionados de livros de terror e ficção fantástica. Ele viveu cerca
de 50 anos atrás e escreveu livros marcantes, com um enfoque de
décadas à frente do seu tempo. Suas histórias —, por exemplo, The
Dunwich Horror [O Terror de Dunwich], The Dweller on the Thre-
shold [O Habitante Primitivo]e The Color Out of Space [A Cor Fora
do Espaço] — eram de horror mescladas com a ficção científica,
de um modo estranhamente discreto e sóbrio, mas, mesmo assim,
muito amedrontador.
O s tún e i s d e T y p h o n
195
O s tún e i s d e T y p h o n
de magia “transyuggothiana” e se aterrorizado. Sabe-se que ele teve
uma vida de muito pavor, praticamente como um recluso. Nunca
se casou; tinha medo de se aproximar do mar; temia descer a um
sub-solo. Foi muito semelhante a um grande número de protago-
nistas de suas histórias, geralmente personagens jovens e bastante
sensíveis, da sua fictícia Universidade Miskatônica, que descobriram
horríveis livros antigos de magia negra e sabedoria da Antiguidade,
como O Necronomicon.
Esses seus personagens jovens são quase sempre solteiros, 197
muito eruditos, que chegam próximo da insanidade mental
por causa do que descobrem no âmbito da magia “transyuggo-
thiana”. Seus contos e novelas podem bem ser autobiográficos,
como uma maneira de Lovecraft elaborar o seu terror terapeu-
ticamente sobre folhas de papel. Ele fala meticulosamente de
“rituais indescritíveis”. Alude à manipulação genética, com
mutações monstruosas, muitos anos antes de tais coisas serem
compreendidas cientificamente.
Acreditávamos que esses deuses “transyuggothianos” fossem
mais poderosos do que os do nosso universo e que tivessem acesso
à consciência humana por meio de nossos sonhos, pesadelos e
insanidade mental.
O bizarro panteão de supostos deuses fictícios de Lovecraft era,
curiosamente, semelhante ao dos seres que os satanistas da vida real
de Crowley procuravam alcançar com seus rituais. Havia Azathoth,
um deus cego e idiota que balbuciava palavras sem nexo bem no
centro da galáxia. Havia Cthulhu, mestre dos sonhos e deus das
águas, sepultado na cidade de R’lyeh, submersa no Pacífico. Havia
Nyarlathotep, o estranho deus egípcio parecido com Set, cuja ma-
nifestação levaria instantaneamente qualquer ser humano à total
insanidade. E o pior deles, Yog Sothoth. Cheguei até mesmo a saber
o nome do meu misterioso “visitante” das margens do lago ao norte
Lúcifer Destronado
Thaumiel
“Deuses
Gêmeos”
Satariel Ghagiel
O s tún e i s d e T y p h o n
“Escondido” “Escondedores”
Golachab Gha’agsheblah
“Inflamantes” “Os Que Castigam”
Thagirion
“O Litígio”
199
Samael A’arab Zaraq
“Caluniador” “Corvo de Dispersão”
Gamaliel
“Traseiro
Obsceno”
Túneis
de Typhon
Lílite (ligando todas as
“Dama da Carapaças de Qlifoth)
Noite”
O s tún e i s d e T y p h o n
os troféus necessários para acumular em mim maior poder na
magia. Algumas das experiências eram ainda piores do que aque-
las da “Catedral da Dor”, e comecei, então, a questionar comigo
mesmo se aquela também não seria outro universo acessado por
esses túneis.
U m li v r o re a l m e n t e am a l d i ç o a d o
Por meio de meus relacionamentos na confraria, já havia conseguido 201
obter grande parte de O Necronomicon, a principal fonte da magia
e da espiritualidade transyuggothiana. Contrariamente à crença
popular, não se trata de um livro de ficção, mas de magia (um
livro de trabalho) da mais tenebrosa espécie. Seu título poderia ser
traduzido como “O Livro dos Tons dos Mortos”, ou “O Livro das
Leis dos Mortos”.
Tal como as propostas de Aleister Crowley com respeito a Set
e sua religião de Thelema, O Necronomicon é conhecido a partir
do antigo paganismo árabe. Supõe-se que haja sido escrito origi-
nalmente em árabe, nos tempos de Maomé, por Abdul Al-Hazred,
também chamado de Al Azif. Consta que o texto foi ditado ao
feiticeiro árabe — mais ou menos como aconteceu com o Livro da
Lei de Crowley — por algum ser interdimensional. Dizem, ainda,
que, ao terminar de escrever, ele foi esmagado a ponto de tornar-
-se uma pasta sangrenta, sendo devorado vivo por enormes bocas
invisíveis, diante de muitas testemunhas.
Há um livro de título O Necronomicon sendo presentemente
publicado, mas que contém apenas as partes mais leves do original
completo. Mesmo assim, é incrivelmente sinistro. Tive um exemplar
de uma edição limitada desse livro menor, feita com apenas 666
cópias (naturalmente) e assim dedicada: “Ad maioram Crowley glo-
riam” — uma paródia às palavras que se aplicam somente a Jesus,
significando “a Crowley seja toda a glória”. Não obstante, é apenas
Lúcifer Destronado
O lad o es c u r o d o É d e n ?
O s tún e i s d e T y p h o n
O Necronomicon baseia-se em grande parte na magia negra sumeria-
na, da Antiguidade, a apenas algumas gerações após a fundação de
todas as falsas religiões posteriores ao dilúvio de Noé — a Babilônia
de Ninrode. Não é coincidência que Crowley se referisse às suas
mulheres como “Babalom, a Mulher Escarlata”.8
Esse livro maligno alimentou minha “metamáquina” com tudo
que ela desejava. Ensinou-me a metafísica da dor, da raiva e da ira.
Levou-me para a parte de trás, o lado escuro, da Árvore da Vida
(mencionada anteriormente). Embora a Árvore Cabalística seja 203
usada em magia ritual, geralmente ela é tida como magia branca.
Todavia, como ocorre em todas as formas de magia e metafísica,
há sempre uma dualidade.
No reverso da Árvore da Vida, há um tipo de Árvore do Mal,
chamada Qlifoth (pronuncia-se “cli-fót”). Esta palavra pode ser tra-
duzida por “meretrizes” ou “cascas” (esta última acepção no sentido
de coisa oca, dessecada e sem vida). Todos os rabinos, mesmo os
místicos, mantêm-se totalmente afastados da Qlifoth. Para mim,
porém, era o que mais me agradava.
Através dos túneis de Typhon, e com os rituais de O Necrono-
micon, tive condições de ir até o “hiperespaço da magia” e chegar
ao lado escuro da Árvore da Vida, que Kenneth Grant chamou de
“O Lado Escuro do Éden” (título de seu livro), um dos primeiros
a abordar essa arquitetura blasfema da magia.
O nível mais baixo da Árvore de Qlifoth (representando seu
nível menor de malignidade) tem o nome de Lílite. Lembra-se
dela? É a demônia amante de Lúcifer e mãe de Set, a padroeira do
aborto, do assassinato de crianças e da “morte do berço”.
A segunda esfera planetária para a qual viajei chamava-se, por
incrível que pareça, Gamaliel, e era apelidada de “Traseiro Obsce-
no”. O pináculo da Árvore do Mal era uma total, completa e perfeita
Dualidade — uma zombaria à unicidade absoluta do verdadeiro
Deus dos hebreus.
Lúcifer Destronado
Viajar por esses caminhos e túneis era como passar por uma
tubulação de esgoto espiritual, mas isso era necessário para que eu
me preparasse para o próximo grande passo. Eu tinha que superar
toda a moralidade, todos os conceitos do que é bom ou mau, para
poder atingir o grau ou nível seguinte, o de Adeptus Exemptus.
Estaria preparado, então, para cruzar o Abismo e tornar-me
um Mestre — e em condições de levar uma vida humana para os
Terríveis Senhores dos Espaços Exteriores.
204 Notas
1
Os luciferianos e satanistas, em sua maioria, são, tecnicamente dualistas,
ou seja, acreditam em duas divindades, essencialmente iguais, mas opostas
uma à outra. Isto está de acordo com a tradição dos antigos zoroastrianos,
que acreditavam em Ahuru Mazda, senhor da luz, e Ahriman, senhor
das trevas. O cristianismo, apesar de por vezes referido como dualista, na
verdade não o é. Deus e Satanás não são iguais, na Bíblia Sagrada. Deus
é o Criador, e Satanás é uma de suas criaturas.
2
Para uma explicação maior da revelação de Crowley, veja o capítulo 5.
3
Veja seus livros The Magical Revival [O Reavivamento da Magia], Aleister
Crowley and the Hidden God [Aleister Crowley e o Deus Oculto], The
Nightside of Eden [O Lado Escuro do Éden], etc.
4
Raschke, Painted Black, op. cit., p. 303.
5
Veja The Satanic Rituals [Os Rituais Satânicos], de LaVey, e The Magical
Revival [O Avivamento da Magia], de Grant.
6
The Satanic Rituals.
7
O “animal familiar”, desde tempos imemoriais, é um bicho de estimação,
que os feiticeiros possuem, e com o qual desenvolvem afinidades de magia
— tradicionalmente acariciando-o (no caso de bruxas) ou fazendo-o beber
o sangue do próprio feiticeiro. O animal adquire, então, supostamente,
poderes especiais, passando a servir de protetor e confidente. Geralmente,
são “animais familiares” gatos, sapos, corvos, gralhas e, eventualmente,
cães, lagartos e cobras. Os feiticeiros de hoje também têm seus animais
familiares, embora eu não saiba se são alimentados com sangue ou leite
humano. Nunca tivemos um.
O s tún e i s d e T y p h o n
8
Esse excêntrico jogo de palavras tem um significado mágico. Equivale à
soma de 777 e tinha para Crowley um profundo sentido em seu sistema
de magia.
205
15
D esertores das trevas
Novo, Satanás e seus servos não podem voltar-se contra ele sem
permissão de Jesus.
Pessoalmente temos aconselhado dezenas de ex-satanistas,
que agora estão tendo uma vida de vitória em Jesus Cristo. Mas
alguns dos que já aconselhamos, desses desertores do satanismo,
não quiseram, infelizmente, tornar-se novas criaturas em Cristo.
Tinham somente se desligado da “religião”, do modo justamente
como o seu grupo de feitiçaria os tinha ensinado e manipulado.
Não entenderam que Jesus deseja ter conosco um relacionamento,
não uma religião. Haviam vivido muitos momentos sob intensa
208 tortura e, por vezes, tiveram que ser internados depois, como en-
fermos, em sanatórios para doentes mentais. Perdemos o contato
com alguns deles, após algum tempo, e é bem possível que tenham
caído novamente nas mãos de adeptos do seu grupo.
Além da pesquisa relativamente limitada que tem sido feita
por historiadores e outros estudiosos, os que escaparam desses
diferentes grupos ocultistas (em especial os que são novas criaturas
em Cristo) são a melhor fonte de informações sobre essas seitas.
Eles são, na verdade, os que venceram “(...) por causa do sangue
do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram”
(Ap 12.11).
O tenente Larry Jones,1 um crente autêntico, que atua pro-
fissionalmente como agente da lei, tem tido ocasião de entrevistar,
ministrando mais do que o seu próprio “testemunho”, muitas pes-
soas que escaparam dos grupos satânicos. Ele destaca, com muita
exatidão, que essas pessoas precisam realmente ser compreendidas
pelo Corpo de Cristo. Acontece com frequência que muitos cristãos
ficam amedrontados, desnecessariamente, com essas pessoas. Logo
que minha esposa e eu saímos do satanismo, reunimo-nos com
alguns crentes, que se sentiram atemorizados com a nossa presença
assim que souberam do nosso passado. Seu comportamento de-
monstrava terem medo de que algum mau contágio pudesse sair
de nós e atingi-los ou à sua família. Isto é muito triste.
O poder do sangue de Jesus Cristo verdadeiramente é capaz de
nos salvar totalmente. Temos visto que ex-satanistas, que agora são
verdadeiros cristãos, em sua grande maioria tornaram-se maravi-
D e s e r t o r e s d a s tre v a s
lhosos e ardorosos homens e mulheres de Deus. Muitas das pessoas
que vêm a nos conhecer atualmente fazem afirmações como: “Não
dá para acreditar que um casal tão amável como vocês tenha parti-
cipado do satanismo.” É o poder de Jesus! Uma transformação de
fato acontece, na grande maioria dos casos, logo após a salvação. E
acontece justamente o que deveria acontecer. O velho homem, o
“feiticeiro”, foi crucificado espiritualmente, no momento do novo
nascimento, e agora Cristo vive em nós (Gl 2.20).
O tenente Jones diz ainda que os ex-satanistas, salvos, devem 209
ser considerados como de grande valor para o Corpo de Cristo. Eles
provêm do campo do inimigo mortal da Igreja e foram purificados,
lavados e santificados. Muitos deles, se não a maioria, podem ser
importantes fontes de informação. Devem ser tratados não como
inimigos, mas como amigos, tal como os governos costumam
tratar os fugitivos e exilados dos regimes políticos que lhes sejam
ostensivamente contrários.
“ A fe i t i c e i r a nã o de i x a r á s vi v e r ?”
