William & Sharon S C Hnoebelen PDF

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William & Sharon

c
S hnoebelen
Tradução do original em inglês Lucifer Dethroned – A true story

Editor: Jorge Wanderley


Tradução: Milton Azevedo Andrade
Revisão: Josemar de Souza Pinto, Alexandre Emílio Silva Pires, Vicente Gesualdi
Capa: Ronan Pereira

1ª impressão: Janeiro de 2004


2ª reimpressão: Setembro de 2005
3ª reimpressão: Maio de 2007
2ª edição: Agosto de 2009
2ª reimpressão: Junho de 2014

Todos os direitos reservados, no Brasil, por Danprewan Editora Ltda. É expressamente


proibida a reprodução deste livro, no seu todo ou em parte, por quaisquer meios, sem o
consentimento por escrito dos editores.

Textos bíblicos conforme a versão Almeida, Revista e Atualizada, 2. ed., da Sociedade Bíblica
do Brasil (RA), exceto quando for indicada outra fonte.
Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional, publicada pela Editora Vida (nvi).
Almeida, Revista e Corrigida, da SBB (rc).
Nova Tradução na Linguagem de Hoje, da SBB (ntlh).

dados internacionais para catalogação na publicação (cip)


do departamento nacional do livro

S388L Schnoebelen, William J. (William Jones), 1949 –


Lúcifer destronado : confissões de um ex-satanista / William e Sharon
Schnoebelen ; tradução Milton Azevedo Andrade .
– Rio de Janeiro: Danprewan, 2003

Tradução de : Lucifer dethroned


Apêndices
ISBN 978-85-85685-68-3

1. Possessão diabólica . 2. Guerra espiritual .


I. Schnoebelen, Sharon. II. Título.

CDD 235.47
CDU 235.2

Danprewan Editora Ltda.


Rua Duquesa de Bragança, 45 – Grajaú – Rio de Janeiro – RJ – Brasil – CEP: 20540-300
Tel.: (21) 2142-7000 – Fax: (21) 2142-7001
E-mail: editorial@danprewan.com.br – Site: www.danprewan.com.br
Dedicatória

Este livro é dedicado com muito amor ao pastor Bob Walker e


sua esposa, Jeannette, que têm sido para nós uma enorme bênção.
Eles nos proporcionaram uma cobertura pastoral durante todo
o tempo — tão longo e difícil — em que o estivemos escrevendo.
Juntamente com os membros da nossa igreja, a Bethel Chapel, per-
severaram em meio a numerosos ataques pessoais e inimagináveis
batalhas espirituais por amor do Reino e pela publicação deste livro.
Não temos palavras para agradecer tudo que fizeram. Oramos
para que Deus os recompense por suas orações, pelo amor que a Ele
demonstram e por sua obediência ao Senhor! Temos a consciência
de que esta obra não poderia vir a lume sem o que eles tiveram de
suportar, com paciência e resignação.
Queremos também reconhecer as orações, a inspiração, a
ajuda, o incentivo e a assistência de muitos que, com dedicação,
contribuíram conosco nos estágios finais deste livro.
Toda vez que se faz referência a pessoas, há sempre o perigo
de se omitir o nome de alguém importante. Todavia, queremos
agradecer ao Senhor e pedir que abençoe Marjorie Bennett, Doug
Browning, Rob e Anna Gascoigne, o tenente Larry Jones, Aron
Rush, e Mary e Anya Starr. E, de um modo especial, queremos
agradecer a todos que, anonimamente, intercederam por nós.
Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do
seu poder.

Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar


firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não
é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e
potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.

Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais


resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, perma-
necer inabaláveis.

Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-


-vos da couraça da justiça.

Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; em-


braçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar
todos os dardos inflamados do Maligno.

Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito,


que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando
em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos.
– Efésios 6.10-18
Sumário

1 Entronização .....................................................................9

2 Caça-fantasmas?................................................................19

3 Conheça o seu inimigo......................................................31

4 A Cerimônia de inocência acabou.....................................47

5 “O vingador do Diabo”.....................................................59

6 Nas entranhas da besta......................................................71

7 O que a noite tem para revelar...........................................89

8 Lidando com a confraria..................................................105

9 A infra-estrutura do satanismo.........................................121

10 “A catedral da dor”..........................................................139

11 Os saduceus de hoje........................................................153

12 “...A maldição sem causa não se cumpre”.........................161

13 Respostas a algumas perguntas difíceis ............................175

14 Os túneis de Typhon ......................................................191

15 Desertores das trevas .......................................................207

16 O profano graal...............................................................221

17 Dissipando as trevas .......................................................233

18 Falando do inferno..........................................................245
19 Testemunhando a um adorador do Diabo ......................257

20 Descendo na contramão..................................................273

21 Regenerados, chamados e comissionados!........................289

Apêndice 1 – o calendário satânico.........................................307

Apêndice 2 – indícios de um possível abuso ..........................313


1
Entronização

Nada mais do que a anarquia neste mundo é liberada,


É um tempo de sangue e obscuridade; e, em toda parte,
A postura de inocência é debelada.
Os bons perderam toda a convicção,
Os maus, porém, com impetuosa violência estão.
Certamente algo está para se revelar;
Certamente a Segunda Vinda não vai tardar...
Mais uma vez as trevas desvanecem; mas agora posso saber
Que vinte séculos de um sono pesado
Tornam-se em pesadelo pela ação de um berço agitado.
E para os rudes e cruéis, sua hora por fim chegou.
Haverá indiferentes para com Belém que ainda hão de nascer?
— A Segunda Vinda – de W. B. Yeats

Você não faz ideia do que seja acordar com uma necessidade de
sentir gosto de sangue em sua boca.
Você não pode imaginar o que é dirigir o carro à meia-noite,
pelas ruas molhadas de chuva de uma cidade, torcendo para en-
contrar uma mulher solitária com quem possa satisfazer um forte
desejo... e, ao mesmo tempo, com outra parte sua torcendo para
que não a encontre, temendo o que realmente você possa fazer.
Sem dúvida que esse é um pensamento apavorante, até mes-
mo ofensivo, para a maioria das pessoas. Tenha paciência comigo,
porém, ao introduzi-lo num mundo por onde poucos têm andado.
Isso lhe dará condições de compreender de onde vim, a fim de poder
avaliar melhor o que Satanás pode fazer às pessoas e, o que é mais
importante, o que Jesus Cristo pode fazer por elas.
Eu costumava acordar com uma forte necessidade de sentir
Lúcifer Destronado

gosto de sangue em minha boca, tal como o fumante inveterado


levanta-se tateando com a mão, procurando o maço de cigarros ao
lado de sua cama. Meu despertar era diferente do da maioria das
pessoas, pois acontecia no fim da tarde. Tinha arranjado trabalho à
noite — primeiro como vigia, depois como entregador da edição
matutina de um jornal.
Geralmente, eu dormia num quarto pequeno, com as jane-
las totalmente revestidas com cortinas de veludo púrpura, para
não deixar entrar um raio sequer de sol. Dormia no chão, tendo
10
ao meu redor pinturas satânicas nas paredes e no teto, as quais
tinham o propósito de serem portas de entrada para outras di-
mensões da realidade — outros universos.
Em certas épocas do ano, quando eu enfrentava uma situa-
ção mais difícil, dormia num caixão funerário especialmente
construído para mim, de acordo com prescrições ocultistas bem
precisas, forrado no fundo com uma terra “sagrada”, trazida do
cemitério católico da minha cidade natal. Muito desta terra ficava
bem embaixo do meu travesseiro.
Mas eu tinha necessidade de sangue! Diferentemente dos outros
pecadores, interessados sexualmente no corpo de uma mulher, meu
único interesse era o seu pescoço ou as suas artérias do fêmur. Mi-
nha vida era vivida praticamente nas trevas, e eu adorava entidades
espirituais que eu chamava de os “Grandes Seres da Antiguidade”.
Lúcifer era apenas um deles, embora um dos mais importantes.
Eu acreditava que esses seres estavam me transformando num ser
imortal.
Meus heróis eram homens como Nero, Hitler e Drácula, e eu
acreditava ter contato diário com eles mediante o recebimento de
espíritos. Eles me guiavam — eram espíritos destituídos de qual-
quer santidade, que serviam a um senhor também profano —, e
eu obedecia a “eles” com um prazer embriagador e sinistro.
Como é que um ser humano pode degradar-se a tal ponto?
Como pode alguém tornar-se tão pervertido e maligno, tendo de
viver à custa de sangue humano? As respostas para estas perguntas

Entronização
encontram-se neste livro — na história real de alguém que foi vítima
de uma trajetória maligna, da qual não há como escapar, exceto
por meio de Jesus.

31 de outubro de 1959

A véspera do Dia de Todos os Santos veio sobre aquela cidade do 11

interior, no Meio-Oeste dos Estados Unidos, como um grande


fantasma predador — com o som do seu esqueleto se arrastando
pela noite afora.
Era esse o segundo dia do ano preferido daquele garoto, só
perdendo para o Natal. Todo ano, no dia de Halloween, ele vestia
uma fantasia bizarra e saía para pedir doces, pipoca e chocolate,
como é costume nos Estados Unidos. Ele gostava das guloseimas
que ganhava, mas sentia que havia algo muito estranho na atmosfera
daquele dia.
O menino gostava do ar agradável do outono, perfumado com
a fragrância das folhas secas se queimando. Apreciava também a
camaradagem de seu melhor amigo, que com ele saía em busca das
prendas por toda a cidade. E, naquela noite, havia certa sensação
de perigo no ar, suficiente para tornar a amizade que os unia algo
muito especial.
Seus pais só estavam preocupados com o fato de ele nunca ter
saído para pedir guloseimas, no Halloween, trajando algo que tives-
se uma aparência do mal e lembrasse um demônio ou um bruxo.
Aquele ano não foi exceção. Ele saiu com uma roupa em farrapos
e maquiado para parecer um mendigo.
Seus pais lhe haviam ensinado, desde a idade em que pôde
começar a sair para a “brincadeira” do Dia das Bruxas, que “fan-
Lúcifer Destronado

tasmas, bruxas e demônios não existem”. Mas o clima sinistro da


festa criava uma espécie de temor seguro e cômodo, que fazia da
condição de ter amigos a coisa mais desejável naquela noite.
Dez anos se passaram até o dia em que a alegria do Hallo-
ween seria manchada como que por doces envenenados e pipocas
com agulhas escondidas no melado. O charme daquela noite
seria assim, sutilmente temperado, como se fosse uma bebida
forte contendo uma pitada de algo desconhecido. E, ainda, para
que tudo ficasse do jeito que o menino gostava, ele frequentava
um colégio católico, que guardava feriado no Dia de Todos os
12 Santos, o que resultava, para ele, motivo de grande alegria, a falta
de aula no dia seguinte.
A estratégia dos dois meninos era percorrer de cima a bai-
xo todas as ruas situadas na direção norte–sul daquela pequena
comunidade e depois irem no sentido das transversais leste–oes-
te. Era um vilarejo de menos de mil habitantes, de modo que
aqueles meninos, cheios de energia e bastante animados, podiam
perfeitamente passar por todas as casas, o que, para eles, era um
verdadeiro divertimento.
Quando chegaram à velha pensão da cidade, eles “faturaram”
como nunca. A gerente tinha feito com que os seus hóspedes, em
torno de dez, colocassem suas dádivas numa enorme mesa, na
entrada da pensão, para que os meninos não precisassem subir e
descer as escadas para os corredores. Os meninos haviam progra-
mado chegar lá bem cedo; mesmo assim, suas sacolas já estavam
quase pela metade! Seus pais os queriam de volta a casa por volta
das 8h30 da noite; assim, contavam ainda com mais de uma hora.
Naquela noite, quando estavam indo pela Rua Três em direção
à escola pública, o garoto e seu companheiro deram, então, uma
parada e, por um momento, ficaram em silêncio, contemplando
as luzes e as lanternas feitas de abóbora moranga, como máscaras,
através de cujos “olhos” e “boca”, recortados, brilhavam velas ace-
sas em seu interior — iluminando as escuras calçadas cobertas de
folhas secas do outono. Então, casualmente, o menino olhou para
cima, por entre os galhos despidos das árvores da rua, e viu algo
que transformaria para sempre a sua vida.
O brilhar das estrelas naquela noite de outubro, que até então
ele podia ver muito bem, de repente desapareceu — ou foi coberto

Entronização
por alguma coisa.
Toda a abóbada celeste agora parecia contorcer-se como algo
vivo ou, talvez, como um grupo de coisas vivas. A princípio, o
menino não conseguiu discernir o que estava vendo. Pareciam
muitos cachos de uvas que se sacudiam de dor, suspensos como se
fossem tumores obscenos, escuros, que obscureciam o firmamento 13
estrelado.
Assim que o menino, boquiaberto, foi saindo bem devagar
de sob os galhos daquelas árvores que se espalhavam por todas
as direções, as coisas ficaram um pouco mais nítidas. Cada um
daqueles cachos começou a se abrir, aos poucos, tornando-se hor-
ripilantes. Então ele percebeu o que de fato eram: um bando de
enormes criaturas que se pareciam com morcegos, furando com
suas pequenas garras ossudas o manto aveludado da escuridão
noturna!
Os olhos de tais criaturas, então, se abriram. Apesar de serem
demasiadamente horrorosas, foi desse modo que ele pôde ver, com
maior facilidade, quantas eram. O que viu, deixou-o estarrecido.
Pareciam milhares! Milhares de olhos de um vermelho acentuado
faiscavam naquela massa de seres mórbidos que dele se aproxima-
vam. Os olhos que ele via pareciam entorpecer a sua alma.
— Agora você nos pertence.
Estas palavras ressoaram em sua mente como a badalada de
um grande sino.
— Agora você nos pertence.
Um sentimento de terror, não apenas um medo desconfortá-
vel, mas um gélido e horrendo pavor, como um calafrio, percorreu
de cima a baixo toda a sua espinha dorsal. Um estranho poder,
com uma força irresistível, despencou sobre ele, fazendo-o cair
Lúcifer Destronado

de joelhos.
— Ei, Bill! O que você está fazendo aí?
O ansioso e amistoso grito do seu companheiro, que havia se
afastado um pouco dele, captou de volta sua atenção. Ele olhou
para o amigo, agora muitos metros à sua frente, e arreganhou os
dentes num falso sorriso, nervoso, demonstrando não saber o que
estava acontecendo. Voltou então a olhar para o céu, mas nada viu,
senão estrelas. Era evidente que o seu amigo não havia percebido
nada de anormal.
Desvencilhando-se de todo o seu deprimente terror, e recupe-
14 rando-se da visão assustadora que quase o matou, o garoto correu
então para alcançar seu amigo.
No ano seguinte, ele observou o céu da Rua Três e apenas uma
estrela cadente perturbou o cenário daquela noite. Desde então, a
cada noite de Halloween, com o passar dos anos e avançando em
sua adolescência, olhava para o céu para ver se aquelas horrorosas
e desagradáveis criaturas de olhos vermelhos apareceriam de novo
no céu. Mas nunca voltaram.
Quando chegou à maturidade, ele se tornou cada vez mais
fascinado pelo desconhecido. Passou a estudar a respeito de dis-
cos voadores, fantasmas, casas mal-assombradas, parapsicologia e
Triângulo das Bermudas. Devorava todos os livros sobre esses
assuntos que podia encontrar, para estranheza de seus pais. Todo
ano, saía fielmente a cumprir o seu ritual do Halloween, mas jamais
voltou a ter uma visão como aquela.
Um encontro bem diferente daquele, no entanto, o esperava,
alguns anos depois. Sua mente já havia sido preparada para encarar
o desconhecido, o extraordinário. Além disso, naquela amaldiçoada
noite de Halloween, uma porta se abrira totalmente na alma do
menino. Algo pernicioso, asqueroso, destrutivo e maligno viera
entronizar-se nele.
Ao ser alguém tocado pelas gélidas asas do submundo,
parece que a pessoa — mesmo uma criança — fica excepcional-
mente sensibilizada por certos momentos e lugares. É quando
o véu que separa o nosso mundo “real” do Mal Supremo parece
rasgar-se levemente, e um horror sem controle penetra em nosso
tempo e espaço.

Entronização
Rhinelander, Wisconsin —
1965

Desde o início de sua adolescência, a cada dois anos, o menino ia


com seus pais a um local de veraneio junto às florestas do norte
de Wisconsin. Eles alugavam uma cabana junto a um lago. Era
um belo lugar.
Certa ocasião, quando lá chegaram, numa noite de verão, o 15
menino, agora um adolescente, estava no embarcadouro contem-
plando o lago. Era um local relativamente deserto, mas luminárias
brilhavam por toda a margem. O fulgor das estrelas era excepcional.
Ele desfrutava da beleza daquela noite e não lhe ocorria pensamento
algum sobre espíritos ou coisas estranhas. De repente, algo esquisito
começou a acontecer ao seu redor.
As árvores em torno do lago passaram a agitar-se, como que
sacudidas por um forte vento — mas não estava ventando. Muito
admirado e com certo medo, ele olhou para os pinheiros que ba-
lançavam de um lado para o outro. Parecia assistir à televisão com
o som desligado! Ele chegou a tapar os ouvidos, testando-os, para
ver se não estava tendo algum problema auditivo.
Até mesmo o ruído noturno dos insetos e dos sapos havia desa-
parecido. Não fosse o suave barulho das águas roçando nos pilares
do embarcadouro e o som ocasional de madeira contra madeira dos
barcos presos que batiam nas águas, teria julgado que estivesse total-
mente surdo! Veio-lhe, então, um pensamento de que talvez um óvni,
ou melhor, um disco voador, estivesse sobrevoando. Lera muito a
respeito do aparecimento desses objetos desconhecidos e sabia que às
vezes, nessas ocasiões, podem acontecer fenômenos meteorológicos
estranhos. Podia ser esse o caso que estava ali presenciando, com
a cessação de todos os ruídos da natureza viva. Mas o seu receio
transformou-se rapidamente numa forte excitação quando desviou
Lúcifer Destronado

o olhar das árvores e o fixou no céu estrelado.


Ele somente havia visto óvnis espetaculares em ilustrações e
filmes. Certa vez, chegou a observar apenas um par de luzes estra-
nhas, muito longe, que poderiam ser discos voadores, mas talvez
fossem balões meteorológicos ou algum avião fora da rota. Assim,
naquele momento, o adolescente ficou ansioso e mordeu os lábios
de nervosismo. Isso só poderia ser algo realmente fora de série!
As árvores continuavam sendo agitadas cada vez mais, sem
que se ouvisse ruído algum. Elas o fizeram lembrar-se de filmes a
que assistira cujas árvores agitavam-se com a descida de um heli-
16 cóptero. Continuou com os olhos fixos no céu. Finalmente, algo
como um óvni apareceu, mas diferente de tudo o que ele poderia
jamais ter imaginado.
Devagar, no longínquo horizonte, foi surgindo uma gigan-
tesca escuridão. A princípio, parecia uma enorme esfera negra que
eclipsava mais de um terço das estrelas no horizonte. Mas se movia
numa velocidade que seria impossível para algo assim tão grande.
Antes que tivesse tempo para qualquer reação, a esfera de total
escuridão foi seguida por algo ainda maior, que efetivamente veio a
obscurecer a maioria das estrelas no céu. Havia uma conexão entre
os dois fenômenos. De repente, ele se deu conta de que estava vendo
algo extraordinário, uma enorme silhueta de homem!
Mal havia percebido isso quando aquela coisa gigantesca
começou a se movimentar por toda a abóbada celeste. Ele via, no
horizonte, aquela sombra vindo em direção à sua cabeça. O rapaz
sentiu-se como uma formiga que vê um homem marchando sobre
o seu formigueiro!
Depois, quase todo o céu ficou escurecido por aquela enorme
mancha negra. O rapaz teve, então, a impressão de ver um par de
olhos vermelhos, o que o fez lembrar-se dos olhos daquele bando
de seres noturnos que lhe apareceram na noite de Halloween, anos
atrás. Isso o inquietou um pouco, mas a imagem durou apenas um
segundo. A silhueta negra deu, então, um enorme passo, desapare-
cendo no horizonte atrás do rapaz.
As estrelas voltaram a brilhar da forma normal; não mais esta-
vam obscurecidas. As árvores pararam de balançar. Gradualmente,
os sons noturnos do lago voltaram à normalidade, e o rapaz ficou
embasbacado, questionando consigo mesmo a natureza do fenô-

Entronização
meno que acabara de presenciar. Com um arrepio e uma forte
sensação de náusea, ele retornou à cabana. Como era de esperar,
não comentou nada com seus pais.
Apesar do que lhe aconteceu nesse verão assombrado nas flo-
restas do Norte, o rapaz jamais teve outro Halloween como aquele
da visão na Rua Três, tempos atrás.
17
•••

Três anos depois, em 31 de outubro de 1968, Bill Schnoebelen
atingira a maioridade.
Naquela noite, do pináculo de um penhasco, contemplava as luzes
de Dubuque, Iowa — olhando para o horizonte noturno do Haloween,
pela primeira vez, na condição de um iniciado em bruxaria.
2
caça-fantasmas?

Ficamos no centro e supomos que o segredo está no centro...


e o saber.

Dubuque, Iowa —1969

Era escuro como uma cripta naquele subsolo. Talvez porque esti-
véssemos sentados num lugar bem junto a uma cripta, no porão, em-
baixo do departamento de música da faculdade que eu frequentava.
Éramos cinco ou seis estudantes, sentados em círculo no chão, com
as pernas cruzadas, de mãos dadas, no escuro. Invocávamos o espírito
da mulher que estava sepultada do outro lado de duas enormes portas
de carvalho, naquele subsolo do departamento de música.
O líder do círculo na nossa pequena sessão espírita estava um
ano à minha frente na faculdade e, sem dúvida, havia se desen-
volvido mais do que eu em magia negra. Era Halloween, e nada
melhor do que comemorá-lo invocando o espírito de alguém que
tinha sido uma das pessoas de maior destaque naquela comuni-
dade. A mulher fora sepultada no subsolo do departamento de
música porque seu marido contribuíra não só para a construção
da capela situada acima, como também para a edificação de vários
outros edifícios no campus universitário. Tal como acontecia com
os benfeitores na Idade Média, foi desejo seu que o túmulo da
esposa ficasse instalado sob o altar principal da igreja que ele havia
construído.
Nosso líder, Dave (não é esse o seu verdadeiro nome), clamou,
em voz grave e bem fúnebre:
— Invocamos o espírito de F... W... . Queremos penetrar o
véu do além e falar com ela.
Nada ouvimos, a não ser o nosso coração batendo um pouco
Lúcifer Destronado

mais forte do que o normal. Dave continuou:


— Ó F... , nós a invocamos. Rasgue esse véu e comunique-se
conosco! Isso é tudo o que queremos. Dê-nos um sinal de que há
vida além da morte.
O silêncio que se seguiu criou um ambiente agourento: as trevas
eram mais tangíveis a cada minuto. De repente, as enormes portas
de carvalho que nos separavam do jazigo começaram a trepidar. A
princípio, um tanto pausadamente, mas, depois de alguns segun-
dos, nós, que nos encontrávamos sentados em círculo, ouvimos
um ruído alto e estrondoso.
20 Quase nos matamos, debandando, à toda, do porão, naquela
noite fria de Halloween. Lá fora, respiramos bem fundo e fomos a
uma pizzaria para avaliarmos nossa experiência parapsicológica. O
que não sabíamos é que estávamos prestes a receber a lição de que
“com certeza o seu pecado vai ser descoberto”.
Eu era encarregado, na faculdade, de atender as pessoas
na biblioteca do departamento de música; possuía, assim, uma
chave do local. Foi desse modo que pudemos ir ao subsolo do
departamento após o horário normal. Eu tinha de permanecer
naquele departamento boa parte do tempo depois do expediente.
Os estudantes de música costumavam vir a mim também com
questões e problemas.
Na semana seguinte à nossa “sessão espírita”, vários alunos,
que nada sabiam da nossa tentativa de invocar o espírito de uma
pessoa morta — pois mantivemos o caso em segredo entre nós —,
vieram até mim para fazer estranhas indagações, do tipo:
— Quem está tocando piano lá na sala 4?
Tinham ouvido nitidamente o som do piano e chegaram a ir
à sala 4 para verificar quem estava tocando, mas não encontraram
ninguém. Aparentemente, tratava-se sempre da mesma melodia.
Se isso não bastasse, certa noite eu estava na sala do chefe do
departamento fazendo cópias de fitas cassetes para ele quando,
inexplicavelmente, a mesma melodia surgiu nas fitas cassetes que eu
estava copiando, sem qualquer explicação de como isso poderia ter
acontecido. O departamento de música começou, então, a ganhar
certa “reputação”.
Um dia, um estudante corpulento ao entrar no departa-

ca ç a - fa n t a s m a s ?
mento, foi imediatamente arremessado para fora por poderosas
mãos invisíveis, com uma força tal que chegou a deslocar os
seus ombros.
De outra feita, uma freira viu uma mulher de baixa estatura,
mas bastante robusta, descendo pelos corredores, trajando um
vestido verde de cetim. Posteriormente, ficamos sabendo que a
descrição da mulher coincidira com o retrato oficial de F... W... !
21
Em outra ocasião, ainda, uma aparição atingiu-me em cheio.
Eu tinha o cuidado de nunca ficar nas salas com a luz apagada. Por
experiência, sabia que as pessoas que se aventurassem a entrar no
departamento de música com as luzes todas apagadas, normalmente
sairiam dali com lesões no corpo.
Mas, numa noite, tinha acabado de sair do departamento com
um casal de amigos, quando me dei conta de que havia esquecido
alguma coisa. Voltei ao recinto, estando as luzes apagadas, e nem
me lembrei de acendê-las. Mal havia dado alguns passos no hall
de entrada quando senti uma coisa repugnante agarrar a barriga da
minha perna esquerda, prendendo-a com garras abrasadoras.
Em toda a minha perna que latejava, senti como se a pele
estivesse queimando. Gritei e saí mancando do departamento,
quase chorando de dor. O exame médico constatou que havia
uma lesão do tipo queimadura, aproximadamente do tamanho
de uma mão, na barriga da minha perna. Por várias semanas,
depois desse incidente, tive que andar visivelmente mancando.
Por estranho que pareça, durante cerca de dez anos não cresceram
pêlos na região afetada.
Um dos episódios mais espantosos, com respeito a essas coisas
assombrosas, ocorreu quando a cidade de Dubuque foi atingida,
certa noite, por forte tempestade. O mau tempo causou a interrup-
ção do fornecimento de energia elétrica em todo o campus. Como
Lúcifer Destronado

eu era o encarregado da biblioteca do departamento, o deão dos


alunos me pediu que ficasse vigiando as portas do departamento,
trancadas. Foi com relutância que acedi, pois tinha ouvido falar
de acontecimentos muito estranhos que ocorreram ali. Depois de
algum tempo, o órgão começou a tocar dentro do departamento, mas
eu não estava nada disposto a ir investigar o que estava acontecendo,
pois teria de andar pelos corredores totalmente escuros.
Após alguns minutos, o deão desceu com uma lanterna e,
muito bravo, perguntou quem estava tocando o órgão. Respondi-
-lhe que as portas estavam trancadas e — o que era mais espantoso
22 — que o único órgão que havia no departamento de música era
um aparelho elétrico! Ele me disse que isso era um absurdo, abriu a
porta e, soltando uma imprecação, entrou. Assim que ele penetrou
a escuridão do departamento, sua lanterna, misteriosamente, se fez
em pedaços em sua mão. Saímos correndo de lá, enquanto o órgão
continuava tocando.
Tal como um contágio, os acontecimentos sobrenaturais foram
se espalhando para as outras faculdades locais. Uma jovem, amiga
de um dos rapazes presentes na reunião que detonara todos esses
acontecimentos, e que agora considerávamos ignóbil, teve uma
experiência e tanto. Ela sentiu a presença de (e depois viu) uma
enorme criatura, à semelhança de um lagarto, arrastando-se até
a sua cama, no seu dormitório, enquanto, paralisada, assistia à
coisa permanecer em cima do seu cobertor durante um período
de tempo que parecia uma eternidade. Sua companheira de quar-
to, ao chegar, deparando-se com o intruso, gritou, assustada, e ele
imediatamente desapareceu.
Toda essa agitação causada pelo sobrenatural, no entanto, serviu
apenas para alimentar o meu interesse pelo ocultismo. Decidi que,
uma vez que eu havia contribuído para a vinda do espírito, tinha
a responsabilidade de mandá-lo de volta para o seu “descanso”.
Comprei, então, um manual de feitiçaria, intitulado A Maior Chave
de Salomão [em Inglês, The Greater Key of Solomon], que continha
rituais mágicos de exorcismo. Eu me dispunha a fazer o que fosse
necessário para lançar naquele espírito tudo o que estivesse no livro,
a fim de fazê-lo parar de vez.
No dia do aniversário da morte da referida mulher, diversos

ca ç a - fa n t a s m a s ?
amigos meus reuniram-se do lado de fora do porão da capela. Ali
estavam para ver o que iria acontecer comigo! Eu abri a porta do
departamento de música e, segurando o livro, fui até as terríveis
portas de carvalho. Meu coração disparava como uma britadeira.
Abri as portas que davam para o túmulo e entrei.
O jazigo, em mármore, atingia um metro de altura do piso do
subsolo. Eu já sabia disso, pois tinha feito previamente um reco-
23
nhecimento do local à plena luz do dia. Agora, porém, a única luz
que havia era a da rua, que vinha de um semicírculo de janelas que
circundavam a enorme cripta. Fazia tanto frio no local que dava
para ouvir a minha respiração ofegante. Eu sabia, de meus estudos,
que um frio sobrenatural é sinal de um elevado grau de atividade
paranormal.
Andei, então, em volta do túmulo e comecei a recitar o ritual
de exorcismo do livro, com a voz mais firme e autoritária que eu
conseguia naquelas circunstâncias. Minha voz soava de modo so-
brenatural e reverberava no espaço vazio de pedra da cripta, mas
não fui interrompido por outros sons e movimentos.
Do lado de fora, meus amigos aguardavam os acontecimentos
com ansiedade; uma grande parte deles esperava ver-me arremessado
para fora, pelas janelas, fragmentado em pequenos pedaços, por ter
ousado entrar no túmulo da pobre mulher. Estavam também de
guarda, pela segurança do campus.
Lá dentro, finalmente, concluí todo o ritual, um tanto enfado-
nho. Então, “conjurei” o espírito a que fosse embora e que nunca
mais retornasse. Contive minha respiração por um instante, para
ver se algo acontecia.
Nada aconteceu.
Finalmente, num ato de triunfalismo jovem, subi no túmulo
e desafiei a temível F... W... a fazer alguma coisa.
Lúcifer Destronado

Nada.
Depois de alguns minutos, fechei o livro, deixei calmamente
a cripta, saí e tranquei a porta do departamento de música. Meus
amigos se alegraram quando me viram, mas, no fundo do meu
coração, eu achava que eles estivessem esperando uma manifestação
visível e espetacular, com raios e luzes saindo do lugar.
Pelo que sei, isso foi o fim das ocorrências paranormais no
departamento de música. Fiquei conhecido como o “exorcista”
da faculdade.
Toda essa minha experiência contribuiu para apoiar ainda mais
24 minha crença nos poderes da magia e do ocultismo. Minha carreira
como feiticeiro tinha, oficialmente, começado.

Dubuque, Iowa —1973

Minha esposa (que era grande sacerdotisa) e eu fomos chama-


dos para resolver a situação de uma casa que era muito grande
e de alto valor, mas que estava mal-assombrada. Será que as
pessoas pedem a bruxos que as livrem de espíritos em suas ca-
sas? Bem, elas o fazem sim, quando se encontram num estado
desesperador. O casal que morava na casa tinha visto o bastante
para quase serem levados à morte. A mulher era católica, e o
marido, completamente ateu. Mas os acontecimentos na casa
lhes causaram um enorme terror. Na verdade, o homem chegou
ao ponto de dizer que, se não conseguíssemos livrar a casa daquele
mal, poderíamos ficar com ela. Já havia, inclusive começado a fazer
planos para a mudança.
A mulher havia telefonado para a arquidiocese católica, mas
tudo o que puderam fazer foi enviar um sacerdote para benzer a
casa. Ao terminar a benzedura, enquanto o padre saía, risos de
zombaria irrompiam por todo canto. A senhora tinha ouvido falar
de nós por meio de alguém que nos conhecia (pois era um de nossos
melhores alunos da escola de bruxaria que então mantínhamos) e
nos chamou. Isso ocorreu há cerca de 12 anos antes do filme Os
Caça-Fantasmas.
Fazíamos parte da alta hierarquia da feitiçaria, como sacerdotes,
e éramos druidas. Fomos, então, convocados para enfrentar aquela

ca ç a - fa n t a s m a s ?
casa infestada de espíritos malignos e poderosos, situada no alto de
uma colina, de onde se descortinava toda a cidade de Dubuque.
Os proprietários nos relataram a difícil situação que estavam
vivendo, e decidimos ajudá-los. Tínhamos sido recentemente trei-
nados e chegado ao nível de alto sacerdócio; assim, achávamos estar
preparados para enfrentar qualquer tipo de fantasma.
O casal tinha se apavorado, principalmente porque um dos
fantasmas ameaçava as crianças. Elas se queixavam de pesadelos 25
e de verem coisas assustadoras no quarto. O pai, apático e mate-
rialista, tinha sido acordado numa noite por algo que puxava as
cobertas da sua cama. Viu uma aparição branca pairando no ar,
aos pés da cama. Tinha garras afiadas, que começaram a puxar
as cobertas. Quando ele se levantou da cama para acossá-la, ela
deslizou pelo corredor de um modo tão suave que parecia ter ro-
lamentos nos pés. O homem a perseguiu passando pelos quartos
das crianças e escada abaixo. O vulto o levou pela grande sala,
à cozinha e, alcançando a porta dos fundos, passou por ela. O
homem tentou alcançá-lo, mas, quando abriu a porta, teve um
enorme choque: no lugar do seu quintal, havia um abismo infinito
de estrelas! Ele sentiu o vento da eternidade roçando seu rosto e
voltou correndo para dentro de casa, tomado de terror. Foi então
que fomos chamados.
Visitamos a casa, discutimos o problema e nos inteiramos
do histórico da mansão. Em seguida, pedimos aos proprietá-
rios permissão para ver o “coração” da casa. Os ocultistas e os
parapsicólogos acreditam que as casas mal-assombradas, em sua
maioria, têm um “coração”, ou seja, um centro espiritual do qual
provém toda a ação sobrenatural. Geralmente é um lugar bastante
frio. No caso deles, rapidamente descobrimos que era o quarto
principal, o do casal.
Esse quarto era gelado. Dava para sentir a própria respiração.
Lúcifer Destronado

Os demais cômodos, porém, eram agradáveis e aquecidos. Um


grande espelho, na porta do closet daquele quarto, não tinha mais
uma ótica perfeita, tornando-se todo ondulado, como um espelho
de parque de diversões, e que tremia assustadoramente quando
olhávamos para ele.
Prosseguimos, então, com os procedimentos que havíamos
aprendido. Sentamo-nos e fizemos uma pesquisa espiritual na-
quele quarto principal da casa. Conseguimos determinar que havia
aparentemente dois espíritos: o primeiro era de um velho cruel,
com tendências para a pedofilia; o outro era um espírito de mulher
26 bem mais velha, que era boa. Possivelmente, ela estaria querendo
informar os pais, de algum modo, sobre os propósitos daquele
outro espírito para com as crianças. Essa informação nos foi dada
por nossos “espíritos guias”, que também eram seres desencarnados,
mas bons sujeitos (assim pensávamos).
Vimos que a casa estava realmente bastante assombrada, de
modo que decidimos trazer conosco, na noite seguinte, todos os
feiticeiros do nosso grupo. Pedimos-lhes que fizessem círculos de
proteção em torno da família, para que nenhum dos familiares
fosse possuído pelos espíritos em fuga que esperávamos expulsar.
Minha esposa e eu levamos para o andar de cima os dois principais
feiticeiros do nosso grupo (uma mulher e um homem), e ali reali-
zamos nossos feitiços de forma a incrementar, por algum tempo,
o poder que achávamos que os nossos bruxos possuíam.
Mas, mesmo com a experiente liderança de minha esposa,
nada estava dando muito certo. Em determinado momento, ela
brandiu ostensivamente o seu punhal de feiticeira e perseguiu
um dos espíritos escada abaixo até a porta dos fundos. Viu-se,
também, diante da abertura de um abismo cheio de estrelas, em
vez do quintal!
Finalmente, num ato de desespero, fez uso do nome que bem
poucos feiticeiros terão coragem de até mesmo pronunciar. Ela gritou:
— Em nome de Jesus Cristo, ordeno que todos os espíritos
saiam daqui!
Foi como se um estrondo sobrenatural atingisse toda a casa, e
imediatamente a opressão desapareceu. Foi como sentir de novo o
sol no rosto depois de uma tempestade.

ca ç a - fa n t a s m a s ?
Como cada um de nós estava trabalhando num quarto diferente
da casa, eu não tinha ciência do que exatamente Sharon tinha feito.
Naturalmente, presumi que nossos rituais tinham tido êxito e nem
me preocupei mais com o assunto. Nós dois e os demais do grupo
fomos, então, para o andar térreo, e o casal proprietário nos disse
sentir que a casa estava ótima. Naturalmente acharam ter sido pelos
27
nossos “poderes místicos” altamente desenvolvidos que a opressão
desaparecera.
Mas aquela noite ainda não terminara. Sentamo-nos na sala de
estar para tomar um chá, enquanto nos deliciávamos com o sabor
da nossa vitória, quando de repente um som de um uivo, horri-
pilante, irrompeu naquela noite. Seguiu-se a ele o barulho de um
forte impacto, como se alguém tivesse dado um tiro de canhão na
porta de entrada. Corremos até a porta e a abrimos. Vimos à nossa
frente o gato da casa, tremendo de forma incontrolável, tomado de
um terrível pavor. Olhando com atenção para a porta, pareceu-nos
que alguém (ou alguma coisa) tinha arremessado o gato com uma
incrível violência contra a porta.
O pobre gato estava tão aterrorizado que tinha se arranhado
todo. A dona da casa nos informou que o bichano era tão bravo
que já tinha até enfrentado cães duas vezes maiores do que ele. Ela,
então, o pegou e, quando o colocou no chão, ele disparou e foi
esconder-se debaixo do sofá, tremendo de medo, e ali permaneceu
por muitos dias.
Uma pequena camada de neve cobria o gramado lá fora, mas
não havia pegadas humanas sobre a neve em parte alguma nas pro-
ximidades da entrada da casa, tampouco pegadas do gato. Assim,
concluímos que os espíritos, ao saírem da casa, vingaram-se no gato
Lúcifer Destronado

da família, arremessando-o contra a porta.


Não obstante esse pequeno incidente, tanto nós como a família
nos sentimos satisfeitos com o final de tudo. Os espíritos nunca
retornaram, e o casal nos enviou um cheque de valor mais que
suficiente para o pagamento de nossos serviços.

Milwaukee, Wisconsin —1975

Mudamos o nosso “ministério” de Dubuque para Milwaukee, em


28 1974, porque mais de 80 pessoas haviam solicitado que minis-
trássemos cursos sobre feitiçaria com iniciações e estabelecêssemos
novos grupos de bruxos naquela cidade. Começamos, então, a dar
aulas de modo regular a candidatos à feitiçaria.
Um dia, durante o quarto semestre daquela escola de bruxaria,
recebemos de uma de nossas alunas do segundo ano um frenético
telefonema por volta da meia-noite. Ela estava num bar e tinha
bebido bastante. Sentia que demônios haviam se apoderado dela.
Julgava-se totalmente possuída por eles! Como fazia pouco tempo
que estávamos na cidade, não sabíamos onde ficava o bar. Assim,
sugerimos que ela viesse até nossa casa.
Levou uma hora para a aluna chegar. Nesse ínterim, ela foi
atormentada incessantemente. Disse-nos que mãos invisíveis fi-
cavam agarrando suas mãos no volante, tentando desviar o carro
para a contramão. Ela escapou por um triz da morte, uma ou
duas vezes.
Inicialmente, conversamos com ela do lado de fora de nossa
casa, porque tinha medo de entrar. Por fim, começou a ficar vio-
lenta, de modo que tivemos de arrastá-la até o nosso templo de
magia, onde tínhamos estabelecido um Círculo de Bruxos. Ela ia
chutando, berrando e espumando pela boca.
A mulher estava totalmente fora de si, espumando e gemendo
lamuriante como uma banshee [bruxa que, na crença popular ir-
landesa, prevê a morte de uma família]. Pegamos as nossas cordas
de bruxaria e a amarramos, conforme prescrito pelos feiticeiros,
para não nos atingir nem se machucar. Àquela altura, eu me sentia

ca ç a - fa n t a s m a s ?
bastante confiante, pois, como parte do meu treinamento ocul-
tista, havia iniciado meus estudos de preparo para o secerdócio
da Igreja Católica Romana Antiga [Igreja existente nos Estados
Unidos — Old Roman Catholic Church, que se declara sucessora
da Igreja Católica histórica, não sendo ligada ao Vaticano], e já
recebido o grau menor de ordenação. Significa que eu havia rece-
bido a “Santa Ordenação” de exorcista e com ela, supostamente,
o poder de expelir demônios. Considerando todo o nosso treina- 29
mento em magia, nosso poder de grande sacerdote na feitiçaria e
os manuais que consultávamos, achamos que a nossa tarefa seria
extremamente fácil.
Quatro horas depois, no entanto, nossa aluna continuava se
retorcendo, chutando e proferindo pragas malignas contra nós.
Tínhamos colocado um “círculo mágico” em torno dela, dentro
dos limites do nosso templo, e tentado de tudo, para expelir os
demônios que a atormentavam. Lançamos mão dos rituais de exor-
cismo do livro A Maior Chave de Salomão e dos manuais e textos
de bruxaria de que dispúnhamos. Cheguei até mesmo a ler todo
o ritual católico romano de exorcismo, rezando em nome de Jesus
Cristo e borrifando sobre ela um pouco de água benta. Mas tudo
isso só fez aumentar sua fúria (dela ou deles).
O dia já ia amanhecer e nos encontrávamos exaustos, mas
não os demônios. Eu havia praticado todo o ritual de exorcismo
duas ou três vezes, assim como outros rituais e atos simbólicos
— mas tudo foi totalmente inútil. Finalmente, minha esposa,
Sharon, suspirou, desesperada, pondo para trás o cabelo que lhe
caía sobre os olhos, e me olhou como quem dissesse: “Neste caso,
nada funciona!”
Sharon, então, pôs as mãos sobre a cabeça da mulher, depois
de já ter feito isso inúmeras vezes, mas agora dizendo:
— Em nome de Jesus Cristo, eu ordeno que todos os demônios
Lúcifer Destronado

que estão nesta mulher saiam agora!


A infeliz mulher deu um berro tão forte que por pouco não
levantou o teto da casa. Seu corpo se levantou, arqueando-se, rete-
sado, mas, em seguida, ela desmaiou, caindo inerte no chão como
morta. Pela primeira vez, depois de várias horas, houve silêncio
naquele quarto em penumbra.
Voltei-me para Sharon, um tanto ofendido. Ela sacudiu os
ombros, como que dizendo: “E daí?”, e curvou-se para ajudar a
mulher, que começava a voltar a si, recuperando a consciência.
Meia hora depois, ao nascer do sol, pudemos, então, despedi-la
30 advertindo-a de que deveria manter-se longe de bares do tipo da-
quele que frequentara.
Contudo, meu ego, como homem, fora atingido. Não con-
seguia entender — mesmo que houvesse alguma magia no uso do
nome de Jesus Cristo — por que esse nome funcionara de imediato,
sem esforço algum, quando Sharon o mencionou, mas não tivera
efeito algum quando eu o tinha usado, várias vezes, dentro de um
grande e bem elaborado ritual de exorcismo.
3
conh e ç a o se u in i m igo

(...) para que Satanás não alcance vantagem sobre nós;


pois não lhe ignoramos os desígnios.
— 2Coríntios 2.10,11

c omo o capítulo anterior demonstrou, há de fato bruxos e sata-


nistas por aí. Digo isso, porque fui um deles! Eles apresentam-se de
muitas e diferentes formas, e nem todos se vestem de preto e têm
uma cruz invertida tatuada na testa. Nós não a tínhamos. Alguns
deles usam terno e gravata e ocupam cargos de destaque nos con-
selhos administrativos de suas comunidades. Outros, infelizmente,
podem estar até mesmo usando vestes clericais.
Quando eu era satanista, era também sacerdote ordenado da já
citada Igreja Católica Romana Antiga. Era ministro de uma igreja
que se dizia “cristã espírita”. E conscienciosamente me propus a
fazer o mestrado em Teologia em um conceituado seminário teoló-
gico católico do Meio-Oeste dos Estados Unidos. Cumpria todos os
meus deveres eclesiásticos, e nenhum dos meus paroquianos sabia
que eu vivia envolvido com culto ao diabo. Digo isso não para me
vangloriar, mas para ressaltar que é um erro acharmos que pessoas
“respeitáveis” não possam ser servas de Satanás. Com efeito, tais
pessoas são as que melhor se encaixam nas sutis práticas do diabo,
para o servirem.
Num certo sentido, os satanistas são nossos inimigos, mas
num sentido bem mais amplo eles próprios são vítimas de Satanás.
Creio que posso dizer, sem receio de me contradizer, que pratica-
mente todos os satanistas são pessoas enganadas. Poucos são os
que compreendem o que estão fazendo ou para onde estão indo.
Foram manipulados pelo “banqueiro do jogo”. São todos — num
grau maior ou menor — vítimas da má informação ou da pura
Lúcifer Destronado

mentira.

Descubra a sua mentira!

É óbvio que somente lunáticos totais serviriam alguém tendo


pleno conhecimento de que receberão como paga o desespero e o
horror nesta vida e tormento eterno no fogo do inferno. Assim, a
nenhum satanista é permitido crer no que a Bíblia diz quanto ao
seu destino. Satanás emprega vários artifícios para fazer com que os
que o servem não vejam a verdade. Sua estratégia mais importante
32
é mantê-los bem longe da Bíblia.
1. Satanistas de nível inferior normalmente são ensinados de
que, na realidade, nem Deus nem o diabo existem.
Esta é a mentira promovida pela literatura da Igreja de Satanás
[Church of Satan (COS)]. Essa igreja é a primeira nos Estados
Unidos, entre todas as igrejas satânicas, a gozar de imunidade no
pagamento de impostos. Diz aos seus membros que Satanás é ape-
nas um conveniente arquétipo; que ele na verdade não existe; que
ele é apenas um símbolo tal como a estátua da liberdade, ao qual
se pode dar um significado com um conteúdo emocional.
Para eles, Satanás é como uma insígnia que usam, que lhes
permite pensar de modo diferente das “massas” e serem pervertidos
e misantropos [os que buscam apenas os seus interesses e odeiam a
sociedade].  Para os tais, Satanás simboliza o ser interior, o verdadeiro
potencial que eles têm, o qual deve ser alcançado por todos os meios
possíveis. Ele é tudo o que poderão ser, se apenas conseguirem se
livrar das algemas da sociedade para serem realmente eles mesmos.
2. Satanistas de nível médio, que se situam acima do satanismo
“light” e burlesco da Igreja de Satanás, recebem o ensino de que
Satanás é real, que ele não é mau, mas apenas incompreendido.
Satanás para eles é uma variante do Deus Chifrudo da
Wicca, com uma índole bem pior. Ele é um romântico rebelde
das trevas, um solitário e byroniano anti-herói. Representa o
lado mais tenebroso da humanidade, sua alienação e solidão. Esse
“Satanás” não é um inimigo de Deus, mas um oposto necessá-

o se u in i m i g o
rio — a “leal oposição”. Seu pensamento é que “Deus não pode
ser visto como bom sem que haja alguém que o faça parecer ser
bom”; desse modo, Satanás existe como um trágico contraste. Esse
Satanás não aflige ninguém e, por certo, não é um ser malévolo.
Ele é apenas o senhor das forças das trevas e ajuda a humanidade

co n h e ç a
com seu “lado de trevas”.
3. Satanistas de nível mais elevado alcançam o patamar se-
guinte da verdade, ou seja, creem que Satanás é maligno, mas que
a sua malignidade é melhor do que o que Deus tem a oferecer. 33
Segundo essa visão, Satanás é quem, de modo injusto, recebe
toda a responsabilidade dos erros de Deus. Eles creem que, por
ciúmes, Deus o expulsou do céu, e assim Satanás procura recuperar
a sua glória. Deus é apresentado como o Deus das “massas”, um
rebanho de pessoas tolas que têm mentalidade de escravo. O insano
filósofo Friedrich Nietschze teria isso em mente quando afirmou
que o cristianismo é uma religião “de escravos”.
O satanismo — dizem — é uma religião de senhores. O rei-
no de Satanás é para os criativos e ousados, para os que querem
viver grandes emoções. O céu é apresentado como sendo um lugar
maçante, cheio de tolos dedilhando harpas o tempo todo. O inferno,
por outro lado, é apresentado como um lugar de uma orgia eterna.
O cristianismo — dizem ainda — é bom para os que são meramente
humanos (costumávamos nos referir a eles como “me-hums”), mas,
para os que são senhores, o satanismo é a única opção. Eles crêem que,
quando alguém se alista no exército de Satanás (vendendo a alma ao
diabo), está entrando numa guerra que tem por objetivo retomar de
Deus o céu. Deus é visto como o usurpador, e Satanás como o gover-
nante de direito do céu. Desse modo, Satanás é tido como um grande
herói libertador, lutando contra um rei imperialista.
4. Para os que estão em nível de mestrado no satanismo,
Satanás é apresentado como o deus legítimo do Universo, que
extrai poder do sofrimento, da perversão e da morte.
Lúcifer Destronado

Este nível de satanismo é firmemente assumido, mas os que


nele se enquadram talvez não tenham participado de rituais de
sacrifício humano. Entretanto, chegaram a um ponto em que sua
ética foi incrivelmente distorcida: para eles, a dor é um prazer; e o
prazer, uma dor. Fazem cortes no seu próprio corpo (ou em outras
pessoas que sejam complacentes) para extraírem e/ou chuparem
sangue. Sacrifícios de animais para eles são necessários, porque é
dos sacrifícios que, segundo creem, procede o real poder. O sacra-
mento mais elevado, para eles, é a destruição do inocente. Neste
34 nível, os ritos de dor e de perversão são tidos como necessários para
que a “porta” que trará a manifestação do reino de Satanás sobre
a terra seja aberta. Almas precisam ser “ganhas” a uma velocidade
frenética, pois acreditam que todos os que se alistarem no exército
de Satanás participarão do “bombardeio” do céu, para expulsar o
falso Deus, Jeová.
5. Os que participam do mais alto nível de satanismo nor-
malmente são totalmente possuídos por demônios.
Geralmente, leva muitos anos (a menos que a pessoa tenha
nascido numa família de satanistas) para alguém chegar a esse
nível do mal. Sexo com demônios e sacrifícios humanos são ne-
cessários. Os que se acham nesse nível sabem que o inferno é uma
realidade, mas são ensinados que, mesmo que percam a batalha
contra Deus, vão “reinar” no inferno e nunca sofrerão. Eles são
vítimas do falso ensino, tão comum, de que Satanás reina no
inferno (como se dá com o prisioneiro mais valente numa prisão
de segurança máxima) e que, assim, concederá favores a quem ele
quiser. Não há base bíblica para isso, embora filmes e até mesmo
desenhos animados promovam essa ideia.
Esses satanistas acreditam que o seu destino é fazer com que
Deus seja deposto e morto, tornando-se, assim, corregentes do
universo com o seu senhor, Satanás. Acreditam que eles mesmos
são deuses (e deusas) e que têm o direito de determinar quem
deve viver ou morrer. Em sua lógica pervertida, se uma pessoa é

o se u in i m i g o
deus, então pode matar, destruir, roubar e estuprar quem quiser,
porque é ela quem estabelece as regras. Daí decorre a máxima
satânica de Aleister Crowley:
Fazer o que tu queres será toda a lei; o amor é a lei, amor
submisso à vontade.1 

co n h e ç a
Para eles, o amor tem de subordinar-se à vontade satânica
do senhor de todas as magias. Paradoxalmente, eles sabem,
no entanto, que Satanás é um cruel senhor que impõe tarefas
a seus subordinados. Não é mais aquele rebelde romântico; 35
agora, ele é mais como o chefe supremo de um implacável
sindicato cósmico do crime, que tortura e castiga sem pie-
dade seus servos. Ele é o Capo di Capo,2  ao passo que eles (os
satanistas desse alto nível) são seus “afilhados”. Eles acreditam
ter também um grande poder e “prerrogativas especiais”, mas
no fundo sabem que o seu reinado é bastante vulnerável. Um
só movimento errado, e o seu Capo se voltará contra eles e os
punirá com extrema severidade.
Foi-lhes ensinada ainda a mentira de que não há alternativas
para as suas vidas, e o Deus do céu jamais os receberá, uma vez que
já praticaram atos demasiadamente perversos e malignos. E que, se
tentarem sair ou desertar para o “outro lado”, serão mortos de um
modo horrível e torturados eternamente no além. Sem dúvida, o
que já viram de torturas e sacrifícios humanos é mais do que sufi-
ciente para saberem até que ponto vão os horrendos atos maldosos
que Satanás e seus escravos humanos lhes poderiam fazer.
É muito importante para o cristão que quer ganhar almas com-
preender que tais satanistas encontram-se totalmente convencidos
de que “venderam a alma” ao diabo e que Jesus não pode fazer nada
para os salvar. Essa mentira precisa ser primeiramente desfeita para
que o testemunho do evangelho seja eficiente. Eles acreditam que
estão fora do alcance da salvação.
Esta é uma das razões pelas quais este livro foi escrito. Que-
Lúcifer Destronado

remos que todos saibam — os satanistas e os que nunca se envol-


veram com o satanismo — que eu tinha vendido minha alma a
Satanás, mas uma simples oração ao Senhor Jesus Cristo quebrou
esse pacto em apenas um minuto! Eu e minha esposa somos hoje
cristãos cheios de alegria, vivos e vitoriosos, e já se passaram cer-
ca de 20 anos desde o dia em que nos desligamos de Satanás e
pedimos a Jesus Cristo que se tornasse nosso novo Senhor.
Embora por diversas vezes os servos de Satanás tenham nos
perseguido, o Senhor Deus — o Rei de todo o Universo, Jesus
Cristo — sempre chegou um pouco antes do que eles! Temos sido
36 guardados por Ele o tempo todo, praticamente sem esforço algum.

c
Outro risto?

Quem de fato é Satanás? Sabemos pela profecia de Ezequiel que


Satanás, pelo menos antes de pecar, possuía muitos atrativos:

Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de


Tiro e dize-lhe: Assim diz o Senhor Jeová: Tu és o aferidor
da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura.
Estavas no Éden, jardim de Deus; toda pedra preciosa
era a tua cobertura: a sardônia, o topázio, o diamante,
a turquesa, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo, a es-
meralda e o ouro; a obra dos teus tambores e dos teus
pífaros estava em ti; no dia em que foste criado, foram
preparados. Tu eras querubim ungido para proteger, e te
estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das
pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus cami-
nhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou
iniquidade em ti. (Ez 28.12-15 – rc)
Aqui o Senhor está falando sobre o “rei de Tiro”, um tipo de
Lúcifer, como é evidente no contexto. Vemos que Lúcifer era co-
berto de diversas pedras preciosas. Possivelmente, foi até mesmo
equipado com alguns instrumentos musicais — tambores e pífaros
— desde o dia em que foi criado por Deus.

o se u in i m i g o
Alguns comentaristas da Bíblia acreditam que ele foi incum-
bido do louvor musical a Deus diante do trono — uma espécie de
regente do coro celestial. Isso explicaria por que hoje Satanás tem
tanto interesse pela música e a usa com tanta eficácia.
Adicionalmente, Lúcifer é descrito como o “querubim ungido

co n h e ç a
para proteger”. Ele era o quinto querubim e, assim, parece ter sido o
que protegia o trono do Senhor. Dois pontos são reveladores aqui.
O primeiro, e mais importante, é que Satanás, uma vez tendo sido
ungido, tem uma unção! A Bíblia nunca menciona que ele tenha
37
perdido essa unção. Na verdade, ele é o único querubim a respeito
de quem é dito ter sido ungido.
O termo hebraico que exprime “aquele que é ungido” é
transliterado como “messias”, cuja palavra grega correspondente
é “cristo”. A expressão “Jesus Cristo”, na verdade, significa “Jesus,
o Messias”, ou “Jesus, o Ungido”. Assim, há pelo menos “outro
cristo”, e este é o diabo! Paulo adverte-nos:
Pois, se alguém lhes vem pregando um Jesus que não é aquele
que pregamos, ou se vocês acolhem um espírito diferente do
que acolheram, ou um evangelho diferente do que aceitaram,
vocês o toleram com facilidade. (2Co 11.4 – nvi)
E o próprio Senhor Jesus confirma:
Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão
grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os
eleitos. (Mt 24.24 – nvi)
Há, então, uma perigosa armadilha em que poderemos cair,
pois há muitos que dizem haver encontrado “o Cristo”, e até alguns
(como Maitreya, o Senhor da Nova Era) que se dizem ser “o Cristo”.
Outros, até mesmo, declaram estar ligados a um “Jesus Cristo”. Há
quem diga ter “a unção” ou meios para ensinar os crentes a adquirir
“a unção”. Entretanto, as palavras podem enganar e, em muitos
casos, o crente deverá ter discernimento suficiente para perguntar:
Lúcifer Destronado

“Que Cristo?”, ou: “Que Jesus?”, ou ainda: “Que unção?” É evi-


dente, pelo que está na Bíblia, que Satanás pode produzir “cristos”
e “unções” diversos, à sua maneira, e que podem vir a ser bastante
convincentes.
Quando eu estava profundamente enfronhado na feitiçaria
e mesmo no satanismo, buscava entrar em transe com um tal
“Jesus”. Todo domingo, durante algum tempo, esse “Jesus” vinha, e
eu o incorporava. Ele dizia, então, coisas profundas e maravilhosas
para aqueles que estavam ouvindo, que tomavam nota. Contudo,
naquela época, eu não saberia distinguir o verdadeiro Jesus Cristo
38 de um sapo chifrudo.
Eu julgava que tudo o que tinha de fazer para certificar-me
de que aquelas entidades tratavam-se de quem diziam ser era
desafiá-las, perguntando: “Você está na luz?” Agora, na condi-
ção de um cristão que crê na Bíblia, posso apenas com tristeza
reconhecer a minha ignorância. Lúcifer significa “portador da
luz”, e muitos místicos, feiticeiros e até maçons declaram estar
buscando a “luz”. Contudo, essa “luz” é falsa, uma luz que, na
realidade, cega a pessoa e vem do abismo. Assim, desafiar um
espírito a identificar-se perguntando-lhe se ele está na luz é tão
eficaz quanto querer resistir ao ataque de um rinoceronte por
meio de cusparadas!
Não conhecíamos um método baseado na Bíblia para discernir
os espíritos, não sendo, portanto, em nada diferentes de muitos
outros místicos que pensam ter contato com Jesus. Contudo, os
ensinos e o estilo de vida dessas pessoas deixam claro que o Jesus
delas contradiz os ensinamentos do Jesus da Bíblia. Receamos
que até mesmo alguns ministros cristãos visualizem um Jesus que
pode não ser, absolutamente, o Senhor Jesus, mas tratar-se de uma
inteligente contrafação.
Não estamos atacando esses pregadores, pois acreditamos
que, na maioria dos casos, sejam sinceros em seu propósito de
servir a Deus. Tais ministros precisam, no entanto, submeter suas
visões e mensagens, cuidadosamente, ao escrutínio da Palavra de
Deus (Is 8.20) e ao discernimento de outros homens de Deus

o se u in i m i g o
(1Co 14.29).
Frequentemente, as pessoas acham que têm uma “unção de
Deus” e que “o Senhor lhes disse” tais e tais coisas, quando, na
verdade, estão sendo enganadas por outra unção.
Em capítulo mais adiante, consideraremos o assunto de como

co n h e ç a
podemos pôr à prova os espíritos para termos a certeza de que o
que estamos recebendo provém, de fato, do verdadeiro Deus vivo.

Satanás e suas limitações


39
Por mais sábio, poderoso e experiente que Satanás seja, ainda assim,
ele é limitado. E isso faz toda a diferença.

1. Satanás não pode estar em mais de um lugar ao mesmo


tempo.
Ele depende de linhas de comunicação com suas tropas. A
experiência, tendo como base o ensino bíblico, tem demonstrado
que podemos orar e causar um grande efeito de interrupção nessas
linhas. Veja:

Pois tu és grande e realizas feitos maravilhosos; só tu és Deus!


(Sl 86.10 – nvi)

Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá


sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá
sido desligado nos céus. (Mt 18.18)
2. Satanás não é onisciente.
Como ele depende dos demônios, seus servos, para lhe trans-
mitirem informações, essa transmissão pode ser afetada por meio
da batalha espiritual intercessória.

Assim diz o Senhor, que te redime, o mesmo que te formou


desde o ventre materno: Eu sou o Senhor, que faço todas
Lúcifer Destronado

as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho espraiei a


terra. (Is 44.24)

E Ezequias orou ao Senhor: “Senhor, Deus de Israel,


que reinas em teu trono, entre os querubins, só tu és Deus
sobre todos os reinos da terra. Tu criaste os céus e a terra.”
(2Rs 19.15 – nvi)

3. Satanás não conhece o futuro.


40 Satanás conhece realmente a Bíblia. Mas provavelmente se es-
queceu mais da profecia bíblica do que dez seminários de Teologia,
repletos de grandes conhecedores da Bíblia, a pudessem memorizar.
Não obstante, há “profecias” que seus servos (falsos profetas, mé-
diuns, etc.) fazem e até se cumprem, porque estão a par dos planos
que o próprio Satanás estabeleceu. Mas Deus pode invalidar esses
planos. É por isso que muitas predições mediúnicas falham, ao
passo que as predições bíblicas são 100% precisas.

Declarem o que deve ser, apresentem provas. Que eles junta-


mente se aconselhem. Quem há muito predisse isto, quem o
declarou desde o passado distante? Não fui eu, o Senhor? E
não há outro Deus além de mim, um Deus justo e salvador;
não há outro além de mim. (Is 45.21– nvi)

Ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus


Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém. (Rm 16.27)
Quem então é como eu? Que ele o anuncie, que ele declare
e exponha diante de mim o que aconteceu desde que es-
tabeleci meu antigo povo, e o que ainda está para vir; que
todos eles predigam as coisas futuras e o que irá acontecer.

Não tremam, nem tenham medo. Não anunciei isto e não o


predisse muito tempo atrás? Vocês são minhas testemunhas.
Há outro Deus além de mim? Não, não existe nenhuma

o se u in i m i g o
outra Rocha; não conheço nenhuma. (Is 44.7-8 – nvi)

Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra


e glória pelos séculos dos séculos. Amém. (1Tm 1.17)

co n h e ç a
4. Satanás tem, comparativamente, pouco poder.
Especialmente no que concerne aos cristãos. Embora mais pode-
roso do que qualquer ser humano, e podendo realizar falsos sinais e
maravilhas, ele quase nada pode contra os filhos de Deus! Somente pode
41
tocar em nós à medida que nossos pecados lhe concedem pontos
de acesso ou por uma permissão especial de Deus. Até mesmo uma
simples criança, se nascida de novo, consciente de sua posição em
Cristo, poderá lançar Satanás de um lado para o outro (em nome
de Jesus) como uma bola de pingue-pongue. Veja, por exemplo:
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autori-
dade me foi dada no céu e na terra. (Mt 28.18)

Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu


nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão
em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes
fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão
curados. (Mc 16.17-18)

Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele


fugirá de vós. (Tg 4.7)
5. Satanás não é criativo.
Deus é a fonte de toda criatividade. A maior parte das obras
de Satanás é uma distorção das boas coisas que Deus nos conce-
deu, seja espirituais, físicas, intelectuais ou emocionais. O diabo
ainda continua reciclando as mesmas velhas mentiras usadas por
ele, centenas e centenas de anos atrás, sabedor de que os homens
normalmente não estudam a história da Igreja.
Lúcifer Destronado

Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que


formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou
para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor,
e não há outro. (Is 45.18)

No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com


Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas
as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do
que existe teria sido feito. (Jo 1.1-3 – nvi)
42
Pois, por meio dele, Deus criou tudo, no céu e na terra, tanto
o que se vê como o que não se vê, inclusive todos os poderes
espirituais, as forças, os governos e as autoridades. Por meio
dele e para ele, Deus criou todo o universo. Antes de tudo.
ele já existia, e, por estarem unidos com ele, todas as coisas
são conservadas em ordem e harmonia (Cl 1.16-17 – blh)

6. Satanás é egomaníaco.
O orgulho do diabo o leva a intrometer-se em tudo. É por
isso que Deus se agrada em estar sempre humilhando-o por meio
de nós, Seus frágeis instrumentos humanos. Satanás, na verdade,
pensa que poderá vencer, apesar de o livro de Apocalipse proclamar
seu destino final e de suas históricas derrotas em sua oposição a
Deus. Seu orgulho, a causa de sua queda, continuará sendo ainda
sua ruína, vez após vez. Ele cometeu o seu último erro, o de crer em
suas próprias mentiras!
Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das
estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da con-
gregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei
acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
(Is 14.13-14)

7. Satanás não consegue compreender a compaixão, o


quebrantamento e o autossacrifício.

o se u in i m i g o
É por isso que essas áreas são precisamente as que Deus
usa para continuamente frustrar os planos do inimigo. Deus se
utiliza da nossa fraqueza, junto com a Sua graça, para derrotar
os planos de Satanás. Por não conseguir compreender esses
sentimentos, Satanás os considera como sendo as áreas da na-

co n h e ç a
tureza humana mais difíceis de serem previstas e entendidas.
Ele, a todo momento, é surpreendido pelas obras que o Espírito
Santo tem capacitado simples cristãos a realizar, em submissão ao
Senhor.
43
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo
se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em
semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,
a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte
e morte de cruz. (Fp 2.5-8)

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens;


e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
(1Co 1.25)

Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder


se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me
gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder
de Cristo. (2Co 12.9)
8. Satanás não é Deus!
Isto pode parecer óbvio, mas este fato expressa uma diferença
bem maior do que todos os sete fatores anteriores juntos. Há mais
poder numa só gota do sangue de Jesus Cristo do que em todas as
legiões satânicas. Isso deixa Satanás tomado de ódio.
Eu sou o Senhor, e não há outro; além de mim não há Deus;
Lúcifer Destronado

eu te cingirei, ainda que não me conheces. Para que se saiba,


até ao nascente do sol e até ao poente, que além de mim
não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. (Is 45.5-6)

Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.


(Dt 6.4)
Louvado seja o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo!

N ot a s

44 1
Aleister Crowley (1875-1947) foi o filósofo satânico e ocultista que mais
se destacou até agora em nossa época. Suas ideias e escritos tiveram uma
grande influência tanto em partidários da Wicca como em satanistas de
todo tipo. A citação é do seu livro Liber Al ver Legis [O Livro da Lei], e é
a regra áurea da sua religião, que é conhecida como Thelema (segundo a
palavra grega que corresponde a “vontade”) ou crowleyanismo.
2
Uma expressão italiana para “o chefão supremo” de uma quadrilha, “o
poderoso chefão”.
A Árvore da Vida:
Graus de Iniciação

Ipsissimus
10o

o se u in i m i g o
Magister
Magus
Templi
9o
8o
“O Abismo”

co n h e ç a
Adeptus Adeptus
Major Exemptus
Adeptus 7o
6o
Minor
5o 45

Practicus Philosophus
3o 4o
2o Zealator
Neófito

1o
4
A cerimônia de
inocência acabou

Você pôs os pés no Caminho do Relâmpago. Uma


vez feito isto, jamais poderá deixá-lo.
— Alex Sanders, Rei dos Bruxos

E stivemos envolvidos no Sumo Sacerdócio da Wicca por


muitos anos, e tivemos de preparar turmas e mais turmas de estu-
dantes para os nossos grupos, ou “covens”. Todavia, decepcionamo-
-nos com a Wicca. Sharon e eu tínhamos uma ideia da Wicca como
sendo uma fé elementar, pura e edênica em sua inocência. Sabemos
agora que ela é cheia de calúnias, traições, brigas doutrinárias e
politicagem.
Outras mudanças significativas ocorreram. Um de meus amigos
e mentores, de quem recebi grande influência na Wicca antes de eu
ter conhecido Sharon, sugeriu-me que eu lesse A Bíblia Satânica,
de Anton LaVey. Eu era ainda bastante ingênuo, pensando que,
embora os bruxos cultuassem Lúcifer, o Deus Chifrudo, não fossem
satanistas. Perguntei, então, por que deveria ler um livro escrito por
um satanista declarado.
Meu amigo explicou-me que LaVey tinha algumas percepções
muito interessantes, especialmente com respeito à magia de Aleister
Crowley, e que sua obra tinha alguns pontos muito bem abordados.
Li, então, o livro e fiquei um tanto desconcertado diante da violenta
crítica anticristã que se encontra logo no início. No entanto, muitas
coisas que LaVey dizia fazia sentido para mim.
Há três tipos básicos de rituais na Bíblia Satânica: por
Compaixão, por Luxúria e por Destruição (maldição). Ponderei
comigo mesmo que jamais iria amaldiçoar alguém, mas cheguei
a me envolver com os outros dois rituais. Fizemos um “Ritual de
Luxúria” para um casal numa de nossas reuniões a fim de resolver
Lúcifer Destronado

o problema de frigidez da esposa, e que realmente funcionou.


