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Quaestio Iuris vol. 12, nº. 02, Rio de Janeiro, 2019. pp.

360-400
DOI: 10.12957/rqi.2019.37638

SOBRE O RECONHECIMENTO NA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE


DIPLOMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DIREITO CANÔNICO
EXPEDIDO POR UNIVERSIDADE DA SANTA SÉ

Eduardo Antônio Klausner1

RESUMO: O presente trabalho investiga se é possível reconhecer no Brasil diploma de pós-


graduação stricto sensu em Direito Canônico, expedido por instituição de ensino superior
pertencente à Santa Sé, para que sejam produzidos efeitos equivalentes aos graus acadêmicos de
Mestre ou Doutor em Direito conferidos no país. O Acordo Brasil – Santa Sé, em vigor desde
11 de fevereiro de 2010, assegura o reconhecimento recíproco de títulos e qualificações em nível
de pós-graduação, observadas as exigências do ordenamento jurídico brasileiro e as da Santa Sé.
A questão é nova e, apesar da sua evidente importância, ainda não foi enfrentada pelos meios
acadêmicos em sua inteireza, havendo incerteza sobre a natureza do Direito Canônico, sobre os
requisitos exigidos para a concessão do grau e a compatibilidade com o grau de Mestre ou Doutor
em Direito conferidos no Brasil. À fim de alcançar o desiderato da pesquisa se adotará o método
analítico com exame da doutrina, da legislação e da jurisprudência para que se possa determinar,
em primeiro lugar, a natureza do Direito Canônico, se saber jurídico ou teológico; em segundo
lugar, se a instituição de ensino superior mantida pela Santa Sé pode ser considerada instituição
estrangeira de educação superior e pesquisa segundo a lei brasileira; e, em terceiro lugar, se o
diploma em Direito Canônico que a instituição universitária romana concede é apto ao
reconhecimento, mesmo que o curso de pós-graduação stricto sensu seja integralmente realizado
no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Revalidação de diploma estrangeiro; Reconhecimento de grau, título ou


qualificação em Direito Canônico; Acordo Brasil – Santa Sé; Igreja Católica e Direito; Direito e
Teologia; Direito Internacional Privado e Direito Canônico.

1. Introdução
O objetivo da presente pesquisa é verificar se diplomas e títulos de pós-graduação stricto
sensu em Direito Canônico, expedidos por instituições de ensino superior da Santa Sé, podem
ser reconhecidos no Brasil como equivalentes aos títulos de Mestre e Doutor.

1
Professor Permanente de Direito Internacional e Direitos Humanos da Universidade Católica do Rio de
Janeiro - UCP. Juiz de Direito do Poder Judiciário do Rio de Janeiro.
Bacharel, Mestre e Doutor em Direito Internacional e da Integração Econômica pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro - UERJ; Pós-Doutorando na Linha de Pesquisa Direitos Humanos, Democracia e Ordem
Internacional da Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC Rio.
Instituição: Universidade Católica de Petrópolis - UCP, Rio de Janeiro. Brasil. E-mail: eaklausner@tjrj.jus.br

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A questão é importante considerando que o Brasil e a Santa Sé possuem acordo no qual


“o reconhecimento recíproco de títulos e qualificações em nível de Graduação e Pós-
Graduação”2 é admitido, desde que atendidos os requisitos legais brasileiros e da Santa Sé.
No Brasil o reconhecimento de diplomas estrangeiros de pós-graduação stricto sensu
está previsto na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, Lei n°. 9.394 de 1996, artigo
48º, § 3º. Assim, os títulos de Mestre e Doutor concedidos por instituições de ensino estrangeiras
devem ser formalmente reconhecidos no Brasil para terem validade e produzirem os efeitos de
direito inerentes ao título universitário.
A Resolução n°. 3, promulgada pela Câmara de Educação Superior do Conselho
Nacional de Educação do Ministério da Educação brasileiro em 22 de junho de 2016 e publicada
no Diário Oficial da União (DOU) em 23 de junho de 2016, disciplina a matéria e o procedimento
a fim de que seja obtido o reconhecimento do diploma estrangeiro. A Portaria Normativa n. 22,
do Ministro de Estado da Educação, promulgada em 13 de dezembro de 2016, regulamenta
minunciosamente os atos procedimentais e institui a Plataforma Carolina Bori3, de adesão
voluntária pelas instituições reconhecedoras, para subsidiar a execução e a gestão dos processos
de reconhecimento de diplomas4.
Para cumprir o objetivo da pesquisa, impõe-se, em primeiro lugar, decidir qual
instituição é competente para proceder o reconhecimento do diploma de pós-graduação stricto
sensu em Direito Canônico, expedido por universidade da Santa Sé. Isso também implica em
definir a natureza do Direito Canônico como saber científico.
Em segundo lugar, deve ser avaliada a organização acadêmica da instituição estrangeira,
o seu desempenho na atividade de pesquisa e o seu procedimento para atribuição do grau
acadêmico, conforme disposto no artigo 18 da Resolução acima citada. O objetivo da norma é
constatar se existe equivalência entre o grau acadêmico estrangeiro e o pretendido pelo
beneficiário do reconhecimento; bem como verificar se o curso de pós-graduação stricto sensu
da instituição de ensino estrangeira possui exigências científicas rigorosas para a atribuição dos
títulos de Mestre e Doutor, compatíveis com as determinações e as exigências legais brasileiras
formuladas para a pós-graduação stricto sensu e para atribuição dos títulos de Mestre e Doutor,
de modo a permitir um reconhecimento paritário ao nacional quanto à formação do seu titular,
como previsto pela Lei 9.394/1996, artigo 48, caput.

2
Artigo 9º. do Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídico da
Igreja Católica no Brasil, promulgado pelo Decreto n. 7.107 de 11 de fevereiro de 2010.
3
http://carolinabori.mec.gov.br/?pagina=inicial.
4
Artigo 5º.

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2. Instituição competente para o reconhecimento do diploma de pós-graduação stricto


sensu em Direito Canônico
A Resolução n°. 3 de 2016 já citada dispõe, em seu artigo 17, cuja redação é similar ao
§ 3º do artigo 48 da Lei n. 9.394 de 1996, que:
os diplomas de cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado),
expedidos por universidades estrangeiras, só poderão ser reconhecidos por
universidades brasileiras regularmente credenciadas que possuam cursos de
pós-graduação avaliados, autorizados e reconhecidos, no âmbito do Sistema
Nacional de Pós-Graduação (SNPG), na mesma área de conhecimento, em
nível equivalente ou superior.
A norma acima citada é clara em seus termos e dispensa maiores esclarecimentos. Todas
as universidades brasileiras, assim como os cursos de graduação e pós-graduação que oferecem,
estão sujeitas ao permanente controle e fiscalização do poder público.
Ao exercer o múnus público de reconhecer como válido, para todos os efeitos de direito,
um diploma estrangeiro, a universidade brasileira age como delegada da União, delegada essa
com expertise na área de conhecimento do título estrangeiro que for avaliar. Nessa qualidade,
afirma que os requisitos cumpridos no estrangeiro pelo diplomado são equivalentes aos que se
exige no Brasil na área de conhecimento do título examinado, atribuindo equivalência entre o
título estrangeiro e grau acadêmico que concede aos seus pós-graduandos aprovados ao final do
curso para que possa valer no Brasil.
A acima mencionada exigência da Resolução decorre do fato de que, para o
reconhecimento de diplomas estrangeiros, é preciso expertise na área de saber do diplomado por
parte da comissão de docentes que irá participar do processo de reconhecimento. Essa expertise
é fundamental para propiciar a comissão a competência científica necessária para avaliar o
currículo, às exigências da instituição estrangeira quanto a dedicação aos altos estudos e à
pesquisa por parte do corpo docente e discente, assim como às condições materiais fornecidas
para tanto.
Professores e pesquisadores universitários brasileiros que se dedicam à pesquisas na
mesma área de conhecimento do curso de pós-graduação estrangeiro, os quais laboram em cursos
de nível equivalente ou superior com relação ao grau acadêmico obtido pelo diplomado no curso
estrangeiro, estão habilitados para examinar os méritos e deméritos de um curso acadêmico
alienígena tendo por paradigma o próprio curso de pós-graduação do qual participam.
Por sua vez, considerando a redação do citado artigo da Resolução, que não distingue
universidades públicas ou privadas - diferente do tratamento dado a diplomas de graduação cuja
revalidação só será feita por universidades públicas nos termos do artigo 3º - conclui-se que
instituições de ensino superior privadas são competentes para o ato de reconhecimento de
diploma de pós-graduação stricto sensu estrangeiro.

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A problemática a ser enfrentada em razão do artigo regulamentar em comento diz


respeito à determinação da área de conhecimento em que se situa o Direito Canônico: se é ramo
da Ciência do Direito ou se é ramo da Teologia, como será em seguida demonstrado.
A questão é nova e ainda não foi enfrentada pelos meios acadêmicos seculares em sua
inteireza, apesar da sua evidente importância. Determinar a área de conhecimento é condição
sine qua non para definir a competência da universidade brasileira que procederá o
reconhecimento do diploma de Direito Canônico estrangeiro, e para definir os direitos do titular
do grau acadêmico no que diz respeito à sua habilitação em uma área do conhecimento.
Isso, consequentemente, indiretamente também repercutirá nos direitos da instituição de
ensino que mantém o programa de pós-graduação do qual participará o diplomado em Direito
Canônico, caso venha a ser contratado para a docência e a pesquisa, considerando o rigor das
regras da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) quanto ao
número e à qualificação dos docentes na área de conhecimento do programa de pós-graduação
stricto sensu mantido por universidade brasileira. Assim, impõe-se estabelecer com exatidão se
o Direito Canônico está na área de conhecimento do Direito, ou se pertence à outra área de
conhecimento.

2.1. A determinação da área de conhecimento do Direito Canônico


Direito, como termo, comporta diversos sentidos. Como área do conhecimento e do saber
científico, Direito é a ciência que se dedica ao conhecimento do fenômeno jurídico. O fenômeno
jurídico é entendido como a composição de fatos e atos referentes ao conjunto de normas
reguladoras de conduta que organizam as relações do Estado e dos membros da sociedade civil,
prescrevendo qual deve ser o comportamento socialmente aceito e qual deve ser a punição ou a
consequência na hipótese de descumprimento dos preceitos normativos que são estabelecidos
pela sociedade e pelo Estado, concretizados no tempo e no espaço (SOARES, 2015, p. 13-17 e
REALE, 2007, p. 16-17).
A existência de variados conceitos e definições sobre o Direito tem por características,
principalmente, o peso que se atribui a três elementos: o da legalidade conforme o ordenamento,
o da eficácia social e o da correção material. Como esclarece Alexy (2009, p. 15):
quem não atribui importância alguma à legalidade conforme o ordenamento e
à eficácia social e considera exclusivamente a correção material obtém um
conceito de direito puramente jusnatural ou jusracional. Quem segrega por
completo a correção material, focalizando unicamente a legalidade conforme
o ordenamento e/ou a eficácia social chega a um conceito de direito puramente
positivista. No espaço compreendido entre esses dois extremos é possível
conceber muitas formas intermediárias.