Não é preciso convidá-los para almoçar ou jantar, nem tratá-los com
grandes mesuras. Não é essa a questão. Eles só precisam ser tratados
como novas criaturas em Cristo, que podem ter informações úteis
e importantes a compartilhar. Devem também ser tratados como
pessoas que certamente foram feridas emocionalmente e até mes-
mo, quem sabe, fisicamente. São “feridos de guerra” da batalha que
Satanás tem travado contra a humanidade. Não devem ser vistos
como párias da sociedade, como algumas igrejas infelizmente, os
têm tratado. Devem ser bem-vindos e recebidos de braços abertos,
recebendo sadio ensino bíblico e discipulado.
Fico perplexo ao saber que alguns pastores — graças a Deus
não em grande número — têm ensinado às suas ovelhas a mentira
de que os feiticeiros não podem ser salvos, que está além do poder
Lúcifer Destronado
D e s e r t o r e s d a s tre v a s
seu jogo. Quando salvos, devem ser ensinados que os seus antigos
sistemas vivenciais não são mais necessários nem desejáveis. Pode
ser necessário ter que lutar para quebrar esses hábitos. A pessoa
precisa ser lembrada, com muito carinho, de que não é mais um
servo do “pai da mentira”.
O que ainda lhe está muito amarrado à carne é o desejo de
agradar ao seu novo “círculo” de amigos na igreja. Assim, ser um
Illuminatus Primus, acha ele, causará uma impressão bem maior
do que simplesmente dizer que é um simples satanista. Isso torna
211
sua história mais atraente e também parece glorificar mais a Jesus,
porque salvou alguém desse tão elevado grau de perdição. Juntando-
-se estes dois elementos com a natureza pecaminosa da pessoa, fica
mais fácil compreender por que sua história, às vezes, é um tanto
exagerada ou enganosa. Isto não quer dizer que a pessoa não está
salva. Apenas significa que não é perfeita. Que grande revelação!
É aqui que um pastor que seja bom, de doutrina sólida e
discernimento espiritual, pode muito ajudar. Muitas vezes, os que
vêm do ocultismo começam a vida cristã de modo errado, saindo
de imediato para pregar, evangelizando, ensinando na igreja, antes
de serem discipulados e amadurecerem em seu caminho com o Se-
nhor (1 Tm 3.6). Seu interesse em querer ministrar é compreensível
e elogiável, mas é preciso estar, no começo, constantemente sob
supervisão pastoral.
Outro ponto em que aqueles que cuidam de sobreviventes do
satanismo consideram um problema bastante comum nessas pessoas
é a fragmentação da memória e um sentido de descontinuidade na
história de sua vida. Assim, se as histórias do sobrevivente não se
encaixam muito bem cronologicamente, ou não batem exatamente
com a memória de seus contemporâneos, isso poderá ser devido
aos traumas que sua mente sofreu, não a uma deliberada intenção
de faltar com a verdade.
Mas simplesmente porque alguns tiveram problemas, não é
Lúcifer Destronado
D e s e r t o r e s d a s tre v a s
ou hábitos sexuais pervertidos, normalmente não é tão severamente
atingido como os três primeiros.
Tanto rapazes como moças podem sofrer maus-tratos, mas
as moças geralmente são vítimas mais frequentes, por motivos
diversos.
Como mencionado anteriormente, existem amplas variedades
de satanismo no mundo ocidental. Isto significa que há grandes
variações nos rituais, que, por sua vez, produzem diferenças sig-
nificativas no que diz respeito às vítimas. Não obstante, há certas
213
semelhanças que podem ser observadas nas pessoas que passaram
por ARS, mesmo naqueles posteriormente salvos. Na maioria dos
casos, passaram por:
• Situações em que foram forçados a tomar drogas (narcóticos
e alucinógenos), submeter-se à hipnose, em parte por motivos eso-
téricos ou alquímicos, em parte com o propósito de “desenvolver
o poder da mente”.
• Frequentes períodos de um forçado isolamento de seus pais
e/ou de todo contato humano.
• Molestação sexual num ritual, para assegurar a posse de-
moníaca da criança e perverter para sempre o ato sexual (que o
Senhor criou para ser algo bom) em sua mente e em seu coração.
Geralmente, a criança passa repetidamente por todo tipo possível
de perversão, muitas vezes sob o efeito de drogas alucinógenas.
• Participação forçada em sacrifícios rituais, tanto de animais
como humanos.
• Perversões de eventos bíblicos, em rituais — sendo crucifica-
do, açoitado, sepultado e depois “ressuscitado” pelo sumo sacerdote
satânico.
• Ritos pervertidos de batismo e comunhão, levando a ter
medo de água, de banheiras e banheiros e de pessoas em trajes
clericais. Crianças são “batizadas” com maior frequência de modo
a quase se afogarem na banheira. Às vezes, as pessoas são imersas
Lúcifer Destronado
em sangue.
• Uso de urina, drogas alucinógenas, sangue, sêmen ou fezes
como elementos, de “comunhão”, “água-benta” ou “óleo de unção”.
Isto causa medo de ser ungido e medo do sangue de Jesus.
• Indução forçada à pornografia infantil e à prostituição.
• Rituais de novo nascimento (zombaria à experiência do novo
nascimento cristão), às vezes induzido por meio de alucinógenos,
às vezes de um modo real. Isso significa a criança ser posta dentro
da carcaça costurada de uma vaca, ou égua, morta (ou ainda, mui-
214 to raramente, no ventre de uma mulher grávida morta que teve o
feto removido), ficando lá durante algum tempo. Então, é retirada
através do canal de nascimento e “nasce de novo”, recebendo um
novo nome satânico com o qual é “batizada”.
• Uso de minúsculas agulhas e pinos em áreas sensíveis do
corpo, especialmente naquelas relacionadas com os meridianos da
acupuntura. Uso também de eletroacupuntura e choques elétricos
de alta voltagem.
• Abortos forçados (para jovens adolescentes) ou ser forçada a
matar ritualmente o próprio filho.
• A infame experiência do “buraco negro”, em que uma criança
é pendurada pelos pés de cabeça para baixo num profundo e escuro
buraco cheio de coisas detestáveis (gatos mortos, excrementos, etc.),
ficando ali durante um dia ou dois.
• Processo de fragmentação da personalidade, deliberadamente
induzida.
Peço desculpas pelo conteúdo de mau gosto do que acabei de
expor, mas foi necessário, para esclarecer alguns dos problemas que
os sobreviventes do ARS enfrentam. Como se pode constatar, é um
verdadeiro testemunho do poder de Jesus Cristo o fato de que tais
pessoas possam até mesmo desempenhar as atividades mais sim-
ples depois de salvas dessas horríveis experiências — muitas delas
ocorridas em sua infância.
Algumas questões precisam ser esclarecidas, de modo que
vamos dedicar um capítulo ao exame da base racional para uso de
D e s e r t o r e s d a s tre v a s
drogas, hipnose e fragmentação da personalidade. Além disso, há
determinados sintomas físicos que podem ocorrer em pessoas que
passaram por esse tipo de abuso. Há muita gente que apresenta es-
ses sintomas sem nunca ter tido qualquer envolvimento com ARS,
mas a presença de mais de um ou dois deles pode ser significativa.
Alguns dos sintomas são bem conhecidos, e outros observamos em
nós mesmos ou em dezenas de pessoas com quem trabalhamos:
1. Fotossensibilidade aguda — não poder olhar para a luz do
sol ou luzes fortes. Também sensibilidade à iluminação fluorescente 215
e à emissão de microondas.
2. Anomalias químicas no sangue, incluindo o aparecimento
de raras substâncias químicas nos exames de sangue, sem causa
física conhecida. Também alteração do grupo sanguíneo (algo que
a ciência considera impossível).
3. Epilepsia do lado direito: embora possa ser uma enfermidade
cerebral, pode ser também sinal de a pessoa ter passado por ARS,
tendo, portanto, origem de natureza espiritual.
4. Estranhos tiques nervosos nas mãos e nos dedos — sinais
inconscientes, em que maldições reais estão sendo transmitidas por
meio de “mudras”, isto é, posições místicas na mão e nos dedos
que são uma versão ocultista da linguagem por sinais — em geral,
inteiramente desconhecidas da própria vítima.
5. Peso excessivo ou alimentação desordenada.
6. Longas falhas na memória da infância. Lembranças de ter
dormido por um longo período de tempo.
7. Dores de cabeça de origem desconhecida.
8. Problemas musculares e doenças genitais. Também disfunção
sexual ocasional.
Uma lista mais completa, que entra em maiores detalhes (para
uso, principalmente, por pastores e conselheiros) é apresentada no
Apêndice II.
Lúcifer Destronado
É p o c a s d e pe r i g o
A pessoa que se envolveu com satanismo pode ter associado cer-
tas épocas do ano a determinados eventos satânicos, tal como os
cristãos têm suas associações com o Natal ou com a Páscoa. Na
maioria dos casos, as associações que um ex-participante de ARS
tem são extremamente desagradáveis. Isso porque nos eventos ou
festas satânicas quase sempre a criança é forçada a tomar drogas, ou
é submetida à violação sexual, violência ou tortura e até a morte.
Estas lembranças não são nada iguais às que você possa ter do tipo:
216 “Quem me dera passar o Natal novamente com a vovó!”
Como existem diferentes “calendários litúrgicos” satânicos
por aí, usados pelos mais diferentes satanistas, dependendo de sua
tradição ou linhagem, esse assunto fica um pouco mais complica-
do. É como se algumas igrejas cristãs celebrassem o nascimento
de Cristo e outras, não. Vou começar com os eventos principais e
normalmente celebrados, passando depois aos demais.
Se você estiver ministrando a um sobrevivente de ARS, convém
conhecer quando ocorrem esses eventos, pois podem representar pon-
tos cruciais para a recuperação da pessoa. Uma pessoa suficientemente
sensibilizada poderá sentir a aproximação dessas datas com vários dias
de antecedência — com estresse, depressão ou medo. Poderá também
sentir efeitos posteriores durante vários dias após a data. Os ocultistas
chamam isso de influência do tipo “orbe”. Dependendo do grupo ou
do costume do grupo, os dias dos eventos variam um pouco, ou então
são celebrados no fim de semana mais próximo da data. A lista de datas
do calendário satânico acha-se no Apêndice I.
Uma potente arma que o inimigo tem em seu arsenal para
os sobreviventes do satanismo são os “gatilhos”. Um “gatilho” é
geralmente uma sugestão pós-hipnótica inserida profundamente
na mente do participante de ritual satânico. Tem o propósito de
enredar e prender a pessoa mentalmente e obscurecer lembranças
terríveis dos principais eventos. Mais adiante, daremos detalhes
acerca dos “gatilhos”. Por enquanto, eis um exemplo de como
podem ser usados com relação às datas do calendário satânico.
Os cristãos (e a maioria das pessoas no mundo secular) têm “ga-
D e s e r t o r e s d a s tre v a s
tilhos” emocionais relativos ao Natal, que lhes trazem lembranças,
associações e fortes sentimentos. Ao ouvir certo cântico, o “gatilho”
da pessoa dispara, atiçando sua memória ou despertando reações
emocionais. Isso, evidentemente, é totalmente normal e inocente.
Contudo, para o participante do satanismo, é possível que certas
imagens, palavras, músicas ou gestos sejam usados para reforçar os
comandos de esquecimento de certos acontecimentos dramáticos
por que passou. Por exemplo, se a pessoa foi levada a assistir a uma
cerimônia de partida de uma feiticeira num cabo de vassoura, num 217
dia de Halloween, poderá receber um “gatilho” que posteriormente
lhe bloqueie a memória do terrível ritual.
Um exemplo ainda mais sinistro seria o de um “gatilho” que
constitui uma palavra. Uma menina, ainda bem jovem, é drogada
e/ou hipnotizada e recebe o comando de que, ao ouvir determinada
palavra, terá de agir de certo modo. Assim, na véspera de uma festa
satânica importante, ela — agora já em idade adulta — recebe um
telefonema. Aquele que fala do outro lado da linha lhe diz então
aquela palavra do “gatilho” (é sempre uma palavra especialmente
escolhida que não de uso normal, possivelmente o nome de um
demônio). Ao ouvir a palavra, a mulher entra num transe passi-
vo, hipnótico, e sem alarde deixa a sua casa e vai para um lugar
onde se encontra com o pessoal do grupo. Estes o levam, então,
até um festim satânico e a forçam a participar de rituais profanos,
trazendo-a depois de volta para casa. Ela acorda, no dia seguinte,
não se lembrando dos horrores daquela noite (exceto com uma
vaga sensação de ter tido um terrível pesadelo). Mas ficou com
nova camada de malignidade, acrescentada à sua alma, já cheia de
sentimentos de tortura.
Quando retornarmos a este assunto, mostraremos como o
Senhor pode libertar a pessoa dessa prisão. Todavia, se você é um
crente com um chamado para a intercessão, é importante conhecer
as datas em que estas festas satânicas ocorrem, pois lhe servirá de
Lúcifer Destronado
D e s e r t o r e s d a s tre v a s
intensidade. Se a pessoa já está em Cristo, esses dias podem vir a
ser muito estressantes, com muitos pesadelos, impulsos e compor-
tamentos anormais.
5. 56o (7x8) aniversário — outro período bastante crítico.
Ocorrem também “gatilhos”. Não havendo orações adequadas e
intervenção pelo poder de Deus, os “gatilhos” poderão levar a pessoa
de volta ao grupo e a situações em que se verá forçada a abusar de
outras pessoas, completando assim o ciclo.
A puberdade é um período extremamente importante para a
219
criança que sofreu abusos, tanto sob o aspecto emocional como
espiritual. Os feiticeiros acreditam que a puberdade é quando
as habilidades mediúnicas “naturais” de uma criança começam a
alcançar seu pleno poder.
