Resenha - A Ética Protestante e o Espírito Do Capitalismo

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SEÇÃO RESENHAS / RESUMOS

ResenhaAcadêmica, por *Afonso de Sousa Cavalcanti

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 4. ed. São


Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1985.

Maximilian Carl Emil Weber (Erfurt, 21 de Abril de 1864 —


Munique, 14 de Junho de 1920) foi um dos principais nomes da
sociologia moderna. Realizou extensos estudos sobre história
comparativa e foi um dos autores mais influentes no estudo do
surgimento do capitalismo e da burocracia, bem como da sociologia da
religião. Trabalhou muito para refutar a tese de Karl Marx, o qual
afirmava que o capitalismo nasceu principalmente da exploração do
homem pelo homem.
A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber,
foi escrita em três períodos: em 1904, 1905 e um pouco antes de 1920. A
parte do livro publicada em 1904 tratava sobre as religiões, mais
especificamente, o confucionismo e o taoísmo, de um lado e, depois o
hinduísmo e o budismo.
Seus seguidores editaram os textos após sua morte. Segundo
Weber, era preciso esclarecer como se deu uma civilização cuja nota
dominante consiste no empenho de aplicar procedimentos racionais aos
mais diversos campos. Os orientais se distinguem dos ocidentais através
da racionalidade, para efetuar esta comparação, o pensador faz uma
leitura sobre o Judaísmo.
Mais adiante na obra, o escritor relata que existe alguma
relação entre o protestantismo e a emergência do capitalismo. Analisa o
comportamento social de católicos e de protestantes. Registra fatos
ocorridos na Alemanha, onde os católicos fugiram dos riscos associados
à atividade empresarial, mesmo sabendo que obteriam rendas menores.
De outro lado, os protestantes demonstravam grande alegria de viver,
expressando seus bons costumes nas ações de comer, dormir e regozijar-
se bem. A satisfação das necessidades primárias era primordial para eles.
* Professor de Filosofia, Sociologia, História Medieval e Teoria da História na FAFIMAN.

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Os dois grupos buscavam momentaneamente o essencial. Para Weber os
protestantes amadureciam dia a dia a sua vocação ascética, vocação esta
entendida como aquilo que dá sentido à vida, como autêntica
predestinação.Aobra escrita em três partes pode ser vista desta forma:
1) Na introdução, descreve e aprofunda os temas sobre o interesse em
desenvolver o espírito de trabalho, a boa vontade de sempre se ocupar
fazendo algo e alcançar o progresso, demonstrando o desenvolvimento
de meios para construir bens que garantam um futuro promissor. Weber
mostra a preferência educacional dos católicos por uma formação
humanista, enquanto os protestantes preferiam a formação técnica. Ao
mesmo tempo, mostrou as diferenças profissionais entre ambos os
segmentos. Tal crescimento: progresso e geração de bens, não devem ser
entendidos, como alguns pretendem fazê-lo, como viver com
conhecimento, ou em qualquer outro sentido ligado ao Iluminismo. Ao
frisar o tradicional protestantismo de Lutero, Calvino, Knox e Voët, o
autor afirma que ele nada ou quase nada tinha a ver com o progresso de
hoje em dia. Foi rigoroso em sua análise, batendo de frente a muitas
ações de hoje, que não são mais combatidas nem pelos religiosos mais
radicais e conservadores. O velho espírito protestante e a moderna
cultura capitalista se aproximam, não somente na sua satisfação de bem
viver (ter bens materiais), sendo mais ou menos materialista. É preciso
ter bem clara a noção de seus procedimentos religiosos.
2) No Capítulo II, Weber descreve e conceitua o entendimento que ele
tem sobre o espírito do capitalismo. Analise com profundidade um texto
de Benjamin Franklin (1706-1790), um dos ativistas e fundadores da
Independência Americana, homem de ciência e inventor. Franklin faz do
dinheiro e da frugalidade mitos que devem ocupar lugares em nossas
vidas.
Para ele, o importante desta ética, que visa obter mais e mais
dinheiro (recursos materiais), leva a pessoa humana a se distanciar do
gozo espontâneo da vida (viver sem amarras) e ainda não lhe permite
desenvolver um caráter eudemonista (de felicidade plena, ou seja, o
princípio e fundamento dos valores morais, julgando eticamente
positivas todas as ações que conduzam o homem à felicidade) ou mesmo
hedonista (prazer material adquirido com esforço e liberdade plenos, ou