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Bobbio (2008, p.3), por sua vez, explica que “nossa vida desenvolve-se em um mundo
de normas”; ubi societas ibi ius, já diziam os juristas romanos. Esse mundo normativo posto pela
sociedade e pelo Estado, que estipula ao ser humano uma conduta ideal na sociedade e na relação
com terceiros, um dever-ser coercitivo e com sanção pré-determinada pelo descumprimento da
conduta imposta, é a característica mor do Direito. Isso, independentemente das diversas
correntes que discutem sobre a natureza, a formação, a validade, a legitimidade e a adequação
do Direito à Justiça. O Direito possui, portanto, como principais atributos: a heteronomia, a
coercibilidade e a bilateralidade atributiva5.
A Ciência Jurídica, ou Ciência do Direito, portanto, é aquela que tem por objeto o estudo
do Direito e do fenômeno jurídico “tal como ele se concretiza no espaço e no tempo” (REALE,
2007, p. 16-17). Como toda ciência, “é discurso, teoria, que se constrói em função de um objeto
de conhecimento e de um método, por sua vez também construídos” com função precípua de
explicar, “e não ditar normas e, muito menos, dogmatizar” (MARQUES NETO, 2001, p. 184-
185).
Como ciência social, ou política6, visa a uma aplicação. A especificidade técnica ou
tecnológica do Direito se materializa na norma válida em um sistema normativo de observância
coercitiva pelo corpo social, e na aplicação técnico-normativa (MARQUES NETO, 2001, p. 185)
pelos juristas7. A norma, nesse sentido, por sua vez, engloba o preceito que pode ser
genericamente nomeada como lei assim como os princípios, ambos com características próprias
e sujeitos à aplicação por métodos e técnicas específicas nas relações jurídicas travadas na
sociedade.
O Direito, para organizar a vida em sociedade, necessita categorizar fenômenos
jurídicos, formar conceitos e definições jurídicas, e estipular instituições jurídicas. Assim, o
Direito, por natureza, constrói instituições jurídicas e qualifica fenômenos jurídicos de maneira
sistemática e organizada, a fim de evitar uma mera justaposição de regras que comportaria
incoerências e contradições. “Portanto, o direito constitui inevitavelmente um sistema

5
Como destacam, entre outros, REALE (Lições Preliminares de Direito,2007, p. 44-52; Filosofia do Direito,
2002, p. 699-710); e BITTAR e ALMEIDA (2010, p. 519-520). No mesmo sentido, BERGEL (2006, p. 39-
43). Tais características são do sistema normativo como um todo, como esclarece BOBBIO (2008, p. 147), o
que justifica a existência de normas jurídicas sem sanção no sistema.
6
Alguns autores entendem que o Direito deve ser libertado do caráter científico-positivo que
contemporaneamente tem sido preferido, pois adequa-se melhor a Política, assim entendida como Filosofia
Política ou Ciência Política. Nesse sentido, citando diversos juristas nacionais e estrangeiros com o mesmo
posicionamento, Jacques (1981, p. 6-11).
7
Juristas são os peritos ou especialistas em Direito. Os juristas por excelência são os Juízes. Também são
juristas os Promotores de Justiça, os Advogados, além dos Notários, Registradores e “qualquer ofício ou
profissão em que seja necessário estabelecer o direito em relação a algumas pessoas ou instituições.”
(HERVADA, 2008, p. 54-60).

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organizado em torno de certo número de princípios, de noções fundamentais, de procedimentos


técnicos cujo emprego pressupõe certos métodos”, e as regras jurídicas são oriundas da
“associação de maior ou menor número de conceitos e todo sistema de direito se caracteriza por
uma organização específica das relações existentes entre seus diversos elementos” (GASSIN,
1981, p. 353 apud BERGEL, 2006, p. 252).
Por sua vez, em razão da complexidade das relações jurídicas, torna-se necessária a
divisão do Direito em ramos especializados, com determinação de objeto próprio e princípios
peculiares. A certeza e a segurança na apreensão dos fenômenos jurídicos e na utilização de
critérios uniformes para a identificação da facti species normativa, bem como para determinar
as hipóteses de incidência da norma, exige um quadro teórico definido e especializado (FERRAZ
Jr, 2008, p. 109-116).
O Direito possui princípios e normas gerais, mas, conforme a natureza de cada grupo de
relações jurídicas ou fatos jurídicos, também possui princípios diretores, regras e instituições
peculiares a determinados fenômenos e categorias jurídicas assemelhadas por um elemento ou
característica comum, os quais formam um corpo normativo especial, organizado e
sistematizado em regime próprio, adequado aos fenômenos sociais, econômicos e jurídicos aos
quais se destinam. Essa especialização não significa uma separação absoluta, deve ser frisado,
mas principalmente a determinação de critérios de decidibilidade com certeza e segurança
(FERRAZ Jr., 2008, p. 112-116).
Entre os juristas seculares, há poucas divergências sobre a natureza do Direito Canônico.
Tenório (1976, p. 413) abraça a definição de Bertola (p. 920): “o complexo das leis estabelecidas
ou aprovadas pela Igreja para o governo da sociedade eclesiástica e para a disciplina das relações
dos fiéis. Em sentido restrito é o Codex iuris canonici”. Tenório (1976, p. 413) ainda afirma que:

No campo de aplicação do direito canônico, não há controvérsia quando a lei


do Estado admite sua incorporação. Integra-se, então, no ordenamento jurídico
do país, nos rigorosos limites admitidos. Fora do texto da lei, o problema é de
qualificação do direito canônico, qualificação que oscila entre a de sua
natureza de direito estrangeiro e a de sua expressão estatutária, desde que não
seja incompatível com a ordem pública local.

Afirma ainda o acima citado jurista que, sendo o Direito Canônico direito da Igreja
Católica “para as relações de seus fiéis, independentemente de nacionalidade ou do domicílio”,
não pode ser considerado propriamente direito estrangeiro, mas reconhece existir certas
“manifestações contraditórias e vacilantes” na jurisprudência (TENÓRIO, 1976, p. 414). No
entanto, apesar de divergências quanto à qualificação do Direito Canônico, seja como corpo de
normas estatutárias de organizações religiosas, seja como o direito decorrente de um “corpo de

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leis que emana das autoridades legislativas da Igreja e é imposto obrigatoriamente aos seus fiéis”,
não há dúvidas de sua característica normativa e coercitiva (TENÓRIO, 1976, p. 421).
Por sua vez, alguns dicionários jurídicos seculares contêm verbetes definindo Direito
Canônico, não o distinguindo dos demais ramos da Ciência do Direito. Cite-se, por exemplo, De
Plácido e Silva (1995, p. 79):
“DIREITO CANÔNICO. Assim se designa o corpo ou coleção de leis
que regem a Igreja Católica. [...].
Entre os canonistas a questão não é tão simples. Três principais correntes divergem sobre
a natureza do Direito Canônico: a teológica, a pastoral e a jurídica (STEFFEN, 2014).
Hervada (2006, p. 169-173), jurista secular e canonista, é categórico sobre a natureza do
Direito Canônico como ramo da Ciência do Direito, in verbis:
Nas origens da ciência jurídica moderna encontramos não só os legistas, [...]
como também os canonistas, com a figura também não muito conhecida do
mestre Graciano. [...] a ciência jurídica moderna, em suas origens, deve tanto
aos legistas quanto aos canonistas o que, unido ao regime jurídico dos Estados
e suas relações com a Igreja Católica (regime de Cristandade), originou o
sistema do utrumque ius, dos dois direitos: o ius civile (direito civil) e o ius
canonicum (direito canônico), que durante séculos regeu a vida jurídica da
Europa.
Com o advento da Reforma protestante, esse sistema desapareceu para que o
direito canônico ficasse dentro dos limites da Igreja Católica. Porém, embora
separado do direito secular, o direito canônico continuou vivo e os canonistas
constituíram um setor importante da ciência jurídica, com suas Faculdades de
Direito Canônico e uma atividade científica e prática intensa. Não se deve
esquecer, entretanto, que o direito canônico rege matérias muito relevantes
para a vida dos homens, como o casamento, em uma comunidade
independente e soberana que conta com milhões de fiéis, que superam em
número, com grande diferença, os Estados mais habitados e extensos. Nenhum
direito dos Estados mais habitados – ainda contando com o direito das uniões
de Estados como a União Europeia – tem vigência em extensão que o direito
canônico tem. [...]
Essas inegáveis diferenças de conteúdo entre o direito canônico e o direito
secular não devem induzir ao engano sobre a genuína natureza do direito
canônico. Na Igreja, existem verdadeiras relações de justiça comutativa (v.g.
contratos), justiça distributiva (v.g., os fiéis têm direito aos sacramentos) e
justiça legal (há na Igreja autêntica potestade legislativa e de regime ou
executiva e judicial); e a Instituição conta com um direito penal e com um
sistema judicial etc.
Se existe verdadeira justiça, existe verdadeiro ius,[...]
Por isso, [...] ser canonista é ser jurista, a ciência canônica é um importante –
ao mesmo tempo original – setor da ciência jurídica, e o método a seguir é um
método jurídico”.

O canonista Gigante (1955, p.5) define Direito Canônico como ramo dogmático do
Direito, frisando o seu aspecto eminentemente normativo e jurídico: “Direito Canônico é o
sistema ou complexo de leis com que a Igreja regula a sua atividade social específica e a de seus
membros como tais”.

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Alguns canonistas, antes mesmo de conceituar e abordar a natureza do Direito Canônico,


frisam que o Direito Canônico não é Teologia, ou ramo da Teologia v. g., Gonçalves (2004, p.
32-34, 53-54) com base no ensinamento de Sóbánski (1977, p. 74):

Se perguntarmos o que é Direito Canônico, podemos também completar nossa


interrogação fazendo uma outra pergunta suplementar: o que não é Direito
Canônico?
Em primeiro lugar, o Direito Canônico não é Teologia prática, isto é, um
estudo sistemático sobre as práticas eclesiais [...] o Direito Canônico não é um
discurso da fé ou Teologia, nem tem preocupação de celebrá-la, como é
próprio da liturgia.
[...] a vida e a missão da Igreja, para poder desenvolver-se, exigem
ordenamento, regras, leis de conduta, ou seja, uma ordem disciplinar.
[...] Entende-se por Ciência Canônica a exposição científica do complexo de
leis da Igreja Católica, de acordo com certos princípios e organizados numa
ordem lógica. Daí que “quando um jurista se ocupa do Direito Canônico como
um fenômeno jurídico, se serve dos métodos em uso nas ciências jurídicas,
que levam-no ao conhecimento do Direito, portanto, do método analítico, do
método sistemático e do histórico. Como outros Direitos, também o Canônico,
indagado pelo jurista, mostra a sua própria especificidade, enquanto é
observado como direito de uma comunidade religiosa”.

O Direito Canônico é uma necessidade da Igreja Católica Apostólica Romana, uma vez
que a Igreja se organiza na sociedade humana como uma instituição, atribuindo direitos e deveres
aos seus membros por preceitos de observância coercitiva. O Direito Canônico tem por fontes,
quanto ao legislador e aos principais documentos, Deus e sua legislação divina proveniente da
Revelação Cristã materializada no Antigo e no Novo Testamento, bem como as autoridades
humanas que governam a Igreja e editam leis, decretos e sentenças para tanto8.
O Direito Natural com matriz teológica, tendo por fundamento ou fonte Deus, a
legislação divina e o ordenamento religioso, não é estranho à Ciência do Direito. Essa é a
doutrina que predominou no estudo e na justificação do Direito antes mesmo de Cristo, como no
direito hebraico, no direito grego e no direito romano, por exemplo, e que, fundado na Revelação
Cristã, predominou no Ocidente até o século XVI com o advento da Reforma e do jusnaturalismo
racionalista.
Destaque-se que o Direito Natural, tendo por fonte Deus, a lei divina e o ordenamento
religioso decorrente da sua soberana divindade, predomina em outras tradições, organiza a
sociedade civil, é formalmente recepcionado nas Constituições dos Estados e inspira a legislação
secular de diversos países muçulmanos, como, por exemplo, ocorre na Arábia Saudita, no

8
Nesse sentido: Andreau-Guitrancourt (1963, p. 281-288, 410 e s).; Le Tourneau (1998, p. 17-25); e Gigante
(1955, p. 7 e s.).

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Paquistão e no Irã. Nesses Estados a validade do Direito reside no Direito Islâmico e suas fontes:
o Alcorão, a Sunnah e a Charia, (ou Shari’ah)9.
Sobre a origem de um Direito Canônico sistematicamente e juridicamente organizado no
seio da Igreja Católica, explica Lima (1999, p.19):
O fenômeno jurídico-eclesiástico que se verifica nos vinte séculos de
existência da Igreja Católica decorre, portanto, de sua própria natureza, cujas
leis provêm de sua constituição, que, embora divina em sua origem, é humana
nas pessoas que a compõem e, inserida na grande sociedade humana, por isso
mesmo, sem perder de vista o sobrenatural, necessariamente passível de
evolução. Se suas leis se destinam a governar a vida prática dos que se
associam a ela [...].
A autoridade eclesiástica, por sua vez, enfatiza o caráter jurídico da legislação canônica.
Cite-se, a título de exemplo, a mais importante legislação da Igreja Latina: o Código de Direito
Canônico. Sua Santidade o Papa João Paulo II, ao promulgar o novo Código de Direito
Canônico, é claro ao enfatizar o caráter jurídico do mesmo:
[...]
Surge agora uma outra questão sobre a natureza do próprio Código de Direito
Canónico. Para responder devidamente a esta pergunta, é preciso recordar o
antigo património de direito contido nos livros do Antigo e do Novo
Testamento, de onde provém, como da sua primeira fonte, toda a tradição
jurídica e legislativa da Igreja.
[...]
O Código, como principal documento legislativo da Igreja, baseado na herança
jurídica e legislativa da Revelação e da Tradição, deve considerar-se o
instrumento indispensável para assegurar a ordem tanto na vida individual e
social, como na própria atividade da Igreja. Por isso, além de conter os
elementos fundamentais da estrutura hierárquica e orgânica da Igreja,
estabelecidos pelo seu Divino Fundador ou baseados na tradição apostólica ou
na mais antiga tradição, e ainda as principais normas referentes ao exercício
do tríplice múnus confiado à própria Igreja, deve o Código definir também as
regras e as normas de comportamento.
Um instrumento, como é o Código, corresponde totalmente à natureza da
Igreja, sobretudo como é proposta pelo magistério do Concílio Vaticano II,
[...]
De facto, o Código de Direito Canónico é absolutamente necessário à Igreja.
Já que ela também está constituída como um todo orgânico social e visível,
tem necessidade de normas, para que a sua estrutura hierárquica e orgânica se
torne visível, para que o exercício das funções a ela divinamente confiadas,
especialmente a do poder sagrado e a da administração dos Sacramentos, possa
ser devidamente organizado, para que as relações mútuas dos fiéis possam ser
reguladas segundo a justiça baseada na caridade, garantidos e bem definidos
os direitos de cada um, e, enfim, para que as iniciativas comuns, assumidas
para uma vida cristã cada vez mais perfeita, sejam apoiadas, fortalecidas e
promovidas mediante as normas canónicas.