Especialmente para uma jovem, isso é tido como uma opor-
tunidade única para que seja explorada até o limite de sua capaci-
dade, de modo a extraírem dela o máximo grau de benefícios para
o grupo. Assim, é feito um esforço incrível para levar a jovem de
volta ao grupo — pela sua própria vontade, se possível, ou mesmo
contra sua vontade, se necessário.
É claro que nenhuma dessas coisas está rigidamente determi-
nada a acontecer, e o ex-participante do grupo que foi salvo por
Cristo poderá frustrar todos esses planos diabólicos. Louvado seja
o Senhor! No entanto, muitas vezes será necessário que haja oração,
aconselhamento e ação de libertação, para se livrar totalmente das
amarras de encantamentos, impulsos e gatilhos escondidos no seu
interior. Oração e vigilância são necessárias sempre para aqueles que
deixaram os grupos satânicos — especialmente em certas datas do
ano e na época de aniversário.
Se os cristãos, com muito amor, ajudarem as pessoas a se li-
vrarem de suas “cargas”, elas poderão triunfar sobre as trevas que
estejam insistindo se apossar delas e firmarem sua vida no Senhor!
É disso que na verdade elas precisam, e minha oração é no
sentido de que o Corpo de Cristo se faça presente para lhes oferecer
Lúcifer Destronado
tudo isso!
Notas
1
A organização de Larry Jones, Cult Crime Impact Network Inc., [Rede
Impacto de Crimes por Rituais Religiosos] edita um excelente boletim,
“File 18”[Arquivo 18]. Pedidos: P.O. Box 3696, Boise, ID — USA
83703-0696.
220
16
O P rofano graal
c ristão ou pagão?
A Bíblia não dá a menor importância ao cálice usado pelo Senhor
na Última Ceia. Mas será que o Graal é apenas uma superstição
romântica do catolicismo, semelhante à procura da relíquia da “Ver-
dadeira Cruz”? Ou será que há algo de tenebroso e sinistro por trás
desse objeto? É algo cristão, pagão, ou até, quem sabe, satânico? Para
entendermos isso, temos de voltar à minha dúvida pessoal.
Na Wicca dos dias de hoje, a lenda do Graal é um dos mitos
principais em torno do qual as bruxas alimentam sua tradição. Foi
a partir das minhas iniciações na Wicca para o segundo e terceiro
graus que comecei a entender por que esse assunto me fascinava
tanto. Aprendi que o Graal é um símbolo da Grande Deusa,
relacionando-se, particularmente, à deusa das trevas Cerridwen
graal
e seu caldeirão.
Na Wicca “oficial”, diz-se que a deusa tem três formas. É
O pr o f a n o
adorada como Deusa Virgem (lua nova), como Deusa Mãe (lua
cheia), e como decrépita Velha Sábia (lua minguante). Alguns ra-
mos cultuam ainda a deusa como amante e como irmã, de modo
a terem as cinco pontas do pentagrama (estrela de cinco pontas)
tão comumente visto em feitiçaria. 223
Cerridwen é o nome tradicional da deusa Decrépita. Aprendi
que na antiga lenda era ela a detentora do Caldeirão Negro da
Imortalidade. Deste caldeirão bastaria apenas um gole para se ter
incríveis percepções, sabedoria e poderes sobrenaturais. Dizem ter
sido deste modo que o maior dos poetas druidas,1 Taleisin, obteve
poderes — com apenas um gole do caldeirão!
Este mesmo caldeirão foi posteriormente “removido” (roubado)
do reino secreto de Annwyn por Artur e seus cavaleiros e usado
para fazer ressuscitar pessoas mortas.
O re i d e ou t r o r a e d o fu t u r o ?
Quando iniciante em feitiçaria, deixei-me levar pelo idealismo
das lendas do rei Artur. Na verdade, escolhi “Artur” como meu
nome de magia ao me tornar membro do grupo dos druidas.
Lia tudo o que me vinha às mãos a respeito do rei. Sua vida é um
dos mitos mais preservados da história dos povos de língua inglesa.
Nesses últimos anos, livros como As Brumas de Avalon, de
Marion Zimmer Bradley, revelaram as profundas raízes pagãs e de
bruxaria da lenda do rei Artur, mostrando, assim, por que ela é tão
importante para os feiticeiros. Pode ter existido ou não realmente
um rei Artur, mas isso não era o importante para nós. O que nos
Lúcifer Destronado
graal
atraente para mim. Até mesmo o episódio da trágica mudança
O pr o f a n o
de Guinevere (a esposa do rei Artur), cometendo adultério com
Lancelot (seu maior cavaleiro e amigo), e a subsequente destruição
da Távola Redonda continha estranhas nuanças bíblicas (Artur =
Jesus, Lancelot = Judas).
Toda essa nobreza, heroísmo e a alta qualidade dessa literatura
(via Tennyson, Mallory, etc.) foi usada para introduzir o Santo 225
Graal clandestinamente como um Cavalo de Troia, em nossa vida.
A busca do Graal constituía uma das duas tarefas mais importantes
do reino de Artur (sendo a outra a criação da Távola Redonda).
Dependendo de qual seja a versão da lenda que se esteja len-
do, um ou dois dos seus cavaleiros (Galahad e/ou Percival) de fato
descobrem o Graal, o que os leva a certa esfera celestial da qual eles
quase nunca retornam. Algumas lendas até mesmo mencionam que
Galahad morreu de êxtase e foi trasladado para o céu.
Q u a l é o se g r e d o d o graal?
Com a publicação, alguns anos atrás, de O Santo Graal e a Linhagem
Sagrada,2 ocorreu uma mudança repentina de rumos quanto a este
mistério. Os autores, Baigent, Leigh e outros, defendem a teoria
de que o Graal é símbolo de um segredo que (afirmam) poderá
derrubar o cristianismo. Dizem eles que a Igreja Católica tem man-
tido um segredo, que compartilha com uma sociedade secreta, o
Convento de Sião, por quase 2.000 anos. O segredo, em resumo,
é que o “Graal”, na verdade, é uma linhagem de sangue que recua
ao passado até a infância de Jesus e Maria Madalena. O Convento
de Sião seria uma antiga organização secreta oriunda dos Cava-
leiros Templários, responsável pela custódia dessa linhagem real.
Supostamente, o dirigente desse convento é um dos descendentes
Lúcifer Destronado
“ . . . O n d e a la n ç a e o graal se unem”
Considere o seguinte: todas as lendas dizem que o Graal se perdeu
(ou, pelo menos, que se acha escondido, isto é, oculto) e que é um
cálice do qual flui a imortalidade, a vida eterna.
Quando chegamos ao Terceiro Grau da Feitiçaria, aprende-
mos que o Graal é o símbolo da Deusa, assim como o punhal do
feiticeiro, ou Athame, é o símbolo do Deus Chifrudo. Quando
graal
entramos no sumo sacerdócio dos druidas, aprendemos algo bem
O pr o f a n o
mais significativo.
O ritual sexual (chamado de “o grande rito” em certas tradi-
ções da Wicca), que geralmente acompanha a iniciação ao terceiro
grau, pretende ser algo mais que um simples ato sexual. Por meio
de certa postura, dentro do ritual, acredita-se que um circuito é
fechado. É a fusão de dois sistemas nervosos. Do sistema nervoso 227
da sacerdotisa (i.e., do Graal) flui uma sabedoria sobrenatural.3 O
ritual, escrito por Aleister Crowley, diz em sua invocação:
graal
vez mais demoníaca. Estávamos metidos numa salada demoníaca
completa!
O pr o f a n o
N a s c i d o d e no v o ?
Muitos dos processos pelos quais passamos não dá para serem
descritos aqui por causa das perversidades envolvidas. No entanto,
229
com o passar dos anos, até mesmo eu comecei a ver algo por trás do
charmoso véu da lenda do Graal do rei Artur. Comecei a perceber
como todo esse processo era cativante e mortal. Tornou-se um ví-
cio sexual letal. Àquela altura, eu já me envolvera com a magia do
tipo transyuggothiana, e tínhamos acumulado quase todas as 12
correntes para alcançar nossa suposta vida eterna.
O perigo (que eu percebera como algo mais) era que, a cada
“corrente” a que me ligava, adquiria uma “bateria” completa de
“homens fortes” demoníacos. Isso acontecia porque o sexo pecami-
noso, fora do casamento, é uma grande brecha pela qual a opressão
demoníaca pode passar de uma pessoa a outra.
A mentira é que aquele que bebe do Graal, consumindo
energias sexuais do tantrismo (ioga sexual), tem a vida prolongada.
Quem conseguir ligar completamente as 12 partes desse processo
enigmático terá uma vida eterna. A pessoa torna-se um ser imortal,
um deus vivo sobre a terra.
Foi durante o antepenúltimo desses relacionamentos sexuais
blasfemos que senti algo que quase me levou à beira da loucura
total. Enquanto praticávamos o ritual, senti como se estivesse sendo
levado a outra realidade — um lugar e um espaço no interior de
Sharon e até além dela.
Encontrei-me ajoelhado numa enorme caverna, cercado por
um círculo de 13 mulheres vestidas com roupas bem estranhas.
Lúcifer Destronado
graal
da sua carne e bebesse do seu sangue nunca morreria.
Lembrei-me de ter lido isso em alguma parte dos evangelhos,
O pr o f a n o
então balancei a cabeça, em assentimento.
— Agora, você está a um passo do Graal. Você terá que beber
desse cálice para nascer de novo — declarou ela, apontando com
a mão para a fonte rosada, rudemente lavrada, bem no centro do
templo. — E então você estará em condições de ir para o décimo 231
segundo nível de poder.
Eu já tinha ouvido falar de nascer de novo, mas não sabia o
que isso significava. Obviamente, pensei que fosse algo que teria de
descobrir por mim mesmo. Com cuidado, então, me virei e cami-
nhei até a fonte. Sentia o olhar de cada uma das mulheres daquele
lugar fixo em mim. Abaixei-me sobre a fonte e fiquei surpreso ao
ver que a água era quente e tinha a aparência de um caldo grosso.
Esperando estar fazendo o que era certo, tomei um pouco daquela
água. Ela foi doce em minha boca.
Nem bem eu a tinha sorvido, vi que havia sido removido
daquele estranho templo. Senti que me movia rapidamente, pas-
sando por imensas distâncias, numa escuridão. Foi ficando mais
frio. De repente, e de um modo totalmente abrupto, vi-me sendo
lançado no piso do templo onde fazíamos nossos rituais, em casa,
encharcado de uma umidade sobrenatural. Sharon imediatamente
encontrava-se ao meu lado, preocupada. Eu estava dando risadinhas,
de um modo incontrolável. O sabor estranho daquele líquido, que
me saciara, estava em meus lábios, e eu me lembrava das últimas
palavras daquela mulher.
Achei que eu tinha nascido de novo e que estava pronto para
colocar a última peça naquele quebra-cabeça!
Notas
Lúcifer Destronado
1
Os druidas (palavra que significa “homens de carvalho”) eram antigos
sacerdotes pagãos, poderosos entre os celtas, com centros de preparação
sacerdotal espalhados por toda a Irlanda, Bretanha, partes da França
e Bélgica e até mesmo no distante sul do Egito. São precursores es-
pirituais da feitiçaria moderna. Praticavam sacrifícios humanos. Os
bardos (poetas druidas) eram o nível mais baixo desse sacerdócio, sendo
responsáveis pelo ensino da magia das canções, da música, da poesia e
dos sons vocais.
2
O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, tradução de Holy Blood, Holy Grail.
232 Publicado no Brasil pela Editora Nova Fronteira.
3
Para uma apresentação mais ampla deste ponto, e de seus grandes perigos,
veja Wicca, op. cit., pp. 189-197.
4
Stewart Farrar, What Witches Do [O Que as Bruxas Fazem], Coward,
McCann & Geoghegan, 1971, p. 94.
17
D issipando as trevas
D i s s i p a n d o a s tr e v a s
c om respeito à oração
O mais importante na vida de quem quer ganhar vidas para Cris-
to é... orar! O ganhador de Deus precisa orar para que Deus lhe
permita ter “encontros marcados”por ele, ou seja, encontros com
pessoas que já tenham sido preparadas pelo Espírito Santo e estejam
prontas para receber a mensagem de Cristo. Se você tem em mente
alguém que acha ser satanista, precisa começar a orar por tal pessoa 235
de um modo bastante específico.
Entenda que todos os que não estão salvos são idólatras. Isso não
quer dizer que tal pessoa tenha estátuas de pedra de uma divindade
gorda e agachada diante da qual se curve. Mas significa que, de fato,
todos têm alguma coisa, em sua vida, que é o seu “deus”.
Um dia eu estava testemunhando a um mórmon. Ele estava
pronto a arrepender-se e entregar a sua vida a Cristo, mas teve medo
de fazer isso por conhecer sua esposa e achar que ela se divorciaria
dele e levaria consigo as crianças. Sua família, por melhor que fosse,
tornara-se seu ídolo. Ela era mais importante para ele do que fazer
o que sabia ser o certo diante de Deus.
Cada ídolo traz consigo um conjunto de crenças. Para um
jovem executivo, seu conjunto de crenças inclui acreditar que te-
lefone celular e carros do ano são o segredo de uma vida realizada.
Para quem está numa seita, o que vale é a doutrina da sua seita.
Qualquer falsa doutrina ou idolatria constitui uma fortaleza que
precisa ser espiritualmente derrubada (2 Co 10.4-5), para que possa
ocorrer um sério avanço no testemunho.