Tivemos de igual modo sucesso com o “Ritual de Compaixão”,
para a obtenção de curas.
Aos poucos, fui sendo seduzido pelo satanismo. Sharon e eu
começamos a questionar — já que o satanismo é considerado muito
maligno para os bruxos — por que o símbolo do Segundo Grau
da Wicca, o do Sumo Sacerdócio, é um pentagrama invertido? Esse
pentagrama tem sido associado, há vários séculos, ao satanismo! E
mais:
48

Sinal do Terceiro Grau


Árvore da Vida ou Mago
na Feitiçaria
Por que o nome supersecreto do Deus Chifrudo deriva-se, pelo
notarikon,1  exatamente do símbolo da Igreja de Satanás — a cabe-
ça de bode Baphomet com as cinco letras hebraicas que há ao seu
redor (lâmed, vave, iôde, tau e nune)?
Por que tínhamos sido instruídos de que o mais poderoso de
todos os círculos de magia na feitiçaria somente é construído com
pentagramas invertidos?

A cerimônia de inocência acabou


Tais questões ficaram todas no ar, sem respostas. Ninguém
conseguia nos dar uma explicação. Discutimos o assunto com
nossos colegas e mestres e procuramos obter o conselho de nossos
venerados “espíritos guias”. Acreditávamos que esses guias fossem
homens que haviam se aperfeiçoado e se livrado do “ciclo do car-
ma”,2  e que, sendo espíritos desencarnados, falavam conosco, seres
humanos, por meio da incorporação, possibilitando que evoluísse-
mos espiritualmente.
Quase que diariamente incorporávamos essas entidades e bus-
cávamos seus conselhos. Elas nos davam a entender que seria bom
nos envolvermos com a Igreja de Satanás. Diziam que a Wicca nos 49
ensinava o domínio da Deusa (ramo feminino da magia), mas que
o satanismo nos ensinaria todos os mistérios do Deus Chifrudo, o
ramo masculino.
A Wicca e o ocultismo moderno foram muito influenciados
pelo psicólogo Carl Jung. A ideia de polaridades opostas em recon-
ciliação é um dogma central. Os espíritos guias e muitos feiticeiros,
seguindo os escritos de Jung, quiseram fazer-nos entrar em contato
com nossos “lados tenebrosos”, nossas “sombras” (um termo jun-
giano). Para que tivéssemos domínio sobre o Caminho da magia,
tínhamos de abraçar nossos lados tenebrosos, reconhecendo os
espíritos carnais que em nós habitavam.
Éramos ensinados de que a maior parte — se não a totalidade
— do mal existente no mundo tinha sido criada pelo judaísmo e
pelo cristianismo, pela supressão de nossas paixões carnais. Este
é um tema frequente na psicologia secular. Assim, para o bem da
nossa saúde psicológica, e para o nosso desenvolvimento na magia,
seria necessário fazer uso dos ensinamentos da Igreja de Satanás,
a fim de que pudéssemos abraçar nossas sombras e liberarmos os
incipientes poderes da magia que supostamente nelas habitavam.
Desse modo, tendo apenas uma pequena dor de consciência,
filiei-me à Igreja de Satanás. Afinal, tanto meus amigos e mestres
deste mundo como todos os meus sábios espíritos guias vinham
me encorajando nesse sentido. Como isso poderia ser, então, um
Lúcifer Destronado

erro?

O ma l p o r re e m b o l s o po st a l ?

Fiquei um tanto desapontado ao descobrir que não havia de fato


uma igreja de Satanás em nossa comunidade. Os grupos locais dessa
Igreja eram chamados de “grutas”, em vez de “covens” ou “paró-
quias”; mas não havia nenhum deles em Milwaukee. Escrevi para
a sede internacional da Igreja, que ainda se localizava na fabulosa
casa negra da Rua Califórnia, em San Francisco. Eles enviaram-
50 -me algumas informações e um formulário para associar-me como
membro. Cobravam uma taxa de ingresso de 20 dólares. Paguei-a
com prazer e, depois de algumas semanas, comecei a receber seu
maldosamente e cínico boletim The Cloven Hoof [O Casco Fen-
dido]  e, por fim, um cartão de membresia.
Assinei o cartão e passei a levá-lo comigo, com muito orgulho,
em minha carteira. Tornei-me satanista “de carteirinha”. Isso mes-
mo! E não tive que matar bebês, nem cuspir na cruz, nem dizer o
Pai-Nosso de trás para a frente. Apenas dei meus 20 dólares e me
filiei. Era como ter-me filiado ao Rotary Club!
Mas Sharon e eu não dissemos coisa alguma aos membros ini-
ciantes de nossos grupos sobre essa nossa decisão. O que dizíamos,
na verdade, é que bruxos e satanistas estavam em polos opostos, e
que não se poderia ser um bruxo da Wicca e um satanista ao mesmo
tempo. Alguns membros dos níveis mais elevados do nosso grupo,
no entanto, ficaram intrigados com nossas explanações da filosofia
de LaVey sobre a magia e acabaram se filiando também.
Considerei a possibilidade de começar alguma coisa da Igreja
de Satanás na região de Milwaukee e escrevi à sede da organização
sobre o assunto. Logo, eles nos enviaram um formulário de reque-
rimento que eu deveria encaminhar-lhes devidamente preenchido,
solicitando acesso ao segundo grau na Igreja de Satanás, o grau de
Feiticeiro. Era um formulário bem mais amedrontador que aquele
do primeiro grau. Continha um extenso questionário, que requeria
uma pequena dissertação analítica em resposta a diversos assuntos

A cerimônia de inocência acabou


filosóficos. Tinha também um custo maior. Contudo, preenchi-o
totalmente e o enviei.
Nunca foi do meu estilo ficar esperando muito por alguma
coisa, de modo que comecei a buscar outras possibilidades. En-
trei em contato com dois ramos distintos da irmandade oculta.
O primeiro foi a O.T.O. (Ordo Templi Orientis — Ordem dos
Templários do Oriente). A O.T.O. é uma respeitável ordem ale-
mã, mágico-maçônica, fundada no século 19 por Chefes Secretos
(mestres elevados). Aleister Crowley, ao que se supõe, descobriu
o segredo dela — o verdadeiro segredo de toda a Maçonaria — e
51
rapidamente foi feito seu membro.3
Sharon e eu estávamos realmente bastante intrigados com
Crowley e achamos a abordagem da O.T.O. mais completa e exi-
gente. Assim, começamos a estudar com eles, embora continuando
a pesquisar ainda os outros materiais de LaVey.
Entramos em contato também com um grupo satânico inde-
pendente, a Ordem do Carneiro Negro, com o qual começamos a
nos corresponder.

E n tr e la ç a nd o en e r g ia s

Comecei a celebrar missas satânicas em caráter regular. Sharon


e eu praticávamos muitos dos rituais de Crowley. Tanto meus
amigos deste mundo como meus espíritos guias diziam que,
para que eu pudesse entrar num satanismo mais sério (além do
nível da Igreja de Satanás), seria necessário realizar duas tarefas
aparentemente paradoxais.
Lúcifer Destronado

52
Seja do Conhecimento de Todos

Que, tendo memorizado e dado suficientes


evidências de um conhecimento prático da

A cerimônia de inocência acabou


Teologia Satânica, e uma imaculada sabedoria da
Magia Negra, Christopher P. Syn ,* neste
dia 21 de março, no 12o ano de Nosso
Senhor Satanás, foi agraciado com o Grau 2o,
referido com o nome de Feiticeiro , e acha-se
devidamente licenciado para realizar e manter
tudo o que se enquadre no âmbito deste Grau,
de acordo com os princípios e filosofias de 53
A Igreja de Satanás
tendo passado perante o Conselho dos Nove,
pela Ordem do Trapezóide, com todos os
poderes do inferno, assim seja feito.

Anton Szandor LaVey


Sumo Sacerdote da Ordem Negra


* William Schnoebelen legalmente mudou o seu nome para Christopher
P. Syn. Quando deixou o satanismo, voltou a mudá-lo, passando a ter
novamente seu nome original.
A primeira era entrar para a Maçonaria, tornar-me um Mestre
Maçom e depois ascender aos graus mais elevados. A segunda, por
incrível que pareça, era ordenar-me como sacerdote católico! Isso
foi uma surpresa total para mim, pois eu tinha sido criado como
católico. Na verdade, cheguei a frequentar um seminário nos meus
tempos de faculdade, quando comecei a me envolver com o ocultis-
mo, enquanto estudava para o sacerdócio. Conhecia o catolicismo
Lúcifer Destronado

muito bem e sabia que os católicos são estritamente proibidos de


se tornarem maçons. Agora, por que motivo me instruíam a fazer
essas duas coisas em contradição?
Explicaram-me que certas “correntes” do poder ocultista fluem
através dos séculos, principalmente, por meio de linhas humanas
de sucessão. Isso fazia sentido, desde que era doutrina fundamental
tanto do catolicismo quanto da Wicca que havia uma sucessão entre
seus respectivos sacerdócios.
A Igreja Católica — diziam-me — era o repositório da petrina,
uma corrente de energia mágica de São Pedro. Já os maçons tinham
54
a custódia da corrente joanina (de São João). E que parte da dinâ-
mica que faz com que uma magia cerimonial realmente funcione
é haver a conjugação dessas duas diferentes correntes de energia.
A oposição entre católicos e maçons é apenas superficial —
explicavam-me. Nos níveis mais elevados, ambos convergem para
um mesmo ponto. Claro que as pessoas comuns não sabem disso,
porque essas coisas são mantidas em segredo. Todas as seitas, na-
turalmente, operam na base de “só revelar o necessário”.
Por sorte (ou por algum motivo), Sharon e eu fomos conta-
tados por um sacerdote, alguns dias depois de tomarmos conheci-
mento de tudo isso. Era um sacerdote da Igreja Católica Romana
Antiga (I.C.R.A).4  Esta Igreja, nascida de uma dissidência com o
Vaticano, tem Ordens Sagradas válidas e celebra a missa em língua
vernácula já há vários séculos, mesmo antes do Concílio Vaticano
II, como também permite que o clero se case. Este sacerdote que
nos contatou ficou sabendo que tínhamos um curso que ensinava
A Á r vo r e da Vid a:
Linhas do Sacerdócio

“A Irmandade
Branca”
Ipsissimus

A cerimônia de inocência acabou


Sacerdote 10o Sumo
Satânico Sacerdote
(Nosferático) Satânico

Sacerdote Bispo
Luciferiano Ordem de
Católico
Melquisedeque “A Irmandade
(Católica) Escarlate”
55
Bruxa Diaconato
Rainha Católico
Sumo
Sacerdote
da Wicca

Sacerdote
da Wicca “A Irmandade
Negra”
feitiçaria e quis estudar conosco. Ele disse que, em retribuição, po-
deria conseguir que eu estudasse para o sacerdócio na I.C.R.A. Isso
me parecia algo que “tinha caído do céu”, ou ainda, “do inferno”,
e prontamente aceitei a oferta.
Dois anos depois, fui ordenado sacerdote nessa seita, numa missa
muito solene, na Paróquia de São Paulo, em Plainfield, Illinois.5
Além disso, alguns meses depois, um rapaz quis entrar em
Lúcifer Destronado

nosso “coven”, cujo pai era oficial na Loja Maçônica. Ele pôde,
então, me apoiar em todo o processo de entrar na Maçonaria e
avançar em seus graus.6
Com essas duas conquistas, parecia que só me restava mesmo
“ascender” cada vez mais na hierarquia do Reino das Trevas.

N ot a s

1
Notarikon é uma forma de codificação cabalística em que letras do alfa-
beto hebraico são transpostas, tanto num sentido como no outro, para
56
ocultar um nome ou um feitiço. Neste caso, as letras foram transpostas
para a frente, formando o nome transliterado de Sa-A-Ka-Zay-M, ou
“Sakazayim”.
2
O carma é um conceito ocultista e hindu relativo à reencarnação. Segundo
o que se crê, por meio de um processo de sucessivas reencarnações, o espí-
rito pode vir a evoluir e superar tal ciclo; quando isso acontece, a pessoa
torna-se um “Mestre” ou “Bodhisatva”. Mas um exame mais acurado
desse processo de carma e reencarnação revela que se trata de um conceito
totalmente errôneo. Ninguém jamais consegue aprimorar-se. Para mais
informações a respeito, veja o livro de minha autoria Wicca: Satan’s Little
White Lie [Wicca: Mentirinha Branca de Satanás].
3
O que Crowley teria descoberto seria o segredo supremo do cerne de
toda a maçonaria: escondido na alegoria do ritual de Mestre Maçom
estaria o segredo da vida eterna! Os alquimistas falavam a respeito dele
como sendo o Elixir da Vida e, reservadamente, referiam-se a ele como
Amrita. Os maçons o chamam de “O Real Segredo”. Relaciona-se com
o desconhecido nome de Deus, supostamente revelado no Real Arco
no sétimo grau do rito de York. Este segredo é que o nome de Deus,
YHVH, nada mais é do que o gemido orgásmico da suprema criação,
e que o segredo da vida eterna acha-se na consumação sacramental de
certos fluidos envolvidos no ato da reprodução humana. Crê-se que
esse segredo tem condições de possibilitar a alguém viver eternamente.
Afirma-se que alguns alquimistas maçônicos, tais como Fulcanelli e o

A cerimônia de inocência acabou


conde de Saint Germain, têm centenas de anos de idade, estando ainda
vivos sobre a terra nos dias de hoje! Mas os cristãos têm um plano bem
melhor de aposentadoria. E bem mais fácil de se conseguir! Basta aceitar
Jesus como Salvador e Senhor e você terá vida eterna — não neste velho
e debilitado corpo humano, mas num corpo glorificado que poderá fazer
coisas inimagináveis (1 Co 15.35-52).
4
A Igreja Católica Romana Antiga (I.C.R.A.) é um assunto meio bizarro
e complicado. Para uma análise completa de sua estranha história, veja
Bishops at Large [Bispos à Vontade], de Peter Anson.
5
Uma narrativa cronológica de todos os estranhos percalços por que passei
em meu envolvimento com a I.C.R.A. está, infelizmente, fora do escopo e 57
do tema deste livro. Basta dizer que é uma dissidência bastante excêntrica
de uma seita extremamente excêntrica — o Vaticano em si.
6
Para informações mais detalhadas sobre a Maçonaria, e por que motivo
um crente não deve ter relacionamento algum com essa sociedade secreta
anticristã, veja meu livro Maçonaria: Do Outro Lado da Luz. Curitiba:
Editora Luz e Vida.
5
“ O vingador do Diabo”

O que você vai ver nem sempre lhe agradará, mas


que você vai ver, vai.
— Anton LaVey, A Bíblia Satânica

Farei aqui uma pausa para esclarecer um pouco acerca da subcul-


tura para a qual estávamos nos dirigindo. Queremos falar a respeito dos
satanistas que se constituíram em igrejas legais, com todos os direitos e
com a situação privilegiada de ter imunidade de impostos. Nos Estados
Unidos, como em muitos outros países, temos liberdade religiosa. Isto
é um fato, e, contanto que os satanistas não transgridam nenhuma
lei, têm o direito ao seu rito religioso como queiram. Não estamos
negando a ninguém o direito a liberdade religiosa.
Contudo, simplesmente por ser uma atividade legal, isso não
diminui em nada o risco espiritual envolvido. Um membro da Igreja
de Satanás corre o risco de perder a sua alma tanto quanto o mais
determinado satanista. Não nos esqueçamos de que mentir é pró-
prio da natureza de Satanás. Ele é chamado de o pai da mentira
(Jo 8.44) e o enganador (2Jo 1.7). Assim, seria uma ingenuidade
total darmos crédito à palavra dos mais dedicados seguidores de
Satanás, ao dizerem que não fazem nada que seja ilegal.
Outro problema é que essas igrejas normalmente são portas
de entrada para formas mais profundas de satanismo. Como você
pôde ver nos capítulos anteriores, esse foi o caso em minha vida, e
sei de muitos outros que têm histórias semelhantes. Desse modo,
tal como ocorre com muitas outras formas de comportamento que
são “inofensivas” e “protegidas pela própria Constituição”, como,
por exemplo, o jogo de RPG denominado Dungeons and Dragons
[Calabouços e Dragões], esses grupos satânicos são portas de en-
trada para variedades avançadas e sangrentas do satanismo.
Lúcifer Destronado

Também a história dessas igrejas satanistas não é aquela ma-


ravilha, como logo iremos ver. Já mencionamos a infame Igreja de
Satanás, de Anton LaVey. Não há um número muito grande de
igrejas satanistas legais nos Estados Unidos, porque a maioria dos
satanistas considera o exame minucioso feito pelo governo america-
no um tanto restritivo. Não obstante, só nesse país há pelo menos
450 grupos identificados como satânicos!1 
Na sua maioria, são pequenos grupos, mas influentes numa
escala muito superior ao seu número de membros. A Igreja de Sa-
tanás, pelo que se sabe, alcançou um elevado número de membros
60
no ano de 1973, algo entre cinco e dez mil.2 Em meados de 1980,
esse número cresceu extraordinariamente, segundo LaVey.3

U ma ig r e ja sa t â nic a s e m o Di a b o ?
LaVey deu início às atividades de sua Igreja em 1966, depois de
uma vida de múltiplas atividades, pois fora antes domador de
leões, organista e fotógrafo policial. Era, além disso, faixa preta em
judô. O relato “oficial” da razão pela qual ele concebeu a Igreja
de Satanás diz que havia se desiludido com o cristianismo. Via na
igreja aos domingos os mesmos homens que, no dia anterior, ele
tinha visto em shows de striptease, em boates onde tocava órgão.
Depois de certo tempo atuando como fotógrafo policial,
LaVey ficou “farto” de Deus por ver, em função do seu trabalho,
tanta brutalidade e tantas mulheres e crianças mortas. Ele não
podia compreender como Deus, supostamente o bom Deus dos
cristãos, pudesse valer alguma coisa, já que permitia que todo esse
mal acontecesse.
Na noite de 1o de maio de 1966, rapou a cabeça, imitando
o famoso e genial satanista Aleister Crowley, os homens fortes
do circo e os sacerdotes egípcios. Nesse dia, proclamou o início
do primeiro ano da Era de Satanás. Até o dia de hoje, a Igreja de
Satanás estabelece as datas a partir daquele dia. Assim, 1993 seria
XXVII A.S. (ano de Satanás)!

“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
A combinação inicial de um desprezível profissional dos pra-
zeres da carne com sua genialidade incomum e sua condição de
alguém que buscava a magia com seriedade é o que veio caracterizar,
em grande parte, o desenvolvimento da Igreja de Satanás.
LaVey começou com um grupo de estudos de magia negra, e
desse grupo foi que se desenvolveu o núcleo central do início da
Igreja de Satanás. Logo depois, escreveu A Bíblia Satânica, não
propriamente como uma “revelação satânica”, mas como uma
combinação bem montada de uma filosofia, um psicodrama e um
detestável equívoco. Com a publicação dessa “Bíblia”, a sua repu- 61
tação e a membresia da sua Igreja decolaram como um rojão.
A certa altura, ele fez o circuito das boates com uma apresentação
intitulada “Anton LaVey e suas bruxas topless”. Comprou uma casa na
Rua Califórnia, em San Francisco, e a pintou de preto. Sua decoração
foi feita com o que no mínimo seria considerado de tenebroso mau
gosto. Mesas para café na forma de túmulos, múmias pelos cantos,
e um leão da Núbia, negro, vivo, adulto, que vivia no porão.
LaVey promoveu o primeiro batismo satânico do mundo aber-
to ao público, o de sua filha Zeena, que então tinha três anos de
idade, diante de um altar com uma figura de nu feminino. Dirigiu
também o primeiro funeral satânico, com todas as honras militares,
no cemitério de Arlington. Serviu ainda como assessor técnico do
filme O Bebê de Rosemary, e chegou mesmo a aparecer no filme,
fazendo o papel do diabo na cena em que Satanás violenta a heroína.
Ele se deu muito bem com os manda-chuvas de Hollywood, o que
em nada nos deve surpreender.
M as on d e es t á o Dia b o?
Talvez surpreenda os cristãos o fato de a linha “oficial” da Igreja de
Satanás não acreditar na existência de Satanás! Para LaVey, Satanás seria
apenas o que o psicólogo ocultista Carl Jung4  chamou de “arquétipo”,
um símbolo do desejo de Prometeu, da humanidade, de roubar
fogo dos deuses e reinarem, os seres humanos, como deuses e deu-
sas sobre a terra. O diabo não teria existência a não ser como uma
Lúcifer Destronado

metáfora para os livres desejos e potencialidades da humanidade.


O valor de Satanás para LaVey foi que, invocando o nome dele,
com todo o simbolismo e tudo o que o diabo lembra, ele podia
causar um enorme impacto, psicológico e emocional. Antes de mais
nada, podia amedrontar os “ingênuos”, mas também podia usar
Satanás como uma alavanca para afrouxar as “restrições de ordem
moral” e as “prisões” daqueles que viessem até ele.
LaVey percebeu que aqueles que o procuravam poderiam
ser mais bem ajudados por meio da realização de um psicodrama
ritual, em que fossem forçados a fazer coisas que consideravam re-
62 pugnantes. Por exemplo, sua “prescrição” psíquica poderia incluir,
de imediato, levar um católico a se envolver com a magia negra,
ou um judeu, num ritual de preconceitos nazistas.
A destruição de qualquer coisa que pudesse ser considerada
sagrada foi o que ele considerou como sendo essencial. Certa vez,
gracejou dizendo que a “magia negra” perfeita para a década de
1960, cheia de filosofia hippie, seria ter a foto de Maharisha Mahesh
Yogi (que fundou a MT — Meditação Transcendental) de cabeça
para baixo, fazer derreter um disco dos Beatles e jogar um quilo de
maconha na privada dando a descarga.
LaVey viu a si mesmo não tanto como um verdadeiro adorador
do diabo, mas como o “Vingador do Diabo” (título de sua bio-
grafia oficial, escrita por Burton Wolfe). Ele defende não o diabo,
mas o que o diabo representa. Fala contra as injustas “difamações”
em relação ao diabo, ao longo dos séculos. Assim, uma análise
mais criteriosa pode revelar que o sistema de crenças da Igreja de
Satanás é constituído de conceitos bastante diversos:
1. Ateísmo:
A negação de qualquer tipo de divindade.
2. Ética Objetiva:
Baseada nos ensinos do filósofo ateu Ayn Rand de que o egoís-
mo é o maior bem.
3. Salvação por Si Mesmo:

“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
O homem não necessita de ninguém mais, a não ser de si mes-
mo, para salvar-se; e a necessidade de salvação no sentido cristão é
negada: “Eu sou meu próprio redentor!”5
4. Psicoterapia de Reich:
A forma de freudianismo um tanto bizarra de Wilhelm Reich
é baseada na crença do “orgônio”, ou unidade de energia orgásmi-
ca e na ideia de que toda enfermidade é causada pela repressão da
energia sexual. Envolve ainda o uso de “caixas orgônio” especiais
e a liberação de toda inibição sexual. As ideias de Reich estão no 63

cerne de grande parte dos ensinos e da metodologia de LaVey.


5. Psicodrama Ritual:
A ideia é a de que rituais blasfemos podem ser usados para fazer
com que as pessoas percam as suas inibições e fiquem “libertas”, ao
escarnecerem, justamente, de tudo o que creiam ser sagrado. Este
era o princípio de LaVey quanto a Satanás ser “adversário”.
Um folheto da Igreja de Satanás, publicado em 1966, ensina
conceitos de Reich:
O homem tem de aprender a fazer a própria vontade por quais-
quer meios que ache necessário (...) somente deste modo é
que podemos nos aliviar de frustrações prejudiciais, que, se não
forem aliviadas poderão crescer e causar muitas doenças reais.6
Em seguida ao tremendo sucesso do seu primeiro livro,
LaVey escreveu The Compleat Witch — or What to Do When
Virtue Fails [A Bruxa Completa — ou O Que Fazer Quando a
Virtude Falha], uma espécie de guia do tipo “faça você mesmo”
para a mulher interessada em se tornar uma fatal satanista, e The
Satanic Rituals [Os Rituais Satânicos], um livro que apresenta,
entre outras coisas, uma versão francesa original da Missa Negra,
rituais nazistas, rituais dos Cavaleiros Templários, e até mesmo
rituais baseados nos escritos de horror de H. P. Lovecraft. Con-
Lúcifer Destronado

tudo, nenhum desses livros chegou perto do sucesso ou impacto


da sua Bíblia Satânica.
Muito embora LaVey defenda a liberdade sexual e tenha feito
da blasfêmia um ritual, tanto ele como sua filha Zeena não são coe-
rentes, negando as acusações de que promovem o ódio, a violência
e a crueldade a animais e a seres humanos. Negam ainda qualquer
envolvimento ou promoção ao uso ilegal de drogas.
Apesar de suas tentativas de garantir uma “boa imagem”, o
maior sucesso de LaVey deixa transparecer alguns de seus mais te-
64
nebrosos segredos. Que a própria Bíblia Satânica, sua obra-prima,
fale por si mesma. Esse livro é bastante popular, chegando até a
ganhar em vendas, durante certo tempo, da própria Bíblia Sagra-
da, em vários campi universitários, por todos os Estados Unidos.
A “bíblia de Lavey” tem sido encontrada nas mãos de inúmeros
“delinquentes satanistas” adolescentes e marginais satanistas logo
após haverem cometido crimes hediondos, inclusive assassinatos
em massa. O livro é provavelmente o que mais se aproxima de
um pronunciamento oficial do que é o satanismo, feito por um
satanista contemporâneo. Veja a seguir algumas citações extraídas
de suas “Nove Declarações Satânicas”: uma espécie de “Manifesto
Satanista”:7 
• Satanás representa permissividade, em vez de abstinência...
• Satanás representa “bondade para aqueles que a merecem”,
em vez de “amor desperdiçado com pessoas ingratas”.
• Satanás representa vingança, em vez de dar a outra face...
• Satanás representa o homem como sendo apenas outro animal,
às vezes melhor, mas muito mais vezes pior em relação aos que
andam com quatro patas, tendo se tornado o mais pernicioso
de todos os animais, por causa de seu “divino desenvolvimento
espiritual e intelectual”.
• Satanás representa tudo o que se diz ser pecado, pois todos os peca-
dos levam a uma satisfação, seja física, emocional ou mental...

“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
U ma re l ig iã o d e vio l ê n c ia e mo rt e !

Embora LaVey negue que seus satanistas pratiquem sacrifícios de


animais e humanos, a “bíblia” que ele escreveu pinta um quadro
totalmente diferente. Ali são ensinados ataques por meios espirituais
— assassinatos por meio de maldições. No Ritual de Destruição,8 
as palavras não deixam dúvida quanto às suas intenções:
Peço aos mensageiros da destruição que golpeiem com
prazerosa severidade sua vítima que eu haja escolhido.
65
Silencioso seja o pássaro mudo que se alimenta da massa
encefálica daquele que me atormentou... arranque aquela
língua palradora e feche a sua garganta. Ó Káli! Perfura os
pulmões dessa pessoa com ferrões de escorpião. Ó Sekh-
met! Derrama tua substância no sinistro vazio! Ó poderoso
Dagom! Eu lanço para o ar o aguilhão de duas pontas do
Inferno, nas quais, resplandentemente empalado, meu
sacrifício de vingança há de ficar! 
Essas ordens têm, evidentemente, a finalidade de, se executadas,
levar a pessoa amaldiçoada a uma morte terrível. LaVey até mesmo
recomenda:
“Não se preocupe se a almejada vítima vai viver ou morrer,
ao lançar a sua maldição. E, se conseguir que seja destruída,
festeje, em vez de sentir remorso. Preste bastante atenção a
estas regras, pois, do contrário, você terá o reverso dos seus
desejos, causando-lhe dano, em vez de o favorecer.”9 
Embora LaVey se mostre, oficialmente, contra a muti-
lação intencional de pessoas, sua Bíblia Satânica promove a
violência. Para a maioria de nós, fica um tanto difícil separar
eticamente a intenção de matar alguém do ato de amaldiçoá-lo
para que morra. Se se acredita que o feitiço que se está fazendo
de fato funciona, não deixa de ser uma tentativa de assassina-
to, tal como se usasse uma arma de brinquedo pensando estar
Lúcifer Destronado

usando uma arma de verdade.


Isso se vê com mais clareza no relato do que aconteceu quando
um “sumo sacerdote da Igreja de Satanás” pessoalmente amaldiçoou
alguém com terríveis resultados.

U ma de u s a d o am o r am a l di ço a da
Estamos agora falando do caso de uma discípula de LaVey, a famosa
“deusa do sexo” Jayne Mansfield. Essa conhecida atriz de cinema,
tornou-se membro da Igreja de Satanás em 1965. Ela pregava as
66 ideias do satanismo, proclamando que a castidade é “realmente
uma perversão que causa doenças, um verdadeiro mal”.10  Apareceu
em fotos de propaganda bebendo do enorme cálice cerimonial de
LaVey, junto com ele, vestido de todos os seus aparatos satânicos:
um terno preto, um manto acetinado preto e um boné preto com
chifres do diabo. O envolvimento de Jayne Mansfield com LaVey
alarmou um amigo dela de nome Sam Brody, que a advertiu de que
esse relacionamento poderia tornar-se para ela um enorme desastre
em sua imagem pública como atriz.
Brody ameaçou LaVey de expô-lo como charlatão e vigarista.
LaVey, em resposta, amaldiçoou ritualmente Brody e advertiu Jayne
que se mantivesse bem longe dele, para que a maldição lançada
sobre ele não a atingisse também. Jayne achou melhor ignorar a
advertência de LaVey. Em cerca de apenas um ano, a 29 de junho
de 1967, Brody sofreu uma violenta batida de frente com seu carro,
na qual Jayne estava também, ao lado dele. Nesse terrível acidente,
ambos foram instantaneamente decapitados!11
Problemática é também a glorificação do ódio e do terrorismo
no livro de LaVey:
Odeie seus inimigos de todo o coração, e se alguém lhe
bater no rosto, quebre a cara dele! Bata nele sem dó nem
piedade, pois a lei maior é a da autopreservação. Quem
oferece a outra face é um cão covarde. Revide golpe por
golpe, desprezo por desprezo, destruição por destruição — com
uma desforra bem aumentada, formada pelos seus interesses.

“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
Olho por olho, dente por dente, sempre quadruplicado, e até
multiplicado por cem! Torne-se um terror para o seu adver-
sário, que, quando cair fora, terá muito no que refletir.12 
E como poderíamos deixar de lado as “Bem-aventuranças
Satânicas”? Observe a glorificação da violência e do assassinato a
quem não tiver escape:13
• Bem-aventurados são os fortes, pois possuirão a terra —
amaldiçoados são os fracos, pois herdarão o jugo.
• Bem-aventurados são os poderosos, pois serão reveren- 67

ciados entre os homens — amaldiçoados são os frágeis, pois


serão arrasados.
• Bem-aventurados são os ousados, pois serão senhores do
mundo — amaldiçoados são os íntegros e humildes, pois serão
pisoteados pelas patas do diabo.
• Bem-aventurados são os vitoriosos, pois a vitória é a
base do direito — amaldiçoados são os derrotados, pois serão
vassalos para sempre...
• Bem-aventurados os implacáveis, pois os incompetentes
fugirão diante deles — amaldiçoados são os pobres de es-
pírito, pois serão menosprezados.
• Bem-aventurados são aqueles que creem naquilo que é melhor
para si, pois jamais sua mente ficará apavorada — amaldiçoados
são os “cordeiros de Deus”, pois serão totalmente espoliados.
• Três vezes são amaldiçoados os fracos cuja insegurança os
torna desprezíveis, pois servirão e sofrerão.
Isso soa como se fosse uma homilia feita por Hitler! Veja
como há um total contraste com os ensinos do Senhor Jesus Cristo:

Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é


o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque
serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque
herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede
de justiça, porque serão fartos. (Mt 5.3-6)
Lúcifer Destronado

Com um ensino satanista como aquele, qual será a norma ética


que impedirá que um de seus seguidores roube, mate ou estupre
quem quer que ele desejar? Embora sua Igreja oficialmente não
advogue o assassinato, os princípios da Bíblia Satânica incitam a
“lei da selva”. Não é de admirar que não haja orfanatos ou hospitais
mantidos por satanistas.
O livro de LaVey não é propriamente uma “escritura sagrada”
para os satanistas, mas sua influência não pode ser subestimada!
Suas provocantes declarações também não devem ser ignoradas,
68
principalmente quando vemos que, na maior parte dos casos de
violência satânica, é sempre encontrado um exemplar desse livro,
bastante usado, em meio aos pertences do envolvido.
Mais trágico ainda é o fato de que fui informado quando me
achava ainda, na fraternidade satânica: que a igreja de LaVey é me-
ramente uma organização de linha de frente, montada pelos grupos
satânicos mais avançados, como seu instrumento de sustentação. Ela
tem de fato servido a esse propósito muito bem. Embora LaVey já
tenha falecido [ele morreu na década de 1990], A Bíblia Satânica
continua vendendo muito, já faz mais de três décadas!
Não obstante, de quando em quando até as melhores máscaras
caem, como aconteceu em 1989 no programa de entrevistas da
televisão americana Sally Jesse Raphael . Zeena LaVey, que é a filha
mais nova dele, estava falando sobre o lado satânico do teatro com
um colega, Nicolas Schreck. Este homem, que lidera um grupo
chamado Werewolf Order [Ordem dos Lobisomens], passou a se
revelar nitidamente hitlerista. Advogou a destruição dos deficientes
e dos que não se desenvolvam de um modo normal. O mesmo
programa mostrou que Schreck e Zeena LaVey haviam participado
de um “evento satânico” num teatro em 8 de agosto de 1988 (8-
8-88) em comemoração aos infames assassinatos ligados a Charles
Manson.14  Eles exibiram, entre outras coisas, cenas completas dos
assassinatos, rufaram tambores e ovacionaram a cena da atriz Sharon
Tate sendo esfaqueada até à morte, grávida.

“ O vi n g a d o r d o D i a b o ”
Esse programa de televisão, com Zeena tendo a seu lado
Schreck, que com tudo concordava, balançando a cabeça, trouxe
à luz, de modo espantoso, o tenebroso niilismo e desespero que
estão por trás desse satanismo metido a burlesco, de LaVey. O
resultado foram tremendas vaias do auditório, que geralmente é
bastante liberal.
LaVey e sua Igreja não devem ser, porém, subestimados. Ele é
um homem muito inteligente e, não há dúvida, um dos feiticeiros
mais talentosos da sua geração. Quanto ao fato de se ele crê ou não
no diabo, isso não se sabe ao certo. Mas não é necessário acreditar 69
num deus ou diabo para ser praticante da magia negra. Basta ter
uma firme disposição de abrir a alma às tenebrosas e gélidas atrações
malignas de Lúcifer.
Se LaVey já tem como causar tanto dano a uma geração, sem
nem mesmo professar sua crença em Satanás, imagine quão pior
não seria alguém que realmente adorasse o Velho Demônio...

N ot as

1
Frederickson, Bruce G. How to Respond to Satanism [Como Responder
ao Satanismo]. Concordia, 1988. p. 18.
2
Lyons, Arthur Satan Wants You [Satanás o Quer]. Mysterious Press, 1988.
p. 115.
3
Ibid., p. 123.
4
Para uma visão mais profunda do impacto que os ensinamentos de
Jung causaram sobre a bruxaria e o ocultismo moderno, veja meu livro
Wicca, Satan’s Little White Lie [Wicca, a Mentirinha Branca de Satanás].
ChickPub., 1990. p. 27-36.
5
LaVey, A. S. The Satanic Bible [A Bíblia Satânica]. Avon, 1969. p. 33.
6
Cavendish, Richard. (Ed.) Man, Myth and Magic [Homem, Mito e
Magia]. Marshall Cavendish Corp. 1970. v. 23, p. 3204.
7
LaVey, p. 25.
8
Ibid., p. 149-150.
Lúcifer Destronado

9
Ibid.
10
Cavendish, op. cit., p. 3.205.
11
Lyons, op. cit., p. 108-109.
12
LaVey, op. cit., p. 33.
13
Ibid., p. 34.
14
Raschke, C. A., Painted Black [Pintado de Preto]. Harper Paperbacks,
1992. p.391.

70
6
N as entranhas da besta

Eu sou a Serpente que dá Conhecimento, Prazer e


uma esplendorosa glória, e embriago o coração dos
homens. Para me adorar, tome o vinho e as estranhas
drogas que eu venha a mencionar a meu profeta, e
assim fique embriagado.
— Aleister Crowley, Liber Al vel Legis 2.22

Voltando ao relato do meu “progresso” dentro da confraria satâ-


nica, com o passar dos anos a constituição dos “covens” também
foi sofrendo alterações. Muitos dos alunos mudaram-se para outros
estados, e alguns casamentos e relacionamentos se deterioraram
rapidamente.
Tínhamos ainda uma razoável base de fiéis seguidores que
eram a “prata da casa”. Assim, contávamos com pessoas no terceiro
grau em número suficiente para ministrarem os estudos de magia
avançada, preparatórios para o quarto grau.
Para essas classes, muito nos valemos da nossa associação com
a O.T.O. Tanto Sharon como eu éramos membros do quinto grau
daquele grupo, e começamos a dar treinamento para os nossos sumo
sacerdotes em práticas avançadas, tais como magia de Crowley,
ciências herméticas, magia gnóstica e maçonaria.
É importante compreender que Aleister Crowley havia conven-
cido finalmente o dirigente da O.T.O., Theodore Reuss, de que a era
cristã tinha sido superada e que um Novo Éon começara em 1904,
sob o reinado do Filho Divino — Hórus (um deus egípcio com
cabeça de falcão). Afirmava que a religião da Nova Era era baseada
na palavra grega Thelema, que significa “vontade”. Ensinava tam-
bém que a “superada” fé cristã baseava-se numa outra palavra grega,
Lúcifer Destronado

ágape, cujo significado é o de um amor espiritual, não egoísta.

O me s s ia s d a no v a er a
Crowley, com a ajuda de sua primeira esposa, Rose Kelly, su-
postamente foi o portador de uma mensagem dada por um ser
“sobre-humano” (um espírito guia) chamado Aiwass (pronuncia-
-se “ai-uás”). Seu livro, Liber Al vel Legis [O Livro da Lei], passou
a ser considerado pelos seguidores de Crowley como o livro que
veio substituir todas as outras escrituras, inclusive a Bíblia Sagrada.
72
Observa-se que Crowley subordina o princípio cristão do
amor Agape (o amor não egoísta) ao princípio gnóstico da Thelema
(vontade). Ele convenceu o cabeça da O.T.O. quanto à validade
dessa nova religião, e Reuss fez do ramo da O.T.O. na Inglaterra,
dirigido por Crowley, a primeira ordem “thelêmica” do mundo.
Desse modo, Crowley recebeu o pretensioso título maçônico de
“Supremo e Mais Sagrado Rei da Grã-Bretanha, Irlanda, Iona e todas
as ilhas que estão no Santuário da Gnose”.
Sharon e eu, e o principal núcleo dos sumos sacerdotes do nosso
grupo, nos considerávamos thelemitas, acreditando na religião de
Crowley como sendo a evolução lógica do cristianismo no século
20. E, como membros da O.T.O., ensinávamos aos nossos alunos
em estágio avançado a forma de magia praticada por Crowley.
Em nossa associação com a O.T.O., fomos a um suposto Mestre
de Vama Marg — um caminho à esquerda, ou seja, de ocultismo
tântrico, sendo a Tantra, a ioga do sexo. Os termos “caminho à
direita e à esquerda” originam-se do ocultismo, procedendo da
Índia a ioga tântrica, a ioga da magia sexual.
O caminho à direita é tido como masculino (ou Yang,
em Chinês) e geralmente considerado como bom por todos
os ocultistas. Assim, a Tantra da direita é predominantemente
masculina, envolvendo formas de castidade. Seu ponto principal
é também a deliberada contenção da consumação do ato sexual
por parte do homem, o que é chamado de maithuna. Acreditam

N a s en t r a n h a s d a be s t a
que isso contribui para adquirir união (ioga) com o deus Shiva e
com a deusa Shakti.
O caminho da esquerda é predominantemente feminino
(Yin), sendo considerado mau por alguns ocultistas, exceto
pelos bruxos e satanistas, que consideram tais distinções como
cristãs e sexistas. A Tranta da esquerda permite a consumação
total do ato sexual pelo homem fazendo uso de outros métodos
extremamente perversos para, supostamente, alcançar os mesmos
objetivos da ioga.
Acredita-se que, por meio de certos exercícios e treinamento 73
de ordem sexual, pode se alcançar a imortalidade humana, e que
alguns canais do corpo humano podem ser desenvolvidos como
portas de entrada para outras dimensões do tempo e do espaço.
A ioga tântrica é considerada blasfema e maligna pela maioria
dos praticantes da ioga, mas desde o surgimento de Crowley está
sendo ensinada no Ocidente.
O “Mestre” com quem iríamos nos relacionar era ao que su-
púnhamos, verdadeiro pioneiro no desenvolvimento da tecnologia
mágica que tinha a ver com a Tantra da esquerda. Vamos chamá-lo
de Aquarius. Ele era, por certo, o homem mais esquisito que eu já
conheci e, possivelmente, o mais perigoso. Aquarius foi grandemen-
te recomendado pelo Chefe Exterior da O.T.O. (algo assim como
o seu papa), de modo que fomos assistir a um de seus seminários
em Chicago. Não era como o havíamos imaginado. Era um sujeito
bem forte, meio calvo, de estatura mediana, com uma barba preta
e branca bem cerrada e olhos bastante expressivos.
Sua palestra foi sobre a Arquitetura da Magia e sobre a teoria
da Arqueometria Transespacial. Ele era, usando uma expressão
popular, “da pesada”. Aprendi com ele, naquelas duas horas, mais
do que tinha aprendido em cinco anos de um intensivo estudo do
ocultismo, acho eu. Simpatizou comigo, mas Sharon não gostou
nada dele! Durante os intervalos das várias palestras, ele me procu-
rou. Disse que queria me matricular no Mosteiro dos Sete Raios,
Lúcifer Destronado

a fim de me tornar o arcebispo de Milwaukee.


Naturalmente que a minha atenção voltou-se para isso. Aqua-
rius era o arcebispo metropolitano da América do Norte da Igreja
Católica Gnóstica. Era também o Mestre do Rito da Maçonaria
Egípcia (Mênfis-Mitzraim) e um hierofante do vodu!1 
Disse-lhe que eu era sacerdote da Igreja Católica Antiga, e ele
ficou mais impressionado ainda comigo. Explicou-me que os ca-
tólicos gnósticos tinham vindo da França para a América via Haiti
e que a sucessão apostólica deles vinha do arcebispo de Babilônia;
já no caso da Igreja Católica Antiga, essa sucessão provinha de
74
Utrecht.
A doutrina de Aquarius era tão complexa que seria necessário
um livro inteiro para abordá-la. Grande parte era semelhante aos
ensinos da O.T.O.; às crenças tântricas (sexo, normal e perverti-
do, como um ato de adoração e de união com Deus); ao anglo-
-catolicismo, à Maçonaria e ao vodu. Basta dizer que eu aprendi
com ele muito mais sobre magia negra do que tudo o que eu já
tinha aprendido da maioria dos outros mestres da feitiçaria e do
ocultismo juntos.
Convidou-me a ir visitá-lo e passar o fim de semana em seu
apartamento, que tinha uma bela vista do lago Michigan. Aceitei.
Sharon, porém, não ficou muito satisfeita com isso! Mas, por fim,
eu disse a ela:
— Para crescer no conhecimento da magia e do poder, eu
sempre quis fazer tudo o que fosse necessário.
Ela sabia disso; e era exatamente isso que não lhe agradava.
Vi ag e m d e tr e m a o “ U n iv e rso B”
Semanas depois, tomei um trem para Chicago, a fim de passar
o fim de semana com Aquarius. Sharon disse-me que iria rezar por
mim e estaria fazendo rituais de proteção a cada minuto, em todo
o tempo da minha ausência. Ela me amava e confiava em mim o
suficiente para me deixar viajar, mas estava bastante preocupada
quanto ao perigo que aquele homem poderia representar.

N a s en t r a n h a s d a be s t a
Aquarius veio buscar-me na estação ferroviária, e tomamos
um ônibus para chegarmos até sua residência. Ele não tinha carro
e recusava-se a dirigir em Chicago, o que me fez pensar que era
bem mais inteligente do que eu havia suposto.
Seu apartamento era ímpar; ficava no trigésimo andar de um
prédio bem alto e moderno e era totalmente extravagante. Sua de-
coração era a mistura de uma mansão de Playboy, H. P. Lovecraft,
Igreja Ortodoxa Russa e hinduísmo.
Dominando a sala de estar havia uma enorme mesa coberta
com um brocado de cetim. Explicou-me que ali era o altar de sua
75
celebração da Liturgia Divina, tendo ainda um pano de altar litúr-
gico grego, um brocado com relíquias de um santo tecidas sobre ele.
Debaixo achava-se o que me disse ser uma “relíquia santa” ainda
mais importante, alguns metros de um tecido de algodão que tinha
sido da casa de Madame Blavatsky, a matriarca do movimento da
Nova Era, fundadora da Sociedade Teosófica.
As paredes estavam literalmente cheias de uma arte muito
estranha, como eu nunca tinha visto. Aquarius sorriu chamando-a
de “pornografia pré-cambriana”. Eu não tinha razão alguma para
duvidar do que ele dizia. Era de um aspecto rude, primitivo, como se
fora uma pintura a dedo feita por um predador sexual demente.
Havia ainda figuras mais convencionais, como de deuses, demônios,
extraterrestres e shaktis2  com quem ele trabalhava. Outras eram de
furiosos dervixes [religiosos muçulmanos]  rodopiando com um ar
totalmente misterioso.
Aquarius me disse acreditar firmemente nos princípios da
engenharia mágica, ensinados pela Igreja Ortodoxa Russa. Eram
como ícones, explicou. Cada um representava um deus ou demônio
ou poder e tudo o que se tinha de fazer para invocar a força ou o
demônio era meditar em frente à pintura. Esclareceu que era como
uma máquina de magia, como se fosse um aparelho para poupar
nosso esforço, e que, sendo ele do signo de Capricórnio, adorava
tudo o que lhe poupasse as energias.
A janela da sua enorme sala de estar estava cheia de plantas,
Lúcifer Destronado

sendo que nenhuma delas parecia ser..., bem, nenhuma delas pa-
recia normal! Mais da metade das espécies eram-me totalmente
desconhecidas, e algumas delas estavam como que querendo saltar
do vaso para atacar as pessoas! Outras tinham uma aparência um
tanto obscena, que não dá para descrever.
Aquarius preparou o jantar e então trouxe uma garrafa do uís-
que Wild Turkey. Agradeci, mas disse-lhe que não bebia. Ele sorriu
com um ar de velhaco e me disse que, se eu quisesse chegar a ser
um patriarca gnóstico e arcebispo, teria que me acostumar com a
bebida.
76 Eu não estava mentindo. Nunca bebi muito em minha vida.
Qualquer vinho ou licor tinha o mesmo sabor para mim: horrível.
Sentia uma forte aversão sempre que tinha de tomar o vinho da
eucaristia durante a missa, mas, como cria que era o sangue de Jesus,
conseguia suportá-lo. No entanto, meu gentil anfitrião insistiu em
que eu colaborasse com ele para acabar totalmente com o conteúdo
de sua garrafa de Wild Turkey. Tinha gosto de fluido de isqueiro,
e eu quase vomitei. Resolvi, então, ir bebericando pequenos goles
do uísque, aos poucos, durante algumas horas, enquanto o ouvia
com atenção falar de sua magia bizarra e incomum.
Para Aquarius, a chave do poder de um cientista mágico estava
na compreensão de todos os ramos da ciência e da filosofia. Sentia-se
satisfeito com os cursos que eu fizera, mas insistiu em que eu tinha
de levar para casa comigo uma cópia da série filosófica de Coppleton
e dos Principia Mathematica de Bertrand Russell. Disse-me que eu
teria de me submeter a um teste completo sobre esse material antes
da minha consagração como bispo.
Ele conseguiu acabar com dois terços do conteúdo da garrafa
de uísque, e mesmo assim permaneceu lúcido. Percebendo meu
espanto, explicou que o segredo era ter tantas entidades (espíritos
do vodu) dentro da gente que, ao beber, elas é que ficavam bêba-
das, não nós. A maioria das entidades do vodu — assegurou-me
ele — adora a bebida alcoólica, principalmente uísque e rum.
Explicou-me ainda que era necessário aplacar a ira das entidades,
de diversas maneiras, se pretendesse ter acesso ao universo B. Eram

N a s en t r a n h a s d a be s t a
as guardiãs da entrada a esse universo.
De acordo com Aquarius, o universo B é um universo alterna-
tivo em que se aplicam leis totalmente diferentes da física quântica
e da matemática. Seria um universo governado por magos mestres
da Atlântida, que haviam fugido da terra para escapar da destruição
do “continente perdido”, há milhares de anos.3 
A partir do universo B, o praticante da magia que saiba o
que está fazendo pode ter acesso a outros universos alternativos. É
possível ainda trazer energias e até mesmo criaturas do universo B
para o nosso universo, para que (espera-se) nos sirvam. No entan- 77
to, sabe-se que uma parte dessas criaturas é muito perversa, e que
somente fazem alguma coisa quando se lhe dão copiosas doses de
uísque ou rum, sexo e sangue. O objetivo final seria descobrirmos
nosso “próprio” universo, em alguma parte desse intercâmbio
cósmico, para nele reinar como se fôssemos um deus. Tais conceitos
estavam entre os elementos mais elevados do seu sistema de magia.
Então ele me perguntou quando eu estaria disposto a receber
o sacerdócio luciferiano. Eu quase vomitei o que estava bebendo...
e pedi-lhe que me desculpasse, pois não havia entendido.
Ele me explicou, então, que eu teria de me tornar sacerdote
de Lúcifer antes de poder tornar-me bispo católico. Referindo-se
à estrutura, normalmente aceita no ocultismo, que representa a
cabalística árvore da vida, Aquarius mostrou-me que o quinto grau
de sacerdócio era consagrado ao Sol e ao deus que havia sido morto
e que ressuscitou, Osíris ou Jesus. Pertencia ao mundo cabalístico,
ou esfera, de Tiferet. Isso era uma cerimônia elementar de magia
com a qual eu estava bem familiarizado. Pedi-lhe que prosseguisse.
A Árvore da Vida:
Caminhos Astrais e Tarô
Lúcifer Destronado

Coroa
ágico
de Kether 0-O
1- O M Tolo

“Conhecimen- “Sabedoria”
3- A Imperatriz
to” de 2- A Suma Sacerdotisa de Hokmah
Binah
11 - Força
7 - Carruagem 5- Hierofante

la
6-

tre
Os

Es
Am

-A
an

17

“Força” de “Misericórdia”
tes

Geburah 8 - Fo
remi
ta de Hesed
78 rtuna 9-E
“Beleza” de
12 - Enforcado Tipharet 10 — Sorte

15 - Diabo 13- M
orte
14 - Arte

“Esplendor” 16 - Torre “Vitória” de


de Hod 19- O rado
r Netzach
Sol pe
4- Im
“Fundamen-
to” de Yesod
20

a
Lu
-A
E

-A
ter

18

21- universo
n
ida
de

“Reino” de
Malkuth
Explicou, então, que o grau sexto (Adeptus Major) pertencia
ao mundo de Geburah, governado por Marte. Seu sacerdócio era o
sacerdócio de Lúcifer, seu metal era o ferro, sua pedra preciosa o rubi.
Isto encaixava-se muito bem no que eu já sabia. Se Tiferet per-
tencia ao sacerdócio católico, era uma combinação perfeita! O metal
de Tiferet era o ouro, e o seu perfume era o do incenso olíbano.
Tanto o ouro como o olíbano participam de modo predominante
na missa e no simbolismo cristão.

N a s en t r a n h a s d a be s t a
Quando eu recebesse o grau luciferiano, declarou Aquarius,
estaria em condições de ir para o sétimo. Este seria o grau Adeptus
Exemptus, ou seja, o episcopado, ou bispado católico romano!
Essa esfera na Árvore da Vida, Hesed, é governada por Júpiter, na
Cabala. Sua ferramenta de magia é o báculo (o bastão episcopal),
e sua pedra, a ametista.
Eu sabia que, por séculos, a pedra do anel usado pelos bispos
de Roma sempre foi a ametista! Acho que essa tradição vem dos
antigos pontífices pagãos romanos, que usavam um anel de ame-
79
tista na mão direita, como talismã, para lhes dar juízo e sobriedade
(evitando, assim, que se embriagassem).
Sem poder esconder a excitação em que me encontrava,
perguntei-lhe o que implicaria tornar-me um sacerdote luciferiano.
Aquarius sorriu benignamente, com um ar presunçoso de quem
tudo sabe, e disse:
— Você precisa vir para a Luz!
De algum modo eu sabia que algo não estava certo naquela
afirmação.
— Como vou fazer isso? — perguntei, com a voz um tanto
rouca pelo efeito do uísque.
Ele exibiu um sedutor sorriso amarelo e tentou cativar-me,
explicando que eu teria de passar por um arcaico ritual dos Templá-
rios.4  Tive que passar por esse ritual naquela mesma noite. É melhor
não descrever como foi; apenas vou dizer que está relacionado com
a cúpula clerical e envolvendo vampirismo sexual.
“H os p e d a r ia inf e r n o ” ?
Concluídos, finalmente, os ritos e blasfêmias naquela noi-
te, houve, ao encerramento, um certo toque de ironia. Antes de
Aquarius recolher-se, pegou cópias do Santo Ofício do Breviário
e me conduziu na recitação da sua última parte, o Completório,5 
dirigindo-se depois para o quarto de rituais, que era ao mesmo
tempo o seu dormitório.
Lúcifer Destronado

Com um sorriso um tanto traiçoeiro, perguntou se eu não


gostaria de passar a noite no seu quarto, o qual me pareceu ser
mais terrível do que sua sala de estar. Eu já tinha chegado ao nível
máximo de perversidade para aquele fim de semana, de modo que
polidamente declinei do convite.
No entanto, dormir em sua sala, no seu sofá de veludo, não
me traria descanso.
Passado o efeito confortador da recitação do Breviário, tive
uma das piores noites da minha vida no sofá de Aquarius. Eu me
80 sentia grato por estar ali, mas parecia que eu não estava só. Aquelas
horrorosas pinturas pareciam estar vivas. Os olhos delas brilhavam
na escuridão com um fogo impetuoso. Apeguei-me então ao meu
escapulário franciscano, que eu sempre usava preso a meu pescoço, e
rezei tantos rosários que perdi a conta. Na verdade, acabei dormindo
numa casula católica (uma veste sacerdotal) acreditando que ela
me daria algum conforto (mas disso eu não tinha muita certeza).
Afinal, Aquarius era hierofante vodu, diácono da Igreja Episcopal
e arcebispo da Igreja Católica Gnóstica. Eu não estava convencido
de que um pedaço de pano, como o daquela sua vestimenta, iria
amenizar a situação.
Muitas vezes, naquela noite, fui acordado por pesadelos,
calafrios e ensopado em suor, ao ouvir ruídos como que de ratos
passando por vidros quebrados. Ao abrir os olhos, achava que as
pinturas tinham se movido na parede!
Ao conseguir conciliar o sono, estranhos seres sexuais vinham
e deitavam-se sobre as minhas cobertas. Dava para sentir o seu
peso e sentir seu fétido hálito. Não sei se eu estava tendo terríveis
pesadelos ou se estava acordado. Tudo aquilo não fazia sentido. Ali
estava eu, sumo sacerdote bruxo e recém-ordenado sacerdote de
Lúcifer, sendo amedrontado, a ponto de me apavorar, por umas
extravagantes e inocentes pinturas. Era como se o Anton LaVey
dormisse de luz acesa.
Foi como passar a noite na “Hospedaria Inferno”. Ainda bem que
ele tinha deixado comigo uma cópia do Breviário, porque acabei lendo

N a s en t r a n h a s d a be s t a
os Salmos que nele estão, valendo-me da luz da lua, procurando manter
minha mente afastada daquelas figuras arrepiantes e rastejantes, como
também das plantas, que pareciam sussurrar de um modo bastante
estranho, na escuridão. As sombras daquela vegetação não terrestre,
projetadas pelo luar, moviam-se sobre as páginas do meu Breviário
de um modo lascivo que jamais seria efeito de uma brisa, pois era
inverno, e as janelas estavam completamente fechadas!
Nenhum alvorecer foi mais bem-vindo do que aquele. Aqua-
rius levantou-se cerca de uma hora após raiar o dia e parecia mais
estranho ainda à luz solar do que quando o vi à noite. Sua pele era 81
pálida, como o ventre de um peixe. Formava um total contraste
com seu cabelo preto e sua barba grisalha.
Sorriu e me perguntou se eu tinha dormido bem.
— Muito bem! — respondi-lhe.
— Ótimo, isso é muito bom! Vou preparar para nós um café
e em seguida vamos cantar laudes [recitativos do Breviário], tomar
uns coquetéis e depois trabalhar no nosso vodu.
O “café da manhã”, para ele, era na verdade um mingau que
parecia ser feito de aveia, mas que tinha um gosto estranho, como
se tivesse pelo menos dois ou três vegetais entorpecentes.
O restante do fim de semana transcorreu daquele mesmo
modo agitado e estranho. Aquarius transbordava de gentileza e
hospitalidade tipicamente europeias, para não falar de sua religio-
sidade convencional. Tinha sempre consigo um rosário e insistia
em rezarmos todo o Ofício Divino; contudo, narrava-me histórias
de magia e perversão sexuais com divertido prazer.
Para Aquarius, o vodu não era um sincretismo religioso da
feitiçaria africana com o catolicismo, como a maioria das pessoas
“pensa”, mas sim, uma forma sofisticada de magia que fazia uso da
Matemática e da Física e que ele acreditava ter sua origem no con-
tinente perdido da Atlântida. Sugeriu que eu entrasse no primeiro
nível de sua escola de vodu, chamada Culto à Serpente Negra.
Tudo o que eu teria que fazer para receber as lições era enviar-lhe
Lúcifer Destronado

preenchido um formulário, juntamente com dez dólares por mês.


Posteriormente, quando recebi as lições, fiquei pasmado ao ver que
continham assuntos como magia por masturbação, comer carne de
cadáveres e ter sexo com demônios!
Aquarius observou que eu teria um progresso bem mais rápido
se tivesse pós-graduação em Matemática. Disse que o propósito
final da magia era metamatemático. Requeria que o seu praticante
viajasse através do tempo e do espaço de modo a produzir e con-
trolar universos inteiros.
82 Finalmente, marcamos o dia em que me tornaria bispo, e
peguei meu trem de volta para casa.
Quando cheguei, alegrei-me em me encontrar com Sharon, e
ela, em me ver. Contei-lhe tudo o que acontecera naquele fim de
semana, e ela me fez prometer que nunca mais voltaria lá sozinho.
Fui consagrado semanas depois, de acordo com o rito da
Pontifical Romana. Aquarius trajava uma veste ortodoxa russa
que valia cerca de 800 dólares, e eu usava todos os paramentos de
um prelado. Em vez de jurar sujeição ao papa (pelo qual eu não
alimentava grande entusiasmo), tive que jurar obediência ao papa
do vodu, Hector François Jean-Maine, do Haiti.
Foi necessário que eu fosse a Chicago mais algumas vezes.
Cada vez, era mais estranho que da vez anterior. Tinha que levar
um de meus amigos como segurança. A cada viagem, meu acom-
panhante era alvo de vibrações tão estranhas que se recusava a ir
na vez seguinte.
N a s en t r a n h a s d a be s t a
83

Certificado de Consagração como Bispo da Igreja Católica (Ritos da


Igreja Católica Romana Antiga). Também mostra William Schnoebe-
len tornando-se Mestre do Templo. Naquele tempo, seu nome legal era
Christopher P. Syn. (Veja a segunda ilustração do Capítulo 4.)
Por fim, meu relacionamento com Aquarius ficou um tanto
abalado, quando determinou que eu não deveria deixar Sharon
tornar-se uma discípula sua. Aquarius era bissexual, se não total-
mente homossexual. Envolvia-se mais com homens do que com
mulheres, e parecia mostrar-se um tanto preocupado quanto a
Sharon, recusando-se a realizar qualquer cerimônia em que ela
estivesse presente.
Lúcifer Destronado

Sharon vinha desenvolvendo seu próprio e complexo sistema


de arquitetura mágica, e evidentemente Aquarius havia ficado
com inveja dela. Mas o que o deixara furioso era não conseguir
manipulá-la. Ele tentou, certa noite, entrar no “universo” mágico
dela. Sharon achou que ele estava ficando um tanto pomposo, e pre-
cisava aprender uma lição quanto a ter respeito diante dos segredos
da Deusa. Ela não se sentia ameaçada por ele, absolutamente, mas
sabia que as informações que possuía seriam desastrosas nas mãos
dele. Entraram em conflito quando ela defendeu o seu território
84 da invasão dele. Sharon decidiu ser misericordiosa e dar-lhe apenas
uma advertência. Naquela mesma semana, viemos a saber que ele
tivera de se hospitalizar, naquela noite, por causa de um ataque
cardíaco. Foi uma das poucas vezes em que Sharon, em toda a sua
vida, fez uso de seus poderes de magia.
Algumas semanas depois, quando eu estava cursando aulas de
Aquarius sobre Arqueometria Indutiva (uma forma mágica e maçô-
nica da construção universal), recebi uma carta dele informando-me
que eu havia sido excomungado do Mosteiro dos Sete Raios pela
heresia de “Ginecolatria” (adoração de mulheres?).
Sinceramente, senti-me feliz por ficar fora do seu alcance! Toda
vez que eu passava um fim de semana com ele, sentia-me como se
tivesse nadado num vaso sanitário.
As incongruências que havia em minha vida começavam
a me incomodar! Ali estava eu, celebrando a missa (agora
como bispo) ao Deus cristão e, ao mesmo tempo, adorando em
altares pagãos porque, ao que se supunha, Jesus também tinha
adorado neles.
Havia me tornado sacerdote de Lúcifer numa cerimônia que
escarnecia do papado e da moral cristã; contudo quem me iniciara
como sacerdote luciferiano era um devoto arcebispo católico que
diariamente rezava rosários em seu gabinete e ia à missa todos os
domingos numa catedral!
Mas seria a sua hipocrisia menor do que a do padre da uni-

N a s en t r a n h a s d a be s t a
versidade onde eu havia estudado, que professava santidade mas
buscava meios de seduzir estudantes e distorcia os ensinos morais do
cristianismo para adequá-los às necessidades do momento? Aquarius
era exatamente o oposto dele. Embora secretamente piedoso, era
publicamente um advogado de Lúcifer!
Para mim, Lúcifer era a chave para todo o problema. Cresci
acreditando que ele era mau, mas, praticamente, todo o sistema
de crenças que eu passei a conhecer desde meus tempos do ensino
médio dizia que, de um modo ou de outro, ele era tão importante,
85
ou mais até, para a minha salvação, do que Jesus!
Eu tinha que descobrir qual era a minha real posição com
respeito a Jesus e a Lúcifer. Havia em mim um senso bem forte
de que eu queria estar com Jesus. Será que Jesus aprovava Lúcifer,
ou não? Será que Lúcifer era seu pai, ou um irmão mais velho
(como me ensinaram diversas vezes)? Ou será que ele é seu
eterno inimigo?
Se eu tivesse tido condições de acreditar na Bíblia, estaria
muito bem. Mas, àquela altura, eu achava que a Bíblia era menos
confiável do que O Livro da Lei, de Crowley!
Eu não sabia que o Senhor Deus tinha todo o poder do
universo, e que Satanás já tinha sido vencido. Eu não sabia que
poderia ser totalmente liberto pelo sangue de Cristo. Assim,
tomei duas atitudes.
Em primeiro lugar, lancei-me totalmente no meu sacerdócio.
Isso me deu a ilusão de santidade. Comecei a celebrar a missa
diariamente, sendo bastante zeloso com meu encargo divino. Co-
mecei a sentir-me melhor com toda essa “santidade”. Muita coisa
começou a acontecer em minha vida na Igreja Católica Antiga, o que
me foi bastante positivo. Fui designado chanceler da arquidiocese e
consegui, também, uma capela num bairro elegante de Milwaukee.
Era num convento de frades franciscanos, chamado Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro, dirigido pelo padre Daniel, O. F. M. (Daniel
Lúcifer Destronado

não é o seu verdadeiro nome).6  Ele tinha dois irmãos leigos e dirigia
um lar para homens retardados. Começamos a ter a missa domi-
nical lá; às terças-feiras à noite, tínhamos novena; e nas noites de
sextas-feiras, a Bênção do Sagrado Sacramento.
Tínhamos atraído um grupo relativamente grande de fiéis das
vizinhanças, chegando a 25 ou 30 pessoas, em sua maioria católicos
confusos ou desiludidos, que gostavam do estilo antigo (anterior ao
Concílio Vaticano II). Poder ministrar a tais pessoas era uma fonte
de grande satisfação para mim. Eu estava fazendo o que sempre
tinha sonhado fazer desde minha infância!
86
Achando estar tendo grande desenvolvimento espiritual,
levei minhas preocupações a Deus, pedindo-lhe que me
desse um sinal quanto ao modo como deveria proceder com
respeito a Jesus e a Lúcifer. Ainda mantínhamos nossos “co-
vens” de feiticeiros e dávamos aulas em nossos cursos de magia
thelêmica; mas eu realmente queria saber qual era a vontade do
Senhor para mim. Então me pus de joelhos e orei para receber
a resposta certa.
Não sei o que eu esperava receber: se um raio de luz do céu,
ou se uma voz em meus ouvidos, ou a visita de um mensageiro
angelical. Nada disso aconteceu. O que de fato recebi foi pelo
correio, no dia seguinte. Meu nome estava em muitas listas de
correspondência, por causa da minha participação em numerosos
grupos do ocultismo. Naquele dia, o carteiro me trouxe uma revista
num envelope marrom. Esse envelope iria levar-me a direções ainda
mais profundas das trevas.
N ot as
1
Supõe-se que os Ritos de Mênfis-Mitzraim, da Maçonaria, tenham sido
restaurados pelo conde de Saint Germain no século 18, na Europa (tendo
Saint Germain, supostamente, se mantido vivo desde o antigo Egito). Essa
corrente de magia egípcia emigrou para as colônias francesas no Novo
Mundo, onde sincretizou-se com crenças africanas e o catolicismo francês,
produzindo o vodu. O vodu é uma das formas de feitiçaria mais perigo-

N a s en t r a n h a s d a be s t a
sas e perversas, envolvendo endemoninhamento da pessoa, alcoolismo,
necromancia e bestialidade. Por trás da fachada de algo aparentemente
primitivo, esconde-se, na verdade, um terrível e sofisticado sistema de
magia que implica o ingresso em outros universos e faz com que a pessoa
se renda à possessão satânica da pior espécie.
Embora originalmente praticado apenas por negros e hispânicos, hoje
em dia muita gente está se envolvendo com ele. Fique longe de qualquer
coisa que tenha a ver com vodu! É a forma mais poderosa de magia negra
e, provavelmente, a mais ousada. Somente Jesus pode libertá-lo dela, se
você recebê-lo em seu coração e fizer dele seu Senhor. 87
2
Shakti é um termo hindu para uma das deusas consortes do deus Shiva.
Usa-se também para descrever suas sacerdotisas, que atuam como prosti-
tutas no templo. Este termo significa ainda um ser totalmente demonía-
co, do tipo súcubo, essencialmente uma personificação do órgão sexual
feminino e invocado para se fazer sexo astral/demoníaco.
3
A crença em Atlântida é uma doutrina comum do ocultismo. Supõe-se
ter sido um continente que existiu em alguma parte do que é hoje o
Oceano Atlântico, com elevado grau de civilização e tecnologia, tanto
do modo convencional quanto relativamente a magia. Julga-se ter sido
destruída por um cataclismo (um dilúvio ou terremoto) milhares de anos
antes de Cristo, por motivos misteriosos — possivelmente por causa da
sua maldade e ou seu envolvimento com coisas ocultas tão perigosas que
nem se poderia imaginar. É mais um exemplo de um mito pagão que
reflete a verdade do dilúvio de Noé. Muitos dos mestres da Nova Era e dos
espíritos guias de hoje dizem ter vindo da Atlântida, e grande parte dos
ocultistas acredita ter tido pelo menos uma ou duas encarnações naquele
continente — evidentemente!
4
Para abordar de modo adequado o tema dos Cavaleiros Templários e a
Maçonaria, seria necessário um livro inteiro. Veja meu livro Maçonaria,
do Outro Lado da Luz [Editora Luz e Vida], especialmente o capítulo 15.
Embora haja muita controvérsia sobre sua história, os Templários foram
adotados, de um modo correto ou não, como símbolo tanto da Maçona-
Lúcifer Destronado

ria como do culto a Lúcifer — sendo grande parte desse culto orientado
para o homossexualismo e a blasfêmia. Isso porque os Templários foram
acusados pelo rei da França, Filipe o Belo, e pelo papa (talvez injustamen-
te) de pisarem crucifixos, de sodomia, de pederastia e de adorarem um
ídolo chamado Baphomet. Desde 1700, os Templários têm servido de
pretexto para os satanistas, os feiticeiros e (num grau menor) os maçons
desenvolverem o seu simbolismo ritual. Todo tipo de rituais de blasfêmia
tem sido atribuído a eles, e sua reputação de “ocultistas” vem sendo, de
todo modo, ampliada pelos séculos. Muitas sociedades, tanto do culto
luciferiano como da Maçonaria, declaram descender dos Templários e
88 seguir os “rituais secretos” deles. Tais declarações são altamente suspeitas.
5
“Completório” ou “Completas” é uma das oito partes devocionais do
Breviário Romano, geralmente cantado ou recitado às 9 horas da noite.
O clero católico e anglicano normalmente eram solicitados a recitar todas
as partes devocionais do Breviário: Matinal, Louvores, Primeiro, Terço,
Sexto, Nono, Vesperal e Completas.
6
O.F.M., que significa Ordem dos Frades Menores, ou Ordem dos Peque-
nos Irmãos, é a ordem franciscana original.
7
O que a noite tem
para revelar

O satanismo não deve ser considerado como sim-


plesmente mais uma religião; deve ser considerado,
sim, como uma não religião.
— Michael Aquino

Na história do satanismo moderno, é interessante observar que


a primeira e mais séria divisão que houve na Igreja de Satanás foi
com respeito à questão de haver ou não um ser real como Satanás,
que de algum modo devesse ser adorado; ou se se tratava apenas
de um símbolo disponível.
Em decorrência dessa divisão, em 1975, foi fundado o Templo
de Set, do Dr. Michael Aquino, que não é menos inteligente do que
o seu ex-colega precursor LaVey. Exibindo uma mancha negra de
cabelos no centro da testa que seria invejada por personagens de
horror cômico do cinema, e sobrancelhas satânicas como as do “Dr.
Spock” (características que ele jura serem naturais), Aquino parece
ser realmente um feiticeiro. Sua mulher, Lilith Sinclair, é uma bela
morena, muito magra e de rosto muito pálido, que usa vestes pretas
de cetim, parecendo-se com a “Mortícia” da “Família Addams”.
Embora o casal possa parecer divertido, eles são tudo!, menos
isso! Diferentemente de LaVey, mais excêntrico e gênio autodidata,
Aquino tem doutorado em Ciência Política e é tenente-coronel da
Inteligência [serviço secreto, ou de segurança] do exército americano,
contando, assim, com elevado grau de segurança (que pensamento
confortador!). Diz-se que é perito em guerra psicológica e em guerra
psicotrônica (o que no exército americano é chamado de “Psyop”).
Nos anos de consolidação da Igreja de Satanás, Aquino era
o braço direito de LaVey, e Lilith Sinclair era uma proeminente
líder de uma das maiores “cavernas”(como são chamados os grupos
Lúcifer Destronado

dessa Igreja) na costa leste americana. Aquino chegou até mesmo


a escrever o prefácio para o livro de LaVey Satanic Rituals [Rituais
Satânicos]. Não sabemos ao certo quanto do conteúdo dos ensinos
da Igreja de Satanás foi influenciado por Aquino, mas parece ter
sido considerável a sua influência.
Os motivos pelos quais eles romperam com a Igreja de Satanás
são controvertidos. Aparentemente, uma forte razão pode ter sido o
fato de que Aquino achou que LaVey não estava levando o satanismo
tão a sério como deveria. Aquino discordou do ateísmo pragmático
de LaVey e também da sua festiva forma de se exibir em público.
90
Deve ter achado que LaVey estava “no negócio” apenas para ganhar
dinheiro — o que descaradamente LaVey acabou admitindo. Por
incrível que pareça, Aquino sentiu que o certo seria uma abordagem
mais “altruísta” (desculpem-nos o termo).
Em vez de criar um satanismo prêt-à-porter, para uso imediato,
ao qual qualquer um poderia filiar-se, bastando pagar uma taxa
de inscrição, Aquino vislumbrou uma elite, quase paramilitar de
intelectuais que realmente acreditassem no “lado das trevas” e que
ali não estariam somente em troca de algumas emoções baratas e
fora de série ou para ganhar dinheiro fácil.
Em seus escritos, Aquino deu a entender que a tocha havia sido
passada de LaVey para ele, um homem mais sério, mais inteligente
e mais dedicado. Estava implícito que LaVey havia sujado o ninho
do inferno com um materialismo crasso e humor de baixo nível.
Aquino vinha para ser o novo messias das trevas, após o “João Ba-
tista” LaVey. Este teria que diminuir, para que Aquino e seu “novo”
deus, Set, pudessem crescer. LaVey manteve-se calado sobre essa
cisão, e cada vez mais isolado nestes últimos anos.

