Interpretacao e Producao de Texto PDF
Interpretacao e Producao de Texto PDF
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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 5
Introdução.................................................................................................................................... 8
Unidade i
Conceito de texto............................................................................................................................. 9
Capítulo 1
Texto e redação.................................................................................................................... 9
Capítulo 2
Relações lógicas de coesão........................................................................................... 13
Capítulo 3
A linguagem........................................................................................................................ 16
Capítulo 4
Vícios de comunicação.................................................................................................... 19
Unidade iI
Gêneros e estilos............................................................................................................................. 23
Capítulo 1
Gêneros textuais................................................................................................................. 23
Capítulo 2
Texto literário e não literário........................................................................................... 26
Capítulo 3
Tipos de discursos.............................................................................................................. 29
Capítulo 4
Estilos................................................................................................................................... 32
Unidade iII
Prática de interpretação e produção.......................................................................................... 35
Capítulo 1
Ideias explícitas e ideias implícitas..................................................................................... 35
Unidade iV
Estruturação de um texto............................................................................................................... 50
Capítulo 1
O ato de redigir.................................................................................................................. 50
Capítulo 2
O período adequado......................................................................................................... 53
Capítulo 3
O parágrafo adequado.................................................................................................... 57
Capítulo 4
Estruturas textuais............................................................................................................... 61
Referências................................................................................................................................... 67
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
6
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
7
Introdução
O conteúdo foi elaborado de forma didática para explorar cada conteúdo de forma
específica e necessária ao nosso estudo. A finalidade é apresentar conceitos práticos e
não meramente acadêmicos.
Espero que o módulo lhe seja útil para desenvolver cada vez mais sua capacidade de
expressar e interagir com toda a sociedade.
(Marcelo Paiva)
Objetivos
»» Desenvolver a capacidade de interpretar adequadamente diferentes
modelos de texto.
8
Conceito de Unidade i
texto
Capítulo 1
Texto e redação
Ler é um ato que nos remete a um diálogo com o mundo do autor. É um ato
que nos coloca frente a frente a uma realidade que muitas vezes é totalmente
desconhecida por nós, o que pode dificultar o seu entendimento. O texto, por
outro lado, representa o pensamento humano de um tempo, de uma época
histórica. É, portanto, a expressão de um modo de viver, pensar, sentir, ver a
realidade como se apresenta historicamente em seus aspectos sociais, políticos,
econômicos, culturais e ideológicos. Podemos, então, entender que um texto
é a obra do homem que auxilia os seus semelhantes a conhecer e entender o
mundo. Entretanto, por representar um momento histórico, não é algo acabado,
pronto, definitivo e absoluto.
Mas por que essa preocupação em saber ler, analisar e interpretar um texto?
Vivemos em um mundo de avanços tecnológicos significativos, de grandes
transformações e com novas formas de organização do trabalho, aliados a um
sistema de vida pautado pelo individualismo e pela competitividade, legados
pelo neoliberalismo, que moldam a vida material e cultural de todo cidadão. É
nessa realidade que vivemos e para a qual devemos nos preparar para modificá-
la, atuando como sujeitos de nossa história.
Sendo assim, ler, analisar, interpretar um texto de forma crítica nos ensina a
pensar e saber pensar nos leva a interpretar uma leitura, sobretudo, estabelecer
9
UNIDADE I │ Conceito de texto
relação com uma realidade de forma crítica. Visão crítica mais ação podem
transformar a realidade social, política, econômica, cultural de um indivíduo e
de uma sociedade. Entretanto, não é tão fácil interpretar um texto. Esse é um
dos grandes desafios de muitos professores hoje em nossas escolas superiores.
Deparamo-nos com alunos que não foram preparados para uma educação
emancipadora, crítica, que os colocassem como corresponsáveis pela sua
formação. Aprenderam mais pela linguagem oral do que pela linguagem escrita,
tornando-se dependentes no processo de aprendizagem. Receberam uma
quantidade enorme de informações e conhecimentos, mas não sabem relacioná-
los com os diversos saberes da escola e da vida. Foram ensinados a ouvir e não
a participar, falar, criticar. Tornaram-se objetos e não sujeitos de sua educação.
Existe uma diferença conceitual entre redação e texto. Nosso interesse no curso será
abordar as duas ideias para que você se sinta preparado para interpretar e produzir
conforme sua necessidade.
O uso do termo redação é muito comum no ensino médio e em provas. Isso ocorre desde
a edição do Decreto no 79.298, em 24 de fevereiro de 1977, que determinou a inclusão
obrigatória da redação nos provas públicas do atual ensino médio e vestibulares. Com
isso, perdeu-se a noção mais completa do termo “texto”. A preocupação passou apenas
a fazer um trabalho escrito para aprovação de um professor ou banca.
Texto, no entanto, envolve um conceito mais amplo. Ele abrange a ideia de que a pessoa
não apenas busca se comunicar, mas também persuadir com a ideia transmitida.
Escrever um texto, assim, não é apenas se preocupar em transmitir uma ideia com
correção gramatical e organização textual. Fazer um texto é convencer o leitor ou
ouvinte de sua ideia e influenciá-lo com o discurso apresentado.