Geralmente, isso é um problema com sérias consequências
para quem está numa seita, porque sua doutrina é efetivamente
sistematizada e bem estudada — e, quase sempre, imposta pelos
outros. É também, geralmente, assumida com considerável in-
vestimento pessoal. Muitos dos praticantes de uma seita se veem
Lúcifer Destronado
V i n h o no v o e m od r e s no v o s
A mesma reação ocorre com os satanistas, exceto, obviamente, que
por motivos bem diferentes. Assim, recomendamos que, sempre que
possível, sejam feitas orações fervorosas, antes de se testemunhar a
alguém, sobretudo se envolvido com feitiçaria
Se você pinta uma casa nova, basta passar primeiro uma tinta
de fundo e depois pintá-la. Isso é semelhante a testemunhar a uma
pessoa que nunca foi a uma igreja — a um “pagão”. Todavia, se
você precisa repintar uma casa velha, então a coisa é diferente. A
velha pintura precisa ser removida de algum modo, para depois
aplicar-se a nova tinta, em várias demãos. Se você simplesmente
tentar passar a nova tinta sobre a velha, sua pintura poderá ficar
D i s s i p a n d o a s tr e v a s
cheia de bolhas ou, então, descascar em pouco tempo.
Jesus nos explicou isso, dizendo:
Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vi-
nho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres.
Mas põe-se vinho novo em odres novos (Mc 2.22).
Embora, neste contexto, o Senhor estivesse se referindo aos
velhos princípios da tradição judaica, comparando-os com o
seu ensino, o mesmo pode se aplicar a qualquer outra tradição
237
humana, quando ela conflita com o evangelho da salvação. O
modo de remover a velha pintura (a fortaleza) é mediante uma
poderosa oração intercessória. É necessário orar para que sejam
amarrados os espíritos de engano e de mentira (1Tm 4.1), pois
impedem que o satanista ouça e veja a verdade de Jesus — pelo
menos por algum tempo. Em seguida, ore para que o Senhor dê
a você a oportunidade de encontrar-se com a pessoa quando a
interferência demoníaca esteja amarrada e minimizada, de modo
que você possa falar de Jesus.
Tenho visto que um procedimento assim é bastante eficaz. O
que se torna patente é que, conquanto o Senhor não interfira na
decisão final do livre-arbítrio da pessoa, podemos orar no sentido
de que os espíritos demoníacos, que estejam impedindo a pessoa de
ver a verdade, sejam amarrados o suficiente para que ela seja “toda
ouvidos” para a Verdade.
Muitos ficariam impressionados se vissem o que ocorre no
mundo espiritual quando estão testemunhando a incrédulos. Sem
oração, nuvens de “diabinhos” ficam zunindo em torno da cabeça
da pessoa como se fossem mosquitos, tentando distraí-la, confundi-
-la e até mesmo cegando-a ou ensurdecendo-a quanto puderem.
Também haverá interferências externas, como um telefone que
toca, crianças que choram, e assim por diante.
Certa vez, testemunhávamos numa rua da “cidade mórmon”,
Salt Lake City, a um jovem adepto dessa seita, e estávamos perto
Lúcifer Destronado
D i s s i p a n d o a s tr e v a s
3. para que durante o testemunho, não haja nenhum embaraço,
nem interrupções ou perturbações;
4. para que os espíritos de engano sejam amarrados e fiquem
longe da pessoa;
5. para que o sangue de Jesus prevaleça no ambiente ao redor
e haja a proteção dos anjos;
6. por fim, mas certamente da maior importância, para que o
Espírito Santo traga entendimento e convencimento àquela pessoa.
239
“............................
Lúcifer Destronado
D i s s i p a n d o a s tr e v a s
o bom e o mau, tornando-se um deus vivo e egocêntrico. Praticam
sacrifícios de sangue e, eventualmente, até a morte humana. Você
terá que se certificar muito bem disso, ao julgar haver encontrado
um desses. Não são muito comuns!
5. “Santos” satânicos: completamente possuídos pelo demô-
nio, com certeza já cometeram até sacrifício humano. São os equi-
valentes satânicos dos grandes homens de Deus, e extremamente
raros. Se encontrar um deles, provavelmente não o reconhecerá
como tal, exceto mediante o discernimento de espíritos. São astutos, 241
carismáticos, habilidosos e muito poderosos. Se você for levado a
compartilhar Cristo com um deles, todo o poder que ele tem ficará
como nada diante da unção do Espírito Santo. Saiba que satanistas
deste nível já foram salvos!
Quase sempre, você conhecerá apenas satanistas dos dois
primeiros tipos, e eventualmente os do terceiro. E isto acontecerá
apenas no caso de você os procurar. Entenda que os satanistas são
aves raras, embora, infelizmente, os dois primeiros níveis estejam
crescendo entre os jovens.
A segunda parte do diagnóstico deve ser a de procurar saber
como foi que a pessoa se tornou satanista. Perguntar não ofende. Tal
como acontece com os cristãos, os satanistas gostam de compartilhar
como foi que eles se “converteram” ao inimigo. Veja algumas das
situações mais comuns:
1. Jovens atraídos, geralmente, por promessas de poder.
2. Oferta de facilidades na prática do sexo e uso de drogas.
3. Desejo de sabedoria oculta ou de sentir-se fascinado pelo
que é misterioso.
Estes três primeiros motivos aplicam-se tanto no caso de fei-
ticeiros da magia “branca” (participantes da Wicca, por exemplo),
como de satanistas. As causas a seguir referem-se unicamente aos
convertidos ao satanismo:
Lúcifer Destronado
242
Q u e s t ã o d e confiança
Numa abordagem com os satanistas dos dois primeiros grupos [de
nível mais baixo e médio], muitas vezes é útil começar com uma
indagação sobre como foi que a pessoa entrou no satanismo e por
que veio a crer dessa forma. O satanismo, tal como qualquer outra
seita, envolve a rejeição da autoridade de Deus, substituindo-a por
alguma outra coisa (muitas vezes pelo próprio “eu”).
Alguns satanistas dirão que entraram e permaneceram nessa
situação porque tal heresia para eles “funcionou”, porque seus ensi-
nos lhes fizeram sentido e, possivelmente ainda, porque o satanismo
lhes deu “um significado para a vida”. Talvez eles tenham feito
algum ato de magia e constataram que “funcionou”. Sua vida de
algum modo deve ter sido favorecida pela magia. É um raciocínio
pragmático, que pressupõe que, se algo funciona, é bom. Mas o
pragmatismo não tem validade bíblica.
Sua tarefa como ganhador de almas é, então, identificar (e
destronar) o principal ídolo dos satanistas e comunicar a eles certas
verdades acerca de Jesus. Significa ainda que você terá que desman-
telar os dados errados que o satanista tem sobre sua própria religião
e sobre a fé cristã.
No capítulo 19, iremos considerar determinadas abordagens
que reputamos de grande eficácia no que diz respeito a alcançar os
satanistas.
D i s s i p a n d o a s tr e v a s
243
18
Falando do inferno
A p o c a l i p s e te n e b r o s o
No momento em que este livro era escrito, outro ciclo de produ-
ções está glorificando aquele que é o padroeiro do vampirismo,
Vladislau Basarab — também conhecido como Vlad Tepes (Vlad,
o Empalador) ou Vlad Drácula. Um filme que se destaca nessa
linha é o que foi produzido por um diretor de renome, que fez
uso de custosos cenários, vestuários e efeitos especiais, visando a
246
seduzir ainda, por mais de uma década, muita gente para “templos”
cinematográficos profanos.
A cada dez anos mais ou menos, pode-se contar com o fato
de Hollywood fazer ressuscitar Drácula, e assim temos uma nova
enxurrada de filmes sobre vampiros. O que estão querendo nos
vender? A mentira da juventude eterna e da beleza eterna nunca
foi tão sedutora, e seu custo nunca foi tão grande como agora. Sei
disso, porque eu mesmo fui totalmente enganado por essa mentira.
E vi qual é o inimaginável preço a ser pago.
Como foi que cheguei ao ponto de desejar deixar de lado
tudo o que é normal na humanidade para provar o gosto do que
eu acreditava ser a imortalidade? Não acordei numa certa manhã
sendo “um vampiro em treinamento”. Como vimos, foi um processo
gradual de sedução, achando eu que estava juntando as peças de um
imenso e altamente secreto quebra-cabeça cósmico. Naturalmente,
as forças das trevas que me manipulavam não tinham misericórdia
alguma para comigo.
Começando com a prática de um modesto mal na Wicca e
no espiritismo, fui descendo — em dez anos — a um emaranhado
de terror sangrento, do qual eu já duvidava que pudesse escapar.
Mas, na maior parte do tempo, nem mesmo queria escapar. A
“metamáquina” dentro de mim era que me governava quase que
inteiramente. Eu me encontrava postado numa verdadeira encru-
zilhada, sedento de sangue.
O culto vampirista — pois era isso mesmo — seria o passo final,
o mais abominável de todos, em minha participação no satanismo. Por
F a l a n d o d o in f e r n o
um estranho fato acidental, logo depois do meu encontro com “Maria
Madalena” as terríveis asas negras desse culto vieram bater contra mim
numa Igreja Ortodoxa Russa da cidade de Chicago.
A primeira vez que fui levado para lá foi pelo homem que me
consagrara como bispo gnóstico na Igreja Católica Romana Antiga
de rito sírio-jacobita. A Igreja Católica Gnóstica é uma mistura
do catolicismo romano com a Igreja Ortodoxa e o satanismo de
Crowley. Foi nessa igreja que eu acabei fazendo contato com os
poderes que me levaram mais a fundo no ramo do vampirismo, 247
dentro da confraria.
Um princípio básico que tanto o antigo como o moderno gnos-
ticismo adotam é o princípio do dualismo (a absoluta necessidade
do bem e do mal). Fui levado a acreditar que Vlad Drácula era
necessário como um “Cristo” das trevas, um Cristo “antimatéria”
— para usar palavras da Física moderna —, a fim de contrabalançar
o sacerdócio de luz branca de Jesus.
Era vital, assim, que eu vestisse o manto da ordem do sacerdócio
de Drácula, tal como eu pensava ter vestido o manto do sacerdócio
de Jesus por meio do catolicismo e da Igreja Ortodoxa.1 Seria a
linha final da autoridade apostólica que eu buscava.
Para tanto, teria de receber treinamento e me desenvolver nesse
sacerdócio. Designaram-me um mentor que me ensinou uma forma
de cristianismo incrivelmente distorcida.
Fui ensinado que o Evangelho de João era um documento
secreto com tremendos “segredos gnósticos” nele ocultos e que
o seu autor, o apóstolo, ainda caminha na terra nos dias de hoje,
como um vampiro, com cerca de 2.000 anos, tendo sido iniciado
no vampirismo pelo próprio Jesus! O apostolado de João, embora
enraizado no que hoje é a Maçonaria, teria levado seus devotos a
uma consumação sacramental de sangue e órgãos humanos para
propiciar a vida eterna.
Fui ensinado também que o primeiro Nosferatu (palavra
Lúcifer Destronado
O sa n g u e e a vi d a
A pedra angular da existência e sobrevivência do culto satanista
está realmente no ritual central do catolicismo e da Igreja Ortodo-
xa, ou seja, na eucaristia (missa), ou “liturgia divina”. Em pouco
tempo, descobri o elo vital entre Nosferatu e a doutrina da tran-
substanciação (que é a crença de que o pão e o vinho literalmente
se transformam no corpo e sangue de Cristo).
Com muita avidez, fiz com que meu corpo se alterasse gra-
dualmente, mediante injeções de certas ervas e drogas, acreditando
estar seguindo os passos de João, o discípulo amado. Gradualmente,
meu apetite para comer começou a diminuir, e minha sensibilidade
à luz do sol marcantemente aumentou.
Finalmente, numa noite especial foi-me dada permissão para eu
chupar o sangue das veias do meu mentor. Desse modo, o “vírus”
do vampirismo me foi passado. Comecei a querer apenas sangue, e
quase nada mais me dava vontade de comer ou beber. E lá, numa
capela sem janelas, iluminada apenas à luz de velas e carregada de
ícones ortodoxos, foi que aprendi o verdadeiro significado da “divina
F a l a n d o d o in f e r n o
liturgia”.
Acredita-se, no vampirismo, que um vampiro para sobreviver
tem que ingerir uma substancial quantidade de sangue a cada dia,
do mesmo modo que os humanos têm de ingerir alimentos. O ideal
seria consumir, a cada dois dias, o volume equivalente de sangue
que há num corpo humano, para não adoecer ou morrer de fome.
Assim, a “solução de Jesus” para o seu sacerdócio vampírico
teria sido a “magia” da transubstanciação. A doutrina católica e
ortodoxa ensina que todo o corpo de Jesus acha-se contido na 249
hóstia. Do mesmo modo, todo o sangue de Jesus — o sangue de
um jovem de 33 anos do sexo masculino, ou seja, cerca de 4 litros e
meio, está miraculosamente contido dentro de um cálice de vinho.
Ora, como todos os membros do sacerdócio nosferático são
também sacerdotes católicos ou do rito ortodoxo oriental, todos
teriam o poder de produzir, em sua liturgia, a cada dia, mais do
que o necessário de “sangue” sacramental para satisfazer sua sede. E
sangue verdadeiro (pelo que acreditávamos).