9
Sobre o tema Direito na antiguidade, especialmente grego e romano ver, Coulanges (2003 edição brasileira,
sem as notas de rodapé da edição original, pela RT). Sobre o Direito Hebraico ver: Palma (2007, Juruá). Sobre
o Direito Islâmico ver: Morêz (2008, Juruá). Sobre sistemas jurídicos contemporâneos com fonte no Direito
Divino, ver: David (2002, Martins Fontes) e Losano (2007, Martins Fontes). Para um rápido panorama sobre
o sistema jurídico israelense, indiano, árabe saudita e paquistanês, ver: Klausner (2012,p. 142-155).

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Finalmente, as leis canónicas pela sua própria natureza devem ser observadas;
por isso foi usada a máxima diligência, para que na longa preparação do
Código a expressão das normas fosse precisa e elas se apoiassem num sólido
fundamento jurídico, canónico e teológico.
Depois de todas estas considerações, deve sem dúvida augurar-se que a nova
legislação canónica se torne um instrumento eficaz com que a Igreja possa
aperfeiçoar-se de acordo com o espírito do Concílio Vaticano II, e mostrar-se
cada vez mais capaz de cumprir neste mundo a sua missão salvífica. [...]10

A Reunião Geral do Sínodo dos Bispos de 1967, que definiu os princípios que regeriam
os trabalhos para a revisão do Código de Direito Canônico, foi cristalina ao se expressar sobre a
índole jurídica do Código citado, v.g., no primeiro, no sétimo e no nono princípios, in verbis:

1º.) Na renovação do direito, deve-se absolutamente conservar a índole


jurídica do novo Código, exigida pela própria natureza social da Igreja. [...]
7º.) [...] é necessário que se consagre atenção especial à regulamentação do
procedimento destinado à garantia dos direitos subjetivos. Por isso, na
renovação do direito, atenda-se ao que tanto faltava nesse particular, até o
presente, isto é, aos recursos administrativos e à administração da justiça. Para
obter isso, faz-se necessário distinguir claramente as diversas funções do poder
eclesiástico, a saber, as funções legislativas, administrativa e judicial, e
determinar adequadamente que organismos devam exercer cada função.
[...]
9º.) Com referência ao direito de coação, a que a Igreja não pode renunciar,
como sociedade externa, visível e independente, as penas sejam geralmente
ferendae sententiae e irrogadas e remitidas somente no foro externo. [...]11

Na perspectiva científica secular, ou seja, da Ciência do Direito, ou mesmo de Direito


Civil, que é como os canonistas nomeiam o Direito que tem por fonte somente normas do Estado,
os estatutos e as normas particulares de organizações religiosas, associações, sociedades civis
ou comerciais e corporações em geral que têm personalidade jurídica segundo o Direito Privado
obrigam os partícipes e membros das mesmas. Essa coercitividade dos estatutos e normas
particulares decorre do próprio reconhecimento estatal das mesmas como fontes subsidiárias de
normatividade, como consequência da autonomia negocial das pessoas envolvidas nesses
negócios jurídicos. Na linguagem de Kelsen todas essas “corporações” são uma ordem jurídica
personificada. Nesse sentido, a Igreja Católica é uma corporação.
As corporações são tradicionalmente definidas e concebidas como (GRAY, p. 51, apud
KELSEN, 2005, p. 157), “um corpo organizado de homens ao qual o Estado deu poderes para

10
SANTA SÉ. João Paulo II, PAPA. Constituição Apostólica “Sacrae Disciplinae Leges” de Promulgação do
Código de Direito Canônico. 1983. Roma, Palácio Vaticano.
11
SANTA SÉ. Comissão para a Revisão do Código de Direito Canônico. Prefácio. Código de Direito
Canônico. 1983, Vaticano.

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proteger os seus interesses, e as vontades que acionam esses poderes são as vontades de certos
homens determinados segundo a organização. ”
A definição acima é criticada por Kelsen, que nela vê uma “hipostatização”. Numa
perspectiva do positivismo jurídico normativo, a própria organização como pessoa jurídica
confunde-se com a sua própria ordem normativa, nada mais é do que uma ordem personificada.
Nesse sentido, no caso em exame, a Igreja Católica confunde-se com o seu próprio Direito
Canônico. Kelsen (2005, p. 144) é peremptório nesse sentido:

f. A pessoa jurídica como ordem personificada


A pessoa jurídica, no sentido mais restrito do termo, nada mais é que a
personificação de uma ordem que regula a conduta de vários indivíduos; por
assim dizer, o ponto comum de imputação para todos os atos humanos, que
são determinados pela ordem.

Isso porque, para o positivismo jurídico normativo, a pessoa jurídica, que é como se
constitui a Igreja Católica, - e outras organizações religiosas -, à luz da Ciência do Direito, assim
como todas as demais entidades a ela pertencentes ou associadas, é formada por um grupo de
indivíduos tratados pelo Direito como uma unidade. Assim explica Kelsen (2005, p. 140) ipsis
litteris:
[...] ou seja, como uma pessoa que tem direitos e deveres distintos daqueles
dos indivíduos que a compõem. Uma corporação é considerada como uma
pessoa porque nela a ordem jurídica estipula certos direitos e deveres jurídicos
que dizem respeito aos interesses dos membros da corporação, mas que não
parecem ser direitos e deveres dos membros e são, portanto, interpretados
como direitos e deveres da própria corporação. Tais direitos e deveres são, em
particular, criados por atos dos órgãos da corporação.

O sistema normativo oriundo da Igreja Católica, como o sistema normativo que organiza
todo o tipo de corporação ou pessoa jurídica, portanto, é reconhecido pelo próprio Estado como
Direito. Esse sistema normativo de fonte corporativa é essencial para a existência da própria
pessoa jurídica e, no caso, da própria Igreja como ente dotado de personalidade jurídica na
sociedade e perante o Estado, e é ordem normativa jurídica no sentido estrito do termo. Como
leciona Kelsen (2005, p. 142-143):
Dizer que esta associação possui órgãos é exatamente o mesmo que dizer que
os indivíduos que formam a associação estão organizados por uma ordem
normativa. A ordem ou organização que constitui a corporação é o seu
estatuto, os chamados regulamentos da corporação, um complexo de normas
que regulamenta a conduta dos seus membros. Deve-se notar aqui que a
corporação existe juridicamente apenas através do seu estatuto. [...] Os
indivíduos “pertencem” a uma associação ou formam uma associação apenas
na medida em que a sua conduta é regulada pela ordem “da” associação. Na
medida em que a sua conduta não é regulada pela ordem, os indivíduos não

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“pertencem” à associação. Os indivíduos são associados apenas através da


ordem. [...] Portanto, é enganoso dizer que uma associação ou comunidade é
“formada” ou composta de indivíduos, como se a comunidade ou associação
fosse apenas um amontoado de indivíduos. A associação ou comunidade é
composta apenas pelos atos dos indivíduos que são determinados pela ordem;
e esses atos “pertencem” à associação ou comunidade apenas na medida em
que formam o conteúdo das normas da ordem. A associação ou comunidade
nada mais é que a “sua” ordem.

Portanto, superada está toda e qualquer pretensão de não se considerar o Direito


Canônico como ramo da Ciência do Direito, por uma alegada e inverídica ausência de
coercibilidade12 só encontrada no direito positivo estatal, ou por se considerar equivocadamente
a Ciência Canônica como ramo da Teologia13.
A relação entre Direito Canônico e a Teologia decorre da fundamentação da Ciência
Canônica na lei divina e de justificar-se o Direito como um dos meios para que a Igreja atinja o
seu desiderato: pregar os Evangelhos, proporcionar o necessário para contribuir com a
construção do Reino de Deus e a Salvação dos homens. No entanto, o Direito Canônico participa
da natureza geral do Direito14. Ressalte-se que o Direito possui intrínseca a interdisciplinaridade,
sem que isso afete a sua natureza jurídica, pelo contrário, enriquecendo-o na construção do seu
saber15.
No Brasil, o Código Civil materializa no direito positivo o que teoricamente explica
Kelsen, ao dispor no artigo 44, IV, e § 1º., serem as organizações religiosas pessoas jurídicas de
direito privado16, de livre criação, organização, estruturação interna e funcionamento, sendo
vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e
necessários ao seu funcionamento. Por sua vez, os artigos 45 a 52 do Código Civil dão o suporte
legal necessário para o desenvolvimento das atividades das organizações religiosas17.
O Código Civil brasileiro ao estipular quem são as pessoas jurídicas, preocupa-se
também com a natureza jurídica das mesmas de maneira ampla, classificando-as como de direito
público interno e externo e de direito privado em seu artigo 40 para, nos artigos seguintes, definir

12
Nesse sentido, Sampel (2002, p. 104-105, versão eletrônica:< http://revistas.pucsp.br/culturateo>).
13
Zani (2007, p. 140, versão eletrônica idem) afirma que o Direito Canônico é ramo da Teologia, confundindo
o interesse interdisciplinar com aspectos dogmáticos e epistemológicos.
14
Nesse sentido, Mörsdorf (Direito Canônico. FRIES, Heinrich (diretor). Dicionário de Teologia: conceitos
fundamentais da teologia atual. 1970, p. 412).
15
Como bem destaca a CAPES, Diretoria de Avaliação. LIMA, Martonio Mont’Alverne Barreto, Coordenador
de Área. Documento de Área 2013 – Área de Avaliação: Direito, p. 4-5
16
Sobre o tema no Brasil, ver também: Aguillar (2015, LTr).
17
Cf. Baldisseri (2011, p. 56-57 e nota de rodapé n. 1), o Decreto n. 119-A de 07 de janeiro de 1890 já
assegurava a liberdade religiosa no Brasil e reconhecia a todas as igrejas e confissões religiosas personalidade
jurídica.

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cada uma delas. Nesse diapasão, viu-se mais acima que as organizações religiosas são pessoas
jurídicas de direito privado na forma do artigo 44, IV, do citado Codex.
No entanto, a Igreja Católica, entre todas as organizações religiosas, tem um caráter e
uma natureza anômala, pois a Santa Sé, que governa a Igreja Católica Apostólica Romana e o
Estado da Cidade do Vaticano, também é pessoa jurídica de direito público externo, conforme
define o artigo 42 do Código Civil, por se enquadrar como ente regido pelo Direito Internacional
Público.
Como os demais Estados a Santa Sé tem sua soberania reconhecida mundialmente na
sociedade de Estados e na Organização das Nações Unidas (BALDISSERI, 2011, p. 23-30, 85 e
s.), da qual participa na qualidade de observador. O Papa governa a Santa Sé como um monarca
absoluto sediado no Estado da Cidade do Vaticano, - um enclave em Roma, capital da Itália -, e
a sua soberania é garantida pelo Estado italiano formalmente pelo Tratado de Latrão de 192918.
A Santa Sé, como os demais entes soberanos, promulga seu próprio direito, o Direito Canônico,
com o qual se organiza e ordena as relações sob sua jurisdição estatal, eclesial e religiosa, bem
como celebra tratados, tratados esses que também criam e regulam direitos, (tradicionalmente
conhecido como Direito Concordatário), e participa de organismos internacionais19. Mazzuoli
(2012, p. 440) frisa que o reconhecimento da personalidade internacional da Santa Sé é histórico
e nunca foi contestado à luz do direito das gentes. Em razão desta soberania, a Santa Sé mantém
relações diplomáticas com 178 países, com organizações internacionais e participa de diversos
organismos intergovernamentais. Atualmente há mais de 180 representantes estrangeiros
credenciados junto a Santa Sé (BALDISSERI, 2011, p. 50-51).
A Santa Sé também mantém relações internacionais com o Brasil que remontam ao
Império e que foram mantidas após a proclamação da República (TENÓRIO, 1976, p. 415-416).
No entanto, carecia de um tratado que regulamentasse as relações entre a Igreja Católica e o
Brasil. Em razão disso e após longa negociação, o Brasil e a Santa Sé firmaram o Acordo
Relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, ratificado em 10 de dezembro de 2009
e promulgado por decreto do Poder Executivo brasileiro em 11 de fevereiro de 2010, Decreto n.
7.107.