O escritor e pesquisador italiano Umberto Eco, em sua obra ‘Conceito de Texto’, analisa
a noção de texto como fundamental para se entender o processo de comunicação. Fazer
uso competente da língua é a capacidade de ler e produzir adequadamente textos diversos,
10
Conceito de texto │ UNIDADE I
Unidade
Um texto só pode ser considerado como tal se possuir uma unidade de entendimento. A
simples expressão não caracteriza o texto em si. A origem do termo “texto” está relacionada
a “novelo”, ou seja, um emaranhado de assuntos. Assim, todo o texto perpassa uma ideia
maior desenvolvida em partes. Observe como isso se dá no texto a seguir.
11
UNIDADE I │ Conceito de texto
Perceba que o texto anterior está dividido em três períodos, cada um com uma ideia
específica. No entanto, o tema principal é a destruição do meio-ambiente. Aí está a
nossa unidade.
Clareza
Clareza é a capacidade que o autor teve de construir um texto facilmente compreensível
pelo leitor. Durante o módulo, abordaremos em detalhes a clareza na interpretação e
na produção de textos.
Coerência
Coerência é a lógica e a organização da estrutura do texto. Ela envolve o texto como um
todo de forma que o leitor o entenda. O primeiro aspecto a ser observado é em relação
à organização. Observe o texto a seguir.
12
Capítulo 2
Relações lógicas de coesão
A coerência e a coesão são os tijolos que unem as partes de um texto. A coerência mantém
a lógica durante todo o texto. Ser coerente é manter ideias racionais compreensíveis e
aceitas como pertinentes ou possíveis. Enquanto a coerência mantém a ideia organizada
logicamente, a coesão une os pensamentos por meio de conectivos, pronomes e tantos
outros recursos. Observe alguns elementos de coesão gramatical e referencial.
»» Principais conjunções
›› Aditivas (adição): e, nem, mas também, como também, bem como,
mas ainda.
›› Adversativas (adversidade, oposição): mas, porém, todavia, contudo,
antes (= pelo contrário), não obstante, no entanto, entretanto, senão.
›› Alternativas (alternância, exclusão, escolha): ou, ou ... ou, ora ... ora,
quer ... quer.
›› Conclusivas (conclusão): logo, portanto, pois (depois do verbo), por
conseguinte, por isso.
›› Explicativas (justificação): pois (antes do verbo), porque, que,
porquanto.
›› Causais: porque, visto que, já que, uma vez que, como, desde que,
porquanto, haja vista.
›› Comparativas: como, (tal) qual, assim como, (tanto) quanto, (mais ou
menos +) que.
›› Condicionais: se, caso, contanto que, desde que, salvo se, sem que (=
se não), a menos que.
›› Consecutivas (consequência, resultado, efeito): que (precedido de tal,
tanto, tão etc. – indicadores de intensidade), de modo que, de maneira
que, de sorte que, de maneira que, sem que.
›› Conformativas (conformidade, adequação): conforme, segundo,
consoante, como.
13
UNIDADE I │ Conceito de texto
Brasília é uma cidade muito boa. A capital do Brasil apresenta uma qualidade de
vida que se destaca em todo o Brasil.
Xuxa apresentará novo programa. A rainha dos baixinhos pretende inovar com
um musical.
O deputado afirmou duas coisas: a primeira era que não iria renunciar. A segunda,
que tudo era mentira.
14
Conceito de texto │ UNIDADE I
10. Elipse: omissão de um termo ou expressão que pode ser facilmente depreendida
em seu sentido pelas referências do contexto.
11. Repetição de parte do nome próprio: para não repetir o nome inteiro, recorre-
se a uma parte que faça referência.
14. Termo catafórico: quando o item de referência antecipa um signo ainda não
expresso no texto.
15. Sinônimo: é obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuem o
mesmo referente.
16. Hiperônimo: quando o termo mantém com o referente uma relação todo-parte,
classe-elemento.
17. Hipônimo: quando o termo mantém com o referente uma relação parte-todo,
elemento-classe.
15
Capítulo 3
A linguagem
Nosso conceito será o de destacar a linguagem como um sistema de sinais usados para
indicar a função comunicativa entre pessoas e para a expressão de ideias, valores,
intenções e sentimentos. Quanto às características, podemos extrair as seguintes
afirmações em relação à linguagem:
»» possui palavras que têm função de apontar coisas que elas significam –
função indicativa ou denotativa;
16
Conceito de texto │ UNIDADE I
de outro mundo, análogo ao nosso, porém mais belo ou terrível do que o real; destaca a
memória e imaginação, focalizando um futuro ou passado possíveis.
A linguagem conceitual procura dar às palavras sentido direto e não figurado, evitando
analogia (semelhança entre palavras e sons) e metáfora (uso de palavras para substituir
outras, criando sentido poético para expressão do sentido); evita o uso de palavras
carregadas de múltiplos sentidos, procurando fazer com que cada palavra tenha sentido
próprio e que seu sentido vincule-se ao contexto no qual a palavra é empregada; procura
convencer e persuadir por meio de argumentos, raciocínios e provas; busca definir
o mundo real, decifrando-o e superando as aparências; busca focalizar o presente, a
atualidade.