Os sacerdotes católicos devem, pela lei canônica, celebrar
a missa a cada dia, exceto por motivo de enfermidade ou devido
a alguma séria emergência. Assim, no sacramento do vinho trans-
formado em sangue, tínhamos um suprimento fácil para a nossa
necessidade, sem ter que sair por aí atacando as pessoas como fazem
os vampiros dos filmes. A única razão para chupar sangue de uma
pessoa viva era ou por simples prazer ou para iniciá-la no culto do
vampirismo.
Em poucos dias, constatei que vivia quase que exclusivamente
dos elementos do rito da comunhão, mais o uso eventual do san-
gue das voluntárias sacerdotisas do nosso grupo. Também me foi
ensinado que eu teria de criar um espaço sagrado no altar (espécie
de ataúde), com determinadas medidas específicas, para que nele
periodicamente me deitasse para restaurar as energias.
Era sobre esse altar/ataúde que as missas eram celebradas,
Lúcifer Destronado
U m a vi s i t a d e Dr á c u l a ?
Estas práticas começaram a se espalhar entre os participantes de
nossos grupos de feitiçaria num círculo cada vez maior. De modo
geral, tornaram-se mais populares entre as mulheres do que entre
os homens, talvez porque os homens se intimidassem diante da
possibilidade de perder a sexualidade.
Infelizmente, pelo menos dois casais tiveram que se separar
porque a esposa optou pelo vampirismo em vez de seu marido.
Era muito grande o poder voluptuoso de desejar e dar sangue.
Duas de nossas sacerdotisas chegaram até mesmo a exigir de nós
que formalmente as iniciássemos nos mistérios nosferáticos. Isso
exigia a celebração de uma “missa de São Vlad”, na qual um rum
sacramental era usado no lugar do tradicional vinho vermelho. Era,
essencialmente, bastante semelhante à liturgia ortodoxa, exceto por
óbvias diferenças. O “rito da comunhão” consistia de uma blasfema
paródia do que aconteceu com Jesus na cruz. De início, eu chupava
o pescoço da iniciante até que ela desmaiasse, pela perda de sangue.
Em seguida, abria o meu peito, e a candidata chupava muito do meu
sangue. Isso supostamente transmitia uma estranha e demoníaca
“enzima” para o corpo dela, passando, então, a transformá-la numa
F a l a n d o d o in f e r n o
sacerdotisa de Nosferatu. Por fim, a missa terminava fazendo com
que ardesse em chamas o líquido alcoólico usado no sacramento
(supostamente transubstanciado no sangue do próprio Drácula).
Invocávamos, então, Vlad para vir e sorrir diante da criação de sua
nova “filha”.
Críamos que, após a morte, tanto eu como as mulheres inicia-
das ressuscitariam como um Nosferatu de puro sangue. Seríamos
seres imortais que viveríamos por séculos, não mais na condição
251
híbrida de meio-vampiro e meio-homem.
Com a última mulher com quem fizemos essa iniciação, acon-
teceu um fato extraordinário, que nos apavorou. Chupamos sangue
um do outro, como sempre fazíamos, mas no final do ritual, quando
eu tinha começado a invocação de Vlad e acendi o cálice cheio do
rum sacramental, ele resplandeceu com um brilho maior do que
um maçarico de acetileno. Não havia nada de especial naquele rum;
era da mesma garrafa que sempre usávamos. Entretanto, a chama,
zunindo, ficou com quase um metro de comprimento a partir da
taça. O local encheu-se de chamas multicoloridas e exóticas, como
nunca tínhamos visto.
Consegui com dificuldade terminar a invocação. O calor e o
poder naquela sala ficou tão opressivo que quase caímos de joelhos.
O cálice começou a derreter com o forte calor. Podia sentir o poder
de Drácula sendo derramado sobre mim como se fosse um sangue
fervente e fumegante.
A mulher que estava sendo iniciada sentiu isso também. Pa-
recia uma “bênção” especial que nunca fora dada antes. Ela ficou
excitada com aquela experiência fora do comum. E eu iria ver, em
breve, como o que tinha acontecido afetaria de um modo bastante
incomum a minha vida.
colhendo tempestade
Lúcifer Destronado
F a l a n d o d o in f e r n o
Foi impressionante, pois ela estava tendo tanto prazer naquilo que
não queria parar, mas eu perdi o controle e chupei tanto do seu
sangue que ela ficou inconsciente. Ficou tão pálida e inerte que
pensei que a tivesse matado. Felizmente, ela voltou a si e até mesmo
afirmou ter tido uma experiência mística durante o tempo em que
ficou “apagada”. Saiu da capela enfraquecida, sem noção alguma
do que havia acontecido.
Comecei a ficar apavorado! Minhas jornadas noturnas pela
cidade de Milwaukee, no meu serviço de entrega de jornais, cada 253
vez me torturavam mais. Acontecia principalmente quando eu via
uma prostituta, tendo que lutar contra um ímpeto animalesco que
surgia dentro de mim, um forte desejo de que ela ficasse sozinha
para eu cair em cima dela como um leão em cima de uma gazela.
Sabia que era apenas uma questão de tempo para ceder aos
impulsos que agora me dominavam em todo o tempo em que
estava acordado. Procurava evitar o noticiário, agora, insistente de
casos de mulheres que apareciam assassinadas em circunstâncias
misteriosas e sem solução. Cheguei a pensar que tivesse uma du-
pla personalidade, e que era eu quem estava lá matando aquelas
mulheres, à noite. Nunca houve evidência alguma de que isso fosse
verdade — louvado seja o Senhor! No entanto, enquanto a culpa
me atormentava, a máquina monstruosa dentro de mim exultava-se
com a lascívia pelo sangue. Senti que estava amarrado a um ciclo
descendente, que somente poderia terminar com a morte, ou a
loucura ou a prisão.
Foi nesse tempo de desespero que o Senhor Jesus Cristo entrou
em minha vida. Os capítulos finais deste livro vão demonstrar e
testemunhar o fato de que Jesus pode salvar totalmente até mesmo
alguém tão horrendo e desgraçado como eu tinha me tornado!
♦♦♦♦
Lúcifer Destronado
F a l a n d o d o in f e r n o
na infância (conforme quatro casos reais posteriormente
citados), eles se cortam e chupam o seu próprio sangue, ou
ingerem o sangue de um animal, para conseguir superar forte
desejo ou devaneio pelo derramamento de sangue, tudo isso
associado aos mortos e a uma identidade inconstante. São
pessoas inteligentes, sem casos de patologia mental ou social
em sua família (...).
O vampirismo pode ser a causa de repetidos e imprevisíveis
255
casos de assaltos e assassinatos e deve ser detectado em crimi-
nosos violentos que se mutilam a si mesmos. Não se conhece
um tratamento específico.6
3
Prins. Herschel Vampirism, Legendary or Clinical Phenomena?; Medici-
ne, Science, and the Law [Vampirismo, Lenda ou Fenômenos Clínicos;
Medicina, Ciência e a Lei], 1984, 24, pp. 283-293.
4
Noll. Richard Vampires, Werewolves and Demons — Twentieth Century
Reports in the Psychiatric Literature [Vampiros, Lobisomens e Demônios
— Registro, no Século 20, na Literatura Psiquiátrica], 1992, pp. 16-18.
5
Bourguignon. A. “Vampirism and Autovampirism” [Vampirismo e
Autovampirismo], publicado em Sexual Dynamics of Anti-Social Beha-
vior [Dinâmica Sexual do Comportamento Anti-Social], Schelesinger
& Revitts, editores, 1983.
256 6
Hemphill R. E. & Zabow. T. Clinical Vampirism [Vampirismo Clí-
nico], uma apresentação de três casos e reavaliação do caso de Haigh,
o “Assassino dos Banhos de Ácido” — South African Medical Journal,
1983, v. 63, pp. 278-281.
19
Testemunhando a um
adorador do diabo
T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
3a – O autor pode ter misturado algumas verdades com falsi-
dades ou erros.
4a – Pode ter mentido intencionalmente.
Isto significa que, na melhor das hipóteses, há 75% de pro-
babilidade de a pessoa estar enganada — tanto intencional como
acidentalmente. Mostre que esses livros foram escritos por homens
ou mulheres, e que os seres humanos podem estar errados e serem
enganados. Pergunte-lhe qual a razão para confiar nas opiniões dessas
pessoas. As respostas do satanista poderão estar entre as seguintes:
1a – “Isso me parece estar certo.”
2a – “O que ele escreve faz sentido, neste mundo tão sem sen-
tido.”
3a – “São magos ou sábios e poderosos, e devem saber o que
estão dizendo.”
4a – “Os rituais da magia que me ensinaram funcionam. Por 259
isso, creio que eles têm entendimento sobre o cosmo.”
Esta pode ser uma boa oportunidade para você dizer que poderá
indicar-lhe um livro que foi escrito por Alguém bem mais sábio e
inteligente do que aquele autor. Explique as razões que autenticam
o seu livro de um modo que nenhum autor da magia não pode
nem pretender chegar perto.
A hora do “duelo”
Esta é a hora de pôr a Bíblia Sagrada à prova. Faça com que
o satanista perceba que há um modo objetivo e científico
(reforce bem esta palavra) para determinar quem deve merecer
nossa confiança: os “gurus” satânicos, que escarnecem de Deus
e da Bíblia, ou Jesus Cristo e sua Palavra. A pessoa certamente
concordará que as duas posições são mutuamente excludentes:
ou uma ou outra.
Em outras palavras, mostre-lhe que, logicamente, é impossível
que o satanismo tenha uma teologia correta e, ao mesmo tempo,
que a Bíblia seja verdadeira. Os satanistas obviamente não têm
respeito algum pela Bíblia; assim, é por aqui que você pode come-
çar a detonar os “pastores idólatras” deles, exaltando a Palavra de
Deus. É sempre uma melhor estratégia — tanto espiritual como
psicologicamente — começar a louvar o que é precioso para Deus
Lúcifer Destronado
T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
com o outro.
• Todo escriba fazia com que o tamanho médio das letras na
cópia fosse o mesmo que o do original.
• Um borrão qualquer de tinta sobre a cópia a invalidava
totalmente, e ela era destruída no fogo. Isso por causa, sobretudo,
da natureza da grafia do hebraico, que consiste de pequenos traços
com a pena, que poderiam ser confundidos com pequenas manchas
de tinta.
• Não era permitido que o escriba copiasse mais do que uma
única palavra por vez; a cada palavra, ele tinha que olhar para o
original.
• O escriba obtinha, também, o valor total numérico da página,
somando o valor de cada letra, pois as letras hebraicas representam
também números. A soma da página original tinha que ser igual à
da cópia.
Outra prova de que foi Deus quem escreveu a Bíblia é que ela 261
prevê o futuro com 100% de precisão. Diga a seu amigo satanista
que, diferentemente dos médiuns e feiticeiros, como se vê na im-
prensa secular, a Bíblia tem centenas de profecias, e o cumprimento
de cada uma delas já ocorreu, sem falha alguma.
O próprio Deus nos pede que usemos suas profecias como
teste, comparando-o com outros “deuses”:
Declarai e apresentai as vossas razões. Que tomem conselho
uns com os outros. Quem fez ouvir isto desde a Antiguidade?
Quem desde aquele tempo o anunciou? Porventura, não o fiz
eu, o Senhor? Pois não há outro Deus, senão eu, Deus justo e
Salvador não há além de mim (Is 45.21).
T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
centenas de anos antes de ele ter nascido. Assim, as profecias não
foram escritas posteriormente aos fatos. Destaque ainda para o
satanista que a Bíblia é o manuscrito antigo mais bem examinado
e atestado. Isto significa que o número de cópias antigas que temos
das Escrituras para fazer comparações cruzadas são substanciais
(milhares, na verdade), e de datas relativamente bem próximas do
tempo em que os eventos foram escritos. Por exemplo, a precisão
histórica e a verdade da Bíblia têm uma comprovação muito maior
do que, digamos, as obras de Homero (A Ilíada ou A Odisseia).
Assim, são os satanistas que têm de apresentar provas, para refutar
a veracidade da Bíblia.
Por outro lado, destaque que os “heróis” deles (LaVey,
Crowley, Aquino, etc.) e os seus “livros sagrados” fizeram bem
poucas profecias, para não dizer nenhuma, e que os registros
de cumprimento delas são absolutamente desanimadores. Por
263
exemplo, LaVey escreveu em seu livro The Satanic Rituals [Rituais
Satânicos] (1972)4 a respeito do avanço da ideia de Jesus Cristo
na cultura ocidental. De acordo com sua predição, no final da
década de 1980. Jesus seria apenas uma memória desvanecente
de um conto de fadas na mente da sociedade. Evidentemente,
isso não aconteceu. A Igreja Cristã está viva, e muito bem viva, e
dezenas de milhares de novos crentes estão surgindo a cada dia.
Jesus não é apenas uma saudosa lembrança ultrapassada. É a força
mais vital na sociedade de hoje.
Se Satanás fosse esse grande deus, como dizem, por que nem
ele nem seus “profetas” são capazes de predizer com precisão o
futuro? Por que não dão ao seu povo senão vagos pronunciamen-
tos públicos de descontentamento, batendo no peito como um
decrépito gorila de idade avançada tentando impressionar alguém?
Por que não lhes dá algo em termos científicos e com números
que possam ser examinados?
O satanista precisa encarar essa questão, se está disposto a
examinar os fatos com honestidade. Nosso Deus pode predizer o
futuro com uma precisão absoluta e impressionante. O deus deles
não pode fazer isso. Um a zero para o Deus da Bíblia!