18
Sobre o Tratado de Latrão, o Estado da Cidade do Vaticano e a soberania da Santa Sé ver: DE LA BRIÈRE
(1930, p. 113-166).
19
Mesmo antes de 1929 e após a unificação da Itália e a conquista de Roma pelo Rei da Sardenha, o Papa
manteve a sua soberania e a “independência e o livre exercício da autoridade especial da Santa Sé”, reconhecida
conforme a Lei das Garantias de 13 de maio de 1871 promulgada pelo Reino da Itália. Mazzuoli (2012, p. 441-
448) frisa que a Santa Sé sempre foi soberana e reconhecida por todos os Estados como tal, mesmo pelos
Estados que não professam a religião católica.

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Examinando-se o Acordo Brasil – Santa Sé20, constata-se que o Brasil reconhece o


Direito Canônico como o Direito da Santa Sé enquanto entidade soberana, capaz de
coercitivamente impor o seu ordenamento jurídico aos seus jurisdicionados, assegurando,
portanto, a sua aplicação nas hipóteses reconhecidas pelo Direito Internacional Privado
brasileiro21 como de aplicação do direito estrangeiro22, e em outras hipóteses previstas no tratado.
Assim como reconhece expressamente a jurisdição eclesiástica da Santa Sé em matéria
matrimonial, e dispõe sobre a homologação de sentença eclesiástica como sentença estrangeira
para o seu reconhecimento e execução no Brasil.
Logo ao iniciar o Acordo, no primeiro considerando do preâmbulo, consta
expressamente o reconhecimento da Santa Sé como suprema autoridade da Igreja Católica
Apostólica Romana, “regida pelo Direito Canônico”. Segundo o artigo 31 da Convenção de
Viena sobre Direitos dos Tratados, promulgada no Brasil pelo Decreto n. 7.030 de 2009, o
preâmbulo de um tratado é importante para a sua adequada interpretação e aplicação. Assim
sendo, vislumbra-se que para o Brasil não há dúvida quanto a natureza jurídica do Direito
Canônico e a sua qualidade de direito estrangeiro.
Também no quarto parágrafo do preâmbulo fica evidente a equiparação entre o direito
brasileiro e o canônico23:
Baseando-se, a Santa Sé, nos documentos do Concílio Vaticano II e no Código
de Direito Canônico, e a República Federativa do Brasil, no seu ordenamento
jurídico;

Na parte dispositiva do tratado pode ser destacado o artigo 3º, que estipula sobre o
reconhecimento da personalidade jurídica da Igreja Católica “e de todas as Instituições
Eclesiásticas que possuem tal personalidade em conformidade com o direito canônico”. Tal
dispositivo reconhece ao Direito da Santa Sé capacidade extraterritorial de produzir efeitos no
Brasil no que tange a atribuição de personalidade jurídica às instituições eclesiásticas.
Cite-se, ainda, o disposto no artigo 12 do Acordo, que estabelece que “o casamento
celebrado em conformidade com as leis canônicas, que atender também às exigências
estabelecidas pelo direito brasileiro para contrair casamento, produz os efeitos civis [...]”, assim
como o seu importantíssimo parágrafo 1º.

20
Para uma visão geral do Acordo e seus dispositivos ver Baldisseri e Martins Filho, (coordenadores), 2012,
LTr).
21
Nesse sentido, ver Rodas, Direito Canônico é aplicável no Brasil, por força de tratado ou de regras conflituais.
Consultor Jurídico.10/12/2015, 8h. Apreendido em <conjur.com.br>.
22
As normas de Direito Internacional Privado brasileiro estão dispostas, especialmente, na Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro.
23
Nesse sentido, Baldisseri (2011, p. 97).

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O parágrafo 1º. do artigo 12 trata de questão diretamente ligada a circulação internacional


de sentenças, ou seja, a possibilidade da sentença ou decisão judicial transitada em julgado e
prolatada em uma jurisdição estrangeira produzir efeitos e ser executada em outra jurisdição. O
citado parágrafo está assim redigido:

§ 1º. A homologação das sentenças eclesiásticas em matéria matrimonial,


confirmadas pelo órgão de controle superior da Santa Sé, será efetuada nos
termos da legislação brasileira sobre homologação de sentença estrangeiras.

A questão é da maior importância no Direito Internacional Privado e decorre


naturalmente da possibilidade de um Estado aplicar o direito estrangeiro em sua jurisdição. Se
um Estado permite a aplicação do direito estrangeiro em determinadas relações jurídicas
pluriconectadas, ou seja, conectadas a mais de um ordenamento jurídico nacional, é natural que
para o bem da Justiça proporcione a possibilidade de reconhecimento e execução de sentença
estrangeira, desde que respeitados determinados critérios importantes para o foro, especialmente
os concernentes a ordem pública.
No Brasil, as sentenças estrangeiras para produzirem efeitos jurídicos devem ser
homologadas pelo Superior Tribunal de Justiça – STJ, conforme artigo 105, I, “i”, da
Constituição Federal. O rito processual está previsto nos artigos 960 a 965 do Código de
Processo Civil, no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça e na Resolução n. 9 de
2005 do citado tribunal24.
A primeira sentença estrangeira sujeita ao processo de homologação com fulcro no
parágrafo 1º. do art. 12 do Acordo Brasil – Santa Sé foi reconhecida como válida para produzir
plenamente efeitos no Brasil, sem qualquer óbice. A ementa está redigida nos seguintes termos25:

SENTENÇA ESTRANGEIRA Nº 6.516 - VA (2011/0018250-4) (f)

RELATOR : MINISTRO PRESIDENTE DO STJ

REQUERENTE : M W M T
ADVOGADO : JOSÉ EDUARDO COELHO DIAS E OUTRO(S)
REQUERIDO : A C T
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO – CURADOR
ESPECIAL

DECISÃO

24
Sobre homologação de sentença estrangeira ver, entre outros, Araujo (2016, p.303-332) e Dolinger e Tiburcio
(2016, p. 613-618).
25
Acessado e apreendido diretamente na página do Superior Tribunal de Justiça em 08 de abril de 2017,
<http://www.stj.jus.br/SCON/decisoes/toc.jsp?processo=006516.NUM.&&tipo_visualizacao=RESUMO&b=
DTXT&thesaurus=JURIDICO&p=true>.

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Trata-se de pedido de homologação da sentença de anulação do matrimônio


do requerente, M W M T, com a requerida, A C DA S, brasileiros, qualificados
nos autos, proferida pelo eg. Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Vitória,
Espírito Santo (fl. 6), confirmada por decreto do Tribunal Eclesiástico
Interdiocesano de Aparecida, São Paulo (fl. 22), bem como pelo Supremo
Tribunal da Assinatura Apostólica, no Vaticano (fl. 160).
A d. Defensoria Pública da União, na qualidade de curador especial da
requerida, e a d. Subprocuradoria-Geral da República manifestaram-se, às fls.
82 e 166, favoravelmente ao pedido.

É o breve relatório.

Decido.

Destaco, inicialmente, ser este o primeiro pedido de homologação de sentença


eclesiástica processado em conformidade com o disposto no acordo firmado
entre o Brasil e a Santa Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no
Brasil (Decreto 7.107/2010).
De acordo com o referido decreto, as decisões eclesiásticas confirmadas pelo
órgão superior de controle da Santa Sé são consideradas sentenças estrangeiras
para efeitos de homologação.
Assim, verifico que os pressupostos indispensáveis ao deferimento do pleito
foram observados. Ademais, a pretensão não ofende a soberania nacional, a
ordem pública nem os bons costumes (art. 17 da LINDB e arts. 5º e 6º da
Resolução n. 9 de 2005 do Superior Tribunal de Justiça).
Diante disso, homologo o título judicial estrangeiro.
Expeça-se a carta de sentença.
P. e I.
Brasília, 16 de maio de 2013.
MINISTRO FELIX FISCHER
Presidente

A decisão do Superior Tribunal de Justiça homologando a primeira sentença eclesiástica


após o Acordo Brasil – Santa Sé estar em vigor, apesar da sua simplicidade, deixa evidente o
reconhecimento pelo Brasil da jurisdição da Santa Sé, da autoridade de seus juízes, e,
consequentemente, da validade, coercibilidade e eficácia do seu Direito Canônico, apto e capaz
de desconstituir uma relação jurídica constituída no plano religioso e também secular26.
Por todo o exposto neste tópico, provado está o caráter jurídico do Direito Canônico por
comungar evidentemente das características marcantes do Direito: a heteronomia, a
coercibilidade e a bilateralidade atributiva.

26
Outras decisões já foram proferidas, inclusive reconhecendo a constitucionalidade do Acordo Brasil-Santa
Sé e a adequação do Direito Canônico às garantias fundamentais de natureza processual, como o respeito ao
princípio da igualdade, ao contraditório e a ampla defesa. Nesse sentido julgado da Corte Especial do Superior
Tribunal de Justiça, SEC 11.962-EX, Rel. Min. Felix Fischer, j. 4/11/2015, DJe 25/11/2015.

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Consequentemente, não há qualquer dúvida de que Direito Canônico é ramo da Ciência


do Direito e, assim sendo, saber contido pela área de conhecimento do Programa de Pós-
Graduação em Direito Stricto Sensu nas universidades brasileiras.
3. O procedimento para o reconhecimento de diploma de pós-graduação em Direito
Canônico à luz do artigo 18 da Resolução CES/CNE n. 3 de 2016
O artigo 18 da Resolução n. 3 CES/CNE/2016 está assim redigido:
Art. 18. O processo de reconhecimento dar-se-á a partir da avaliação de mérito
das condições de organização acadêmica do curso e, quando for o caso, do
desempenho global da instituição ofertante, especialmente na atividade de
pesquisa.

§ 1º. O processo de avaliação deverá considerar as características do curso


estrangeiro, tais como a organização institucional da pesquisa acadêmica no
âmbito da pós-graduação stricto sensu, a forma de avaliação do (a) candidato
(a) para integralização do curso e o processo de orientação e defesa da tese ou
dissertação.

§ 2º. O processo de avaliação deverá considerar diplomas resultantes de cursos


com características curriculares e de organização de pesquisa distintas dos
programas e cursos stricto sensu ofertados pela universidade responsável pelo
reconhecimento.

§ 3º. Para o cumprimento do disposto no parágrafo anterior, a universidade


poderá, a seu critério, organizar comitês de avaliação com a participação de
professores e pesquisadores externos ao corpo docente institucional que
possuam perfil acadêmico-científico adequado à avaliação do processo
específico.

§ 4º. O (A) requerente do reconhecimento de diploma estrangeiro deverá


atender às solicitações de informação da universidade reconhecedora, além da
apresentação dos seguintes documentos:

I - cadastro contendo os dados pessoais e, quando for o caso, informações


acerca de vinculação institucional que mantenha no Brasil;

II - cópia do diploma devidamente registrado pela instituição responsável pela


diplomação, de acordo com a legislação vigente no país de origem e
autenticado por autoridade consular competente;

III - exemplar da tese ou dissertação com registro de aprovação da banca


examinadora, autenticada pela instituição de origem e por autoridade consular
competente, com cópia em arquivo digital em formato compatível,
acompanhada dos seguintes documentos:

a) ata ou documento oficial da instituição de origem, contendo a data da defesa,


o título do trabalho, a sua aprovação e conceitos outorgados, devidamente
autenticados por autoridade consular competente; e

b) nomes dos participantes da banca examinadora e do (a) orientador(a)


acompanhados dos respectivos currículos resumidos, com indicação de site
contendo os currículos completos;

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IV - cópia do histórico escolar, autenticado pela instituição estrangeira


responsável pela diplomação e pela autoridade consular competente,
descrevendo as disciplinas ou atividades cursadas, com os respectivos
períodos e carga horária total, indicando a frequência e o resultado das
avaliações em cada disciplina;

V - descrição resumida das atividades de pesquisa realizadas e cópia impressa


ou em endereço eletrônico dos trabalhos científicos decorrentes da dissertação
ou tese, publicados e/ou apresentados em congressos ou reuniões acadêmico-
científicas, indicando a (s) autoria(s), o nome do periódico e a data da
publicação; e

VI - resultados da avaliação externa do curso ou programa de pós-graduação


da instituição, quando houver e tiver sido realizada por instituições públicas
ou devidamente acreditadas no país de origem, e outras informações existentes
acerca da reputação do programa indicadas em documentos, relatórios ou
reportagens.