Elementos da comunicação
»» Emissor: emite, codifica a mensagem.
Funções da linguagem
O modelo a seguir foi proposto por Roman Jakobson no livro ‘Linguística e Comunicação’.
17
UNIDADE I │ Conceito de texto
Importante salientar que um mesmo texto pode conter várias funções da linguagem.
Procure saber qual a função predominante no texto, para então defini-lo.
18
Capítulo 4
Vícios de comunicação
Extrapolar
Trata-se de um erro muito comum, ocorre quando saímos do contexto, acrescentando
ideias que não estão presentes, com isso, a interpretação fica comprometida.
Frequentemente, relacionamos fatos reais a outros contextos.
Reduzir
Trata-se de um erro oposto à extrapolação. Ocorre quando damos atenção apenas a
uma parte ou aspecto do texto, esquecendo a totalidade do contexto. Destacamos, desse
modo, apenas um fato ou uma relação que podem ser verdadeiros, porém insuficientes
se levarmos em consideração o conjunto das ideias.
Contradizer
Ocorre quando chegamos a uma conclusão que se opõe ao texto. Associamos ideias que,
embora no texto, não se relacionam entre si.
Prolixidade
É importante que se eliminem as expressões supérfluas e os pormenores excessivos.
Muitas vezes, o autor acredita que, escrevendo bastante, utilizando frases de efeito,
tornará o texto mais rico. Na verdade, isso só atrapalha. Elimine as ideias sem
importância, as repetições, os exemplos demasiados, os adjetivos supérfluos. Observe
exemplo de texto prolixo no Manual de Estilo da Editora Abril.
19
UNIDADE I │ Conceito de texto
Frases feitas
Os lugares-comuns e os clichês demonstram falha de estilo e linguagem limitada.
Observe exemplos: Porque o futuro é de todos nós; Devemos unir nossos esforços;
Fechar com chave de ouro; Chegar a um denominador comum; Deixar a desejar;
Estourar como uma bomba; Fortuna incalculável; Inserido no contexto; Levantar a
cabeça e partir para outra; A esperança é a última que morre; Os jovens são o futuro
da nação.
Falta de paralelismo
Quando se coordenam elementos (substantivos, adjetivos, advérbios, orações), é
necessário que eles apresentem estrutura gramatical idêntica. Observe:
Queísmo
O uso reiterado do “que” pode constituir erro de estilo e prejudicar a clareza do texto.
Observe exemplos inadequados.
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Conceito de texto │ UNIDADE I
Você tem que ter uma letra que todos possam entender o que está escrito.
O diretor afirmou que o relatório que foi escrito denuncia que tudo foi feito errado.
Ambiguidade
Ambiguidade, na frase, é a obscuridade de sentido. Frases ambíguas permitem duas
ou mais interpretações diferentes, devendo, por isso, ser evitadas em textos que devem
primar pela clareza e precisão, conforme é o caso dos textos legais e dos expedientes
administrativos. Exemplo de frase de sentido ambíguo:
Ambíguo: O Líder comunicou ao Deputado que ele está liberado para apoiar a matéria.
Pleonasmo
Pleonasmo é a redundância ou a repetição de um termo ou de uma ideia. Seu emprego é
legítimo quando, com fins de ênfase, o emissor quer realçar uma ideia ou uma imagem,
como nos exemplos:
21
UNIDADE I │ Conceito de texto
»» A questão foi debatida por horas, sem que se chegasse a uma conclusão
final.
Barbarismo
Consiste em usar uma palavra errada quanto à grafia, pronúncia, significação,
flexão ou formação. Podem ser gráficos (hontem, proesa, conssessiva), ortoépicos
(carramanchão, subcistir), prosódicos (rúbrica, filantrópo), semânticos (tráfico – por
tráfego), morfológicos (cidadões, uma telefonema, proporam).
Solecismo
Erros que atentam contra as normas de concordância, de regência ou de colocação: a
gente vamos, eles assistiram o filme.
22
Gêneros e estilos Unidade iI
Capítulo 1
Gêneros textuais
Romance
Possui um núcleo principal, mas outras tramas se desenvolvem também. É um texto
longo, tanto na quantidade de acontecimentos narrados quanto no tempo em que se
desenrola o enredo.
Novela
Narrativa menos longa que o romance e se utiliza de menos enredos paralelos.
Conto
Narrativa curta. O tempo em que se passa é reduzido e contém poucas personagens que
existem em função de um núcleo.
23
UNIDADE II │ Gêneros e estilos
Crônica
Por vezes é confundida com o conto. A diferença básica entre os dois é que a crônica
narra fatos do dia a dia, relata o cotidiano das pessoas, situações que presenciamos e já
até prevemos o desenrolar dos fatos.
Fábula
Semelhante a um conto em sua extensão e estrutura narrativa. O diferencial se
dá, principalmente, no objetivo do texto, que é o de dar algum ensinamento, uma
moral. Outra diferença é que as personagens são animais, mas com características de
comportamento e socialização semelhantes às dos seres humanos.