Mostre-lhes o Senhor
Lúcifer Destronado
T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
poderá tornar-se um tempo bastante turbulento — especialmente
quando as crises surgirem —, abalando a fé juvenil. É importante
lembrarmos o que temos de fazer:
Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda
quando for velho, não se desviará dele. (Pv 22.6)
T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
acreditem que ele fosse demente.
Assim, para muitas pessoas, a alternativa é que Jesus foi, e é,
quem ele declarou ser: o Deus Todo-Poderoso!
T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
uma delas o que pensa a respeito de cálculo integral!
Se o satanista não foi muito longe pela estrada da rebeldia,
pode-se mencionar ainda que muitas das leis feitas pelos homens
baseiam-se na sabedoria da Bíblia (veja ainda 1Co 1.24; Cl 2.2,3;
Pv 8.22-36).
4. Jesus deve ser glorificado como aquele que nos amou a ponto
de morrer por nós (Rm 5.8)
Aqui chegamos a um ponto em que as pessoas não se sentem
bem à vontade, e muitos não querem falar a respeito disso, espe-
cialmente no caso de um satanista. Ele é geralmente agressivo e
egoísta, considerando isso uma virtude. É por isso que, em muitos
casos, os satanistas nunca viram o amor ágape, altruísta, em ação.
Esclareça que Cristo não rejeita ninguém que vem a ele, nem
mesmo quem o tenha rejeitado, como no caso do satanista. Ele 269
sofreu uma terrível e pavorosa execução, morrendo por todos,
inclusive pelos satanistas. Muitos satanistas não receberão esta
palavra ou até mesmo zombarão dela. No entanto, alguns serão
realmente tocados por ela, e outros serão influenciados, embora
não o demonstrem de imediato.
Diga ao satanista que mesmo que fosse ele a única pessoa no
mundo que necessitasse de salvação, Jesus teria morrido por ele.
E que ele deu a sua vida mesmo sendo Deus. Mostre que a morte
de Jesus não foi um sacrifício humano para Lúcifer coisa alguma,
mas foi o modo pelo qual Deus nos mostrou quanto ele nos amou
e, assim, satisfez as exigências de sua perfeita justiça.
Todos esses pontos são praticamente iguais aos que seriam
abordados em qualquer diálogo em que se esteja buscando ganhar
almas. Apenas é preciso enfatizar que os satanistas (como qualquer
outra pessoa) são muito carentes de amor, de um amor não egoís-
ta. Estão acostumados a não serem amados, e sim manipulados e
abusados. Este assunto de fato os impressiona. Não tenha medo
de falar com eles sobre isso!
Q u e r ap o s t a r ?
Embora esta não seja a única maneira de fazer com que um satanista
ou feiticeiro “se renda” a Jesus Cristo, a abordagem descrita a seguir
costuma ser bastante eficaz. É uma abordagem clássica e baseia-se
na obra de Blaise Pascal, o grande filósofo, cientista e matemático
cristão. A linguagem de programação chamada Pascal tem esse nome
por causa dele. Esta abordagem é chamada de “Aposta de Pascal”,
porque basicamente ela reduz a eternidade a um jogo.
Em última análise, todo mundo faz o jogo de Pascal, quer saiba
disso ou não. Todos nós escolhemos “apostar” em um dentre dois
concorrentes: o disputante chamado “o cristianismo é verdadeiro”
ou seu adversário, “o cristianismo é falso”. Eis como se procede.
T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
Diga ao satanista:
“Se o cristianismo for falso, não sendo ‘o único caminho’, e se
você seguir seus ensinos e Senhor, o que tem a perder? Seus prin-
cípios éticos são admiráveis. Por observar os Dez Mandamentos e
as Bem-Aventuranças, isso não prejudica em nada o seu “carma”,
não é? Você terá uma vida pacífica e alegre, e por fim partirá, até
a sua (suposta) próxima reencarnação. Na pior das hipóteses, o
cristianismo e seus ensinos melhorariam, até o seu carma.
“Por outro lado, se o satanismo for falso, e a declaração de
Jesus — que ninguém vai ao Pai a não ser por ele (Jo 14.6) — é
verdadeira, e você seguir o satanismo, então estará num tremendo
perigo espiritual! Você estará fora da vontade de Deus e adorando
falsos deuses. Então, estará correndo um grande risco!
Enfim, se você seguir o cristianismo e tiver sido enganado, não
perderá quase nada. Mas, se seguir o satanismo, e estiver enganado,
271
perderá tudo!”
É um lance que só possui duas alternativas. Mas essas alterna-
tivas são, na verdade, a vida ou morte eternas. Se o satanista estiver
errado, passará a eternidade no inferno.
Alguns satanistas poderão querer negar a existência do inferno
ou então dizer que o inferno é uma festa. Apresente-lhe de novo a
pergunta: “Por que você acredita nisso? Qual é a evidência mate-
mática e científica de que você dispõe para descartar o que Jesus e
a Bíblia dizem com tanta clareza?”
Outros satanistas vão querer discutir sobre como um Deus
supostamente tão bom pode fazer um lugar assim como o inferno
e mandar pessoas para lá. Mostre que Deus não fez o inferno para
os seres humanos, mas para o diabo e seus anjos (Mt 25.41). Além
disso, deixe claro que as pessoas é que se deixam ir para lá, pois
rejeitam a oferta de vida eterna que Deus lhes oferece de um modo
incrivelmente fácil e de graça. Se Jesus tivesse tornado a salvação
algo muito difícil de alcançar, então as pessoas teriam argumentos
e questionamentos válidos. Mas ele fez com que a salvação seja tão
fácil que até mesmo uma criancinha do jardim da infância pode
entendê-la. Mostre que, diferentemente de Satanás, Deus não é
esnobe. Ele aceita as pessoas como estão e as salva de seus pecados:
— basta que lhe deem o seu consentimento.
Esta escolha, quem tem de fazer é o satanista.
Lúcifer Destronado
Notas
1
MacDowell Josh. Evidence That Demands a Verdict, v. I e II. Here’s Life
272 Publishers, 1989.
2
Ibid., p. 167.
3
Stoner Peter. Science Speaks, An Evaluation of Certain Christian Evidences
[A Ciência Fala, Uma Avaliação de Certas Evidências Cristãs], Moody
Press, 1963, p. 80.
4
LaVey Anton. The Satanic Rituals. Avon Book, 1972.
20
Descendo na
contramão
“ R e a l m e n t e ne a n d e r t a l ! ”
Quando eu estava enfrentando esse dilema, recebi um bilhete que
mudaria para sempre o curso da minha vida. Por mais curioso
que possa ser, o que veio mudar minha vida era uma simples cor-
respondência bancária. Dentro dela, estavam os meus cheques já
compensados, que sistematicamente o banco me devolvia. Quando
os peguei para conferir com os meus controles pessoais, um deles
chamou a minha atenção.
Era um cheque que eu havia enviado para a Igreja de Satanás.
No cheque, escrito com uma letra de mulher, havia a frase: “Vou
orar por você, em nome de Jesus.” Presumi que deveria ser uma
pessoa cristã achando que eu estaria enfrentando problemas e que,
por essa razão, tinha enviado dinheiro para a Igreja de Satanás.
Deveria ser um “mehum” totalmente “por fora”, pensei eu, não
entendendo que Jesus na realidade era um feiticeiro. Apenas dei
uma risada e coloquei o cheque em meus arquivos. Mas meu
riso não durou muito. Nos dias seguintes, senti como se alguém
tivesse desligado todo o meu poder por meio da magia. Senti-me
doente, fraco e desolado! Como o tipo de magia com o qual estava
envolvido era extremamente poderoso e compulsivo, eu estava sob
uma forte aflição! Imagine o que deve um viciado em drogas
sentir quando é forçado a interromper seu vício, e multiplique
isso várias vezes.
D e s c e n d o n a contramão
Então, perdi meu segundo emprego em tempo parcial, que
tinha arrumado, como guarda-noturno. Por incrível que pareça,
eu não sentia mais aqueles opressivos desejos da “metamáquina”
em meu interior, e isso me preocupava também. No fundo, sentia
também certo alívio por causa disso. Que conflito!
As contas não pagas começaram a se avolumar, e eu achava
que se tratava de alguma coisa que os demônios tinham feito
comigo, pois a situação piorava a cada dia. Não conseguia,
porém, entender o que estava acontecendo. Assim, como todo
275
bom feiticeiro, busquei presságios e sinais. Fui ao meu templo
e caí de rosto no chão, clamando a Lúcifer por um sinal. O que
tinha feito de errado? Eu havia assinado o Pacto! Eu tinha levado
tantos outros — muitos, na verdade — a assinarem o Pacto! Eu
me esforçara o máximo para crescer e ser um digno escravo de
Satanás. Eu tinha de saber o que fazer.
Embora tivesse orado a Satanás, quem me respondeu, porém,
foi Deus!
No dia seguinte, veja quem aparece em minha casa: duas
moças, discípulas de Orion, muito envolvidas no satanismo e
com discos voadores. Tinham ouvido falar que estávamos inte-
ressados em discos voadores e ligados à magia sexual e quiseram
nos conhecer. Mas trouxeram consigo algo muito estranho e
incomodativo: três revistas cristãs de histórias em quadrinhos:
Anjo de Luz, Encantamento e Sabotagem! Duas delas abordavam
especificamente Satanás e a Irmandade.
Elas as tinham encontrado em algum lugar e as traziam só para
se divertir. A mais velha das moças passou-me, rindo, as revistas
dizendo:
— Você precisa ver isso, rapaz. Eles são do tempo de Nean-
dertal!
Dei uma rápida olhada nas revistas e vi que ela tinha feito uns
sórdidos acréscimos nos desenhos. Eram palavrões e outras anota-
Lúcifer Destronado
D e s c e n d o n a contramão
tivo na lapela que os identificava com o nome e uma posição.
Sharon disse:
— Vocês são mórmons, não são?
Eles deram um passo para trás, quase assustados com sua
saudação.
— Sim, se-senhora — gaguejou um deles. — Somos missio-
nários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A
senhora pode nos dar alguns minutos?
Dissemos-lhes que estávamos para sair, mas que eles poderiam
277
voltar outra hora, e teríamos prazer em conversar com eles. Os
rapazes concordaram conosco de voltar no dia seguinte, à tarde.
Sharon fechou a porta e, quando eles foram embora, ela olhou
para mim com um estranho olhar. Por que teríamos nós, ferrenhos
feiticeiros, tão prontamente acedido aos missionários mórmons,
que são o cúmulo da retidão e da chatice? Por que Sharon e eu tão
facilmente concordamos em recebê-los no dia seguinte?
Sharon sabia da resistente crise espiritual que eu vinha enfren-
tando nas últimas semanas. Ela sabia — como eu também — que
nos fora dito, cerca de seis anos antes, pelo “Grão-Mestre Druida”
(a quem já nos referimos), que se, por acaso, um dia, entrássemos
em séria crise espiritual, nos filiássemos à Igreja Mórmon! Embora
Sharon não simpatizasse muito com os mórmons, aventamos a
possibilidade de que eles teriam a chave para solucionar o nosso
problema.
Esse hierarca druida, de nome Enoque (não é seu verdadeiro
nome), era ligado a membros de alto nível dessa Igreja. Chegou
mesmo a nos mostrar fotografias suas em reuniões com o então
profeta da organização, Harold B. Lee. Garantiu-nos que a Igreja
Mórmon fora fundada por feiticeiros como um lugar em que bruxos
como nós poderíamos encontrar abrigo quando estivéssemos sob
ataque.1
Ele nos tinha ensinado que muitas das doutrinas da Wicca e
dos druidas são totalmente idênticas às dos mórmons. Por exemplo,
Lúcifer Destronado
D e s c e n d o n a contramão
seria uma solução para o misterioso esvaziamento que eu vinha
sentindo ultimamente em minhas reservas de poder por meio da
magia. Se Enoque estava enganado, então eu estaria me unindo à
verdadeira Igreja cristã! Àquela altura, eu acreditava que as duas
alternativas seriam possíveis ao mesmo tempo.
Parecia bom demais para ser verdade! Será que de fato, por
meio dos rituais mórmons, eu iria me encontrar com o Jesus que
vinha procurando durante todos aqueles anos? Os rostos sorri-
dentes e saudáveis dos missionários comunicaram-me uma paz
279
que eu não conhecera nos últimos dez anos, uma paz firmada no
entendimento de que eu estava fazendo a vontade de Deus. Desde
que meus professores universitários detonaram as bases da minha
fé na Bíblia, passara a ter dificuldade em crer, e procurei Jesus nos
lugares mais improváveis de encontrá-lo.
O lugar mais óbvio de todos seria o lugar certo? A instituição
que se chama Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
teria como me dar este Jesus? Naquela noite, quando fui dormir,
orei para que isso acontecesse. Com lágrimas de esperança, orei
com todo o meu coração que assim fosse.
U m so n h o ma l en t e n d i d o
O Senhor não desiste nunca, este crédito eu lhe dou! Enquanto
eu dormia naquela noite, tive um sonho bem agitado. Ele falava
comigo, mesmo estando eu prestes a me ligar a um culto religioso.
Chamava-me de volta, da beira de um precipício.
O sonho começou estando eu na parte mais alta de uma mon-
tanha. Era noite, e havia nuvens movimentando-se rapidamente,
com estrondos de trovões. De quando em quando, eu era iluminado
naquele íngreme pico pelos clarões de relâmpagos sobre os quais não
conseguia ter quase nenhum controle com a minha magia. Estava
frio e ventava naquele lugar elevado, todo tomado pela tempestade;
contudo, eu sentia prazer pelo poder que tinha.