O te mp l o d e se t

O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
Desde seu início, em 1975, o Templo de Set tem refletido os desejos
do seu fundador. Tem sido mais elitista e com menor mentalidade
de publicidade do que a Igreja de Satanás. Assim, sua membresia
não tem passado de algumas centenas de pessoas, tendo talvez alcan-
çado o máximo de mil membros,1  ao passo que a Igreja de LaVey
tinha milhares de membros, muitos dos quais pessoas simples que
enviaram dinheiro para se filiarem à organização e receberam seu
cartão de membro.
Aquino preferiu deixar de lado o nome de “Satanás”, que mexe
com as pessoas. Para ele, essa palavra tinha adquirido uma conotação
demasiadamente negativa. Por isso, sua divindade é chamada “Set”.
Os membros do Templo de Set chamam-se a si mesmos “setianos”,
e não “satanistas”. Aquino considera Set como sendo uma forma 91
mais antiga e mais pura do arquétipo ou imagem de Satanás.
Set era um deus egípcio (cerca de 3400 a.C.), considerado
um deus do mal por faraós posteriores, que chegaram a alterar
seus templos e monumentos visando a erradicar sua memória e
seu culto.2  Estava ligado aos cultos sumerianos e à estrela Sirius.
Seu símbolo é o pentagrama invertido, que os setianos usam com
muito orgulho.3 
Pode-se falar muita coisa sobre uma Igreja simplesmente ana-
lisando o seu deus, e Set não é exceção. É o equivalente egípcio de
Caim, que os ocultistas acreditam não ter sido filho de Adão com
Eva, mas com uma hipotética mulher, anterior a Eva, chamada
Lílite.4 
Segundo alguns comentários rabínicos (não conforme o Antigo
Testamento), Adão teve uma mulher que havia sido feita, como
ele, do barro. Era Lílite. Ela, no entanto, não era a mulher mansa,
submissa e humilde ajudadora de que Adão necessitava. Ela não se
submetia, diz essa história, à autoridade dele, fosse no ato conjugal
ou em qualquer outra coisa. Assim, Adão foi à presença de Deus e
queixou-se, na verdade pedindo-lhe o divórcio.
As lendas rabínicas dizem que Deus ficou do lado de Adão e
expulsou Lílite do Jardim do Éden, ocorrendo assim o primeiro
divórcio. Deus fez então Eva a partir da costela de Adão, para que
desse modo ela fosse mais dócil para com ele. Todavia, como ocorre
Lúcifer Destronado

em qualquer divórcio, restou o problema do que fazer com os filhos.


Lílite estava grávida de um filho de Adão ao ser expulsa do Éden.
Supostamente ela estava com tanto ódio que, ao nascer a criança,
despedaçou-lhe a cabeça, jogando-a num rochedo às margens do
rio Eufrates.
Dependendo de qual versão dessa lenda se queira adotar, todos
os demônios do mundo provieram da caveira que restou daquela
criança morta, e esta seria a origem de todos os demônios; ou então
foi Set quem proveio daquela caveira. De qualquer modo, Lílite é
assim considerada a mãe de todo mal e de todas as abominações.
92 Por causa desse terrível ato, os judeus mais supersticiosos de
todos os tempos têm acreditado que Lílite é a causadora da chamada
“morte do berço” e do infanticídio. De fato, em alguns lares judeus,
até o dia de hoje, coloca-se um talismã sobre o berço, invocando a
proteção de três anjos sobre a criança: Sanvi, Sansanvi e Samengalef.
Estes anjos são tidos como arqui-inimigos de Lílite. Pena que não
sejam citados na Bíblia!
Lembre-se de que a grande sacerdotisa do Templo de Set, a es-
posa de Aquino, mudou o nome, para “Lilith” [Lílite].5  Isto mostra
a reverência do casal para com essa odiosa divindade. Os egípcios
da Antiguidade acreditavam que Set era o deus responsável por
todo o mal, e sua “mãe”, Lílite, a feiticeira da noite e “padroeira” do
aborto (uma prática tradicional da bruxaria). No antigo Egito, Set
originalmente era adorado com rituais obscenos e homossexuais,
antes de acabarem com o seu culto.
Aquino, não obstante, ensina que a Igreja Cristã fez de Satanás
“o responsável”para justificar o erro que foi a expulsão do Jardim
do Éden, e a separação do homem do mundo carnal e do restante
do Universo. Set (que seria a verdadeira identidade de Satanás)
representaria, na verdade, esse sentimento de alienação e solidão
em relação ao resto do cosmo.6 
A escolha de Set como principal figura sagrada do templo

O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
de Aquino é bastante sintomática, pois o culto a Set, como agora
restaurado, gira em torno do livro Liber Al vel Legis [O Livro da
Lei], anteriormente mencionado. Este livro foi “revelado” em 1904
a Aleister Crowley, e supostamente “psicografado” pela primeira
esposa de Crowley, Rose Kelly, de um ser supostamente super-
-humano, extraterrestre, de nome Aiwass, que seria o próprio Set
ou um seu precursor.

“T o M e g a Th e r io n ”
Para que uma parte do que se segue possa fazer sentido, temos que
fazer nova pausa no nosso assunto, para explicar melhor o que dis-
93
semos até agora acerca da posição de Aleister Crowley em tudo isso.
Edward Alexander Crowley nasceu na Inglaterra em 1875.
Seu pai era um próspero fabricante de cerveja que, um dia, teve
um encontro com Cristo e tornou-se uma nova criatura, passando
a fazer parte da membresia de uma denominação austera, a dos
Irmãos de Plymouth. Em decorrência de sua conversão, vendeu
o seu pecaminoso negócio de cervejas, aplicando os proventos no
sustento do seu ministério. A mãe de Edward era também uma
mulher muito piedosa e austera, mas o tanto que ela tinha em fé,
infelizmente, compensou com sua total inabilidade como mãe.
Papai Crowley viajava pelo interior do país como medíocre
pregador de rua, enquanto a mãe ficava com a responsabilidade
de criar o pequeno Edward, que cresceu e acabou tornando-se um
pesadelo chamado “o filho do pregador”.
Ele era, sem dúvida, um menino brilhante e muito precoce,
mas, como acontece com muitas crianças, cheio de demônios
(Pv 22.15). Certa vez, quando tinha seis anos, sua mãe lhe disse,
num ímpeto de raiva, que ele era tão maligno que só podia ser a
“Grande Besta” do livro de Apocalipse. Infelizmente, o pequeno
Crowley tomou aquilo como um reconhecimento de mérito.
Rebelou-se violentamente contra toda forma de religião e poste-
riormente, quando adulto, batizou um sapo com o nome de “Jesus
Cristo” e crucificou o infeliz batráquio de cabeça para baixo.
Lúcifer Destronado

Ao concluir seu curso universitário, Edward ligou-se à socieda-


de ocultista e maçônica chamada Antiga e Hermética Ordem do
Dourado Alvorecer.7  Foi nessa época que ele começou a assumir o
modo de se vestir e os maneirismos de um latifundiário escocês
e mudou o seu nome para “Aleister”, que soava melhor entre os
escoceses. E achou muito bom que o seu nome Aleister Crowley
resultasse no número 666, na numerologia, fosse em língua he-
braica, inglesa ou grega.
Em pouco tempo, Crowley sobressaiu-se totalmente em rela-
ção aos que eram da sua confraria. Acabaram expulsando-o de lá
94
quando quis assumir a liderança do grupo. De muitos modos, era
o que se poderia chamar de um homem da Renascença: um sofrível
poeta, extraordinário alpinista e grande caçador de feras, além de
um jogador de xadrez que disputava ao mesmo tempo oito partidas
com os olhos vendados. Era ainda um disciplinado praticante de
ioga e meditação transcendental. Também tentou escalar o segundo
monte mais alto do mundo, o K-2, e por pouco não foi acusado
de haver causado a morte da maior parte da expedição.
Crowley era dotado de uma personalidade sarcástica e sagaz,
e era viciado em cocaína e heroína. Era um homem extremamente
fanático e antissemita. Mas, acima de tudo, tornou-se um dos
ocultistas que mais se destacaram no século 19 e, certamente, o mais
influente satanista de sua época. Um proeminente ocultista descre-
veu Crowley como “a fina flor (...) de todo o corpo do ocultismo
no Ocidente e sua literatura”.8  Tudo indica que ele era totalmente
endemoninhado, da cabeça aos pés!
Crowley acreditava ter feito o que bem poucos ocultistas
tinham feito — ter atravessado o “Grande Abismo”, um “buraco
negro” espiritual existente entre o 7o e o 8o graus da magia. Ao atin-
gir esse ponto, tornou-se um Magister Templi (Mestre do Templo),
assumindo o principal título de sua carreira na magia — To Mega
Therion — que em Grego significa “A Grande Besta”.

O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
U m nov o É o n ?
Crowley achava que o evento mais importante da sua vida tinha
sido o contato, já mencionado, que ele tivera com Aiwass, um ser
dotado de “inteligência super-humana”. Isso ocorreu em 1904,
quando ele visitava o Museu do Cairo com a primeira das muitas
mulheres que teve, Rose, durante a lua-de-mel. Ela foi tomada por
uma força sobrenatural, levando Crowley a seguir um corredor até
determinado objeto em exposição. Era uma estela egípcia, uma laje,
mais ou menos quadrada, entalhada tal como uma das tábuas dos
Dez Mandamentos, que exibia uma arte egípcia com hieróglifos. 95
Essa estela pertencera a um sacerdote egípcio chamado
Ankh-af-na-Khonsu, e o número da peça, na exposição, era 666.
Para alguém tão versado em magia, como era Aleister, isso só poderia
ser um presságio de imensas proporções, uma vez que ele tinha feito
desse número o tema cabalístico de sua carreira. Dias depois, no
início de abril, sua esposa “incorporou”9  aquela entidade, Aiwass.
Por três dias, esse espírito ditou, por meio dela, todo o texto do
Livro da Lei [Liber Al vel Legis].
Crowley chegou a acreditar que era a reencarnação de
Ankh-af-na-Khonsu, e que aquele livro não muito extenso que
ele havia recebido era a “Bíblia” para um novo éon da história da
humanidade. Julgava que o reino de Jesus (a Era de Osíris, o deus
morto e ressuscitado) tinha terminado e que um novo deus, o “Filho
Coroado e Vencedor”, havia assumido o trono do céu. Esse novo
deus manifestava-se de duas formas: Heru-Par-Kraat, uma entidade
benigna que curava enfermidades, e Ra-Hoor-Khuit, um deus da
guerra e da morte, com cabeça de falcão. Eram as duas divindades
gêmeas egípcias, Hórus e Set.
Essa experiência foi o que basicamente deu as linhas para o
resto da vida de Crowley. Ele quis então fundar uma religião, à
qual chamou de Thelema (segundo a palavra grega que significa
“vontade”) ou crowleyanismo, e escreveu um grande número de
livros de poesia, de rituais e de ensino de magia. A regra básica da
Lúcifer Destronado

sua religião, que consta no seu livro Liber Al, é: “Fazer o que queres
deve ser toda a lei; o amor é a lei, o amor submisso à vontade.”
Achava que a era de Jesus fora governada pelo amor (agape,
em Grego), mas que na Nova Era de Hórus e Set esse amor seria
subordinado à vontade de ferro (thelema) do mestre da magia.
Diz-se que Crowley manifestou certa simpatia pelo surgimento
e ascensão de Hitler, e alguns dos seus discípulos chegaram a de-
clarar que Hitler era o resultado dos esforços que Crowley fizera,
por meio da magia, para que aparecesse o “senhor da guerra dos
anos 40” (uma frase profética contida no Liber Al).10  Se Hitler
96 conhecia ou não Crowley, não existe evidência histórica alguma a
respeito, embora ambos tivessem em comum o ódio pelos judeus
e fascinação pela magia negra.
Crowley teve muitos casos com mulheres e com alguns ho-
mens também (era um bissexual assumido), e arruinou a vida de
quase todos eles. Sua primeira esposa, Rose, acabou internada
como alcoólatra.
Além de racista e antissemita, Crowley era também discrimi-
natório contra as mulheres. Ensinava que as melhores mulheres
eram as prostitutas, e que a maior experiência religiosa que uma
mulher poderia ambicionar era ter sexo com “a Besta”. Assim,
costumava zombar do movimento Wicca, de seu amigo e colega
Gerald Gardner, quando no início11  recusava-se a tornar-se um
bruxo, dizendo que não queria submeter-se às ordens de um bando
de mulheres.
Crowley quis estabelecer uma abadia dedicada à sua religião
na ilha da Sicília, na Itália, mas foi expulso daquele país pelo regime
de Mussolini por causa do incrível grau de imoralidade, suspeita
de morte e rumores de prática de sacrifício humano. Passou seus
últimos anos na condição de viciado em heroína, morando ao lado
de um cemitério, na Inglaterra. Quando morreu, em 1947, até
mesmo seu enterro escandalizou a imprensa britânica. Seu mais
famoso poema, “Hino ao Deus Pã”, foi lido ao ser enterrado, e os

O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
jornais disseram ter sido uma missa negra.
Ironicamente, Crowley, assim como Aquino uma geração
depois, não se considerava satanista. Para ele, os satanistas eram
heréticos. Ele era thelemita e luciferiano, adorador da “imaculada”
luz de Lúcifer. Contudo, alegrava-se quando os jornais o chamavam
de “o homem mais maligno do mundo” e “a Grande Besta”.

U ma vi s ã o sa t â nic a
Michael Aquino parecia aspirar ser tal como Aleister Crowley. En-
quanto LaVey fez uso de alguns conceitos e ensinos de Crowley à
medida que se adequavam aos seus interesses, Aquino levou bem a
sério Crowley e sua “pregação”. Com efeito, ele via sua missão como: 97

(...) destruir a influência da religião convencional sobre as


atividades humanas (...) não no sentido de que queremos que
todos se convertam ao satanismo como religião institucional,
mas de que queremos acabar com todo esse emaranhado
de medo e superstição que tem-se perpetuado em todas as
crenças formais. O satanismo não deve ser considerado como
simplesmente mais uma religião; deve ser considerado, sim,
como uma não-religião.12 
Logo a questão quanto a Satanás/Set ser ou não uma entidade
real tornou-se uma discussão fervorosa entre os dois mestres da ma-
gia. Como não entrassem num acordo, Aquino buscou orientação
com o próprio Satanás, em 21 de junho de 1975. Supõe-se que
Set se manifestou para Aquino e lhe trouxe uma revelação, que ele
intitulou The Book of the Coming Forth by Night [O Livro do Que a
Noite Tem para Revelar].13  Aquino afirma que um novo tempo de
Set — que teve início em 1904 com o trabalho de Aleister Crowley
— estava próximo de se consumar. Seu livro seria a continuação
de Liber Al e prenunciava a “Era de Set”.14  Desse modo, Aquino
declara ter sido ungido por Set para ser o verdadeiro sucessor de
Aleister Crowley, ou seja, a “Segunda Besta”, tanto quanto a Grande
Besta profetizada na Bíblia.15 
Aquino procurou desassociar-se de algumas das afirmações
mais sórdidas que há na Bíblia Satânica. Isso foi necessário, espe-
Lúcifer Destronado

cialmente, no final da década de 1980, quando acusações de abuso


sexual satânico começaram a pipocar por toda parte nos Estados
Unidos. Uma boa política de relações públicas exigia que o Templo
de Set fosse desvinculado dessas coisas. Apesar de todos os protestos,
no entanto, é necessário deixar bem claro que o deus e a “forma
de magia” com os quais Aquino se identifica não exercem uma
influência nada boa! Ainda neste capítulo será demonstrado que,
na verdade, o Templo de Set é uma instituição bem mais perigosa
e fatal do que a igreja de LaVey.
98
U ma inv o c a ç ã o a o s de u se s da s tre v a s
Ao examinarmos a verdadeira ideologia do Templo de Aquino,
convém observar o que ele mesmo considera como suas mais im-
portantes realizações na magia. Um dos ritos a respeito do qual
Aquino se orgulha é bastante sugestivo. Tal como LaVey, ele parece
ter grande fascínio pelo ocultismo nazista. Não se sabe ao certo se
ele se deixou seduzir pelas técnicas nazistas da magia cerimonial de
LaVey, ou se foi LaVey que as obteve de Aquino. O importante é
que esses dois homens demonstram ter uma grande obsessão pelas
práticas de magia da elite de Hitler.
Embora isto não seja amplamente conhecido, Hitler (aparen-
temente católico devoto) concebeu a sua SS combinando os prin-
cípios, exercícios e ensinos espirituais contemporâneos da ordem
dos jesuítas com as práticas de sociedades místicas alemãs, como
a Sociedade Vril e a Thule Gesellschaft. O próprio Hitler era um
iniciado na feitiçaria e desejava substituir o cristianismo pela ado-
ração aos deuses do paganismo germânico.16 
Com esse objetivo, Hitler construiu um templo secreto no
castelo de Wewelsburg. Não se sabe o que acontecia naquele templo;
contudo líderes da confraria satânica americana nos disseram que,
além de todo o antissemitismo de Hitler, havia uma razão mais

O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
terrível pela qual ele construiu os campos do holocausto. Hitler
acreditava estar trabalhando para alcançar o sacrifício humano
de 7.777.777 — o povo escolhido por Deus (sete setes — uma
combinação numérica consagrada à “Mulher de Escarlata”, consorte
da Nova Era). Se ele tivesse conseguido alcançar aquele número
— assim nos disseram —, o judaísmo e o cristianismo teriam sido
destruídos para sempre, e os deuses pagãos estariam reinando so-
beranamente.
As “energias” captadas com aquelas mortes seriam canalizadas,
através de Wewelsburg, como uma espécie de raio laser mágico,
para abrir “a porta” e desencadear a Götterdammerung , mediante
a convergência especial de linhas de poder, que supostamente se 99
dirigiam para o lugar daquele castelo.
Assim, o castelo de Wewelsburg era o coração espiritual da
Alemanha nazista! Ali, Himmler e seu quadro de elite da SS reali-
zaram rituais na “Sala da Morte” para invocar a Götterdammerung
— a destruição de Deus e a reentronização dos sangrentos deuses
nórdicos da morte. Felizmente, Deus tinha outros planos, e esse
castelo foi bombardeado, até a sua ruína quase total, pelos aliados,
durante a Segunda Guerra Mundial.
Em outubro de 1984, Aquino viajou para Wewelsburg a fim
de invocar “energias”, tendo supostamente experimentado outra
“epifania” de Satanás nas ruínas do coração espiritual do nazismo!
Na torre norte do castelo, “Walhalla”, ele fez um “trabalho” de
magia e teve uma profunda revelação mística.16 
Foi ali que ele concebeu a ideia da autoconsciência humana
e sua separação das demais criaturas. Aquino agora ensina que Set
representa essa alienação fundamental que separa o homem do res-
tante do Universo. Eis uma definição de pecado bastante adequada,
embora secular! Aquino optou por fazer da personificação do pecado
o seu deus! Não é de admirar que ele ache que invocar “energias” no
baluarte metafísico da ordem nazista seja um ato profundamente
religioso. Não há como não questionarmos a moral — para não
dizer a sanidade mental — de alguém que escolhe um lugar como
esse para absorver quanto possa de suas fontes espirituais!
Lúcifer Destronado

D e i x a r se t fa l a r p o r si me sm o ?
Para se ter uma compreensão ainda melhor do terreno sobre o
qual Aquino firmou seus pés, talvez seja interessante examinar-
mos com um pouco mais de atenção o livro de seu herói, Aleister
Crowley. Se Aquino acredita ser o sucessor de Crowley, então
um pouco da cosmovisão que ele tem deve evidenciar-se com a
leitura do livro que, supõe-se, foi comunicado por Set por meio
de seu porta-voz, Aiwass!
100 A esta altura, o leitor poderá não se surpreender com o fato de
que o livro transmitido por Set, Liber Al vel Legis, é mais maligno
que a Bíblia Satânica de LaVey. Mas há uma significativa diferença
entre os dois. O livro de LaVey não reivindica nada mais do que
ser um simples livro (embora muitos satanistas o considerem como
quase sendo uma “escritura não sagrada”). Liber Al, no entanto, pro-
clama conter oráculos de um deus, comunicados por um espírito,
que suplantam a Bíblia cristã. Assim, presumivelmente, a maioria
dos adeptos de Set — e Aquino, com certeza — o considera uma
revelação “divina”.
Bem, mas o que, afinal, o Liber Al ensina em sua “teologia”?
Veja alguns exemplos, selecionados:
No Capítulo 1:
Esses são tolos que os homens adoram; tanto seus Deuses como
seus homens são tolos (1.11).
Agora vós sabereis que o sacerdote escolhido e apóstolo do espaço
infinito é o príncipe-sacerdote, a Besta; e na sua mulher, cujo nome
é Mulher de Escarlata, está todo o poder concedido (1.14).
O vocábulo Pecado significa Restrição (1.41).
No Capítulo 2:

O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
Observe que os rituais dos velhos tempos são negros.
Que os maus caiam fora; que os bons sejam purgados pelo
profeta (2.6).
Eu sou a Serpente que deu Conhecimento e Prazer e esplendo-
rosa glória, e que excito os corações humanos com a embria-
guez. Para me adorar, tomai vinho e estranhas drogas, a respeito
das quais falarei a meu profeta, e ficai embriagados (2.22).
Estou só: não há Deus onde estou (2.23).
Há um perigo maior em mim; pois quem não compreende estes
mistérios sofrerá uma grande perda. Cairá na cova chamada 101
“Porque” e nela perecerá junto com os cães da Razão (2.27).
Sou ímpar e vencedor. Não sou um dos escravos que perecem.
Que eles sejam condenados e morram! (2.49).

No Capítulo 3:
Agora compreenda-se, antes de mais nada, que eu sou um
deus de Guerra e Vingança. Vou tratar todos com severidade.
Escolhei uma ilha! Fortificai-a! Adubai a ilha, por toda parte,
com maquinário de guerra. Com ele, derrotareis as pessoas
e ninguém vos resistirá (3.3-8).
Pisoteai os infiés: ficai sobre eles, ó guerreiros, e vos darei
a carne deles para comer! Sacrificai o gado, miúdo e graúdo;
depois, uma criança (3.11,12).
Nada de misericórdia; danem-se os que se compadecerem!
Matai e torturai; não tenhais dó; ficai em cima deles! (3.18).
Para perfumar, misturai farinha com mel e bastante sobras de
vinho tinto; depois, óleo de Abramelin e azeite de oliva; em
seguida, tornai tudo macio e suave com rico sangue fresco. O
melhor sangue é o da lua mensal; depois, o sangue fresco de uma
criança, ou o que cai das hostes do céu; depois, o dos inimigos;
depois, o do sacerdote ou dos adoradores; por fim, o de algum
animal, não importa qual (3.23-24).
Lúcifer Destronado

Eu sou o Senhor guerreiro dos Quarentões; os da idade de Oitenta


agacham-se diante de mim e são humilhados. Eu vou levar-vos
à vitória e à alegria: estarei em vossos braços na batalha, e vós
tereis o maior prazer em matar (3.46).
Amaldiçoai-os! Amaldiçoai-os! Com a minha cabeça de Falcão
eu bico os olhos de Jesus enquanto ele está dependurado na cruz.
Eu bato minhas asas na face de Maomé e o torno cego. Com
minhas garras, rasgo a carne dos hindus e dos budistas (...)
Que Maria Imaculada seja atropelada: no amor dela todas as
virgens sejam totalmente menosprezadas por vós! (3.50-55).
102
Não há outra lei além de: “Fazei o que quiserdes” (3.60).17

Estes ensinos resumem perfeitamente tudo de que os sa-


tanistas mais assumidos têm sido acusados de praticar. Drogas,
mutilação de animais e sacrifício de crianças são neles glorifica-
dos. Embora Aquino negue que o seu grupo pratique ou ensine
tais coisas, é este o evidente legado de Set que Aquino adotou.
Assassinato, tortura, fanatismo e ódio a Deus são emitidos aos
berros, do livro Liber Al.
Ao mexer com essas “energias”, Aquino arrisca-se que isso possa
vir a explodir em sua face. Constantes acusações de possíveis abusos
de crianças o têm perseguido desde 1987 na justiça de San Fran-
cisco. Embora nenhuma das acusações tenha prevalecido e Aquino
tenha aberto um processo contra seus acusadores oficiais, não têm
cessado.18  De um ponto de vista espiritual, seria de admirar que
aquele que literalmente se banha no manancial do mal não fosse
tentado pelos seus aspectos mais desprezíveis.
N ot as
1
Office of Criminal Justice Planning Research Update [Atualização de Pesquisa
de Planejamento do Gabinete de Justiça Criminal], vol. 1, no. 6, inverno
de 1989/90 — Occult Crime, a Law Enforcement Primer [Crime Místico,
um Princípio de Coação Legal], Sacramento, Califórnia, p. 17.

O qu e a no i t e te m p a r a re v e l a r
2
Kenneth Grant. The Magical Revival [O Reavivamento da Magia]. Weiser,
1972, p. 71.
3
Kenneth Grant. Aleister Crowley and the Hidden God [Aleister Crowley e
o Deus Oculto]. Weiser, 1973, p. 71.
4
Ibid., p. 155.
5
Arthur Lyons. Satan Wants You [Satanás o Quer]. Mysterious Press, 1988,
p. 119.
6
Office of Criminal Justice Planning Research Update, ibid.
7
Ibid.
8
Kenneth Grant. Outside the Circles of Time [Por Fora dos Ciclos do Tem-
po]. Frederick Muller, 1980, p. 39.
9
Ela funcionou, basicamente, como médium, em transe, com um demônio
103
falando por seu intermédio.
10
Liber Al vel Legis [O Livro da Lei]. Thelema Pub., (1909) 1976, 3:46.
11
Veja o livro Wicca, de Schnoebelen p. 14-42.
12
Lyons, ibid., p. 126.
13
Ibid., p. 126-127.
14
Ibid.
15
Veja Trevor Ravenscroft, The Spear of Destiny [O Avanço do Destino],
Bantam, 1973. Também, Hitler: The Occult Messiah [Hitler, o Messias
Oculto], de Gerald Schuster, St. Martin’s Press, 1981.
16
Michael A. Aquino. The Wewelsburg Working [A Obra de Wewelsburg],
(10/19/84).
17
Citações do Liber Al vel Legis [The Book of the Law] [O Livro da Lei],
Thelema Publications, (1909), 1976, p. 25-36.
18
Lyons, p. 131.
8
L i d a n d o c o m a confraria

Era como se, naqueles últimos minutos, ele estivesse


recapitulando as lições que este longo aprendizado
em malignidade humana nos havia ensinado — a
lição da terrível, da desafiante banalidade, por
palavras e pensamentos do mal.
— Hannah Arendt

Procurava obter uma resposta de quem eu pensava ser Deus. No


auge da minha procura, recebi pelo correio um grande envelope
de papel manilha, que aparentemente era uma resposta à minha
busca por um presságio ou sinal. Dentro dele, encontrei um jornal
de um grupo ocultista chamado A Ordem do Carneiro Negro. Era
muito bem diagramado, e isso me despertou a curiosidade. Era um
grupo satanista que crescia rapidamente em número, que conside-
rava LaVey um vigarista que estava levando Satanás e o satanismo
a adquirirem mau nome.
Referiam-se aos companheiros de LaVey como sendo “sata-
nistas bufões” e falavam da necessidade de se adotar um Satanis-
mo mais sério. A qualidade dos textos e a apresentação editorial
estavam bem acima da maioria dos boletins editados pelos movi-
mentos do ocultismo. Não havia nem mesmo incorreções na grafia
das palavras!
O que chamou minha atenção, mais do que qualquer outra
coisa, foi um artigo cujo autor era: “Orion: Ipsissimus, Sumo Sa-
cerdote e Rei da Estrela da Manhã”. O nível de Ipsissimus (que
significa “O Próprio Eu no Máximo do Seu Ego”) é o nível mais
elevado de toda a magia. É o décimo grau, e significa que a pessoa
literalmente se tornou um deus encarnado.
Para alguém se proclamar um Ipsissimus ou é um insano ou
Lúcifer Destronado

é, de fato, um mestre. O artigo que li era ainda mais interessante


do que a própria declaração do autor. Era muito bem escrito e
abordava a história da guerra entre Deus e o diabo do ponto de
vista de Satanás.
O artigo dava a entender que Lúcifer tinha deixado Deus
vencer por motivos ocultos. Dizia haver um pacto secreto entre
Deus e Lúcifer, pelo qual estariam fingindo ser inimigos, para dar
aos seres criados, que estavam sob a ação deles, a possibilidade de
escolha. Nesse contexto, o inferno não era um lugar de castigo,
mas um lugar para onde iriam aqueles que eram rebeldes, indi-
106 vidualistas e artistas.
O céu era para os tranquilos, do tipo dos que nada fazem —
de personalidade reprimida, que consideram como um grande
divertimento coisas tais como um piquenique de igreja ou um
joguinho de tiro ao alvo num parque de diversões. O inferno era
um lugar de grande desafio e agitação, com música rock, sexo sem
parar, drogas e total liberdade de expressão artística.
Todo esse arranjo foi feito porque Deus não queria que seus
cidadãos celestiais se aborrecessem com os rebeldes. Precisava de
um lugar para colocá-los e de um motivo justo para fazer isso.
Desse modo, o diabo e o inferno foram criados como treinamento
de recrutas para se tornarem deuses.
Algo sacudiu o meu interior. Isso explicava muitas questões
filosóficas, que todos têm, sobre a natureza do mal e do livre-
-arbítrio! Fiquei realmente muito impressionado, e, imediatamen-
te, escrevi a esse tal de Orion (não é este o seu nome verdadeiro),
dizendo-lhe exatamente isso.
Será que o que ele dizia era a resposta às minhas orações?
Poderia eu servir tanto a Jesus como a Lúcifer? Então, eu estava
enganado ... e isso era exatamente a resposta que esperava! Aparen-
temente, no que se refere a Satanás, aquilo que você pede é o que
você recebe! Fazia sentido. Eu poderia ser um pastor, para os pios
católicos, levando-os aos portões de pérolas do céu! E aos anárquicos
feiticeiros de nossos grupos, poderia oferecer um êxtase intenso no
reino de Satanás.

L i d a n d o c o m a confraria
A carta que recebi desse tal Orion em resposta foi um pouco
estranha. Veio junto com um boletim, também escrito por ele, que
era um tanto lúgubre. A capa mostrava o Bode de Mendez à frente
de uma orgia de pessoas nuas, em prazer umas com as outras. No
seu interior, havia artigos sobre a perspectiva de Lúcifer sobre as
coisas, cada um mais intrigante que o outro. Havia também uma
denúncia à magia branca. O jornal declarava ser a máxima fonte
do satanismo de primeira linha.
A carta estava escrita com uma grafia de garranchos, do tipo 107
infantil, em tinta preta, num papel escarlate de alta qualidade, com
uma exagerada figura de cabeça de bode satânico impressa no seu
cabeçalho. Expressava uma ironia reles, dizendo que tínhamos que
marcar um encontro, uma vez que Orion morava em Wheaton,
Illinois. Era assinada por Orion — Ipsissimus, Sumo Sacerdote e
Rei da Estrela da Manhã.
Minha reação imediata foi observar que a grafia de Orion não
era sua melhor qualidade, e que deveria investir numa máquina de
escrever ou numa secretária. Na verdade, parecia a escrita de alguém
destro usando a mão esquerda! Por outro lado, porém, a filosofia dele
era intrigante. Talvez fosse por ali que eu devesse seguir.
Ele me pediu uma foto, e então enviei-lhe uma fotografia
em que eu usava as vestes de bispo católico, mas portando
um medalhão satânico que mostrava uma enorme espada, que
recebera de LaVey. Ele, por sua vez, me enviou uma foto sua
que o mostrava vestido com um manto escarlate com capuz que
escondia tudo, exceto seu cavanhaque e sua mão esquerda erguida
com o sinal dos chifres,1  a tradicional saudação dos satanistas por
todo o mundo.
Ficou apenas pendente o nosso encontro. Ele sugeriu vir
encontrar-se com o nosso grupo, que estava envolvido “nas trevas”,
conforme disse. Assim, certo dia ele veio de carro, e chegou com
Lúcifer Destronado

três horas de atraso. De certo modo, não correspondeu às nossas


expectativas!

A conversa com um Ipsissimus


Era um sujeito baixinho e magro e vestia-se como um ciclista, com
um chapéu de feltro de cor marrom, um tanto desgastado, que
mais se parecia com algo que o Indiana Jones tinha jogado fora.
Com ele, veio seu motorista, um jovem robusto, de poucas pala-
vras, portando uma camiseta de grife, acompanhado de uma jovem
108
loura, que quase nada falou o tempo todo. Sua principal função
parecia ser a de ficar constantemente com os olhos fixos em Orion,
em venerável adoração.
Orion era até simpático, em sua maneira maliciosa de ser,
embora sua fisionomia e seu comportamento fossem do tipo que
tudo investiga em detalhes. Obviamente, não havia frequentado
nenhuma escola complementar, nem algumas elementares. Seria
realmente ele quem teria produzido todos aqueles pensamentos tão
profundos?
Conosco estavam quatro feiticeiros de nossos “covens” que
haviam se envolvido intensamente com Crowley e não receavam
estar diante de um “satanista de verdade”. Sentamo-nos em círculo
por algum tempo, conversando, mas então, pouco a pouco, nossos
feiticeiros foram ficando mais à vontade. Tal como Aquarius, meu
último “mentor”, Orion gostava de consumir bebidas alcoólicas
em demasia, mas o veneno líquido de sua preferência era a cerveja.
Quanto mais bebia, mais eloquente ficava, ao falar de sua partici-
pação na confraria satânica.
Disse ter perdido os pais em sua primeira infância, tendo sido
criado por um padrasto envolvido com a maçonaria. Quando ainda
bem jovem, fugiu de casa e foi para a Califórnia, capital satânica
dos Estados Unidos. Ali procurou a Igreja de Satanás, mas achou-a
fraca demais. Envolveu-se então com ciclistas satanistas e, durante
algum tempo, percorreu toda a costa da Califórnia com o grupo

L i d a n d o c o m a confraria
satânico Hell’s Angels [Anjos do Inferno] dilacerando gatos e mu-
lheres e promovendo o mal. Ele me mostrou seus braços, cheios de
tatuagens de demônios, cabeças e caveiras.
Então me disse, num tom de voz bem baixo, da existência de
um centro de controle, um Pentágono ou Comando de Defesa
do poderio satânico, nas proximidades de Los Angeles. Seu chefe
supremo, um sujeito que adotara o codinome de “Adrian”, o tinha
tomado sob seus cuidados. Esse homem era tão rico e poderoso
que ninguém do sul da Califórnia e Hollywood ousaria interpor-se 109
em seu caminho.
Orion me contou que o ator e diretor de cinema Roman Po-
lanski ousara fazer um filme (O Bebê de Rosemary) que continha
uma simples alusão à existência de Adrian, e veja só o que havia
acontecido à sua família (como se sabe, a esposa de Polanski, a
atriz Sharon Tate, e vários amigos seus foram massacrados por uma
quadrilha satânica, de Charles Manson).
Com um olhar tenebroso, Orion me disse que conhecia
Manson pessoalmente e que, por algum tempo, pertencera ao
grupo que havia iniciado Manson na magia, a “Igreja do Processo
do Juízo Final”. 
Adrian, ao que parece, vira em Orion o cumprimento de uma
profecia satânica e, com rituais de magia, adotou-o como filho.
Isso foi feito na encosta de uma colina, num ambiente cercado
de relâmpagos, ao mesmo tempo em que três moças virgens eram
crucificadas de cabeça para baixo, para aumentar o poder.
Hierarquia do Satanismo

SATANÁS
Lúcifer Destronado

Os “Sete”
(Principados?)

Nove Homens
Desconhecidos

A Irmandade
Trieste, Itália

Templo Maçonaria Central do Ordem da


Britânia Palladium Carneiro Serpente Negra
Reino Unido França Los Angeles Haiti
110
Victoria B.C. Clube Choronzon Ordem de Dagom Chingons O.T.O. Quatro Pi
(Costa Oeste) (Centro-Oeste) (Costa Leste)

Grande Loja da O.T.A. Espiritismo


Igreja de Satanás Cultural
Wicca Maçonaria
E.U.A.

Vodu Santeria
Templo de Ordem dos Igreja da
Set Lobisomens Liberação
Satânica Palo Mayumbe

Ele me olhou atentamente, para ver se eu ficara chocado com


essa informação (eu fiquei, sim, mas não deixei transparecer). E
parece ter ficado satisfeito por eu não ter olhado para ele horroriza-
do. Explicou-me que nos graus mais elevados de magia, para se ter
poder, o derramamento de sangue é essencial. Nos graus inferiores,
um gato ou um hamster, por exemplo, são suficientes, mas a Alta
Magia exige que sangue humano seja derramado sobre o chão.
— Bom até a última gota! — ele riu com sarcasmo. — Foi por
isso que Lúcifer teve que matar Jesus, para libertar a humanidade
— Orion me informou com conhecimento.
Por causa desse ato, disse-me ele, as pessoas passaram a
ser livres para irem para o céu ou para o inferno, antes disso

L i d a n d o c o m a confraria
éramos todos forçados a ir para o céu, um lugar terrivelmente
enfadonho!
Informou-me, ainda, que o cristianismo fora criado por Satanás
como uma contrapartida de simbiose com o satanismo.
— Os cristãos são as ovelhas, e nós somos os lobos — disse.
— Para os cristãos, o ato mais sagrado que podem realizar é morrer
pela fé, como mártires. Vão, então, diretamente para o céu. Para
o satanista, o ato mais sagrado que se pode fazer é assassinar um
cristão; de preferência, jovem e virgem!
111
Assegurou-me que isso invalidava toda “conversa mole” escrita
sobre o diabo.
Se o diabo realmente quisesse almas, argumentou, por que
faria com que seus seguidores matassem virgens e bebês, quando
esses são os únicos que certamente vão diretamente para o céu? Se
a intenção do diabo fosse roubar almas de Deus, não seria mais
lógico matar pecadores, velhos, não arrependidos?
Tive de admitir que sim. Era estranho, mas, à medida que eu
ouvia Orion falando, observava sua personalidade se desvanecen-
do, e algo escuro, bruto, complexo e incrivelmente poderoso ia
surgindo nele. Era muito mais do que o simples efeito da cerveja.
Ele começava a falar com uma inteligência sobrenatural.
Orion, sem dúvida, estava possesso, e eu quis, então, en-
tender o ser que estava falando por meio dele! Senti mais poder
emanando dele do que jamais poderia imaginar. O que estava
dentro de Orion sabia que eu queria obter conhecimento e
sabedoria, mais do que qualquer outra coisa, e isso me atraía pelo
valor que representava.
Estava, porém, chocado com a possibilidade de ter um dia que
lidar com sacrifício humano. Isso ia contra tudo o que eu sempre
acreditara em minha vida. Mas muito do que agora eu acreditava
era contrário ao que tinha acreditado antes! Lembrava-me ainda
de que fora derramado sangue na minha iniciação na feitiçaria:
Lúcifer Destronado

meu próprio sangue! Sabia também que, segundo os costumes


da Wicca, havia ocasiões especiais em que os próprios bruxos se
ofereciam como sacrifícios voluntários para uma causa maior.
Isso provavelmente acontecera no tempo da Armada Espanhola,
quando a Inglaterra se encontrava em perigo de ser invadida,
assim como durante a batalha da Bretanha, na Segunda Guerra
Mundial.
As afirmações de Orion davam um estranho sentido ao uni-
verso distorcido de estilo Crowley que eu havia construído para
mim mesmo. Orion dizia que cristãos e satanistas eram feitos uns
112 para os outros, tal como ovelhas e lobos. Que muitos cristãos não
teriam outro propósito a não ser oferecer a sua vida num altar a
Satanás! Se não fosse assim, como é que o cristianismo poderia ter
permanecido por tanto tempo? E me perguntou:
— É mau o ato de o lobo matar o carneiro, ao fazer exatamente
o que ele foi criado para fazer?
Tive que concordar com ele que não. Disse-me, então, que a
cada três meses o corpo de uma jovem — geralmente, uma menina
cristã — aparecia no leito de um rio próximo de sua casa, morta por
meios visivelmente satânicos. E, no entanto, nenhuma providência
séria era tomada a esse respeito. Ele me disse que as autoridades
sabiam quem cometia esses crimes, mas não ousavam tocar nessas
pessoas por estarem a par de quão poderosas eram elas. De fato,
muitas das autoridades são satanistas secretos. E de que outra forma
poderiam chegar à posição de autoridades?
— Encare a realidade, meu irmãozinho — disse-me Orion,
com os olhos brilhando de uma lascívia carnal que tocou muito
além do que seria razoável. — Lúcifer é o Deus deste mundo. Todo
poder e autoridade são dele, para os dar e tomar. Até mesmo o
Nazareno admitiu isso.  Se você quiser poder ou dinheiro, tem que
tratar disso com “o Dono” das riquezas e do poder!
Então ele arrotou, enchendo o ar da noite de um cheiro de
cerveja. Era algo bastante ilógico estar falando com aquele ciclista
semi-alfabetizado sobre questões tão profundas, vendo-o argu-
mentar com uma malignidade tão inspirada. Ele me disse que

L i d a n d o c o m a confraria
tinha todo o dinheiro de que necessitava. Adrian o sustentava
com milhares de dólares, depositados numa conta bancária que
tinha em Wheaton.
— Você tem que parar de bancar o bobo com esse lixo da Wicca
e começar a fazer a vontade do verdadeiro Senhor da Luz! — disse-
-me, então. — Você precisa tocar na Fonte da Sabedoria Imaculada,
uma sabedoria que não foi atingida pelas almas humanas. Você
tem muito potencial para ser desperdiçado com esses trouxas! Eles
estão, de qualquer modo, adorando Satanás, só que são inocentes
113
demais para perceber isso!
Perguntei-lhe, então, o que esperava que eu fizesse.
Ele riu de mim, já fora de si pela bebida, mas, quando falou,
suas palavras foram muito claras. Uma chama escarlate escura co-
meçou a tremular por trás de seus óculos escuros — ou será que
era apenas o reflexo dos faróis de carros distantes?
— Faça um pacto, irmãozinho. Prometa servi-lo, dando-lhe
o seu corpo, a sua alma e o seu espírito para sempre, e tudo o que
você quiser, terá!
Continuou ainda, dizendo:
— Por sete anos, você será escravo de Satanás. Ele tomará conta
de você, com todo o cuidado. Depois desse tempo, nosso Mestre
o matará e o levará para o inferno, para gozar uma eternidade de
êxtase pleno. Se você for realmente um escravo dedicado, no entan-
to, talvez ele o deixe viver, para servi-lo por mais sete anos. Quem
sabe? Isso aconteceu comigo.
Senti-me preso a um gélido horror. De algum modo, eu sabia
que ia dar naquilo. Mas, mesmo assim, tive que perguntar-lhe:
— E o que você me diz de Jesus?
Orion sorriu, ou algo sorriu dentro dele.
— Você ainda não percebeu? Ele próprio teve que passar por
isso. Isso acontece com todos para chegarem a Ipsissimus. Lembre-
-se do que ele disse: “Não seja a minha vontade, mas seja feita a tua
Lúcifer Destronado

vontade.” Com quem você acha que ele estava falando?


— Com o Pai — aventurei-me.
— Certo, mas o pai dele é Satanás! O livro deles até mesmo diz,
em 2 Coríntios 4.4, que Satanás é o deus deste mundo. O próprio
Nazareno disse, em João 12.31, que o nosso Mestre é o príncipe
deste mundo. Você não vê?
Vendo-o citar a Bíblia para mim era ainda mais enervante do que
a sua sagacidade sobrenatural. Disse-lhe que iria pensar seriamente no
assunto, e esse estranho diálogo chegou ao fim, naquela noite.
Depois de ter ele saído, com aqueles seus dois acompanhantes
114 tão diferentes entre si, analisei nosso diálogo com Sharon. Ela não
gostara de Orion. Nem eu, para ser sincero. Ele jamais seria a minha
escolha se tivesse que convidar alguém para lanchar.
Ela observou que, de fato, nosso trabalho na magia não nos
havia proporcionado nenhuma prosperidade material. Eu estava
ainda me desgastando num cansativo emprego que tinha, num
ferro-velho, reciclando peças de motor feitas de alumínio, e ela
trabalhava num hospital, fazendo de tudo para conseguir pagar
nossas contas. Mas a ideia de se fazer um pacto a deixava um tanto
intranquila. Insisti, porém, em que, se Crowley estava certo, então
Satanás (ou Hórus, ou Lúcifer) seria de fato o verdadeiro Senhor
desta era e deste Universo. Jesus o teve como regente, nos 2.000
anos da Era de Osíris.2  Se esse deus de vingança com cabeça de
falcão é quem governava o Universo, fazia sentido estabelecer com
ele um pacto fundamental.
Tudo dependia de decidir em que acreditaríamos: se na
Bíblia ou no Livro da Lei. A Bíblia tinha sido tão distorcida e
pervertida em minha mente — por causa dos nove anos de inter-
pretação ocultista e à “alta crítica da Bíblia” — que me era relati-
vamente fácil ver como as Escrituras podiam perfeitamente estar
de acordo com a obra de Crowley.

Manifesta-se o anjo de luz


Então eu fiz o que sempre fizera quando confrontado com uma

L i d a n d o c o m a confraria
grande decisão espiritual. Fui até o mosteiro e celebrei uma
missa para mim mesmo, a Missa do Espírito Santo. Esta missa
é realizada, na tradição católica, com a intenção de dar uma
forte direção espiritual ou força a quem esteja passando por um
momento de necessidade ou de decisão. Eu estava me valendo
de tudo o que podia!
Naquela missa, o padre Daniel, que estava comigo, acendeu
todas as velas e regulou o órgão para tocar “fortíssimo” naquela
hora. Ele cantou “Vem, Espírito Santo” valorosamente, em seu
barítono solene, e mais uma vez fui tocado pela singeleza de sua 115
piedade.
Voltei para casa e peguei meus estudos bíblicos sobre numero-
logia. Deparei-me com a passagem de Apocalipse 13, e meus olhos
pousaram no versículo 18, o mais famoso desse livro:
Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule
o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse
número é seiscentos e sessenta e seis.
Comecei a somar os números na Cabala Grega,3  cruzando os
dados com os de outras passagens. De repente, mediante uma per-
cepção que me veio, e que até hoje me deixa intrigado sobre como
foi que aconteceu, “concluí” com uma ofuscante convicção, ao
mesmo tempo horripilante e tranquilizadora, que Aleister Crowley
era uma reencarnação de Jesus Cristo!
Eu não tinha tomado droga alguma (a não ser o vinho da eu-
caristia), mas perdi o equilíbrio e caí para trás, contra a parede. O
quarto, ao meu redor, desapareceu, e me senti banhado por uma
luz tão intensa que parecia estar derretendo e fundindo o lóbulo
frontal do meu cérebro. Caí de joelhos pelo poder do seu brilho,
diáfano e fulgurante.
Não tenho a menor ideia de quanto tempo permaneci sob
aquela cascata de fogo, que ardia em meus olhos, literalmente,
como a chama de um maçarico de gás acetileno. Pareciam estar
Lúcifer Destronado

cheios de areia. Finalmente consegui voltar, cambaleando, para a


minha cadeira, à medida que o quarto voltava ao normal.
Meu cérebro começou a trabalhar de novo, mas com uma
estranha e sensível lucidez. Senti-me como se estivesse saindo da
ação de um ácido extremamente poderoso, e talvez isso fosse a
memória repentina de algo do passado. Dava até para sentir os
neurônios agitando-se em meu cérebro em fogo, como as velas
de ignição de um carro há muito tempo parado ao ser posto no-
vamente em movimento.
Vejamos, se Crowley era Jesus, então, de acordo com a doutrina
116 do ocultismo, Crowley teria de estar ainda mais evoluído agora,
depois de cerca de 2.000 anos, em relação ao que ele era na pessoa
de Cristo. Portanto, a doutrina thelêmica de Hórus (Satanás) devia
ser a verdadeira doutrina cristã para a época atual!
Senti-me bastante aliviado! Não importava que não
houvesse uma base bíblica para a minha percepção. Não im-
portava que fugisse de tudo o que dizia o bom senso. Dentro
de mim, sentia que a minha percepção era verdadeira, com um
poder que me fizera cair de joelhos, tremendo de medo! Na
verdade, era uma progressão lógica que a minha mente percorria
para o engano, a gradual revelação da Luz de Lúcifer. Era o que
realmente estava acontecendo.

O pa c t o e o “ mi l a g r e ”
Desse modo, estava dando uma nova largada em minha vida.
Telefonei para Orion e marcamos a cerimônia para a próxima lua
nova. Compartilhei minha experiência com Sharon, e ela aceitou,
mas com muita relutância. Não quis ir à cerimônia comigo, em
parte porque não apreciava nada daquilo que Orion representava
e, em parte, por causa de profundas apreensões que sentia quanto
à situação.
Foi num ambiente dramático que fiz minha “profissão de fé”
para o diabo. Fui levado com os olhos vendados a um enorme
parque em alguma parte dos subúrbios de Chicago. Era um lugar

L i d a n d o c o m a confraria
cheio de esculturas e altares egípcios. Orion assegurou-me que
aquela propriedade fora adquirida secretamente por satanistas e
que ninguém nos ousaria incomodar.
Orion ficou por trás do altar de cimento, em forma trapezoi-
dal, vestido com uma toga escarlate. Tirei um manto branco, que
simbolizava minha inocência anterior, e ajoelhei-me diante dele
declarando minha total lealdade a Satanás. Do processo, fazia parte
a assinatura de um pacto com o meu próprio sangue, entregando
meu corpo, minha alma e meu espírito a ele.
Orion invocou o poder de Lúcifer, e chamas de fogo surgiram 117
sobre o altar. Meu “contrato” foi arremetido às chamas, sendo con-
sumido instantaneamente, com uma lufada de fogo escarlate. Por
fim, vestiram-me com uma veste preta de satanista e me foi dado
um novo nome.
Como um gesto final de desafio, eu teria de pisar num crucifi-
xo. Essa prova, que constava ter vindo da tradição dos Templários,
incomodava-me um pouco. Explicaram-me que era para mostrar
desprezo por aquilo que o cristianismo acredita que a cruz simbo-
liza, não um ato propriamente contra a crucificação de Jesus, que,
a nosso ver, tinha contribuído para que ficássemos livres para servir
melhor a Satanás.
No dia seguinte, voltei para Milwaukee, sentindo-me um
tanto impuro. Falei sobre isso com Sharon, e ela sugeriu que eu
celebrasse uma missa.
Tínhamos uma pequena capela particular num de nossos quar-
tos, completa, com uma mesa e uma pedra de altar (esta, com uma
relíquia de São Francisco), que o padre Daniel tinha gentilmente
nos doado. Rezei, então, outra missa do Espírito Santo — em
busca de alguma confirmação para o que eu estava fazendo —, mas
encontrava-me totalmente despreparado para o que aconteceu!
No momento da consagração do vinho, assim que falei as
palavras de costume, aconteceu com o vinho o que supostamente
teria que sempre acontecer, mas nunca tinha acontecido: ele se
Lúcifer Destronado

transformou em sangue! Em sangue de verdade!


Fiquei, para dizer o mínimo, inteiramente perplexo! Tanto
Sharon como o coroinha que estava ajudando a missa viram o cálice
cheio de sangue! Sem saber o que fazer com ele, terminei a missa,
mas tomei somente uma quantidade mínima possível do sangue,
somente para concluir a liturgia. O restante coloquei num frasco
de ouro especial, que tinha em meio aos meus objetos religiosos
ortodoxos russos, destinado a levar o vinho sacramental para os
enfermos.
Levei o frasco ao meu bispo, e ele fez com que o material fosse
118
analisado no laboratório do hospital em que sua esposa, Peg, traba-
lhava. A análise deu como resultado sangue humano, mas um tipo
de sangue humano totalmente desconhecido! Rapidamente, chegamos
à conclusão de que somente poderia ser o sangue de Cristo!
Considerei o fato realmente um milagre e me voltei para o
exercício do meu novo sistema de magia. Tínhamos missas negras
em nossa capela, “batizando” vários dos feiticeiros dos nossos “co-
vens” da Igreja de Satanás. Agora, eu teria que ganhar sete almas
para ele. Em poucas semanas, consegui que três dos nossos bruxos
assinassem pactos com o diabo em troca de maiores ganhos mo-
netários ou sexuais ou mais poder na magia.
Comecei infelizmente a ter, em especial, grande prazer em
corromper a inocência, ficando muito excitado com a sexta
pessoa que recrutara, que tinha sido uma mulher católica mui-
to devota, a própria alma da inocência e confiança! Eu estava
me perdendo completamente, do ponto de vista moral, mas
sentia-me cheio de um vil e malicioso poder, que toldava meus
sentimentos. Quando ela finalmente assinou o pacto, senti um
triunfo blasfemo total! Pude vê-la tornando-se espiritualmente
suja diante de meus olhos, como se uma sombra obscura e trê-
mula estivesse passando por todo o seu corpo e por sua face. Ri
junto com ela no momento em que as luzes escuras de Lúcifer
refletiram-se de seus olhos sobre mim. Foi um momento espe-
cialmente agradável porque, então, tive que cometer adultério

L i d a n d o c o m a confraria
com ela como parte do ritual. Muito mais do que sexo, tive
prazer na experiência por achar que, por intermédio dela, estaria
ferindo o “falso Deus”, inimigo de Satanás!
O sétimo candidato foi fácil. Era um feiticeiro quase lunático,
ansioso por assinar o pacto. Achava-se bastante envolvido com
Lovecraft e com Satanás, e buscava apenas quem pudesse fazê-lo
ingressar oficialmente nessa.
Depois disso, tive o direito de receber uma cópia de um
documento satânico, A Grande Mãe, para aprender algumas das
119
cerimônias ultra-secretas que me seriam necessárias para progredir.
Passei então a ir atrás de estudantes da Universidade Marquet-
te, próxima de casa, para corrompê-los. (Só que eu pensava que
não os estava corrompendo, mas, sim, iluminando-os!) Valendo-
-me do meu próprio passado, descobri que os estudantes daquela
universidade católica eram campos particularmente férteis para
as sementes de Satanás. Num período relativamente curto em
que me empenhei por conseguir convertidos a Satanás, consegui
atrair vários dos estudantes ao culto satânico — todos, com exce-
ção de apenas um, eram praticantes entusiastas do jogo de RPG
Calabouços e Dragões. 
Os adeptos da “alta crítica” da Bíblia tinham feito o seu traba-
lho muito bem na Universidade Marquette. Aqueles pobres jovens
não sabiam mais no que crer e sentiam muita fome espiritual. Que
Deus me perdoe, pois fui eu quem acabou levando a eles o pão
envenenado que o diabo amassou para “alimentá-los”.
Notas
1
A saudação do corno, ou sinal dos chifres, é a mais amplamente reco-
nhecida saudação satânica. Tradicionalmente é feita com a mão esquerda
erguida, com o indicador e o mínimo dirigidos para cima e o polegar e os
outros dois dedos virados para baixo. Representa a negação da Trindade
e a exaltação dos dois chifres de Satanás.
2
Os ocultistas acreditam que as religiões se movem em ciclos (ou eras) de
Lúcifer Destronado

aproximadamente 2.000 a 26.000 anos. Crowley ensinou que a Era de


Ísis (a deusa Mãe) foi de 2.000 a.C. até o ano 1 d.C. Então chegou a Era
de Osíris (o deus do Egito que morreu), de 1 a 1904 d.C. A partir de
então, acreditava ele, tinha-se iniciado a Era de Hórus (o Coroado Filho
Conquistador).
3
Embora a Cabala seja judaica em sua origem, e construída sobre o fato
de que as letras hebraicas também são números, os ocultistas, através
dos séculos, a têm aplicado a outras línguas. O Grego é um dos idiomas
ideais para esse propósito, por fazer também uso da permuta de letras e
números.
120
9
A infraestrutura
do satanismo

Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos,


disse: Todo reino dividido contra si mesmo ficará
deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si
mesma não subsistirá. Se Satanás expele a Sata-
nás, dividido está contra si mesmo; como, pois,
subsistirá o seu reino?
— Mateus 12.25,26

Já vimos o que a Bíblia nos diz sobre o diabo, e discutimos algumas


das questões mais amplas relativas à existência de cultos satânicos.
Agora vamos abordar, especificamente, o que é o satanismo. Quan-
do há muito pouco, ou nada, à nossa disposição para ser estudado,
geralmente não se fazem investigações. É por isso que muito pouco
tem sido escrito a respeito dos expoentes do satanismo antes deste
século, ou melhor, até antes desta geração.
O satanismo tem-se alastrado, hoje em dia, por toda parte e
com muito ímpeto. Artistas populares e personalidades públicas nos
Estados Unidos lhe dão o maior apoio.1  Cantores de rock exibem
abertamente seus símbolos e pregam sua “mensagem”. Satanistas
de destaque, como Zeena LaVey e Michael Aquino, aparecem em
programas de entrevistas [na televisão americana], defendendo sua
fé diante de acusações de assassinatos e abuso de crianças.
Não é uma história do satanismo que vamos abordar neste
capítulo. Um bom livro sobre o assunto, de fácil leitura, embora
de alto nível, é o do professor Carl Raschke: Painted Black [Pintado
de Preto]. Seremos mais práticos, examinando o satanismo como
uma instituição que opera no mundo de hoje e de que modo nos
atinge e às nossas famílias.
Eis aqui uma definição necessariamente extensiva, pois abrange
Lúcifer Destronado

todos os grupos do satanismo.


O satanismo envolve a adoração a um deus que representa o
lado das trevas de todo o cosmo. Esse deus é conhecido por vários
nomes e, geralmente, personifica, pelo menos, as partes animalescas
e carnais do homem: se não o próprio mal e as piores características
da natureza humana. O satanismo quase sempre envolve o uso de
drogas e o transe, isto é, a possessão demoníaca. A ética do satanis-
mo é, na melhor das hipóteses, “uma lei da selva”, de sobrevivência
do mais capaz, e geralmente constitui uma inversão consciente da
moralidade. O satanismo tem obsessão pela morte, e seus rituais
122
normalmente implicam atos de amaldiçoar, derramamento de sangue
e sacrifícios de animais ou seres humanos.
Esta definição é de uma amplitude bastante grande para poder
abrigar até mesmo os assim chamados satanistas religiosos ou orga-
nizados, como Anton LaVey, embora eles neguem categoricamente
qualquer envolvimento com drogas ou com sacrifícios de sangue.
Mas têm de negar, por serem legalmente constituídos como igrejas,
não podendo, assim, admitir que violam a lei!

c ortando em fatias o bolo de satanás


Partindo desta ampla definição, faremos uma decomposição em
algumas categorias básicas, para então examinarmos cada uma
delas. Desde que se começou a analisar com seriedade o fenômeno
do culto ao demônio, no final do século 20, os estudiosos de vários
graus de competência têm procurado classificar seus diferentes
tipos. Seus sistemas de classificação são provavelmente tão bons
quanto qualquer outra espécie de sistema.
É importante para o cristão compreender que, embora algumas
dessas variedades de satanismo nem mesmo professem a crença
num diabo real e pessoal, e muitos até mesmo digam que não

A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
estão fazendo nada de ilegal, todos eles estão, com certeza absoluta,
totalmente perdidos e destinados a passar a eternidade no inferno. E
fazem parte do exército de Satanás, não importando se nele creem
ou não.
A classificação dos satanistas mais comumente mencionada
baseia-se numa versão ampliada de um esquema estabelecido pelo
dr. Dale Griffis, capitão de polícia de Tiffin, Ohio, um dos pioneiros
na investigação científica e criminológica das infrações penais no
ocultismo:2 
1) Inteiramente envolvidos
2) Satanistas religiosos ou organizados
3) Satanistas dissimulados ou isolados
4) Espíritas culturais 123
5) Satanistas tradicionais (geralmente hereditários, de várias
gerações).
Eis uma breve descrição de cada um desses tipos:
1) Inteiramente envolvidos
Geralmente são adolescentes, embora haja cada vez mais meni-
nos e meninas de 12 anos ou menos de algum modo envolvidos
com o ocultismo. Nós e outros fazemos certa restrição ao uso
do termo “envolvido”, uma vez que dá a ideia de que a pessoa
não chegou a ser prejudicada, o que não é verdade. Assim, este
termo é um tanto inapropriado. Como diz Raschke, pode-se ter
um envolvimento com o satanismo com tanta facilidade quanto
se pode “entrar numa turma” de consumo de heroína.3  Estas
duas experiências levam o praticante quase que instantaneamente
a um nível irresistível de compulsão, e de ambas é extremamente
difícil escapar sem a ajuda do Senhor.
Usa-se o termo “envolvido”, no entanto, porque o envolvimen-
to geralmente é desorganizado, não premeditado e casual. Geral-
mente ninguém é envolvido de imediato com grupos de feitiçaria
maiores.
O interesse de jovens pelo satanismo poderá surpreender
muitos dos leitores. Isso, porém, não é, absolutamente, uma no-
vidade. Houve época em que o infame de Anton LaVey, A Bíblia
Lúcifer Destronado

Satânica, era um dos livros mais vendidos em muitas universidades


dos Estados Unidos. E, infelizmente, sucesso total entre alunos das
últimas séries do ensino médio! Qualquer que tenha sido a intenção
de LaVey ao escrever sua obra, o fato é que ela acabou tornando-se
uma proclamação do niilismo e do desespero para muitos jovens.
Os adolescentes são difíceis de entender, mas uma coisa com
que todos concordam é que uma característica fundamental da
adolescência é a afirmação de sua individualidade. Isso significa
que, neste mundo decaído, eles tendem a ser rebeldes. Um pouco
de rebeldia é normal, bem como desentendimentos com os pais;
124
muitos adolescentes, porém, por alguma razão, têm um gênio
muito forte, e a Bíblia nos adverte que “a rebelião é como o pecado
de feitiçaria” (1 Sm 15.23).
Se um adolescente tornar-se rebelde de modo extremado, po-
derá ser levado a ver em Satanás o maior modelo de rebeldia para
os seus anseios. Os roqueiros do tipo heavy metal exploram essa
“qualidade” de Satanás! Para o adolescente que luta contra tudo o
que representa autoridade, Satanás poderá tornar-se o “deus” da
sua rebeldia.
A famosa exclamação de Satanás que se encontra no Paraíso
Perdido, de John Milton — “É melhor reinar no inferno do que
servir no céu” — poderá parecer boa demais para um jovem que
esteja em atrito com situações que considere restritivas e regras
que o aborreçam. O adolescente rebelde, criado no seio da igreja,
muitas vezes considera os cultos como cheios de hipocrisia e sem
brilho algum. Buscam-se exemplos na sua igreja que confirmem seus
preconceitos e acaba-se concebendo o céu como uma eternidade
insípida e sem atrativos.
A mentira dos satanistas e dos “metaleiros” de cabelo arre-
piado é que o inferno vive numa orgia desenfreada em drogas
“rolando” e promiscuidade total — um lugar em que Satanás

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oferece tudo o que os pais proíbem. Ou, então, os adolescentes são
informados de que o inferno não existe — não passa de história
da carochinha, de uma invenção, como Papai Noel, para fazê-los
obedecer. E passam a considerar o inferno como não sendo um pro-
blema. Também, assim como muitos adolescentes deliberadamente
se vestem ou falam de um modo que aborreça seus pais, os mais
rebeldes poderão fazer opções de natureza espiritual, ou religiosa,
somente com o propósito de atingi-los.
Uma vez atraído para essa cultura de rebeldia, o modo mais
comum pelo qual um jovem é levado a aprofundar-se no satanismo
é o “pacto”. De modo geral, fazer um pacto com Satanás é, hoje,
bastante conhecido. Embora os termos de tal acordo possam variar, as
principais cláusulas são de que a pessoa vende a sua alma ao diabo e, 125
em troca, Satanás lhe promete dar poder (na magia, ou sob qualquer
outra forma), ou fama, favores sexuais ou riquezas.
O jovem que faz esse pacto, “vende” a Satanás, na verdade, o
que Satanás já possui. Observe a malvada sutileza da armadilha que
o diabo coloca, aqui! Ele trabalha em cima da maior carência da
vida de um adolescente: o poder. Os adolescentes, em sua maioria,
sentem-se desprovidos de poder. São jovens demais para serem adul-
tos, mas o seu corpo rapidamente está se tornando maduro, de modo
que são velhos demais para serem crianças. Também não ajuda nada
o fato de receberem orientação, um tanto confusa, de seus pais. Por
um lado, dizem-lhes que devem agir com maturidade e esperam
que procedam como adultos; por outro lado, dizem-lhes que não
são ainda suficientemente adultos para fazerem certas coisas de
adultos. Satanás conhece esta situação e explora o desejo natural
do jovem de ter poder e controle sobre o meio em que se encontra
e sobre o seu destino.
Com o pacto, Satanás promete a esses adolescentes que terão
poder para dominar aqueles que, com autoridade, os estejam per-
turbando. Terão como “dobrar” as pessoas — até mesmo seus pais
— como quiserem. E receberão doses ilimitadas de dinheiro, sexo,
drogas e poder. Basta assinar na linha em branco — com o próprio
sangue!
É, realmente, uma oferta bastante sedutora para um jovem
Lúcifer Destronado

que se acha totalmente perdido, vagando pelos mares da adoles-


cência. A não ser que haja alguém de confiança, compassivo e bem
informado dessa situação para lhe falar sobre tudo isso, de forma
que o adolescente fique sabendo a verdade quanto às promessas
ardilosas de Satanás, é bem possível que venha a acreditar nessas
mentiras.
Em muitas livrarias, ele irá encontrar diversos livros sata-
nistas. Nas bancas de jornais, revistas de quadrinhos satanistas
pululam. Para uma mente sugestionável, as odiosas polêmicas
da Bíblia Satânica e similares tornam-se imagens expressivas de
126 uma espiritualidade dolorosa e em trevas, despertando os piores
componentes da fúria que há no interior do jovem. Assim, ele
logo se envolve.
Geralmente os que se envolvem não se ligam a nenhum grupo
satânico organizado, embora uma minoria não desprezível deles seja
trazida, por satanistas adultos, para um desses grupos. Os adultos
se valem de vários métodos para seduzir os jovens, entre os quais
drogas, sexo e o infame jogo de RPG Calabouços e Dragões. É triste
dizer, mas às vezes até mesmo professores e parentes satanistas fazem
uso de sua influência para seduzi-los. Este autor foi professor durante
dois anos, na época em que era feiticeiro.4  Fiz de tudo o que pude
para atrair para o ocultismo os estudantes dos dois últimos anos
do ensino médio que estavam sob meus cuidados.
A maioria dos grupos satânicos usam drogas e têm o maior
prazer em fornecê-las aos adolescentes — às vezes até de graça —
em troca de uma visita deles ao seu grupo. Bruxas e bruxos sexual-
mente refinados atraem muitas vezes rapazes e moças solitários que
se sentem lisonjeados por pensarem que uma pessoa mais velha
e poderosa os considera atraentes. O sexo é, então, usado, de
modo trágico, para o acesso do demônio à vida dos jovens (veja 1
Co 6.15-17). Também o jogo Calabouços e Dragões é usado com
frequência por professores e lojistas feiticeiros para selecionar jo-

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vens que tenham “aptidão” para a feitiçaria. As personagens que os
disputantes assumem no jogo são um excelente treinamento para
o feiticeiro noviço.
Temos de ter certo cuidado para com aqueles que tenham se
envolvido com o ocultismo, isoladamente ou não. Embora esses
jovens e adolescentes, em sua maioria, não sejam perigosos, ex-
ceto para si mesmos, muitos deles são levados, quer por poderes
demoníacos ou pelos feiticeiros que os recrutaram, a realizar atos
de violência e antissociais, inclusive assassinatos. Todavia, mesmo
que nunca venham a causar dano a alguém, os males que fazem a
si mesmos, tanto emocionais como espirituais, são incalculáveis. O
satanismo lhes dá uma cosmovisão anarquista, niilista, segundo a
qual todas as emoções de afeição e carinho ficam bloqueadas, e os 127
piores aspectos da natureza humana carnal predominam. A violên-
cia e a magia tornam-se a única solução para qualquer problema,
e um sentimento de amor real de sua parte torna-se praticamente
impossível.
2) Satanistas religiosos ou organizados
Estes (LaVey, Aquino, etc.) estão voltados para si mesmos e já foram
abordados nos capítulos anteriores.
3) Satanistas dissimulados ou isolados
Os satanistas isolados geralmente são adultos não ligados a nenhu-
ma seita satânica, mas que se valem do satanismo para a prática
de crimes — principalmente abuso de crianças, estupro, tortura,
assassinato e tudo mais.
Geralmente são pessoas solitárias, que não conseguem rela-
cionar-se com os outros de maneira normal e saudável. Optam,
então, por se identificar com Satanás: o maior de todos os marginais.
Deixam-se também corromper, com frequência, pelo rock heavy
metal e por apavorantes filmes de terror.
Há quem se preocupe em definir se tais pessoas são satanistas
que sofrem de insanidade mental, ou se são psicopatas também
satanistas. Tais discussões não fazem sentido. O fato de alguém
envolver-se com o satanismo, qualquer que tenha sido a causa, abre
Lúcifer Destronado

portas em sua vida para que irrompa a sua natureza pecaminosa.


O fato é que tais pessoas, em sua maioria, são produtos emocio-
nalmente deficientes de uma família desconcertada e, muitas ve-
zes, vítimas de abusos. Isso lhes confere um sentimento de ira em
seu interior que Satanás tem todo o prazer em fazer explodir. São
matéria-prima de primeira linha para ser trabalhada por Satanás e
acabam se tornando fantoches em suas mãos, soldados rasos que
ele usa em sua guerra de terrorismo espiritual.
Se foi o satanismo ou a loucura que entrou primeiro na vida
dessas pessoas, isso não importa. O importante é entender que li-
128
vros tais como A Bíblia Satânica e artistas de música popular como
Ozzy Osbourne, AC/DC ou Motley Crue as fazem cair totalmente
nessa situação maligna e ainda lhes dão um apoio para continuarem
a praticar o mal. São pessoas de carne e osso que, quer tenham
consciência ou não, fazem parte de um plano mestre de Satanás.
São, terroristas espirituais seus, que saem por aí espalhando horror,
morte e paranoia.
4) Espíritas culturais
Estes são um pouco mais difíceis de classificar. São integrantes de
culturas geralmente latinas e africanas, cujas crenças são uma mis-
tura de feitiçaria africana com o catolicismo romano. Um estudo
afirma o seguinte:
As religiões espíritas culturais sincretizam, com harmonia,
rituais da magia ou sobrenaturais, específicos de determinada
cultura, com certas tradições religiosas próprias de outra cul-
tura, diferente. (...) Estima-se que existem, atualmente, um
milhão a um milhão e meio de pessoas, nos Estados Unidos,
que praticam algum tipo de espiritismo afro-antilhano. A
grande maioria desses praticantes está envolvida com as
crenças denominadas santeria e palo mayombe.5
As principais formas do espiritismo cultural são:

A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
a. Vodu
O vodu, ou voodoo, também conhecido como obeah ou hoodoo, é
praticado principalmente no Haiti e em outros países do Caribe,
na Louisiana e em outros estados do Sul dos Estados Unidos.
Este culto desenvolveu-se como resultado do tráfico de escravos
procedentes da África Ocidental, levados para o Caribe. Origina-
-se da religião ocultista africana conhecida como Juju, que data
de milhares de anos atrás, praticada pela tribo achanti, que era
adoradora de serpentes.
A religião Juju foi então sincretizada com o catolicismo,
produzindo o culto a toda uma gama de entidades ou divindades 129
demoníacas. Essas entidades, em sua maioria, são identificadas
com santos católicos. Por exemplo, imagens de São Patrício são
usadas para personificar Danballah, o principal deus-serpente,
porque as gravuras católicas geralmente mostram São Patrício
expulsando serpentes da Irlanda. Os rituais do vodu geralmente
são executados pelo ogã (sacerdote) ou pela mambo (sacerdotisa).
Grande parte dos rituais é para que os praticantes sejam incorpo-
rados pela entidade.

b. Candomblé e Umbanda
São praticadas no Brasil. São também um sincretismo do catolicis-
mo com as religiões africanas, principalmente de tribos da Nigéria
e do Congo (Nossurubi, Nagê e Malei). Tal como no vodu, os pais-
-de-santo (sacerdotes) sincretizaram as entidades africanas (orixás)
com os santos católicos. São quatro os principais componentes do
ritual candomblista: adivinhação, sacrifícios (geralmente de animais),
incorporação de espíritos e iniciação. Há uma linha que é mais
voltada para o mal, a quimbanda.
c. Santeria (ou Lucúmi)
A santeria é essencialmente a forma cubana de candomblé, sendo
assim também um sincretismo de religiões africanas com o catoli-
cismo. Provém principalmente da tradição ioruba, da Nigéria. Seus
Lúcifer Destronado

sacerdotes são os santeros. Desde que em 1980 o barco de Mariel


saiu de Cuba, muitos dos praticantes da santeria foram parar em
cidades americanas, tendo atualmente chegado ao número de dois
milhões de adeptos nos Estados Unidos, principalmente entre os
cubanos e demais hispânicos.
Em Trinidad, a santeria tem o nome de “xangô”.
d. Palo Mayombe
É uma prática mexicana e do Caribe. Representa uma linha mais
“pesada” da santeria. Os mayomberos (seus praticantes) geral-
130 mente se concentram no espírito da morte e usam a sua magia
para infligir desgraças, torturas ou a morte de um adversário. Por
incrível que pareça, há mayomberos que se dedicam à prática de
uma magia para o bem, ou neutra, e que são chamados de “ma-
yomberos cristãos”. Os que a praticam para o mal são chamados
de “mayomberos judeus”.
O palo mayombe provém também da mistura de crenças afri-
canas (ioruba e congalesa) com o catolicismo, mas é visivelmente
uma feitiçaria mais maligna e perigosa. Sacrifícios humanos são
nele praticados. Esse culto serviu de modelo à seita ocultista fictícia
vista no filme The Believers.
Muitos dos praticantes dessas formas de espiritismo afirmam
(naturalmente) que elas não causam dano a ninguém e que apenas
fazem sacrifícios de animais. Contudo, há uma suspeita cada vez
maior de que esses grupos usam das magias para levar drogas para
os Estados Unidos. E infames assassinatos ocorridos em Matamo-
ros [cidade do México na fronteira com os Estados Unidos] foram
cometidos por uma seita que parece ser uma mistura de candomblé
com palo mayombe.6
Assim como acontece com todos os satanistas, os espíritas
culturais estão perdidos, carecendo da salvação mediante Jesus
Cristo. Eles tendem a espalhar-se com as mesmas promessas de

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poder, riqueza e sexo, que fazem os mais propriamente chamados
satanistas. São grupos extremamente poderosos e perigosos, e os
feitiços que empregam são, surpreendentemente, muito eficazes.
Mas, felizmente, podem ser vencidos pelo sangue de Jesus.
5) Satanistas tradicionais ou “fiéis” (de várias gerações)
Se os satanistas isolados são os soldados rasos de Satanás, os
tradicionais são seus oficiais de elite, de “batalhões especiais”.
Tal como aqueles, dedicam-se a infligir terror ao coração da
sociedade, mas são mais conscientes de sua posição e função.
São chamados, nos círculos de feitiçaria, de “hereditários”. Isto
significa que já nasceram no satanismo, da mesma forma como
há pessoas nascidas em famílias presbiterianas, batistas, católicas 131
ou judias. Tais satanistas foram, portanto, criados dentro da
ideologia do seu grupo de feitiçaria, e muitas vezes pertencem
a um mundo tão diferente do nosso que bem poderiam ser con-
siderados alienígenas. Em seus grupos, há famílias nas quais a
feitiçaria e o satanismo vêm sendo praticados por muitas gerações,
talvez até durante vários séculos.
(É importante compreender que, embora todos os satanistas
sejam feiticeiros, nem todo feiticeiro é satanista, no sentido estrito
da palavra. Os feiticeiros da magia “branca”, ou participantes da
Wicca, como são muitas vezes chamados, não acreditam num
diabo e adoram uma deusa mãe e um deus chifrudo. Na verdade,
eles estão adorando Satanás por trás das máscaras de suas divindades
supostamente do bem, mas muitos deles não têm consciência disso.
Pela minha experiência, sei que os wiccanos dos níveis mais elevados
realmente conhecem a verdade, mas ela é mantida desconhecida
do público em geral e dos iniciantes dessa magia.)
As famílias satanistas hereditárias geralmente têm suas origens
na Europa e muitas vezes se sustentam de heranças. Para alguém que
nasce numa dessas famílias, há duas alternativas à sua frente: ou a
criança é mimada, treinada em magia e ensinada a considerar-se um
deus vivo sobre a terra, ou é horrivelmente vitimada com abusos na
infância, tornando-se basicamente um ninho ambulante de ódio e
temores. Em ambos os casos, a criança não é ensinada a aprender
Lúcifer Destronado

a confiar nem a amar. A razão pela qual algumas dessas crianças


são vitimadas e outras, não, tem a ver com toda sorte de obscuras
doutrinas ocultistas, como, por exemplo, a ordem de nascimento,
mapa astral, sexo, cor do cabelo ou constituição física.
As famílias satanistas tradicionais, com frequência, deixam seus
costumes próprios, assumindo uma aparência normal e respeitável.
Não se vestem de preto, não raspam a cabeça nem vivem numa casa
esquisita, como a “Família Addams”. Quase sempre, se passam por
crentes e chegam até a ocupar cargos importantes em sua igreja e
132 na comunidade. Assim, é bem possível que um bom cristão se case
com uma mulher que na verdade é uma satanista tradicional, sem
saber de sua real condição. A maioria dos cristãos costuma ser muito
inocente e geralmente acredita em todo mundo. Se alguém diz ser
cristão, isso normalmente é aceito, de imediato. (Vamos abordar o
discernimento de espíritos e outros tópicos correlatos mais à frente,
neste livro.)
Por vezes, nessas famílias, um dos irmãos tem uma infância
razoavelmente normal e outro pode ser vítima de um terrível abuso.
Outra variável é que, às vezes, um dos pais é satanista, e o outro,
não, mas desconhece a verdadeira fé de seu cônjuge. Neste caso,
pelo menos um dos filhos será vitimado, ficando os demais livres
para terem uma infância normal. É no contexto dessas famílias que
o abuso ritual satânico (ARS) geralmente ocorre. O abuso ritual
de crianças ou ARS é definido por uma autoridade no assunto da
seguinte forma:
O abuso ritualizado são repetidas agressões físicas, emocio-
nais, mentais e espirituais, combinadas com um sistemático
uso de símbolos, cerimônias e maquinações para que efeitos
maléficos sejam alcançados. Tais abusos podem ser repeti-
dos de 100 a 1.000 vezes! Primeiro, as agressões procuram

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atingir o nível físico; depois, os níveis emocional, mental e
espiritual. Constituem um programa detalhado e planejado
para fazer com que a criança volte-se contra si mesma, contra
a sociedade e contra Deus.7 
Nosso ministério, With One Accord, tem um setor de aconse-
lhamento e oração que já ministrou a muitas vítimas de ARS. O
Senhor tem-se disposto a abençoar nossos esforços. Mais adiante,
falo de nossas estratégias ministeriais quanto à oração. Por ora, o
importante é compreendermos que o abuso ritual satânico geral-
mente ocorre numa família de satanistas e, em ocasiões mais raras,
no contexto de escolas, creches e (infelizmente) igrejas.
Aqueles que falam a respeito desses grupos de satanistas tra-
dicionais e do abuso ritual satânico muitas vezes são acusados de 133
lunáticos — a mesma atitude adversa aos que protestavam, décadas
atrás, nos Estados Unidos, contra o flúor na água potável, acusados
de participar de uma trama comunista para arruinar a saúde dos
americanos. Agora, as revistas publicam reportagens sobre o efeito
cancerígeno do flúor na água! O problema com teorias apontadas
como “conspiração” é que muitas vezes acabam sendo reconhecidas
como verdadeiras.
Pessoas que sobreviveram ao ritual de abusos na infância
declaram ser de famílias em que o satanismo já era praticado por
muitas gerações. Embora não seja fácil provar a veracidade dessas
histórias, elas são em número considerável para que sejam total-
mente desprezadas.
Um enorme império secreto de drogas, pornografia infantil e
satanismo tem sido exposto por pessoas. Será esse fenômeno uma
novidade? Há claras evidências bíblicas de que, nos dias dos israeli-
tas em Canaã, havia civilizações que em sua totalidade adoravam o
diabo sob os nomes de Baal e Moloque. A adoração a esses deuses
envolvia o sacrifício de animais (Jz 6.25), prostituição e perversão
sexual (Êx. 34.15). Envolvia, também, queimar “a seus filhos e suas
filhas em sacrifício” (2 Rs 17.16,17). Isto significava queimar bebês
vivos nos braços incandescentes de um ídolo de ferro! Vemos que,
praticamente, todos os elementos do satanismo estavam presentes
muito tempo antes dos dias de Jesus.
Lúcifer Destronado

Depois dos apóstolos de Cristo, outro fator satânico surgiu,


com a “Missa Negra”, ou “Missa pelos Mortos”, feita com símbolos
blasfemos, zombando da liturgia católica. Eram rituais realiza-
dos com o propósito de amaldiçoar pessoas! Isto não é difícil de
compreender quando se sabe que a liturgia católica da missa, ou
eucaristia, é basicamente uma cerimônia ocultista. É o que pode
ser chamado de “magia branca”. Assim, foi fácil aos satanistas
adaptarem-na um pouco, transformando-a num completo ritual
de magia negra.
Tais missas foram condenadas pelo Concílio de Toledo em 681.
134 O satanismo alcançou popularidade nos séculos 18 e 19, quando
a Missa Negra ficou na moda, com a decadente aristocracia da
Europa.8
No entanto, alegações de abuso infantil em rituais satânicos
nunca foram tão frequentes como agora. Isso não acontecia antes!
As famílias de satanistas tradicionais são grupos isolados
de pessoas perigosas ou ligados entre si de algum modo? Esta
é uma questão controvertida. Poucos são os que negam que
há famílias que por gerações têm sido satanistas. Mas será que
tais famílias fazem parte de uma rede? No sentido absoluto
da palavra, a resposta é um categórico “sim!”. Jesus falou de
uma conspiração, dirigida pelo consumado terrorista de conspi-
rações! O Senhor advertiu-nos de que Satanás vem para roubar,
matar e destruir (Jo 10.10). Observou, também, que o reino de
Satanás não se divide contra si mesmo (Mt 12.25,26). Satanás é
um brilhante tático, que distribui suas tropas, tanto demoníacas
como humanas, com muito cuidado! É como um jogador de
xadrez, que planeja com dezenas de lances de antecipação! Seria
uma tolice pensar de outra forma.
Portanto, é difícil imaginar que Satanás permitiria que
milhares de seres humanos se pusessem em movimento se não
tivessem um plano mestre por trás. Toda energia consumida ao

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acaso é uma energia perdida, e, louvado seja o Senhor, a energia
de Satanás é limitada. Assim, não pode desperdiçá-la com um
bando de excêntricos desorganizados, retalhando gatos e pessoas
e tropeçando uns sobre os outros. Faz sentido pela lógica (e pela
Bíblia) haver um plano mestre, uma conspiração, por trás do
que fazem todas essas diversas famílias de satanistas tradicionais.
Carl Raschke, em seu excelente livro, mencionado anteriormente,
apresenta um mal adicional (embora mundano) que pode estar
alimentando essa conspiração:
Com certeza, grupos amplamente separados uns dos outros
podem muito bem ler a Bíblia Satânica, de LaVey, e fazer
feitiços do clássico do ocultismo O Necronomicon. Mas eles
não se associam entre si, nem “conspiram” de um modo 135
claro e regimental. O que geralmente não se percebe,
porém, é que o elo de ligação entre as diversas células na
sua organização cultual pode nada ter a ver com religião.
Pelo contrário, a ligação pode ser bastante mundana e
comercial... drogas.9 
Talvez nunca venhamos a saber se esses vários grupos secre-
tos estão ligados fisicamente, mas podemos aceitar o fato de que
há profundas ligações espirituais e que quase nada acontece em
qualquer um deles sem o controle de Satanás. Os demônios que
estão no controle dos líderes de cada grupo acham-se em cons-
tante comunicação entre si, de modo que o conjunto de todos
eles vai sendo conduzido, em escala continental (e quem sabe até
em escala mundial), como se fosse uma orquestra regida por um
bastão invisível.
Esses satanistas exultam na destruição da inocência! Rego-
zijam-se em fazer obras más, não porque o mal seja divertido
(geralmente não é!), mas porque sabem que tais obras são pecados
e ofensas a um Deus santo. Sabem que, uma vez que Jesus ama as
crianças, então, para atingi-lo, eles as afligem com malignidades
inexprimíveis. O que eles portam é bem mais do que uma simples
“doença mental” ou uma “patologia social”. São máquinas infernais,
movidas por forças que a maioria das pessoas não pode nem mesmo
imaginar. Assim como costumamos falar de cristãos totalmente
Lúcifer Destronado

entregues ao Senhor Jesus, que verdadeiramente são seus servos,


de igual modo Satanás tem seus “santos satânicos” — pessoas que
farão de tudo para servir ao seu senhor. Será que há pessoas assim?
Infelizmente, a resposta é afirmativa. Eu fui uma delas. Os que
me treinaram eram pessoas totalmente entregues ao mal, e essa
iniquidade passou para mim por contágio espiritual. De um modo
bem claro, solicitei que demônios me possuíssem. Felizmente, antes de
Satanás ter condições de trazer à realidade os impulsos de ódio e
matar o que havia de bom em mim, fui retirado como um tição da
fogueira pelo poder de Jesus, e Satanás perdeu um de seus peões.
136
•••

Aquele a quem o Filho libertar verdadeiramente será livre (cf.
Jo 8.36). Se o conteúdo deste capítulo o incomodou, isso é com-
preensível. Mas entenda que nenhum desses males é uma surpresa
para Deus. Tudo foi profetizado séculos atrás na Bíblia Sagrada. O
Senhor ainda está, de fato, no trono.
Deus está continuamente penetrando na imundície e no lama-
çal de todas as formas de satanismo e libertando os do Seu povo — e
usando experiências por eles vividas para a Sua glória, para melhor
poderem ministrar aos outros. Satanás pode ser um mestre em
conspiração, mas o Senhor Deus tem o poder de prevalecer sobre
os planos dele com um estalar de dedos. Muitos pensam que este
conflito cósmico é um jogo de xadrez entre Deus e Satanás. Mas,
não haja engano a este respeito. Satanás foi derrotado há 2.000 anos,
e vem até nós tomado de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe
resta (Ap 12.12). Estamos assistindo, hoje, a milhares de anos de
profecia se cumprindo. Essas coisas terríveis que acabo de descrever
não são senão os estertores finais da velha serpente, com a cabeça
esmagada pela cruz de Cristo.

A in f r a - e s t r u t u r a d o sa t a n i s m o
Notas
1
Pessoas famosas, como Jayne Mansfield e o cantor e ator Sammy Davis Jr.,
foram reconhecidas publicamente como pertencentes à Igreja de Satanás,
de Anton LaVey. Outras, como o ator e diretor Roman Polansky e sua
falecida esposa, Sharon Tate, andaram bem próximo dela. A confraria
satânica [nos Estados Unidos] tem uma poderosa base em Hollywood e
na indústria do entretenimento.
2
Raschke, Painted Black, p. 129-131.
3
Ibid., p. 404.
4
Veja o livro do autor Wicca: Satan’s Little White Lie [Wicca: a Mentirinha
Branca de Satanás]. Chick Pub., 1990, p. 14-49, para um conhecimento
mais amplo de sua carreira na feitiçaria. 137
*
Nota do Editor — No Brasil, estatísticas correspondentes são, sem dúvida,
incomparavelmente maiores.
5
Office of Criminal Justice Planning Research Update [Atualização de
Pesquisa Planejada do Gabinete de Justiça Criminal], v. 1, n. 6, inverno
de 1989/90; Occult Crime, a Law Enforcement Primer, Sacramento, CA,
p. 10.
6
Raschke, op. cit., p. 35.
7
Dr. Lawrence Pazdur. Notas de uma palestra (sem data).
8
Frederickson, B. G. How to Respond to Satanism [Como Responder ao
Satanismo]. Concordia, 1988. p. 14.
9
Raschke, p. 31.
10
“A catedral da dor”

Na casa da dor, há dez mil santuários.


— Aleister Crowley

Eu nada sabia a respeito da grande batalha cósmica entre Aquino


e LaVey para ter o controle do que o público pudesse pensar acerca
do satanismo. Isto porque me achava profundamente envolvido no
que chamávamos de “a coisa profunda”, ou “a coisa preta”. O que,
definitivamente, não era “a Coisa Certa”!
Do que ouvíamos dizer, por pessoas ligadas ao ocultismo,
achávamos que tanto Aquino como LaVey ou estavam passando
de leve sobre a superfície do satanismo, ou então estariam agindo
como “promotores de venda” de uma mercadoria, alardeando suas
qualidades para o público, a fim de atraí-lo para “a coisa profunda”.
De qualquer modo, não eram objeto da nossa preocupação. Está-
vamos nos desenvolvendo sobre os fundamentos do que havíamos
aprendido em nossos vários encontros satânicos e prosseguindo até
além da bizarra metafísica de Aquarius.
O poder da magia fluía através de mim como nunca antes.
Detesto dizer isto, mas o satanismo assumido é algo muito pareci-
do com um sistema de “marketing de rede”. Ou seja, eu me senti
“arremessado para cima” para vir a me tornar um distribuidor de
“produtos”. Desde que conseguira os meus “sete” adeptos, que
assinaram o pacto com o diabo, fiquei em condições de ser ordenado
no sacerdócio satânico e nos níveis mais elevados — europeus —
da Maçonaria. Satanás, de fato, “honra” seus escravos enquanto
estiverem lhe dando resultados.
Ele começou a me conceder pequenas “gratificações adicio-
nais”, especialmente depois de ter me tornado sacerdote satânico.
Narcóticos fluíam como água pelos nossos grupos. Eu tinha tudo
Lúcifer Destronado

de que necessitava e nunca pagava um centavo sequer. As coisas


simplesmente apareciam, de algum modo. Pequenos “milagres”, e
às vezes não tão pequenos assim, aconteciam.
Descobrimos, por meio de nossa cristalomancia (arte de visão
física através de relances de olhar em espelhos, cristais ou vidros
convexos) que um grupo satânico rival tinha surgido, não muito
distante de nós, proveniente de uma igreja jesuíta. Percebemos que
estavam até mesmo envolvidos com o sacrifício de crianças — uma
prática que, pelo menos até então, eu considerava repreensível.
Nossos grupos declararam guerra espiritual a eles por meio da
140 magia, e maldições fluíram de nós para eles e deles para nós com
enorme rapidez. Uma noite, um ataque astral entrou em nosso
quarto na forma de enorme e obscura figura, toda paramentada,
com um punhal na mão. Enviamos nossos demônios para atacá-la,
e dela não sobrou nada. Em uma semana, o grupo rival fez as malas
e mudou-se da cidade; declaramos então a vitória, promovendo
uma grande festa.
Como sacerdote de Satanás, eu podia, agora, ministrar ceri-
mônias de pacto. Nunca me esquecerei de uma delas em particular.
Havíamos estabelecido o nosso “sério” templo satânico no sótão
de uma enorme casa que alugáramos, próximo da Universidade
Marquette, em Milwaukee. Havíamos pintado a parede do fundo
do sótão totalmente de preto e colocado um enorme círculo mágico
sobre o chão. Este era o local onde fazíamos nossos rituais “mais
pesados”, por ser o ponto mais secreto da casa. Naturalmente, não
permitíamos que nenhum de nossos alunos de “feitiçaria branca”
entrasse ali.
Nesse local, eu me sentava num trono e ministrava como sacer-
dote do Desolado — “o Poderosíssimo Príncipe Lúcifer” — com as
pessoas ajoelhadas diante de mim, despindo-se de seu corpo e alma
e entregando-os a ele, por meu intermédio. Enquanto cumpria-se
esse antigo ritual, eu sentia a presença de Lúcifer em todo o meu ser.
Era como estar envolto num lençol de fogo intenso, que queimava,
e às vezes, meu cérebro parecia estar derretendo. Quando eu falava,
acreditava que era Lúcifer que estava falando por meu intermédio,
embora não tenha como confirmar que era isso mesmo. Como já
foi dito, Lúcifer — diferentemente de Deus — não pode estar em
mais de um lugar ao mesmo tempo, e, portanto, poderia ser um

“A catedral da dor”
dos príncipes do inferno — como os chamávamos. Contudo, fosse
quem fosse, dizia ser Lúcifer.
Por vezes, a voz que falava fazia vibrar as vigas daquele velho
porão, e pequenas porções de poeira, de teias de aranha e de pó
de madeira caíam sobre nós. Eventualmente, a pessoa que estava
fazendo o pacto encolhia-se para trás com medo daquela voz, e eu
me sentia profundamente satisfeito em meu interior. 141
Certa noite, uma mulher não se encolheu de medo. Sem
nenhum constrangimento, sem receio algum, ajoelhou-se diante
de seu novo “dono” no centro do círculo mágico, dentro de um
triângulo de manifestação.
Isto não é o que normalmente ocorre. O círculo é usado
pelos praticantes da magia e pelos feiticeiros, de modo geral,
para protegê-los de ataques demoníacos (ou, no caso da Wicca,
para reprimir o cone de poder que se eleva de dentro do corpo
dos bruxos). O triângulo de manifestação geralmente é colocado
fora do círculo, e é onde o demônio tem permissão de aparecer,
nas nuvens da fumaça do incenso. Assim, o feiticeiro fica dentro
do círculo mágico e a energia do demônio é retida e concentrada
dentro do triângulo. Naquele tempo, entretanto, achávamos que
não precisávamos de proteção alguma em relação aos demônios.
Na verdade, dávamos boas-vindas à presença deles e até à possessão
do nosso corpo.
Assim, aquela mulher ajoelhou-se bem no meio do que con-
siderávamos o “ponto de impacto” dos demônios e prostrou-se,
rogando que todo demônio do inferno viesse para ela. Ela jurou
pertencer a Lúcifer de corpo, alma e espírito.
No encerramento da cerimônia, depois de ter vestido o manto
de adoradora do diabo e escrito o seu nome no pacto, o poder ficou
muito mais intenso ao meu redor. As muralhas tremeluzentes de
Lúcifer Destronado

ofuscante energia branca ao meu redor penetraram, queimando, na


mente dela também. Então formou-se uma pirâmide de poder que
se arremeteu até as vigas do teto como um rojão, e o lugar voltou a
ficar escuro e em silêncio, exceto... pelo ruído característico de algo
como uma moeda de prata de um dólar caindo no piso de madeira
negra, ali onde estávamos.
Nós dois abrimos os olhos e... veja! Uma medalha dourada
(talvez de bronze ou latão), não muito pequena, ainda rodopian-
do no chão, até que parou. Ficou então com sua face voltada para
142
cima, e nela estava estampada um dos selos de Lúcifer. Tudo o que
podemos dizer é que aquela medalha surgiu do ar, pois não havia
mais ninguém no templo do porão!
Naturalmente, a candidata ficou emocionada, pegou o me-
dalhão e depois passou a usá-lo como um pendente, levando-o
para onde quer que fosse. Ela olhou para mim com temor, pois
“eu” tinha feito algo aparecer do nada (se bem que eu nem sabia
como aquilo tinha acontecido). Claro que eu não mencionei
nada a ela de que tudo acontecera sem meu conhecimento e par-
ticipação alguma de minha parte. O que acontecera é nas áreas
do espiritismo, como sendo obra de um médium físico, um fenô-
meno bastante raro de ocorrer. Assim, ambos nos sentimos bem
satisfeitos com nós mesmos. Era mais um “ossinho” que Satanás
lançava para o seu cachorro (eu) a fim de mantê-lo interessado
na “brincadeira”.
A roda-viva de satanás!
O que o astuto leitor por certo já observou na vida de pessoas como
eu, praticantes do ocultismo, é que elas se encontram numa cons-
tante busca para obter mais conhecimentos ocultos, pois “aprendem
sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade” (2 Tm
3.7). Isto quer dizer que eu passei minha vida indo de um lugar
para outro, atrás de novas iniciações, novas ordens secretas, novos
princípios do conhecimento ocultista. É verdade.
Aleister Crowley, meu ídolo de então (provavelmente no sen-
tido mais literal possível), observou certa vez que o caminho de

“A catedral da dor”
quem conhece a magia (daquele que já está num estágio avançado)
é bastante semelhante ao alpinismo — esporte que ele conhecia
muito bem. Disse ele que na magia, assim como acontece no esporte
de escalar montanhas, é tudo uma questão de permanente esforço
para subir, com pouco tempo para descanso.
O alpinista praticamente não tem tempo para descansar
quando se encontra na parte íngreme de uma grande monta- 143
nha, segurando-se com os dedos ou pinos encravados na rocha.
É uma situação em que ocorre um desgaste contínuo de energias até
a exaustão muscular e que exige muita força de vontade. É muito
raro o alpinista chegar a uma parte plana ou a um ponto sem declive
em que possa finalmente descansar. E é isso que o praticante da
magia vive. Se relaxar, se “afrouxar” por um pouco mais de tempo,
corre o risco de se soltar do seu gancho e cair no “abismo”, que é,
como já foi dito, o equivalente ao inferno no ocultismo, onde se
acaba morrendo de “acidente” causado pela magia.
Isso acontece, em parte, porque na magia há sempre quem
queira ou arruinar ou acabar com a vida de outros praticantes.
É tal como ser um atirador. Há sempre alguém querendo provar
ser melhor do que outros. As compensações por esse tipo de inte-
ração selvagem são muitas, pois há uma crença de que quem mata
outro participante da magia recebe todo o poder de que o morto
era dotado, e ainda os seus demônios e a sua sabedoria, em herança.
Deste modo, aquele que mata vários outros bem desenvolvidos na
magia acaba ficando com um enorme poder.
Por exemplo, quando, numa determinada ocasião, o avião em
que estava LaVey “desapareceu no radar”, os boatos na confraria
eram de que ele fora assassinado secretamente por sua filha Zeena,
que assim se “beneficiaria”, recebendo toda a sabedoria do seu pai,
Lúcifer Destronado

todo o seu poder mágico e os seus poderosos demoníacos. Aparen-


temente, esses boatos não correspondiam à verdade, mas esse tipo
de coisa de fato ocorre com certa frequência com satanistas menos
conhecidos. E por que não?... O que, nessa sua ética totalmente
distorcida, impediria de ocorrer tais guerras para obterem mais
poder? É a sobrevivência do mais forte, não é?
Outra razão para dedicarmos um permanente esforço em
buscar novas iniciações, mais conhecimentos e maior poder é
que Satanás fica empurrando seus adeptos para a frente. É a velha
técnica de se conseguir alguma coisa com incentivos e, depois,
144
com ameaças, se a pessoa fraquejar. Nessa “roda-viva” de Satanás,
não dá para saber nunca o que a gente está para obter. Ele é um
capataz demasiadamente cruel, que espera 110% de seus escravos.
Assim, o satanismo tem suas estranhas formas de legalismo, tal
como ocorre em qualquer religião que Satanás tenha criado, por
todos os séculos.
Fica-se permanentemente sob uma forte tensão, pois, se
diminuir um pouco que seja o ritmo do nosso progresso, então,
de duas, uma: ou isso fará com que a gente caia no seu desagrado
total (condição em que ele nos expulsa, com a perda de todos
os seus favores, podendo até nos matar), ou um outro adepto
da magia, em ascensão, nos ultrapassará, recebendo de Satanás
um “poder extra” de magia que o capacitará a matar-nos ou,
pelo menos, nos reduzir à condição de um debilóide total. É
tal como no jogo Calabouços e Dragões, exceto que os riscos são
inimaginavelmente mais elevados.
Essa situação leva o adepto da magia a ser um superempreen-
dedor. Isso o torna extremamente ocupado, sem condições de dar
um passo para trás e não tendo tempo para considerar, de um
modo crítico, o que realmente está fazendo na vida. É desse modo
que Satanás gosta de ver seus servos! É no contexto dessa desespe-
rada, quase desvairada busca por obter “mais luz, mais sabedoria,
mais verdade” que o estranho episódio narrado a seguir deve ser
entendido.

A vi n d a d o s il u m i n oi d e s

“A catedral da dor”
Eu não tinha compreendido muito bem o fenômeno dessa luz
ofuscante que experimentara quando da evidente presença de Lú-
cifer (ou, pelo menos, diante de energias luciferianas). De quando
em quando, Orion deixava escapar um riso de escárnio alusivo à
“luz”, mas ele se mantinha irredutivelmente calado a esse respeito.
Eu nunca lhe disse que, por vezes, havia passado por estranhas
experiências de “fundir a cuca”, e não sei se ele dispunha de outros 145
meios para saber disso.
Por vezes, ele fazia veladas referências aos Illuminati (vocá-
bulo latino que significa “Iluminados”). Fora-me dito, alguns anos
antes, por um grão-mestre druida, que Illuminati era um termo
que se referia aos níveis mais elevados da magia e do druidismo,
também conhecido como “A Grande Irmandade Branca”, ou a A...
A... (que significa Argentinium Astrum, ou “Ordem da Estrela de
Prata”).
Eu já tinha também ouvido dizer que os Illuminati eram
líderes de uma conspiração internacional de judeus, de anciãos
de Sião, de jesuítas, extraterrestres malignos, comunistas ou ban-
queiros (ou de todos eles), que procurariam destruir os Estados
Unidos. Como eu me mantinha demasiadamente ocupado, não
dava tempo para sequer investigar e assim descobrir se quaisquer
das explicações acima tinham algo a ver com a verdade. Nos
meses que se seguiram à minha experiência inicial de “epifania”
daquela luz branca, quente e ardente, Orion fez obscuras referências
aos Illuminatti.
Então, numa noite, passei por uma experiência bastante fora
do comum. Não posso dizer se foi um sonho ou se foi real, mas
foi uma viagem para fora do meu corpo físico (que se chama de
projeção astral). O fato é que as consequências do que aconteceu
foram definitivamente reais.
Lúcifer Destronado

Àquela altura, eu já era um “viajante astral” frequente. Saía do


meu corpo repetidas vezes, por várias razões. Eu vinha praticando
a projeção astral por quase dez anos. No entanto, naquele dia
em particular, foi muito diferente. Fui arrancado do meu corpo
antes que pudesse me dar conta do que estava acontecendo. A
imagem que eu tinha era a de ter sido puxado para cima, indo
pelos “caminhos” da Árvore da Vida em direção à região de Binah,
ou Saturno.1 
Essa estranha e involuntária viagem levou-me a um enorme
templo escuro, em meio a estrelas que giravam próximas do que
146 parecia ser o anelado planeta Saturno. O templo era completamente
escuro, sem reflexo algum em sua superfície. Era angular, estranho
e diferente de qualquer estrutura que eu tivesse já visto, exceto que
o motivo arquitetônico predominante era o trapézio. (O trapézio é
uma das formas mais sagradas para Satanás, por motivos por demais
complexos para relatar aqui.)
As torres do templo inclinavam-se o suficiente para deixar
qualquer um apreensivo, e, até mesmo do exterior, os ângulos e a
geometria do lugar pareciam fora de padrão. Fui levado a uma porta
trapezoidal, que era ainda mais escura do que o próprio templo, se
é que isso seria possível.
Uma vez dentro daquele templo negro, observei haver salas
externas cheias de uma misteriosa luz esverdeada. O lugar parecia
ser de fato real, e dei uns beliscões em mim mesmo para ver se eu
não estava dormindo, mas não senti nada. O que eu sentia era a
lisura do piso, gelado e negro, sob os meus pés descalços, e a pele
arrepiada em todo o meu corpo como uma realidade.
A Árvore da Vida:
Regiões Planetárias E “deuses”

Turbilhões Primordiais
(Centro Galáctico)
“Pan”
Saturno
“Kerridwen” O
“Cronos” Zodíaco

“A catedral da dor”
Marte Júpiter
“Hórus” “Zeus”
“Áries” Sol “Thor”
“Osíris”
“Apolo”
Mercúrio Vênus 147
“Thoth” “Afrodite”
“Hermes” “Rhiannon”
Lua
“Diana”
“Ishtar”

Terra
“Gaia”
“Deméter”

Alguém se aproximou, vestido com um simples manto branco.


Era um senhor honrado e de certa idade, com uma bela cabeça
de cabelos brancos e ondulados, tendo um delicado bigode bem
aparado. Ele não era, absolutamente, quem eu esperaria encontrar
num lugar como aquele. Com uma voz amável e ressonante, ele
cumprimentou-me e apresentou-se como sendo “Mestre H”.
Disse-me que seria o meu mentor e guia e me convidou a
segui-lo, dirigindo-se às partes interiores daquela soturna cidadela
negra. Nada poderia ter-me preparado para o que me esperava.

A catedral da dor
Lúcifer Destronado

O salão ao qual entrei assemelhava-se a um templo, talvez tão


amplo quanto o de uma igreja de bom tamanho. Não havia em
que sentar-se, apenas um altar em forma trapezoidal numa pla-
taforma um pouco elevada, no centro. O altar era feito de um
concreto aparente e rústico. Nele havia vigas de ferro retorcido
projetando-se em todas as direções e estavam visivelmente man-
chadas de sangue. Uma dessas vigas levantava-se atrás do altar
formando uma rude cruz de cabeça para baixo. Por trás do altar,
havia um trono, num plano mais elevado, que chamava a atenção
148 de um modo impressionante. Era preto, absolutamente liso, e
estava vago. Senti-me um pouco aliviado por não haver ninguém
nele sentado. Contudo, era a única coisa naquele lugar que tinha
uma aparência tranquilizante.
Meu distinto guia voltou-se para mim e começou a gesticular
com muito entusiasmo, mais ou menos como se fosse o maestro
de uma orquestra. E disse, então, sem alardes:
— Bem-vindo à Catedral da Dor.
Com estas palavras, luzes com um brilho obscuro surgiram
silenciosamente por trás das paredes daquele amplo lugar, e eu
fiquei tão assustado com o que vi que senti-me tomado de forte
aflição. As paredes, que antes pareciam pedras pretas lisas e in-
clinadas, revelaram-se como sendo totalmente de vidro transpa-
rente, retendo em seu interior um fluido também transparente.
Flutuando dentro daquele fluido, havia dezenas, se não centenas,
de corpos humanos, nus! Estavam todos mortos, a maioria deles
com a expressão de um intenso terror, demonstrado por uma
contração em sua face congelada. Muitos estavam mutilados, de
modo tal que me causaram asco.
Na sua maior parte, aquela grotesca vitrina, semelhante a
um aquário, continha corpos de pessoas jovens. Quase todos
pareciam estar entrando na fase adulta, mas entristeci-me ao ver
que havia ainda muitos meninos e meninas, e até criancinhas
de menos de três anos, flutuando junto com os demais. Era
como se estivessem preservados, flutuando num formaldeído
ou em alguma funesta substância, tal como uma coleção de
borboletas do inferno.
Aquele cenário demoníaco circundava-me de todos os lados,

“A catedral da dor”
exceto de um, daquele salão que agora dava para ver que tinha
nove lados. Nove é um dos números mais apreciados pelos sata-
nistas, pois é o único número que se reduz a si mesmo, sempre.2 
Somente a parede atrás do trono se mostrava ainda como sendo
de pedra preta.
— Esses aí são os filhos do Mestre — proclamou meu guia,
com um estranho orgulho em sua voz. — Não são belos? 149
Minha garganta ficou tão seca que eu nem conseguia dar-lhe
uma resposta. É incrível, mas de um modo sinistro muitos deles
eram belos. Envergonho-me de ter reagido com certa lascívia à vista
de muitas das mulheres que flutuavam à minha frente. Era como
se eu estivesse tendo o pesadelo mais desagradável que se possa
imaginar, mas tudo me parecia ser muito real.
— Todos os que morrem desta maneira são privilegiados de
pertencerem ao Mestre — explicou-me H. — E agora você pertence
a ele também, para sempre!
Sua última afirmação foi como um mau agouro já consu-
mado, fazendo sentir-me atingido por dolorosa punhalada de
terror, já me vendo flutuando atrás das paredes de vidro daquele
maldito lugar.
Antes que tivesse condições de falar ou de fazer qualquer coisa,
um raio de luz caiu do teto, trovejando, vindo de cavernas não vistas,
atingindo o trono escuro com uma luz tão intensa e brilhante que
fez com que eu não conseguisse mais ver aquelas horríveis imagens
dos corpos flutuantes ao meu redor.
Saindo daquele feixe de luz, surgiu um enorme ser, difícil de
descrever. Vestia também um manto branco e tinha cabelos bran-
cos que caíam sobre seus ombros, dos quais saíam poderosas asas.
Todavia, tudo nele se alterava a cada segundo. Num momento,
parecia um homem normal, mas extremamente bonito, vistoso.
Lúcifer Destronado

No momento seguinte, a cabeça de um touro; e depois, a face de


uma bela mulher. O brilho da luz e as rápidas alterações na aparên-
cia do gigantesco ser diante de mim fizeram com que meus olhos
ardessem e lacrimejassem, a ponto de ter que coçá-los. Sentia uma
forte disposição de mantê-los abertos e estava totalmente atônito
diante da realidade daquela experiência. Meu guia, H., me fez
dar uns passos para a frente e ajudou-me a deitar no piso daquele
frio altar de concreto. Até me senti aliviado por ele não haver-me
acorrentado ou coisa similar.
Perguntava a mim mesmo como fugir dali. Eu não tinha ideia
150 alguma de onde estava, ou se não estava em algum lugar que não
fosse na minha cabeça insana. Não podia imaginar, no entanto,
como a minha mente poderia ter concebido um lugar tão horrível
como aquele, mesmo num pesadelo.
Senti-me estranhamente estimulado enquanto deitado no altar.
Era como se o meu medo tivesse sido entorpecido pelo poder que
fluía daquele ser cintilante no trono. De repente, surgiram dezenas
de pessoas. Homens e mulheres vestidos tal como o meu guia, ex-
ceto que portavam um capuz na cabeça. Por estranho que pareça,
eu ouvia o fraco som dos seus passos de pés descalços sobre o piso
do templo.
Começou então um cântico em Latim: “Ave, Satanas; rege,
Satanas” (Salve, Satanás; reina, Satanás) em tons profundos de
baixo — como cantos gregorianos, mas em tons muito estranhos.
— Você experimentou da iluminação do nosso Mestre, o
Portador da Luz, e foi achado digno de receber a Luz — disse-me
o meu guia. — Você se rende à Luz?
Minha cabeça parecia estar zumbindo, mas mesmo assim senti-
-me calmo e relaxado. Consegui dizer “sim”, e a cantoria cresceu
em intensidade. Repentinamente, o ser sobre o trono levantou-se.
Fiquei impressionado ao ver como era alto. Procurou esforçadamen-
te firmar-se de pé, com as pernas abertas, sobre o altar, do mesmo
modo que um adulto tentasse montar num velocípede. Estendeu,
então, sua mão esquerda e a colocou sobre a minha testa. Tive que
fechar os olhos por causa da luz fortemente brilhante.
Parecia que meus olhos estavam se transformando em ferro
derretido. Minha fronte estava prestes a explodir. Senti o rasgo
de uma garra no centro da minha testa, um pouco acima das so-

“A catedral da dor”
brancelhas, entrando até o meu cérebro, como se fosse uma barra
metálica incandescente. Quis gritar, mas não consegui. Todo o meu
corpo sentia-se como se fosse estourar, por ter-se enchido de uma
extraordinária luz ardente.
Outra garra tocou em mim, e senti a dor de uma forte ferroada.
Então, as duas mãos se afastaram, e uma voz falou; era a mesma voz
que eu já tinha ouvido e que surgira dentro de mim várias vezes 151
em que estava celebrando um ritual.
— “Agora você me pertence para sempre!”
O som de uma centena de vozes de repente ressoou por todo
o salão, cantando:
— “Glória e amor a Lúcifer! Ódio!, ódio!, ódio! a Deus, amaldi-
çoado!, amaldiçoado!, amaldiçoado!”
Parecia que a garra ardia dentro da minha mente. Meu corpo
estremecia-se todo, estendido sobre o altar, com o poder daquele
cântico. Sentia-me como um peixe preso num anzol, sendo arras-
tado para fora d’água pelo meu próprio cérebro. Quis soltar um
grito de dor, mas o que saiu foi:
— “Glória e amor a Lúcifer! Ódio!, ódio!, ódio! a Deus, amaldi-
çoado!, amaldiçoado!, amaldiçoado!”
O ensurdecedor estrondo de um trovão atingiu a catedral. Fui
arrastado para fora do altar a uma incrível velocidade e levado para
aquele terrível aquário de cadáveres. Por um segundo, pensei que fosse
ser colocado no meio deles. Por fim, consegui dar um grito. Mas,
antes que o grito terminasse, eu já havia ultrapassado o aquário
e viajava no que parecia ser o relâmpago de um raio passando pelas
nuvens e movendo-se rapidamente em direção à terra.
Em menos de um segundo, achei-me deitado, de barriga para
baixo, sobre a relva molhada pela chuva do quintal da minha casa,
envolvido pelo inconfundível aroma do ozônio. A grama ao meu
Lúcifer Destronado

redor parecia estar estranhamente chamuscada, e uma fumaça subia


do gramado como se estivesse sendo assado ao calor do sol da tarde
de um dia de verão.
Foi tudo um sonho? Não dá para dizer. Mas, se foi, eu vim, em
sonambulismo, do meu quarto para o lado de fora da casa, até o meio
do jardim, debaixo de uma forte chuva, sem acordar ninguém. Nunca
fui sonâmbulo. E Sharon, por sua vez, desperta ao menor ruído.
Minha vida mudou profundamente a partir daquele dia. Se
aquele ser com quem me defrontei era de fato Satanás, ele me dera
uma marca que eu levaria por muitos anos, a partir de então. Essa
152 marca era um sinal de que eu era propriedade dele e me fazia nunca
esquecer-me disso. Pode ter sido um pesadelo, mas um pesadelo
do qual eu poderia ter nunca mais acordado.

Notas
1
Na Cabala, a Árvore da Vida é composta de dez esferas, oito das quais
têm o nome de um planeta. Essas esferas são ligadas por 22 caminhos,
correspondendo cada um a uma letra do alfabeto hebraico. Para os magos
cerimoniais, é comum a projeção astral, por meio de cartas de Tarô — que
se relacionam com os caminhos —, usando-as para viajar por eles a dife-
rentes esferas planetárias. Esta técnica avançada é chamada de “operação
caminho”.
2
Na numerologia, ou gematria, do ocultismo, com o número 9 ocorre o
seguinte: 27 é múltiplo de 9; 2+7=9. 63 é múltiplo de 9; 6+3=9. 9x62=558;
5+5+8=18 e 1+8=9. É muito curioso, mas este esquema funciona sempre
com qualquer múltiplo de 9.
11
O s Saduceus de hoje

Não ameis o mundo nem as coisas que há no


mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai
não está nele.
— 1 João 2.15

Muitas vezes, quando estou falando a respeito do satanismo em


igrejas, surge a seguinte questão: “Por que estamos vendo todas essas
coisas acontecerem atualmente? Meus pais nunca ouviram falar de
adoradores de Satanás, nem de pessoas sendo possuídas pelo diabo.
Se tudo isso é verdade, por que a Igreja não vem tratando dessas
questões há mais tempo?”
É uma importante questão e que merece uma resposta séria.
Isso em parte acontece porque há pessoas, tanto incrédulos como
crentes sinceros, que gostariam que acreditássemos que tudo o que
temos ouvido sobre satanismo e opressão demoníaca é apenas o
produto de mentes perturbadas, de sensacionalismo por parte de
jornalistas ou, até mesmo, de ministros do evangelho.
Alguns líderes cristãos não conseguem imaginar que toda essa
situação é uma realidade há vários séculos, bem debaixo do nariz
da Igreja, e que ninguém tinha descoberto isso a não ser há cerca
de algumas décadas. Eles questionam por que o discernimento do
Espírito não teria detectado tudo isso. Também fazem perguntas
do tipo: “Onde estão os corpos e outras evidências físicas que
comprovem todos esses supostos rituais?” Ou, ainda: “Como é que
esses satanistas conseguem pessoas para serem sacrificadas?”
Essas perguntas refletem um ingênuo entendimento tanto da
história da Igreja como da natureza humana. Tais pessoas desco-
nhecem o impacto de duas heresias que andam de braços dados
— o racionalismo e o cientifismo, ou cientismo — sobre a cultura
Lúcifer Destronado

ocidental, atingindo até mesmo a Igreja.


Somos, hoje em dia, pressionados por duas cosmovisões: uma
que vê o mundo com uma base bíblica, e outra, modernista e se-
cular. É triste, mas são muitos os líderes da Igreja que procuram
ser bons servos do Senhor e que, ao mesmo tempo, ainda dobram
os joelhos a Baal diante dos altares da ciência e do secularismo.
É bem possível que eles se regozijem diante da respeitabilidade
que o cristianismo tem alcançado em certas áreas da sociedade,
mas ficam com um pé atrás diante das palavras de quem esteja
falando sobre Satanás ou demônios, tornando-se, assim, confusos
154
a esse respeito.
Muitos desses cristãos são totalmente sinceros. Infelizmen-
te, são tal como um peixe em relação à água em que vive: nem a
percebe. Não têm percepção alguma da influência negativa que a
cultura ocidental lhes tem impingido. Nossa cultura é contagiante
e tem sido ainda mais influente com a onipresença da televisão e
do rádio. A aceitação inocente, sem qualquer avaliação, de pres-
supostos culturais pode ser a causa de sérios problemas quando a
pessoa estiver face a face com as garras sanguinárias de Satanás.

O s S a d u c e u s es t ã o d e vo l t a
A maioria dos cristãos, até mesmo líderes e instrutores, não leva
muito em consideração a esfera espiritual. Este é o fenômeno
que um missiólogo, dr. Paul Hiebert, chamou de “o meio ex-
cluído”.1  O que isto significa é, simplesmente, que a maior parte
das pessoas das nações industrializadas do Ocidente acredita no
mundo racional de todos os dias, que inclui carros, telefones e
tudo o mais, mas dão muito pouca (ou nenhuma) atenção às
coisas da realidade espiritual.
É certo que os cristãos do mundo ocidental acreditam em Deus
e em Jesus Cristo. Reconhecem, de fato, a existência da Trindade
do Pai, Filho e Espírito Santo. Creem (assim espero) na Bíblia e
nos registros históricos que ela contém. Todavia, normalmente
conseguem ver apenas duas dimensões:

O s sa d u c e u s d e ho j e
1) A do mundo “real” do dia a dia da vida.
2) A dimensão de Deus.
Deste modo, detêm uma mentalidade essencialmente oci-
dental, pós-racionalista (isto é, científica, empírica), que não é
realmente bíblica. Esquecem-se de que a Bíblia é um livro oriental,
escrito por homens inspirados pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). A
visão bíblica (ou seja, a visão do Senhor) não é particularmente,
ocidental ou racionalista. É uma cosmovisão pela qual, quase todo
155
dia, acontecem encontros do divino, angélico e humano. E é esta
a mentalidade que permanece pela maior parte do mundo afora,
uma mentalidade que inclui um mundo acima das atividades hu-
manas diárias, com as quais nos ocupamos em todo o tempo, mas
abaixo do mundo de Deus. É a região dos anjos (tanto eleitos como
malignos) e demônios. É a região do meio, que está faltando, e que
foi “excluída” do pensamento da maioria dos cristãos ocidentais.
Já conversei com crentes, que são sinceros e inteligentes, mas
que acham que a esfera espiritual tem muito pouco, ou nenhum,
efeito sobre a vida deles. Admitem que talvez haja um demônio
que por vezes atue, por exemplo, na China, e que pode acontecer
que alguém, ao passar por uma grande dificuldade, possa ter a
visão de um anjo. No entanto, em sua quase totalidade, rejeitam
a possibilidade de uma interação diária com a esfera sobrenatu-
ral. Alguns deles até mesmo estão totalmente convencidos de que tal
interação é impossível.
De certo modo, podemos comparar tais pessoas com a antiga
seita judaica dos saduceus, do tempo de Jesus. A aristocracia teo-
lógica judaica naqueles dias estava essencialmente dividida em dois
grupos: os fariseus e os saduceus. O ponto que mais diferenciava a
seita dos saduceus é que eles não acreditavam na ressurreição, nos
anjos e nos espíritos.2  (Veja Mateus 22.23; Atos 23.8.)
Os saduceus eram religiosos muito devotos. Ninguém ja-
Lúcifer Destronado

mais duvidaria da sua condição de judeus religiosos de primeira


ordem. No entanto, negavam a esfera espiritual e a ressurreição
dos mortos.
Embora grande parte dos cristãos de que estamos falando, que
negam ou ignoram a esfera espiritual, realmente creia na ressurreição
dos mortos (assim espero!), é, porém, sob vários aspectos, semelhan-
te aos saduceus. São piedosos, religiosos, certamente verdadeiros
crentes no Senhor Jesus Cristo. Apesar, no entanto, de seu zelo e
de se apegarem à “sã doutrina”, passam por cima de tudo o que se
refere à esfera de anjos e demônios, pois isso os levaria para longe
156 da região em que se sentem confortáveis. Isso faria com que o que
é divino e sobrenatural afetasse o prazer que sentem na vida, no
dia-a-dia. Eles têm procurado confinar Deus dentro de uma caixa.
Tal como os saduceus, erram “não conhecendo as Escrituras nem
o poder de Deus” (Mt 22.29).
Contudo, para os cristãos das nações assim chamadas do “Ter-
ceiro Mundo”, cristãos que atuam na linha de frente da batalha
espiritual, ter encontros com agentes espirituais de Deus ou do dia-
bo é algo comum, corriqueiro, tal como lhes é trivial, diariamente,
fazerem uso de um fogão ou uma geladeira. É tudo uma questão de
qual é o “filtro” através do qual processamos as informações de que
dispomos. Esses cristãos buscam evidências do poder de Deus nos
acontecimentos de cada dia, dando-lhe glória e louvor pelos “peque-
nos” milagres que Ele faz, tanto quanto pelos grandes.
Os cristãos que não encontram lugar para as questões demonía-
cas e angelicais em sua vida acham-se, infelizmente, fora da realidade
apresentada pela Bíblia e, em especial, pelo Novo Testamento. Sem
que o tenham percebido, assimilaram da mentalidade secular e da
cultura ao seu redor. Acabaram, inocentemente, caindo na mentira
de Satanás. Sua mente e seu espírito foram treinados a ver qualquer
evidência de uma intervenção divina em sua vida como mera e feliz
coincidência. São eles os saduceus modernos, que, em sua forma
de pensar, dão toda a primazia à ciência.

V e n d o o D i a b o e m tu d o ?

O s sa d u c e u s d e ho j e
No que se refere à ação demoníaca dentro da esfera espiritual, há
sempre o perigo de se cair no extremo oposto. C. S. Lewis faz uma
conhecida observação, em seu livro The Screwtape Letters [Cartas
do Inferno], de que há duas mentiras que Satanás promove de um
modo especial: a plena negação da existência do diabo, ou, então,
uma ênfase exagerada a Satanás e seus servos, desenvolvendo assim
uma obsessão doentia. Quero dizer que não estamos promovendo
a segunda alternativa, de jeito nenhum.
Frequentemente aqueles que ministram nesta difícil área são 157
acusados de “ver demônios em tudo”. Chegam a dizer que eles vêem
demônios até na própria sombra. Eu, em particular, posso dizer
com segurança que nunca vi demônio algum desse jeito. Também
não quero negar que alguns dos que oram para a libertação de
pessoas sob opressão demoníaca acabam deixando de ter uma po-
sição equilibrada. Não obstante, não é pelo exagero de alguns que
devemos ignorar a esfera espiritual e abrir mão do nosso dever de
enfrentar batalhas espirituais. Há quem exagere em suas orações por
aqueles que se acham enfermos. E isso significa que não devemos
orar pelos doentes? Creio que bem poucos o recomendariam. No
entanto, a libertação espiritual é tão importante quanto as demais
áreas do nosso ministério na igreja; mas tem sido negligenciada,
para prejuízo do rebanho.
Há, porém, realmente, aqueles que atribuem tudo como
sendo da esfera demoníaca. Expulsam demônios das mínimas coi-
sas; até mesmo das frieiras nos pés. Ou culpam os demônios por
qualquer pecado da carne. Obviamente, isso não é razoável nem
bíblico. Mas não podemos permitir que os abusos de alguns ve-
nham a destruir as bênçãos que são alcançadas por aqueles que
realmente estejam querendo praticar o discernimento e a oração
segundo a Bíblia.
A verdade, porém, é que aqueles que optam por ignorar a esfera
dos anjos e demônios — esse “meio excluído” — também tendem
Lúcifer Destronado

a negar a existência de qualquer ameaça por parte do satanismo.


Evidentemente que o fato de que existe, de fato, grupos satânicos
que praticam o mal constitui uma ameaça à sua cosmovisão. Abala
a sua confortável e acanhada percepção do modo pelo qual a rea-
lidade funciona.

M a l com “M” maiúsculo

Os relatórios que são divulgados sobre abusos rituais e satanismo


mostram um tipo de mal praticado que vai além da esfera natural.
158
Revelam um mal sobrenatural, que chega a abalar a estrutura das
pessoas, até mesmo das mais equilibradas. Uma evidência dessas
indica que o diabo ainda está, de fato, vivo, e passando muito bem,
intrometendo-se dia a dia nas atividades humanas.
Não é um conceito que agrade os cristãos que estão procurando
teologizar o diabo e seus demônios, considerando-os inexistentes
ou colocando-os em alguma “prisão espiritual” até a chegada da
Tribulação. Lembro-me de alguns professores meus, do Seminário
Católico, que nos ensinaram que não existe algum mal com “M”
maiúsculo. Segundo eles, todo o mal que existe é um mal social
(pobreza, guerra, racismo, injustiça) e humano.
Um Mal nítido, puro, cósmico, seria uma concepção por
demais assustadora para um pensamento teológico liberal. E a
razão disso, de certo modo, é que um Mal assim necessitaria da
existência de uma divindade pura e cósmica — conceito do qual
não têm muita certeza.
Não obstante, quando começamos a nos deparar com a
malignidade dos atos praticados em crianças (e até mesmo em
adultos) que o satanismo apresenta, não temos como aceitar
que isso seja decorrente de um mal ou neurose social. O fato é
que homens como Jeffrey Daumer 3  e Adolf Hitler4  não podem
ser explicados simplesmente por má criação ou necessidades
não supridas na infância. A única explicação plausível é que
eles foram atingidos por uma satânica blitzkrieg [palavra alemã
que significa ataque repentino, o qual era, justamente, o que o

O s sa d u c e u s d e ho j e
exército de Hitler mais praticava], e esse ataque  os contaminou
de uma malignidade transcendental — que a mente humana
nem pode imaginar.
Contudo, este é um conceito que não entra na mente da nossa
cultura, por estar muito próximo daquelas duas malfadadas pala-
vras “tabus”, quais sejam, “pecado” e “inferno”. Vem de encontro
aos conceitos teológicos de muitos cristãos, cujo entendimento
do cristianismo é que se trata de uma instituição em que se entra
para ser salvo, passando a integrar o clube do “Deus Me Abençoe” 159
e ouvir sermões e participar de eventos sobre como ser melhor pai
ou mãe, como ser próspero e como melhorar a autoestima.
Esquecem-se tais cristãos de que o exemplo mais notável de
auto-estima é o de Satanás. Esquecem-se de que o cristianismo
deve ter uma voz profética na cultura, e não render-se aos valores
da cultura. É muito certo e bom que os pregadores cristãos se
voltem contra o aborto ou contra o movimento pelos direitos dos
homossexuais. No entanto, muitos desses pregadores têm-se dei-
xado levar por valores bem mais sutis e perigosos da cultura, em
aspectos bem mais insidiosos. São afetados por uma mentalidade
mundana, orientada por marketing, centralizado na mídia, tendo
uma visão da Igreja e sua função baseada na Psicologia moderna.
Tal concepção não os protegerá, nem às suas ovelhas, quando os
ventos de enxofre de Satanás começarem a soprar fortemente em
seu santuário acarpetado e provido de ar condicionado, levando
o rebanho ao desespero.
Assim, precisamos estar atentos de que a nossa cosmovisão e as
nossas expectativas sejam baseadas na Bíblia. Temos de reexaminar
nossos pressupostos de como o universo funciona. E, acima de tudo,
precisamos parar de nos ajoelharmos diante dos falsos deuses do
secularismo e “da falsamente chamada ciência” (1Tm 6.20 — rc).
Tendo estas considerações em mente, fica fácil compreender por
que tais questões são levantadas sobre o satanismo. Procuraremos
Lúcifer Destronado

responder a estas questões, em espírito de oração.