Parábola
Versão da fábula com personagens humanas. O objetivo é o mesmo, o de ensinar algo.
Para isso, são utilizadas situações do dia a dia das pessoas.
Apólogo
Semelhante à fábula e à parábola, mas pode utilizar-se das mais diversas e alegóricas
personagens: animadas ou inanimadas, reais ou fantásticas, humanas ou não. Da
mesma forma que as outras duas, ilustra uma lição de sabedoria.
Anedota
Tipo de texto produzido com o objetivo de motivar o riso. É geralmente breve e depende
de fatores como entonação, capacidade oratória do intérprete e até representação.
Nota-se então que o gênero se produz na maioria das vezes na linguagem oral, sendo
que pode ocorrer também em linguagem escrita.
Lenda
História fictícia a respeito de personagens ou lugares reais; sendo assim, a realidade dos
fatos e a fantasia estão diretamente ligadas. A lenda é sustentada por meio da oralidade,
torna-se conhecida e só depois é registrada por meio da escrita. Portanto, o autor é o
24
Gêneros e estilos │ UNIDADE II
Editorial
Textos de uma publicação periódica em que o conteúdo expressa a opinião da empresa,
da direção ou da equipe de redação, sem a obrigação de se ater a nenhuma imparcialidade
ou objetividade. Geralmente, grandes jornais reservam um espaço predeterminado
para os editoriais em duas ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas.
Notícia
A notícia apresenta características descritivas e narrativas de determinado fato ou
acontecimento com informações sobre quem, onde, o que, quando, por que e como.
Reportagem
A reportagem é o gênero textual do jornalismo, com características mais dissertativas
com enfoque expositivo. Seu objetivo é informar por meio de linguagem denotativa e de
forma mais detalhada que a simples notícia.
Entrevista
Gênero textual em que se reproduz o diálogo entre pelo menos duas pessoas, com
enfoque em assuntos específicos. A entrevista ocorre no jornalismo, no pedido de
emprego e em outras situações em que haja necessidade do diálogo com objetivos
específicos. Geralmente, há um entrevistador e um entrevistado. Assim, não basta
apenas a reprodução do diálogo. Alguém faz perguntas e o outro responde.
25
Capítulo 2
Texto literário e não literário
Já o texto literário não tem essa função nem esse compromisso com a realidade
exterior: é expressão da realidade interior e subjetiva de seu autor. São textos escritos
para emocionar, que utilizam a linguagem poética. As funções emotiva e poética
predominam no texto literário. Exemplos de texto literário são o romance, o poema, o
conto e a novela.
Círculo Vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
26
Gêneros e estilos │ UNIDADE II
27
UNIDADE II │ Gêneros e estilos
28
Capítulo 3
Tipos de discursos
Direto
O narrador reproduz a fala da personagem por meio das palavras exatamente
pronunciadas. Não há interferência do autor na transcrição e ela é feita diretamente.
Observe exemplos.
Exemplo 1:
Exemplo 2:
29
UNIDADE II │ Gêneros e estilos
Indireto
O narrador usa suas palavras para reproduzir uma fala de outrem. Geralmente, é escrito
em terceira pessoa. O autor do texto transcreve os discursos de forma indireta (com
suas palavras e não exatamente as do personagem).
Exemplo 1:
Exemplo 2:
Indireto-livre
O narrador produz um texto em que retira propositadamente o conectivo, provocando
um elo psicológico no discurso. A fala da personagem (que seria um discurso direto,
mantém suas características diretas) é desenvolvida como parte do texto narrativo do
narrador e não da própria personagem.
Exemplo 1:
Ele afirmou que não era cachorro. Quem ele pensa que é? Quem ele pensa que sou?
Exemplo 2:
Aperto o copo na mão. Quando Lorena sacode a bola de vidro a neve sobe tão leve.
Rodopia flutuante e depois vai caindo no telhado, na cerca e na menininha de capuz
vermelho. Então ela sacode de novo. ‘Assim tenho neve o ano inteiro’. Mas por que
neve o ano inteiro? Onde é que tem neve aqui? Acha lindo a neve. Uma enjoada.
Trinco a pedra de gelo nos dentes.
(Lygia Fagundes Telles, As Meninas.)
30
Gêneros e estilos │ UNIDADE II
Exemplo 3:
31
Capítulo 4
Estilos
Estilística (do alemão Stilistik, pelo francês stylistique) é o ramo da linguística que
estuda os recursos de expressão de uma determinada língua. Estudam-se, assim, as
características que promovem sugestões e emoções no receptor da comunicação. Alguns
estudiosos consideram-na uma parte da gramática.
A estilística surgiu como estudo próprio em princípios do século XX, por meio das
propostas feitas pelo alemão Karl Vossler e pelo suíço Ferdinand de Saussure, com base
em conhecimentos clássicos, como a retórica ensinada pelos gregos.