Lúcifer Destronado
D e s c e n d o n a contramão
— Vá até lá, junte-se a eles e perca tudo que você conquistou.
Torne-se um deles, e eles o amarão. Então você poderá “morrer nas
covas com os cães da razão”.
Senti como se estivesse tremendo de frio, e os raios dos trovões
caíam cada vez mais perto de mim.
“Se eu ficar aqui, vou morrer” — pensei.
Crowley proclamou:
— Se você descer até lá, homenzinho, sua mente será a de um
otário total em menos de 15 dias. 281
Os relâmpagos caíam mais perto ainda. De algum modo, o
som do hino começou a extinguir a sarcástica fúria de “Crowley”
em meu sonho.
O hino parecia falar comigo e dizer: “Você não precisa ficar aí
como uma vara de condão humana, lançando relâmpagos, a fim de
salvar a humanidade. Jesus já fez tudo por você. Desça e junte-se
a nós, na família de Deus.”
Tremendo de frio, comecei a descer. Indo para baixo aos
tropeços, naquele precipício, em direção às convidativas luzes
daquela igreja, ouvi ainda a voz crítica de Crowley ecoando às
minhas costas:
— Você vai se arrepender! Você está cometendo um grande erro. Vai
cair no abismo! — advertiu-me ele, referindo-se à versão ocultista
do inferno, o “abismo”, onde caíram aqueles que não conseguiram
tornar-se um deus. Ora, como praticante da magia, as únicas pessoas
que eu tinha ouvido falar terem caído no abismo eram aquelas que
tinham ousado tornarem-se crentes em Jesus. Foi com esse triste
pensamento que acordei.
Infelizmente, minha ignorância sobre hinos evangélicos era
quase tão grande quanto de Teologia. Interpretei mal o meu sonho,
achando que havia uma bênção sobre minha decisão de ficar ao lado
daqueles jovens mórmons de rostos tão ardentes, ingressando em
sua Igreja. Naquela época, não sabia que os mórmons não cantam
Lúcifer Destronado
À be i r a d a lu z
Não há tempo nem espaço neste livro para narrar tudo o que acon-
teceu nos meus estranhos cinco anos de aventuras como mórmon.
No entanto, uma vez mais, embora Satanás tenha tentado usar o
mormonismo como nova artimanha espiritual para me enganar e
armar cilada contra mim —, Deus fez uso desse tempo para um
propósito muito mais nobre. Ele o usou para mostrar-me que eu
era pecador.
Os mórmons, como toda gente sabe, não são más pessoas.
Eles, afinal, se esforçam por viver vidas íntegras. Como feiticeiro
e satanista, isso realmente não estava entre os primeiros pontos da
minha lista de prioridades. Como satanista, eu não tinha consciên-
cia alguma quanto a ser pecador. Com efeito, no dia em que não
cometia um grande pecado, achava que tinha sido um mau dia.
Naquele tempo, eu vivia praticando adultério, bebendo sangue e
usando entorpecentes como um demônio, ano após ano!
Quando, porém, me filiei à Igreja dos Santos dos Últimos
D e s c e n d o n a contramão
Dias, percebi que havia um esquema de regras bem diferente que
eu tinha de observar. Para me qualificar de poder ir ao templo
supersecreto — a que tinham direito apenas alguns poucos mór-
mons pertencentes à elite, portadores de cartões de recomendação
para entrar no templo —, eu sabia que seria entrevistado sobre a
minha guarda de todos os mandamentos.
Tomei a resolução, então, de “entrar na linha”, na minha nova
religião. Uma misteriosa força havia retirado de mim a dependência
de sangue. (Agora, olhando para o passado, entendo que deve ter 283
sido pelas orações daquela moça do banco, a que escrevera no che-
que, por mim.) Paralelamente, meu desejo por maconha e cocaína
diminuíra substancialmente. Isso era bom, pois o código dietético
mórmon proíbe toda bebida alcoólica e também drogas, café, chá
e cigarro. Eu nunca fumei, raramente bebia uma bebida forte e
quase nunca tomávamos café ou chá preto (éramos vegetarianos,
consumindo apenas alimentos naturais).
Com muita força de vontade (e certamente a ajuda daquela
moça do banco, que orava por mim), consegui largar o vício das
drogas em poucas semanas, após o meu batismo mórmon. Alguns
dos meus outros hábitos pecaminosos eram um pouco mais difíceis
de vencer. Pela primeira vez na vida, tive que enfrentar o desafio de
não mentir, não ver pornografia (isso não era nada fácil para quem
havia passado 12 anos cultuando em plena nudez com dezenas de
moças formosas!), não perder as estribeiras, nem tomar o nome
do Senhor em vão.
Pela primeira vez em 12 anos, tive que enfrentar o pecado, em
minha vida, como um inimigo a ser vencido, em vez de tê-lo como
um companheiro com quem “festejar com muita alegria”. Isso não
era nada divertido! Ficar lá com os mórmons ajudava um pouco.
Eram pessoas admiráveis, que não liam revistas do tipo Playboy e
costumavam alertar-me para ter cuidado com o meu linguajar.
Não obstante, por acreditarmos que a Igreja Mórmon era
Lúcifer Destronado
D e s c e n d o n a contramão
Respeitávamos os princípios um do outro e contávamos com a
integridade pessoal um do outro para perseverarmos em nossos
objetivos e ideais. Desde que entrei no satanismo, por exemplo,
Sharon participou apenas daquelas atividades consideradas abso-
lutamente necessárias. Era o caso de rituais em que havia algumas
outras sacerdotisas nos grupos, que invejavam sua posição. Percebeu
que tinha de se envolver um pouco ou ficaria para trás.
Nosso pessoal a considerava quase uma segunda mãe, e havia
entre nós uma união como de uma família. Achavam, porém, que 285
mesmo que ela não demonstrasse interesse por determinada “prática
das trevas”, teriam a porta aberta para pessoalmente ingressarem
naquela corrente de magia. No entanto, ela trabalhava em outras
áreas da feitiçaria e continuamente procurava “trazer luz” às nossas
atividades. Em vez de rituais satânicos, incentivava a pesquisa na
alquimia e em ciências tais como a cristalografia e sua matemática.
Em vez de drogas (um dos oito maiores raios da roda dos bruxos),
instruía a respeito de vegetarianismo, saúde e ioga. Em vez de dispor
os círculos de magia branca com os quatro deuses pagãos, como
fazíamos, ela passou a invocar os vigias do grupo com os nomes
dos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João. Fazendo agora uma
retrospectiva do passado, na verdade sua tênue oposição tornou-se
a cada nível sutilmente visível.
Logo depois que isso começou, Sharon passou por uma expe-
riência fora do comum. A reunião do círculo do sabá desenvolvia-se
normalmente. O círculo havia sido feito, os vigias estabelecidos, e,
como era uma noite de lua cheia, começamos a fazer a invocação
para trazer até nós a essência da deusa à grande sacerdotisa: “Fa-
zendo Descer a Lua”. Não era algo raro de acontecer, mas também
não era comum Sharon “entrar em transe” e incorporar a deusa,
como aconteceu naquela noite. Então, um espírito totalmente
novo veio sobre ela, e ela começou a falar numa linguagem des-
conhecida. Tinha assumido o que se chama a “posição de deusa”
Lúcifer Destronado
Notas
1
Numa pesquisa posterior, feita tanto por mórmons, como D. Michael
Quinn, que foi professor numa universidade dessa Igreja, como por
cristãos ex-mórmons, como Ed Decker, Chuck Sackett e eu, foi consta-
tado que Joseph Smith (1804-1844), o fundador, envolvera-se com o
ocultismo desde muito jovem. Ele era uma espécie de mago popular, que
praticava astrologia, adivinhação, sacrifício de animais e necromancia. Os
ritos secretos da Igreja Mórmon estão cheios de feitiçaria e simbolismos
maçônicos e satânicos. Veja o monumental trabalho de Quinn: Early
Mormonism and the Magic World View [O Mormonismo em Seu Início
e a Cosmovisão Mágica], Signature Books, 1987; assim como: The God
Makers [Os Que Fabricam Deus], por Ed Decker e Dave Hunt, Harvest
House, 1984; Mormonism’s Temple of Doom [O Templo Mórmon da
Perdição] e Whited Sepulchers [Sepulcros Caiados], por Jim Spencer e
D e s c e n d o n a contramão
eu, Triple J Books, 1987,1990.
2
Para mais informações a respeito, veja o livro, já citado, Mormonism’s
Temple of Doom [O Templo Mórmon da Perdição].
3
Esta entrevista com o “apóstolo” mórmon causou uma controvérsia.
Veja “The Lúcifer-God Doctrine, Shadow or Reality” [A Doutrina de
Lúcifer como Deus, Sombra ou Realidade], de Ed Decker e Bill Sch-
noebelen, disponível em: Saints Alive in Jesus, Box 1076, Issaquah,
WA. 98027, USA.
4
Registros oficiais da Igreja Mórmon do final da década de 1980 (pois 287
depois desse ano passaram a não mais divulgar os dados da Igreja) mos-
tram que somente cerca de 25% de toda a membresia vão ao templo, ao
menos uma vez! Dos que vão, a metade nunca mais retorna. E a ida ao
templo da igreja é tida como a principal experiência espiritual e o dever
de um mórmon fiel, sendo considerada absolutamente essencial para
a sua salvação. Desses, 13%, apenas a metade, possuem as credenciais
para entrar no templo e o frequentam conforme seus líderes desejam.
Isto significa que 93 a 94% dos membros estão condenados. Nunca
serão considerados dignos da “vida eterna”, segundo a própria doutrina
mórmon.
21
R e g e n e r a d o s, chamados
e comissionados!
S a l v o p e l a “ mocinha”!
Depois de ter passado alguns anos como mórmon, Sharon, arrasa-
da, viu-se mais perto ainda do seu relacionamento inicial com Jesus,
290 mas estava ainda a anos-luz de distância. Lendo a Bíblia, embora
na versão mórmon, passou a se prover de um conhecimento cada
vez maior do verdadeiro cristianismo. Diferentemente de mim, ela
havia se desligado quase que inteiramente das obras de feitiçaria,
por ver tais práticas como contrárias ao que a Bíblia ensina. Passou
a delegar a outros, cada vez mais, suas responsabilidades no ocul-
tismo e a falar sobre acabar com todos os nossos elos com a magia,
todas as iniciações e relacionamentos com grupos de feitiçaria, até
mesmo sobre nos desligarmos do mormonismo!
Falava comigo com muito empenho sobre deixarmos a Igreja,
Mórmon, mas eu não lhe dava ouvidos. Estava encantado com o
meu chamado especial para o sacerdócio da ordem de Melquise-
deque e com o recém-descoberto senso de retidão própria.
Sharon percebeu que o único modo pelo qual poderia fazer
alguma coisa para me ajudar a me libertar do mormonismo
seria forçar-me a perder o meu sistema de apoio. Ela tomou,
então, todas as providências para mudar-se de Milwaukee, onde
morávamos, voltando para Dubuque, de forma a continuar seus
estudos. Convidou-me a tomar a decisão de mudar-me também,
indo com ela. O tempo todo, ela estava confiando no Senhor e ora-
va secretamente para que, uma vez longe dos meus companheiros
R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
do sacerdócio mórmon, pudesse falar seriamente comigo. Sharon
estava “abalando os céus” por minha causa, para que eu percebesse
quão distante da verdade o mormonismo realmente se encontrava.
Protestei com ela quanto à mudança, dizendo-lhe que eu tinha
assumido a responsabilidade de ensinar Novo Testamento no insti-
tuto da Igreja Mórmon, mas não teve jeito! Já estava decidida, de
modo que eu acabei concordando, embora isso significasse perder
meu emprego e mudar-me para uma área de Iowa onde poderia
não ser fácil achar um trabalho.
O que Sharon não sabia é que eu também tinha encontrado
algumas contradições dentro do próprio mormonismo, mas temia
discutir esse assunto com ela. Sabia que ela já via a Igreja Mórmon
com certo descrédito e eu não queria afastá-la ainda mais da Igreja.
291
Em meu ministério nessa Igreja, conheci muita gente que não
estava sendo ajudada pelo mormonismo e vi que muitos ainda es-
tavam vivendo uma vida muito aquém do padrão, não cumprindo
os 4.000 mandamentos ali preceituados.
Além disso, eu fora chamado a ensinar Novo Testamento na
instituição de ensino da Igreja,1 mas havia muitas passagens —
especialmente em Romanos e Gálatas — que me atormentavam.
Todavia, eu não sabia para onde me dirigir. Quando o primeiro
semestre letivo do meu contrato terminou, também me mudei
para Dubuque.
P o d e se r tã o fá c i l as s i m ?
Nossa mudança deve ter sido o que o Espírito Santo estava planejan-
do no segundo dia após minha chegada a Dubuque. Colocaram um
folheto à nossa porta, anunciando um Seminário sobre Profecias,
que seria realizado num parque da cidade. Sabia que não era um
evento mórmon, mas eu havia dedicado muito tempo estudando
o livro de Apocalipse, principalmente por causa do curso de Novo
Testamento que teria de ministrar. Achei, também, que possivel-
mente teria ali uma oportunidade de ganhar algumas pessoas para
a Igreja Mórmon. Afinal, eu pertencia a uma Igreja dirigida por
um “profeta vivo”!