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seja, viver para se gratificar, para se dar prazer). A pessoa pensa que, ao
juntar mais dinheiro, cumpre uma finalidade em si, que chega a parecer
algo de superior à “felicidade” ou “utilidade” do indivíduo, algo
transcendental e simplesmente irracional. Ao produzir e fazer tanto
dinheiro, o homem é dominado por sua produção e isto é encarado por ele
como finalidade última da sua vida.
O espírito do capitalismo deve ser entendido como uma ética de
vida, uma orientação na qual o indivíduo vê a dedicação ao trabalho e a
busca metódica da riqueza como um dever moral. O crescimento
econômico não é mais subordinado ao homem como meio de satisfazer
suas necessidades materiais. Esta ganância, a que muitos chamam de
relação natural, mas irracional, é evidentemente um princípio orientador
do capitalismo. Tal conduta é inversa ao comportamento de todos os
povos que vivem fora da influência capitalista.
Weber, analisando a conduta religiosa, nos pergunta: por que se
deve fazer do dinheiro o ganho dos homens? Weber vai ao texto de
Benjamin Franklin, afirmando que ele era um admirador da religião,
pouco entusiasta, mas buscava entendimento nos ensinamentos de seu
pai que fora calvinista. O pai lhe advertia dizendo que se vermos um
homem trabalhador e produtivo, ele está acima da vontade do rei ou do
governante.
Para Franklin, a ação de ganhar dinheiro, dentro da ordem
econômica moderna é, enquanto for feito legalmente, sem dúvida uma
virtude, uma boa eficiência, o bom exercício da vocação. As ações
humanas de produzir mais, de ganhar mais, são o alfa e o ômega da ética
de Franklin.
3) No Capítulo III, analisa as ações de Lutero no seu tratado sobre a
vocação. Para Lutero, a vocação deixa de ter o sentido de um chamado
para a vida religiosa ou sacerdotal e passa a ter o sentido do chamado de
Deus para o exercício da profissão no mundo do trabalho. Segue a análise
e verifica a forma tradicional, atingindo as ações religiosas de Calvino
como ponto de partida.
Weber verifica os resultados da ética vocacional do
protestantismo ascético, destacando quatro grupos protestantes
importantes no mundo de hoje: a) o Calvinismo na forma que assumiu na

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sua principal área de influência na Europa Ocidental, especialmente no
século XVII; b) o Pietismo, como movimento surgido no final do século
XVII dentro do Luteranismo; c) o Metodismo como um movimento de
avivamento espiritual cristão ocorrido na Inglaterra do século XVIII e
que enfatizou a relação íntima do indivíduo com Deus; d) as seitas que se
derivaram do movimento Batista.
Para Weber, todos estes movimentos não foram
completamente independentes dos demais, e mesmo a sua distinção das
igrejas não-ascéticas da Reforma nunca foi perfeitamente clara. O
Metodismo não pretendia, segundo o pensamento de seus fundadores,
formar uma nova Igreja. Apenas tencionava reavivar o espírito ascético
dentro da antiga. No entanto, com seu alastramento pela América, veio a
se separar da IgrejaAnglicana.
Weber analisa o metodismo através dos textos de Richard
Baxter (1615-1691), o qual ensinava que a perda de tempo é o principal
de todos os pecados. O homem alcança a graça trabalhando duro todo o
dia e o dia todo, em favor do que lhe foi destinado. Para ele, a riqueza
somente é condenável pelo perigo de relaxamento. O pregador
aconselhava aos verdadeiros crentes a trabalhar e poupar, a crescer na
riqueza, pois nesse estado, de verdadeira tentação, poderá assegurar-se
da salvação se de fato resistir ao ócio e ao prazer.
Weber estabelece uma relação direta entre o puritanismo e o
capitalismo – e não entre este e o protestantismo de um modo geral. Em
face de tais resultados, os estudiosos inclinam-se por supor que,
precedentemente aderiram à pregação reformista de Erasmo, o que os
teria obrigado a fugir daquelas localidades, do mesmo modo como os
judeus expulsos de Portugal acabaram tornando-se os grandes
banqueiros holandeses, deslocando para aquele país a alta finança
européia, precedentemente localizada na Itália.
Finalizando a obra, Weber verifica que dos dogmas e, em
especial, dos impulsos morais do protestantismo, vindos após a reforma
de Lutero, surge uma forma de vida de caráter metódico, disciplinado e
racional. A base moral do protestantismo sustenta a ideia moderna, não
só da valorização religiosa do trabalho e da riqueza, mas também uma
forma de vida que submete toda a existência do indivíduo a uma lógica

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dura e coerente: uma personalidade sistemática e ordenada. No final de
sua Ética ao Protestantismo, Weber ensina que, apesar de secularizada e
desprovida de fundamentos religiosos, a vida aquisitiva da economia
moderna nos leva a generalizar nossa vida social. Ele diz que os
puritanos queriam se tornar monges, hoje também nós nos tornamos
monges, recolhendo-nos em nossos trabalhos para produzir.
Weber critica e nos faz refletir que a lógica da produção, do
trabalho e da riqueza envolve o mundo moderno e o aprisiona entre
quatro paredes que não conseguimos nos soltar delas. Vai mais longe e
questiona que nós, os homens dos tempos atuais, caminhamos para ações
que foram profetizadas: seremos especialistas sem espírito, gozadores
sem coração, seres ocupados e sem tempo de refletir. Weber estaria
certo? Respondamos nós que gostamos de filosofar.

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