Figuras de estilo
Figuras de linguagem (Brasil) ou figuras de estilo (Portugal) são recursos literários que
o autor pode aplicar no texto para conseguir um efeito determinado na interpretação
do leitor. São formas de expressão mais localizadas em comparação às funções da
linguagem, que são características globais do texto. Podem relacionar-se com aspectos
semânticos, fonológicos ou sintáticos das palavras afetadas. Por exemplo: Tenho-lhe
chamado um milhão de vezes! (exemplo de hipérbole).
32
Gêneros e estilos │ UNIDADE II
33
UNIDADE II │ Gêneros e estilos
34
Prática de
interpretação e Unidade iII
produção
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer é porque um dos dois
é burro.
(Mário Quintana)
Capítulo 1
Ideias explícitas e ideias implícitas
Um bom texto apresenta uma ideia principal e outras que a comprovam, exemplificam
ou ampliam (secundárias). Todas as ideias devem estar organizadas e concentradas ao
redor de uma ideia central para formar um raciocínio. Observe o exemplo a seguir.
Logo no início, o autor procura enfatizar a ideia que abordará no parágrafo. Após a ideia
principal, seguem as ideias secundárias que exemplificam a primeira ideia. Observe
outro exemplo.
35
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção
Agora, o autor apresenta sua ideia principal e busca, por meio de ideias secundárias,
argumentar o porquê de sua abordagem inicial.
O texto pode exigir do leitor apenas a percepção do que está literalmente escrito. Outras
vezes, no entanto, o leitor se vê obrigado a explorar sua capacidade de interpretar as
informações literais e observar conexões lógicas possíveis em sua interpretação. O autor
pode não ter literalmente escrito uma ideia, mas fez uso de inferências ou deduções
para que o leitor alcance o entendimento desejado. Observe alguns modelos de textos
com ideias explícitas e outros com ideias explícitas e implícitas.
36
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III
mandasse “vir buscar da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro”.
Para ocupar e administrar o novo território, tarefa bastante complicada
pela distância geográfica e precariedade das comunicações, a coroa
portuguesa teve de oferecer incentivos e relaxou na vigilância de seus
prepostos. Isso gerou um ambiente de tal modo favorável à prática da
corrupção, que já no século XVII, o padre Antônio Vieira denunciou-o
através do ‘Sermão do Bom Ladrão’, onde expõe corajosamente os
desmandos praticados por colonos e administradores no Brasil:
O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não
só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre
e de mais alta esfera. (...) os ladrões que mais própria e dignamente
merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos
e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades,
os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os
outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os
outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os
outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.
Análise explícita
Leia os textos a seguir e responda às questões. O gabarito aparece no final do
capítulo.
Texto I
No mundo, tal como a Física o descreve, nada pode ocorrer que seja
verdadeiramente e intrinsecamente novo. Inventar-se-á, talvez, um novo engenho,
mas sempre será possível, através de análise, ver nele uma nova combinação de
elementos que serão isto ou aquilo, mas não serão novos. Novidade, em Física, é
simples novidade de arranjos e combinações. Em oposição a esse ponto, insiste
o historicismo, a novidade social, assim real, irredutível ao novo dos arranjos. Na
vida social, os mesmos fatores, postos em arranjo novo, nunca serão realmente os
mesmos velhos fatores. Onde nada se pode repetir com exatidão, a novidade real
estará sempre emergindo. E sustenta-se que esse é um significativo traço a ter em
conta quando se focaliza o desenvolvimento de novos estágios ou períodos da
História, cada um dos quais diferirá intrinsecamente de qualquer outro.
37
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção
d. a vida dos físicos é complicada pelas novidades sociais, pois eles estão
habituados ao rigor de imutáveis leis da Física.
Texto II
38
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III
4. Segundo o texto:
Texto III
6. Segundo o texto:
39
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção
Gabarito:
1. c
2. b
3. a
4. d
5. e
6. e
7. a
Texto IV
Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse
a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava
40
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III
atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os
sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou
todas as joias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à
passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.
Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum
se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessa praças. E
evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse
em silencio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade de
mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.
Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do
bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe
agradar. Largou o tecido numa gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando
pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.
(Marina Colasanti)
41
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção
Texto V
Não se sabia bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no
Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer
regionalismo: Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha predileção por
esta ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo que o fazia vibrar de
paixão não eram os pampas do Sul com o seu gado, não era o café de São Paulo,
não eram o ouro e os diamantes de Minas, não era a beleza da Guanabara, não
era a altura da Paulo Afonso, não era o estro de Gonçalves Dias ou o ímpeto de
Andrade Neves – era tudo isso junto, fundido, reunido, sob a bandeira estrelada
do Cruzeiro.
Logo aos dezoito anos quis fazer-se militar; mas a junta de saúde julgou-o
incapaz. Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse a Pátria. O ministério era liberal,
ele se fez conservador e continuou mais do que nunca a amar a “terra que o viu
nascer”. Impossibilitado de evoluir-se sob os dourados do Exército, procurou a
administração e dos seus ramos escolheu o militar.
42
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III
ao Nilo e era como este rival do “seu” rio que ele mais implicaria. Ai de quem
o citasse na sua frente! Em geral, calmo e delicado, o major ficava agitado e
malcriado, quando se discutia a extensão do Amazonas em face da do Nilo.
– Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que
trabalham em silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria.
(Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma. Rio de Janeiro: Record, 1998)
e. Quaresma queria ser militar por causa dos excelentes salários pagos
pelo Exército.
43
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção
e. Quaresma antipatizava com o rio Nilo por ser este mais extenso que o
rio Amazonas.
a. modéstia.
b. cultura.
c. honestidade.
d. jocosidade.
e. respeitabilidade.
44
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III
Gabarito:
1. e
2. a
45
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção
3. d
4. e
5. b
6. d
7. e
8. c
9. e
Texto VI
Sem emprego, sem saúde, sem teto, sem instrução, esse povo desgraçado pelo
descaso das autoridades descobriu no Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST) o que alguns buscam em entidades e organizações como as
novas seitas e igrejas: esperança. Mais pragmaticamente, trabalho, comida, teto
e, se sobrar, educação e saúde.
46
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III
Texto VII
Na cidade grande, há um quadro que se repete mil vezes ao dia, e que talvez já
diga tudo: o velhinho, no cruzamento perigoso, decide-se, enfim, a atravessar a
avenida, e o faz com aflição, um braço estendido em sinal de pare aos motoristas
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UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção
Há, pois, velhices e velhices – até que chegue o dia em que ninguém mais tenha
tempo para de fato envelhecer.
(Celso de Oliveira)
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Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III
b. Tudo leva a crer que os velhos serão cada vez mais escassos, dado o
atropelo da vida moderna.
e. No ritmo em que as coisas vão, a própria velhice talvez não venha a ter
tempo para tomar consciência de si mesma.
Gabarito
1. V
2. F
3. F
4. F
5. V
6. V
7. V
8. a
9. b
10. e
11. c
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Estruturação de Unidade iV
um texto
E por que é importante saber bem a nossa língua? Porque vivemos numa
sociedade letrada que exige o domínio da língua escrita. Se alguém quiser investir
numa carreira profissional, deve desenvolver essa capacidade. Sim, pois todos
podem aprender a escrever bem, isso não é questão de sorte ou talento. Não
se trata de aprender a ser poeta ou escritor, não estamos falando de literatura,
que exige outras qualidades de quem escreve. Estamos falando de alguém que
queira se expressar de modo claro, que queira redigir um relatório de trabalho,
uma correspondência comercial, um trabalho para a faculdade, uma redação
para o vestibular. Para esses casos, é claro que é possível aprender, em pouco
tempo, as técnicas básicas para escrever bem. Depois, é praticar bastante e ler
com atenção para ver como outras pessoas elaboram seus textos.
(Douglas Tufano)
Capítulo 1
O ato de redigir
Comunicar-se é ação de tornar comum uma ideia. Ela ocorre de várias formas. Em
contato direto com o falante, a língua falada é mais espontânea, mais viva, mais concreta,
menos preocupada com a gramática. Conta com vocabulário mais limitado, embora em
permanente renovação. Já na linguagem escrita, o contato entre quem escreve e quem
lê é indireto. Por isso, exige permanente esforço de elaboração, com maior preocupação
em relação à correção gramatical, clareza, objetiva e estrutura textual.
Níveis de linguagem
A eficiência da comunicação depende do uso adequado do nível de linguagem.
Certamente, você não escreveria da mesma forma um texto para um adulto e para uma
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Estruturação de um texto │ UNIDADE IV
criança. São pessoas com capacidade de entendimento diferente. Também o seu texto
deve ser diferente para cada um deles. É necessário, assim, preocupar-se, e muito, com
quem receberá o seu texto.
Exemplo:
Exemplo:
Brother, dentro dessa nova edição do Concurso 500 testes tem tudo para
que minha prova role na maior. Só de português são mais 800 questões.
Ah, tem uma lista de livros e dicas para todos ficarem por dentro do que
é moleza que caiu na prova. Vou encarar este estudo.
A escolha da palavra
A palavra é o início da expressão. Nosso objetivo é prepará-lo de forma adequada em
todos os sentidos. Não queira escrever textos longos de forma adequada sem antes
observar o uso dos termos em seu texto. A escolha da palavra é o início de um bom texto.
O termo exato a ser empregado deve levar em conta o leitor. Imagine o seu leitor.
Trata-se de um desconhecedor do assunto a ser escrito, um especialista, uma pessoa
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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto
O primeiro passo para expressar uma ideia é a escolha do termo adequado para indicar
sua ideia de forma clara e objetiva. Dê sempre preferência ao termo menor e mais fácil
de ser compreendido pelo leitor.
Denotação e conotação
Saiba bem a diferença entre sentido denotativo e conotativo.
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Capítulo 2
O período adequado
Procure sempre frases curtas. Uma, duas ou, no máximo, três orações por período
sintático. A frase curta tem várias vantagens. A primeira é diminuir o número de
erros, principalmente em pontuação. A segunda é tornar o texto mais claro. A terceira
é apresentar a ideia de forma mais objetiva. Vinícius de Moraes afirmava que “uma
frase longa não é mais que duas curtas”. Períodos longos geralmente estão associados a
ideias incertas e facilitam falhas na compreensão.