Depois de assistir às reuniões algumas noites, comecei a sentir
Lúcifer Destronado
R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
esquecer temporariamente do testemunho que eu tinha acabado
de receber. A palavra, porém, aninhou-se silenciosamente em meu
coração, como uma semente.
Concluí vários capítulos do meu livro e dei início a um capí-
tulo sobre os antecedentes pagãos da Igreja Católica. Então, num
lampejo, lembrei-me daquelas revistas em quadrinhos cristãs, pois
mencionavam a Igreja Católica. Eu as li e observei, com grande in-
teresse, todas as questões que me seriam úteis ao escrever o capítulo
sobre o catolicismo. Uma vez mais, porém, senti uma palpitação de
esperança ao ler a “versão protestante” do evangelho. Parecia fácil
demais! Boa demais para ser verdade!
Verifiquei que poderia fazer um pedido de publicações diversas
àquela editora, e assim fiz. Quando chegaram os livros, revistas e
folhetos que encomendara, os “devorei” com avidez. Constatei, 293
então, que despertavam certas percepções nada agradáveis em meu
coração. Aqueles livros apresentavam uma doutrina que eu nunca
ouvira antes, exceto com conotação totalmente depreciativa. O que
eu li foi que uma pessoa pode ser salva apenas por confiar em Jesus
Cristo, e que sacramentos, templos, rituais ocultistas, sacerdócios,
tudo isso é totalmente desnecessário — e até mesmo pernicioso —
para você ter a vida eterna.
Fiquei meditando sobre isso por um bom tempo, mas tive
que parar um pouco com a minha pesquisa. Consegui um traba-
lho de vendedor de aspiradores de pó, como autônomo. Durante
semanas, eu me excedi nesse trabalho, mas não conseguia vender
nada, e estava gastando um bom dinheiro com gasolina, indo por
toda parte da cidade. Enquanto dirigia, porém, tive bastante tempo
para pensar e orar. Passei por zonas rurais, locais de uma natureza
fascinante naquele início de verão, e orei pedindo por orientação.
Passei também em frente de pequenas igrejas do interior e, em vez
de um condescendente escárnio de outrora, olhei atentamente para
elas, como se fossem um tesouro raro que, de algum modo, eu tinha
necessidade.
Secretamente, em meu coração, era aquilo que eu queria. O
sonho que eu tinha tido, quando desci a montanha em direção
àquela igrejinha que cantava o hino evangélico, estava o tempo
todo em minha mente.
Lúcifer Destronado
R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
pensamentos. Senti que precisava conversar com alguém, mas não
me veio à mente o nome de quem quer que fosse que pudesse me
compreender, a não ser o nome dela.
Naquela noite, conversamos bastante. Sharon estava exultante
de alegria pelo fato de eu ter finalmente encontrado o caminho certo.
Eu tinha sido salvo pela graça e liberto pelo sangue do Cordeiro.
Ao explicar-lhe o que tinha descoberto na Bíblia, nos folhetos e nas
revistas, ela sorriu, demonstrando que se sentia muito feliz. Explicou-
-me, então, que fora desse modo que ela acreditara no princípio,
e que sua experiência, naquele tempo, tinha sido igual à minha.
Disse-me que vinha em busca dessa fé que ela havia perdido desde
que viu a hipocrisia que há na Igreja Católica, tantos anos atrás.
Ficamos exultantes ao vermos que nós dois, por caminhos
independentes, tínhamos chegado às mesmas conclusões. Depois 295
disso, passaram ainda alguns meses para nos desembaraçarmos da
Igreja Mórmon. Mas havia ainda algumas medidas que precisariam
ser tomadas.
Destronando o Diabo
Eu estava ainda pensando sobre que tipo de igreja deveríamos agora
frequentar, uma vez que os mórmons estavam errados. Sabia que
queria uma igreja em que a Bíblia, e apenas a Bíblia, fosse usada
como autoridade para estabelecer o que é a verdade. Além disso,
meu novo Amigo, o Espírito Santo, incomodava-me com respeito
ao enorme volume de livros ocultos, e de toda a parafernália do
ocultismo que ainda permaneciam num armário, fechado à chave,
em nosso depósito, no andar de cima.
Milagrosamente, o Espírito levou-me (pela primeira vez) a
uma livraria evangélica. Meus líderes mórmons sempre me diziam
que eu não deveria entrar nessas livrarias, pois estavam cheias de
lixo, com materiais renegados e sectários. Assim, fiquei por algum
tempo do lado de fora e dei uma volta naquele quarteirão, até
certificar-me de que ninguém conhecido estava por perto; então,
entrei apressadamente na loja.
Lá dentro, fui andando por entre as estantes de livros, quando
de repente um livro literalmente caiu da prateleira em minhas mãos.
Lúcifer Destronado
R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
Sentindo-me de repente atemorizado, sem que houvesse razão
para isso, enchi todo o porta-malas não só com caixas de livros,
mas também punhais, espadas, mantos e incensórios. Dava para eu
quase ouvir sedutores sussurros daquelas caixas, dizendo: “Não nos
queime. Você não pode viver sem nós!” Engolindo um nó na garganta
do tamanho de uma bola de golfe, fechei rapidamente o porta-malas
e me pus a caminho.
Enquanto me dirigia para a igreja, pude quase sentir terremo-
tos acontecendo ao meu redor e a estrada abrindo-se para a minha
passagem. Parecia que um raio poderia cair sobre o carro a qualquer
momento. Fiquei encharcado com o suor frio de um terror apa-
vorante quando nem mesmo três quadras tinha percorrido. Não
percebi na hora, mas o fato é que estava sob um ataque demoníaco.
Felizmente, o pastor estava em seu gabinete orando por mim! 297
Foi com um alívio tão grande, para o qual não tenho palavras,
que finalmente entrei na área de estacionamento da igreja. O pre-
gador veio, então, cumprimentar-me. Surpreendi-me ao ver que
ele era um jovem robusto, cheio de entusiasmo, de camisa esporte e
barbado. A ideia que eu tinha feito era a de um fanático vestido de
terno preto, cabelos grisalhos e austero. O jeito de ele se comportar
me foi uma agradável surpresa. Ele realmente estava satisfeito con-
sigo mesmo. Eu não sabia que os cristãos tinham permissão para
serem daquele jeito...
Ele me ajudou a tirar tudo aquilo do porta-malas e, em segui-
da, levou-me para o seu gabinete e me pediu que sentasse. Depois
de algumas perguntas para certificar-se de que eu de fato tinha
nascido de novo em Cristo, ele começou a responder às minhas
perguntas. Finalmente, senti que estava no caminho certo. Eu
havia destronado Lúcifer da minha vida e tinha entronizado o
Senhor Jesus Cristo em seu lugar!
Depois de um ano frequentando aquela igreja, circunstâncias
nos levaram a nos transferir para outra congregação. Lá, o rebanho
era pastoreado por um casal, o pastor e sua esposa, que tinha uma
considerável experiência em aconselhamento espiritual. Discerni-
ram corretamente que, embora estivéssemos salvos e a caminho
da glória, havia ainda algumas fortalezas demoníacas em nós por
causa de todo o mal que havíamos praticado no ocultismo, e com
Lúcifer Destronado
R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
Jesus Cristo é o Senhor!
co n c l u s ã o
Oramos para que este livro seja, antes de tudo, um testemunho
do poder totalmente suficiente e capaz do amor do Senhor Jesus
Cristo para salvar! É evidente, pela nossa narrativa, que estivemos
envolvidos com os poderes das trevas num grau bastante elevado.
Entregamos totalmente a nossa vida ao estudo da “magia negra”
por quase 16 anos.
Mas, por meio de simples orações, o céu desenredou tudo que
o inferno tinha tentado fazer. Se você, leitor, está envolvido com
satanismo, feitiçaria, candomblé ou qualquer tipo de ocultismo ou
espiritismo, tem um desafio à sua frente. 299
O testemunho da Bíblia contra as práticas de feitiçaria e magia
é definitivo e bem claro:
Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis,
aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a
todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que
arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte (Ap 21.8).
R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus (Rm 12.1,2).
R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
foi dada por crer nele, declaro que sou remido das mãos do
diabo. Mediante o sangue de Jesus, todos os meus pecados estão
perdoados. O sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus, está me
purificando agora de todo pecado. Mediante esse sangue, sou
justificado, como se nunca tivesse pecado.
...os quais podem achar que ainda têm algum direito sobre
mim ou minha família. Em nome de Jesus, renuncio a esses
espíritos de Satanás e declaro que não têm mais poder algum
sobre mim, pois fui comprado e pago pelo sangue de Jesus
derramado no Calvário.
Se você foi feiticeiro, bruxo, pai de santo ou satanista, ore ainda:
Por causa do sangue de Jesus, Satanás não tem mais poder sobre
mim, nem sobre minha família, e não tem mais lugar em nós.
Renuncio inteiramente a Satanás e a suas hostes e declaro que
eles são meus inimigos. Em nome de Jesus, exerço a autoridade
que me foi dada, expulso todos os espíritos malignos, e resisto a
todos os inimigos de Jesus Cristo que estejam operando contra
mim (e contra meus filhos). Eu corto toda relação com vocês,
espíritos de Satanás, e quebro todo poder que vocês têm sobre
a minha vida.
R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
Também peço a ti, ó Pai, que feches todas as brechas pelas quais
os demônios tiveram acesso a mim, por quaisquer pecados, de
todos os modos, e peço-te que seles estas brechas para sempre
com o sangue do Cordeiro, derramado na cruz do Calvário.
Agradeço-te por fazeres isto, no poderoso nome de Jesus.
N ot as
305
1
O Instituto de Religião Mórmon é um programa educacional religioso
para adultos mantido pela Igreja. Eu fora contratado para lecionar dois
semestres de Novo Testamento em Milwaukee.
Lúcifer Destronado
5. Lammas:
Entre 29 de julho e 1o de agosto (‡). Os grupos satanistas ge-
ralmente exigem sacrifício sexual (pessoa do sexo feminino, entre
7 e 17 anos) e sacrifício de animal.
Lúcifer Destronado
A p ê n d i c e I – o calendário Satânico
animal (cão), mas isso é raro.
4. Festa de Tahuti:
Em 7 de setembro. Veja também a festa da Besta, abaixo. Ce-
lebrada com magia sexual de natureza homossexual.
5. “Crowleyana”:
309
12 de outubro. Festa do aniversário de Crowley. Forma de
celebração não estabelecida.
F est as sa t â n ic a s es p e c ia i s – parte 2:
5. Festim satânico:
Em 17 de janeiro (‡‡). Requer um sacrifício (do sexo feminino,
entre 7 e 17 anos).
6. São Eischstadt:
Em 1o de março (‡). Um animal (geralmente um cachorro) é
esquartejado e sacrificado. Sua carne é consumida como sacramento.
7. Grande clímax:
310 Preparação entre 19 e 26 de abril, festa entre 26 e 30 (‡‡‡).
Sacrifícios humano e sexual são requeridos (do sexo feminino, cristã,
entre 1 e 25 anos).
8. Festim demoníaco:
Em 1o de julho. Sacrifícios humano e sexual (moça, entre 7 e
17 anos). Também magia sexual com espíritos demoníacos.
9. Festa da besta:
Em 7 de setembro, mas apenas a cada 27 anos. O último foi
em 1982; o próximo será em 2009 (‡‡).1 Sacrifícios humano e
sexual e desmembramento (moça com menos de 21 anos, devendo
ser virgem).
A p ê n d i c e I – o calendário Satânico
Em 24 de dezembro (‡‡‡). É requerido sacrifício humano
(qualquer sexo, qualquer idade, desde que seja cristão).
N ot a
1
Veja Michelle Remembers [Memórias de Michelle] — Michelle Smith
& Lawrence Pazdur, M.D., Congdon & Lattés, 1980 (edição de livro
de bolso), p. 266. Embora este livro contenha erros, não tendo uma
perspectiva bíblica adequada (os “rapazes” são todos clérigos e leigos
católicos), é um livro histórico, o primeiro publicado narrando a história
do sobrevivente de um ARS.
311
Apêndice II
I ndícios de um
Possível Abuso
2) Comportamento no banheiro:
• Queixa-se de que está queimando ou que sente dor
em partes íntimas quando está tomando banho.
• Diz aos pais que alguém o(a) despiu ou se mostrou
nu para ele ou ela.
• Diz aos pais que alguém passou a mão em suas partes
íntimas.
• Descreve com precisão atos sexuais com outras pes-
soas, ou entre outros adultos, outras crianças, entre
animais.
• Tem medo do banheiro e não quer usar o vaso.
Recusa-se a tomar banho na frente do pai ou da mãe.
• Preocupação em ter o corpo superlimpo. Troca as
peças íntimas desnecessariamente.
• Medo fora do comum de se afogar no banho de ba-
nheira, aceitando só o chuveiro.
• Recusa práticas usuais: não quer ir ao banheiro, não
quer enxugar-se, não quer sair de casa, não quer ir
para a sala.
• Fala de comer excrementos humanos ou faz isso.
Lúcifer Destronado
masturbação.
• Pouca ou nenhuma lembrança da infância.
• Comportamentos de automutilação; pensamentos
de suicídio.
• Medo extremado de autoridades (policiais, clérigos,
médicos, etc.).
• Fortes pesadelos, insônia.
• Narcolepsia: sono fora de hora ou incontrolável.
• Alterações repentinas no comportamento ou no hu-
mor, muitas vezes diagnosticado como bipolar, mas
318
que pode ser causado por “gatilhos”.
Para obter informações sobre os livros publicados pela
Danprewan Editora, queira entrar em contato com: