Sermão Amante Perfeito
Sermão Amante Perfeito
Sermão Amante Perfeito
“(...) e tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” Jo.13:1b
Paulo Lira
INTRODUÇÃO
O Padre Antonio Vieira em seu “Sermão do Mandato” (1643) apresentou Jesus como o
amante perfeito, isto é, aquele que ama com perfeição. Segundo Vieira Jesus é o amante
perfeito porque possui quatro ciências. Há quatro coisas que Jesus sabe, e por isso ama à
perfeição. Analisemos essas quatro ciências que Jesus possui.
I - JESUS SABE DE SI
Nosso Senhor sabe exatamente quem ele é. Ele está absolutamente consciente de sua
identidade: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado a sua hora de passar
deste mundo para o Pai, e tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”
(Jo.13:1). Jesus sabe que ele é o Filho de Deus. Ele diz coisas como “Eu e o Pai somos um”,
“Quem vê a mim vê o Pai”, “Antes que Abraão existisse, eu sou”, “Meu reino não é deste
mundo”. Jesus não tem dúvidas da sua identidade, da sua relação singular com o Pai.
Quando demonstra o seu amor por nós ele sabe exatamente quem ele é. Diferentemente
de nós – nós podemos nos enganar em relação aos nossos sentimentos – não é possível para
ele nos dizer: “Quando eu te disse que te amava, eu me enganei, eu estava me descobrindo
ainda. Jesus ama de maneira perfeita porque ele sabe quem é.
“(...) tendo amado os seus que estavam no mundo (...)”. Quando Jesus nos diz que nos ama
– aliás, ele nunca disse, mas demonstrou – ele sabe exatamente quem nós somos. Ele não está
iludido a nosso respeito. Nós não corremos o risco de um dia ele nos dizer: “Eu estava iludido a
seu respeito”. Ele nunca poderá dizer que se decepcionou conosco, que não cumprimos nossas
promessas de lealdade, de fidelidade, não honramos a sua Palavra. O Padre Vieira indaga:
“Onde estariam os seus se não estivessem no mundo?”. Ele mesmo responde: “Em sua
imaginação”.
“(...) tendo amado (...) amou”. Há muitas pessoas que não sabem o que amar. Confundem
amor com desejo, com paixão, com desejo sexual. Muitas relações de “amor” não sobrevivem
ao tempo. O encantamento inicial logo se desvanece. Logo se esvai.
Vi um vídeo na net em que uma viúva fala na cerimônia fúnebre de seu marido e ao invés
de falar de suas qualidades, ela se referia aos seus defeitos. Mas como ela daria tudo para ver
aqueles defeitos novamente. No filme “Gênio Indomável”, Robin Williams (Sean Maguire)
lembrava a Matt Damon (Will Hunting) de coisas tão simples de sua falecida esposa que
fizeram apaixonar-se por ela.
Somos acostumados a amar “por causa de”. Isso é apenas amor por si mesmo, disfarçado
de amor por alguém. O outro é apenas usado para o prazer de quem diz que ama. Amor é
abnegação, é altruísmo, é autodoação, é abrir mão de seus interesses em benefício da pessoa
amada. Foi o que Jesus fez. Ele sabe o que é amar.
“(...) tendo amado (...) amou-os até o fim”. Jesus amou até se deixar matar por amor. O fim
a que chegou amando foi a cruz. Jesus morreu por amar. E morreu de tanto amar. O que ele
recebeu em troca de tanto amor? Rejeição, zombaria, agressões físicas e morais, humilhação.
Não foi amado, mas ainda assim amou. Amou até o fim.
Interessante que a única coisa que Jesus quis saber de Pedro quando este o traiu foi: “Tu
me amas?”. Jesus não se assustou quando se viu próximo à cruz. Não usou o “jus sperniandi”,
não reclamou. “Se eu soubesse que seria assim não teria vindo”.
Jesus sabia o fim a que chegaria amando. Avisou aos seus discípulos. Avisou a Judas. Avisou
a Pedro. Quando a sombra da cruz cresceu diante dele, ele declarou: “Agora a minha alma está
angustiada; e que direi? Pai, salva-me desta hora? Mas foi para isso que vim, para esta hora”
(Jo.12:27).
CONCLUSÃO
Jesus é o amante perfeito. Ciente de si mesmo, dos seus, do amor e do fim a que chega
amando. Deus é amor. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu Filho
Unigênito, para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo.3:16).