§ 5º Caberá à universidade responsável pela análise de reconhecimento


solicitar, quando julgar necessário, ao (à) requerente a tradução da
documentação prevista no § 4º.

§ 6º O disposto no parágrafo anterior não se aplica às línguas francas utilizadas


no ambiente de trabalho da pesquisa institucional, tais como o inglês, o francês
e o espanhol.

§ 7º O tempo de validade da documentação acadêmica, a que se refere o § 4º,


será o mesmo adotado pela legislação brasileira.

§ 8º O reconhecimento do diploma, quando ocorrer, deverá preservar a


nomenclatura do título do diploma original.

§ 9º A universidade responsável pelo reconhecimento deverá apostilar o


diploma, reconhecendo como equivalente a mestrado ou a doutorado e, quando
for o caso, constar a correspondência entre o título original com a
nomenclatura adotada no Brasil.

Como se verifica do extenso artigo da Resolução n. 3 CES/CNE/2016, acima transcrito,


para o reconhecimento do diploma de pós-graduação stricto sensu estrangeiro é necessário o
exame de condições específicas relacionadas ao curso, ao programa de pós-graduação e a
universidade que concedeu o grau acadêmico, e ainda ao exame específico e objetivo de
documentos referentes ao Requerente.
3.1. A pós-graduação em Direito Canônico nas instituições de educação superior e pesquisa
vinculadas a Santa Sé
A Santa Sé localiza-se territorialmente no Estado da Cidade do Vaticano, em Roma,
Itália, Europa, como é notório, e, como ente soberano, ratificou diversos tratados objetivando
adequar-se ao desiderato europeu de construção de um espaço comum para a educação superior,

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especialmente a European Cultural Convention27, a European Convention on the Academic


Recognition of University Qualifications28 e, especialmente, a Convention on the Recognition of
Qualifications concerning Higher Education in the European Region e aderiu ao Processo de
Bologna para a construção de um espaço europeu integrado de alto nível para a educação
superior.
O Processo de Bologna visa à construção do Espaço Europeu de Educação Superior. O
objetivo é harmonizar o sistema de educação superior e a atribuição de graus e títulos acadêmicos
pelos Estados associados, de modo a permitir a comparação e a equiparação dos cursos
superiores entre os países membros, inclusive para fins de mútuo reconhecimento dos direitos
decorrentes dos graus, títulos e diplomas universitários concedidos29.
O Processo de Bologna adota o sistema de três ciclos30 de estudos acadêmicos de nível
superior, podendo o segundo ciclo ser equivalente ao mestrado (dependendo de quantos créditos
o estudante cumprir no primeiro e no segundo ciclo), e sendo o terceiro ciclo equivalente ao
doutorado. No citado sistema de três ciclos, o segundo ciclo deve ter de 60-120 ECTS (European
Credit Transfer and Accumulation System)31 e o estudante deve apresentar uma dissertação. O
terceiro ciclo corresponde ao doutorado e não há créditos obrigatórios ou disciplinas obrigatórias
a serem cursadas, exige-se tese doutoral32.
Por sua vez, no Livro III, Título III, Capítulos II e III do Código de Direito Canônico, a
Santa Sé trata das instituições de ensino superior. O Código como lei geral complementa a
Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae, de 15 de agosto de 1990, destinada às
universidades católicas, e também complementa a Constituição Apostólica Sapientia Christiana
promulgada junto com o regulamento da Sagrada Congregação para a Educação Católica em 15
de abril de 1979, destinada às universidades eclesiásticas.
As universidades católicas são instituições de educação superior e pesquisa dedicadas às
diversas áreas do conhecimento, mas “levando-se em conta a doutrina católica” (Código de
Direito Canônico – CDC, Cân. 809). A ereção de uma universidade católica compete às

27
Ser parte desta convenção é sine qua non para participar do processo de uniformização das regras para a
educação superior e para a concessão de graus acadêmicos, cf. http://www.ehea.info/pid34249/members.html.
28
http://www.coe.int/en/web/conventions/full-list/-conventions/treaty/country/HOL?p_auth=XUmxKksJ.
29
Ver, http://www.ehea.info/.
30
Cf. http://www.ehea.info/pid34438/three-cycle-system.html.
31
O ECTS também propicia ao estudante e as instituições de ensino um critério fixo para avaliar e determinar
o número de horas dedicadas às disciplinas cursadas e, assim, possibilizar a sua contabilização em caso de
retorno de estudantes estrangeiros ao país de origem para aproveitamento de estudos ou para a revalidação e
reconhecimento de diplomas de graduação e pós-graduação stricto sensu.
32
Cf. http://www.ehea.info/pid34438/three-cycle-system.html

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autoridades eclesiásticas em geral, mas especialmente aos Bispos diocesanos e às organizações


religiosas.
As universidades e faculdades eclesiásticas são aquelas dedicadas a estudar e a
“pesquisar as disciplinas sagradas ou as com elas ligadas, e para formar cientificamente os
estudantes nessas disciplinas” (CDC, Cân. 815). Essas faculdades e universidades eclesiásticas
são erigidas pela Santa Sé ou dependem de sua aprovação expressa, e são submetidas a sua
supervisão direta, conforme Cân. 816 do Código de Direito Canônico. Somente essas instituições
conferem graus acadêmicos com efeitos canônicos na Igreja Católica e em nome da Santa Sé,
segundo o Cân. 817 do CDC e tópico VI do Proêmio e arts. 2º. e 6º. da Sapientia Christiana. O
art. 34 do Regulamento da Sagrada Congregação para a Educação Católica é claro ao dispor que
os graus acadêmicos conferidos por faculdades e universidades eclesiásticas o são em nome do
Sumo Pontífice.
A concessão do título pontifícia (o) é outorgado especialmente e diretamente pela Santa
Sé33, mas não é exclusivo das universidades eclesiásticas, também pode ser concedido às
universidades católicas. O título dá especial dignidade à instituição de educação superior, tanto
que, dentre aproximadamente mil e oitocentas universidades católicas no mundo, apenas poucas
ostentam tal título34.
São consideradas disciplinas sagradas e objeto da atividade de ensino das faculdades e
universidades eclesiásticas as ministradas pelas faculdades de Teologia, Direito Canônico
(regulada a partir do artigo 75 da Constituição Apostólica Sapientia Christiana35) e Filosofia.
A formação em Direito Canônico exige prévia graduação em Faculdade de Teologia e,
aos que não cursaram Teologia, mesmo aos que sejam graduados em Direito, cursar o primeiro
ciclo de dois anos em Teologia com carga mínima de cento e vinte ECTS. O segundo ciclo exige
cursar mais 180 ECTS de disciplinas por cerca de aproximadamente três anos e apresentar uma
dissertação orientada por um professor36. Para o terceiro ciclo, ou doutorado, não há exigência
de completar-se carga horária com créditos específicos, mas a duração mínima é de um ano de
pesquisas37, e exige-se pesquisa científica que contribua para o progresso da Ciência que tenha

33
Segundo HORTAL, in SANTA SÉ, Código de Direito Canônico (2008, nota ao Cân. 808, p. 218).
34
Cf. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS. Reitor Prof. Wolmir Therezio Amado.
Esclarecimentos do Reitor sobre o reconhecimento pontifício da Católica como PUC Goiás, 16 de setembro
de 2009, in http://www.ucg.br/ucg/avisos/0249.asp, apreendido em 09 de fevereiro de 2017.
35
Disponível em < http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_constitutions/documents/hf_jp-
ii_apc_15041979_sapientia-christiana.html> apreendida em 10 de março de 2018.
36
Cf.<http://www.educatio.va/content/cec/it/studi-superiori-della-santa-sede/quadro-nazionale-delle-
qualifiche/qualifications-framework/diritto-canonico.html> apreendido em 10 de março de 2018.
37
PONTIFÍCIO INSTITUTO SUPERIOR DE DIREITO CANÔNICO DO RIO DE JANEIRO. Guia
Acadêmico. Sem data. Rio de Janeiro, p. 10, disponível em http://pisdc.com.br/site/wp-
content/uploads/2010/10/Guia-Academico.pdf.,p.16.

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sido elaborada sob a orientação de um professor, publicamente defendida, colegialmente


aprovada e, ainda, que tenha sido publicada ao menos a sua parte principal (Art. 49, parágrafo
3º., Constituição Apostólica Sapientia Christiana).
Entre as universidades eclesiásticas, para fins de perscrutar-se o mérito sobre as
condições de organização acadêmica do curso de pós-graduação stricto sensu em Direito
Canônico e do desempenho global da instituição ofertante, inclusive na atividade de pesquisa
como exige o artigo 18 da Resolução n. 3 CES/CNE acima citada, e se estabelecer um paradigma,
elege-se a Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma – PUG.
A PUG é uma das mais antigas universidades eclesiásticas38 erigida pela Santa Sé,
situada na cidade de Roma, mas beneficiada expressamente pelo Tratado de Latrão39, firmado
entre a Santa Sé e a Itália, Anexo 3, com imunidade diplomática e fiscal (DE LA BRIÈRE, 1930,
p.136).
Deve ser destacado que a Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma - PUG é
instituição de ensino e pesquisa renomada, ente central da Santa Sé40, fundada em 1556.
Outrossim, a PUG apresenta uma particularidade que recomenda ainda mais a sua escolha como
instituição de ensino paradigma neste estudo: oferece a possibilidade do curso de mestrado em
Direito Canônico ser trilhado pelo aluno integralmente no Brasil há mais de trinta anos, na sede
do Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico – PISDC situado no Município do Rio de
Janeiro, em razão da agregação do PISDC à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (PUG).
O sistema acadêmico eclesiástico da Santa Sé prevê que institutos eclesiásticos de
estudos superiores sejam coligados a faculdades ou universidades eclesiásticas para que,
observadas às regras dessas faculdades ou universidades e às da Santa Sé na ordenação dos
estudos, obtenham os estudantes desses institutos os graus acadêmicos conferidos por essas
faculdades e universidades. Agregação é o nomen iuris para essa citada coligação entre a

38
Cf. http://www.unigre.it/Univ/chi_siamo_it.php.
39
O Tratado de Latrão é composto por acordos firmados entre a Santa Sé e a Itália, datados de 11 de fevereiro
de 1929, que puseram fim a “Questão Romana” e fundaram o Estado da Cidade do Vaticano. No processo de
unificação da Itália, os Estados Pontifícios e a cidade de Roma, território da Santa Sé, foram invadidos pelas
tropas do Rei da Sardenha e anexados definitivamente em 1870, o que levou o Papa Pio IX a se refugiar no
Palácio do Vaticano e a não reconhecer a soberania italiana. Pelos acordos de Latrão, a Santa Sé aceita a perda
dos Estados Pontifícios e da cidade de Roma, decorrente da unificação italiana, reconhece o Reino da Itália, e,
em compensação, entre outras vantagens, mantém a soberania sobre os 44 hectares do Vaticano - originalmente
uma localidade na cidade de Roma -, reconhecidos pela Itália como território do Estado da Cidade do Vaticano,
sobre o Palácio de Castelgandolfo, sobre as Basílicas de São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo
Extramuros situadas na cidade de Roma. Os acordos também concedem imunidades diplomáticas, fiscais,
compensações financeiras e inclui matérias de interesse religioso. Sobre o assunto ver, também, MELLO
(2004, p. 562-563) e ACCIOLY, SILVA e CASELLA (2009, p. 552-553).
40
Cf. http://www.unigre.it/Univ/su/PUG_esenzione_it.php.