Notas
1
Anderson. Neil T. Quebrando as Correntes. Ed. Mundo Cristão, 1994.
p. 33.
2
Elwell, Walter A. (Ed.) The Shaw Pocket Bible Handbook [Manual Shaw
Bíblico de Bolso]. Wheaton, USA: Harold Shaw Publishers, 1984. p. 378.
3
Jeffrey Daumer foi condenado, em Milwaukee, por atos terríveis de tor-
tura homossexual, assassinato e possível canibalismo de jovens e meninos.
160 É apenas um dos muitos casos, ocorridos recentemente, de criminosos
que cometeram “assassinatos em série”, levados, certamente, pelo Mal
sobrenatural. O claro envolvimento de Daumer com o satanismo foi,
evidentemente, desprezado.
4
A par dos inúmeros crimes de Hitler, e do seu pseudocatolicismo, ele
era também profundamente envolvido no ocultismo. Era iniciado num
grupo teosófico chamado Thule Gesellschaft e fez com que sua organização
SS desenvolvesse uma agência para o estudo da magia e do satanismo
chamado Annerbe. Para mais informações sobre o conteúdo ocultista
e satânico da filosofia nazista, veja a obra de LaVey The Satanic Rituals
[Rituais Satânicos]; Hitler: the Ocult Messiah [Hitler, o Messias Ocultista],
de Gerald Schuster; e ainda The Twisted Cross [A Cruz Quebrada], de
Joseph Carr (autor cristão).
12
“ . . . A M aldição sem
c
não se umpre”
c au s a

Tornei-me uma monstruosa máquina de


aniquilação...
— Ritual de Destruição, Bíblia Satânica,
Anton LaVey

Felizmente, para o bem da minha sanidade mental, somente fui


chamado a voltar à “Catedral da Dor” umas poucas vezes. Não
consegui, em nenhuma das vezes, descobrir se se tratava de um
lugar real, um templo astral ou um local de encontro criado pelos
satanistas. Contudo, as lembranças dessa experiência perseguiram-
-me por muitos anos.
Discuti com Sharon o que eu conseguia lembrar-me dessas
viagens, e ela ficou um tanto perturbada. Por incrível que pare-
ça, eu sentia que meu cérebro estava diferente. A impressão que
me dava é que estava carregando uma peça metálica em torno
da minha cabeça. Era como se alguma coisa, de uma tecnologia
alienígena, tivesse sido inserida no meu lobo frontal. Mas, não
importa o que fosse, eu não havia ficado com cicatriz alguma
— exceto na cabeça. Assim, como eu poderia saber o que tinha
acontecido?
Uma parte do meu ser estava temerosa, e outra parte, excitada.
Teria sido admitido no misterioso e augusto corpo dos Illuminati?
Se fora, o que isso significava para a minha busca de conhecimento
e de poder do ocultismo?
De um modo bastante estranho, essa pergunta foi respon-
dida num dia em que Orion entrou em contato comigo ines-
peradamente. Disse-me estar vindo a Milwaukee a negócios e
perguntou se não nos importávamos se aparecesse em nossa casa.
Embora nem Sharon nem eu nos entusiasmássemos muito com
Lúcifer Destronado

ele e seus acompanhantes, sentimo-nos mais ou menos obrigados


a convidá-lo.
Ao chegar, irrompeu portas adentro de nossa casa com sua
característica risadinha sem graça, que me lembrava uma hiena.
Além daqueles que normalmente trazia consigo, veio ainda um
sujeito que eu não conhecia, que era de pele bem morena e de
pequena estatura, com um bigode bem aparado e uma careca
aparecendo à frente de um ondulado cabelo bem preto. Orion
me chamou para ficar a sós comigo num quarto à parte, levantou
as mãos e as agitou à moda daqueles antigos pregadores negros
162
avivalistas, e disse:
— Ouvi dizer que você viu a Luz!
Para meu espanto, sacou de dentro do seu bolso um papel,
ou melhor, um pergaminho, que declarava ser eu um membro
de primeiro grau dos Illuminati. Não me deu o pergaminho,
mas deixou-me vê-lo. Explicou-me que iria mantê-lo consigo
até que eu atingisse níveis mais elevados e provasse, assim, ser
“digno” de ficar com o papel. Observei que o documento es-
tava assinado com um estranho selo sob a forma de uma folha
com letras escritas à mão. Perguntei-lhe então que assinatura
era aquela. Seus olhos saltaram para fora, e ele deu aquele seu
sorrisinho, dizendo:
— É a assinatura do Mestre, meu irmão. Da mão do Mestre!
Ele estava quase fora de si, de alegria. Dava até para eu imagi-
nar uma cauda batendo, saindo do traseiro dele, bastante agitada,
talvez até mesmo com uma seta na ponta!
O “Bode sem chifres”
Explicou-me Orion que essa minha nova “promoção” por parte das
altas patentes dava-me condições de copiar e estudar mais páginas

“ . . . A mal d i ç ã o s e m causa não se cumpre”


dos livros sinistros de Satanás e que teríamos de ter rituais de sangue
com maior frequência.
— Você tem que se preparar para o Maior de Todos! — riu
ele, com uma gargalhada casquinada.
Eu sabia, por minha experiência passada, o que Orion queria
dizer com “o Maior de Todos”. Referia-se ao sacrifício do que é
chamado, entre os praticantes do ocultismo, de le cabrit sans cor-
nu — em Francês, “o bode sem chifres”, ou seja, um ser humano.
Embora isso fosse um elemento do satanismo e do vodu que eu
sempre tivesse procurado desconsiderar em minha mente, sabia ser
uma terrível realidade. As assombrosas experiências por que passara
naquela apavorante “catedral”, porém, haviam-me marcado de um
modo tremendo, como eu jamais poderia ter imaginado. Tinha
me esquivado até então de pensar no assunto e cheguei até mes- 163
mo a admitir que nunca consideraria o sacrifício humano como
uma possibilidade em minha vida. Mas é impressionante como
a mente humana consegue racionalizar as coisas para que possam
ser aceitáveis.
Um sentimento abrasador, que em mim nunca houve sentido,
brotou, então, dentro de mim. Meu interior foi quase todo tomado
por uma excitação ante a perspectiva de dar uma vida humana em
culto a Satanás.
Orion pôde ver, evidentemente, algo em meus olhos, pois
sorriu tal como um gato que acaba de engolir um passarinho.
— Não dá para esperar, hein? Você tem razão. É, talvez, me-
lhor até do que sexo! — disse ele, mais uma vez com o seu sorriso
característico.
Sentou-se ao meu lado no sofá.
— Não se preocupe, meu irmãozinho, vamos iniciá-lo nisso
com a maior facilidade! — prometeu.
Não sei se ele sabia quanto me irritava ser chamado de
“irmãozinho”, especialmente por ele, aquele sujeitinho com cara de
rato, mas com certeza essa expressão tornou-se uma coisa terrível
para mim. E ele chamar-se desse modo era, também, um tanto
incongruente, já que eu era uns 25 centímetros mais alto e pesava
uns 30 quilos a mais do que ele. Além disso, acho que era também
mais velho.
Lúcifer Destronado

Mas consegui esconder minha irritação. Pelo que sabia, podia


ser um dos demônios dentro dele que falava, e esse demônio talvez
fosse bem maior do que eu, ou até uma casa, e com milhares de
anos de idade. De modo que aquilo me aborreceu mais do que nas
vezes anteriores, mas senti não ter deixado que ele percebesse.
Orion reclinou-se no sofá, demonstrando sentir-se magnâni-
mo, o que o impediu de ver qualquer problema em mim.
— Não se preocupe. Muitos irmãos ficam nervosos na sua
primeira vez. É mais ou menos como sexo; a primeira vez é a mais
complicada. Mas temos nossos métodos.
164 De novo sorriu ele, e parecia estar pronto para uma nova série
de risadinhas, quando prosseguiu:
— É necessário que você tenha um candidato para a oblação
que esteja mais que disposto, quem sabe uma pessoa jovem, mas que
tenha idade suficiente, ou esteja dopada, a ponto de não gritar muito,
que se ofereça de bom grado como uma dádiva ao Mestre. Desse
jeito, fica bem mais fácil. A pessoa se dá morrendo, irmãozinho!
Você não vê a hora de fincar o punhal no coração dela!
Orion sorriu de um modo que poderia parecer angelical na
face de qualquer outra pessoa. E concluiu:
— É como dizem: a morte é a última viagem. É por isso que
as pessoas a evitam até o último momento!
Fiquei conturbadamente incitado com as imagens que esse
monólogo absurdo fez surgir em minha mente. Minha boca estava
um tanto estranha, como que querendo alguma coisa — mas o
quê? Senti um gosto metálico na boca, como se tivesse acabado de
tomar uma dose de LSD. Morte? Querendo matar? Seria isso que
eu estava sentindo? Uma parte do meu ser sentia uma aversão, mas
era praticamente vencida pela excitação dos impulsos que agitavam
meu interior.
Orion, com um gesto de camaradagem, bateu de leve no meu

“ . . . A mal d i ç ã o s e m causa não se cumpre”


joelho e disse:
— Não se preocupe, não será de imediato. Temos de fazer
certas coisas antes. Quem sabe começando com algumas oblações
menores...
— De que tipo? — consegui perguntar, mesmo com a boca
totalmente seca.
— Bem, em parte é por isso que estou aqui. Você viu esse cara
que eu trouxe comigo?
Meneci a cabeça em sinal de assentimento.
— Seu nome não é importante agora. Esse sujeito é um mehum 
[nossa desdenhosa palavra em código significando “mero humano”,
isto é, um simples ser humano que me procurou em Chicago. Ele
quer dar um jeito na sua ex-mulher. Pagou-me em “dinheiro vivo”
para fazer um trabalho psíquico contra ela. Parece que ela está lhe 165
causando muitos problemas; tem a custódia dos filhos, mas é um
tanto desequilibrada. Você conhece esse tipo de história.
Ele prosseguiu com a sua trama:
— Disse-me que daria sua alma ao Mestre se conseguíssemos
uma maldadezinha feita à distância. Entende o que eu quero dizer?
— Sim. E qual é o meu papel, nesse caso?
Orion encolheu os ombros.
— Bem, achei que você gostaria de colaborar com suas energias
para essa maldição. Vamos ter que fazer um ritual bem caprichado
de destruição, incluindo o sacrifício de um animal. Então, quando
a “ex” dele apagar, você terá parte do crédito.
— “Crédito”?
— Você sabe como é, irmãozinho. Todo mundo que você ma-
tar a serviço de Satanás torna-se um sacrifício para o Mestre. Não
importa se for um esquartejamento num belo acidente de carro a
150 quilômetros de distância daqui, ou alguém levado amarrado a
um altar, se retorcendo todo, com um punhal apontado no pescoço.
Torna-se carne morta e passa a pertencer ao Mestre para sempre. E
eu vou permitir que você tenha uma parte da recompensa! — ele
me observou com muito interesse para ver como eu reagia. — Você
já fez trabalhos de maldição antes, não é mesmo? — apressou-se,
então, a perguntar.
— Claro! — respondi.
Lúcifer Destronado

Num certo sentido, era verdade. Eu tinha me envolvido com


“guerras” de magia, muito frequentes entre os feiticeiros da nossa
região. Até mesmo os bruxos da linha “branca”, como os da Wicca,
creem que têm o direito de se defender por meio de magia, quando
atacados. Há uma doutrina bem difundida entre os participantes da
Wicca, conhecida como Lei do Tríplice Retorno. Como feiticeiro, a
pessoa tem o direito (e até o dever) de retornar de modo triplicado
qualquer bem ou mal que lhe tenha sido feito. É a sua forma par-
ticular de concepção da doutrina do carma. Assim, nos sentíamos
no direito de nos defender, quando atacados. Se o que fazíamos era
166
ou não, realmente, uma maldição, isso era outro assunto.
Além disso, uma ou duas vezes, em meus primeiros anos
como feiticeiro, eu tinha amaldiçoado algumas pessoas que
achei que mereciam isso, sem que tivessem me atacado antes.
Uma delas foi um homem que conheci em Dubuque. Era um
hippie, adepto do uso de drogas e do amor livre. Tinha alcança-
do grande reputação de conseguir muitas garotas, mesmo bem
jovens, para fazer sexo com elas, descartando-as, em seguida, de
maneira rude. Dizia a cada uma delas que as amava e gostaria de
casar com elas, seduzindo-as, para logo em seguida despachá-las
como algo desprezível. Fez isso à irmãzinha de um amigo meu,
que frequentava um de nossos cursos na Wicca. Achei que aquele
“bestalhão”merecia ser punido. Para mim, ele estava perverten-
do mulheres que eram imagens da Deusa-mãe que eu adorava.
Assim, lancei uma maldição sobre ele, tornando-o incapaz de
praticar o sexo.
Pelo que sei, ele ficou daquele jeito pelo menos durante o tempo
em que moramos em Iowa, ou seja, por alguns anos. Presumo que
o feitiço já se tenha, a esta altura, desgastado. Mas não é preciso
dizer que lhe causei um grande dano.

“ . . . A mal d i ç ã o s e m causa não se cumpre”


De outra vez, foi quando ainda estava radiante com o êxito da
minha magia sobre esse hippie. Antes de eu ter conhecido minha
esposa, havia uma moça que estava treinando para sacerdotisa
da Wicca. Tinha conseguido para ela algumas joias de bruxaria,
compradas numa livraria ocultista de Milwaukee. Era um bem
adornado colar, um anel e uma pulseira, todos de prata. Seriam suas
bigghes, ou “joias oficiais” da bruxaria, como se fossem as “jóias da
coroa” do grupo de bruxaria local. Não era nada de muito caro ou
requintado, mas tinha para mim um grande significado espiritual.
Aquelas joias tinham sido consagradas num Círculo de Deusas da
Wicca, segundo as tradições.
Durante um evento, as joias foram roubadas da sua pentea-
deira, por uma amiga. Tanto ela como eu ficamos muito abor-
recidos e lançamos uma bruxaria. Invocamos a Deusa, para que 167
amaldiçoasse a ladra ou a forçasse a nos devolver as joias. Dias
depois, a moça, que certamente não tinha mais do que 18 anos,
caiu e rolou pela escada do seu apartamento e ficou paralítica da
cintura para baixo.
Não nos sentimos nada bem com isso. Então, tomei a re-
solução de que, dali em diante, não me envolveria mais com
maldições. Agora, como satanista, estavam me pedindo para
começar a fazer isso de novo. Desta vez, a vítima seria uma mu-
lher, possivelmente inocente, cujo único crime era o de ter sido
a esposa daquele cidadão. Isso me incomodou muito, mas eu não
tinha como recusar.

apostasia?
Orion pediu-nos que o deixássemos usar nossa capela de missa
gnóstica e thelêmica, para o ritual de maldição. Sharon concordou,
com alguma insistência minha, mas com certa relutância. No en-
tanto, decidiu não participar do ritual.
Orion me pediu, então, que eu fosse conhecer melhor nosso
“cliente”, enquanto ele iria preparar o lugar para o ritual. Estava
até curioso, de modo que fui para a sala e me sentei ao lado do
sujeito. Ele parecia estar sob uma forte tensão, fumando um cigarro
após outro. Apresentei-me, e ele tossiu, um tanto nervoso, dizendo
Lúcifer Destronado

chamar-se “Andy” (não é este seu verdadeiro nome).


Tratava-se de um sujeito gentil. Sua aparência física fazia-me
lembrar de algum artista de ópera italiana — tive a impressão de
que, a qualquer momento, ele começaria a cantar Dolce Far Niente.
Mas ele não tinha nada a ver com o “bel canto”. Explicou-me sua
situação, como se quisesse justificar o que estava nos pedindo que
fizéssemos. O que ficou claro é que tinha filhos do seu primeiro
casamento e que a ex-mulher (que descreveu era uma mistura da
Lady MacBeth com Lucrécia Bórgia) tinha a custódia deles e os
ensinava a odiar o pai.
168
Andy me disse, quase com lágrimas nos olhos, que já tinha
feito de tudo, mediante todos os meios legais, para obter a guar-
da dos filhos, mas a mulher continuava detendo esse direito. Ele
havia se casado de novo, era feliz com sua nova esposa, mas o fato
de poder ver seus filhos apenas por algumas horas a cada duas se-
manas estava acabando com ele. Tinha até mesmo considerado a
possibilidade de contratar uma gangue e pagar aos bandidos para
acabar com ela, mas teve medo dos riscos e possíveis consequências.
Então, num dia em que estava visitando a Livraria do Ocultismo,
no centro de Chicago, ouviu falar sobre certo Orion, que tinha a
habilidade de amaldiçoar pessoas até a morte. Aquilo lhe pareceu
ser o modo mais seguro de resolver o seu problema de voltar a ter
a posse das crianças, sem nunca ser descoberto.
Foi assim que veio a se achar ali, sentado em nossa sala de estar,
esperando vender a sua alma a Satanás, fazendo sua parte na maldição
de morte da sua ex-esposa, para poder retomar as crianças. Isso tudo
o deixava bastante preocupado. Mas, enquanto conversávamos,
descobri mais algumas coisas que causavam todo o seu nervosismo.
Ele era filho de um pastor adventista do sétimo dia! Sem
dúvida, se considerava cristão. Sabia que o que estava por fazer

“ . . . A mal d i ç ã o s e m causa não se cumpre”


seria considerado uma apostasia de sua fé, mas, para ele, não ha-
via alternativa. Segundo alegava, havia se decepcionado com sua
igreja por causa do legalismo e por causa da hipocrisia que nela
havia (foi esta a expressão que usou). Se eu, na época, conhecesse
melhor aquela igreja, teria percebido que ele não era um adventista
que levasse sua fé a sério, pois fumar é algo totalmente proibido
aos adventistas. Andy parecia arrasado e cheio de conflitos. Senti
pena dele. Perguntei-lhe quanto havia pago a Orion pelos “nossos
serviços”, e ele disse que tinham sido 500 dólares. Surpreso, pensei
comigo: “Nada mau para uma hora de trabalho num ritual.”
Mesmo não me sentindo totalmente à vontade, preparei Andy
para a cerimônia em que ele faria o seu pacto, depois da qual parti-
ciparia do ritual da destruição. Mais uma vez, senti aquela estranha
ambivalência dentro de mim. Uma parte do meu ser entristecia-se 169
por causa desse trágico homem e seu desespero por ter seus filhos
de volta, sujeitando-se a um processo pelo qual, achava eu, confor-
me sua própria crença, iria lhe custar uma grande dor por toda a
eternidade. Ele não acreditava, como nós, que o inferno fosse um
lugar de “gloriosas” orgias e rolar de drogas. Para ele, certamente,
o inferno era um lugar de tormento.1 
Mas, ao mesmo tempo, no meu íntimo, um ativo homem-
-máquina satânico, brilhante como a prata, e movido por uma
incandescente caldeira de ira em meu cérebro, regozijava-se por
mais uma alma ganha para o diabo e pela morte de uma mulher.

O Ritual de Destruição
A cerimônia do pacto transcorreu, como sempre, sem nenhuma
manifestação extraordinária. Em seguida, passamos diretamente
para o ritual de amaldiçoamento. Andy tinha trazido uma foto da
sua ex-mulher, e dela Orion havia feito uma boneca de barro. Tinha
também conseguido alguns fios de cabelo da infeliz, retirados de
uma velha escova. Estas duas coisas formavam o que os ocultistas
chamam de “objetos de ligação”.
É uma doutrina não só do satanismo, mas da maioria dos
grupos de feitiçaria e ocultismo, que é muito mais fácil amaldiçoar
alguém quando se tem alguma coisa dessa pessoa que dê condição
Lúcifer Destronado

ao feiticeiro de fazer uma ligação com ela. Geralmente é algo per-


tencente à pessoa ou, melhor ainda, uma parte do seu corpo, como
um fio de cabelo, uma lasca de unha. É por isso que a maioria dos
praticantes da magia guardam com zelo o seu cabelo cortado e as
aparas de suas unhas, assegurando-se de que não venham a cair em
mãos estranhas.
Orion pegou os fios de cabelo trazidos por Andy e os prendeu
na cabeça da boneca, enquanto cantava, em voz baixa, em “Eno-
quiano”. O Enoquiano é a língua mágica do satanismo, sendo
o Latim sua linguagem cerimonial. O Enoquiano é uma língua
170 estranha, tipicamente satanista, restaurada pelo feiticeiro Dr. John
Dee, o primeiro astrólogo da corte da rainha Elizabeth I, com a
colaboração do seu médium, Edward Kelly. A última parte da
Bíblia Satânica contém todas as chaves enoquianas ou invocações,
com a tradução feita por LaVey de cada uma delas.
Os verdadeiros praticantes da magia sabem que o Enoquiano
tem de ser falado de trás para a frente, para produzir o seu maior
efeito. Isto é muito difícil de ser feito sem a assistência de um
demônio. Eu tinha demônios que me davam condições de falar
em várias línguas diferentes (Grego, Hebraico, Alemão e Latim),
línguas que eu desconhecia (exceto algumas reminiscências do La-
tim escolar). Eles também me capacitavam a falar ou a cantar de
trás para a frente, tanto em Inglês como em Enoquiano, com bem
pouca dificuldade.
Então Orion começou a purificar a câmara do ritual, fazendo
o sino soar nove vezes, borrifando os quatro quadrantes com “água
benta” de um borrifador cheio de urina, e traçando pentagramas in-
vertidos. Invocou a presença e o poder de Lúcifer para testemunhar
a cerimônia. Senti o poder de ferro dentro de mim aquecendo-se
com um fogo negro.
De uma caixa num dos cantos da câmara, Orion retirou um

“ . . . A mal d i ç ã o s e m causa não se cumpre”


porquinho-da-índia que ele tinha comprado numa loja de animais
em Chicago. Consagrou então o bichinho, que se contorcia todo,
a Lúcifer e em seguida cortou sua garganta. Enquanto os jatos de
sangue saíam do animalzinho, ele “batizou” a boneca com sangue,
conforme o ritual de batismo católico romano, dando a ela o nome
da ex-mulher de Andy. A foto dela estava fixada sobre a “face” de
barro da boneca.
Orion tinha instruído Andy a ficar irado quanto pudesse, lan-
çando toda a sua ira e todo o seu ódio contra a sua esposa anterior.
Nós estávamos ali para reforçar o poder do seu ódio, mas, uma vez
que ele a conhecia melhor, era ele quem poderia externar melhor
todo o seu ódio naquela hora.
Enquanto fazíamos a reza enoquiana para abrir toda desolação
e destruição, Andy pôs para fora toda a sua raiva e frustração que 171
os anos passados tinham trazido à sua vida. Senti, então, que toda
aquela ira se erigia em meu interior como se fosse um pequeno
punhal apontado para a cabeça daquela boneca manchada de
sangue que estava sobre o altar. O calor foi aumentando naquela
câmara, de modo que vi gotas de suor escorrerem em meu corpo
e ensoparem o meu manto. Minha mente havia se tornado uma
máquina de malignidade. Era como se um aço em brasa, derretido,
fluísse pelas minhas veias, chegando até minhas mãos. Uma parte
de mim estava amedrontada pelo que estava acontecendo, mas
era uma parte bem pequena e que ficava cada vez menor. Todo o
restante do meu ser estava excitado diante do poder de uma raiva
frenética! Eu estava me tornando o que LaVey chamava de “mons-
truosa máquina de aniquilação”, e isso me dava um enorme prazer!
Meus dedos fecharam-se sobre a invisível garganta daquela mulher
e, com um incrível poder, esmaguei sua traqueia como se fosse o
talo de uma flor! Eu podia ouvir minha respiração ofegante, com
uma fúria que crescia num delírio cada vez maior. Se ela estivesse
ali presente, eu bem que poderia tê-la estrangulado até a morte,
naquela hora.
Orion soltou, então, um grito agudo, cheio de ódio. Deviam
ser os demônios, pois acho que ele não tinha, por si mesmo, como
fazer isso. Atravessou a boneca de barro com a ponta da sua espada
mágica e a ergueu diante do gigantesco símbolo de Baphomet co-
Lúcifer Destronado

locado acima do altar, que contemplava tudo o que ali se passava.


Proclamou, então, em alta voz a maldição, junto com Andy (que
repetia com ele as palavras do ritual, conforme o livro).
Por causa da natureza maligna daquela maldição, e por não
querer ensiná-la desnecessariamente, não vou transcrevê-la aqui.
Basta dizer que Andy repetiu palavra por palavra.
Orion num ato informal derrubou então a “boneca” de barro
sobre o altar rugindo e grunhindo, pedindo a Andy que tomasse
conta dela. Andy prosseguiu externando sua ira e frustração sobre
a boneca. Pegou um punhal que estava no altar e golpeou, cheio
172
de maldade e com toda a ira e frustração, a cabeça e o corpo da
bonequinha, chorando com muita revolta, como se estivesse fora
de si. Por fim, o que restou dela parecia mais um hambúrguer de
barro do que uma forma humana. Andy parou, então, quase sem
forças, totalmente exausto.
— Shemhamforasch! — berrou Orion.
— Shemhamforasch! — repetimos.
Esta palavra é tida como sendo de grande poder no satanismo.
Dizem que é a “palavra” por meio da qual o Senhor criou os céus e
a terra, e Satanás a roubou. Agora ela é tradicionalmente usada para
selar muitos dos rituais satânicos, mais ou menos como um “amém”.
Naquela noite, Orion e sua comitiva foram embora, certos de
que a ex-esposa de Andy morreria em breve, e de um modo bem
terrível. No meu caso, sentia-me totalmente exausto e com náuseas
de tudo que tínhamos feito, embora houvesse forças dentro de mim
que reagiam com incrível entusiasmo.
O interessante é que durante todo o ano que se seguiu não
houve evidência alguma de que a maldição tivesse tido sucesso; a
pior coisa que aconteceu com a mulher foi um resfriado. Aparente-
mente, era o primeiro fracasso de Orion (e, num grau menor, meu

“ . . . A mal d i ç ã o s e m causa não se cumpre”


também). Fizemos ainda vários rituais adicionais, mas a ex-mulher
de Andy demonstrou ser inatingível!
Claro que Andy nunca recebeu seu dinheiro de volta.
Alguma coisa estava impedindo que as maldições funcionas-
sem. Foi nessa época que comecei a ter uma premonição de que
havia poderes que ultrapassavam o poder de Lúcifer. Apenas não
conseguia imaginar que poderes seriam esses.

Notas
1
Naquela ocasião, eu ainda não sabia que os adventistas não acreditam
num inferno eterno, mas na aniquilação total dos maus. Neste, e em diver-
sos outros pontos importantes, carecem de uma base bíblica doutrinária.
Todavia, pessoalmente, não os considero uma seita, no mesmo sentido dos 173
mórmons ou das testemunhas de Jeová. Muitos dos adventistas que conheci
parecem-me novas criaturas em Cristo, apesar de se encontrarem presos ao
seu estranho sistema legalista, que é quase um judaísmo.
13
R espostas a Algumas
Perguntas Difíceis

Todas as perguntas são verdadeiras; todas as respos-


tas são falsas.
— Provérbio satânico anônimo

c omo mencionei alguns capítulos atrás, podemos nos referir


a certas pessoas, por exemplo, os saduceus dos dias de hoje. São
cristãos sinceros, em sua maioria, acho eu, e não aceitam o fato
de que existe um satanismo espalhado por toda parte e vastas
redes de satanistas de diversas gerações que torturam crianças.
Essas pessoas costumam fazer determinadas perguntas que
precisam ser respondidas, e queremos respondê-las da melhor
forma possível.
O fato é que muitos membros da comunidade acadêmica
e até mesmo da Igreja têm assumido uma postura de interesse
cultural (e, por vezes, financeiro) de bastante ceticismo quanto a
uma epidemia de satanismo. Como observa o conhecido estudioso
Carl Raschke:
É difícil, geralmente, avaliar incidentes e casos de satanismo,
por causa dos ventos, que se cruzam, de histeria, ansiedade e
do que se poderia chamar de “síndrome da negação”, de de-
terminados profissionais ligados à área de ciências sociais, que
rejeitam aprioristicamente, mesmo sem um bom motivo, todas
as sugestões — até mesmo onde somente um comportamento
sobrenatural é a questão — de ação do ocultismo.1 

Assim, somos forçados a considerar como suspeito o ceticismo


dos chamados especialistas no assunto, que, em sua maioria, prefe-
rem perder a mão direita a admitir que Satanás (ou Deus) realmente
exista. Temos que manter um ceticismo saudável, verificando se as
Lúcifer Destronado

suas respostas fazem sentido.

• Por que um tal “avivamento satânico” estaria acontecendo


justamente agora?
Esta é uma boa pergunta, mas reflete uma falta de perspectiva
histórica e, possivelmente também, bíblica. Antes de mais nada,
temos de admitir a possibilidade de que isso tem acontecido sempre,
mas, ou ninguém tomou conhecimento maior do assunto ou nun-
ca se preocupou antes suficientemente com essas coisas. Uma das
maiores enfermidades da nossa sociedade hoje é que tendemos a ver
176 a história com os olhos dos dias atuais. Por exemplo, no momento,
todos nós reconhecemos existir sérios problemas de pedofilia e de
violência para com as mulheres; no entanto, há 20 anos, o “bom
senso comum” entre psiquiatras e religiosos era de que tais coisas
raramente aconteciam. E, se acaso acontecessem, seriam por obra
e graça de algum excêntrico, pervertido e barbudo que teria pego
alguém eventualmente num beco.
Agora as estatísticas mostram que mais do que uma entre quatro
mulheres sofreu abuso sexual antes de atingir a idade adulta, e que
não há diferença significativa, nessas estatísticas, quanto a jovens
criadas em lares evangélicos e as de lares não-cristãos.
O defloramento de uma jovem não é um pecado tão terrível
quanto o satanismo? Então, por que os líderes cristãos não o
tinham detectado antes? Seria o caso de se argumentar que não
existe abuso de crianças nem maridos que agridem as esposas nos
dias de hoje só porque os líderes de igrejas não discerniram tais
coisas um século atrás.
O problema, de certo modo, é que a sociedade (cristã e não-
-cristã) simplesmente não havia se sensibilizado, antes, com a
questão desses abusos. Por outro lado, também, até mesmo nós, os

R e s p o s t a s a alg u m a s per g u n t a s dif í c e i s


cristãos, temos a tendência de negar a ocorrência de coisas malig-
nas em nossa sociedade. O nosso coração é enganoso, mais do que
todas as coisas, mais do que a nossa possibilidade de compreendê-lo
(ver Jr 17.9). Preferimos pensar que as pessoas, em princípio, são
amáveis, boas e íntegras. Infelizmente, porém, afirma a Bíblia, não
é nada disso (cf. Rm 3.10,23) 
Prevalece, assim, a possibilidade de que o abuso de crianças, a
violência contra mulheres e o satanismo organizado vêm existindo
há vários séculos, sem que ninguém estivesse muito interessado em ou-
vir falar a respeito. Não faz muitos anos, se uma jovem viesse a seu
pastor e lhe contasse, por exemplo, que seu pai a tinha molestado
sexualmente — sendo o pai alguém da liderança da igreja —, a jovem
seria severamente repreendida como mentirosa. Agora, sabemos que
não há praticamente diferença alguma entre a ocorrência de um 177
incesto em lares cristãos e não-cristãos. Se a Igreja pôde “perder o
trem” nos casos de abuso infantil, por que não poderia tê-lo perdido
no caso do satanismo?
Outra possibilidade, ainda, é que Satanás está realmente pondo
lenha na fogueira nos dias de hoje, porque estamos provavelmente
nos últimos dias. Pessoalmente, creio que o Senhor Jesus Cristo
está voltando muito em breve. É uma ocasião, portanto, em que
Satanás se mostra disposto a aumentar o seu ataque sobre as pessoas,
individualmente, sobre as famílias e a sociedade em geral.
Vale observar que, comparativamente, há bem poucas menções
da atividade demoníaca no Antigo Testamento. Além de incidentes
isolados com pessoas, como Saul, é uma ocorrência extremamente
rara. No entanto, nos relatos dos evangelhos e no livro de Atos, a
atividade demoníaca literalmente explode em cena. Literalmente
legiões de demônios parece que são liberadas na Judéia e na Galiléia.
Isso tem sido destacado por estudiosos da Bíblia, que especulam
haver Satanás intensificado sua atividade, a partir do momento em
que tomou conhecimento de que Jesus se encontrava na terra.
Pois bem, se esse “ativismo total” satânico ocorreu durante a
primeira vinda do Senhor, não é de esperar que também ocorra
antes e durante a sua segunda vinda? Sabemos que a Bíblia diz
que a atividade demoníaca aumentará nos dias que antecederem
o Arrebatamento e durante o período da Grande Tribulação (1Tm
Lúcifer Destronado

4.1-3; Ap 9.2-11; 16.13). Não será, portanto, esse visível aumento


no satanismo, nos endemoninhamentos e nos rituais satânicos uma
parte de tal fenômeno profético? Em outras palavras, tudo pode ser,
até, algo novo que Satanás esteja fazendo para conseguir o maior
número possível de pessoas, antes da Segunda Vinda do Senhor.
Observemos, também, que as duas explicações podem ser vá-
lidas, e uma não exclui a outra. Ambas podem estar corretas. Tanto
o satanismo pode existir há vários séculos (o que é demonstrado
historicamente) quanto, ao mesmo tempo, o diabo pode estar
acelerando o seu ataque, por entender que pouco tempo lhe resta.
178
É importante saber, ainda, que, já por alguns anos, cristãos com
discernimento têm estado em oração, pedindo que essas obras das
trevas venham à luz à vista de todos. O pecado precisa ser exposto
para que o arrependimento possa ocorrer. Esses guerreiros da oração
têm bombardeado os céus com intercessões no sentido de que as
tramas de Satanás sejam reveladas ao mundo, para que as pessoas
tenham conhecimento disso tudo, arrependam-se e voltem-se para
o Deus vivo.
Por mais contristadores que sejam esses relatos sobre as ati-
vidades do satanismo, bem podem significar que o Senhor está
levantando uma grande e tremenda fervura embaixo da sociedade.
A ironia em tudo isso é que, ao mesmo tempo em que alguns
cristãos têm lutado com muito empenho, fazendo poderosas orações
para que sejam expostas as infrutíferas obras das trevas (Ef 5.11),
outros cristãos (nominais e verdadeiros) têm respondido a essas
revelações de dois modos: enterrando a cabeça na areia acadêmica ou
da Psicologia, ou, até mesmo, atacando aqueles que estão expondo
à luz os pecados e os crimes dos servos de Satanás.
• Por que a igreja não tem discernido espiritualmente esse pro-
blema?
Esta é uma pergunta que se relaciona, em grande parte, com

R e s p o s t a s a alg u m a s per g u n t a s dif í c e i s


o conflito cultural a que acabamos de nos referir. O motivo pelo
qual tudo isso passou despercebido no passado é a Igreja ter sido
contaminada por uma atitude racionalista e contrária ao sobre-
natural.
Além disso, em termos de posição política, temos que conside-
rar que, em dois milênios de cristianismo, por cerca de 1.600 anos a
“Igreja” foi unicamente a Igreja Católica Romana, uma instituição
não muito dada a ter discernimento espiritual.
Falemos de História por um momento. Do ano de 350 d.C.,
aproximadamente, até os anos de 1500, a Igreja Católica per-
seguiu e martirizou autênticos cristãos, que realmente criam
na Bíblia. Assim, a única Igreja que teria alguma condição de
agir contra o satanismo e o abuso ritual estava muito ocupada em
queimar bruxas (fossem de fato ou tomadas como tais) e em matar
cristãos verdadeiros, crentes na Bíblia.2  179
Os verdadeiros cristãos formavam um movimento clandestino
praticamente sem poder político algum. Mesmo que tivessem dis-
cernimento dos perigos do satanismo, eles estavam muito ocupados
em sobreviver, sem condições de fazer qualquer coisa a respeito, a
não ser orar.
Sob outro enfoque, a Igreja Católica criou, talvez não inten-
cionalmente, um problema. Como muitos sabem, transformou
a questão de caçar adoradores de Satanás numa brincadeira sem
graça, trágica, antibíblica e supersticiosa. Em vez de se guiarem
por meio das Escrituras, os líderes da Igreja Católica (domini-
canos, em sua maioria) apoiavam-se em superstições e em seus
próprios esforços para descobrir os obreiros do diabo. Você era
canhoto? Então, devia ser bruxo! (O termo “sinistro” provém de
vocábulo latino que significa “mão esquerda”!) Você tinha um
olho defeituoso? Era outro indício! No caso de mulher, se tivesse
marcas estranhas no corpo, seriam por causa de seus “espíritos
familiares”! Você sofria de epilepsia? Então era bruxo, ou bruxa,
com toda a certeza!
Todo esse lixo supersticioso (e antibíblico) levou a cultura
europeia para os braços do racionalismo e trouxe ao cristianismo
(ou melhor, ao catolicismo) uma péssima imagem! Isso favoreceu
totalmente o jogo do diabo.
Por volta do século 19, a maioria das pessoas do Ociden-
Lúcifer Destronado

te, de qualquer nível de instrução, já tinha visto o suficiente


em matéria de caça às bruxas e aos endemoninhados. Então,
os demônios passaram a ser relegados à África, por “estar ainda
em grandes trevas”, e a outros lugares de “nativos supersticiosos
e incivilizados”, que não tinham sido expostos “à maravilhosa
luz da ciência moderna”. As pessoas civilizadas com problemas
demoníacos eram, na maior parte dos casos, rotuladas como
dementes ou com insanidade mental (apesar de que é difícil com-
preender, cientificamente, como a mente — que pertence à esfera
espiritual, e não física — pode ficar doente!).
180 Por ter a Igreja Católica Romana dado à Bíblia uma imagem
negativa, as pessoas passaram também a ignorar o testemunho bí-
blico sobre a realidade da ação demoníaca. Deste modo, o motivo
por que a Igreja não discerniu e não agiu contra aquelas atrocidades
não se aplica ao período após a Reforma Protestante.
Ainda assim, um cuidadoso estudo da Bíblia mostra-nos que
em nenhuma parte das Escrituras o Senhor promete revelar à sua
Igreja tais obras de iniquidade. A missão primordial da Igreja é
pregar o evangelho aos perdidos (Mt 28.18-20). Sua missão secun-
dária é ministrar as necessidades dos santos, ajudando-os a crescer
até a plenitude de Jesus. Isso, às vezes, implica ministrar a pessoas
na área de libertação da opressão demoníaca.
A Igreja não foi designada para ser uma força policial do tipo
que faz “busca e destruição”. Toda vez que a Igreja saiu em busca
de ímpios e criminosos, e os puniu, os resultados, a longo termo,
foram desastrosos. Como não há evidência bíblica alguma de que
o Senhor deseja que a sua Igreja saia por aí descobrindo grupos
satânicos, como esperar que Ele possa estar conduzindo líderes da
Igreja, de maneira sobrenatural, a expor esses grupos?
Certamente que temos o direito de buscar o discernimen-

R e s p o s t a s a alg u m a s per g u n t a s dif í c e i s


to espiritual para detectar falsos irmãos em nosso meio (1Co
12.10; 1Jo 2.18,19; 4.1-4), ou identificar grupos satânicos que
possam estar ameaçando os membros das igrejas locais. Infeliz-
mente, até hoje, muitas vezes, não se buscou esse discernimento.
Na verdade, o discernimento espiritual total tem sido uma parte,
negligenciada do ministério do Espírito Santo na Igreja até os
dias atuais.
Agora que pastores e obreiros cristãos aprenderam a orar e a bus-
car esse tipo de direção do Espírito, tais coisas vêm sendo expostas!
Louvado seja o Senhor! Antes, quando os cristãos ignoravam festi-
vamente tais perigos, ninguém orava por ajuda ao Espírito Santo.

• Onde foram parar os corpos?


Esta é uma pergunta relativamente mais fácil de responder. Os
181
satanistas, como todo bom feiticeiro, gostam de reciclar as coisas.
Sei que isso soa como uma terrível piada de mau gosto, mas, real-
mente, quase nada é desperdiçado dos corpos humanos dos que
foram sacrificados.
Sem entrar em detalhes horripilantes, uma grande parte da
cultura do xamanismo (ancestral paleolítico do satanismo) gira em
torno do consumo de partes de um corpo para fins de magia. Muito
pouco, ou talvez nada, é perdido. Isto é uma verdade na maioria
das “denominações” satanistas.3  Até mesmo os ossos humanos são
mercadorias de alto valor para fins de magia. Muitas vezes, os ossos
são usados, ou portados pelas pessoas, consigo, de modo semelhante
ao que faziam os índios americanos, que carregavam consigo os
ossos de animais que consideravam como totens sagrados.
Fomos informados por nossos superiores da confraria satânica
que, em muitas comunidades, os satanistas procuram alcançar e
“converter” (isto é, corromper) os agentes funerários oficiais, o que
irá facilitar-lhes o livre acesso aos crematórios, para dar sumiço a
um corpo ou a ossos humanos.
Infelizmente, não é difícil para eles praticar tal corrupção.
Embora a atividade funerária seja regulamentada por lei, e a
maioria dos agentes funerários seja honesta, pessoas que prestam
um serviço de utilidade pública estão sujeita ao pecado.
Satanás conhece nossas fraquezas melhor do que nós, e é com
Lúcifer Destronado

facilidade que, por meio de seus servos, pode apresentar uma ten-
tação que o agente funerário considere irresistível. Isto acontece não
somente com não-cristãos. Pelo que podemos observar, até mesmo
“poderosos homens de Deus”, do Corpo de Cristo, podem cair em
abomináveis pecados ao serem tentados. Não temos que ficar tão
surpresos, assim, ao sermos informados de que um agente funerário
não-cristão (ou até mesmo salvo por Cristo) foi corrompido por
Satanás. Digamos que o cidadão tenha uma fraqueza pelo jogo ou
pelo sexo ilícito. O grupo de satanistas, sob a direção de seus mes-
tres demoníacos, providencia tudo o que a pessoa almeja e ainda faz
182
feitiços para torná-lo mais suscetível e vulnerável à tentação.
Sabemos que isso é realmente possível de ser feito, pois no
passado lançamos tais feitiços, com eficácia. Tínhamos rituais com
os quais podíamos fazer com que a pessoa ficasse irresistivelmente
atraída em lascívia por alguém. Era uma força com tamanho poder
de compulsão que quase ninguém teria como resistir. A menos que
a pessoa fosse cristã e estivesse vivendo bem próxima de Jesus, teria
bem poucas defesas contra as manipulações desse tipo.
O agente funerário é levado a ficar com uma enorme dívida
no jogo, ou então a ter encontros sexuais comprometedores com
uma moça atraente (e talvez de menor idade) do grupo satânico.
Isso é filmado em videoteipe. Então chantagens e ofertas de pagar
a dívida lhe são apresentadas, em troca de sua membresia e leal-
dade ao grupo. Tendo tal pessoa entrado no grupo satânico, ela é
filmada em situações ainda mais agravantes (geralmente sem ter
conhecimento disso), e assim a armadilha fica completa. A pes-
soa fica amarrada e compelida a fazer tudo que o grupo lhe peça
e não tem como recusar nada, pois do contrário, cairá em total
desgraça (e talvez até mesmo seja objeto de uma ação judicial)

R e s p o s t a s a alg u m a s per g u n t a s dif í c e i s


em sua comunidade.
Assim, levando-se em conta que partes do corpo humano
(tanto de adultos como de crianças) são usadas na magia, e que
para isso há “colaboradores” da atividade funerária, não é difícil
saber por que, normalmente, não são encontrados os corpos dos
sacrificados.
Falemos agora dos corpos que são encontrados mutilados ou
com sinais satânicos pintados ou marcados sobre eles. É trágico,
mas são em grande número, como afirma um destacado pesquisador
dessa matéria.4
Todavia, esses atos geralmente não são obra de satanistas
sérios, mas sim de fanáticos, praticantes de ocultismo isolados ou
satanistas adolescentes, que estão apenas começando e não se liga-
ram ainda a um grupo. Estes são apenas a ponta de um grande e
hediondo iceberg.
183
De vez em quando, a confraria satânica permite que um corpo
seja encontrado, apenas para lançar medo na comunidade. Isso é
feito de tal modo que não seja possível ligar qualquer membro
do grupo ao crime. Chamo isso de terrorismo espiritual, e está se
tornando cada vez mais frequente.

• Como é que os satanistas obtêm as vítimas?


Sinto muito ter que dizer isto: esta pergunta é muito fácil de
ser respondida. Em primeiro lugar, obviamente, depende de que
tipo de vítimas estejamos falando. Os sacrifícios de crianças, que
estão entre os mais “apreciados”, são muito simples de realizar.
Como meu próprio mentor satânico observou, “bem poucos bens
de consumo no mundo são tão fáceis, tão baratos e tão prazerosos
de se produzir como um bebê”.
Apesar de que esta observação possa criar calafrios na coluna
de qualquer pessoa de bem, reflete a mentalidade satânica por
excelência. Bebês são adquiridos de diversas fontes:
1. Comprados de pais dependentes de drogas, pagos com drogas.
2. Concebidos e nascidos dentro do grupo satânico; não che-
gando nem mesmo a existir legalmente, por não serem registrados
em cartório.
3. Raramente, ainda, raptados.
Por exemplo, 20 anos atrás recebemos um treinamento inten-
sivo em partos, para que pudéssemos dar assistência ao nascimento
Lúcifer Destronado

de crianças sem a ajuda de médico, fora de hospital e sem registros.


Diziam-nos que isso era para manter quaisquer crianças que tivés-
semos fora do controle governamental, escolas comuns e de suas
“más influências cristãs”.
Conhecemos e temos ministrado Cristo a muitas mulheres que,
no passado, foram forçadas a dar o seu bebê para uma abominação
desse tipo. Muitas tinham sido criadas dentro de um grupo here-
ditário de satanistas. Felizmente, o Senhor Jesus Cristo tem poder
para trazer cura e integridade a elas.
O tão afamado sacrifício de “virgens”, geralmente meninas
184 nem bem chegadas à puberdade, ou (mais raramente) de um
menino, é o segundo tipo de sacrifício mais utilizado. Esses jo-
vens são mortos porque os satanistas (e muitos outros adeptos
de outras seitas ocultistas) são convencidos de que o sangue de
alguém na puberdade é especialmente carregado de “virtudes” má-
gicas. Isso vale, principalmente, para as moças. Esses sacrifícios são
obtidos com:
1. Crianças criadas dentro do grupo até a adolescência, não
registradas.
2. Crianças de rua, ou que fugiram de casa, cujo número acha-
-se na escala de milhares.
3. Jovens e crianças pegos nos muitos círculos de pornogra-
fia infantil. Tais círculos muitas vezes acham-se ligados a grupos
satanistas. As crianças que “não se comportam direitinho” por
vezes são usadas nos sacrifícios para ensinar os outros a se compor-
tarem — e tais sacrifícios eventualmente são filmados em filmes
pornográficos infantis “pesados”.5 
4. Jovens e crianças raptados. Tais casos só são mais raros porque
despertam a atenção das autoridades.
A condição física da vítima de ser realmente virgem nem sem-

R e s p o s t a s a alg u m a s per g u n t a s dif í c e i s


pre é requerida, pela impossibilidade de se garantir a virgindade
nestes dias de licenciosidade sexual (especialmente nas hipóteses
2 e 3 acima). Mas, quando é de fato virgem, é tida como uma
oferenda com atributos excepcionais para a magia, pois Satanás e
seus escravos têm o maior prazer na profanação da inocência. Com
frequência, há crianças que, criadas dentro do grupo satanista, são
mantidas virgens, no sentido técnico da palavra. São simplesmente
brutalizadas de outros modos.
Em seguida, na lista dos possíveis candidatos ao sacrifício,
acham-se os cristãos, de qualquer idade, especialmente aqueles que
no passado foram servos de Satanás. São mais difíceis de serem
obtidos e, geralmente, requeridos somente nos mais elevados níveis
de satanismo. Tais pessoas — quase sempre adultas — têm de ser
sequestradas, o que torna esse tipo de sacrifício relativamente raro.
E o que contribui neste sentido é que o Senhor protege seus filhos, 185
e de modo geral os servos de Satanás não podem tocar neles, exceto
em casos bem raros quando o Senhor permite que crentes sejam
martirizados para cumprirem seus propósitos, em prol de sua glória.
A última classe de vítimas são adolescentes e adultos que
não se enquadram em nenhuma das categorias anteriores. São
os sacrifícios tidos como de “menor valor”, mas constituem uma
solução melhor do que a de não haver sacrifício algum. É impor-
tante compreender que, em certos rituais, os satanistas acreditam
que necessitam ter a “energia mágica” de um sacrifício de sangue
para apaziguar a ira do seu mestre. Portanto, numa situação
desesperadora, podem lançar mão de qualquer ser humano. As
pessoas escolhidas poderão ser:
1. Satanistas do próprio grupo, que tenham deixado de cum-
prir, de algum modo, e em grau maior, a vontade do diabo.
2. Aqueles que não têm familiares, ou pessoas de rua, cujo
desaparecimento não deixe pistas para investigação.
3. Pessoas (geralmente mulheres) sequestradas. Mais uma vez,
isto é pouco frequente, por causa dos riscos perante as autoridades.
As mulheres são consideradas mais valiosas do que os homens
como vítimas, e os adultos mais jovens são de maior valor do que
os da terceira idade.
Do exposto, então, pode-se concluir que não faltam lugares
e modos pelos quais vítimas de todas as idades possam ser obtidas
Lúcifer Destronado

para os sacrifícios.

• Por que esses criminosos não são pegos e condenados?


Em grande parte, a resposta já foi dada em algumas das ex-
planações anteriores. A falta de evidências físicas (corpos, etc.)
geralmente é suficiente para assegurar que ninguém seja indicia-
do. Satanistas que atuam com seriedade não são tolos a ponto
de realizar rituais desse tipo em suas casas. Geralmente os rituais
que envolvem crimes graves são executados em lugares isolados
e longínguos, ao ar livre ou em templos totalmente escondidos e
186 secretos.
Mesmo que um satanista seja acusado de um crime desses,
numa investigação policial geralmente nada será encontrado que
possa incriminá-lo, pois, a menos que haja orações de intercessão,
muitas vezes os espíritos familiares dos satanistas (isto é, os de-
mônios) os informam com antecedência sobre qualquer ação das
autoridades contra eles.
Por exemplo, uma mulher a quem ministrei o evangelho tinha
acusado seu sogro das mais pavorosas atrocidades sobre seus três fi-
lhos num ambiente satânico, e com a cumplicidade do marido dela,
pai das crianças. Esses horrorosos rituais tinham se dado no porão
de uma ampla casa de campo, dos parentes do marido. A polícia
foi chamada, mas não encontrou prova alguma. “Por coincidência”,
o porão daquela mansão estava “em reforma”, para tornar-se uma
sala de gravações.
Além disso, os satanistas sérios (como o mencionado no pará-
grafo anterior) frequentemente são “colunas” (gente importante)
da comunidade local — médicos, advogados, juízes, clérigos, policiais.
São pessoas contra as quais a maioria dos policiais não terá muita
condição de se envolver, a não ser contando com provas muito

R e s p o s t a s a alg u m a s per g u n t a s dif í c e i s


boas e evidentes. Tais provas geralmente não existem. E, se even-
tualmente descobertas, o grupo satanista pode enviar elementais de
fogo (demônios) para queimá-las completamente ou consumi-las
de outro modo no local em que se encontrem, antes que o caso
chegue à Justiça.
Além disso, as primeiras pessoas que, numa cidade, os satanis-
tas procuram atrair são oficiais de justiça e outros que atuam no
judiciário. Tais pessoas são “convertidas” à confraria pelos mesmos
métodos mencionados anteriormente com respeito aos agentes
funerários, bem como por meio de ramos inferiores do satanismo,
como, por exemplo, a Maçonaria.6  A presença dessas pessoas pra-
ticamente assegura que aqueles casos jamais sejam julgados.

Falta de sistema? 187


Enfim, mesmo quando esses casos são levados à Justiça, seja de abuso
de crianças e rapto, seja homicídio, o conteúdo satânico geralmente
é encoberto do conhecimento público. Em parte, porque a maioria
dos promotores receia que, se trouxer material de rituais satânicos
para dentro dos processos, isso irá desmoralizar a sua credibilidade.
Por outro lado, prevalece uma situação de “negação” entre a maio-
ria dos delegados de polícia e promotores, que acreditam que tais
coisas não existam.
Como destaca o tenente de polícia Larry Jones, do estado de
Idaho, Estados Unidos, que passou grande parte da última década
investigando este fenômeno, não há legislação penal específica em
que tais crimes possam ser enquadrados.7  Nos relatórios de crimes,
para fins estatísticos, não há campos em branco a serem preenchidos
com respeito a aspectos que indiquem um ato de natureza satâ-
nica. Os delegados de polícia e promotores públicos, além disso,
geralmente estão sobrecarregados e não têm interesse algum em
se empenhar no sentido de que aspectos do ocultismo e de rituais
criminosos sejam inseridos na legislação penal.
Ora, se não se possui um esquema adequado para facilitar o
indiciamento de crimes relacionados a práticas satanistas, então tais
crimes nunca serão considerados como tais. Poderá ser instaurado um
processo criminal, e até mesmo pessoas poderão vir a ser condenadas.
Mas, como já aconteceu com diversos réus de múltiplos crimes, os
Lúcifer Destronado

elementos de satanismo nesses crimes nunca virão à tona. Enfim, a


polícia não estaria, de todo modo, preparada para reconhecer esses
elementos e, por isso, não lhe convém tocar nesse assunto.
Além do aspecto legal, há outro muito importante: qual é a
cidade que está disposta a tornar-se conhecida como um lugar que
acolhe satanistas e pedófilos? Pense em como tais notícias seriam
desastrosas para a imagem pública de uma localidade! Até as pro-
priedades naquela cidade poderiam sofrer depreciações; para não
falar da indústria do turismo... Portanto, o fato é que a maioria
dos governantes locais está coberta de razões para manter esses
188 assuntos escabrosos fora das manchetes dos jornais com relação às
suas comunidades.
Nós mesmos tivemos a oportunidade de conversar com vários
funcionários das áreas de polícia e justiça, cristãos, frustrados com
seus superiores, que tudo fizeram para dificultar investigações e
esconder elementos de ocultismo em crimes, ou que simplesmente
não deram atenção alguma a esse assunto. Por todas essas razões,
nada é reportado a esse respeito, e os indícios do ocultismo não
constam nos processos.

Notas
1
Raschke. Painted Black, op. cit., p. 105.
2
Para obter uma exposição mais detalhada sobre este assunto triste e
difícil, veja o livro do autor, Wicca: Satan’s Little White Lie [Wicca: a
mentirinha branca de Satanás]. Chick Pub., 1990, (especialmente o
capítulo 4).
3
É importante entender que os satanistas não constituem uma seita
unificada, tal como acontece com os mórmons ou as testemunhas de
Jeová. Sua única unidade se dá em nível espiritual, uma vez que todos

R e s p o s t a s a alg u m a s per g u n t a s dif í c e i s


recebem ordens da mesma fonte — de Satanás e seus demônios. Há
bem poucas ligações entre os vários ramos e muita diversidade no
modo como alguns dos rituais são feitos, havendo, assim, também,
diferentes formas pelas quais os restos mortais são eliminados, nos
diferentes grupos.
4
Raschke, p. 105.
5
Tais filmes “pesados”, produzidos clandestinamente, são vídeos de por-
nografia explícita em que pessoas, geralmente mulheres ou crianças,
são sexualmente brutalizadas e em seguida mortas realmente diante das
câmeras. Esses filmes são difíceis de serem produzidos e adquiridos, mas
existem em grande número. Algumas lojas e certos serviços especializados
da Internet são usados por pessoas pervertidas para a compra ou permuta
de tais filmes.
6
Veja Maçonaria — Do Outro Lado da Luz, op. cit, para mais informações
sobre as ligações do satanismo com a Maçonaria. 189
7
Ten. Larry Jones. Arquivo 18, Boletim #91-3, p. 7-8. CCIN, Inc. P.O.
Box 3696, Boise, ID, USA — 83703-0696.
14
O s túneis de Typhon

Os humanos são uma presa fácil.


— Frase de um filme de terror baseado numa
obra de H. P. Lovecraft

c omo já disse, comecei a ter consciência de que Lúcifer não era


o ser mais poderoso existente. Assim, dei início a uma busca na
magia, para descobrir que seres seriam mais poderosos do que o
meu “Mestre”. Imaginei, então, que teria de pagar alguma coisa
para estabelecer alianças também com eles.
Mesmo diante do insucesso da maldição lançada sobre a
ex-esposa de Andy, eu não me deixara abalar e continuava meus
estudos de satanismo e magia. Tinha uma postura um tanto filosó-
fica diante dos questionamentos e, muitas vezes, gostava de repetir
uma frase do filme Little Big Man [Pequeno Grande Homem]: “Às
vezes, a magia funciona; às vezes, não.”
Convenci-me de que, quando as coisas não davam certo, era
porque cometera algum erro ou, então, por causa de alguma coisa
que não me fora ensinada ainda. Acreditava que a magia era uma
verdadeira ciência. Deste modo, continuei procurando obter a
sabedoria oculta.
Com a minha promoção, tive acesso a mais informações de
iniciação, especialmente nos campos da Maçonaria e magia inte-
respacial.
Há duas áreas de magia principais nos níveis mais elevados da
Maçonaria europeia. Uma é a busca de uma suposta imortalidade,
por meio da alquimia e da ioga tântrica. A outra encontra-se em
duas ciências irmãs: a megapolissomancia e a arqueometria.
Antes que você corra atrás do seu dicionário, apresso-me a in-
formar que provavelmente você não encontrará estas duas palavras
em dicionário algum. Suas definições são as seguintes:
Megapolissomancia (Megapolis é a palavra grega para uma grande
Lúcifer Destronado

cidade; omancia significa magia, como em necromancia, cristalo-


mancia [uso da bola de cristal], quiromancia [leitura de mãos], etc.)
Assim, a palavra significa “magia na construção de uma cidade”.
Arqueometria (que significa “medições ou medidas antigas”).
Esta é a ciência da magia do que também é chamado de medidas
proporcionais à Terra. Há uma crença de que construir templos,
túmulos, círculos de pedra, etc. em dimensões baseadas nas dimen-
sões da própria Terra é algo extremamente poderoso.
Os maçons eram construtores de cidades, e a megapolisso-
mancia é a suposta arte esotérica maçônica de construir cidades e
192
edificar templos com dimensões espaciais corretas, para que melhor
atraiam espíritos demoníacos. Tais construções seriam assim os
mais eficientes repositórios de energias da magia. A construção de
certos espaços e determinados ângulos nos aposentos criaria portas
de acesso a outros universos. Esses universos poderiam, então, ser
penetrados e conquistados pelo mago, de modo bastante semelhante
ao de Colombo quando conquistou o Novo Mundo. Assim, sob
a direção de meus guias (tanto humanos como espirituais demo-
níacos), dediquei-me a esses tipos de magia com que meu antigo
mentor, Aquarius, tinha-se envolvido.
Outra abordagem à mesma “ciência” pode ser feita por meio
da criação de ícones. Os “ícones” (do grego eikon, que significa
“imagem”) são bem conhecidos na Igreja Ortodoxa. São pinturas
de Jesus, de Maria e dos santos, consideradas sagradas. São tidos
como verdadeiras “janelas para o céu”. Os ortodoxos creem que
um ícone de Jesus pode trazer sua presença real à igreja onde se
encontra.
Os fiéis ortodoxos levam muito a sério os ícones. Seus pintores
dos ícones são considerados poderosos homens de Deus. Em algu-
mas casas, o marido e a esposa cobrem o ícone ou o viram para a
parede quando têm relações sexuais, porque se sentem embaraçados
diante do que o ícone possa “ver”. E conta-se a história de um ladrão
que, ao entrar numa casa, virou os ícones de frente para a parede,
para que não pudessem vê-los roubando. A concepção que se tem
é que o ícone é uma porta aberta para uma realidade celestial.
Ensinaram-me a fazer diferentes tipos de ícones. Além de íco-

O s tún e i s d e T y p h o n
nes ortodoxos típicos que fiz, de São Pedro, São Paulo e da Virgem
(lembre-se de que eu era consagrado bispo da Igreja Ortodoxa
Russa), fiz também ícones que representariam portas de acesso
a universos alternativos, assim como outros que retratavam seres
sagrados da magia. Então eu me projetava de modo astral naquelas
pinturas e procurava explorar outros universos.

O s te r r í v e i s se n h o r e s d o es p a ç o cósmico
193
Foi aqui que a magia, a ficção científica e a fantasia começaram a
interligar-se. Um dos objetivos dessas visitas a outras dimensões do
tempo e do espaço era o de contatar as entidades que mandavam por
lá. Fora-nos explicado que o nosso universo é relativamente jovem
em relação a outros. Assim, os seres supremos do nosso universo
(Deus e Lúcifer)1  estavam ultrapassados por “seres supremos” de
outros universos.
Isto, pensava eu, poderia ser a solução do dilema sobre quem seria
mais poderoso do que Lúcifer. Meus mentores diziam haver seres nesses
outros universos anteriores aos tempos em que o nosso Deus e Satanás
estavam ainda de fraldas. Eram os assim chamados “Terríveis Senhores”
dos espaços exteriores: o espaço que existiria além do espaço.
Comunicando-me com uma entidade que dizia ser Aleister
Crowley falando do além — por meio de uma incorporação —,
fiquei sabendo que isso era uma parte substancial dos segredos
arcanos contidos em sua obra The Book of the Law [O Livro da
Lei].2  Isso se confirmou posteriormente nos escritos de Kenneth
Grant, um dos sucessores de Crowley como dirigente para assuntos
externos da O.T.O.3 
Grant demonstrou que a religião de Crowley era um reavivamento do
culto, feito na Antiguidade, à estrela Sirius (isto é, Set, o deus-demônio
egípcio). Uma característica singular de Sirius é que ela é uma estrela
binária, sendo Sirius A a brilhante estrela avermelhada que se vê na
constelação Canis Major (Cão Maior), e Sirius B, uma estrela escura,
totalmente invisível da Terra, exceto através de modernos radiotelescó-
Lúcifer Destronado

pios. Assim, Sirius A representa o deus “bom” no sistema de Crowley,


Heru-Paar-Kraat. Sirius B, o deus da guerra, Ra-Hoor-Khuit. Além
disso, no entanto, Sirius B é uma espécie de buraco negro, sendo assim
a melhor porta de acesso a outras dimensões — especialmente para o
celebrado universo B. Os deuses de Crowley supostamente acham-se
fora do nosso universo. Usando uma palavra do autor ocultista H. P.
Lovecraft, eles são “transyuggothianos” (ou seja, estão além de Yuggoth,
um nome ocultista para o planeta Plutão).
Nosso universo não “para” na órbita de Plutão, mas os pratican-
tes da magia solar e lunar, que operam segundo esses ritos, acreditam
194 que além daquele planeta cessa o poder mágico de influência do
Sol, e os poderes dos deuses celestiais (ou seja, Jesus, Satanás, etc.)
começam a diminuir substancialmente. Um novo tipo de “espaço”
e de reino da magia passa a prevalecer. Meu objetivo era ir até o
espaço “transyuggothiano” e manter contato com aqueles terríveis
senhores, os “Grandes Seres da Antiguidade”, como eram chamados.

O clamor a cihulhu
Howard Phillips Lovecraft tornou-se um escritor famoso entre os
aficionados de livros de terror e ficção fantástica. Ele viveu cerca
de 50 anos atrás e escreveu livros marcantes, com um enfoque de
décadas à frente do seu tempo. Suas histórias —, por exemplo, The
Dunwich Horror [O Terror de Dunwich], The Dweller on the Thre-
shold [O Habitante Primitivo]e The Color Out of Space [A Cor Fora
do Espaço] — eram de horror mescladas com a ficção científica,
de um modo estranhamente discreto e sóbrio, mas, mesmo assim,
muito amedrontador.
O s tún e i s d e T y p h o n
195

Certificado [tradução na página seguinte] que mostra Sharon Schnoebelen,


com o nome de Alexandria Pendragon, tornando-se Grau 33 da Maçonaria
e maçom na Irmandade Paládio. Nota: Todas as honras mais elevadas são
conferidas oralmente; nenhum certificado é conferido.
A L G D G A D L’ U

Baphometis Sanctum Sanctorium; O. T. B.

Pela ordem do Mais Sábio Soberano Grande Inspetor Geral, 33o, e


de acordo com o Regimento Interno do Supremo Grande Concílio,
e o R*C, da Suprema Grande Loja do Cubo Luciferiano do Tem-
plo de Baphomet, a Irmandade da Estrela Brilhante do Paládio, o
Lúcifer Destronado

abaixo-assinado e ilustríssimo Irmão foi elevado do 18o da honrada


Soberana Princesa de Rosa Cruz para o sublime e honorário grau de
Grande e Antiga Inspetora Geral e Noiva de Astarote. Isto é feito sob
a autoridade da Ordem Secreta da Grande Loja Franco-Européia da
Co-Maçonaria, La Grande Loge Symbolique de France, e segue a
tradição do recém-falecido Albert Pike, 33o, Grande Inspetor Geral,
da Grande Loja original da Irmandade de Maçonaria Paládio.

Alexandria Pendragon, 33o


Alexandria Pendragon 33o 13 de julho de 1980

Esta é uma notificação oficial de que foi conferido o Grau Trigésimo


Terceiro, por meio do sempre honrado elo da Irmandade, La Chaine
196
de Union, da Loja Co-Maçônica Francesa, e em concordância com
a vontade do Supremo Hierofante 97o, das Secretas Ordens Esoté-
ricas, abaixo listados, da Grande Loja de todas as Ordens Européias
Co-Maçônicas, e a Irmandade dos Illuminati.

Loja do Olho Onivisor No 13


Ordo Templi Baphomet
Rosa Cruz de Heredom
Irmandade Gnóstica da Luz
Ordem do Paládio
Fraternitatis Rosae et Aureae Crucis
Antiga Ordem dos Cavaleiros Templários

Irmão David D. DePaul 33o 13 de julho de 1980


Soberano Grande Inspetor Geral, 33o
Illuminatis Primus,
Societé Des Illuminés
Região Norte, EUA.

O que talvez não se saiba tanto de Lovecraft é que, mediante
seu avô, ele teve acesso a livros de ocultismo muito raros e secre-
tos. O avô de Lovecraft participava da Maçonaria egípcia. Assim,
grande parte do que Lovecraft escreveu, como ficção, baseia-se
em práticas reais do ocultismo,4  bastante avançadas e perigosas.
Kenneth Grant (líder da O.T.O.), LaVey e outros escritores dão
prova disso.5 
Lovecraft pode ter experimentado pessoalmente essas formas

O s tún e i s d e T y p h o n
de magia “transyuggothiana” e se aterrorizado. Sabe-se que ele teve
uma vida de muito pavor, praticamente como um recluso. Nunca
se casou; tinha medo de se aproximar do mar; temia descer a um
sub-solo. Foi muito semelhante a um grande número de protago-
nistas de suas histórias, geralmente personagens jovens e bastante
sensíveis, da sua fictícia Universidade Miskatônica, que descobriram
horríveis livros antigos de magia negra e sabedoria da Antiguidade,
como O Necronomicon.
Esses seus personagens jovens são quase sempre solteiros, 197
muito eruditos, que chegam próximo da insanidade mental
por causa do que descobrem no âmbito da magia “transyuggo-
thiana”. Seus contos e novelas podem bem ser autobiográficos,
como uma maneira de Lovecraft elaborar o seu terror terapeu-
ticamente sobre folhas de papel. Ele fala meticulosamente de
“rituais indescritíveis”. Alude à manipulação genética, com
mutações monstruosas, muitos anos antes de tais coisas serem
compreendidas cientificamente.
Acreditávamos que esses deuses “transyuggothianos” fossem
mais poderosos do que os do nosso universo e que tivessem acesso
à consciência humana por meio de nossos sonhos, pesadelos e
insanidade mental.
O bizarro panteão de supostos deuses fictícios de Lovecraft era,
curiosamente, semelhante ao dos seres que os satanistas da vida real
de Crowley procuravam alcançar com seus rituais. Havia Azathoth,
um deus cego e idiota que balbuciava palavras sem nexo bem no
centro da galáxia. Havia Cthulhu, mestre dos sonhos e deus das
águas, sepultado na cidade de R’lyeh, submersa no Pacífico. Havia
Nyarlathotep, o estranho deus egípcio parecido com Set, cuja ma-
nifestação levaria instantaneamente qualquer ser humano à total
insanidade. E o pior deles, Yog Sothoth. Cheguei até mesmo a saber
o nome do meu misterioso “visitante” das margens do lago ao norte
Lúcifer Destronado

de Wisconsin — aquele que me apareceu quando era adolescente


e toldou as estrelas e fez com que as árvores se movessem sem que
houvesse vento. Por motivos que não se sabe ao certo, as florestas
setentrionais de Wisconsin são um lugar “sagrado” dessas antigas
divindades, talvez por causa da influência dos índios americanos da
região. Aquele que eu tive o “privilégio” de ver chamava-se Wendigo
pelos indígenas, isto é, “o que anda sobre o vento”. No idioma mis-
terioso de O Necronomicon, ele era referido como Ithaqua. O fato
de que eu, então um adolescente não iniciado, tivesse sido capaz
de vê-lo de relance, fez com que me sentisse muito lisonjeado.
198 Cada um desses seres impossíveis era mais maligno do que o
outro. Contudo, eram também fontes de um inimaginável poder.
Certamente, isso era causado pelo fato de serem de outros univer-
sos, em que as leis da Física, do tempo e do espaço eram diferentes
— como também os limites entre o bem e o mal. Fomos levados a
acreditar que o “mais bondoso” desses seres era tão malvado e insano
que, comparado com eles, Satanás seria uma fadinha bondosa.
Todavia, era de se supor que esses seres não desejavam ser
adorados. Simplesmente queriam obter nossa energia. Isso era
verdade, especialmente, com respeito a Cthulhu (pronuncia-se
“Tulu”). Teríamos que ir às margens do lago Michigan (a maior
concentração de água mais próxima) e realizar determinados ri-
tuais para despertá-lo de seu sono na cidade da Antiguidade que
se achava enterrada no fundo do oceano. A invocação de Cthu-
lhu é na verdade um dos poucos rituais publicados da metafísica
transyuggothiana. Evidentemente que foi LaVey quem teve a
ousadia de publicá-la.6 
Quemetiel — “Multidão de Deuses”
Belia’al — “Vileza”
A’athiel — “Incerteza”

Thaumiel
“Deuses
Gêmeos”
Satariel Ghagiel

O s tún e i s d e T y p h o n
“Escondido” “Escondedores”

Golachab Gha’agsheblah
“Inflamantes” “Os Que Castigam”
Thagirion
“O Litígio”
199
Samael A’arab Zaraq
“Caluniador” “Corvo de Dispersão”
Gamaliel
“Traseiro
Obsceno”
Túneis
de Typhon
Lílite (ligando todas as
“Dama da Carapaças de Qlifoth)
Noite”

A Árvore do Mal ou Qlifoth:


O Lado Transyuggotiano do universo da Magia
Durante muitas noites, fizemos essa invocação às margens do
lago, querendo despertar o Gigante Adormecido para que abrisse a
porta e assim outros Seres da Antiguidade pudessem vir reinar sobre
a Terra. O fato de realizarmos esses rituais deixaram nossa mente
aberta a outras esferas bastante estranhas. Nossos sonhos passaram
a ser perturbados por imagens de ventosas, tentáculos e faces de
seres de uma obscenidade e um terror sem limites. Portas foram
Lúcifer Destronado

abertas para suas dimensões. Ou era assim ou estávamos sofrendo


de uma insanidade mental coletiva.
O que realmente cada um de nós experimentava é algo que
nunca saberemos ao certo. No entanto, essas experiências criaram
em nós alterações reais que, em sua maioria, não seriam dignas de
serem comentadas num círculo de pessoas educadas. Eu, particu-
larmente, passei a sentir forte desejo de praticar os mais perversos
modos de relações com outros seres humanos. Explicaram que
isso era porque um componente-chave na operação da magia
transyuggothiana é que os orifícios do corpo humano tornam-se
200 literalmente portas de acesso a estranhas entidades infernais. O
ingresso a esses bizarros universos nos possibilitava um avanço
espetacular no poder da magia: mas a que estranho preço?

Para dentro dos túneis


São estes os chamados “Túneis de Typhon”, nome de um antigo
deus egípcio da destruição (versão mais moderna de Set). Condu-
ziam a lugares, civilizações e templos que por pouco não me levaram
à loucura tão somente pela sua manifestação. Fiquei totalmente
transtornado ao passar por eles. Aquela parte estranha, de fogo
líquido metálico dentro de mim, aflorava à minha pele. Sentia-me
como se fosse feito de ferro ou aço vivo. Depois de alguns meses,
dei um nome ao ser transcendente em que eu estava me tornando:
uma “metamáquina”. Quando sentia aquelas tenebrosas e impla-
cáveis forças crescer dentro de mim, dizia a mim mesmo: “Lá vem
de novo minha metamáquina!”
As viagens que fazia por aqueles túneis, no entanto, não eram
nada divertidas. Entrei em templos onde havia pessoas que pareciam
vivas, mas tremelicavam a carne adoecida, cancerosa. Estavam vivas,
sim, mas não realmente. Havia templos construídos sobre metais
líquidos, tipo mercúrio, que se deslocavam sob os meus pés como
se fossem de gelatina. Em cada lugar, havia lições de dor e tormento
a serem aprendidas. Era uma espécie de estranho sadomasoquismo
espiritual.
Comecei a gostar da dor que sentia, a fim de poder ganhar

O s tún e i s d e T y p h o n
os troféus necessários para acumular em mim maior poder na
magia. Algumas das experiências eram ainda piores do que aque-
las da “Catedral da Dor”, e comecei, então, a questionar comigo
mesmo se aquela também não seria outro universo acessado por
esses túneis.

U m li v r o re a l m e n t e am a l d i ç o a d o
Por meio de meus relacionamentos na confraria, já havia conseguido 201
obter grande parte de O Necronomicon, a principal fonte da magia
e da espiritualidade transyuggothiana. Contrariamente à crença
popular, não se trata de um livro de ficção, mas de magia (um
livro de trabalho) da mais tenebrosa espécie. Seu título poderia ser
traduzido como “O Livro dos Tons dos Mortos”, ou “O Livro das
Leis dos Mortos”.
Tal como as propostas de Aleister Crowley com respeito a Set
e sua religião de Thelema, O Necronomicon é conhecido a partir
do antigo paganismo árabe. Supõe-se que haja sido escrito origi-
nalmente em árabe, nos tempos de Maomé, por Abdul Al-Hazred,
também chamado de Al Azif. Consta que o texto foi ditado ao
feiticeiro árabe — mais ou menos como aconteceu com o Livro da
Lei de Crowley — por algum ser interdimensional. Dizem, ainda,
que, ao terminar de escrever, ele foi esmagado a ponto de tornar-
-se uma pasta sangrenta, sendo devorado vivo por enormes bocas
invisíveis, diante de muitas testemunhas.
Há um livro de título O Necronomicon sendo presentemente
publicado, mas que contém apenas as partes mais leves do original
completo. Mesmo assim, é incrivelmente sinistro. Tive um exemplar
de uma edição limitada desse livro menor, feita com apenas 666
cópias (naturalmente) e assim dedicada: “Ad maioram Crowley glo-
riam” — uma paródia às palavras que se aplicam somente a Jesus,
significando “a Crowley seja toda a glória”. Não obstante, é apenas
Lúcifer Destronado

um pálido reflexo da incrível malignidade contida no verdadeiro


livro.
Seja como for, era um livro difícil de se encontrar. Meu amigo
proprietário da livraria de obras ocultistas da nossa cidade contou-
-me ter tido problemas na venda de O Necronomicon, não por ser
bastante caro (embora as edições limitadas custassem US$ 60),
mas por motivos bem menos tangíveis. A primeira pessoa para
quem ele vendeu um exemplar era um feiticeiro, que o levou para
casa, um apartamento situado num prédio de muitos andares, em
Milwaukee. Mal tinha passado pela porta, e colocado o livro sobre
202 a mesa, um afável gato preto, seu “animal familiar”7, ficou como
louco. Começou a urrar, girando furiosamente em pequenos círcu-
los, no chão da sala. Então, sem mais nem menos, o gato parou de
repente de rodar e foi lançado, como que por um tiro de canhão,
contra o vidro reforçado da janela panorâmica da sala, caindo de
uns 12 andares para morrer lá embaixo.
Como a maioria dos bruxos considera seus animais como
“sistema de alarme de prevenção à distância”, o feiticeiro levou o
livro imediatamente de volta à livraria, pedindo a devolução do
pagamento.
Relato ainda mais trágico foi feito ao dono da livraria por outra
pessoa que comprou o livro. Era um homem casado, que tinha uma
filha de cinco anos. Quando comprou o livro, ele o levou para casa e
o colocou numa prateleira. Sua filhinha não o perturbou durante toda
aquela tarde, desde que ele chegou em casa com O Necronomicon.
É que ela foi para o andar superior. Depois, a encontraram morta,
no banho, com a garganta cortada por uma lâmina de barbear.
Eu mesmo cheguei a possuir um exemplar desse livro por mui-
tos meses — mas sem nenhum efeito negativo, o que me causou
certo espanto. Hoje, esse livro é vendido em livrarias de pequenos
shoppings, nos Estados Unidos, a um custo de apenas quatro dóla-
res — sendo que a maioria dos compradores são adolescentes. E é
um livro incrivelmente perigoso!

O lad o es c u r o d o É d e n ?

O s tún e i s d e T y p h o n
O Necronomicon baseia-se em grande parte na magia negra sumeria-
na, da Antiguidade, a apenas algumas gerações após a fundação de
todas as falsas religiões posteriores ao dilúvio de Noé — a Babilônia
de Ninrode. Não é coincidência que Crowley se referisse às suas
mulheres como “Babalom, a Mulher Escarlata”.8 
Esse livro maligno alimentou minha “metamáquina” com tudo
que ela desejava. Ensinou-me a metafísica da dor, da raiva e da ira.
Levou-me para a parte de trás, o lado escuro, da Árvore da Vida
(mencionada anteriormente). Embora a Árvore Cabalística seja 203
usada em magia ritual, geralmente ela é tida como magia branca.
Todavia, como ocorre em todas as formas de magia e metafísica,
há sempre uma dualidade.
No reverso da Árvore da Vida, há um tipo de Árvore do Mal,
chamada Qlifoth (pronuncia-se “cli-fót”). Esta palavra pode ser tra-
duzida por “meretrizes” ou “cascas” (esta última acepção no sentido
de coisa oca, dessecada e sem vida). Todos os rabinos, mesmo os
místicos, mantêm-se totalmente afastados da Qlifoth. Para mim,
porém, era o que mais me agradava.
Através dos túneis de Typhon, e com os rituais de O Necrono-
micon, tive condições de ir até o “hiperespaço da magia” e chegar
ao lado escuro da Árvore da Vida, que Kenneth Grant chamou de
“O Lado Escuro do Éden” (título de seu livro), um dos primeiros
a abordar essa arquitetura blasfema da magia.
O nível mais baixo da Árvore de Qlifoth (representando seu
nível menor de malignidade) tem o nome de Lílite. Lembra-se
dela? É a demônia amante de Lúcifer e mãe de Set, a padroeira do
aborto, do assassinato de crianças e da “morte do berço”.
A segunda esfera planetária para a qual viajei chamava-se, por
incrível que pareça, Gamaliel, e era apelidada de “Traseiro Obsce-
no”. O pináculo da Árvore do Mal era uma total, completa e perfeita
Dualidade — uma zombaria à unicidade absoluta do verdadeiro
Deus dos hebreus.
Lúcifer Destronado

Viajar por esses caminhos e túneis era como passar por uma
tubulação de esgoto espiritual, mas isso era necessário para que eu
me preparasse para o próximo grande passo. Eu tinha que superar
toda a moralidade, todos os conceitos do que é bom ou mau, para
poder atingir o grau ou nível seguinte, o de Adeptus Exemptus.
Estaria preparado, então, para cruzar o Abismo e tornar-me
um Mestre — e em condições de levar uma vida humana para os
Terríveis Senhores dos Espaços Exteriores.

204 Notas
1
Os luciferianos e satanistas, em sua maioria, são, tecnicamente dualistas,
ou seja, acreditam em duas divindades, essencialmente iguais, mas opostas
uma à outra. Isto está de acordo com a tradição dos antigos zoroastrianos,
que acreditavam em Ahuru Mazda, senhor da luz, e Ahriman, senhor
das trevas. O cristianismo, apesar de por vezes referido como dualista, na
verdade não o é. Deus e Satanás não são iguais, na Bíblia Sagrada. Deus
é o Criador, e Satanás é uma de suas criaturas.
2
Para uma explicação maior da revelação de Crowley, veja o capítulo 5.
3
Veja seus livros The Magical Revival [O Reavivamento da Magia], Aleister
Crowley and the Hidden God [Aleister Crowley e o Deus Oculto], The
Nightside of Eden [O Lado Escuro do Éden], etc.
4
Raschke, Painted Black, op. cit., p. 303.
5
Veja The Satanic Rituals [Os Rituais Satânicos], de LaVey, e The Magical
Revival [O Avivamento da Magia], de Grant.
6
The Satanic Rituals.
7
O “animal familiar”, desde tempos imemoriais, é um bicho de estimação,
que os feiticeiros possuem, e com o qual desenvolvem afinidades de magia
— tradicionalmente acariciando-o (no caso de bruxas) ou fazendo-o beber
o sangue do próprio feiticeiro. O animal adquire, então, supostamente,
poderes especiais, passando a servir de protetor e confidente. Geralmente,
são “animais familiares” gatos, sapos, corvos, gralhas e, eventualmente,
cães, lagartos e cobras. Os feiticeiros de hoje também têm seus animais
familiares, embora eu não saiba se são alimentados com sangue ou leite
humano. Nunca tivemos um.

O s tún e i s d e T y p h o n
8
Esse excêntrico jogo de palavras tem um significado mágico. Equivale à
soma de 777 e tinha para Crowley um profundo sentido em seu sistema
de magia.

205
15
D esertores das trevas

(...) não é este um tição tirado do fogo?


— Zacarias 3.2

Até agora, estivemos examinando os vários tipos de satanistas e


analisamos as origens e as filosofias dos principais teólogos “satâ-
nicos” de nossos dias. Contudo, é importante ter em mente que tais
grupos são constituídos de seres humanos vulneráveis (como eu), que
têm sido e são envolvidos e enlaçados por Satanás. Como mencio-
nei em capítulos atrás, tais pessoas não são inimigas, mas vítimas.
Até mesmo homens como LaVey e Aquino, no sentido estrito
da palavra, são vítimas, embora em menor grau do que outros. É
evidente que eles também se venderam por uma série de vantagens ao
Enganador-mor. Enganaram-se a si mesmos ou tiveram a ilusão de que
o inferno é um mito e de que Jesus e sua mensagem são totalmente
sem sentido. Temos que orar para a salvação de pessoas assim.
Todavia, muito do que sabemos sobre praticamente todas as
formas de satanismo provém de um tipo bem diferente de vítima:
aquele que se envolveu com um grupo satânico, mas que decidiu
sair dele. Este é um fato raro, mas que, graças a Deus, está se tor-
nando mais frequente.
Costumava-se dizer que o satanismo autêntico é como a Máfia
— o único modo de se sair dele seria num caixão funerário. Jesus
Cristo tem provado, cada vez mais, que isso é mentira. Minha es-
posa e eu somos apenas dois em meio a dezenas de ex-satanistas
que agora são salvos pelo sangue do Cordeiro de Deus. Muitos
de nós poderíamos apresentar relatos verídicos de ameaças de
morte feitas contra nós ou até mesmo de situações que puseram
em risco a nossa vida, totalmente desmanteladas pelo poder de
Deus. O que prova que quando um cristão é de fato Nascido de
Lúcifer Destronado

Novo, Satanás e seus servos não podem voltar-se contra ele sem
permissão de Jesus.
Pessoalmente temos aconselhado dezenas de ex-satanistas,
que agora estão tendo uma vida de vitória em Jesus Cristo. Mas
alguns dos que já aconselhamos, desses desertores do satanismo,
não quiseram, infelizmente, tornar-se novas criaturas em Cristo.
Tinham somente se desligado da “religião”, do modo justamente
como o seu grupo de feitiçaria os tinha ensinado e manipulado.
Não entenderam que Jesus deseja ter conosco um relacionamento,
não uma religião. Haviam vivido muitos momentos sob intensa
208 tortura e, por vezes, tiveram que ser internados depois, como en-
fermos, em sanatórios para doentes mentais. Perdemos o contato
com alguns deles, após algum tempo, e é bem possível que tenham
caído novamente nas mãos de adeptos do seu grupo.
Além da pesquisa relativamente limitada que tem sido feita
por historiadores e outros estudiosos, os que escaparam desses
diferentes grupos ocultistas (em especial os que são novas criaturas
em Cristo) são a melhor fonte de informações sobre essas seitas.
Eles são, na verdade, os que venceram “(...) por causa do sangue
do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram”
(Ap 12.11).
O tenente Larry Jones,1  um crente autêntico, que atua pro-
fissionalmente como agente da lei, tem tido ocasião de entrevistar,
ministrando mais do que o seu próprio “testemunho”, muitas pes-
soas que escaparam dos grupos satânicos. Ele destaca, com muita
exatidão, que essas pessoas precisam realmente ser compreendidas
pelo Corpo de Cristo. Acontece com frequência que muitos cristãos
ficam amedrontados, desnecessariamente, com essas pessoas. Logo
que minha esposa e eu saímos do satanismo, reunimo-nos com
alguns crentes, que se sentiram atemorizados com a nossa presença
assim que souberam do nosso passado. Seu comportamento de-
monstrava terem medo de que algum mau contágio pudesse sair
de nós e atingi-los ou à sua família. Isto é muito triste.
O poder do sangue de Jesus Cristo verdadeiramente é capaz de
nos salvar totalmente. Temos visto que ex-satanistas, que agora são
verdadeiros cristãos, em sua grande maioria tornaram-se maravi-

D e s e r t o r e s d a s tre v a s
lhosos e ardorosos homens e mulheres de Deus. Muitas das pessoas
que vêm a nos conhecer atualmente fazem afirmações como: “Não
dá para acreditar que um casal tão amável como vocês tenha parti-
cipado do satanismo.” É o poder de Jesus! Uma transformação de
fato acontece, na grande maioria dos casos, logo após a salvação. E
acontece justamente o que deveria acontecer. O velho homem, o
“feiticeiro”, foi crucificado espiritualmente, no momento do novo
nascimento, e agora Cristo vive em nós (Gl 2.20).
O tenente Jones diz ainda que os ex-satanistas, salvos, devem 209
ser considerados como de grande valor para o Corpo de Cristo. Eles
provêm do campo do inimigo mortal da Igreja e foram purificados,
lavados e santificados. Muitos deles, se não a maioria, podem ser
importantes fontes de informação. Devem ser tratados não como
inimigos, mas como amigos, tal como os governos costumam
tratar os fugitivos e exilados dos regimes políticos que lhes sejam
ostensivamente contrários.

“ A fe i t i c e i r a nã o de i x a r á s vi v e r ?”
Não é preciso convidá-los para almoçar ou jantar, nem tratá-los com
grandes mesuras. Não é essa a questão. Eles só precisam ser tratados
como novas criaturas em Cristo, que podem ter informações úteis
e importantes a compartilhar. Devem também ser tratados como
pessoas que certamente foram feridas emocionalmente e até mes-
mo, quem sabe, fisicamente. São “feridos de guerra” da batalha que
Satanás tem travado contra a humanidade. Não devem ser vistos
como párias da sociedade, como algumas igrejas infelizmente, os
têm tratado. Devem ser bem-vindos e recebidos de braços abertos,
recebendo sadio ensino bíblico e discipulado.
Fico perplexo ao saber que alguns pastores — graças a Deus
não em grande número — têm ensinado às suas ovelhas a mentira
de que os feiticeiros não podem ser salvos, que está além do poder
Lúcifer Destronado

de Jesus redimi-los. Tem-se ensinado a alguns crentes que os que


fizeram um pacto com o diabo não podem ingressar no Reino de
Deus. Chega-se até mesmo a citar Êxodo 22.18: “A feiticeira não
deixarás viver”, como base bíblica para essa estranha doutrina.
Acredite-me, sou capaz de “apostar”não ser tão rara quanto
geralmente se pensa a possibilidade de uma igreja, com cerca de
uns 50 frequentadores por culto, receber no seu seio um ou mais
idólatras, ou pessoas que aceitam ou até praticam atos de superstição
ou bruxaria. No entanto, não é de admirar que muitos feiticeiros
não confiem nos cristãos, pensando que o nosso desejo é matá-los
210 ou trazer de volta a “Santa” Inquisição. Ensinos de intolerância,
do púlpito, fazem com que uma pessoa supersticiosa ou mística,
que busca a igreja para obter a salvação, se desespere ou se feche
totalmente contra Jesus e a salvação que ele oferece. E o que dizer
sobre compartilhar a Palavra da Verdade de maneira errada? (Veja
2 Tm 2.15.) Esse tipo de ensino é um total contrassenso; o que faz
é trazer desalento àqueles que vêm do ocultismo à igreja, em busca
de ajuda. Também faz com que os cristãos se sintam temerosos de
testemunhar sua fé a feiticeiros e satanistas, o que não deveria acon-
tecer. O que esse tipo de ensino propicia é a glorificação de Satanás,
ao admitir que ele pode fazer algo que Deus não possa desfazer.
É claro que temos de avaliar o que os “desertores” nos digam
— do mesmo modo que temos de avaliar as informações que nos
são dadas por qualquer outra pessoa. Primeiro, precisam ser exa-
minadas em conformidade com a Bíblia, tendo que estar alinhadas
com a Palavra de Deus. Segundo, tanto quanto possível, devem ser
avaliadas à luz de informações confirmadas e dados históricos.
Há uma infeliz tendência por parte dos sobreviventes do sa-
tanismo (que não são suficientemente maduros, como poderiam
ser) de exagerarem suas histórias ou colocarem os acontecimentos
fora de uma ordem cronológica.
O primeiro desses problemas decorre de terem vivido anos
e anos como escravos do supremo egocêntrico do universo. Os
satanistas, em sua maioria, costumam exagerar e mentir para pro-
tegerem sua “imagem” ou impô-la. É desse modo que funciona o

D e s e r t o r e s d a s tre v a s
seu jogo. Quando salvos, devem ser ensinados que os seus antigos
sistemas vivenciais não são mais necessários nem desejáveis. Pode
ser necessário ter que lutar para quebrar esses hábitos. A pessoa
precisa ser lembrada, com muito carinho, de que não é mais um
servo do “pai da mentira”.
O que ainda lhe está muito amarrado à carne é o desejo de
agradar ao seu novo “círculo” de amigos na igreja. Assim, ser um
Illuminatus Primus, acha ele, causará uma impressão bem maior
do que simplesmente dizer que é um simples satanista. Isso torna
211
sua história mais atraente e também parece glorificar mais a Jesus,
porque salvou alguém desse tão elevado grau de perdição. Juntando-
-se estes dois elementos com a natureza pecaminosa da pessoa, fica
mais fácil compreender por que sua história, às vezes, é um tanto
exagerada ou enganosa. Isto não quer dizer que a pessoa não está
salva. Apenas significa que não é perfeita. Que grande revelação!
É aqui que um pastor que seja bom, de doutrina sólida e
discernimento espiritual, pode muito ajudar. Muitas vezes, os que
vêm do ocultismo começam a vida cristã de modo errado, saindo
de imediato para pregar, evangelizando, ensinando na igreja, antes
de serem discipulados e amadurecerem em seu caminho com o Se-
nhor (1 Tm 3.6). Seu interesse em querer ministrar é compreensível
e elogiável, mas é preciso estar, no começo, constantemente sob
supervisão pastoral.
Outro ponto em que aqueles que cuidam de sobreviventes do
satanismo consideram um problema bastante comum nessas pessoas
é a fragmentação da memória e um sentido de descontinuidade na
história de sua vida. Assim, se as histórias do sobrevivente não se
encaixam muito bem cronologicamente, ou não batem exatamente
com a memória de seus contemporâneos, isso poderá ser devido
aos traumas que sua mente sofreu, não a uma deliberada intenção
de faltar com a verdade.
Mas simplesmente porque alguns tiveram problemas, não é
Lúcifer Destronado

razão para desqualificar (como muitos fazem) os testemunhos de


todos os ex-satanistas. Seria o mesmo que dispensar os evangelistas
só porque alguns deles sofreram grandes quedas, como tem acon-
tecido nos últimos anos.

Testemunhos não muito típicos


Bem, que tipo de gente são os sobreviventes do satanismo? Há
vários modos de classificá-los, mas basicamente são de quatro
tipos:
212 1. Uma pessoa nascida e criada numa tradicional família de
satanistas de muitas gerações. Há dois subgrupos:
a) Os escolhidos para liderança.
b) Os selecionados para a procriação, ou para serem vítimas
ou sacrificadas.
2. Uma pessoa criada numa família de satanistas tradicionais,
que nela entrou por adoção legal, troca, compra ou rapto. Isso ge-
ralmente ocorre entre os 4 e 6 anos de idade. Neste caso, as pessoas
são geralmente tratadas como no caso 1-b acima.
3. Uma pessoa nascida numa família em que um dos pais (ou
tutores) e/ou alguém mais dentre seus parentes são satanistas se-
cretos, mas o outro progenitor ou tutor ignora esse fato. Também,
neste caso, a pessoa é tratada como em 1-b acima.
4. Alguém que, no final da adolescência, ou no início de sua fase
adulta, junta-se voluntariamente a um grupo satânico. Tal pessoa
geralmente não é por demais vitimada, embora seja, muitas vezes,
manipulada em situações terríveis. Se, de algum modo, a pessoa
falhar em sua fidelidade ao grupo, é tratada de modo deplorável e,
em muitos casos, assassinada.
Como se pode concluir, o sobrevivente ao Abuso Ritual Satâ-
nico (ARS) normalmente é do tipo 1 ao 3. São pessoas que foram
sistematicamente submetidas a abusos, tanto emocional como física
e sexualmente, de maneira intensa, num período de muitos anos.
Conquanto o tipo número 4 possa ter sofrido alguns traumas e
problemas de ordem emocional, ou tenha se envolvido com drogas

D e s e r t o r e s d a s tre v a s
ou hábitos sexuais pervertidos, normalmente não é tão severamente
atingido como os três primeiros.
Tanto rapazes como moças podem sofrer maus-tratos, mas
as moças geralmente são vítimas mais frequentes, por motivos
diversos.
Como mencionado anteriormente, existem amplas variedades
de satanismo no mundo ocidental. Isto significa que há grandes
variações nos rituais, que, por sua vez, produzem diferenças sig-
nificativas no que diz respeito às vítimas. Não obstante, há certas
213
semelhanças que podem ser observadas nas pessoas que passaram
por ARS, mesmo naqueles posteriormente salvos. Na maioria dos
casos, passaram por:
• Situações em que foram forçados a tomar drogas (narcóticos
e alucinógenos), submeter-se à hipnose, em parte por motivos eso-
téricos ou alquímicos, em parte com o propósito de “desenvolver
o poder da mente”.
• Frequentes períodos de um forçado isolamento de seus pais
e/ou de todo contato humano.
• Molestação sexual num ritual, para assegurar a posse de-
moníaca da criança e perverter para sempre o ato sexual (que o
Senhor criou para ser algo bom) em sua mente e em seu coração.
Geralmente, a criança passa repetidamente por todo tipo possível
de perversão, muitas vezes sob o efeito de drogas alucinógenas.
• Participação forçada em sacrifícios rituais, tanto de animais
como humanos.
• Perversões de eventos bíblicos, em rituais — sendo crucifica-
do, açoitado, sepultado e depois “ressuscitado” pelo sumo sacerdote
satânico.
• Ritos pervertidos de batismo e comunhão, levando a ter
medo de água, de banheiras e banheiros e de pessoas em trajes
clericais. Crianças são “batizadas” com maior frequência de modo
a quase se afogarem na banheira. Às vezes, as pessoas são imersas
Lúcifer Destronado

em sangue.
• Uso de urina, drogas alucinógenas, sangue, sêmen ou fezes
como elementos, de “comunhão”, “água-benta” ou “óleo de unção”.
Isto causa medo de ser ungido e medo do sangue de Jesus.
• Indução forçada à pornografia infantil e à prostituição.
• Rituais de novo nascimento (zombaria à experiência do novo
nascimento cristão), às vezes induzido por meio de alucinógenos,
às vezes de um modo real. Isso significa a criança ser posta dentro
da carcaça costurada de uma vaca, ou égua, morta (ou ainda, mui-
214 to raramente, no ventre de uma mulher grávida morta que teve o
feto removido), ficando lá durante algum tempo. Então, é retirada
através do canal de nascimento e “nasce de novo”, recebendo um
novo nome satânico com o qual é “batizada”.
• Uso de minúsculas agulhas e pinos em áreas sensíveis do
corpo, especialmente naquelas relacionadas com os meridianos da
acupuntura. Uso também de eletroacupuntura e choques elétricos
de alta voltagem.
• Abortos forçados (para jovens adolescentes) ou ser forçada a
matar ritualmente o próprio filho.
• A infame experiência do “buraco negro”, em que uma criança
é pendurada pelos pés de cabeça para baixo num profundo e escuro
buraco cheio de coisas detestáveis (gatos mortos, excrementos, etc.),
ficando ali durante um dia ou dois.
• Processo de fragmentação da personalidade, deliberadamente
induzida.
Peço desculpas pelo conteúdo de mau gosto do que acabei de
expor, mas foi necessário, para esclarecer alguns dos problemas que
os sobreviventes do ARS enfrentam. Como se pode constatar, é um
verdadeiro testemunho do poder de Jesus Cristo o fato de que tais
pessoas possam até mesmo desempenhar as atividades mais sim-
ples depois de salvas dessas horríveis experiências — muitas delas
ocorridas em sua infância.
Algumas questões precisam ser esclarecidas, de modo que
vamos dedicar um capítulo ao exame da base racional para uso de

D e s e r t o r e s d a s tre v a s
drogas, hipnose e fragmentação da personalidade. Além disso, há
determinados sintomas físicos que podem ocorrer em pessoas que
passaram por esse tipo de abuso. Há muita gente que apresenta es-
ses sintomas sem nunca ter tido qualquer envolvimento com ARS,
mas a presença de mais de um ou dois deles pode ser significativa.
Alguns dos sintomas são bem conhecidos, e outros observamos em
nós mesmos ou em dezenas de pessoas com quem trabalhamos:
1. Fotossensibilidade aguda — não poder olhar para a luz do
sol ou luzes fortes. Também sensibilidade à iluminação fluorescente 215
e à emissão de microondas.
2. Anomalias químicas no sangue, incluindo o aparecimento
de raras substâncias químicas nos exames de sangue, sem causa
física conhecida. Também alteração do grupo sanguíneo (algo que
a ciência considera impossível).
3. Epilepsia do lado direito: embora possa ser uma enfermidade
cerebral, pode ser também sinal de a pessoa ter passado por ARS,
tendo, portanto, origem de natureza espiritual.
4. Estranhos tiques nervosos nas mãos e nos dedos — sinais
inconscientes, em que maldições reais estão sendo transmitidas por
meio de “mudras”, isto é, posições místicas na mão e nos dedos
que são uma versão ocultista da linguagem por sinais — em geral,
inteiramente desconhecidas da própria vítima.
5. Peso excessivo ou alimentação desordenada.
6. Longas falhas na memória da infância. Lembranças de ter
dormido por um longo período de tempo.
7. Dores de cabeça de origem desconhecida.
8. Problemas musculares e doenças genitais. Também disfunção
sexual ocasional.
Uma lista mais completa, que entra em maiores detalhes (para
uso, principalmente, por pastores e conselheiros) é apresentada no
Apêndice II.
Lúcifer Destronado

É p o c a s d e pe r i g o
A pessoa que se envolveu com satanismo pode ter associado cer-
tas épocas do ano a determinados eventos satânicos, tal como os
cristãos têm suas associações com o Natal ou com a Páscoa. Na
maioria dos casos, as associações que um ex-participante de ARS
tem são extremamente desagradáveis. Isso porque nos eventos ou
festas satânicas quase sempre a criança é forçada a tomar drogas, ou
é submetida à violação sexual, violência ou tortura e até a morte.
Estas lembranças não são nada iguais às que você possa ter do tipo:
216 “Quem me dera passar o Natal novamente com a vovó!”
Como existem diferentes “calendários litúrgicos” satânicos
por aí, usados pelos mais diferentes satanistas, dependendo de sua
tradição ou linhagem, esse assunto fica um pouco mais complica-
do. É como se algumas igrejas cristãs celebrassem o nascimento
de Cristo e outras, não. Vou começar com os eventos principais e
normalmente celebrados, passando depois aos demais.
Se você estiver ministrando a um sobrevivente de ARS, convém
conhecer quando ocorrem esses eventos, pois podem representar pon-
tos cruciais para a recuperação da pessoa. Uma pessoa suficientemente
sensibilizada poderá sentir a aproximação dessas datas com vários dias
de antecedência — com estresse, depressão ou medo. Poderá também
sentir efeitos posteriores durante vários dias após a data. Os ocultistas
chamam isso de influência do tipo “orbe”. Dependendo do grupo ou
do costume do grupo, os dias dos eventos variam um pouco, ou então
são celebrados no fim de semana mais próximo da data. A lista de datas
do calendário satânico acha-se no Apêndice I.
Uma potente arma que o inimigo tem em seu arsenal para
os sobreviventes do satanismo são os “gatilhos”. Um “gatilho” é
geralmente uma sugestão pós-hipnótica inserida profundamente
na mente do participante de ritual satânico. Tem o propósito de
enredar e prender a pessoa mentalmente e obscurecer lembranças
terríveis dos principais eventos. Mais adiante, daremos detalhes
acerca dos “gatilhos”. Por enquanto, eis um exemplo de como
podem ser usados com relação às datas do calendário satânico.
Os cristãos (e a maioria das pessoas no mundo secular) têm “ga-

D e s e r t o r e s d a s tre v a s
tilhos” emocionais relativos ao Natal, que lhes trazem lembranças,
associações e fortes sentimentos. Ao ouvir certo cântico, o “gatilho”
da pessoa dispara, atiçando sua memória ou despertando reações
emocionais. Isso, evidentemente, é totalmente normal e inocente.
Contudo, para o participante do satanismo, é possível que certas
imagens, palavras, músicas ou gestos sejam usados para reforçar os
comandos de esquecimento de certos acontecimentos dramáticos
por que passou. Por exemplo, se a pessoa foi levada a assistir a uma
cerimônia de partida de uma feiticeira num cabo de vassoura, num 217
dia de Halloween, poderá receber um “gatilho” que posteriormente
lhe bloqueie a memória do terrível ritual.
Um exemplo ainda mais sinistro seria o de um “gatilho” que
constitui uma palavra. Uma menina, ainda bem jovem, é drogada
e/ou hipnotizada e recebe o comando de que, ao ouvir determinada
palavra, terá de agir de certo modo. Assim, na véspera de uma festa
satânica importante, ela — agora já em idade adulta — recebe um
telefonema. Aquele que fala do outro lado da linha lhe diz então
aquela palavra do “gatilho” (é sempre uma palavra especialmente
escolhida que não de uso normal, possivelmente o nome de um
demônio). Ao ouvir a palavra, a mulher entra num transe passi-
vo, hipnótico, e sem alarde deixa a sua casa e vai para um lugar
onde se encontra com o pessoal do grupo. Estes o levam, então,
até um festim satânico e a forçam a participar de rituais profanos,
trazendo-a depois de volta para casa. Ela acorda, no dia seguinte,
não se lembrando dos horrores daquela noite (exceto com uma
vaga sensação de ter tido um terrível pesadelo). Mas ficou com
nova camada de malignidade, acrescentada à sua alma, já cheia de
sentimentos de tortura.
Quando retornarmos a este assunto, mostraremos como o
Senhor pode libertar a pessoa dessa prisão. Todavia, se você é um
crente com um chamado para a intercessão, é importante conhecer
as datas em que estas festas satânicas ocorrem, pois lhe servirá de
Lúcifer Destronado

guia quando orar, e de como fazê-lo, para derrubar as fortalezas


que cercam esses eventos. Também lhe possibilitará saber como
orar pela proteção do seu pastor e de líderes cristãos que venham
a entrar num nível mais acirrado da batalha espiritual, nestes dias
atuais, em que grupos de magia têm penetrado com maior inten-
sidade em toda parte.
Outro ponto a considerar é que, além das datas de eventos, o
sobrevivente do ARS tem outros momentos em sua vida em que
poderá ser mais propenso a vulnerabilidade, em que pode vir a ser
alvo do grupo com que tenha se envolvido, pois são dias em que
218
procurarão fazê-lo voltar a cair na sua malha de manipulação.
Um desses dias, que precisa ser vigiado com muito cuidado, é
o do aniversário da pessoa, ao atingir determinadas idades. Geral-
mente, no caso de crianças que sofreram o ARS, o abuso inicia-se
somente por volta do seu quarto aniversário. Por incrível que pa-
reça, é porque muitos satanistas acreditam que, antes dessa data,
Deus protege seus filhinhos de um modo especial, não podendo
ser corrompidos.
Na maioria das seitas satânicas, são os seguintes os dias de
aniversário que precisam ser especialmente vigiados:
1. O 4o aniversário — quando os rituais e os abusos normal-
mente começam.
2. Aos 13 anos, meninas, e aos 14 anos, meninos (ou no ani-
versário de sua puberdade, o que ocorrer primeiro) — é quando a
criança, se possível, é dedicada outra vez, mediante “noivado” com
Satanás, ou forçada, a menina, a engravidar.
3. 21o (7x3) aniversário — em alguns grupos, é quando a pes-
soa é levada de volta ao grupo para maior programação profunda
e doutrinação.
4. 28o (7x4) aniversário — período bastante crítico, especial-
mente se a época da puberdade não foi, por alguma razão, objeto
da ação ritualística do grupo. Este aniversário, tradicionalmente,
implica assumir com maturidade o sacerdócio satânico (tanto para
homens como para mulheres). Com frequência, “gatilhos” pro-
fundamente inseridos na pessoa começam a disparar com muita

D e s e r t o r e s d a s tre v a s
intensidade. Se a pessoa já está em Cristo, esses dias podem vir a
ser muito estressantes, com muitos pesadelos, impulsos e compor-
tamentos anormais.
5. 56o (7x8) aniversário — outro período bastante crítico.
Ocorrem também “gatilhos”. Não havendo orações adequadas e
intervenção pelo poder de Deus, os “gatilhos” poderão levar a pessoa
de volta ao grupo e a situações em que se verá forçada a abusar de
outras pessoas, completando assim o ciclo.
A puberdade é um período extremamente importante para a
219
criança que sofreu abusos, tanto sob o aspecto emocional como
espiritual. Os feiticeiros acreditam que a puberdade é quando
as habilidades mediúnicas “naturais” de uma criança começam a
alcançar seu pleno poder.
Especialmente para uma jovem, isso é tido como uma opor-
tunidade única para que seja explorada até o limite de sua capaci-
dade, de modo a extraírem dela o máximo grau de benefícios para
o grupo. Assim, é feito um esforço incrível para levar a jovem de
volta ao grupo — pela sua própria vontade, se possível, ou mesmo
contra sua vontade, se necessário.
É claro que nenhuma dessas coisas está rigidamente determi-
nada a acontecer, e o ex-participante do grupo que foi salvo por
Cristo poderá frustrar todos esses planos diabólicos. Louvado seja
o Senhor! No entanto, muitas vezes será necessário que haja oração,
aconselhamento e ação de libertação, para se livrar totalmente das
amarras de encantamentos, impulsos e gatilhos escondidos no seu
interior. Oração e vigilância são necessárias sempre para aqueles que
deixaram os grupos satânicos — especialmente em certas datas do
ano e na época de aniversário.
Se os cristãos, com muito amor, ajudarem as pessoas a se li-
vrarem de suas “cargas”, elas poderão triunfar sobre as trevas que
estejam insistindo se apossar delas e firmarem sua vida no Senhor!
É disso que na verdade elas precisam, e minha oração é no
sentido de que o Corpo de Cristo se faça presente para lhes oferecer
Lúcifer Destronado

tudo isso!

Notas
1
A organização de Larry Jones, Cult Crime Impact Network Inc., [Rede
Impacto de Crimes por Rituais Religiosos] edita um excelente boletim,
“File 18”[Arquivo 18]. Pedidos: P.O. Box 3696, Boise, ID — USA
83703-0696.

220
16
O P rofano graal

Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos


demônios.
— 1 Coríntios 10.21

Nos últimos anos, temos visto um repentino despertar do inte-


resse pela lenda do assim chamado Santo Graal. Filmes de sucesso,
como Escalibur, O Rei Pescador e Indiana Jones e a Última Cruzada,
e ainda o livro, anterior, tão controvertido, Holy Blood, Holy Grail
[no Brasil, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada], fizeram com que
o tema do Graal viesse a ser abordado fora das aulas de História ou
Literatura, tornando o assunto conhecido de muita gente. Graal
também fez parte da nossa jornada espiritual, e é necessário falar
sobre ele, a esta altura, por causa de sua surpreendente e perigosa
relação com as mais tenebrosas magias transyuggothianas, mencio-
nadas nos capítulos anteriores.
Meu primeiro contato com a lenda do Graal foi por meio de
intenso estudo do poeta anglo-americano T. S. Eliot, quase ao final
do meu período de ensino médio. Eliot dedicou-se intensamente,
em sua obra literária, às lendas do Graal e do Rei Pescador, desta-
cando também as cartas de Tarô num poema, The Waste Land [A
Terra Desabitada].
Considera-se geralmente a lenda do Graal como um romance
medieval sobre a busca de um cálice sagrado, que Jesus teria usado
ao beber na Última Ceia. Esse mesmo cálice, segundo a lenda,
teria sido usado por José de Arimateia no Gólgota para colher um
pouco do sangue vertido do corpo de Jesus quando atingido por
uma lança, na cruz.
Depois da ressurreição e ascensão do Senhor, diz a lenda, José
de Arimateia (supostamente rico comerciante de estanho) teria
levado o Graal consigo num navio seu, numa viagem missionária
Lúcifer Destronado

destinada a proclamar o evangelho. Sua viagem o teria conduzido


a um dos pontos mais distantes do Império Romano — a hoje
Grã-Bretanha. Diz-se que ele e 12 companheiros estabeleceram-se
num local da costa sudoeste da Inglaterra, perto do que hoje é o
canal de Bristol. O povoado que se criou ali veio a ser conhecido
como Glastonbury.
Depois da morte de José e seus 12 parceiros, no início do segun-
do século, o Graal teria se perdido. Neste ponto, a lenda se divide
em diferentes versões. Algumas associam a busca do Graal, que teria
acontecido então, com um misterioso Rei Pescador, que fora ferido
222 e cujo ferimento somente poderia ser curado se o Graal lhe fosse
entregue por um genuíno cavaleiro. Outras versões dizem que o Graal
foi parar nas mãos do semimístico rei Artur e seus Cavaleiros da Tá-
vola Redonda. Outros ainda o relacionam aos misteriosos Cavaleiros
Templários e suas cruzadas ao Oriente Médio.
Mais recentemente, alguns estudiosos afirmam que toda a lenda
do Graal não passa de puro paganismo com aparência cristã. Já
havia antecedentes pagãos do Graal, tanto na Inglaterra como em
outros lugares, sendo os mais notáveis as lendas galesas do “angus-
tiante Annwyn (expressão galesa que significa Hades, ou inferno)”
e o lendário Caldeirão Negro de Cerridwen (um dos nomes e uma
das faces da deusa da feitiçaria).

c ristão ou pagão?
A Bíblia não dá a menor importância ao cálice usado pelo Senhor
na Última Ceia. Mas será que o Graal é apenas uma superstição
romântica do catolicismo, semelhante à procura da relíquia da “Ver-
dadeira Cruz”? Ou será que há algo de tenebroso e sinistro por trás
desse objeto? É algo cristão, pagão, ou até, quem sabe, satânico? Para
entendermos isso, temos de voltar à minha dúvida pessoal.
Na Wicca dos dias de hoje, a lenda do Graal é um dos mitos
principais em torno do qual as bruxas alimentam sua tradição. Foi
a partir das minhas iniciações na Wicca para o segundo e terceiro
graus que comecei a entender por que esse assunto me fascinava
tanto. Aprendi que o Graal é um símbolo da Grande Deusa,
relacionando-se, particularmente, à deusa das trevas Cerridwen

graal
e seu caldeirão.
Na Wicca “oficial”, diz-se que a deusa tem três formas. É

O pr o f a n o
adorada como Deusa Virgem (lua nova), como Deusa Mãe (lua
cheia), e como decrépita Velha Sábia (lua minguante). Alguns ra-
mos cultuam ainda a deusa como amante e como irmã, de modo
a terem as cinco pontas do pentagrama (estrela de cinco pontas)
tão comumente visto em feitiçaria. 223
Cerridwen é o nome tradicional da deusa Decrépita. Aprendi
que na antiga lenda era ela a detentora do Caldeirão Negro da
Imortalidade. Deste caldeirão bastaria apenas um gole para se ter
incríveis percepções, sabedoria e poderes sobrenaturais. Dizem ter
sido deste modo que o maior dos poetas druidas,1  Taleisin, obteve
poderes — com apenas um gole do caldeirão!
Este mesmo caldeirão foi posteriormente “removido” (roubado)
do reino secreto de Annwyn por Artur e seus cavaleiros e usado
para fazer ressuscitar pessoas mortas.

O re i d e ou t r o r a e d o fu t u r o ?
Quando iniciante em feitiçaria, deixei-me levar pelo idealismo
das lendas do rei Artur. Na verdade, escolhi “Artur” como meu
nome de magia ao me tornar membro do grupo dos druidas.
Lia tudo o que me vinha às mãos a respeito do rei. Sua vida é um
dos mitos mais preservados da história dos povos de língua inglesa.
Nesses últimos anos, livros como As Brumas de Avalon, de
Marion Zimmer Bradley, revelaram as profundas raízes pagãs e de
bruxaria da lenda do rei Artur, mostrando, assim, por que ela é tão
importante para os feiticeiros. Pode ter existido ou não realmente
um rei Artur, mas isso não era o importante para nós. O que nos
Lúcifer Destronado

deleitava era o poder dos símbolos ou arquétipos místicos contidos


em sua história.
Teria sido Artur, como se descreve, um monarca cristão que
levou a verdadeira fé à Bretanha pagã (representada no mito por
personagens como Merlim — essencialmente um druida — e Mor-
gana — uma bruxa)? Ou talvez tenha sido um rei-sacerdote mago,
com um conselheiro druida, e que procurava manter viva a velha
religião (Wicca) numa Inglaterra cada vez mais cristã? Não importa
como a lenda fosse contada, realmente isso não tinha importância.
Havia muito de idealismo e nobreza, e foi isso que de início me
224
atraiu, como jovem feiticeiro. Havia também um elemento pro-
fético, quase escatológico (do fim dos tempos), naquela lenda que
ressoava profundamente em meu íntimo.
Segundo a lenda, o rei Artur foi ferido mortalmente numa
batalha ardente, quase apocalíptica, contra seu filho ilegítimo
Mordred, que era muito mau. Moribundo, ele arremessou sua
espada mágica, Escalibur, de volta às mãos da Senhora do Lago,
e um barco veio para levá-lo num esquife. Este barco, com três
mulheres misteriosas (a Deusa Tríplice?), levou-o para Avalon,
uma ilha mística que alguns dizem localizar-se perto da atual
Glastonbury — talvez em outra dimensão. Não sabemos se de
fato ele morreu ou sobreviveu.
O que se diz é que quando a Inglaterra veio a passar pelo seu
momento mais tenebroso, pela sua maior crise, estando prestes a ser
conquistada, Artur despertou do seu esquife. Levantou-se e, tomando
de volta Escalibur em suas mãos, lutou contra os inimigos do país,
expulsando-os e restaurando a glória de Camelot. É por isso que o
rei Artur é chamado de “O rei de outrora e do futuro”.
Há algumas fortes semelhanças entre esta lenda e a vida, a
morte, a ressurreição e a segunda vinda de Jesus Cristo. De mui-
tas maneiras, Artur é quase um anticristo, no sentido de ser um
falso Cristo. Mas eu não pensava nisso, nem isso me incomodava.
Com ansiedade, esperava a volta do rei Artur, tal como os demais
feiticeiros.
A fantasia de um reino benevolente, em que a justiça e a lei
prevaleciam, tendo um soberano aristocrata no trono — com drui-
das e cristãos trabalhando lado a lado em harmonia, era muitíssimo

graal
atraente para mim. Até mesmo o episódio da trágica mudança

O pr o f a n o
de Guinevere (a esposa do rei Artur), cometendo adultério com
Lancelot (seu maior cavaleiro e amigo), e a subsequente destruição
da Távola Redonda continha estranhas nuanças bíblicas (Artur =
Jesus, Lancelot = Judas).
Toda essa nobreza, heroísmo e a alta qualidade dessa literatura
(via Tennyson, Mallory, etc.) foi usada para introduzir o Santo 225
Graal clandestinamente como um Cavalo de Troia, em nossa vida.
A busca do Graal constituía uma das duas tarefas mais importantes
do reino de Artur (sendo a outra a criação da Távola Redonda).
Dependendo de qual seja a versão da lenda que se esteja len-
do, um ou dois dos seus cavaleiros (Galahad e/ou Percival) de fato
descobrem o Graal, o que os leva a certa esfera celestial da qual eles
quase nunca retornam. Algumas lendas até mesmo mencionam que
Galahad morreu de êxtase e foi trasladado para o céu.

Q u a l é o se g r e d o d o graal?
Com a publicação, alguns anos atrás, de O Santo Graal e a Linhagem
Sagrada,2 ocorreu uma mudança repentina de rumos quanto a este
mistério. Os autores, Baigent, Leigh e outros, defendem a teoria
de que o Graal é símbolo de um segredo que (afirmam) poderá
derrubar o cristianismo. Dizem eles que a Igreja Católica tem man-
tido um segredo, que compartilha com uma sociedade secreta, o
Convento de Sião, por quase 2.000 anos. O segredo, em resumo,
é que o “Graal”, na verdade, é uma linhagem de sangue que recua
ao passado até a infância de Jesus e Maria Madalena. O Convento
de Sião seria uma antiga organização secreta oriunda dos Cava-
leiros Templários, responsável pela custódia dessa linhagem real.
Supostamente, o dirigente desse convento é um dos descendentes
Lúcifer Destronado

diretos de Jesus. Dizem os autores que a ideia de um Jesus casado


é tão chocante que destruiria os fundamentos do cristianismo — e
a ideia de haver pessoas andando por aí portadoras do sangue de
Jesus seria algo que completaria essa destruição.
Por que eles acham que isso destruiria o cristianismo, não está
muito claro. A Bíblia nada fala de Jesus ter-se casado. Se ele tivesse
se casado, é, sem dúvida, totalmente estranho o fato de a Bíblia
nada falar a respeito de sua esposa. A única esposa de Jesus mencio-
nada no Novo Testamento é a sua Igreja — a sua verdadeira Igreja.
Mas isso poderia, de certo modo, afetar o catolicismo, porque o
226 seu sacerdócio celibatário (que é antibíblico) baseia-se na premissa
de que Jesus não se casou e que seus sacerdotes deveriam seguir o
mesmo modelo.
Para a maioria dos cristãos, no entanto, uma revelação como
essa — mesmo que fosse verdade — realmente não afetaria os
fundamentos da fé.
Observe-se que esses autores não creem que Jesus é Deus.
Em seus livros subsequentes, eles se revelam como cépticos, que
alegam que Jesus não passa de um personagem judeu messiânico
e que nunca pretendeu criar uma Igreja. A Igreja, dizem, foi obra
de Paulo. Isso não chega a ser nem uma nova tese, mas não tem
suporte algum na História e na Bíblia.
Mas, se Jesus não é divino, então qual é a importância de sua
linhagem? Os autores argumentam que o que importa é que o Va-
ticano acreditava que Jesus era divino e celibatário, por isso seria
seu interesse permanente manter o segredo da família dele. Assim,
seu grande segredo não é um grande trunfo. No entanto, é curioso
observar como esses autores se desviaram do verdadeiro, até mesmo
estranho, segredo do Graal.

“ . . . O n d e a la n ç a e o graal se unem”
Considere o seguinte: todas as lendas dizem que o Graal se perdeu
(ou, pelo menos, que se acha escondido, isto é, oculto) e que é um
cálice do qual flui a imortalidade, a vida eterna.
Quando chegamos ao Terceiro Grau da Feitiçaria, aprende-
mos que o Graal é o símbolo da Deusa, assim como o punhal do
feiticeiro, ou Athame, é o símbolo do Deus Chifrudo. Quando

graal
entramos no sumo sacerdócio dos druidas, aprendemos algo bem

O pr o f a n o
mais significativo.
O ritual sexual (chamado de “o grande rito” em certas tradi-
ções da Wicca), que geralmente acompanha a iniciação ao terceiro
grau, pretende ser algo mais que um simples ato sexual. Por meio
de certa postura, dentro do ritual, acredita-se que um circuito é
fechado. É a fusão de dois sistemas nervosos. Do sistema nervoso 227
da sacerdotisa (i.e., do Graal) flui uma sabedoria sobrenatural.3  O
ritual, escrito por Aleister Crowley, diz em sua invocação:

Abre para mim a secreta via:


Onde as veredas da Inteligência estão,
Entre as portas da noite e do dia,
Para além do tempo e da razão.

Atenta ao Mistério de modo adequado.
Os Cinco Pontos de Comunhão,
Onde a Lança e o Graal se unem, lado a lado,
E os pés, os joelhos, os peitos e os lábios estão.4 

Pelo que nos informavam, ao fazermos isso estávamos nos


unindo a uma antiga “sucessão apostólica” de autoridade de um ele-
vado sacerdócio, procedente de Jesus e de sua “grande sacerdotisa”,
Maria Madalena. Acreditávamos que Jesus trouxera consigo todo o
poder e toda a sabedoria da corrente solar de energia; e que Ele se
unira sexualmente a Maria Madalena, que possuía todas as energias
da corrente lunar da magia. O resultado dessas duas ancestrais (e
muitas vezes opostas) correntes de energia mística constitui algo
verdadeiramente extraordinário.
Por mais blasfemo que pudesse parecer — diziam — Maria
Lúcifer Destronado

Madalena “iniciou” sexualmente os 12 apóstolos. Cada um deles


recebe, assim, um doze avos dessa impressionante combinação de
magia. Pelos séculos afora, desde então, houve uma transferência
dessa pura força, não contaminada, por meio desse ritual.
Sharon foi levada, em 1973, a essa incrível cadeia de iniciação
que já tinha mais de 1.900 anos. Ela, por sua vez, fez a minha ini-
ciação. Uma experiência que me perturbou um pouco, mas não
parou por aí.
Anos depois, disseram-nos que teríamos que reunir as 12
linhas antigas de poder de iniciação para que realmente rece-
228 bêssemos o “Graal” em toda a sua plenitude. O que, então, esse
Graal nos daria? Iríamos adquirir verdadeira imortalidade! Nós
“beberíamos” desse Graal, totalmente cheio, e viveríamos para
sempre!
O “mestre” que nos levou — Sharon e eu — a tudo isso dizia
ter mais de 165 anos. Nossos instrutores nos detalharam os diver-
sos pontos a respeito. Veja a seguir as “montanhas” metafísicas que
teríamos de escalar para que esse alvo fosse atingido:
1. Pedro — o sumo sacerdócio católico romano
2. André — o sumo sacerdócio druida
3. Tiago — o sumo sacerdócio ortodoxo do Leste
4. João — a ordem maçônica
5. Filipe — o sacerdócio tibetano de Bom Pa (budista)
6. Bartolomeu — a linha africana (ashanti), o vodu de hoje
7. Tomé — o hinduísmo e a ioga tântrica
8. Mateus — os videntes iluminados
9. Tiago — a linha dos índios americanos (cherokee)
10. Tadeu — a linha árabe (alquimia), ismaelita e muçulmana
(thelêmica)
11. Simão, o Zelote — o sacerdócio satânico
12. Judas Iscariotes — o sumo sacerdócio satânico

Isto talvez mostre a bizarra peregrinação que teve a nossa vida


(minha e de Sharon) a partir dos anos de 1970. Envolvemo-nos com
praticamente todas essas linhas religiosas, indo atrás desse “Graal”,
procurando estabelecer uma união de todas elas. A “alquimia”
que isso abarcava cresceu intensamente e, é claro, tornou-se cada

graal
vez mais demoníaca. Estávamos metidos numa salada demoníaca
completa!

O pr o f a n o
N a s c i d o d e no v o ?
Muitos dos processos pelos quais passamos não dá para serem
descritos aqui por causa das perversidades envolvidas. No entanto,
229
com o passar dos anos, até mesmo eu comecei a ver algo por trás do
charmoso véu da lenda do Graal do rei Artur. Comecei a perceber
como todo esse processo era cativante e mortal. Tornou-se um ví-
cio sexual letal. Àquela altura, eu já me envolvera com a magia do
tipo transyuggothiana, e tínhamos acumulado quase todas as 12
correntes para alcançar nossa suposta vida eterna.
O perigo (que eu percebera como algo mais) era que, a cada
“corrente” a que me ligava, adquiria uma “bateria” completa de
“homens fortes” demoníacos. Isso acontecia porque o sexo pecami-
noso, fora do casamento, é uma grande brecha pela qual a opressão
demoníaca pode passar de uma pessoa a outra.
A mentira é que aquele que bebe do Graal, consumindo
energias sexuais do tantrismo (ioga sexual), tem a vida prolongada.
Quem conseguir ligar completamente as 12 partes desse processo
enigmático terá uma vida eterna. A pessoa torna-se um ser imortal,
um deus vivo sobre a terra.
Foi durante o antepenúltimo desses relacionamentos sexuais
blasfemos que senti algo que quase me levou à beira da loucura
total. Enquanto praticávamos o ritual, senti como se estivesse sendo
levado a outra realidade — um lugar e um espaço no interior de
Sharon e até além dela.
Encontrei-me ajoelhado numa enorme caverna, cercado por
um círculo de 13 mulheres vestidas com roupas bem estranhas.
Lúcifer Destronado

Lembravam a maneira de vestir das mulheres da época da coloni-


zação da América, só que, em vez de usarem vestidos pretos ou de
cor cinza, com golas, punhos e capelos engomados de cor branca,
usavam, cada qual, um vestido escarlate com um acabamento em
branco. Todas elas demonstravam ser bastante severas e austeras
em sua aparência.
A caverna era cor-de-rosa. No centro, à minha frente, havia
uma rústica fonte de água. A iluminação era difusa e também rósea
e não provinha de ponto algum. A atmosfera era úmida, pesada e
muito quente. Achava-me diante de uma senhora, sentada num
230
trono rosa, de uma beleza triste, mas não envelhecida. Suas sobran-
celhas eram escuras, e seu cabelo era preto tal como a pena de um
corvo. Apesar das vestes que trajava e do ar parado do ambiente,
não havia suor algum em sua fronte. Parecia chefiar o grupo. Ela
acenou para que eu me levantasse e fosse à frente.
— Bem-vindo ao Templo do Graal — disse ela, com brandura.
— Onde estou? — balbuciei.
Ela apenas sorriu com um ar benigno, com um sorriso tipo
Mona Lisa.
— Posso perguntar quem é a senhora? — aventurei-me.
— Sou aquela que estava com você desde o começo, e sou
aquilo que se atinge no fim do desejo — disse a mulher.
Reconheci que ela estava citando um dos rituais da Wicca, o
ritual da “Descida da Lua”, palavras da própria Deusa! Senti-me
sem saber o que perguntar, podendo desperdiçar aquela importante
oportunidade. Procurei, então, colocar minha mente perturbada
nos trilhos e lembrar-me de duas perguntas que, segundo a tradição,
deveria fazer sobre o Graal. Meu pânico aumentou, e tudo de que
pude lembrar-me foi perguntar:
— O que é o Graal e a quem ele serve?
A mulher sorriu de novo e afirmou:
— Eu sou o Graal e sirvo ao Rei.
Levantou-se do trono e disse:
— Eu sou Maria Madalena.
— Mas a senhora viveu há 2.000 anos! — mal pude exclamar.
— E estou viva hoje. Jesus disse que todo aquele que comesse

graal
da sua carne e bebesse do seu sangue nunca morreria.
Lembrei-me de ter lido isso em alguma parte dos evangelhos,

O pr o f a n o
então balancei a cabeça, em assentimento.
— Agora, você está a um passo do Graal. Você terá que beber
desse cálice para nascer de novo — declarou ela, apontando com
a mão para a fonte rosada, rudemente lavrada, bem no centro do
templo. — E então você estará em condições de ir para o décimo 231
segundo nível de poder.
Eu já tinha ouvido falar de nascer de novo, mas não sabia o
que isso significava. Obviamente, pensei que fosse algo que teria de
descobrir por mim mesmo. Com cuidado, então, me virei e cami-
nhei até a fonte. Sentia o olhar de cada uma das mulheres daquele
lugar fixo em mim. Abaixei-me sobre a fonte e fiquei surpreso ao
ver que a água era quente e tinha a aparência de um caldo grosso.
Esperando estar fazendo o que era certo, tomei um pouco daquela
água. Ela foi doce em minha boca.
Nem bem eu a tinha sorvido, vi que havia sido removido
daquele estranho templo. Senti que me movia rapidamente, pas-
sando por imensas distâncias, numa escuridão. Foi ficando mais
frio. De repente, e de um modo totalmente abrupto, vi-me sendo
lançado no piso do templo onde fazíamos nossos rituais, em casa,
encharcado de uma umidade sobrenatural. Sharon imediatamente
encontrava-se ao meu lado, preocupada. Eu estava dando risadinhas,
de um modo incontrolável. O sabor estranho daquele líquido, que
me saciara, estava em meus lábios, e eu me lembrava das últimas
palavras daquela mulher.
Achei que eu tinha nascido de novo e que estava pronto para
colocar a última peça naquele quebra-cabeça!

Notas
Lúcifer Destronado

1
Os druidas (palavra que significa “homens de carvalho”) eram antigos
sacerdotes pagãos, poderosos entre os celtas, com centros de preparação
sacerdotal espalhados por toda a Irlanda, Bretanha, partes da França
e Bélgica e até mesmo no distante sul do Egito. São precursores es-
pirituais da feitiçaria moderna. Praticavam sacrifícios humanos. Os
bardos (poetas druidas) eram o nível mais baixo desse sacerdócio, sendo
responsáveis pelo ensino da magia das canções, da música, da poesia e
dos sons vocais.
2
O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, tradução de Holy Blood, Holy Grail.
232 Publicado no Brasil pela Editora Nova Fronteira.
3
Para uma apresentação mais ampla deste ponto, e de seus grandes perigos,
veja Wicca, op. cit., pp. 189-197.
4
Stewart Farrar, What Witches Do [O Que as Bruxas Fazem], Coward,
McCann & Geoghegan, 1971, p. 94.
17
D issipando as trevas

Cuidado que ninguém vos venha a enredar com


sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição
dos homens, conforme os rudimentos do mundo e
não segundo Cristo.
— Colossenses 2.8

Em meio a tudo isso que estamos vendo com relação ao satanis-


mo, não podemos esquecer de que a nossa primeira missão ainda
é ganhar almas para Cristo. Nada neste livro tem o propósito de
causar medo aos cristãos, embora alguns trechos possam ser um
pouco atemorizantes. Os satanistas são pessoas que estão perdidas,
tal como todos os demais que não estão em Cristo. Eles precisam
saber o que realmente significa nascer de novo!
Os cristãos também não devem pensar que serão atacados ou
assassinados se tentarem dar um testemunho de Jesus aos satanistas.
A maioria dos satanistas que provavelmente você venha a conhecer
serão satanistas enquadrados na lei. Serão do tipo de frequentadores
da Igreja de Satanás, que com muito vigor negarão qualquer envol-
vimento com a ilegalidade. Desse modo, eles não vão rir de você
nem golpeá-lo com um punhal.
Por certo, nenhum encontro evangelístico é sempre totalmen-
te seguro. Na verdade, também não o é nenhum relacionamento
humano. No entanto, queremos lhe assegurar que os satanistas,
em sua maioria, não representam um risco maior, pelo que fazem,
do que, digamos, as testemunhas-de-jeová. Com frequência, se
tem dito, corretamente, que, se alguém teme a Deus, não teme os
homens; mas, se teme os homens, não teme a Deus.
Ironicamente, aquele que fisicamente é o satanista mais “peri-
goso” é, provavelmente, o mais inofensivo em sua aparência. Pode
ser um gentil companheiro de trabalho em seu escritório, de boa
Lúcifer Destronado

aparência, e não uma esquisita adolescente usando um pingente com


uma cruz invertida e tendo os lábios pintados com um batom preto.
É bem possível que atualmente você esteja tendo contato com sata-
nistas e nem se dê conta disso. Apenas tenha em mente que nenhum
satanista poderá tocar em você, crente, a menos que o Senhor dê
permissão a ele.
Em resumo: não permita que este livro o amedronte, impedindo-
-o de testemunhar a tais pessoas. Se você não testemunhar, quem o
fará? Deus as ama, e Jesus morreu por elas, mesmo que amaldiçoem
o nome do Senhor.
234
Os ganhadores de almas percebem que todo encontro em que
há um testemunho de Jesus é campo para uma batalha espiritual.
Os satanistas, na verdade, não estão “mais perdidos” do que qual-
quer pessoa fora da igreja, como os mórmons, e assim por diante.
A qualquer hora em que você esteja procurando ganhar quem quer
que seja para Jesus, Satanás pode atacá-lo. Só que ele não pode
tocar em você sem a permissão do Pai. O cristão que está sob
oração e revestido da armadura de Deus nada tem a temer. Ore
pela proteção do Senhor sobre você, sua família e os seus queridos,
e vá em frente!
Perceba que, em parte, a razão por que eu permaneci preso
a esse incrível mal por tanto tempo foi porque nenhum cristão
jamais testemunhou para mim. Pense nisso! Passei a maior parte
da minha carreira no ocultismo numa grande cidade, e mesmo
assim ninguém se aproximou de mim com a simples mensagem
do evangelho de Jesus Cristo.
Mas sabia que os mórmons, por exemplo, se aproximaram de
mim? A seita do Caminho Internacional também se aproximou
de mim! As testemunhas-de-jeová aproximaram-se de mim! Isso,
porém, não aconteceu nunca por parte de um verdadeiro crente
em Jesus. Talvez os crentes tivessem medo de nós. Mas não há por
que ter tal medo. Esta foi uma das razões por que escrevemos este
capítulo: para que você possa ter alguma percepção do modo como
poderá testemunhar a um satanista.

D i s s i p a n d o a s tr e v a s
c om respeito à oração
O mais importante na vida de quem quer ganhar vidas para Cris-
to é... orar! O ganhador de Deus precisa orar para que Deus lhe
permita ter “encontros marcados”por ele, ou seja, encontros com
pessoas que já tenham sido preparadas pelo Espírito Santo e estejam
prontas para receber a mensagem de Cristo. Se você tem em mente
alguém que acha ser satanista, precisa começar a orar por tal pessoa 235
de um modo bastante específico.
Entenda que todos os que não estão salvos são idólatras. Isso não
quer dizer que tal pessoa tenha estátuas de pedra de uma divindade
gorda e agachada diante da qual se curve. Mas significa que, de fato,
todos têm alguma coisa, em sua vida, que é o seu “deus”.
Um dia eu estava testemunhando a um mórmon. Ele estava
pronto a arrepender-se e entregar a sua vida a Cristo, mas teve medo
de fazer isso por conhecer sua esposa e achar que ela se divorciaria
dele e levaria consigo as crianças. Sua família, por melhor que fosse,
tornara-se seu ídolo. Ela era mais importante para ele do que fazer
o que sabia ser o certo diante de Deus.
Cada ídolo traz consigo um conjunto de crenças. Para um
jovem executivo, seu conjunto de crenças inclui acreditar que te-
lefone celular e carros do ano são o segredo de uma vida realizada.
Para quem está numa seita, o que vale é a doutrina da sua seita.
Qualquer falsa doutrina ou idolatria constitui uma fortaleza que
precisa ser espiritualmente derrubada (2 Co 10.4-5), para que possa
ocorrer um sério avanço no testemunho.
Geralmente, isso é um problema com sérias consequências
para quem está numa seita, porque sua doutrina é efetivamente
sistematizada e bem estudada — e, quase sempre, imposta pelos
outros. É também, geralmente, assumida com considerável in-
vestimento pessoal. Muitos dos praticantes de uma seita se veem
Lúcifer Destronado

como radicalmente diferentes do mundo, num sentido “nobre” e


“separado”, como acontece com as testemunhas-de-jeová ou, de
um modo inteiramente maligno, como os satanistas.
Por ter o satanista dado um passo além dos limites de uma
sociedade normal, há um conteúdo emocional bem maior investi-
do em sua decisão. Por causa disso, as fortalezas da sua crença são
mais difíceis de serem demolidas, porque há fortes compromissos
sentimentais envolvidos.
Lembro-me de que, quando fui mórmon, ao ouvir
pela primeira vez o verdadeiro evangelho, como lutei com
236 ele!... Meu primeiro pensamento, ao ouvir o evangelho da
graça, foi: “Pode ser realmente tão fácil assim?” O pensamento
deslumbrava-me, mas ao mesmo tempo me atemorizava. No
entanto, meu segundo pensamento foi: “O que é que minha
família e meus amigos vão dizer?” Eu tinha feito um estarda-
lhaço para que meus amigos se tornassem mórmons, para que
aceitassem o mormonismo como sendo a “única e verdadeira
Igreja”. Cheguei até mesmo a fazer com que cinco pessoas se
tornassem mórmons! Eu me encolhia todo só de pensar em
ter de ir até eles para lhes dizer que tinha me enganado re-
dondamente. Essa luta retardou minha decisão de me render,
finalmente, a Cristo, por uma semana.

V i n h o no v o e m od r e s no v o s
A mesma reação ocorre com os satanistas, exceto, obviamente, que
por motivos bem diferentes. Assim, recomendamos que, sempre que
possível, sejam feitas orações fervorosas, antes de se testemunhar a
alguém, sobretudo se envolvido com feitiçaria
Se você pinta uma casa nova, basta passar primeiro uma tinta
de fundo e depois pintá-la. Isso é semelhante a testemunhar a uma
pessoa que nunca foi a uma igreja — a um “pagão”. Todavia, se
você precisa repintar uma casa velha, então a coisa é diferente. A
velha pintura precisa ser removida de algum modo, para depois
aplicar-se a nova tinta, em várias demãos. Se você simplesmente
tentar passar a nova tinta sobre a velha, sua pintura poderá ficar

D i s s i p a n d o a s tr e v a s
cheia de bolhas ou, então, descascar em pouco tempo.
Jesus nos explicou isso, dizendo:
Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vi-
nho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres.
Mas põe-se vinho novo em odres novos (Mc 2.22).
Embora, neste contexto, o Senhor estivesse se referindo aos
velhos princípios da tradição judaica, comparando-os com o
seu ensino, o mesmo pode se aplicar a qualquer outra tradição
237
humana, quando ela conflita com o evangelho da salvação. O
modo de remover a velha pintura (a fortaleza) é mediante uma
poderosa oração intercessória. É necessário orar para que sejam
amarrados os espíritos de engano e de mentira (1Tm 4.1), pois
impedem que o satanista ouça e veja a verdade de Jesus — pelo
menos por algum tempo. Em seguida, ore para que o Senhor dê
a você a oportunidade de encontrar-se com a pessoa quando a
interferência demoníaca esteja amarrada e minimizada, de modo
que você possa falar de Jesus.
Tenho visto que um procedimento assim é bastante eficaz. O
que se torna patente é que, conquanto o Senhor não interfira na
decisão final do livre-arbítrio da pessoa, podemos orar no sentido
de que os espíritos demoníacos, que estejam impedindo a pessoa de
ver a verdade, sejam amarrados o suficiente para que ela seja “toda
ouvidos” para a Verdade.
Muitos ficariam impressionados se vissem o que ocorre no
mundo espiritual quando estão testemunhando a incrédulos. Sem
oração, nuvens de “diabinhos” ficam zunindo em torno da cabeça
da pessoa como se fossem mosquitos, tentando distraí-la, confundi-
-la e até mesmo cegando-a ou ensurdecendo-a quanto puderem.
Também haverá interferências externas, como um telefone que
toca, crianças que choram, e assim por diante.
Certa vez, testemunhávamos numa rua da “cidade mórmon”,
Salt Lake City, a um jovem adepto dessa seita, e estávamos perto
Lúcifer Destronado

de levá-lo a entregar sua vida a Jesus, quando de repente irrompeu


uma briga entre turmas de rua, bem perto de nós. Um sujeito
grandalhão, musculoso, foi nocauteado e caiu de cara contra o pa-
vimento, bem à nossa frente. O jovem a quem estávamos falando
de Cristo saiu correndo, pedalando a sua bicicleta, aterrorizado,
sem poder receber toda a mensagem do evangelho. Tudo o que
pudemos fazer foi orar para que alguém mais falasse com ele,
algum dia, de algum modo.
Em outra ocasião, estávamos nos esforçando para que um
ocultista compreendesse o evangelho da salvação. O sujeito literal-
238
mente não conseguia ler Atos 16.31[“Crê no Senhor Jesus e serás
salvo, tu e tua casa”]. Ele lia o versículo 30 e o versículo 32, mas
era como se Satanás tivesse apagado o texto do versículo 31, para
nós totalmente visível! Paulo não estava brincando quando disse:
Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se
perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou
o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça
a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de
Deus (2Co 4.3,4).