Recebi, há poucos dias, uma mensagem eletrônica com exemplos do assunto que
tratamos agora. Alguém coletou falhas de clareza na paróquia da cidade. Observe.
Para todos os que tenham filhos e não o saibam, temos na paróquia uma
área especial para crianças.
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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto
Evite iniciar a redação com: “Nos dias de hoje...”; “Atualmente...”; “No Brasil...”. Evite
também oração intercalada logo no início: “O governo Lula – como todos sabem –
demonstra insegurança...”.
Você deve usar voz passiva quando o sujeito paciente é mais importante do que o agente
da passiva.
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Estruturação de um texto │ UNIDADE IV
Evite gerúndio
Você consegue substituir o gerúndio por ponto em quase todas as situações. Observe o
exemplo a seguir:
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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto
Muitas vezes, o período longo fragmenta o pensamento. Sem perceber, o autor acaba por
tratar de diversos assuntos diferentes e sem continuidade. Veja um exemplo a seguir.
Quando paramos para pensar sobre quem foi o responsável por todas as mazelas
que sofremos nos últimos anos no Brasil, gerando desordem na área da saúde e da
educação principalmente e poucos resultados eficientes na área do crescimento,
aquele que permitiu que toda esperança se perdesse e fosse por água abaixo, deixando
escapar uma oportunidade para o Brasil ocupar um assento permanente na ONU e
em diversas representações internacionais importantes e não dando prosseguimento
ao projeto de exportação de nossos produtos agropecuários, perdendo o foco do que
realmente interessa para o povo brasileiro.
Bom texto é texto objetivo e claro. O período curto facilita o entendimento rápido por
parte do leitor. O texto a seguir foi editorial do jornal Correio Braziliense. Observe a
separação das ideias nos períodos.
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Capítulo 3
O parágrafo adequado
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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto
Falha comum é a pessoa produzir um texto complexo em que o leitor perde a linha do
raciocínio facilmente. Observe o exemplo a seguir.
Para além das razões de método, pode-se aduzir à tolerância uma razão moral: o
respeito à pessoa alheia. Também nesse caso, a tolerância não se baseia na renúncia
à própria verdade, ou na indiferença a qualquer forma de verdade. Creio firmemente
em minha verdade, mas penso que devo obedecer a um princípio moral absoluto: o
respeito à pessoa alheia.
As boas razões da tolerância não nos devem fazer esquecer que também a intolerância
pode ter suas boas razões. Todos nós já nos vimos, cotidianamente, explodir em
exclamações do tipo “é intolerável que...”, “como podemos tolerar que ...”, etc.
Nesse ponto, cabe esclarecer que o próprio termo “tolerância” tem dois significados,
um positivo e outro negativo, e que, portanto, também tem dois significados
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Estruturação de um texto │ UNIDADE IV
»» ser objetivo;
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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto
unidade entre as ideias. Todas as ideias devem estar relacionadas a um foco principal,
a uma intenção do comunicador.
Exemplo:
Como você pôde observar, as ideias estão relacionadas a Brasília, porém não apresentam
uma ideia central, uma unidade. Encontram-se apenas informações soltas e não dando
suporte a um posicionamento maior.
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Capítulo 4
Estruturas textuais
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si ajustadas a uma ideia central
que norteia todo o pensamento do texto. Em uma livraria, encontramos um local todo
dividido em áreas de interesse. Em um supermercado, há diversas divisões. Em uma
escola, há espaço reservado para diretoria, para os alunos etc. Mesmo em nossa vida,
temos horário para trabalho, descanso, alimentação. Também um bom texto necessita
ter ideias bem divididas em parágrafos independentes entre si. Leia atentamente o
texto abaixo.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a
alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto
significado. Não há dúvida que rima bem com ladroagem. Mas não tem o mesmo
vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado?
Politiquice? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima
como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com
a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de
gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições
respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais.
(Rui Barbosa)
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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto
Primeiro parágrafo:
_________________________________________________________________
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_________________________________________________________________
______________________________________________
Segundo parágrafo:
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_________________________________________________________________
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_________________________________________________________________
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Terceiro parágrafo:
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_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
____________________________
Dissertação
Trata-se de um discurso lógico que apresenta uma tese (a abordagem dada por você em
relação ao tema solicitado), a argumentação (a comprovação com fatos que justificam
o porquê de sua ideia ser coerente) e a conclusão. Dissertar pressupõe sempre
conhecimento sobre o assunto. Não se aventure jamais a escrever sobre algo que você
não domina.
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Estruturação de um texto │ UNIDADE IV
Introdução
Ao contrário de algumas teses predominantes até bem pouco tempo, a maioria das
sociedades de hoje já começam a reconhecer a não existência de distinção alguma
entre homens e mulheres. Não há diferença de caráter intelectual ou de qualquer
outro tipo que permita considerar aqueles superiores a estas.
Argumentação
Com efeito, o passar do tempo está a mostrar a participação ativa das mulheres em
inúmeras atividades. Até nas áreas antes exclusivamente masculinas, elas estão
presentes, inclusive em posições de comando. Estão no comércio, nas indústrias,
predominam no magistério e destacam-se nas artes. No tocante à economia e à
política, a cada dia que passa, estão vencendo obstáculos, preconceitos e ocupando
mais espaços.