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instituição de ensino superior romana com institutos de estudos superiores ao nível de primeiro
e segundo ciclo de estudos (bacharelado e mestrado)41.
A PUG observa o Processo e o Acordo de Bologna42 para a construção de um espaço
europeu integrado de alto nível para a educação superior, e, por sua vez, a Faculdade de Direito
Canônico da PUG foi fundada em 1876, é renomadíssima, e dedica-se a estudar e a pesquisar a
Ciência Jurídica Canônica, ordenamento da própria Santa Sé, o que faz com expertise
incomparável vez que é uma Faculdade dedicada a um ramo do Direito ligado umbilicalmente a
sua própria existência como ente central da Santa Sé e da Igreja Católica Apostólica Romana.
As informações sobre a Faculdade e sobre o Curso de Direito Canônico estão disponíveis
em várias línguas em sítio próprio43, e especificamente se afirma a adequação do seu currículo
ao sistema de três ciclos estabelecido pelo Processo de Bologna. O segundo ciclo, com defesa
de uma dissertação (em italiano “Tesi di licenza sotto la guida di um professore”44), equivale ao
segundo ciclo pelo Processo de Bologna e se adequa ao estabelecido no Brasil para o grau de
mestrado, como será demonstrado. O terceiro ciclo equivale ao doutorado.
O segundo ciclo do Processo de Bologna, (que pode corresponder ao curso de
mestrado45), implica em carga horária total de atividades acadêmicas que varia em média de 90
a 120 ECTS, não podendo ser inferior a 60 ECTS. Cada crédito ECTS corresponde a 25-30 horas
de atividades acadêmicas, o que gera uma carga de trabalho de 1.500 a 1.800 horas por ano,
conforme o ECTS User’s Guide p. 10-19, publicado pela Comissão Europeia em 201546.
A carga horária contada em créditos e horas de atividades acadêmicas a serem cursadas
pelos alunos do curso equivalente ao mestrado em Direito Canônico da PUG, atende aos
requisitos do Processo de Bologna para os estudos do segundo ciclo. Os alunos que não cursaram
Faculdade de Teologia obrigatoriamente cursam também o primeiro ciclo, com dois anos de
duração, como se pode constatar do Programma degli Studi 2016-201747, conforme determinado
na Constituição Apostólica Sapientia Christiana e já exposto mais acima.

41
Cf. explana a Congregazione per l’Educazione Cattolica della Santa Sede em
http://www.educatio.va/content/cec/it/studi-superiori-della-santa-sede.html, apreendido em 09 de fevereiro de
2017. Nesse sentido também, HORTAL in SANTA SÉ. Código de Direito Canônico, 2008, nota ao Cân. 816,
p. 219).
42
Cf. <http://www.unigre.it/Studenti/processo_bologna_en.php>.
43
http://www.unigre.it/struttura_didattica/Diritto_canonico/brochure/090100_brochure_diritto_canonico.pdf.
44
Cf. http://www.unigre.it/struttura_didattica/Diritto_canonico/specifico/brochure_diritto_canonico_en.php.
45
Sobre as dificuldades na equiparação de diplomas e graus acadêmicos estrangeiros aos brasileiros ver
VARELLA e LIMA, (2012, p. 143-161, doi: 10.5102/rbpp.v.2i1.1814).
46
Disponível in http://ec.europa.eu/dgs/education_culture/repository/education/ects/users-guide/docs/ects-
users-guide_en.pdf.
47
Disponível no sítio da Faculdade de Direito Canônico da Pontifícia Universidade Gregoriana in
http://www.unigre.it/struttura_didattica/Diritto_canonico/documenti/programma_diritto_canonico_2016-
17_v2.pdf.

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O acesso ao doutorado exige a conclusão do curso de mestrado com sucesso e aprovação


pela banca examinadora da dissertação com grau superior a 8 (oito) e magna cum laude48,
domínio das línguas italiana e latina, mais uma neolatina, e ainda o inglês ou o alemão49. O curso
de doutorado pode ser “Ordinário” ou com especialização em Giurisprudenza50, ambos com
duração de aproximadamente seis semestres e com três disciplinas a serem cursadas, além da
defesa da tese51.
A carga horária exigida no Processo de Bologna é compatível com a carga horária dos
programas de pós-graduação stricto sensu em Direito mais qualificados do Brasil, como, por
exemplo, o da Universidade de São Paulo - USP52.
A USP exige dos mestrandos em Direito a integralização de noventa e oito créditos
equivalentes a mil, quatrocentos e setenta horas de atividades acadêmicas durante o curso; para
os doutorandos com títulos de Mestre pela USP cento e cinquenta e seis créditos, equivalentes a
duas mil, trezentos e quarenta horas (computados os créditos já integralizados no mestrado); e
no caso de doutorado direto, ou seja, sem que o estudante já tenha o grau de Mestre, a
integralização total de cento e noventa e seis créditos correspondentes a duas mil novecentos e
quarenta horas. Parte significativa do total desses créditos são integralizados pela dedicação à
pesquisa e redação da dissertação de mestrado ou da tese de doutorado: no mestrado, 58 créditos
são atribuídos para a elaboração da dissertação; e no doutorado, 116 créditos são atribuídos à
elaboração da tese53.

48
Para detalhes ver la brochure della Facoltà di Diritto Canonico, disponível in
<http://www.unigre.it/struttura_didattica/Diritto_canonico/specifico/brochure_diritto_canonico_it.php>
apreendida em 30 de janeiro de 2017.
49
Cf.< https://www.unigre.it/struttura_didattica/Diritto_canonico/specifico/terzo_ciclo_ordinario_it.php>
apreendido em 01 de setembro de 2018.
50
Trata-se de uma especialização em prática forense romana, com estudo de disciplinas e temas mais comuns
judicialmente, análise de casos judicias e jurisprudência dos tribunais eclesiásticos.
51
Cf.<https://www.unigre.it/struttura_didattica/Diritto_canonico/brochure/090100_brochure_diritto_canonico
.pdf >apreendido em 01.09.2018.
52
A pós-graduação stricto sensu em Direito da USP possui posição consolidada na nota 6 de avaliação do
Capes. A nota máxima é 7, mas nenhum programa de pós-graduação em Direito no Brasil atingiu a nota 7 até
a data do relatório no ano de 2013. Somente oito programas de pós-graduação em Direito receberam nota 6,
que significa produção científica de nível e referência internacional, formação de professores com forte
inserção nas universidades brasileiras em todas as regiões do país, renome de seus professores em nível
nacional e internacional, e, no caso da USP, forte inserção na vida política e jurídica do país, cf. Relatório de
Avaliação Trienal 2013 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, do
Ministério da Educação da República Federativa do Brasil, p. 25 e s. in
https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=Y2FwZXMuZ292LmJyfHRyaWVuYWwtMjAxM3x
neDo5NWRiMjBlOGY2ZDQ5ODA. Ver também http://www.prpg.usp.br/index.php/pt-br/faca-pos-na-
usp/programas-de-pos-graduacao/215-direito-fd>, apreendido em 30 de janeiro de 2017.
53
Cf. Normas da Comissão Coordenadora do Programa Direito, disponível in
http://www.prpg.usp.br/uploads/norma-CCP-Direito-FD.pdf, apreendido em 30 de janeiro de 2017.

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O diploma expedido pela PUG é escrito em latim, língua oficial da Santa Sé, atribui ao
seu beneficiário o título de “Licentiatum in Iure Canonico”, o que equivale ao título de Mestre,
considerando a graduação prévia em Teologia ou Direito (somada a carga horária a ser cumprida
no primeiro ciclo para os que não estudaram Teologia) e a carga horária do Curso, o Acordo de
Bolonha e a legislação que rege a concessão do título ou grau. O título de Doutor pode,
opcionalmente, vir agregado com especialização em Giurisprudenza. Frise-se que esses títulos
são legalmente reconhecidos pela Congregação para a Educação Católica (para as Instituições
de Estudos)54, órgão máximo da Santa Sé para a educação católica, atribuindo ao seu detentor
grau canônico, conforme já esclarecido anteriormente. Sendo assim, o diploma emitido pela
PUG atende a todas as exigências do ordenamento jurídico da Santa Sé para a sua plena validade
e efeitos de direito, e tem plena equivalência com os brasileiros de modo a permitir o seu
reconhecimento.
Portanto, considerando o Acordo Brasil – Santa Sé, já citado em outro momento, no qual
o artigo 9º. dispõe sobre o reconhecimento recíproco de títulos e qualificações em nível de
graduação e pós-graduação desde que atendidas às exigências dos ordenamentos jurídicos
brasileiro e da Santa Sé, não há óbice legal para que o título e grau concedido pelas universidades
e faculdades eclesiásticas da Santa Sé, decorrentes de estudos de pós-graduação stricto sensu em
Direito Canônico sejam reconhecidos como correspondentes aos de Mestre e Doutor em Direito
e produzam os seus naturais e jurídicos efeitos no Brasil.
Questão importante a ser examinada é sobre a possibilidade do curso de pós-graduação
stricto sensu em Direito Canônico ser ministrado validamente em solo brasileiro por Instituição
de Ensino da Santa Sé, ou sob seu patrocínio.
3.1.1. Curso de pós-graduação stricto sensu em Direito Canônico ministrado no Brasil
por universidade eclesiástica da Santa Sé.
Esse problema é relevantíssimo, considerando que muitos egressos da pós-graduação
stricto sensu em Direito Canônico com títulos de “Licentitatum in Iure Canonico” e diplomas
expedidos pela PUG estudaram e pesquisaram no Brasil, mais precisamente no Pontifício
Instituto Superior de Direito Canônico – PISDC55, fundado e administrado pela Arquidiocese do
Rio de Janeiro e agregado à PUG com a autorização da Santa Sé.
Frise-se que existem outros institutos de estudos de Direito Canônico erigidos no Brasil
e vinculados a universidades eclesiásticas estrangeiras, como o recém-fundado Instituto de

54
A tradução para o português é da própria Santa Sé, conforme sítio na internet: <
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/index_po.htm> apreendido em 22 de fevereiro
de 2017.
55
Não há Curso de Doutorado no PISDC até 21 de setembro de 2018, embora haja estudos sobre o assunto.

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Direito Canônico Santa Catarina, ereto, fundado e vinculado à Arquidiocese de Florianópolis e


à Pontifícia Universidade Lateranense em 16 de julho de 201656. No entanto, o PISDC é, senão
o mais antigo, um dos mais antigos institutos sediados no Brasil dedicado aos estudos de Direito
Canônico, agregado a uma universidade eclesiástica da Santa Sé, no intuito de conceder ao corpo
discente o grau de Mestre, e, também por isso, é o ente paradigma na questão sub examine.
A Resolução CNE/CES n. 1 de 2001 e ainda em vigor57 estabelece normas sobre o
funcionamento dos cursos de pós-graduação em geral. No seu artigo 2º. dispõe que os cursos de
pós-graduação stricto sensu oferecidos por instituições de ensino estrangeiras em associação
com instituições de ensino brasileiras obedecem às mesmas exigências de autorização,
reconhecimento e renovação periódica de reconhecimento estabelecidas naquela resolução para
instituições de educação superior brasileiras.
Ocorre que o PISDC é instituição eclesiástica de ensino da Santa Sé, apesar de estar em
solo brasileiro, beneficiada pelo Acordo Brasil – Santa Sé, pelo Código Civil em vigor e pela
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, logo não se adequa aos termos da Resolução
CNE/CES n. 1 de 2001 e não se sujeita às suas regras de natureza meramente regulamentar58.
A Congregação para a Educação Católica, Dicastério59 da Cúria Romana60, em 30 de
novembro de 1984, promulgou o decreto de ereção pontifícia do Instituto Superior de Direito
Canônico do Rio de Janeiro, confiando-o permanentemente à administração direta do Ordinário
Diocesano do Rio de Janeiro e agregando-o à Faculdade de Direito Canônico da Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma61. O Grão-Chanceler é o Prefeito da Congregação para a
Educação Católica e o Chanceler Delegado é o Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro62.
Assim sendo, o citado instituto é ente pertencente à Santa Sé e observante das regras universais
para oferecimento do Curso de Mestrado em Direito Canônico, disciplinado pela Constituição

56
Ver: http://isdcsc.org.br/institucional/, acesso em 17 de março de 2017.
57
A Resolução CNE/CES no.3 de 2016, em seu artigo 32, revogou expressamente apenas o artigo 4º. da
Resolução CNE/CES no.1 de 2001.
58
Regulamentos não podem restringir ou ampliar direitos assegurados por lei ou por tratado, pois visam
propiciar a execução da lei ou do tratado (vide artigos 87, II, e 84, IV, da Constituição Federal). Frise-se que a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça é pacífica ao atribuir aos tratados
internacionais status hierárquico supralegal, ou seja, superior a lei.
59
Os Dicastérios são órgãos da Santa Sé que auxiliam o Papa no governo da Igreja e do Estado, vide:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_20051996_profil
e_en.html, e, principalmente, a Constituição Apostólica Pastor Bonus Sobre a Cúria Romana, disponível em
http://paroquiasantoantoniopatos.com.br/admin/documentos/Constitui%C3%A7ao-Apostolica-PASTOR-
BONUS-sobre-a-Curia-Romana.pdf.
60
Cf. pode ser constatado em http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/index_po.htm.
61
Cf. PONTIFÍCIO INSTITUTO SUPERIOR DE DIREITO CANÔNICO DO RIO DE JANEIRO. Guia
Acadêmico. Sem data. Rio de Janeiro, p. 10, disponível em http://pisdc.com.br/site/wp-
content/uploads/2010/10/Guia-Academico.pdf. e também como narrado resumidamente na citada página da
internet.
62
Cf. se constata em http://pisdc.com.br/site/institucional/organizacao/.