Isto pode já ser do conhecimento de muitos; no entanto, temos


visto que há um grande número de crentes que se esforçam por
ganhar almas, mas subestimam o poder da oração. Pensam que
testemunhar é apenas uma troca de ideias — o que, em princípio,
é. Todavia, antes de mais nada, e principalmente, trata-se de uma
batalha espiritual, e da maior magnitude.
Recomendamos, assim, que, antes de você sair para testemu-
nhar, ore:
1. para que o Senhor coloque toda a armadura de Deus em
você (e nos demais obreiros), como também em sua família e seus
amigos e parentes, protegendo a todos;
2. para que o Espírito Santo o guie em tudo o que disser —
dando-lhe as palavras certas que devam ser ditas e as passagens das
Escrituras que devam ser citadas — algo que você possa realmente
ministrar à pessoa, na situação em que ela se encontre;

D i s s i p a n d o a s tr e v a s
3. para que durante o testemunho, não haja nenhum embaraço,
nem interrupções ou perturbações;
4. para que os espíritos de engano sejam amarrados e fiquem
longe da pessoa;
5. para que o sangue de Jesus prevaleça no ambiente ao redor
e haja a proteção dos anjos;
6. por fim, mas certamente da maior importância, para que o
Espírito Santo traga entendimento e convencimento àquela pessoa.
239

Tratando do que nos interessa


Após esses aspectos gerais, vejamos agora o que especificamente
pode ser feito para trazer um satanista para Cristo. Temos que
reconhecer que não existe um método infalível de se testemunhar,
que não há uma “varinha mágica” que funcione com esse objetivo.
É por isso que orar pela direção do Espírito Santo é tão importante!
É também importante render-se a ele e dispor-se a deixar de lado
todos os demais compromissos, de modo a fazer o que ele quer
que seja feito.
Por vezes, o Senhor nos mostra que devemos citar determina-
da passagem da Escritura ou dizer algo que talvez nos pareça ser
totalmente “descabido”; contudo, é isso que certamente irá vencer
as defesas da pessoa, como arma imbatível.
Um dia, havíamos passado mais de uma hora falando com
uma jovem bruxa, que possivelmente estava cogitando ser satanista.
Tínhamos feito de tudo, sem obter êxito. Ela não estava nem um
pouco impressionada com a gravidade das coisas que fazia. Ines-
peradamente, senti-me levado a cantarolar a primeira estrofe do
famoso hino de Martinho Lutero “Castelo Forte”, que menciona
Satanás:

“............................
Lúcifer Destronado

Com fúria pertinaz


Persegue Satanás,
Com artimanhas tais
E astúcias tão cruéis,
Que iguais não há na terra.”

Assim que estas palavras a atingiram, ela recuou, visivelmente


angustiada, com seu olhar nos indicando que uma porta se abrira.
Seus olhos tornaram-se dóceis, e de repente era uma adolescente
normal que nos ouvia. Bem, não é isso que costumamos fazer ao
240 testemunhar. No entanto, os versos do velho hino a haviam tocado
mais do que tudo o que tínhamos dito antes, e ela concordou em
encontrar-se conosco mais uma vez para ouvir a Palavra. Louvado
seja Deus!
Temos de reconhecer que procurar ganhar um satanista para
Cristo deve ser uma tarefa um tanto persistente. Diferentemente
de muitos outros ocultistas, os satanistas não têm fé alguma na Bí-
blia, e o nome de Jesus, muitas vezes, é piada para eles. Contudo,
há algumas áreas que podem ser exploradas. Primeiro, faça um
diagnóstico. É necessário discernir que tipo de satanista temos
diante de nós. Há grandes diferenças entre eles. Para ver as diversas
categorias de satanistas detalhadamente, volte ao capítulo 3. Mas
eis aqui um rápido resumo:

1. Satanistas do nível mais baixo: não acreditam no diabo e


se acham “metafísicos pragmáticos” à procura do seu eu supremo,
mediante uma tecnologia de magia.
2. Satanistas do nível médio: acreditam no diabo, mas acham
que ele “levou um tapa pelas costas”. Colocam-se ao lado “das trevas”
e creem que por meio delas é que terão poder.
3. Satanistas de nível mais elevado: podem ser bastante ofen-
sivos aos cristãos, pois nos consideram quase “uma forma inferior
de vida”. Nós (e Jesus) somos tidos como “opressores do mundo”,
escravos de um “deus cego e idiota”.
4. Satanistas no nível de mestre: acreditam terem ultrapassado

D i s s i p a n d o a s tr e v a s
o bom e o mau, tornando-se um deus vivo e egocêntrico. Praticam
sacrifícios de sangue e, eventualmente, até a morte humana. Você
terá que se certificar muito bem disso, ao julgar haver encontrado
um desses. Não são muito comuns!
5. “Santos” satânicos: completamente possuídos pelo demô-
nio, com certeza já cometeram até sacrifício humano. São os equi-
valentes satânicos dos grandes homens de Deus, e extremamente
raros. Se encontrar um deles, provavelmente não o reconhecerá
como tal, exceto mediante o discernimento de espíritos. São astutos, 241
carismáticos, habilidosos e muito poderosos. Se você for levado a
compartilhar Cristo com um deles, todo o poder que ele tem ficará
como nada diante da unção do Espírito Santo. Saiba que satanistas
deste nível já foram salvos!
Quase sempre, você conhecerá apenas satanistas dos dois
primeiros tipos, e eventualmente os do terceiro. E isto acontecerá
apenas no caso de você os procurar. Entenda que os satanistas são
aves raras, embora, infelizmente, os dois primeiros níveis estejam
crescendo entre os jovens.
A segunda parte do diagnóstico deve ser a de procurar saber
como foi que a pessoa se tornou satanista. Perguntar não ofende. Tal
como acontece com os cristãos, os satanistas gostam de compartilhar
como foi que eles se “converteram” ao inimigo. Veja algumas das
situações mais comuns:
1. Jovens atraídos, geralmente, por promessas de poder.
2. Oferta de facilidades na prática do sexo e uso de drogas.
3. Desejo de sabedoria oculta ou de sentir-se fascinado pelo
que é misterioso.
Estes três primeiros motivos aplicam-se tanto no caso de fei-
ticeiros da magia “branca” (participantes da Wicca, por exemplo),
como de satanistas. As causas a seguir referem-se unicamente aos
convertidos ao satanismo:
Lúcifer Destronado

4. Um sentido existencial de niilismo ou desespero — um


sentimento de que a vida é dolorosa e sem significado, o que leva
a pessoa a querer experimentar os prazeres da vida antes de morrer.
5. Um sentimento de que Deus os rejeitou para sempre ou
os traiu.
É trágico dizer que esta quinta razão é mais comum entre
cristãos (se não genuínos, pelo menos nominais), que se tornaram
satanistas — muitos dos quais quando ainda jovens. Sendo este o
caso, sua tarefa não será fácil.

242
Q u e s t ã o d e confiança
Numa abordagem com os satanistas dos dois primeiros grupos [de
nível mais baixo e médio], muitas vezes é útil começar com uma
indagação sobre como foi que a pessoa entrou no satanismo e por
que veio a crer dessa forma. O satanismo, tal como qualquer outra
seita, envolve a rejeição da autoridade de Deus, substituindo-a por
alguma outra coisa (muitas vezes pelo próprio “eu”).
Alguns satanistas dirão que entraram e permaneceram nessa
situação porque tal heresia para eles “funcionou”, porque seus ensi-
nos lhes fizeram sentido e, possivelmente ainda, porque o satanismo
lhes deu “um significado para a vida”. Talvez eles tenham feito
algum ato de magia e constataram que “funcionou”. Sua vida de
algum modo deve ter sido favorecida pela magia. É um raciocínio
pragmático, que pressupõe que, se algo funciona, é bom. Mas o
pragmatismo não tem validade bíblica.
Sua tarefa como ganhador de almas é, então, identificar (e
destronar) o principal ídolo dos satanistas e comunicar a eles certas
verdades acerca de Jesus. Significa ainda que você terá que desman-
telar os dados errados que o satanista tem sobre sua própria religião
e sobre a fé cristã.
No capítulo 19, iremos considerar determinadas abordagens
que reputamos de grande eficácia no que diz respeito a alcançar os
satanistas.

D i s s i p a n d o a s tr e v a s
243
18
Falando do inferno

Das profundezas clamo a ti, Senhor.


— Salmo 130.1

Mesmo ainda não preparado para o lance final do enigma do


Graal, fiquei sabendo que o “Santo Graal da Imortalidade” era, na
verdade, o cálice de sangue do vampirismo! Como disse no início
deste livro, você não tem a menor ideia do que é despertar sentindo
a necessidade do sabor de sangue em sua boca.
De certo modo, as coisas me favoreciam. Éramos líderes de
uma grande rede de “covens”, ou grupos de feiticeiros. Esses gru-
pos tinham sido projetados para serem círculos dentro de círculos.
Naquela nossa experiência, é uma prática comum. Os círculos
mais externos eram constituídos de adeptos da Wicca, homens e
mulheres que acreditavam estar praticando uma magia “branca”,
uma feitiçaria “para o bem”. Quando eles chegavam ao nível do
sumo sacerdócio é que começariam a compreender os mistérios de
Lúcifer. Os círculos internos estavam envolvidos com Thelema,
a religião de Aleister Crowley. Nos círculos mais internos, havia
mulheres selecionadas, que eram consagradas, dedicadas e dispostas
a deixar que chupassem seu sangue, e o faziam com prazer.
Como eram em número suficiente, nenhuma corria o risco de
perder sangue a ponto de afetar a sua saúde. Tinham prazer naquele
ato, e eu era suprido. Desse modo, não era preciso sair dos círculos
de magia, a fim de caçar mulheres em busca do seu sangue. Pelo
menos, no começo...
Os círculos mais internos viviam num mundo em que tudo
era invertido. O prazer era a dor, e a dor, o prazer. As trevas eram a
luz, e o bem era o mal. Assistíamos a filmes tais como O Exorcista
e O Presságio e torcíamos pelos demônios e pelo anticristo. Diaria-
Lúcifer Destronado

mente, eu fazia magias e rituais de dor, poder e perversidade para


apressar a vinda da Grande Besta.

A p o c a l i p s e te n e b r o s o
No momento em que este livro era escrito, outro ciclo de produ-
ções está glorificando aquele que é o padroeiro do vampirismo,
Vladislau Basarab — também conhecido como Vlad Tepes (Vlad,
o Empalador) ou Vlad Drácula. Um filme que se destaca nessa
linha é o que foi produzido por um diretor de renome, que fez
uso de custosos cenários, vestuários e efeitos especiais, visando a
246
seduzir ainda, por mais de uma década, muita gente para “templos”
cinematográficos profanos.
A cada dez anos mais ou menos, pode-se contar com o fato
de Hollywood fazer ressuscitar Drácula, e assim temos uma nova
enxurrada de filmes sobre vampiros. O que estão querendo nos
vender? A mentira da juventude eterna e da beleza eterna nunca
foi tão sedutora, e seu custo nunca foi tão grande como agora. Sei
disso, porque eu mesmo fui totalmente enganado por essa mentira.
E vi qual é o inimaginável preço a ser pago.
Como foi que cheguei ao ponto de desejar deixar de lado
tudo o que é normal na humanidade para provar o gosto do que
eu acreditava ser a imortalidade? Não acordei numa certa manhã
sendo “um vampiro em treinamento”. Como vimos, foi um processo
gradual de sedução, achando eu que estava juntando as peças de um
imenso e altamente secreto quebra-cabeça cósmico. Naturalmente,
as forças das trevas que me manipulavam não tinham misericórdia
alguma para comigo.
Começando com a prática de um modesto mal na Wicca e
no espiritismo, fui descendo — em dez anos — a um emaranhado
de terror sangrento, do qual eu já duvidava que pudesse escapar.
Mas, na maior parte do tempo, nem mesmo queria escapar. A
“metamáquina” dentro de mim era que me governava quase que
inteiramente. Eu me encontrava postado numa verdadeira encru-
zilhada, sedento de sangue.
O culto vampirista — pois era isso mesmo — seria o passo final,
o mais abominável de todos, em minha participação no satanismo. Por

F a l a n d o d o in f e r n o
um estranho fato acidental, logo depois do meu encontro com “Maria
Madalena” as terríveis asas negras desse culto vieram bater contra mim
numa Igreja Ortodoxa Russa da cidade de Chicago.
A primeira vez que fui levado para lá foi pelo homem que me
consagrara como bispo gnóstico na Igreja Católica Romana Antiga
de rito sírio-jacobita. A Igreja Católica Gnóstica é uma mistura
do catolicismo romano com a Igreja Ortodoxa e o satanismo de
Crowley. Foi nessa igreja que eu acabei fazendo contato com os
poderes que me levaram mais a fundo no ramo do vampirismo, 247
dentro da confraria.
Um princípio básico que tanto o antigo como o moderno gnos-
ticismo adotam é o princípio do dualismo (a absoluta necessidade
do bem e do mal). Fui levado a acreditar que Vlad Drácula era
necessário como um “Cristo” das trevas, um Cristo “antimatéria”
— para usar palavras da Física moderna —, a fim de contrabalançar
o sacerdócio de luz branca de Jesus.
Era vital, assim, que eu vestisse o manto da ordem do sacerdócio
de Drácula, tal como eu pensava ter vestido o manto do sacerdócio
de Jesus por meio do catolicismo e da Igreja Ortodoxa.1  Seria a
linha final da autoridade apostólica que eu buscava.
Para tanto, teria de receber treinamento e me desenvolver nesse
sacerdócio. Designaram-me um mentor que me ensinou uma forma
de cristianismo incrivelmente distorcida.
Fui ensinado que o Evangelho de João era um documento
secreto com tremendos “segredos gnósticos” nele ocultos e que
o seu autor, o apóstolo, ainda caminha na terra nos dias de hoje,
como um vampiro, com cerca de 2.000 anos, tendo sido iniciado
no vampirismo pelo próprio Jesus! O apostolado de João, embora
enraizado no que hoje é a Maçonaria, teria levado seus devotos a
uma consumação sacramental de sangue e órgãos humanos para
propiciar a vida eterna.
Fui ensinado também que o primeiro Nosferatu (palavra
Lúcifer Destronado

românica/valáquia que significa “não morto” ou “vampiro”) foi


Lázaro, a quem Jesus ressuscitou dos mortos por um poder ocul-
to: o que se encontra, naturalmente, no Evangelho de João. Seria
um ato intencional de Jesus estabelecer uma linha ininterrupta de
“sucessão apostólica”, procedente de João e Lázaro, mediante um
sacerdócio secreto dentro do próprio sacerdócio. Era esta uma
irmandade dos vampiros, escondida cuidadosamente dentro do
sacerdócio ortodoxo por todos esses séculos e desconhecida até
mesmo da maioria dos padres.
Isso explicaria as profundas diferenças entre o evangelho de
248 João e os outros três. Por que nesse evangelho foi colocada essa
ênfase de os mortos ouvirem a voz de Cristo e ressuscitarem? Que
final misterioso era o dele sugerindo que João viveria até a segunda
vinda do Senhor? A resposta que me deram foi que o evangelho
joanino era um projeto de vida eterna a ser obtida mediante prática
do “Sacerdócio de Nosferatu”, isto é, do vampirismo.

O sa n g u e e a vi d a
A pedra angular da existência e sobrevivência do culto satanista
está realmente no ritual central do catolicismo e da Igreja Ortodo-
xa, ou seja, na eucaristia (missa), ou “liturgia divina”. Em pouco
tempo, descobri o elo vital entre Nosferatu e a doutrina da tran-
substanciação (que é a crença de que o pão e o vinho literalmente
se transformam no corpo e sangue de Cristo).
Com muita avidez, fiz com que meu corpo se alterasse gra-
dualmente, mediante injeções de certas ervas e drogas, acreditando
estar seguindo os passos de João, o discípulo amado. Gradualmente,
meu apetite para comer começou a diminuir, e minha sensibilidade
à luz do sol marcantemente aumentou.
Finalmente, numa noite especial foi-me dada permissão para eu
chupar o sangue das veias do meu mentor. Desse modo, o “vírus”
do vampirismo me foi passado. Comecei a querer apenas sangue, e
quase nada mais me dava vontade de comer ou beber. E lá, numa
capela sem janelas, iluminada apenas à luz de velas e carregada de
ícones ortodoxos, foi que aprendi o verdadeiro significado da “divina

F a l a n d o d o in f e r n o
liturgia”.
Acredita-se, no vampirismo, que um vampiro para sobreviver
tem que ingerir uma substancial quantidade de sangue a cada dia,
do mesmo modo que os humanos têm de ingerir alimentos. O ideal
seria consumir, a cada dois dias, o volume equivalente de sangue
que há num corpo humano, para não adoecer ou morrer de fome.
Assim, a “solução de Jesus” para o seu sacerdócio vampírico
teria sido a “magia” da transubstanciação. A doutrina católica e
ortodoxa ensina que todo o corpo de Jesus acha-se contido na 249
hóstia. Do mesmo modo, todo o sangue de Jesus — o sangue de
um jovem de 33 anos do sexo masculino, ou seja, cerca de 4 litros e
meio, está miraculosamente contido dentro de um cálice de vinho.
Ora, como todos os membros do sacerdócio nosferático são
também sacerdotes católicos ou do rito ortodoxo oriental, todos
teriam o poder de produzir, em sua liturgia, a cada dia, mais do
que o necessário de “sangue” sacramental para satisfazer sua sede. E
sangue verdadeiro (pelo que acreditávamos).
Os sacerdotes católicos devem, pela lei canônica, celebrar
a missa a cada dia, exceto por motivo de enfermidade ou devido
a alguma séria emergência. Assim, no sacramento do vinho trans-
formado em sangue, tínhamos um suprimento fácil para a nossa
necessidade, sem ter que sair por aí atacando as pessoas como fazem
os vampiros dos filmes. A única razão para chupar sangue de uma
pessoa viva era ou por simples prazer ou para iniciá-la no culto do
vampirismo.
Em poucos dias, constatei que vivia quase que exclusivamente
dos elementos do rito da comunhão, mais o uso eventual do san-
gue das voluntárias sacerdotisas do nosso grupo. Também me foi
ensinado que eu teria de criar um espaço sagrado no altar (espécie
de ataúde), com determinadas medidas específicas, para que nele
periodicamente me deitasse para restaurar as energias.
Era sobre esse altar/ataúde que as missas eram celebradas,
Lúcifer Destronado

muitas vezes estando eu (ou outra pessoa) deitado naquela tumba.


Esta seria a verdadeira razão, disseram-me, para o uso das relíquias
nas igrejas católicas: ossos ou outras peças dos corpos dos “santos”
na pedra do altar. Seria uma tradição herdada da época em que a
liturgia era comumente celebrada sobre o corpo (dentro do altar)
de um sacerdote nosferático “não-morto”.
Ensinaram-me outras liturgias, principalmente, o Rito de São
João Crisóstomo, usado na maioria das igrejas ortodoxas. Aprendi
também outras cerimônias secretas, como missas dedicadas a Vlad
Drácula e a todo um panteão de “santos” vampíricos. Esses ritos
250 eram imitações das cerimônias das Igrejas Ortodoxa e Católica,
sendo que a única diferença era Drácula e outros vampiros famosos,
como o lendário Lammia, Vrykolak e Lílite, serem exaltados no
lugar da Virgem Maria e Jesus.

U m a vi s i t a d e Dr á c u l a ?
Estas práticas começaram a se espalhar entre os participantes de
nossos grupos de feitiçaria num círculo cada vez maior. De modo
geral, tornaram-se mais populares entre as mulheres do que entre
os homens, talvez porque os homens se intimidassem diante da
possibilidade de perder a sexualidade.
Infelizmente, pelo menos dois casais tiveram que se separar
porque a esposa optou pelo vampirismo em vez de seu marido.
Era muito grande o poder voluptuoso de desejar e dar sangue.
Duas de nossas sacerdotisas chegaram até mesmo a exigir de nós
que formalmente as iniciássemos nos mistérios nosferáticos. Isso
exigia a celebração de uma “missa de São Vlad”, na qual um rum
sacramental era usado no lugar do tradicional vinho vermelho. Era,
essencialmente, bastante semelhante à liturgia ortodoxa, exceto por
óbvias diferenças. O “rito da comunhão” consistia de uma blasfema
paródia do que aconteceu com Jesus na cruz. De início, eu chupava
o pescoço da iniciante até que ela desmaiasse, pela perda de sangue.
Em seguida, abria o meu peito, e a candidata chupava muito do meu
sangue. Isso supostamente transmitia uma estranha e demoníaca
“enzima” para o corpo dela, passando, então, a transformá-la numa

F a l a n d o d o in f e r n o
sacerdotisa de Nosferatu. Por fim, a missa terminava fazendo com
que ardesse em chamas o líquido alcoólico usado no sacramento
(supostamente transubstanciado no sangue do próprio Drácula).
Invocávamos, então, Vlad para vir e sorrir diante da criação de sua
nova “filha”.
Críamos que, após a morte, tanto eu como as mulheres inicia-
das ressuscitariam como um Nosferatu de puro sangue. Seríamos
seres imortais que viveríamos por séculos, não mais na condição
251
híbrida de meio-vampiro e meio-homem.
Com a última mulher com quem fizemos essa iniciação, acon-
teceu um fato extraordinário, que nos apavorou. Chupamos sangue
um do outro, como sempre fazíamos, mas no final do ritual, quando
eu tinha começado a invocação de Vlad e acendi o cálice cheio do
rum sacramental, ele resplandeceu com um brilho maior do que
um maçarico de acetileno. Não havia nada de especial naquele rum;
era da mesma garrafa que sempre usávamos. Entretanto, a chama,
zunindo, ficou com quase um metro de comprimento a partir da
taça. O local encheu-se de chamas multicoloridas e exóticas, como
nunca tínhamos visto.
Consegui com dificuldade terminar a invocação. O calor e o
poder naquela sala ficou tão opressivo que quase caímos de joelhos.
O cálice começou a derreter com o forte calor. Podia sentir o poder
de Drácula sendo derramado sobre mim como se fosse um sangue
fervente e fumegante.
A mulher que estava sendo iniciada sentiu isso também. Pa-
recia uma “bênção” especial que nunca fora dada antes. Ela ficou
excitada com aquela experiência fora do comum. E eu iria ver, em
breve, como o que tinha acontecido afetaria de um modo bastante
incomum a minha vida.

colhendo tempestade
Lúcifer Destronado

Mudanças reais aconteceram em mim. Todo o meu desejo sexual foi


substituído por uma ideia fixa em sangue. Como já disse, perdi o apetite
para comer, além dos elementos da eucaristia diária. Passava grande
parte do meu tempo, durante o dia, em nossa capela, à luz de velas,
com devoções católicas. Expor-me ao sol por mais de alguns poucos
minutos causava-me fortes queimaduras e bolhas na pele (o que não
me acontecia antes), e desenvolvera excelente visão na escuridão.
Sentia-me mais forte com o consumo de sangue. Todavia, nunca
consegui transformar-me em morcego ou passar, como fumaça ou
252 neblina, por baixo de portas. Não sei ao certo, mas acho que essas
coisas são invenções de Hollywood para enfeitar suas histórias.
Certo dia, quando estava “doando” sangue, soube, quase casual-
mente, que meu tipo sanguíneo tinha mudado, o que é considerado
impossível pela ciência.
Tornei-me cada vez mais fascinado com filmes sanguinolen-
tos de terror, de todo tipo, e muitas vezes ficava no “escurinho
do cinema” o dia inteiro, esperando que o sol se escondesse, para
voltar para casa. Era uma vida muito estranha a que eu estava le-
vando. Logo descobri que o vinho da comunhão não estava mais
me satisfazendo no propósito que dele esperava. A cada semana,
o desejo de sangue ficava cada vez maior. Por vezes, celebrava a
missa mais de uma vez num dia, do começo ao fim, só para ver
se me sentia suprido. Minhas fantasias tinham se tornado to-
talmente violentas, e eu me sentia constantemente compelido a
ir “caçar” mulheres, além da meia dúzia de nossas feiticeiras que
se dispunham voluntariamente a ser minhas “presas”.
Sinceramente, foi apenas o meu amor por minha esposa
que me impediu de sair por aí pegando mulheres como lou-
co. Eu nunca tinha tido segredo que Sharon não soubesse
e tinha absoluta certeza de que ela ficaria horrorizada caso
soubesse que eu estava me contendo para não ser um predador
sexual com sede de sangue. Sabia que nossa vida se arruinaria
se eu cedesse àqueles poderosos impulsos de concupiscência e
fosse pego pela polícia.
Por fim, um dia, quase me excedi com uma das sacerdotisas.

F a l a n d o d o in f e r n o
Foi impressionante, pois ela estava tendo tanto prazer naquilo que
não queria parar, mas eu perdi o controle e chupei tanto do seu
sangue que ela ficou inconsciente. Ficou tão pálida e inerte que
pensei que a tivesse matado. Felizmente, ela voltou a si e até mesmo
afirmou ter tido uma experiência mística durante o tempo em que
ficou “apagada”. Saiu da capela enfraquecida, sem noção alguma
do que havia acontecido.
Comecei a ficar apavorado! Minhas jornadas noturnas pela
cidade de Milwaukee, no meu serviço de entrega de jornais, cada 253
vez me torturavam mais. Acontecia principalmente quando eu via
uma prostituta, tendo que lutar contra um ímpeto animalesco que
surgia dentro de mim, um forte desejo de que ela ficasse sozinha
para eu cair em cima dela como um leão em cima de uma gazela.
Sabia que era apenas uma questão de tempo para ceder aos
impulsos que agora me dominavam em todo o tempo em que
estava acordado. Procurava evitar o noticiário, agora, insistente de
casos de mulheres que apareciam assassinadas em circunstâncias
misteriosas e sem solução. Cheguei a pensar que tivesse uma du-
pla personalidade, e que era eu quem estava lá matando aquelas
mulheres, à noite. Nunca houve evidência alguma de que isso fosse
verdade — louvado seja o Senhor! No entanto, enquanto a culpa
me atormentava, a máquina monstruosa dentro de mim exultava-se
com a lascívia pelo sangue. Senti que estava amarrado a um ciclo
descendente, que somente poderia terminar com a morte, ou a
loucura ou a prisão.
Foi nesse tempo de desespero que o Senhor Jesus Cristo entrou
em minha vida. Os capítulos finais deste livro vão demonstrar e
testemunhar o fato de que Jesus pode salvar totalmente até mesmo
alguém tão horrendo e desgraçado como eu tinha me tornado!

♦♦♦♦
Lúcifer Destronado

Krafft-Ebbing & cia.: um pós-escrito


Embora a ideia de vampiros, para a maioria dos que vivem hoje,
no século 21, seja algo em que não dá para acreditar, a verdade é
que de fato há pessoas que o são. Não sei se esses vampiros têm
todos os poderes e habilidades que lhes são atribuídos pelos filmes
de Hollywood e pelo folclore da Europa oriental. Mas é uma rea-
lidade registrada cientificamente que eles existem, e atualmente há
muitos casos documentados.
254 Não se trata de pessoas que se transformaram em morcegos,
mas sim homens viciados em tomar sangue, porque os casos de
mulheres são raros: elas normalmente se cortam e chupam o seu
próprio sangue. O famoso (na opinião de alguns, o infame) neu-
rologista e psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebbing (1840-
1902) foi o autor de uma monumental obra sobre perversão sexual,
Psychopathia Sexualis [Psicopatia Sexual], que contém diversos casos
apresentados do que ele chama de “assassinos lascivos”, na verdade,
casos de vampirismo.2 São registros do que é chamado “vampirismo
clínico”3  ou “síndrome de Renfield” (nome de um personagem
psicopata da famosa obra de ficção Drácula, de Bram Stoker, o qual
é um suposto vampiro a serviço do próprio conde).4 
Outro médico escritor salienta o fato de que o vampirismo
é um fenômeno clínico em que o mito, a fantasia e a realidade
se confundem.5  Uma definição médica do fenômeno pode ser a
seguinte:
O vampirismo clínico é uma designação extraída do vampiro
lendário, sendo uma entidade clínica reconhecível — em-
bora rara —, caracterizada por uma compulsão periódica
de tomar sangue, afinidade com os mortos e identidade
incerta. Hipoteticamente, é a expressão de um mito arcaico
herdado, sendo o ato de tomar sangue um ritual que oferece
alívio temporário.
Desde os tempos antigos, os vampiristas têm dado força
à crença na existência de vampiros sobrenaturais (...). Ainda

F a l a n d o d o in f e r n o
na infância (conforme quatro casos reais posteriormente
citados), eles se cortam e chupam o seu próprio sangue, ou
ingerem o sangue de um animal, para conseguir superar forte
desejo ou devaneio pelo derramamento de sangue, tudo isso
associado aos mortos e a uma identidade inconstante. São
pessoas inteligentes, sem casos de patologia mental ou social
em sua família (...).
O vampirismo pode ser a causa de repetidos e imprevisíveis
255
casos de assaltos e assassinatos e deve ser detectado em crimi-
nosos violentos que se mutilam a si mesmos. Não se conhece
um tratamento específico.6 

Não estou afirmando que os psiquiatras teriam todas, ou até


mesmo algumas, das respostas para esse problema. Mas têm perfeito
conhecimento do fenômeno.
Não tenho como dizer com certeza se o vampirismo que vivi
era uma forma de psicose ou se teve origens somente sobrenaturais
(satânicas). Alguns dos sintomas (como aversão à luz do sol, etc.)
podem ter sido psicogênicos (com origem na mente). No entanto,
o meu caso foi, em grande parte, atípico na literatura psiquiátrica.
Tudo o que sei é que estava cheio de demônios e me tornando
um perigo mortal para mim mesmo, para minha família e para os
outros e, não importa o que fosse, Jesus Cristo era a minha única
possibilidade de cura. Louvado seja o seu maravilhoso Nome!
Notas
1
Os ritos latinos das Igrejas Católica e Ortodoxa consideram possuir o
sacerdócio especial da ordem de Melquisedeque, que os capacitaria a ofe-
recer sobre o altar o sacrifício sem sangue de pão e vinho transformados
no corpo e no sangue de Jesus (o que não é bíblico).
2
Krafft-Ebbing. Richard von Psychopathia Sexualis. Edição de 1892.
pp. 62-64.
Lúcifer Destronado

3
Prins. Herschel Vampirism, Legendary or Clinical Phenomena?; Medici-
ne, Science, and the Law [Vampirismo, Lenda ou Fenômenos Clínicos;
Medicina, Ciência e a Lei], 1984, 24, pp. 283-293.
4
Noll. Richard Vampires, Werewolves and Demons — Twentieth Century
Reports in the Psychiatric Literature [Vampiros, Lobisomens e Demônios
— Registro, no Século 20, na Literatura Psiquiátrica], 1992, pp. 16-18.
5
Bourguignon. A. “Vampirism and Autovampirism” [Vampirismo e
Autovampirismo], publicado em Sexual Dynamics of Anti-Social Beha-
vior [Dinâmica Sexual do Comportamento Anti-Social], Schelesinger
& Revitts, editores, 1983.
256 6
Hemphill R. E. & Zabow. T. Clinical Vampirism [Vampirismo Clí-
nico], uma apresentação de três casos e reavaliação do caso de Haigh,
o “Assassino dos Banhos de Ácido” — South African Medical Journal,
1983, v. 63, pp. 278-281.
19
Testemunhando a um
adorador do diabo

E eu, quando for levantado da terra, atrairei


todos a mim mesmo.
— João 12.32

Dando continuidade em como apresentar o evangelho aos sata-


nistas, precisamos nos lembrar de que eles, em sua maioria, não
têm ideia alguma sobre quem é Deus, o que a Bíblia ensina, nem
quanto ao que Jesus lhes oferece, exceto no caso de cristãos que
apostataram da fé, conforme mencionado.
Eu não sabia nada disso. Passei 16 anos de minha vida juntan-
do um grande volume de informações metafísicas que continham
muitas mentiras acerca da Bíblia e do cristianismo. Veja a seguir
algumas das mentiras mais comuns que são transmitidas aos sata-
nistas:
1. Tudo o que Deus pretende é nos humilhar e nos impedir
de nos divertirmos.
2. A Bíblia foi de tal forma censurada e adulterada por antigos
monges e concílios da Igreja que o que ela diz sobre Jesus, sua vida
e mensagem não tem valor algum.
3. A Bíblia não pode ser compreendida senão como um livro
cabalístico, escrito em linguagem codificada, que somente pode
ser decifrada por bruxos e adeptos da feitiçaria de elevado grau
de ocultismo. Assim, os crentes não têm como compreender seu
verdadeiro significado.
4. O Deus apresentado na Bíblia é, na verdade, uma divindade
secundária, tribal, criada no deserto. Divindades como Os Grandes
Deuses da Antiguidade, Deuses Ancestrais, Senhores das Sombras,
etc., do satanismo, são muito antigas e mais poderosas. Assim, faz
mais sentido servir-lhe.
Lúcifer Destronado

Evidentemente, um satanista não tira suas ideias do nada. Ele


lê ou lhe é ensinado algo a respeito. Exceto quanto ao primeiro
engano acima, essas ideias, em sua maior parte, não são divulgadas
sem “ajuda” de livros, televisão, banda de rock ou um mentor.
Assim que essas objeções forem sendo apresentadas, o que
você tem a fazer é, com muito jeito, desafiá-las. Muitos jovens
costumam aceitar como verdades absolutas o que leem ou ouvem,
principalmente de eminentes personagens que tenham uma postura
contrária aos padrões tradicionais da sociedade. Os mesmos jovens
258 ou adultos que escarnecem dos cristãos pela sua “fé cega” acreditam
nos mais grotescos conceitos, bem mais irracionais. Assim, o que
você tem de fazer é despertar na mente do satanista a questão da
confiança:
“Por que você acredita que essa informação é verdadeira? Con-
siderando a natureza eterna dessas questões, em que você baseia a
sua confiança de que esse seu modo de pensar está correto?”
Pergunte-lhe quem escreveu o livro ou lhe ensinou tais coisas.
Às vezes, a pessoa nem sabe como foi que recebeu essas ideias. Eu
mesmo tinha uma quantidade enorme de pensamentos absurdos em
minha mente por ter lido “milhares” de livros do ocultismo, mas não
conseguia identificar de que livro tinha tirado tal ou qual ideia.
Se a pessoa lhe disser que foi Crowley, LaVey ou qualquer outro
que lhe tenha revelado isso, pergunte-lhe por que considera que se
deve acreditar nesse autor. Destaque que há várias possibilidades:
1a – Que o que ele disse é a verdade.
2a – O autor pode ter-lhe dito o que acha ser a verdade, mas
pode estar enganado.

T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
3a – O autor pode ter misturado algumas verdades com falsi-
dades ou erros.
4a – Pode ter mentido intencionalmente.
Isto significa que, na melhor das hipóteses, há 75% de pro-
babilidade de a pessoa estar enganada — tanto intencional como
acidentalmente. Mostre que esses livros foram escritos por homens
ou mulheres, e que os seres humanos podem estar errados e serem
enganados. Pergunte-lhe qual a razão para confiar nas opiniões dessas
pessoas. As respostas do satanista poderão estar entre as seguintes:
1a – “Isso me parece estar certo.”
2a – “O que ele escreve faz sentido, neste mundo tão sem sen-
tido.”
3a – “São magos ou sábios e poderosos, e devem saber o que
estão dizendo.”
4a – “Os rituais da magia que me ensinaram funcionam. Por 259
isso, creio que eles têm entendimento sobre o cosmo.”
Esta pode ser uma boa oportunidade para você dizer que poderá
indicar-lhe um livro que foi escrito por Alguém bem mais sábio e
inteligente do que aquele autor. Explique as razões que autenticam
o seu livro de um modo que nenhum autor da magia não pode
nem pretender chegar perto.

A hora do “duelo”
Esta é a hora de pôr a Bíblia Sagrada à prova. Faça com que
o satanista perceba que há um modo objetivo e científico
(reforce bem esta palavra) para determinar quem deve merecer
nossa confiança: os “gurus” satânicos, que escarnecem de Deus
e da Bíblia, ou Jesus Cristo e sua Palavra. A pessoa certamente
concordará que as duas posições são mutuamente excludentes:
ou uma ou outra.
Em outras palavras, mostre-lhe que, logicamente, é impossível
que o satanismo tenha uma teologia correta e, ao mesmo tempo,
que a Bíblia seja verdadeira. Os satanistas obviamente não têm
respeito algum pela Bíblia; assim, é por aqui que você pode come-
çar a detonar os “pastores idólatras” deles, exaltando a Palavra de
Deus. É sempre uma melhor estratégia — tanto espiritual como
psicologicamente — começar a louvar o que é precioso para Deus
Lúcifer Destronado

do que atacar o que é “sagrado” para os satanistas.


Explique que a Bíblia é a Palavra de Deus e foi escrita pelo
próprio Deus (veja 2Timóteo 3.16ss). Em mais de 600 vezes, a
Bíblia diz de si mesma ser as próprias palavras de Deus. Bem, um
livro verdadeiramente escrito por Deus seguramente tem qualidades
divinas e incomuns. Uma dessas qualidades é poder transformar a
vida e o coração dos seres humanos. Diga ao satanista, com poucas
palavras, como a Palavra de Deus fez isso em sua vida.
Também, de modo contrário ao que sempre fizeram, em
todos os séculos, os satanistas e apologistas anticristãos em suas
260 argumentações, a Bíblia diz de si mesma que não pode ser alterada
nem adulterada (veja Mt 5.18; 1Pe 1.25; Is 40.8; 51.6; Sl 12.6,7;
19.7,8; 111.7; 119.89; Lc 16.17).
Os ocultistas, na maioria dos casos, aprendem que várias das
crenças do ocultismo — como a reencarnação, por exemplo — foram
censuradas e retiradas da Bíblia por volta do segundo ou terceiro sé-
culos. Não há evidência alguma, em qualquer registro histórico, que
haja, no entanto, ocorrido tal censura. Se a Bíblia foi verdadeiramente
escrita por Deus, então ela não teria sido alterada por sacerdotes,
monges ou concílios da Igreja, como ensinam os satanistas.
Valendo-nos da lógica, que ser humano teria condições de
alterar o que um Ser onipotente prometeu preservar? Pode-se de-
monstrar que, por toda a História, os escribas tiveram um cuidado
extremo, incrível, quase sobrenatural, de copiarem à mão as Escri-
turas, antes do aparecimento da imprensa. Suas precauções, como
as que são mencionadas a seguir, tornaram praticamente impossível
que erros tenham se imiscuído sorrateiramente no texto:
• Todo escriba contava o número de palavras e o de letras
da cópia e do original. Os dois números tinham que bater, um

T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
com o outro.
• Todo escriba fazia com que o tamanho médio das letras na
cópia fosse o mesmo que o do original.
• Um borrão qualquer de tinta sobre a cópia a invalidava
totalmente, e ela era destruída no fogo. Isso por causa, sobretudo,
da natureza da grafia do hebraico, que consiste de pequenos traços
com a pena, que poderiam ser confundidos com pequenas manchas
de tinta.
• Não era permitido que o escriba copiasse mais do que uma
única palavra por vez; a cada palavra, ele tinha que olhar para o
original.
• O escriba obtinha, também, o valor total numérico da página,
somando o valor de cada letra, pois as letras hebraicas representam
também números. A soma da página original tinha que ser igual à
da cópia.
Outra prova de que foi Deus quem escreveu a Bíblia é que ela 261
prevê o futuro com 100% de precisão. Diga a seu amigo satanista
que, diferentemente dos médiuns e feiticeiros, como se vê na im-
prensa secular, a Bíblia tem centenas de profecias, e o cumprimento
de cada uma delas já ocorreu, sem falha alguma.
O próprio Deus nos pede que usemos suas profecias como
teste, comparando-o com outros “deuses”:
Declarai e apresentai as vossas razões. Que tomem conselho
uns com os outros. Quem fez ouvir isto desde a Antiguidade?
Quem desde aquele tempo o anunciou? Porventura, não o fiz
eu, o Senhor? Pois não há outro Deus, senão eu, Deus justo e
Salvador não há além de mim (Is 45.21).

Uma apresentação completa das profecias da Bíblia e de sua


impressionante precisão constituiria um outro livro. O evangelizado
interessado pode consultar obras como Evidence That Demands a
Verdict [Evidência Que Exige uma Decisão], de Josh MacDowell1, 
para ter mais informações sobre o modo vital e científico de es-
tabelecer a autoridade da Bíblia. Mas aqui estão algumas dessas
“pepitas” tão valiosas:
1. O nascimento, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus são
o cumprimento de 322 profecias diferentes do Antigo Testamento.
Apenas considere 48 das profecias, que seriam as mais difíceis de serem
fraudadas: aquelas que Jesus e seus discípulos não tiveram controle
Lúcifer Destronado

algum sobre seu cumprimento. Dentre elas, vejam-se, por exemplo:


• Jesus ter nascido na cidade de Belém (Miqueias 5.2);
• Reis do Oriente terem ido adorá-lo (Salmo 72.10);
• A crucificação deu-se entre dois ladrões (Isaías 53.12);
• As mãos de Jesus foram feridas por aqueles que deveriam ter
sido seus amigos (Zacarias 13.6);
• Trinta moedas de prata foi o preço de sua traição (Zacarias 11.12);
• A repartição de suas vestes e o sorteio de sua capa (Salmo 22.18).
A chance de pessoas humanas cumprirem essas profecias é de
1 para 10157 (isto é, 10 seguido de 157 zeros)!2  Este é um número
262
astronômico. A probabilidade de você acertar na loteria ou ser
atingido por um raio é muito maior do que essa. Para se poder
ainda comparar a chance daquelas profecias se cumprirem ao acaso,
saiba que há milhões de elétrons — que são partículas subatômicas
— no corpo humano. Entretanto, em toda a vastidão do universo
conhecido, não haveria espaço para 10157 elétrons!
2. Ezequiel 26.3-21 faz uma profecia (em cerca de 592 —
570 a.C.), sobre a cidade de Tiro. Tudo se cumpriu nos mínimos
detalhes. Apesar disso, os estudiosos determinaram que apenas
uma profecia (em meio a outras centenas), por ser tão precisa pela
sabedoria humana, tinha uma enorme probabilidade de não se
cumprir: 1 em 75.000.000!3  Ezequiel fez muitas outras profecias
semelhantes sobre a destruição de cidades. Todas elas foram lite-
ralmente cumpridas.
Se o satanista procurar alegar que essas profecias foram escri-
tas após os fatos ou falsificadas de algum modo, você poderá destacar
que, graças aos pergaminhos do mar Morto, temos prova de que
todas as profecias em Isaías sobre Jesus (por exemplo) foram feitas

T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
centenas de anos antes de ele ter nascido. Assim, as profecias não
foram escritas posteriormente aos fatos. Destaque ainda para o
satanista que a Bíblia é o manuscrito antigo mais bem examinado
e atestado. Isto significa que o número de cópias antigas que temos
das Escrituras para fazer comparações cruzadas são substanciais
(milhares, na verdade), e de datas relativamente bem próximas do
tempo em que os eventos foram escritos. Por exemplo, a precisão
histórica e a verdade da Bíblia têm uma comprovação muito maior
do que, digamos, as obras de Homero (A Ilíada ou A Odisseia).
Assim, são os satanistas que têm de apresentar provas, para refutar
a veracidade da Bíblia.
Por outro lado, destaque que os “heróis” deles (LaVey,
Crowley, Aquino, etc.) e os seus “livros sagrados” fizeram bem
poucas profecias, para não dizer nenhuma, e que os registros
de cumprimento delas são absolutamente desanimadores. Por
263
exemplo, LaVey escreveu em seu livro The Satanic Rituals [Rituais
Satânicos] (1972)4  a respeito do avanço da ideia de Jesus Cristo
na cultura ocidental. De acordo com sua predição, no final da
década de 1980. Jesus seria apenas uma memória desvanecente
de um conto de fadas na mente da sociedade. Evidentemente,
isso não aconteceu. A Igreja Cristã está viva, e muito bem viva, e
dezenas de milhares de novos crentes estão surgindo a cada dia.
Jesus não é apenas uma saudosa lembrança ultrapassada. É a força
mais vital na sociedade de hoje.
Se Satanás fosse esse grande deus, como dizem, por que nem
ele nem seus “profetas” são capazes de predizer com precisão o
futuro? Por que não dão ao seu povo senão vagos pronunciamen-
tos públicos de descontentamento, batendo no peito como um
decrépito gorila de idade avançada tentando impressionar alguém?
Por que não lhes dá algo em termos científicos e com números
que possam ser examinados?
O satanista precisa encarar essa questão, se está disposto a
examinar os fatos com honestidade. Nosso Deus pode predizer o
futuro com uma precisão absoluta e impressionante. O deus deles
não pode fazer isso. Um a zero para o Deus da Bíblia!

Mostre-lhes o Senhor
Lúcifer Destronado

Uma segunda área que descobrimos ser muito importante é


exaltar e glorificar o nome de Jesus Cristo. Como já mencio-
nado, a maioria dos satanistas quase nada sabe sobre a real
personalidade de Jesus. Infelizmente, até muitos satanistas
recrutados de lares de cristãos nominais (e até mesmo autên-
ticos) têm uma distorcida versão do verdadeiro Cristo. Apenas
10% dos satanistas com quem temos nos relacionado vieram
de famílias cristãs. A maioria deles foi criada em lares extrema-
mente legalistas. Assim, infelizmente, têm uma imagem de Jesus
como um capataz severo esperando a primeira oportunidade
264
para castigá-los diante do menor deslize — estrondeando juízos
desde os céus por eles cortarem o cabelo de modo supostamente
errado ou enfeitar-se com joias.
Agora, por favor... não estou dizendo que os pais não devem
criar seus filhos na educação e na admoestação do Senhor. Nem
estou condenando a verdadeira santidade e uma vida genuinamente
cristã. Para os cristãos, a paternidade não é nada fácil e está ficando
cada vez mais difícil. Contudo, muitos jovens estão recebendo a
mensagem distorcida de que Jesus não lhes oferece alegria alguma,
apenas uma rígida disciplina, e que irá castigá-los por qualquer
desvio do caminho certo. Os pais precisam procurar, com muita
oração, um equilíbrio entre a disciplina e a graça! Como João nos
lembra no seu evangelho:
Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a
verdade vieram por meio de Jesus Cristo (Jo 1.17).
Se for apresentada à criança apenas uma severa disciplina e
julgamento, sem a liberdade e a alegria de Jesus, a adolescência

T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
poderá tornar-se um tempo bastante turbulento — especialmente
quando as crises surgirem —, abalando a fé juvenil. É importante
lembrarmos o que temos de fazer:
Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda
quando for velho, não se desviará dele. (Pv 22.6)

Observe que a palavra é para ensinar a criança no caminho em


que ela deve andar, não no caminho em que você quer que ela ande.
Seu filho pode estar num caminho que lhe foi aberto pelo Espírito
Santo, e pode ser que não seja o que você planejou para ele. Como
pais, temos que ter cuidado para não desempenharmos o papel
que compete ao Espírito Santo, com nossos filhos. Com isso, não
estou dizendo que, se um filho envolver-se com o que, segundo
a Bíblia, é claramente pecaminoso, temos de deixá-lo desviar-se
para a perdição. No entanto, muitas vezes não é bom usarmos de
severidade e ficarmos inflexíveis com coisas relativamente de menor 265
importância sob a perspectiva divina.
Tendo dito tudo isso, e voltando para os satanistas, é importante
transmitirmos a eles uma autêntica e vital imagem de Jesus Cristo.
Não é preciso “adoçar” a nossa apresentação, porque os satanistas
estão num iminente perigo de irem para o fogo do inferno, e preci-
sam conhecer a verdade. É necessário, porém, ter o cuidado de não
enfatizarmos a graça mais do que a lei. Foi o que Paulo fez.
É extremamente importante comunicarmos aos satanistas cinco
aspectos centrais sobre Jesus Cristo:

1. Jesus é o Deus todo-poderoso que encarnou


Muito satanistas não sabem disso, ou, se o sabem, não com-
preendem direito. Explique ao satanista, da melhor maneira que
puder, que Jesus é Deus feito carne (Jo 1.1,2; At 20.28; Cl 1.15;
2.9; 1 Tm 3.16). Jesus é o Ser que literalmente criou todo o uni-
verso (Jo 1.1,14; Cl 1.16). Ele é aquele que mantém o universo
unido. Todas as forças da gravidade, da atração e da repulsão de
polaridades estão sob o seu controle (Cl 1.17). Explique ainda a ele
que, sendo grandioso e onipotente, Cristo esvaziou-se de sua glória
divina e tornou-se como um de nós — para comunicar-se conosco
e nos redimir (Fp 2.6,8). Às vezes, uma conhecida historinha, das
formigas, ajuda-nos a mostrar a grandeza do que o Senhor fez por
nós, tornando-se homem:
Lúcifer Destronado

Um pai e seu filho olhavam para um formigueiro, que alguém


tinha pisado em cima. O filho estava pesaroso, vendo aquelas pe-
quenas criaturas dispersando-se por todos os lados, e o seu desejo
foi o de poder comunicar-se com elas. Seu pai explicou-lhe que
as formigas não podiam compreender a fala humana, nem havia
como escrever a elas. A simples presença de um ser humano no
formigueiro lhes traria um grande terror, inimaginável. Juntos che-
garam, então, à conclusão de que o único meio de se comunicarem
com elas seria o filho transformar-se numa formiga, indo para o
meio delas como tal. Somente desse modo, elas confiariam nele e
266 ouviriam a sua palavra. Foi isto que Jesus fez por nós, ao tornar-se
um ser humano.
Não se pode ficar em cima do muro com respeito à divindade
de Jesus de Nazaré. Ele disse ser Deus (Jo 8.58); recebeu adoração
como Deus (Mt 8.2; 9.18; 14.33; Jo 9.38); declarou ser o único
caminho para se chegar a Deus (Jo 14.6).
Quando alguém diz ser Deus, há pela lógica apenas três alter-
nativas:
1) É um lunático, tal como aquele que diz ser Napoleão ou
um ovo quente.
2) É um mentiroso.
3) É realmente Deus.
A maioria das pessoas, até mesmo os ocultistas e muitos sata-
nistas, impressionam-se com o carisma e o poder da personalidade
e das obras de Jesus. Há um consenso geral de que é totalmente
improvável ter sido ele mentiroso e enganador, embora muitos sa-
tanistas o caracterizem desse modo. Também a tendência é admitir
que é bastante improvável que um homem que agiu e ensinou como
Ele o fez fosse um desequilibrado, conquanto alguns satanistas

T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
acreditem que ele fosse demente.
Assim, para muitas pessoas, a alternativa é que Jesus foi, e é,
quem ele declarou ser: o Deus Todo-Poderoso!

2. Jesus deve ser glorificado como a fonte de todo o poder


A maioria dos satanistas tem uma imagem de Jesus como um
palerma sem importância, efeminado, que se veste com saias e
abraça e acaricia o tempo todo suas ovelhas. Infelizmente, algumas
obras de arte cristãs — especialmente as de estilo antiquado e as
pinturas católicas — de modo geral reforçam esse pretenso caráter
efeminado do Senhor. É necessário destacar que Jesus trabalhou
como carpinteiro na maior parte da sua vida adulta. Ninguém fica
com um físico delicado lidando com grandes vigas e troncos de
madeira e trabalhando com ferramentas de carpintaria o dia todo.
Outro aspecto que precisa ser enfatizado é o poder sobrenatural
de Jesus. Ele acalmou uma forte tempestade num lago, com uma 267
só palavra. Fez com que demônios ficassem cheios de abjeto terror,
só em entrar num povoado. Ressuscitou mortos! Será que Satanás
(ou um de seus subordinados) pode fazer o mesmo?
Os satanistas, em sua maioria, respeitam o poder, mas apren-
deram que Satanás é que é a fonte do poder. Assim, o poder de
Jesus precisa ser enfatizado. Ele disse:
É-me dado todo o poder no céu e na terra. (Mt 28.18 — rc).

Pois bem, se Jesus tem 100% do poder do universo, que por-


centagem restou para Satanás? Zero! O que você diz sobre isso?
Gosto de explicar aos satanistas que o diabo é como um ca-
chorro que late muito, preso numa coleira de guia bem curta. Pode
latir estridentemente e incomodar bastante, mas Jesus o mantém
com rédeas curtas. Todo dano que ele realiza é sob a permissão do
Senhor, e normalmente, de algum modo, acaba revertendo para
servir aos propósitos de Deus, especialmente quando procura atacar
os crentes (cf. Gn 50.20; Rm 8.28).
Diga aos satanistas que o poder que eles talvez tenham visto
proceder do diabo é principalmente porque Satanás fica com
uma correia maior quando se trata de não-cristãos. Se o satanis-
ta estiver com medo do que o diabo lhe possa vir a fazer, afirme
que ele pode ser salvo e ficar sob a cobertura do manto de Jesus
Cristo, que tem realmente todo o poder (veja também Jo 3.35;
Ef 1.10,11).
Lúcifer Destronado

3. Jesus deve ser glorificado como a fonte de toda a sabedoria


Como já disse, a maioria dos satanistas que não está muito
interessada em ter poder está interessada em ter sabedoria. Assim,
precisa ouvir de você que Jesus Cristo tem mais sabedoria a oferecer
do que Satanás e suas bolorentas e antiquadas revelações das trevas.
Um dos problemas que enfrenta quem compartilha o evan-
gelho é que a sabedoria bíblica não tem a mesma fascinação e o
mesmo ar misterioso da sabedoria ocultista. A percepção que a
maioria dos satanistas tem é considerar que os cristãos não passam
268
de “mehuns”, não distinguindo os verdadeiros cristãos dos apenas
nominais e achando que o cristianismo nada tem a oferecer de
significativo.
Primeiro, explique, com toda a gentileza, o que é um verdadeiro
cristão, e que os verdadeiros cristãos são em número bem menor.
O verdadeiro cristão não é alguém que simplesmente pertença a
alguma igreja ou tenha sido batizado quando criança. Explique que
esta sabedoria sobrenatural provém de se estudar a Bíblia Sagrada,
a Palavra de Deus. Diga aos satanistas que assim como alguns deles
se esforçam em seus estudos mais do que outros, também alguns
cristãos esforçam-se mais em seus estudos da Bíblia. Desse modo,
não é justo julgar Jesus e o cristianismo olhando só para determi-
nados cristãos ou igrejas.
Mostre ainda que muitas vezes o que é considerado sabedoria
pelos homens, na verdade é loucura para Deus, e vice-versa (1 Co
3.19; Is 55.8,9). Explique que, por Deus ser quem é, não dá para
compreender tudo o que ele tenha para nos ensinar. Usando de
novo a história das formigas, é como se pudéssemos perguntar a

T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
uma delas o que pensa a respeito de cálculo integral!
Se o satanista não foi muito longe pela estrada da rebeldia,
pode-se mencionar ainda que muitas das leis feitas pelos homens
baseiam-se na sabedoria da Bíblia (veja ainda 1Co 1.24; Cl 2.2,3;
Pv 8.22-36).

4. Jesus deve ser glorificado como aquele que nos amou a ponto
de morrer por nós (Rm 5.8)
Aqui chegamos a um ponto em que as pessoas não se sentem
bem à vontade, e muitos não querem falar a respeito disso, espe-
cialmente no caso de um satanista. Ele é geralmente agressivo e
egoísta, considerando isso uma virtude. É por isso que, em muitos
casos, os satanistas nunca viram o amor ágape, altruísta, em ação.
Esclareça que Cristo não rejeita ninguém que vem a ele, nem
mesmo quem o tenha rejeitado, como no caso do satanista. Ele 269
sofreu uma terrível e pavorosa execução, morrendo por todos,
inclusive pelos satanistas. Muitos satanistas não receberão esta
palavra ou até mesmo zombarão dela. No entanto, alguns serão
realmente tocados por ela, e outros serão influenciados, embora
não o demonstrem de imediato.
Diga ao satanista que mesmo que fosse ele a única pessoa no
mundo que necessitasse de salvação, Jesus teria morrido por ele.
E que ele deu a sua vida mesmo sendo Deus. Mostre que a morte
de Jesus não foi um sacrifício humano para Lúcifer coisa alguma,
mas foi o modo pelo qual Deus nos mostrou quanto ele nos amou
e, assim, satisfez as exigências de sua perfeita justiça.
Todos esses pontos são praticamente iguais aos que seriam
abordados em qualquer diálogo em que se esteja buscando ganhar
almas. Apenas é preciso enfatizar que os satanistas (como qualquer
outra pessoa) são muito carentes de amor, de um amor não egoís-
ta. Estão acostumados a não serem amados, e sim manipulados e
abusados. Este assunto de fato os impressiona. Não tenha medo
de falar com eles sobre isso!

5. Jesus deve ser glorificado como o único diante de quem satanás


um dia vai se dobrar (Fp 2.9,10, Isaías 45.23)
Faça o satanista lembrar-se da incrível precisão dos escritos
Lúcifer Destronado

proféticos de Deus. Explique-lhe que, contrariamente ao que lhe


disseram, Satanás não vai ganhar esta batalha. Pergunte-lhe se tem
uma evidência concreta que seja para mostrar que o Livro de Deus
está errado e por que Satanás triunfará. Onde estão os grandes pro-
fetas de Satanás? Onde está a evidência de que ele realmente pode
controlar o futuro, e não o que ele é, isto é, um pobre vira-lata na
coleira, com guia curta?
Diga ao satanista, amavelmente mas com firmeza, que a
Bíblia deixa claro que um dia ele, assim como também Satanás,
terá de dobrar os joelhos e confessar que Jesus é o Senhor do uni-
270 verso. Satanás não tem saída; não lhe resta opção. Mas o satanista,
enquanto estiver vivo, tem uma opção. Pode escolher inclinar-se
diante de Jesus e confessá-lo como seu Senhor e Salvador agora
mesmo, escapando assim das consequências do eterno fogo do
inferno. Isso nos leva a um desafio...

Q u e r ap o s t a r ?
Embora esta não seja a única maneira de fazer com que um satanista
ou feiticeiro “se renda” a Jesus Cristo, a abordagem descrita a seguir
costuma ser bastante eficaz. É uma abordagem clássica e baseia-se
na obra de Blaise Pascal, o grande filósofo, cientista e matemático
cristão. A linguagem de programação chamada Pascal tem esse nome
por causa dele. Esta abordagem é chamada de “Aposta de Pascal”,
porque basicamente ela reduz a eternidade a um jogo.
Em última análise, todo mundo faz o jogo de Pascal, quer saiba
disso ou não. Todos nós escolhemos “apostar” em um dentre dois
concorrentes: o disputante chamado “o cristianismo é verdadeiro”
ou seu adversário, “o cristianismo é falso”. Eis como se procede.

T e s t e m u n h a n d o a u m ad o r a d o r d o D i a b o
Diga ao satanista:
“Se o cristianismo for falso, não sendo ‘o único caminho’, e se
você seguir seus ensinos e Senhor, o que tem a perder? Seus prin-
cípios éticos são admiráveis. Por observar os Dez Mandamentos e
as Bem-Aventuranças, isso não prejudica em nada o seu “carma”,
não é? Você terá uma vida pacífica e alegre, e por fim partirá, até
a sua (suposta) próxima reencarnação. Na pior das hipóteses, o
cristianismo e seus ensinos melhorariam, até o seu carma.
“Por outro lado, se o satanismo for falso, e a declaração de
Jesus — que ninguém vai ao Pai a não ser por ele (Jo 14.6) — é
verdadeira, e você seguir o satanismo, então estará num tremendo
perigo espiritual! Você estará fora da vontade de Deus e adorando
falsos deuses. Então, estará correndo um grande risco!
Enfim, se você seguir o cristianismo e tiver sido enganado, não
perderá quase nada. Mas, se seguir o satanismo, e estiver enganado,
271
perderá tudo!”
É um lance que só possui duas alternativas. Mas essas alterna-
tivas são, na verdade, a vida ou morte eternas. Se o satanista estiver
errado, passará a eternidade no inferno.
Alguns satanistas poderão querer negar a existência do inferno
ou então dizer que o inferno é uma festa. Apresente-lhe de novo a
pergunta: “Por que você acredita nisso? Qual é a evidência mate-
mática e científica de que você dispõe para descartar o que Jesus e
a Bíblia dizem com tanta clareza?”
Outros satanistas vão querer discutir sobre como um Deus
supostamente tão bom pode fazer um lugar assim como o inferno
e mandar pessoas para lá. Mostre que Deus não fez o inferno para
os seres humanos, mas para o diabo e seus anjos (Mt 25.41). Além
disso, deixe claro que as pessoas é que se deixam ir para lá, pois
rejeitam a oferta de vida eterna que Deus lhes oferece de um modo
incrivelmente fácil e de graça. Se Jesus tivesse tornado a salvação
algo muito difícil de alcançar, então as pessoas teriam argumentos
e questionamentos válidos. Mas ele fez com que a salvação seja tão
fácil que até mesmo uma criancinha do jardim da infância pode
entendê-la. Mostre que, diferentemente de Satanás, Deus não é
esnobe. Ele aceita as pessoas como estão e as salva de seus pecados:
— basta que lhe deem o seu consentimento.
Esta escolha, quem tem de fazer é o satanista.
Lúcifer Destronado

Concluindo, esse pode ser um longo processo. A oração con-


tribuirá para facilitar a decisão, mas não são muitos os satanistas
que são salvos no primeiro contato. Pelo que me lembro, levei seis
anos, desde o dia em que pela primeira vez fui tocado pela graça e
o poder de Deus até o dia em que finalmente cheguei à cruz.
É disso que estaremos tratando nos próximos capítulos.

Notas
1
MacDowell Josh. Evidence That Demands a Verdict, v. I e II. Here’s Life
272 Publishers, 1989.
2
Ibid., p. 167.
3
Stoner Peter. Science Speaks, An Evaluation of Certain Christian Evidences
[A Ciência Fala, Uma Avaliação de Certas Evidências Cristãs], Moody
Press, 1963, p. 80.
4
LaVey Anton. The Satanic Rituals. Avon Book, 1972.
20
Descendo na
contramão

...dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões.


— Atos 26.14

A s coisas estavam se complicando cada vez mais em minha


vida. Nossos grupos de feiticeiros estavam crescendo, e o meu
próprio poder na magia também aumentava. Sharon e eu es-
távamos sendo convidados cada vez mais para outras reuniões
de feitiçaria. Os espíritos guias nos fizeram escrever a Gavin e
Yvonne Frost, da Igreja da Wicca, e chegamos a conhecê-los.
Eles nos convidaram a fazer uma avaliação crítica do meu curso
de feitiçaria.
Eu me sentia mais saudável como nunca! Contudo, via
minhas energias se esgotarem por causa da luta diária contra a
compulsão para começar a assassinar mulheres à noite. Eu sabia,
com um misto de terror e satisfação, que era apenas uma questão
de tempo para que a lascívia por sangue vencesse a prudência.
Ficaria, então, do jeito sangrento que a “metamáquina” dentro
de mim queria.
Além disso, Orion não via a hora de cumprir sua promessa
de me dar (usando suas palavras) “umazinha preparada” para eu
sacrificar no seu altar. Eu não teria como escapar. Satanás estava
cuidando para que isso acontecesse. Mas escapar para onde?
Pelo que eu sabia, havia apenas três escolhas: católicos, protes-
tantes e ortodoxos. A Igreja Católica Romana, tanto quanto minha
experiência me mostrava, estava envolvida com a magia negra,
assassinato e vampirismo. A Igreja Ortodoxa não estava muito
longe disso (pelo menos o seu ramo russo). Meu conhecimento
acerca dos protestantes era muito pequeno; para mim, pareciam
uns tolos chatos que negligenciavam todos os esmerados rituais, as
Lúcifer Destronado

vestes clericais e os vitrais coloridos, para ficarem apenas com um


monótono e constante estudo bíblico.
Tinham-me dito — tanto os católicos como os irmãos da
confraria de Satanás — que nunca pusesse os pés numa igreja de
protestantes. Por isso nunca os procurei. Eles nem mesmo eram
cogitados como solução para meus problemas. Além disso, pensa-
va que Jesus fosse um rei-vampiro, filho do próprio Satanás! Para
escapar de meu dilema, por que iria me voltar para uma pessoa
assim? Ele era a pessoa que tinha dado início a muitas das práticas
nas quais eu estava enredado; era o que eu pensava.
274

“ R e a l m e n t e ne a n d e r t a l ! ”
Quando eu estava enfrentando esse dilema, recebi um bilhete que
mudaria para sempre o curso da minha vida. Por mais curioso
que possa ser, o que veio mudar minha vida era uma simples cor-
respondência bancária. Dentro dela, estavam os meus cheques já
compensados, que sistematicamente o banco me devolvia. Quando
os peguei para conferir com os meus controles pessoais, um deles
chamou a minha atenção.
Era um cheque que eu havia enviado para a Igreja de Satanás.
No cheque, escrito com uma letra de mulher, havia a frase: “Vou
orar por você, em nome de Jesus.” Presumi que deveria ser uma
pessoa cristã achando que eu estaria enfrentando problemas e que,
por essa razão, tinha enviado dinheiro para a Igreja de Satanás.
Deveria ser um “mehum” totalmente “por fora”, pensei eu, não
entendendo que Jesus na realidade era um feiticeiro. Apenas dei
uma risada e coloquei o cheque em meus arquivos. Mas meu
riso não durou muito. Nos dias seguintes, senti como se alguém
tivesse desligado todo o meu poder por meio da magia. Senti-me
doente, fraco e desolado! Como o tipo de magia com o qual estava
envolvido era extremamente poderoso e compulsivo, eu estava sob
uma forte aflição! Imagine o que deve um viciado em drogas
sentir quando é forçado a interromper seu vício, e multiplique
isso várias vezes.