Cabe ressaltar que essa participação não pode nem deve ser analisada apenas pelo
prisma quantitativo. Convém observar o progressivo crescimento da participação
feminina em detrimento aos muitos anos em que não tinham espaço na sociedade
brasileira e mundial.
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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto
Conclusão
Descrição
Descrever é apresentar aspectos físicos ou psicológicos. Consiste em retratar os
pormenores de um referente. Descreve bem uma situação quem é capaz de recriar
imagens sensoriais na mente do leitor. Observe uma descrição.
Lá está ele: figura arcada pelo trabalho pesado. Seus olhos são fundos, cansados,
cercados pela marca do tempo. Suas roupas são simples, surradas, suadas, tem no
bolso um volante da loto, a carteira de trabalho e alguns trocados. Nas mãos, ásperas
e grossas, traz uma marmita vazia, outrora cheia de quase nada.
Texto I
Por cima da moldura da porta há uma chapa metálica comprida e estreita, revestida
de esmalte. Sobre um fundo branco, as letras negras dizem Conservatória Geral do
Registro Civil. O esmalte está rachado e esboicelado em alguns pontos. A porta é antiga,
a última camada de pintura castanha está a descascar-se, os veios da madeira, à vista,
lembram uma pele estriada. Há cinco janelas na fachada. Mal se cruza o limiar, sente-
se o cheiro de papel velho. É certo que não passa um dia sem que entrem papéis novos
na Conservatória, dos indivíduos de sexo masculino e de sexo feminino que lá fora vão
nascendo, mas o cheiro nunca chega a mudar, em primeiro lugar porque o destino
de todo papel novo, logo à saída da fábrica, é começar envelhecer, em segundo lugar
porque, mais habitualmente no papel velho, mas muitas vezes no papel novo, não passa
um dia sem que se escrevam causas de falecimento e respectivos locais e datas, cada um
construindo com seus cheiros próprios, nem sempre ofensivos das mucosas olfactivas,
como o demonstram certos eflúvios aromáticos que de vez em quando, subtilmente,
perpassam na atmosfera da Conservatória Geral e que os narizes mais finos identificam
como um perfume composto de metade rosa e metade crisântemo.
(SARAMAGO, José. Todos os nomes. São Paulo: Cia. Das Letras, 1997. p.11)
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Estruturação de um texto │ UNIDADE IV
Texto II
Narração
Narrar envolve tempo, ação. É o texto que apresenta relato de fatos vividos por
personagens e ordenados em sequência. Observe um texto narrativo de Manuel
Bandeira.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael
não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso:
mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava um
namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete,
Rua General Pedra, Olaria, Ramos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael,
privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-
la em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo; ele
entrou na sala três ou quatro minutos depois. Entrou com o ar manso do costume, em
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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto
chinelas de cordovão, com a jaqueta de brim lavada e desbotada, calça branca e tesa
e grande colarinho caído. Chamava-se Policarpo e tinha perto de cinquenta anos ou
mais. Uma vez sentado, extraiu da jaqueta a boceta de rapé e o lenço vermelho, pô-los
na gaveta; depois relanceou os olhos pela sala. Os meninos, que se conservaram de
pé durante a entrada dele, tornaram a sentar-se. Tudo estava em ordem; começaram
os trabalhos.
(ASSIS, Machado de. Conto de escola. In: Seus trinta melhores contos, cit., p. 217-28)
Textos técnicos
A elaboração de textos técnicos exige domínio do tema desenvolvido, de padronizações
da estrutura do parecer e de competência linguística. Ausência de organização do
pensamento ou do texto compromete a compreensão do assunto. Muitos são os casos
em que o texto fica aquém da capacidade do próprio autor. O despreparo na competência
de expressar e estruturar bem o documento técnico prejudica o conhecimento do
profissional.
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Referências
ALMEIDA, Antonio Fernando de; ALMEIDA, Valéria Silva Rosa de. Português
Básico: Gramática, Redação, Texto. São Paulo: Editora Atlas, 2004.
______. Português Básico para Cursos Superiores. São Paulo: Editora Atlas,
1990.
BARROS, Enéas Martins de. Português para o Ciclo Universitário Básico. São
Paulo: Editora Atlas, 1982.
FARACO, Carlos Emílio & MOURA, Francisco Marto de. Gramática. São Paulo:
Editora Ática, 1996.
MAZZAROTTO, Luiz Fernando; CAMARGO, Davi Dias de; SOARES, Ana Maria
Herrera. Manual de redação: guia prático da língua portuguesa. São Paulo:
Editora DCL, 2003.
TERRA, Ernani. Curso Prático de Gramática. São Paulo: Editora Scipione, [s. d.].
Sites de pesquisa:
<www.marcelopaiva.com.br>
<www.português.com.br>
<www.linguaportuguesa.com.br>
<www.academia.org.br>
<www.filologia.org.br/viisenefil/10.htm>
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