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Apostólica Sapientia Christiana e demais regulamentos, e delegado da PUG para ministrar o


curso no Brasil. O diploma é expedido pela PUG.
O PISDC é por natureza jurídica instituição eclesiástica protegida pelo artigo 3º. do
Acordo Brasil – Santa Sé e pelo já citado artigo 44 e § 1º. do Código Civil brasileiro. O parágrafo
1º. do citado artigo 44 do Código Civil brasileiro é categórico ao dispor ser livre a criação, a
organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado
ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro necessário ao seu funcionamento.
Consequentemente, não há de se aplicar o artigo 2º. da Resolução CNE/CES n. 1 de
2001, pois o PISDC não é propriamente instituição de ensino brasileira associada a instituição
de ensino estrangeira oferecendo curso de pós-graduação stricto sensu, mas instituição
eclesiástica e romana agregada a PUG63. O PISDC em razão da sua ereção pontifícia e agregação
à Faculdade de Direito Canônico da PUG recebe orientação, direção pedagógica, supervisão e
fiscalização da PUG e da Congregação para a Educação Católica64.
O artigo 11º. da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é claro ao dispor que
“as organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações,
obedecem à lei do Estado em que se constituírem”. A PUG foi constituída na Santa Sé, assim
como o PISDC uma vez que o ato de ereção é da Santa Sé, logo se regem pela legislação da
Santa Sé65. O PISDC também se sujeita a lei brasileira para funcionamento no território nacional,
conforme parágrafo 1º. do art. 11 da LINDB, ou seja, ao Acordo Brasil – Santa Sé, ao Código
Civil e a Lei n. 9.396 de 1996.
O PISDC para funcionar regularmente no Brasil está sob administração da Mitra
Arquidiocesana do Rio de Janeiro e não possui personalidade jurídica distinta da Mitra66. Assim,
os seus atos constitutivos e ordinatórios são atos da Arquidiocese, da Santa Sé e da PUG
regularmente expedidos segundo a legislação da Santa Sé e a legislação civil brasileira. Frise-se
que a lei brasileira não cria restrição ou especial burocracia para o funcionamento das instituições
eclesiásticas, pelo contrário. Como já explanado anteriormente, a mens legis do Acordo Brasil –
Santa Sé e dos dispositivos do Código Civil que tratam das organizações religiosas é a de facilitar

63
Romano é a denominação dada aos que têm o equivalente a nacionalidade da Santa Sé. Deve também ser
frisado que não é estranho ao direito brasileiro o reconhecimento de organizações com dupla nacionalidade,
como, por exemplo, ocorre no Tratado para o Estabelecimento de um Estatuto das Empresas Binacionais
Brasileiro-Argentinas citado por DEL’OLMO (2015, p. 221).
64
Cf. http://pisdc.com.br/site/quem-somos/ e http://pisdc.com.br/site/wp-content/uploads/2010/10/Guia-
Academico.pdf.
65
A doutrina é unânime ao interpretar literalmente o caput, v.g.: TENÓRIO (1976, v.2, p. 21-22) e
RECHSTEINER(2015, p.184-195) esclarecendo que o Brasil se filia a teoria da incorporação.
66
Está registrado como estabelecimento filiado à Mitra Arquidiocesana do Rio de Janeiro, cf.
http://www.empresascnpj.com/s/empresa/mitra-arquiepiscopal-do-rio-de-janeiro-nome-fantasia-instituto-
superior-de-direito-canonico/33593575033470, apreendido em 17.3.2017.

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amplamente a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações


religiosas.
Por sua vez, quanto ao reconhecimento do diploma estrangeiro expedido por entidade
vinculada a Santa Sé, o Acordo Brasil – Santa Sé remete às exigências da legislação nacional no
artigo 9º. A legislação brasileira para reconhecimento de títulos acadêmicos é a Lei n. 9.394 de
1996, art. 48, parágrafo 3º., e a única exigência da lei é que os diplomas de mestrado e doutorado
expedidos por instituições de ensino superior estrangeiras sejam reconhecidos por universidades
brasileiras “que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de
conhecimento e em nível equivalente ou superior”. Consequentemente, resoluções, decretos ou
regulamentos administrativos não podem restringir à aplicação da lei, pois hierarquicamente
inferiores, e muito menos obstar o cumprimento de tratado internacional, e se o fazem sem
qualquer justificativa técnica razoável não se aplicam às hipóteses em estudo nesse trabalho, ou
são ilegais e não têm validade.
Outrossim, a nova Resolução CES/CNE n. 3 de 22 de junho de 2016, em seu artigo 32,
revoga expressamente todas as disposições em contrário. A mens legis da nova Resolução é que
o diploma estrangeiro de curso de pós-graduação stricto sensu que haja equivalência com o
nacional seja reconhecido. Isso pode ser constatado facilmente pela mera leitura do Parecer
CNE/CES n. 309/2015, que expõe os motivos para a nova resolução. Assim, a nova Resolução
está plenamente sintonizada com o espírito do Acordo Brasil – Santa Sé e da Lei n. 9.394 de
1996.
Deve ser esclarecido ainda que, as restritivas Resoluções n CES/CNE n. 2 de 2001 e n.
2 de 2005 - que proibiram aos cursos de pós-graduação stricto sensu oferecidos diretamente no
Brasil por instituições de ensino estrangeiras, ou oferecidos em convênio com instituições de
ensino brasileiras, admitir novos alunos – não impedem o reconhecimento do diploma do
mestrando da PUG que estudou integralmente no PISDC por três motivos: 1) não se coadunam
com o disposto no Código Civil, com o disposto no tratado com a Santa Sé, nem com a Lei n.
9.394 de 1996; 2) criam situação de desigualdade material para os diplomados por meras razões
temporais (diplomados antes e depois da promulgação dos acima citados regulamentos
administrativos), em desrespeito a isonomia que deve haver no tratamento de todos os
diplomados; 3) lesam direitos adquiridos.
Sobre o primeiro motivo muito já foi escrito e justificado anteriormente, mas não custa
frisar: não pode mero regulamento restringir o disposto na lei. O parágrafo 1º. do artigo 44 do
Código Civil ao dispor sobre as organizações religiosas é claríssimo ao afirmar ser livre o
funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado a administração pública “negar-lhes

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reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento”. A


proibição de admissão de novos alunos significa negar funcionamento à organização religiosa.
Por sua vez, deve ser considerado que o acordo do Brasil com a Santa Sé, especialmente
no seu artigo 10 e parágrafos 1º. e 2º., é peremptório ao dispor ser direito da Igreja Católica
constituir e administrar instituições de ensino em todos os níveis e institutos eclesiásticos de
formação e cultura, o que exige, obviamente, o direito de admitir alunos.
Outrossim, as alterações efetuadas posteriormente na Resolução CES/CNE n. 2 de 2001
não contribuem para a sua validade. A Resolução CES/CNE n. 2 de 2005 em seu art. 1º. deu
nova redação ao parágrafo 2º. do art. 1º. da Resolução CES/CNE n. 2/2001, e acrescentou como
prazo prescricional um art. 3º. Criou assim uma situação que fere a isonomia constitucional
assegurada a brasileiros e estrangeiros no Brasil pelo caput do art. 5º. da Constituição Federal,
assim como viola direitos adquiridos, desrespeitando, portanto, também o inciso XXXVI do
citado art. 5º da Constituição Federal.
A Resolução CES/CNE n. 2 de 2005 determina prazos peremptórios e finais para o
reconhecimento dos títulos acadêmicos, o que é flagrantemente abusivo, considerando que o
título acadêmico e o grau a ele correspondente é um direito adquirido do diplomado ao qual a
Lei n. 9.394 de 1996 não cria qualquer obstáculo temporal para o reconhecimento no Brasil.
Portanto, com relação a regularidade e a excelência dos cursos de pós-graduação stricto
sensu em Direito Canônico e das instituições de ensino da Santa Sé, mesmo que o curso de
mestrado ou doutorado tenha sido realizado totalmente em território nacional, não há de se fazer
restrição ao reconhecimento do diploma que for expedido.
Por outro lado, quanto às formalidades exigidas nos incisos do parágrafo 4º. do art. 18
da Resolução n. 3, constata-se que visam apenas regulamentar o procedimento em nível nacional
e que são razoáveis, que podem ser facilmente supridas pelos requerentes, e que contribuem para
a segurança e qualidade do sistema de pós-graduação stricto sensu brasileiro, bastando, portanto,
interpretá-las e observá-las literalmente.
Deve ser ressaltado que a cópia do diploma e demais documentos acostados ao
requerimento de reconhecimento não podem estar meramente autenticados por notário
brasileiro. Segundo o determinado na Resolução, o diploma deve trazer o registro expresso da
instituição responsável pela diplomação, de acordo com a legislação vigente no Estado de
origem, e estar autenticada por autoridade consular.
A exigência de autenticação consular é lícita. Trata-se de formalidade pela qual os
agentes diplomáticos ou consulares do país em cujo território o documento deva surtir efeito e
que exercem atribuições consulares no país onde o documento é produzido, certificam a

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autenticidade da firma e a qualidade do signatário do documento, ou seja, a identidade do selo


ou timbre que o documento ostente (LOUREIRO, 2017, p. 1.225). Essa formalidade “confirma
a autenticidade extrínseca do documento, ou seja, ratifica tão somente a identidade e a função da
autoridade estrangeira signatária. A validade intrínseca do documento, referente ao seu
conteúdo, deverá ser avaliada por autoridade brasileira competente”67. Essa formalidade prévia
de legalização consular é essencial para que o documento estrangeiro produza efeitos jurídicos68.
A função notarial da repartição consular está amparada pela Convenção de Viena sobre
Relações Consulares de 196369, art. 5º., “f”, regulamentada pelo Decreto n. 84.788 de 1980 e
Decreto n. 8.742 de 2016, que revogou o Decreto n. 84.451 de 1980 o qual regulamentava
anteriormente a matéria. Essa função consular é da maior importância, pois por estar a autoridade
consular no país em que foi expedido o diploma, pode suprir quaisquer dúvidas que surgirem
concernentes ao documento diretamente com a autoridade local que o expediu ou que reconheceu
e autenticou a firma do agente expedidor (ARAUJO, 2012, p. 341-342).
Frise-se que o processo de legalização consular exige que o documento estrangeiro a ser
submetido à legalização esteja antes autenticado por agente notarial do local de origem, inclusive
a firma ou o sinal público, o que pode acarretar uma “corrente de certificações” antes da
legalização consular (LOUREIRO, 2017, p. 468-469).
Embora a Resolução n. 3 ora em análise não exija, e o Decreto n. 8.742/2016 em seu art.
1º., e parágrafo 1º. pareça dispensar, segundo a Lei n. 6.015 de 1973, art.129, 6º., os diplomas
estrangeiros também deverão estar registrados no Registro de Títulos e Documentos. Isso porque
o dispositivo legal citado é peremptório:

Art. 129. Estão sujeitos a registro, no Registro de Títulos e Documentos, para


surtir efeitos em relação a terceiros: [...] 6º.) todos os documentos de
procedência estrangeira, acompanhados das respectivas traduções, para
produzirem efeitos em repartições da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios ou em qualquer instância, juízo ou tribunal;

67
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Portaria 457 de 2010, Manual do Serviço Consular e Jurídico,
art. 4.7.2.
68
Idem, art. 4.7.1. Nesse sentido a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal
de Justiça (STJ), v. g. no seguinte aresto do STF, SEC-4.738/EU. Rel. Min. Celso de Mello, DJ 07-04-95, p.
0871: “[...] O ato de chancela consular destina-se a conferir autenticidade ao documento formado no exterior
(RTJ 49-148). Os cônsules brasileiros, quer em face de nosso ordenamento positivo interno, quer à luz do que
prescreve a Convenção de Viena sobre relações consulares (1963), dispõem de funções certificantes e de
autenticação de documentos produzidos por órgãos públicos do Estado estrangeiro perante o qual
desempenham as suas atribuições. ”
69
Decreto n. 61.078 de 26 de julho de 1967.