D e s c e n d o n a contramão
Então, perdi meu segundo emprego em tempo parcial, que
tinha arrumado, como guarda-noturno. Por incrível que pareça,
eu não sentia mais aqueles opressivos desejos da “metamáquina”
em meu interior, e isso me preocupava também. No fundo, sentia
também certo alívio por causa disso. Que conflito!
As contas não pagas começaram a se avolumar, e eu achava
que se tratava de alguma coisa que os demônios tinham feito
comigo, pois a situação piorava a cada dia. Não conseguia,
porém, entender o que estava acontecendo. Assim, como todo
275
bom feiticeiro, busquei presságios e sinais. Fui ao meu templo
e caí de rosto no chão, clamando a Lúcifer por um sinal. O que
tinha feito de errado? Eu havia assinado o Pacto! Eu tinha levado
tantos outros — muitos, na verdade — a assinarem o Pacto! Eu
me esforçara o máximo para crescer e ser um digno escravo de
Satanás. Eu tinha de saber o que fazer.
Embora tivesse orado a Satanás, quem me respondeu, porém,
foi Deus!
No dia seguinte, veja quem aparece em minha casa: duas
moças, discípulas de Orion, muito envolvidas no satanismo e
com discos voadores. Tinham ouvido falar que estávamos inte-
ressados em discos voadores e ligados à magia sexual e quiseram
nos conhecer. Mas trouxeram consigo algo muito estranho e
incomodativo: três revistas cristãs de histórias em quadrinhos:
Anjo de Luz, Encantamento e Sabotagem! Duas delas abordavam
especificamente Satanás e a Irmandade.
Elas as tinham encontrado em algum lugar e as traziam só para
se divertir. A mais velha das moças passou-me, rindo, as revistas
dizendo:
— Você precisa ver isso, rapaz. Eles são do tempo de Nean-
dertal!
Dei uma rápida olhada nas revistas e vi que ela tinha feito uns
sórdidos acréscimos nos desenhos. Eram palavrões e outras anota-
Lúcifer Destronado

ções satíricas nas margens, dentes pintados de preto em algumas


das personagens e também chifres do diabo desenhados em algumas
figuras de pregadores. Observei brevemente que uma das revistas
dizia, na última página:
“É: ou Cristo ou Satanás... e somente um tolo escolheria Satanás!”
“Deus o ama e deseja que você tenha paz e vida eterna no céu.”
Estas frases eram seguidas por um quadro que continha instru-
ções sobre “como receber Jesus Cristo como seu Salvador pessoal”.
Eu simplesmente dei um sorriso de escárnio. Aqueles “bobos”,
que tinham escrito aquelas coisas, nada sabiam quanto a eu já ter
276 nascido de novo pelo modo verdadeiro e secreto, por meio de Maria
Madalena! Que ousadia quererem me atingir com aquele estúpido
“papo-furado”!
Eu não tinha percebido que Deus tinha estendido sua mão
do céu usando devotos discípulos de Satanás para trazerem à
minha vida, justamente, a informação de que necessitava para
escapar daquela terrível espiral pela qual eu caía vertiginosamen-
te. Peguei as revistas e as joguei dentro de uma gaveta. Eu estava
muito ocupado — impressionando e entretendo aquelas “fãs”
satanistas — para me preocupar com histórias em quadrinhos do
tipo “Neandertal”.
Então, como se já não tivesse problemas suficientes, recebi um
telefonema, por meio do qual fui informado que o meu “Ipsissi-
mus — Sumo Sacerdote e Rei da Estrela da Manhã”, da alta esfera
satânica, tinha sofrido um sério acidente num caminhão e estava
em condições críticas. (Ele foi tirado de minha vida por quase um
ano.) O que estava acontecendo comigo?
Uma volta espiritual
Naturalmente, Satanás (tal como a natureza) detesta o vácuo.
Nem bem um dia tinha se passado, desde a hora em que joguei
as revistas dentro daquela gaveta, e alguém bateu à minha porta.
Sharon e eu estávamos prestes a sair de casa para fazer compras
numa mercearia. Ela abriu a porta e deparou com dois jovens de
rostos fortemente rosados, bem apresentados e saudáveis, com
camisas brancas, gravatas e calças escuras. Tinham um distin-

D e s c e n d o n a contramão
tivo na lapela que os identificava com o nome e uma posição.
Sharon disse:
— Vocês são mórmons, não são?
Eles deram um passo para trás, quase assustados com sua
saudação.
— Sim, se-senhora — gaguejou um deles. — Somos missio-
nários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A
senhora pode nos dar alguns minutos?
Dissemos-lhes que estávamos para sair, mas que eles poderiam
277
voltar outra hora, e teríamos prazer em conversar com eles. Os
rapazes concordaram conosco de voltar no dia seguinte, à tarde.
Sharon fechou a porta e, quando eles foram embora, ela olhou
para mim com um estranho olhar. Por que teríamos nós, ferrenhos
feiticeiros, tão prontamente acedido aos missionários mórmons,
que são o cúmulo da retidão e da chatice? Por que Sharon e eu tão
facilmente concordamos em recebê-los no dia seguinte?
Sharon sabia da resistente crise espiritual que eu vinha enfren-
tando nas últimas semanas. Ela sabia — como eu também — que
nos fora dito, cerca de seis anos antes, pelo “Grão-Mestre Druida”
(a quem já nos referimos), que se, por acaso, um dia, entrássemos
em séria crise espiritual, nos filiássemos à Igreja Mórmon! Embora
Sharon não simpatizasse muito com os mórmons, aventamos a
possibilidade de que eles teriam a chave para solucionar o nosso
problema.
Esse hierarca druida, de nome Enoque (não é seu verdadeiro
nome), era ligado a membros de alto nível dessa Igreja. Chegou
mesmo a nos mostrar fotografias suas em reuniões com o então
profeta da organização, Harold B. Lee. Garantiu-nos que a Igreja
Mórmon fora fundada por feiticeiros como um lugar em que bruxos
como nós poderíamos encontrar abrigo quando estivéssemos sob
ataque.1 
Ele nos tinha ensinado que muitas das doutrinas da Wicca e
dos druidas são totalmente idênticas às dos mórmons. Por exemplo,
Lúcifer Destronado

tanto os referidos feiticeiros quanto os mórmons creem:


• numa divindade masculina e feminina (deus e deusa);
• na preexistência como filhos espirituais;
• que a pessoa pode evoluir para tornar-se um deus ou uma deusa;
• no casamento para agora e a eternidade;
• em rituais iniciatórios secretos.2 
Assim, Enoque explicou-me que poderíamos tornar-nos
mórmons e, ao mesmo tempo, mantermos praticamente todas as
nossas crenças como feiticeiros. Além disso, revelou-nos que os
rituais secretos dessa Igreja seriam uma incrível fonte de poder do
278
ocultismo. Portanto, parecia que a chegada daqueles missionários
era uma resposta às nossas orações... a Satanás.
Assim, quando os missionários voltaram, sentamo-nos e pa-
cientemente prestamos atenção à apresentação que eles fizeram,
com muita encenação, e diversos diagramas ilustrativos. Nós os
surpreendemos por verem quanto já sabíamos da doutrina da
Igreja dos Santos dos Últimos Dias e, dentro de uma semana, já
tínhamos submetido a eles o nosso pedido para sermos batizados
e nos tornarmos membros de uma igreja mórmon.
Fomos entrevistados e aprovados por um “líder regional”, e de-
pois informaram-nos por telefone que seríamos batizados dentro de
algumas semanas. Senti uma forte e rara emoção ao receber aquela
notícia, ao desligar o telefone. Parecia-me uma chance de começar
tudo de novo. Os mórmons ensinam que o batismo libera a pessoa
de todos os pecados. Isso significava para nós uma oportunidade
de limpar tudo e recomeçar zero-quilômetro!
Eu vinha me sentindo muito sujo e ainda me via sendo usa-
do em minhas experiências com os vampiros e minhas atividades
satânicas. Tive para mim que algum tipo de milagre havia aconte-
cido, uma vez que minha vontade de tomar sangue tinha acabado
totalmente e meu apetite normal estava retornando. Seria esta,
realmente, a chance para começar tudo de novo?
A impressão que eu tinha era que não havia nada a perder! Se
Enoque estava certo, então eu alcançaria um novo marco em meu
poder luciferiano ao passar pelos rituais no templo mórmon. Isso

D e s c e n d o n a contramão
seria uma solução para o misterioso esvaziamento que eu vinha
sentindo ultimamente em minhas reservas de poder por meio da
magia. Se Enoque estava enganado, então eu estaria me unindo à
verdadeira Igreja cristã! Àquela altura, eu acreditava que as duas
alternativas seriam possíveis ao mesmo tempo.
Parecia bom demais para ser verdade! Será que de fato, por
meio dos rituais mórmons, eu iria me encontrar com o Jesus que
vinha procurando durante todos aqueles anos? Os rostos sorri-
dentes e saudáveis dos missionários comunicaram-me uma paz
279
que eu não conhecera nos últimos dez anos, uma paz firmada no
entendimento de que eu estava fazendo a vontade de Deus. Desde
que meus professores universitários detonaram as bases da minha
fé na Bíblia, passara a ter dificuldade em crer, e procurei Jesus nos
lugares mais improváveis de encontrá-lo.
O lugar mais óbvio de todos seria o lugar certo? A instituição
que se chama Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
teria como me dar este Jesus? Naquela noite, quando fui dormir,
orei para que isso acontecesse. Com lágrimas de esperança, orei
com todo o meu coração que assim fosse.

U m so n h o ma l en t e n d i d o
O Senhor não desiste nunca, este crédito eu lhe dou! Enquanto
eu dormia naquela noite, tive um sonho bem agitado. Ele falava
comigo, mesmo estando eu prestes a me ligar a um culto religioso.
Chamava-me de volta, da beira de um precipício.
O sonho começou estando eu na parte mais alta de uma mon-
tanha. Era noite, e havia nuvens movimentando-se rapidamente,
com estrondos de trovões. De quando em quando, eu era iluminado
naquele íngreme pico pelos clarões de relâmpagos sobre os quais não
conseguia ter quase nenhum controle com a minha magia. Estava
frio e ventava naquele lugar elevado, todo tomado pela tempestade;
contudo, eu sentia prazer pelo poder que tinha.
Lúcifer Destronado

Durante um rápido momento em que a tempestade se acal-


mou, ouvi o som de um cântico vindo do sopé da montanha.
Voltei, então, o meu olhar para o vale lá embaixo e vislumbrei
algumas luzes. Assim que as nuvens que circundavam o pico se
dispersaram, pude ver claramente de onde vinham as luzes e o
som daqueles cânticos. Eram de uma pequena igreja evangélica
naquele vale escuro, com suas despretensiosas janelas lançando
nas trevas calorosos raios de uma iluminação amiga. Ela estava
repleta de pessoas, e senti uma pontada de solidão. Estavam can-
tando um dos poucos hinos evangélicos que eu já tinha ouvido
280 “Amazing Grace” “Maravilhosa Graça”, de John Newton, um dos
hinos mais conhecidos e cantados nos Estados Unidos. De todo
o coração, minha vontade era sair do lugar onde me encontrava e
ir até lá misturar-me com aquela gente. A cruz que havia sobre a
porta da igreja parecia estar acenando para mim. Mas uma parte
dentro de mim me puxava para trás:
— Não seja tolo! Você é um feiticeiro, um praticante da magia!
Faz parte da sua condição de feiticeiro estar isolado, afastado das mul-
tidões. Seu dever é trazer relâmpagos dos céus para que a humanidade
não perca o seu senso de magia!
Em meu sonho, protestei:
— Mas estou cansado de tudo isso! Já “dei duro” por muitos
anos. Não tenho direito a um descanso?
De algum modo, finalmente reconheci o timbre da voz do meu
interlocutor no sonho como sendo a voz de Aleister Crowley:
— A magia é como subir numa montanha. Você não pode parar
para descansar nunca, ou você despencará e se destruirá todo.
— Nunca? — lamentei, chorando, com muita tristeza.
— Não, até que você alcance o ponto mais alto e se torne um
Ipsissimus, como eu — um deus encarnado!
— Mas estou cansado e sinto-me só. Quero descer e juntar-me
àquelas pessoas naquele lugar tão caloroso e acolhedor.
— Esses aí são os tolos que os homens adoram ser, tanto seus deuses
como eles mesmos são tolos!...
Em meu sonho, Crowley sorria com descaso e citou seu Livro
da Lei:

D e s c e n d o n a contramão
— Vá até lá, junte-se a eles e perca tudo que você conquistou.
Torne-se um deles, e eles o amarão. Então você poderá “morrer nas
covas com os cães da razão”.
Senti como se estivesse tremendo de frio, e os raios dos trovões
caíam cada vez mais perto de mim.
“Se eu ficar aqui, vou morrer” — pensei.
Crowley proclamou:
— Se você descer até lá, homenzinho, sua mente será a de um
otário total em menos de 15 dias. 281
Os relâmpagos caíam mais perto ainda. De algum modo, o
som do hino começou a extinguir a sarcástica fúria de “Crowley”
em meu sonho.
O hino parecia falar comigo e dizer: “Você não precisa ficar aí
como uma vara de condão humana, lançando relâmpagos, a fim de
salvar a humanidade. Jesus já fez tudo por você. Desça e junte-se
a nós, na família de Deus.”
Tremendo de frio, comecei a descer. Indo para baixo aos
tropeços, naquele precipício, em direção às convidativas luzes
daquela igreja, ouvi ainda a voz crítica de Crowley ecoando às
minhas costas:
— Você vai se arrepender! Você está cometendo um grande erro. Vai
cair no abismo! — advertiu-me ele, referindo-se à versão ocultista
do inferno, o “abismo”, onde caíram aqueles que não conseguiram
tornar-se um deus. Ora, como praticante da magia, as únicas pessoas
que eu tinha ouvido falar terem caído no abismo eram aquelas que
tinham ousado tornarem-se crentes em Jesus. Foi com esse triste
pensamento que acordei.
Infelizmente, minha ignorância sobre hinos evangélicos era
quase tão grande quanto de Teologia. Interpretei mal o meu sonho,
achando que havia uma bênção sobre minha decisão de ficar ao lado
daqueles jovens mórmons de rostos tão ardentes, ingressando em
sua Igreja. Naquela época, não sabia que os mórmons não cantam
Lúcifer Destronado

o hino com que eu havia sonhado, tampouco em suas igrejas se


encontra o símbolo da cruz!
Minha falta de conhecimento bíblico também fez com que
a advertência de Deus passasse por mim sem que a entendesse.
Sentia-me muito feliz pensando que, por ter encontrado o Cristo
dos mórmons, tinha encontrado o Jesus de meus mais devotados
sonhos. Nem imaginava que, na realidade, estava prestes a par-
ticipar de uma das contrafacções mais bem engendradas e cruéis
de Satanás!
Assim, em 8 de agosto de 1980, fui batizado numa igreja
282
mórmon por dois missionários anciãos, que ensinaram a Sharon e
a mim as “discussões” (lições missionárias). Ela e eu havíamos con-
versado sobre isso, e Sharon concordara em ser batizada também;
todavia, estipulou a condição de que deixaríamos aquela seita se
os rituais do templo não fossem o que estávamos esperando, ou se
nada resolvessem por mais de um ano.

À be i r a d a lu z
Não há tempo nem espaço neste livro para narrar tudo o que acon-
teceu nos meus estranhos cinco anos de aventuras como mórmon.
No entanto, uma vez mais, embora Satanás tenha tentado usar o
mormonismo como nova artimanha espiritual para me enganar e
armar cilada contra mim —, Deus fez uso desse tempo para um
propósito muito mais nobre. Ele o usou para mostrar-me que eu
era pecador.
Os mórmons, como toda gente sabe, não são más pessoas.
Eles, afinal, se esforçam por viver vidas íntegras. Como feiticeiro
e satanista, isso realmente não estava entre os primeiros pontos da
minha lista de prioridades. Como satanista, eu não tinha consciên-
cia alguma quanto a ser pecador. Com efeito, no dia em que não
cometia um grande pecado, achava que tinha sido um mau dia.
Naquele tempo, eu vivia praticando adultério, bebendo sangue e
usando entorpecentes como um demônio, ano após ano!
Quando, porém, me filiei à Igreja dos Santos dos Últimos

D e s c e n d o n a contramão
Dias, percebi que havia um esquema de regras bem diferente que
eu tinha de observar. Para me qualificar de poder ir ao templo
supersecreto — a que tinham direito apenas alguns poucos mór-
mons pertencentes à elite, portadores de cartões de recomendação
para entrar no templo —, eu sabia que seria entrevistado sobre a
minha guarda de todos os mandamentos.
Tomei a resolução, então, de “entrar na linha”, na minha nova
religião. Uma misteriosa força havia retirado de mim a dependência
de sangue. (Agora, olhando para o passado, entendo que deve ter 283
sido pelas orações daquela moça do banco, a que escrevera no che-
que, por mim.) Paralelamente, meu desejo por maconha e cocaína
diminuíra substancialmente. Isso era bom, pois o código dietético
mórmon proíbe toda bebida alcoólica e também drogas, café, chá
e cigarro. Eu nunca fumei, raramente bebia uma bebida forte e
quase nunca tomávamos café ou chá preto (éramos vegetarianos,
consumindo apenas alimentos naturais).
Com muita força de vontade (e certamente a ajuda daquela
moça do banco, que orava por mim), consegui largar o vício das
drogas em poucas semanas, após o meu batismo mórmon. Alguns
dos meus outros hábitos pecaminosos eram um pouco mais difíceis
de vencer. Pela primeira vez na vida, tive que enfrentar o desafio de
não mentir, não ver pornografia (isso não era nada fácil para quem
havia passado 12 anos cultuando em plena nudez com dezenas de
moças formosas!), não perder as estribeiras, nem tomar o nome
do Senhor em vão.
Pela primeira vez em 12 anos, tive que enfrentar o pecado, em
minha vida, como um inimigo a ser vencido, em vez de tê-lo como
um companheiro com quem “festejar com muita alegria”. Isso não
era nada divertido! Ficar lá com os mórmons ajudava um pouco.
Eram pessoas admiráveis, que não liam revistas do tipo Playboy e
costumavam alertar-me para ter cuidado com o meu linguajar.
Não obstante, por acreditarmos que a Igreja Mórmon era
Lúcifer Destronado

dirigida por druidas do grau mais elevado, não tínhamos deixado


de praticar a feitiçaria. Com efeito, em 1981, Sharon e eu tivemos
uma entrevista em Salt Lake City com um “apóstolo” da Igreja
(um dos 15 homens de sua cúpula mundial). Por termos podido
dar-lhe algumas “chaves” e “sinais” especiais, que nos tinham sido
passados pelo Mestre Druida, ele se abriu para nós. Solenemente,
assegurou-nos que nossas intuições e informações estavam certas.
Lúcifer é, de fato, o deus adorado no templo mórmon.3
Ele nos advertiu que corríamos certo perigo. Fomos “acon-
selhados”, sob pena de morte, a nunca falar do que fora tratado
284
naquela reunião com nenhum oficial da Igreja de nível inferior ao
de apóstolo. Também nos deu a entender que, se mudássemos para
o estado de Utah, onde fica a sede da Igreja Mórmon, teríamos,
certamente, um lugar na hierarquia. Concluímos, assim, que o
mormonismo não passa de uma feitiçaria “cristianizada”.
Então o que fizemos foi “mormonizar” um pouco nossos
grupos de feitiçaria e deixamos de nos considerar satanistas. As-
sumimos, porém, que agora éramos luciferianos. Como fazíamos
parte dos poucos mórmons que pertenciam à “elite” do templo,4 
tínhamos que usar uma veste especial sagrada debaixo da nossa
roupa (na verdade uma veste secreta). Sharon e eu começamos
a realizar nossas reuniões do grupo vestidos com mantos, e não,
como fazíamos antes, com “vestes celestes” (o termo Wicca para
estarmos nus). Em pouco tempo, sem que disséssemos nada a
respeito, o uso de mantos tornou-se um símbolo de status, tal é o
poder de uma liderança.
Deixamos de beber vinho em nossos sabás. No lugar do vinho,
passamos a tomar suco de uva. (Isso nos alegrou bastante, pois, na
verdade, detestávamos vinho e outras bebidas alcoólicas...) Chega-
mos até a levar alguns de nossos melhores participantes de nossos
grupos a ingressarem na Igreja Mórmon! Outras mudanças menores
também ocorreram.
Quando Sharon e eu nos conhecemos, tínhamos feito um
acordo entre nós de que cada um buscaria desenvolver-se na ma-
gia à sua maneira, da forma como se sentisse dirigido para isso.

D e s c e n d o n a contramão
Respeitávamos os princípios um do outro e contávamos com a
integridade pessoal um do outro para perseverarmos em nossos
objetivos e ideais. Desde que entrei no satanismo, por exemplo,
Sharon participou apenas daquelas atividades consideradas abso-
lutamente necessárias. Era o caso de rituais em que havia algumas
outras sacerdotisas nos grupos, que invejavam sua posição. Percebeu
que tinha de se envolver um pouco ou ficaria para trás.
Nosso pessoal a considerava quase uma segunda mãe, e havia
entre nós uma união como de uma família. Achavam, porém, que 285
mesmo que ela não demonstrasse interesse por determinada “prática
das trevas”, teriam a porta aberta para pessoalmente ingressarem
naquela corrente de magia. No entanto, ela trabalhava em outras
áreas da feitiçaria e continuamente procurava “trazer luz” às nossas
atividades. Em vez de rituais satânicos, incentivava a pesquisa na
alquimia e em ciências tais como a cristalografia e sua matemática.
Em vez de drogas (um dos oito maiores raios da roda dos bruxos),
instruía a respeito de vegetarianismo, saúde e ioga. Em vez de dispor
os círculos de magia branca com os quatro deuses pagãos, como
fazíamos, ela passou a invocar os vigias do grupo com os nomes
dos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João. Fazendo agora uma
retrospectiva do passado, na verdade sua tênue oposição tornou-se
a cada nível sutilmente visível.
Logo depois que isso começou, Sharon passou por uma expe-
riência fora do comum. A reunião do círculo do sabá desenvolvia-se
normalmente. O círculo havia sido feito, os vigias estabelecidos, e,
como era uma noite de lua cheia, começamos a fazer a invocação
para trazer até nós a essência da deusa à grande sacerdotisa: “Fa-
zendo Descer a Lua”. Não era algo raro de acontecer, mas também
não era comum Sharon “entrar em transe” e incorporar a deusa,
como aconteceu naquela noite. Então, um espírito totalmente
novo veio sobre ela, e ela começou a falar numa linguagem des-
conhecida. Tinha assumido o que se chama a “posição de deusa”
Lúcifer Destronado

(uma postura em pentagrama) para a invocação. De repente, caiu


de joelhos, chorando e falando sobre o quê, não sabíamos! Estáva-
mos acostumados a esperar que qualquer coisa pudesse acontecer,
mas não foi “qualquer coisa” que aconteceu. Ela (a deusa, pelo
que críamos) impôs as mãos sobre cada um de nós, abençoando,
e em seguida passou a lavar nossos pés com a água consagrada que
tínhamos usado para fazer o círculo.
Isso perturbou muitos de nossos iniciantes, porque se tratava de
algo muito próximo de lembranças que eles procuravam esquecer!
Mais da metade deles tinha sido criada no catolicismo e testemu-
286 nhado a cerimônia do lava-pés na quinta-feira santa.
Algum tempo depois, Sharon começou a falar de sair total-
mente do grupo, tornando-se uma pessoa “normal”: talvez voltando
a estudar, arranjando um emprego, fazendo uma reviravolta total
em sua vida. Nenhum de nós percebeu que algo muito incomum
havia acontecido. Era agora uma mulher diferente. Estava muito
confusa, mas, certamente, tinha mudado.
Embora as mudanças parecessem ser para melhor, eu nem
suspeitava que um novo desafio, vindo do céu, em pouco tempo
nos alcançaria.

Notas
1
Numa pesquisa posterior, feita tanto por mórmons, como D. Michael
Quinn, que foi professor numa universidade dessa Igreja, como por
cristãos ex-mórmons, como Ed Decker, Chuck Sackett e eu, foi consta-
tado que Joseph Smith (1804-1844), o fundador, envolvera-se com o
ocultismo desde muito jovem. Ele era uma espécie de mago popular, que
praticava astrologia, adivinhação, sacrifício de animais e necromancia. Os
ritos secretos da Igreja Mórmon estão cheios de feitiçaria e simbolismos
maçônicos e satânicos. Veja o monumental trabalho de Quinn: Early
Mormonism and the Magic World View [O Mormonismo em Seu Início
e a Cosmovisão Mágica], Signature Books, 1987; assim como: The God
Makers [Os Que Fabricam Deus], por Ed Decker e Dave Hunt, Harvest
House, 1984; Mormonism’s Temple of Doom [O Templo Mórmon da
Perdição] e Whited Sepulchers [Sepulcros Caiados], por Jim Spencer e

D e s c e n d o n a contramão
eu, Triple J Books, 1987,1990.
2
Para mais informações a respeito, veja o livro, já citado, Mormonism’s
Temple of Doom [O Templo Mórmon da Perdição].
3
Esta entrevista com o “apóstolo” mórmon causou uma controvérsia.
Veja “The Lúcifer-God Doctrine, Shadow or Reality” [A Doutrina de
Lúcifer como Deus, Sombra ou Realidade], de Ed Decker e Bill Sch-
noebelen, disponível em: Saints Alive in Jesus, Box 1076, Issaquah,
WA. 98027, USA.
4
Registros oficiais da Igreja Mórmon do final da década de 1980 (pois 287
depois desse ano passaram a não mais divulgar os dados da Igreja) mos-
tram que somente cerca de 25% de toda a membresia vão ao templo, ao
menos uma vez! Dos que vão, a metade nunca mais retorna. E a ida ao
templo da igreja é tida como a principal experiência espiritual e o dever
de um mórmon fiel, sendo considerada absolutamente essencial para
a sua salvação. Desses, 13%, apenas a metade, possuem as credenciais
para entrar no templo e o frequentam conforme seus líderes desejam.
Isto significa que 93 a 94% dos membros estão condenados. Nunca
serão considerados dignos da “vida eterna”, segundo a própria doutrina
mórmon.
21
R e g e n e r a d o s, chamados
e comissionados!

Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes


a vida eterna, a vós outros que credes em o nome
do Filho de Deus.
— João 5.13

Meu único problema (além da minha natureza pecaminosa) era


que Sharon desde o início não gostou muito do mormonismo, e
sua aversão crescia a cada dia. A grande diferença (exterior) entre
a Wicca e o mormonismo é que, enquanto a Wicca era militante-
mente feminista e matriarcal, a Igreja dos Santos dos Últimos Dias
era, cinicamente, patriarcal. Ignorante das coisas espirituais como
eu era, presumi que Sharon não gostasse da Igreja Mórmon por ser
discriminatória em relação ao sexo feminino, tratando as mulheres
como tolas e dominadas.
Tornado cego, pelo meu próprio espírito religioso, não percebi
que Sharon divisava além da falsidade do mormonismo e queria
para si o verdadeiro cristianismo. Em sua infância, ela tivera um
encontro de fé salvadora com o verdadeiro Jesus Cristo. No entanto,
como fora educada em escolas católicas, as freiras forçaram-na, sob
terríveis ameaças, a crer que o catolicismo era o único modo de
seguir a Jesus, a quem ela cultuava e adorava.
Sem discipulado, sem estudos bíblicos, Sharon foi intimida-
da assim a acreditar que o catolicismo era o verdadeiro caminho
para Deus. Então, quando adolescente, começou a ver, por meio
das falácias e hipocrisias do Vaticano, que isso não era verdade;
não tinha ideia alguma para onde ir. Morava em Dubuque, Iowa,
cidade 90% católica. Desiludida, foi alcançada pela onda cultural
do movimento hippie e do ocultismo. Saiu do catolicismo para a
Lúcifer Destronado

feitiçaria e, depois de alguns anos, me conheceu. Todavia, a grande


diferença entre nós era que eu nunca tinha nascido de novo em
Cristo, mas ela tinha! Era por isso que podia expulsar demônios de
pessoas, quando todos os meus rituais e todas as minhas “santas
ordens” católicas falhavam.

S a l v o p e l a “ mocinha”!
Depois de ter passado alguns anos como mórmon, Sharon, arrasa-
da, viu-se mais perto ainda do seu relacionamento inicial com Jesus,
290 mas estava ainda a anos-luz de distância. Lendo a Bíblia, embora
na versão mórmon, passou a se prover de um conhecimento cada
vez maior do verdadeiro cristianismo. Diferentemente de mim, ela
havia se desligado quase que inteiramente das obras de feitiçaria,
por ver tais práticas como contrárias ao que a Bíblia ensina. Passou
a delegar a outros, cada vez mais, suas responsabilidades no ocul-
tismo e a falar sobre acabar com todos os nossos elos com a magia,
todas as iniciações e relacionamentos com grupos de feitiçaria, até
mesmo sobre nos desligarmos do mormonismo!
Falava comigo com muito empenho sobre deixarmos a Igreja,
Mórmon, mas eu não lhe dava ouvidos. Estava encantado com o
meu chamado especial para o sacerdócio da ordem de Melquise-
deque e com o recém-descoberto senso de retidão própria.
Sharon percebeu que o único modo pelo qual poderia fazer
alguma coisa para me ajudar a me libertar do mormonismo
seria forçar-me a perder o meu sistema de apoio. Ela tomou,
então, todas as providências para mudar-se de Milwaukee, onde
morávamos, voltando para Dubuque, de forma a continuar seus
estudos. Convidou-me a tomar a decisão de mudar-me também,
indo com ela. O tempo todo, ela estava confiando no Senhor e ora-
va secretamente para que, uma vez longe dos meus companheiros

R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
do sacerdócio mórmon, pudesse falar seriamente comigo. Sharon
estava “abalando os céus” por minha causa, para que eu percebesse
quão distante da verdade o mormonismo realmente se encontrava.
Protestei com ela quanto à mudança, dizendo-lhe que eu tinha
assumido a responsabilidade de ensinar Novo Testamento no insti-
tuto da Igreja Mórmon, mas não teve jeito! Já estava decidida, de
modo que eu acabei concordando, embora isso significasse perder
meu emprego e mudar-me para uma área de Iowa onde poderia
não ser fácil achar um trabalho.
O que Sharon não sabia é que eu também tinha encontrado
algumas contradições dentro do próprio mormonismo, mas temia
discutir esse assunto com ela. Sabia que ela já via a Igreja Mórmon
com certo descrédito e eu não queria afastá-la ainda mais da Igreja.
291
Em meu ministério nessa Igreja, conheci muita gente que não
estava sendo ajudada pelo mormonismo e vi que muitos ainda es-
tavam vivendo uma vida muito aquém do padrão, não cumprindo
os 4.000 mandamentos ali preceituados.
Além disso, eu fora chamado a ensinar Novo Testamento na
instituição de ensino da Igreja,1  mas havia muitas passagens —
especialmente em Romanos e Gálatas — que me atormentavam.
Todavia, eu não sabia para onde me dirigir. Quando o primeiro
semestre letivo do meu contrato terminou, também me mudei
para Dubuque.

P o d e se r tã o fá c i l as s i m ?
Nossa mudança deve ter sido o que o Espírito Santo estava planejan-
do no segundo dia após minha chegada a Dubuque. Colocaram um
folheto à nossa porta, anunciando um Seminário sobre Profecias,
que seria realizado num parque da cidade. Sabia que não era um
evento mórmon, mas eu havia dedicado muito tempo estudando
o livro de Apocalipse, principalmente por causa do curso de Novo
Testamento que teria de ministrar. Achei, também, que possivel-
mente teria ali uma oportunidade de ganhar algumas pessoas para
a Igreja Mórmon. Afinal, eu pertencia a uma Igreja dirigida por
um “profeta vivo”!
Depois de assistir às reuniões algumas noites, comecei a sentir
Lúcifer Destronado

estranha excitação no meu coração. O pregador era alguém que ci-


tava passagens e mais passagens da Bíblia, e algo me atingiu quando
ele falou sobre o sangue de Jesus. Finalmente, abordei o mais jovem
dentre os dois pregadores que estavam dando o seminário e pro-
curei convencê-lo da doutrina mórmon. Eu queria convencê-lo de
que, para alguém receber o batismo, era necessária uma autoridade
sacerdotal para ministrá-lo. Essa questão da autoridade, segundo os
mórmons, era vital, argumentando eles que os protestantes e toda
a sua “laia” ficariam numa terrível situação, que os levaria à morte,
por não terem sacerdócio. Finalmente, perguntei-lhe como tinha
292 recebido autoridade para batizar. Com um bondoso sorriso, ele
simplesmente me respondeu:
— Recebi de Jesus Cristo, como todo cristão a recebe.
Então, citou Atos 16.31, dizendo que nem mesmo o batismo
era necessário para ser salvo:
Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa (At 16.31).
Esta passagem bíblica penetrou a fortaleza do meu testemunho
mórmon como um foguete Exocet, detonando todas as minhas
defesas. Aquilo não saía da minha cabeça durante todo o tempo
em que voltava para casa naquela noite:
“E se ele estiver certo?... É tão fácil assim?” Era um pensamento
que me incitava.
Senti-me como um condenado que apenas ouve o rumor de
que pode vir a ser perdoado. Meu coração não ousava se arriscar. E se
aquela palavra não fosse verdadeira e os mórmons estivessem com
a razão? Eu poderia crer naquela palavra, ou teria de descartá-la?
Como precisava garantir meu sustento, comecei a procurar
emprego. Tive pouco sucesso, de modo que em todo o meu tempo
livre voltei a trabalhar com um livro que resolvera escrever para
provar a verdade do mormonismo. Essa minha ocupação me fazia

R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
esquecer temporariamente do testemunho que eu tinha acabado
de receber. A palavra, porém, aninhou-se silenciosamente em meu
coração, como uma semente.
Concluí vários capítulos do meu livro e dei início a um capí-
tulo sobre os antecedentes pagãos da Igreja Católica. Então, num
lampejo, lembrei-me daquelas revistas em quadrinhos cristãs, pois
mencionavam a Igreja Católica. Eu as li e observei, com grande in-
teresse, todas as questões que me seriam úteis ao escrever o capítulo
sobre o catolicismo. Uma vez mais, porém, senti uma palpitação de
esperança ao ler a “versão protestante” do evangelho. Parecia fácil
demais! Boa demais para ser verdade!
Verifiquei que poderia fazer um pedido de publicações diversas
àquela editora, e assim fiz. Quando chegaram os livros, revistas e
folhetos que encomendara, os “devorei” com avidez. Constatei, 293
então, que despertavam certas percepções nada agradáveis em meu
coração. Aqueles livros apresentavam uma doutrina que eu nunca
ouvira antes, exceto com conotação totalmente depreciativa. O que
eu li foi que uma pessoa pode ser salva apenas por confiar em Jesus
Cristo, e que sacramentos, templos, rituais ocultistas, sacerdócios,
tudo isso é totalmente desnecessário — e até mesmo pernicioso —
para você ter a vida eterna.
Fiquei meditando sobre isso por um bom tempo, mas tive
que parar um pouco com a minha pesquisa. Consegui um traba-
lho de vendedor de aspiradores de pó, como autônomo. Durante
semanas, eu me excedi nesse trabalho, mas não conseguia vender
nada, e estava gastando um bom dinheiro com gasolina, indo por
toda parte da cidade. Enquanto dirigia, porém, tive bastante tempo
para pensar e orar. Passei por zonas rurais, locais de uma natureza
fascinante naquele início de verão, e orei pedindo por orientação.
Passei também em frente de pequenas igrejas do interior e, em vez
de um condescendente escárnio de outrora, olhei atentamente para
elas, como se fossem um tesouro raro que, de algum modo, eu tinha
necessidade.
Secretamente, em meu coração, era aquilo que eu queria. O
sonho que eu tinha tido, quando desci a montanha em direção
àquela igrejinha que cantava o hino evangélico, estava o tempo
todo em minha mente.
Lúcifer Destronado

Li, então, Romanos com muita ansiedade, comparando-o


com o que os folhetos e os livros me diziam. Vi como tudo era
tão simples. Li e reli várias vezes, e comecei a jejuar e orar para ter
certeza de que esta era, de fato, a verdade.
Quatro dias depois, decidi tentar uma abordagem diferente.
Peguei uma daquelas revistas cristãs em quadrinhos. É que me
lembrei de que, na última página, havia uma oração específica para
receber Jesus como Salvador e Senhor.
Dobrei-me e, ajoelhado ao lado de minha cama, fiz aquela
oração com todo o meu coração. Inclusive dei uma paradinha
294 e retirei, naquela hora, a vestimenta mórmon que usava por
baixo da roupa, para que não houvesse nenhuma “interferência
espiritual” em minha oração. Confessei ao Senhor que eu era de
fato um pecador, talvez o principal dos pecadores (veja Romanos
3.23). E com sinceridade renunciei os meus pecados e me arrependi
(Lc 13.5), confessando que Jesus Cristo morreu na cruz por meus
pecados e ressuscitou dos mortos para que eu pudesse ter vida
eterna (Rm 10.9,10). Pedi a Jesus que me salvasse de meus pecados
(Rm 10.13) e passasse a ser o Senhor absoluto da minha vida (Rm
12.1,2).
Não ouvi nenhum coro celestial cantar naquele momento. Mas
senti, de fato, uma tranquilidade e uma paz extraordinária vindo
sobre mim; uma paz que até agora flui de meu interior quando
escrevo estas linhas, anos depois! Era uma paz como nunca, mas
nunca mesmo, eu tinha experimentado, em mais de 30 anos de
vida. Antes eu nem mesmo sabia quão vazio estava, até o momento
em que me enchi desta paz.
Senti-me, então, muito melhor, mas ainda tinha algumas
dúvidas. Decidi que iria “testar” tudo isso. Primeiro, deixei de
lado a vestimenta de magia mórmon. Sharon estava ainda na
Escola de Enfermagem, de modo que fiquei sozinho com meus

R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
pensamentos. Senti que precisava conversar com alguém, mas não
me veio à mente o nome de quem quer que fosse que pudesse me
compreender, a não ser o nome dela.
Naquela noite, conversamos bastante. Sharon estava exultante
de alegria pelo fato de eu ter finalmente encontrado o caminho certo.
Eu tinha sido salvo pela graça e liberto pelo sangue do Cordeiro.
Ao explicar-lhe o que tinha descoberto na Bíblia, nos folhetos e nas
revistas, ela sorriu, demonstrando que se sentia muito feliz. Explicou-
-me, então, que fora desse modo que ela acreditara no princípio,
e que sua experiência, naquele tempo, tinha sido igual à minha.
Disse-me que vinha em busca dessa fé que ela havia perdido desde
que viu a hipocrisia que há na Igreja Católica, tantos anos atrás.
Ficamos exultantes ao vermos que nós dois, por caminhos
independentes, tínhamos chegado às mesmas conclusões. Depois 295
disso, passaram ainda alguns meses para nos desembaraçarmos da
Igreja Mórmon. Mas havia ainda algumas medidas que precisariam
ser tomadas.

Destronando o Diabo
Eu estava ainda pensando sobre que tipo de igreja deveríamos agora
frequentar, uma vez que os mórmons estavam errados. Sabia que
queria uma igreja em que a Bíblia, e apenas a Bíblia, fosse usada
como autoridade para estabelecer o que é a verdade. Além disso,
meu novo Amigo, o Espírito Santo, incomodava-me com respeito
ao enorme volume de livros ocultos, e de toda a parafernália do
ocultismo que ainda permaneciam num armário, fechado à chave,
em nosso depósito, no andar de cima.
Milagrosamente, o Espírito levou-me (pela primeira vez) a
uma livraria evangélica. Meus líderes mórmons sempre me diziam
que eu não deveria entrar nessas livrarias, pois estavam cheias de
lixo, com materiais renegados e sectários. Assim, fiquei por algum
tempo do lado de fora e dei uma volta naquele quarteirão, até
certificar-me de que ninguém conhecido estava por perto; então,
entrei apressadamente na loja.
Lá dentro, fui andando por entre as estantes de livros, quando
de repente um livro literalmente caiu da prateleira em minhas mãos.
Lúcifer Destronado

Era o livro The Beautiful Side of Evil,2  de Joanna Michaelsen [pu-


blicado no Brasil sob o título A Face Atraente do Mal, pela Editora
Candeia]. Com um pouco de nervosismo, folheei rapidamente o
livro e vi que continha exatamente os ensinamentos de que estava
precisando. Ainda com algum receio de que poderia estar sendo
visto por um mórmon, fui ao caixa, sentindo-me como se estivesse
comprando uma obra pornográfica da pesada. Assim que ele em-
brulhou o livro e eu o paguei, lancei-me para fora da loja como se
o diabo estivesse correndo atrás de mim.
Quando cheguei à casa, tive ainda algum receio quanto ao que
296 Sharon poderia dizer; assim, disfarcei e procurei esconder minha
compra. Mas ela é muito observadora e perguntou o que eu tinha
comprado para ler. Mostrei-lhe, então, o livro, e ela sorriu e disse:
— Ótimo! Quem sabe ele não irá colocar algum juízo em sua
cabeça?
Aquele livro ajudou-me bastante. Explicou-me que o “Jesus”
do ocultismo e do espiritismo é um falso Jesus, assim como o
“Jesus” do mormonismo. Também me ensinou que eu deveria orar e
renunciar aos meus poderes do ocultismo e que eu teria de queimar
todo o meu material de magia que estava escondido.
Decidi, então, telefonar para várias igrejas da cidade, que
achei que seriam bíblicas. Disse-lhes: “Sou um ex-satanista e
mórmon e tenho um montão de livros do ocultismo. Gostaria que
vocês me ajudassem a queimá-los.” Como seria de esperar, muitos
deles desligaram o telefone na minha cara. Outros me disseram
que o pastor não se encontrava ou que não poderia atender-me
naquela hora. Finalmente, consegui encontrar um pastor que
realmente cria na Bíblia, num bairro afastado do centro da cidade.
Ao me ouvir, ele disse:
— Louvado seja o Senhor! Traga-os com você, que vamos
queimar tudo!

R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
Sentindo-me de repente atemorizado, sem que houvesse razão
para isso, enchi todo o porta-malas não só com caixas de livros,
mas também punhais, espadas, mantos e incensórios. Dava para eu
quase ouvir sedutores sussurros daquelas caixas, dizendo: “Não nos
queime. Você não pode viver sem nós!” Engolindo um nó na garganta
do tamanho de uma bola de golfe, fechei rapidamente o porta-malas
e me pus a caminho.
Enquanto me dirigia para a igreja, pude quase sentir terremo-
tos acontecendo ao meu redor e a estrada abrindo-se para a minha
passagem. Parecia que um raio poderia cair sobre o carro a qualquer
momento. Fiquei encharcado com o suor frio de um terror apa-
vorante quando nem mesmo três quadras tinha percorrido. Não
percebi na hora, mas o fato é que estava sob um ataque demoníaco.
Felizmente, o pastor estava em seu gabinete orando por mim! 297
Foi com um alívio tão grande, para o qual não tenho palavras,
que finalmente entrei na área de estacionamento da igreja. O pre-
gador veio, então, cumprimentar-me. Surpreendi-me ao ver que
ele era um jovem robusto, cheio de entusiasmo, de camisa esporte e
barbado. A ideia que eu tinha feito era a de um fanático vestido de
terno preto, cabelos grisalhos e austero. O jeito de ele se comportar
me foi uma agradável surpresa. Ele realmente estava satisfeito con-
sigo mesmo. Eu não sabia que os cristãos tinham permissão para
serem daquele jeito...
Ele me ajudou a tirar tudo aquilo do porta-malas e, em segui-
da, levou-me para o seu gabinete e me pediu que sentasse. Depois
de algumas perguntas para certificar-se de que eu de fato tinha
nascido de novo em Cristo, ele começou a responder às minhas
perguntas. Finalmente, senti que estava no caminho certo. Eu
havia destronado Lúcifer da minha vida e tinha entronizado o
Senhor Jesus Cristo em seu lugar!
Depois de um ano frequentando aquela igreja, circunstâncias
nos levaram a nos transferir para outra congregação. Lá, o rebanho
era pastoreado por um casal, o pastor e sua esposa, que tinha uma
considerável experiência em aconselhamento espiritual. Discerni-
ram corretamente que, embora estivéssemos salvos e a caminho
da glória, havia ainda algumas fortalezas demoníacas em nós por
causa de todo o mal que havíamos praticado no ocultismo, e com
Lúcifer Destronado

o qual nos tínhamos deleitado.


Louvado seja o Senhor, pois eles investiram tempo conosco,
discipulando-nos e ajudando-nos realmente a entender a Bíblia.
Além disso, sentaram-se conosco por várias horas, numa noite, em
nosso apartamento, e nos ministraram a renunciar ao satanismo,
à feitiçaria, ao mormonismo, ao espiritismo, à mediunidade e, até
mesmo, ao catolicismo. Expulsaram, em nome de Jesus, espíritos
imundos que ainda estavam em nós. Eles realmente nos ajudaram,
dando-nos condições para que pudéssemos andar com nossas pró-
prias pernas.
298
Um ano depois de termos sido assim ministrados, o Senhor
nos chamou para o ministério, e desde 1986 temos trabalhado para
levar o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo aos ocultistas e adeptos
das seitas..
Nos últimos anos, o Senhor nos mostrou como é necessário
o segundo passo, a libertação da escravidão ainda mantida pelos
espíritos das trevas nas pessoas que se convertem. É a destronização
final de Satanás! Isto é especialmente necessário para aqueles que
vêm do ocultismo, da feitiçaria, ou que tenham ascendentes prati-
cantes da magia (Êx 20.5).
Cremos que Jesus Cristo nos libertou das incríveis trevas e
do mal, de modo que agora podemos testemunhar a quem queira
ouvir que ele pode salvar, de fato, até o pior pecador e libertar sua
alma da luta contra toda opressão espiritual.
Seu poder é mais do que suficiente!
Sua sabedoria é perfeita e consoladora!
Seu amor encherá até mesmo o coração mais vazio!

R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
Jesus Cristo é o Senhor!

co n c l u s ã o
Oramos para que este livro seja, antes de tudo, um testemunho
do poder totalmente suficiente e capaz do amor do Senhor Jesus
Cristo para salvar! É evidente, pela nossa narrativa, que estivemos
envolvidos com os poderes das trevas num grau bastante elevado.
Entregamos totalmente a nossa vida ao estudo da “magia negra”
por quase 16 anos.
Mas, por meio de simples orações, o céu desenredou tudo que
o inferno tinha tentado fazer. Se você, leitor, está envolvido com
satanismo, feitiçaria, candomblé ou qualquer tipo de ocultismo ou
espiritismo, tem um desafio à sua frente. 299
O testemunho da Bíblia contra as práticas de feitiçaria e magia
é definitivo e bem claro:
Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis,
aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a
todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que
arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte (Ap 21.8).

Queira compreender o que estamos dizendo! Estas palavras


são de um livro que até hoje ninguém provou estar errado, nem
jamais o fará! Se a Bíblia estava certa ao predizer a vinda de Jesus
Cristo milhares de anos antes de isso acontecer, e...
Se a Bíblia estava certa na previsão do aparecimento de um
rei chamado Ciro, que libertaria o povo hebreu do seu cativeiro na
Babilônia, ocorrido há mais de cem anos antes do nascimento desse
rei, então por que erraria quanto ao destino daqueles que praticam
feitiçaria e satanismo?
É por isso que Satanás treme cada vez que o Senhor Jesus entra
em cena, pois sabe que, independentemente das suas artimanhas,
o Senhor sairá plenamente bem-sucedido. Satanás não é estúpido.
Sabe muito bem qual é o destino que o aguarda! Ele só quer fazer
com que você ignore qual é o seu.
Se você quiser deixar de lado suas obras de feitiçaria e tornar-se
servo do verdadeiro Deus, Jesus Cristo, nada mais simples:
Lúcifer Destronado

1. Confesse a Deus que você é pecador.


Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Rm
3.23 — nvi).

2. Arrependa-se (literalmente, repense) por haver cometido


todos os seus pecados — especialmente o pecado da feitiçaria,
do ocultismo, do satanismo — e disponha-se a renunciar a eles e
rejeitá-los, totalmente.
300 (...) mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.
(Lc 13.5)

3. Creia de todo o coração que o Senhor Jesus Cristo morreu


na cruz, derramou seu sangue para pagar o preço pelos seus pecados
e ressuscitou dos mortos para dar-lhe vida eterna.
Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca
se confessa a respeito da salvação (Rm 10.9,10).

4. Peça ao Senhor que o salve de seus pecados.


Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
(Rm 10.13)

5. Peça a Jesus Cristo que assuma o controle total da sua vida


e seja o seu Senhor!
Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que
apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável
a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis
com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa

R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus (Rm 12.1,2).

Como você acabou de ler, se possui livros ocultistas, artefatos,


mantos, imagens e outras quinquilharias, deve destruir tudo isso
no fogo, tão logo seja possível (Veja Atos 19.19). Não apenas os
jogue fora, pois outras pessoas poderão encontrar esses objetos e
ser enganadas por eles. Se você não tiver como queimá-los, peça
a um pastor da sua localidade que o ajude. Como você viu nesta
narrativa, precisa ser persistente, telefonando para diversas igrejas.
Se você seguiu estes cinco passos, tão simples, para receber
Cristo, é agora um nascido de novo, em Cristo, um filho de Deus,
tendo a certeza de que Satanás não poderá nunca mais arrebatá-lo
das mãos de Jesus! Você está nas mãos de Alguém infinitamente 301
mais poderoso do que o diabo!
Para crescer como cristão, é importante ler a Bíblia Sagrada e
orar. Orar é apenas falar com Deus. É também vital que você en-
contre uma igreja em que Jesus Cristo seja exaltado como Senhor e
Deus. Como mencionamos anteriormente, nem todas as igrejas que
se declaram cristãs são verdadeiramente cristãs. Portanto, procure
encontrar uma igreja que se enquadre nos seguintes pontos:
1. Creia em um só Deus, eterno e triúno — o Pai, o Filho e
o Espírito Santo — três distintas Pessoas em um só Deus. (Veja
1 João 5.13; Mateus 28.19; Deuteronômio 6.4).
2. Creia que Jesus Cristo é Deus Todo-Poderoso, verda-
deiro Deus e verdadeiro homem, que morreu na cruz para nos
salvar dos nossos pecados e ressuscitou literalmente dos mor-
tos, no terceiro dia. (Veja 1 Timóteo 3.16; Romanos 10.9-13;
1 Coríntios 15.1-5.)
3. Creia que a salvação não é alcançada por qualquer coisa que
possamos fazer, mas, sim — e apenas —, por pedir a Jesus que apli-
que em nós o que já fez na cruz. Para ser verdadeiramente crente,
uma nova criatura em Cristo, não são necessárias “boas obras”, nem
“ser simplesmente membro de uma igreja”, nem mesmo o batismo.
(Veja Efésios 2.8,9; Gálatas 2.16; 3.10.)
4. Creia que a Bíblia Sagrada nos foi dada pela inspiração de
Lúcifer Destronado

Deus, e portanto ela não é maculada, mas inteiramente perfeita e


singularmente sem erros. E que ela deve ser o único padrão pelo
qual a conduta, a doutrina e os princípios da igreja sejam aferi-
dos. (Veja 2 Timóteo 3.16,17; Mateus 5.18; 24.35; Lucas 9.26;
João 6.63.)
Estes são os pontos fundamentais da fé cristã que “não são ne-
gociáveis”, e que toda igreja cristã firmada na Bíblia tem de aceitar.
Agora, para todos os crentes, salvos pelo sangue do Cordeiro,
que tiveram uma origem de práticas pecaminosas no ocultismo, na
feitiçaria, no candomblé ou na umbanda, no espiritismo, esoterismo
302
ou satanismo, o que se segue é especialmente para vocês.
Muitos, mas não todos, os crentes egressos do ocultismo têm
problemas que os impedem de ter um caminhar pleno e vitorioso
com Jesus Cristo. Talvez você tenha problemas em ler a Bíblia ou
orar regularmente. Talvez haja certos pecados que ainda estejam
sendo constantemente praticados, e que você tenha dificuldade
em vencê-los. Ou, quem sabe, há enfermidades ou depressões em
sua vida?
Descobrimos, orando por centenas de pessoas — todos cris-
tãos —, que, se você teve ancestrais que participaram de seitas ou
do ocultismo, ou se você mesmo praticou tais coisas, romper com
elas, formalmente, perante o Senhor para ser totalmente liberto de
envolvimentos carnais. Isto não significa que você não seja salvo e
que não esteja a caminho do céu. É claro que você é salvo! Apenas
significa que Satanás está procurando atingi-lo na carne. Se você
achar que esta parte do livro está falando com você — especial-
mente se tem uma origem no ocultismo ou na feitiçaria —, o que
precisa fazer é dobrar os joelhos diante de nosso Pai e fazer esta
simples oração:
Em nome do Senhor Jesus Cristo, e com a autoridade que me

R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
foi dada por crer nele, declaro que sou remido das mãos do
diabo. Mediante o sangue de Jesus, todos os meus pecados estão
perdoados. O sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus, está me
purificando agora de todo pecado. Mediante esse sangue, sou
justificado, como se nunca tivesse pecado.

Mediante o sangue de Jesus, sou santificado, tornado santo,


separado para Deus, pois sou membro de uma raça eleita,
de um sacerdócio real, de uma nação santa, de um povo de
propriedade exclusiva de Deus. Que eu proclame as tuas vir-
tudes, Senhor Deus, pois tu me chamaste das trevas para a tua
maravilhosa luz! (1 Pe 2.9). Meu corpo é templo do Espírito
303
Santo, remido e purificado pelo sangue de Jesus.

Eu pertenço ao Senhor Jesus Cristo — corpo, alma e espíri-


to. Seu sangue me protege de todo mal. Em nome de Jesus,
repreendo agora todos os mentirosos e enganadores espíritos
de... (mencione, conforme o seu caso: ocultismo, astrologia,
Nova Era, cartas de tarô, artes marciais, adivinhação, quiro-
mancia, trabalhos de magia, operações espirituais, espiritismo
de mesa ou de terreiro, esoterismo, maçonaria, seitas heréticas,
incorporação, mediunidade, feitiçaria, satanismo...)

...os quais podem achar que ainda têm algum direito sobre
mim ou minha família. Em nome de Jesus, renuncio a esses
espíritos de Satanás e declaro que não têm mais poder algum
sobre mim, pois fui comprado e pago pelo sangue de Jesus
derramado no Calvário.
Se você foi feiticeiro, bruxo, pai de santo ou satanista, ore ainda:

“Renuncio a todos e quaisquer juramentos (se houve) feitos


por mim ou em meu favor no altar de Satanás — conhecidos
ou desconhecidos por mim —, no santo nome de Jesus e pelo
poder do seu sangue derramado. Peço ao Senhor Jesus Cristo
que quebre todos os pactos, contratos, dedicações, encargos,
Lúcifer Destronado

trabalhos e consagrações que tenham sido feitos por mim ou


para mim, por outros, nos altares do satanismo e da feitiçaria
— conhecidos ou desconhecidos — e que use de todo o poder
da Cruz, da Ressurreição, da Ascensão, da Glorificação e da
Segunda Vinda para destruir o poder de tais coisas sobre mim.

Renuncio também a todo pecado e às amarras das gerações ante-


riores que ainda estejam me oprimindo por causa de juramentos
feitos por meus pais e ancestrais, e peço que o Senhor Jesus
304 Cristo purifique minha linhagem familiar com o seu sangue
derramado. Cravo todas essas coisas na cruz de Cristo.

Por causa do sangue de Jesus, Satanás não tem mais poder sobre
mim, nem sobre minha família, e não tem mais lugar em nós.
Renuncio inteiramente a Satanás e a suas hostes e declaro que
eles são meus inimigos. Em nome de Jesus, exerço a autoridade
que me foi dada, expulso todos os espíritos malignos, e resisto a
todos os inimigos de Jesus Cristo que estejam operando contra
mim (e contra meus filhos). Eu corto toda relação com vocês,
espíritos de Satanás, e quebro todo poder que vocês têm sobre
a minha vida.

Pelo poder do nome de Jesus Cristo de Nazaré, retiro o direito


de afligirem a mim e a meus filhos e proclamo o juízo de Deus
sobre vocês. Com a autoridade de Cristo, amarro agora todos
os espíritos malignos presentes, num laço só, e ordeno que vocês
vão para o lugar que Jesus Cristo os enviar, pela voz do Espírito
Santo. Ordeno que todos vocês saiam de mim agora, de acordo
com a Palavra de Deus e em nome de Jesus.

R e g e n e r a d o s , chamados e comissionados!
Também peço a ti, ó Pai, que feches todas as brechas pelas quais
os demônios tiveram acesso a mim, por quaisquer pecados, de
todos os modos, e peço-te que seles estas brechas para sempre
com o sangue do Cordeiro, derramado na cruz do Calvário.
Agradeço-te por fazeres isto, no poderoso nome de Jesus.

(...) esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando


para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prê-
mio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp 3.13,14).

N ot as
305
1
O Instituto de Religião Mórmon é um programa educacional religioso
para adultos mantido pela Igreja. Eu fora contratado para lecionar dois
semestres de Novo Testamento em Milwaukee.
Lúcifer Destronado

Para saber mais informações, você poderá nos escrever:


Bill e Sharon Schoebelen
With One Accord Ministries
306 P.O. Box 457
Dubuque, IA 52004-0457, USA
Apêndice I
O calendário
satânico

As principais festas (chamadas sabás), comuns à Wicca e ao


satanismo, são as que se seguem. Nos grupos satânicos, as festas
que envolvem pelo menos sacrifícios de animais são identificadas
com o símbolo (‡). As que envolvem sacrifício humano e que são
particularmente perigosas são identificadas com o símbolo (‡‡).
O símbolo (‡‡‡) indica a necessidade de se ter extremo cuidado:

1. Imbolc (ou da Candelária):


Em 2 de fevereiro (‡). Nos grupos satanistas, geralmente é
requerido um sacrifício sexual (pessoa do sexo feminino, entre 7 e
17 anos) e sacrifício de animal.

2. Equinócio do outono (no hemisfério norte, da Primavera):


Em 21 de março. Nos grupos satanistas, geralmente são re-
queridas orgias.

3. Beltano (ou Walpurgisnacht):


Em 1o de maio (‡‡). Os grupos satanistas exigem sacrifício
humano (do sexo feminino, entre 1 e 25 anos).
4. Do Inverno (no hemisfério norte, do Verão):
Em 22 de junho. Geralmente são requeridas orgias.

5. Lammas:
Entre 29 de julho e 1o de agosto (‡). Os grupos satanistas ge-
ralmente exigem sacrifício sexual (pessoa do sexo feminino, entre
7 e 17 anos) e sacrifício de animal.
Lúcifer Destronado

6. Equinócio da primavera (no hemisfério norte, do Outono):


Em 22 de setembro (‡‡). Nos grupos satanistas, requerem um
sacrifício humano (homem, sexualmente maduro) e orgias.

7. Samhain (Véspera do Dia de Todos os Santos):


Em 31 de outubro (‡‡‡). Os grupos satanistas requerem sa-
crifício humano (qualquer pessoa) e um sacrifício sexual para os
demônios.
308
8. Yule (Época do Natal — Solstício):
Em 23 de dezembro (‡‡‡). Os grupos satanistas requerem um
sacrifício humano (homem ou mulher, preferivelmente um cristão
ou filho de um cristão). Também há orgias.

Adicionalmente, tanto para os grupos satanistas como para os de
feiticeiros, há as festas lunares, que são em número de 26 por ano. São
os “esbás”, celebrados nos dias de lua nova e lua cheia. Geralmente
é feita magia negra (isto é, para o mal) em datas próximas ou no dia
da lua nova, e magia branca (curas, feitiços para finanças, empregos,
fertilidade) em data próxima ou no dia da lua cheia.

F est a s sa t â nic a s es p e c i a i s – parte 1:

São as seguintes as festas crowleyanas (thelêmicas) e as que se rela-


cionam com o culto a Set:
1. Equinócio dos deuses:
Entre 8 e 10 de abril. Aniversário do lançamento do Liber Al.
Às vezes celebrado com drogas e orgias.

2. Festa de Sothis (A estrela Sirius em seu apogeu):


Em 23 de julho. Alguns grupos celebram com sacrifício de

A p ê n d i c e I – o calendário Satânico
animal (cão), mas isso é raro.

3. Festa do profeta e sua noiva:


Em 12 de agosto. No dia do aniversário de casamento de
Crowley com Rose Kelly. Celebrado com magia sexual.

4. Festa de Tahuti:
Em 7 de setembro. Veja também a festa da Besta, abaixo. Ce-
lebrada com magia sexual de natureza homossexual.

5. “Crowleyana”:
309
12 de outubro. Festa do aniversário de Crowley. Forma de
celebração não estabelecida.

F est as sa t â n ic a s es p e c ia i s – parte 2:

Festas satânicas diversas. São celebradas por alguns grupos, não


todos.

1. Dia de nascimento do próprio satanista

2. Principais festas do catolicismo romano


Em especial, Páscoa (festa de Ishtar), Sexta-Feira Santa, Natal
(festa do Sol Invicto) e noite de São João (‡‡‡), normalmente re-
querendo um sacrifício humano (de qualquer sexo), de preferência
um ministro cristão, ou cristão ex-satanista ou um filho de cristão.
Também há orgias.
3. O dia 13 e o dia 31 (quando ocorrer) do mês:
Também em toda sexta-feira 13. É feita magia, mas não ne-
cessariamente perigosa fisicamente.

4. Dia de São Winebald:


Entre 1 e 7 de janeiro (‡‡). Os grupos requerem sacrifício
animal ou humano (do sexo masculino, tendo entre 15 e 33 anos).
O sacrifício é no dia 7.
Lúcifer Destronado

5. Festim satânico:
Em 17 de janeiro (‡‡). Requer um sacrifício (do sexo feminino,
entre 7 e 17 anos).

6. São Eischstadt:
Em 1o de março (‡). Um animal (geralmente um cachorro) é
esquartejado e sacrificado. Sua carne é consumida como sacramento.

7. Grande clímax:
310 Preparação entre 19 e 26 de abril, festa entre 26 e 30 (‡‡‡).
Sacrifícios humano e sexual são requeridos (do sexo feminino, cristã,
entre 1 e 25 anos).

8. Festim demoníaco:
Em 1o de julho. Sacrifícios humano e sexual (moça, entre 7 e
17 anos). Também magia sexual com espíritos demoníacos.

9. Festa da besta:
Em 7 de setembro, mas apenas a cada 27 anos. O último foi
em 1982; o próximo será em 2009 (‡‡).1  Sacrifícios humano e
sexual e desmembramento (moça com menos de 21 anos, devendo
ser virgem).

10. O hospedeiro da meia-noite


Em 20 de setembro (‡‡). Sacrifício humano e amputação
(moça, com menos de 21 anos). As mãos são cortadas com a pessoa
ainda viva e enterradas ritualmente.
11. Festim satânico:
Em 4 de novembro (‡). É requerido sacrifício sexual (pessoa
do sexo feminino, entre 7 e 17 anos).

12. Grande e alto clímax:

A p ê n d i c e I – o calendário Satânico
Em 24 de dezembro (‡‡‡). É requerido sacrifício humano
(qualquer sexo, qualquer idade, desde que seja cristão).

N ot a

1
Veja Michelle Remembers [Memórias de Michelle] — Michelle Smith
& Lawrence Pazdur, M.D., Congdon & Lattés, 1980 (edição de livro
de bolso), p. 266. Embora este livro contenha erros, não tendo uma
perspectiva bíblica adequada (os “rapazes” são todos clérigos e leigos
católicos), é um livro histórico, o primeiro publicado narrando a história
do sobrevivente de um ARS.
311
Apêndice II
I ndícios de um
Possível Abuso

Eis, a seguir, a maioria dos sintomas de sobreviventes do ARS (Abuso


Ritual Satânico), tão pouco conhecidos e muitas vezes ignorados, ou-
tros sintomas relativamente bem conhecidos da comunidade média.
Obviamente, apenas um ou dois dos sintomas não são su-
ficientes para despertar uma suspeita, mas, se ocorrerem vários
deles, convém investigar. (Podem tornar-se mais fortes durante os
principais períodos de rituais.)

1. Sintomas fisiológicos (no corpo)


1) Forte sensibilidade à luz.
2) Anomalias na química sanguínea (mudanças no tipo sanguí-
neo). Isto é supostamente impossível, mas acontece.
3) Epilepsia do lado direito. Pode (e não necessariamente é!) ser
indicativa de uma séria opressão demoníaca.
4) Estranhos tiques nas mãos e nos dedos (sinalizações incons-
cientes de maldições).
5) Peso excessivo ou anormalidades na alimentação.
6) Estranhos comportamentos compulsivos: desejo de tomar
sangue; masturbação compulsiva, etc.
7) Dores de cabeça de origem desconhecida.
8) Enfermidades musculares ou genitais.

2. Sinais a observar na anatomia


1) Cicatrizes incomuns, exóticas ou inexplicáveis:
• Cicatrizes muito finas no osso chamado esterno.
• Cicatriz no períneo (de pessoa do sexo masculino).
Lúcifer Destronado

• Cicatrizes no abdome, muitas vezes com formas do


ocultismo.
• Cicatrizes no pulso ou antebraço esquerdo.
• Grandes lábios cirurgicamente perfurados, em pessoa
do sexo feminino.
• Cicatrizes no interior das coxas, especialmente em
pessoas do sexo masculino.
• Cortes e puncturas no pescoço, especialmente na
região da artéria carótida.
• Sangue ou trauma em partes íntimas, perda da vir-
314 gindade em moça, irritabilidade fora do comum em
rapaz.
• Exame físico pediátrico revelando esfíncter anal muito
relaxado ou cicatrizes no local (em rapaz ou moça).

2) Perda de partes do corpo, em especial, partes de dedos.


• Falta de mamilos ou existência de mamilos a mais.
• Num rapaz, perda da primeira falange do polegar
e do indicador.
• Numa moça, perda do dedo anelar da mão esquerda.
• Falta do dedo mínimo, na mão esquerda (ambos
os sexos).

3) Pequenas e obscuras tatuagens em lugares fora do comum.


• Na parte superior da cabeça.
• Na palma da mão.
• No plexo solar ou no osso esterno.
• Na região pubiana.
• Acima do cóccix.

3. Sinais de comportamento em crianças entre 4 e 9 anos.

A p ê n d i c e I I – indícios de um possível abuso


1) Com respeito à sexualidade:
• Fala sobre sexo ou faz uso de palavras não apropriadas
à idade; entendimento da atividade ou da anatomia
sexual (por meio de desenhos, etc.).
• Toca os outros sexualmente; age de modo provocativo
ou sedutor.
• Medo de alguém segurar ou lavar suas partes íntimas.
• Uso de palavras para as partes do corpo normalmente
não usadas no âmbito familiar.
• Medo de se despir na hora do banho ou de ir para a
cama.
• Masturbação compulsiva, até mesmo em público.
• A menina dizer que está casada, noiva, ou esperando
315
um bebê.

2) Comportamento no banheiro:
• Queixa-se de que está queimando ou que sente dor
em partes íntimas quando está tomando banho.
• Diz aos pais que alguém o(a) despiu ou se mostrou
nu para ele ou ela.
• Diz aos pais que alguém passou a mão em suas partes
íntimas.
• Descreve com precisão atos sexuais com outras pes-
soas, ou entre outros adultos, outras crianças, entre
animais.
• Tem medo do banheiro e não quer usar o vaso.
Recusa-se a tomar banho na frente do pai ou da mãe.
• Preocupação em ter o corpo superlimpo. Troca as
peças íntimas desnecessariamente.
• Medo fora do comum de se afogar no banho de ba-
nheira, aceitando só o chuveiro.
• Recusa práticas usuais: não quer ir ao banheiro, não
quer enxugar-se, não quer sair de casa, não quer ir
para a sala.
• Fala de comer excrementos humanos ou faz isso.
Lúcifer Destronado

3) Problemas no consultório médico ou odontológico:


• Tem medo anormal de médicos ou enfermeiras.
• Fala de médicos “maus” mexendo com ele (ou ela),
dando-lhe más “injeções”, etc.
• Fala de dentistas “maus” passando o motor ou fazendo
o seu dente doer, sem anestesia.
• Temores fora do normal quanto a se despir diante do
médico, ou temores de que vai ter que desfilar em
frente de pessoas nuas.
• Comportamentos sexualmente provocantes com o
316 médico ou com a enfermeira durante o exame, ou
demonstra estar na expectativa de ter um contato
sexual com eles.
• Fala de “maus” médicos (cirurgiões) terem feito aber-
turas no seu corpo e colocando coisas (bombas, bichos,
aranhas, agulhas ou pinos, etc.) em seu interior.

4) Problemas emocionais e mentais:


• Hiperativo ou violento.
• Emoções instáveis ou, estranhamente, sem mani-
festação.
• Dislexia ou outras perturbações na aprendizagem,
especialmente lendo letras ou palavras de trás para a
frente.
• Demonstra um comportamento excessivamente an-
sioso (ralhando dentes, roendo unhas, tremedeiras,
choro incontrolado).
• Rebeldia.
• Temeroso, pegajoso (não larga da mãe ou do pai); se
faz de bebê, tendo um comportamento anormal para
a sua idade.

A p ê n d i c e I I – indícios de um possível abuso


• Terrores noturnos, suores, pesadelos frequentes ou
horríveis.
• Tem um comportamento agressivo para consigo
mesmo (bate a cabeça contra a parede, fere-se a si
mesmo; propenso a sofrer acidentes, etc.)
• Acha que é uma pessoa má, maligna, estúpida e que
merece ser punida sempre.

5) Problemas na alimentação da criança:


• Fala de comer ou beber sangue, partes de animais,
partes do corpo humano ou excrementos.
• Problemas ao se alimentar: vômitos, bebe demais, etc.
• Recusa-se a comer certos alimentos, especialmente
carnes malpassadas e sangrentas. 317
• Recusa-se a comer ou beber certos alimentos coloridos
(vermelho [sangue] ou marrom ou amarelo).
• Obsessão com a ideia de que a comida está ou enve-
nenada ou com drogas. Age como se os pais quisessem
envenená-lo(a) ou drogá-lo(a).

6) Problemas na associação de cores:


• Expressa desgosto por certas cores, especialmente pelo
preto, vermelho e verde.
• Quer vestir-se de preto, sem uma razão plausível.
• Diz ter estado em salas pintadas totalmente de verme-
lho, ou preto, ou verde, ou uma outra cor estranha,
quando tais salas não são do conhecimento dos pais.
• Diz ter “visto” cores ou luzes coloridas flutuando em
torno das pessoas.
• Fala de um uso litúrgico do preto, do vermelho ou do verde
quando em sua igreja não são usadas essas cores e rituais.

7) Personalidade múltipla ou desordem de disfunção desasso-


ciativa:
• Momentos em que dá “um branco” na memória.
• Procedimentos sexuais compulsivos, em especial a
Lúcifer Destronado

masturbação.
• Pouca ou nenhuma lembrança da infância.
• Comportamentos de automutilação; pensamentos
de suicídio.
• Medo extremado de autoridades (policiais, clérigos,
médicos, etc.).
• Fortes pesadelos, insônia.
• Narcolepsia: sono fora de hora ou incontrolável.
• Alterações repentinas no comportamento ou no hu-
mor, muitas vezes diagnosticado como bipolar, mas
318
que pode ser causado por “gatilhos”.
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Esta obra foi impressa pela Rotaplan Gráfica e Editora,
para a Danprewan Editora.
Foram utilizadas as tipologias AGaramond e Rina
e impresso no papel off-set 63g/m2.

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