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A legalização consular do diploma poderá ser substituída por apostilamento no futuro,


caso a Santa Sé venha aderir a Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização de
Documentos Públicos Estrangeiros da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado70,
ratificada pelo Brasil e promulgada pelo Decreto n. 8.660 de 29 de janeiro de 2016. Nesse caso,
também ficaria dispensado o registro do diploma no Registro de Títulos e Documentos
(LOUREIRO, 2017, p. 473-474, 1.231).
Também o exemplar da dissertação ou da tese apresentada e defendida junto à instituição
de origem, com cópia em arquivo digital em formato compatível, deverá ser acostada ao
procedimento de reconhecimento. Exemplar esse que deverá trazer registro de aprovação da
banca examinadora e ser autenticado pela instituição de origem, e estar acompanhado da ata ou
documento oficial da instituição de origem, contendo a data da defesa, o título do trabalho, a sua
aprovação e conceitos outorgados. Todos os documentos devem estar devidamente autenticados
por autoridade consular competente ou apostilados.
Quanto à tradução dos documentos acostados ao requerimento de reconhecimento, os
parágrafos 5º. e 6º. do artigo da Resolução em comento dispõem que a instituição de ensino
brasileira eleita para o reconhecimento do diploma estrangeiro só pode exigir se não estiverem
redigidos em inglês, francês ou espanhol. Frise-se que, segundo a Resolução n. 3 em análise, não
há obrigatoriedade de tradução para documentos e diplomas estrangeiros redigidos em outras
línguas que não as francas citadas no parágrafo 6º. do art. 18. Logo, parece não haver óbice para
que o diploma e os documentos redigidos em latim sejam aceitos pela universidade encarregada
do reconhecimento do diploma de Mestre ou Doutor em Direito Canônico sem tradução para o
português.
Por sua vez, a redação do parágrafo 6º. acima citado faz também crer que a tradução dos
documentos e do teor do diploma estrangeiro, se for solicitada pela universidade requerida,
poderá ser efetuada por qualquer tradutor, considerando que não há exigência de que seja
efetuada por tradutor oficial, público ou dito juramentado.
No entanto, a liberalidade da Resolução no que tange a questão da tradução dos diplomas
estrangeiros e demais documentos estrangeiros que devem acompanhar o processo de
reconhecimento é questionável, e, a rigor, fere a lei.

70
Sobre a Convenção da Apostila da Haia, ver http://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/relacoes-
internacionais/convencao-da-apostila-da-haia. Frise-se que a Itália é parte da Convenção da Apostila, mas não
a Santa Sé. Itália e Santa Sé firmaram acordo para reconhecimento comum de graus e diplomas de ensino
superior, vez que ambas participam do Processo de Bologna, além de manterem disposições convencionais do
Tratado de Latrão que se estendem em favor da PUG.

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Todo documento estrangeiro para produzir efeitos legais no Brasil deverá ser traduzido
para o português, idioma oficial do país conforme art. 13 da Constituição Federal, em razão do
determinado nos arts. 129, 6º. e 148 da Lei n. 6.015 de 1973 e art. 224 do Código Civil. O tradutor
deverá ser necessariamente o Tradutor Público nomeado e registrado pela Junta Comercial, sob
pena da tradução não ter fé pública nos termos do Decreto n. 13.609 de 1943, art. 19.
Destaque-se que o Supremo Tribunal Federal sempre foi peremptório ao exigir a
tradução para o português dos documentos apresentados em processos de homologação de
sentença estrangeira. Tradução essa realizada obrigatoriamente no Brasil por Tradutor Público e
Juramentado, devidamente nomeado e inscrito na Junta Comercial71, dando, portanto, pleno
cumprimento ao disposto no art. 15, letra “d”, da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, norma essa que foi repetida no Código de Processo Civil de 2015, art. 963, V.
Outrossim, o citado Código de Processo Civil é categórico ao dispor no art. 192,
parágrafo único, que o “documento redigido em língua estrangeira somente poderá ser juntado
aos autos quando acompanhado de versão para a língua portuguesa tramitada por via diplomática
ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado”.
Portanto, é de bom alvitre traduzir o diploma expedido por instituição de ensino da Santa
Sé para o português, valendo-se do serviço de Tradutor Público. Caso não haja Tradutor Público
habilitado para o latim, deverá o interessado requerer a nomeação de tradutor ad hoc com base
no parágrafo único do art. 19, do Decreto n. 13.609 de 1943, e art. 18, da Instrução Normativa
DIREI n. 17 de 5 de dezembro de 2013, do Diretor do Departamento de Registro Empresarial e
Integração.
Importante também mencionar o artigo 20 da Resolução CES/CNE n. 3, que assim
dispõe:
Cursos de pós-graduação stricto sensu estrangeiros, cujos diplomas tenham
sido objeto de reconhecimento nos últimos 10 (dez) anos, receberão, da
universidade responsável pelo reconhecimento do diploma, tramitação
simplificada.
A tramitação simplificada visa a agilizar e desburocratizar o processo de
reconhecimento dos graus universitários estrangeiros, e poderá beneficiar o reconhecimento de
diplomas de pós-graduação stricto sensu concedidos pelas instituições de ensino da Santa Sé.
As universidades deverão aguardar o lapso temporal determinado como mínimo na
Resolução, dez anos contados a partir do primeiro reconhecimento, para adotar o procedimento
simplificado. O procedimento simplificado não pode ser adotado considerando apenas ser

71
Vide, por exemplo, SE-6.609, Rel. Min. Carlos Velloso. DJ 06/12/2000, j. 28/11/2000, p. 0009.

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instituição de ensino da Santa Sé genericamente, mas sim a origem institucional do diploma,


logo, a própria universidade estrangeira.
A disposição é razoável, pois após dez anos reconhecendo diplomas de determinado
curso de pós-graduação de determinada universidade, certamente todas as questões envolvendo
as características do curso e que permitem o reconhecimento do diploma no Brasil já foram
enfrentadas, não havendo porque maiores delongas na análise da documentação apresentada. O
ideal, inclusive, é que a universidade na qual se dará o reconhecimento já tenha um protocolo
para receber tais documentos, adequando os trâmites burocráticos da universidade às exigências
formais do artigo 18, parágrafo 4º. da Resolução em exame.

4. Considerações Finais
O presente trabalho demonstrou e provou ser o Direito Canônico uma disciplina
eminentemente jurídica. Eventual interesse da Teologia pela disciplina não afeta a sua natureza,
considerando que o seu objeto é o fenômeno jurídico. O Direito Canônico não é um discurso de
fé religiosa ou sobre Deus, sua natureza, qualidades e relação com seus fiéis. Assim como não é
um estudo sistemático sobre as práticas eclesiais e litúrgicas. Logo, não é Teologia ou ramo
especializado da Teologia.
A Ciência Canônica tem por objeto o fenômeno jurídico no seio da Santa Sé e da Igreja
Católica Apostólica Romana. Como Ciência Social aplicada, se materializa para os seus
destinatários como sistema de normas coercitivo a estabelecer direitos e deveres. Nesse sentido,
o Direito Canônico é essencialmente dogmático, jurídico e normativo, e visa disciplinar e
organizar a vida e as práticas na Igreja de modo coercitivo para todos os seus membros. Assim,
possui todos os elementos do saber jurídico e as principais características do Direito: a
heteronomia, a coercibilidade e a bilateralidade atributiva. Por conseguinte, o Direito Canônico
é epistemologicamente ramo da Ciência do Direito e está inserido nessa área de conhecimento.
Consequentemente, como as demais disciplinas jurídicas que têm por objeto o fenômeno
jurídico e a normatividade, o método adequado de estudo, pesquisa e operação é o jurídico,
utilizado pelo jurista.
A determinação do Direito Canônico como ramo do Direito repercute, também, na
própria identidade científica dos profissionais dedicados a essa disciplina. Nesse último aspecto,
significa que canonistas são juristas e que os graus, títulos e diplomas acadêmicos atribuídos a
esses profissionais são pertinentes a área de conhecimento do Direito.
Portanto, considerando que esta pesquisa também provou serem às exigências romanas
equivalentes às brasileiras para a obtenção de títulos, graus e diplomas de Pós-Graduação Stricto

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Sensu em Direito, não há motivo para não reconhecer esses diplomas em Direito Canônico
expedidos por instituições de ensino superior da Santa Sé. Diplomas esses que podem e devem
ser reconhecidos pelos Programas de Pós-Graduação em Direito brasileiros, mantidos por
universidades públicas ou privadas, para que produzam plenamente todos os efeitos jurídicos
correspondentes aos graus acadêmicos de Mestre ou Doutor em Direito atribuído ao titular do
diploma.
Esse estudo demonstra ainda que as restrições impostas ao reconhecimento de diplomas
expedidos por universidades estrangeiras, quando o curso é fornecido diretamente no Brasil, não
se aplica aos diplomas expedidos pelas universidades eclesiásticas da Santa Sé.
Ademais, a análise realizada evidenciou que para o reconhecimento do diploma de
Mestre ou Doutor em Direito Canônico expedido por instituição de ensino da Santa Sé, não basta
a aplicação literal da Resolução CNE/CES n. 3 de 2016. A Resolução deve ser aplicada à luz da
legislação específica aplicável a Santa Sé e as organizações religiosas: o Acordo Brasil – Santa
Sé, promulgado pelo Decreto n. 7.107 de 2010, o Código Civil e a Lei n. 9.394 de 1996.
Outrossim, foi diagnosticado que a Resolução CNE/CES n. 3 de 2016 erra ou se omite
em pontos fundamentais para a validade dos documentos acadêmicos no Brasil. A tradução da
documentação acadêmica para o português é necessária, e a Lei de Registros Públicos deverá ser
observada para a validade do reconhecimento do diploma expedido por qualquer universidade
estrangeira, assim como as demais normas citadas sobre legalização consular, ou apostilamento
se for o caso, a fim de que não venha a ser o ato de reconhecimento e equivalência do grau
acadêmico estrangeiro eivado de vício com prejuízo para o detentor do diploma acadêmico
estrangeiro e para a universidade reconhecedora72.
Por fim, após o decurso do lapso temporal determinado no artigo 20 da Resolução
CES/CNE n. 3 de 2016, dez anos desde o primeiro reconhecimento de diploma de pós-graduação
stricto sensu concedido por estabelecimento específico de ensino superior romano, deverá ser
adotado o procedimento simplificado para reconhecimento de diploma pela universidade
brasileira reconhecedora.

72
A palavra reconhecedora é adotada pela Resolução CNE/CES n. 3 de 2016 para identificar a universidade e
os seus órgãos responsáveis pelo reconhecimento, trata-se, portanto, de nomen iuris as designações
universidade reconhecedora, instituição reconhecedora ou órgão reconhecedor.

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ON THE RECOGNITION IN THE FEDERATIVE REPUBLIC OF BRAZIL OF


POSTGRADUATE STRICTO SENSU DIPLOMA IN CANONIC LAW EXPEDED BY
UNIVERSITY OF THE HOLY SEE

ABSTRACT: This work investigates whether it is possible to recognize, in Brazil, a post-


graduate diploma stricto sensu in Canon Law – issued by an institution of higher education
belonging to the Holy See –, that produces effects equivalent to the academic degrees of Master
or Doctor of Law conferred in the country. The Agreement between Brazil and the Holy See, in
force since February 11, 2010, ensures the reciprocal recognition of diplomas and qualifications
at the postgraduate level, in compliance with the requirements of the legal systems from Brazil
and the Holy See. The issue is new and has not yet been addressed by the academy in its entirety
despite its obvious importance. There is uncertainty about the legal nature of Canon Law, the
requirements for granting the degree, and compatibility with the degree, Master or Doctor of
Law conferred in Brazil. In order to achieve the desideratum of research, first the analytical
method will be adopted with an examination of the doctrine, legislation and jurisprudence so
that the nature of Canon Law can be determined, if it is a juridical or a theological knowledge;
next, it will be verified if a higher education institution, maintained by the Holy See, can be
considered a foreign institution of higher education and research according to Brazilian law; last,
it will be verified if the diploma in Canon Law granted by the Roman university is apt for
recognition, even if the stricto sensu postgraduate course is fully realized in Brazil.

KEYWORDS: Revalidation of foreign diploma; Recognition of degree, title or qualification in


Canon Law; Brazil – Holy See Agreement; Catholic Church and Law; Law and Theology;
Private International Law and Canon Law.

5. Referências

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Trabalho recebido em 01 de outubro de 2018


Aceito em 24 de fevereiro de 2019

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