A Espiritualidade Na Família

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 3

A importância da espiritualidade na família

Definição de família. Primeiramente, o que é uma definição? Uma definição é a


expressão de uma essência. E o que é uma essência? É aquilo que uma substância é de
modo permanente e independentemente dos seus acidentes. Por exemplo, um homem é
um ser racional (substância) ainda que alguns homens possam nascer irracionais, com
deficiências mentais (acidente).
Assim, o que é uma família? Uma família pode ser definida pela sua finalidade. A
finalidade substancial de uma família é a procriação (ainda que possam haver acidentes,
por exemplo, a infertilidade), uma aliança de pessoas que gerando filhos nesse mundo
os preparam para constituírem novas gerações de famílias tão boas ou melhores que as
anteriores. Essas famílias são terrenas e celestes. Requerem bens terrenos e espirituais.
Essa continuidade das famílias durante o tempo demanda responsabilidades. Os pais,
modelos para os seus filhos, devem cultivar nas crianças, desde pequenas, a pureza e a
inocência espiritual, seguindo o ensinamento de Jesus: “Em verdade vos digo que se não
vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino
dos céus” (Mt 18:3).
Santa Teresinha do Menino Jesus insiste que a via da infância é condição necessária
para se obter a salvação eterna.
“O Santo Padre Pio XI na homilia da Canonização de Teresinha disse: ‘Veneráveis
irmãos e filhos amados, ardentemente desejamos que todos os cristãos se tornem dignos
de participar de abundantíssimas graças por intercessão de Teresinha. Mas desejamos,
com mais ardor ainda, que se empenhem decididamente a imitá-la, fazendo-se meninos,
pois se tal não forem, se verão excluídos do reino dos céus, segundo a sentença de
Cristo’”. (Pe. Ascanio Brandão, Via da infância espiritual na escola de Santa
Teresinha).
Poucos são os santos na história da Igreja que não tenham recebido uma educação
católica no seio familiar. Podemos citar o caso da própria Santa Teresinha, cujos pais
Santa Marie-Azélie Guérin e São Louis Martin foram diretamente responsáveis pelo
caminho seguido por sua filha em razão da educação espiritual que recebeu.
Ou podemos citar o caso de Santo Antão, que cresceu no Alto Egito, educado pelo pai,
um cristão coopta, que “vivia sua vida em estrita adesão àqueles mandamentos e
transmitia a seu filho o espírito de sua própria piedade inata e incondicional” (René
Fülöp-Miller, Os Santos que abalaram o mundo).
Podemos mencionar ainda o caso de Santo Agostinho, cujos pais, Patrício e Santa
Mônica, não formavam uma família espiritualmente unida já que seu pai era pagão e sua
mãe, católica. Enquanto a família de Santo Antão vivia sob a disciplina dum homem
austero e de princípios puritano, o pai de Santo Agostinho, funcionário administrativo,
era um libertino sem princípios, que não levava muito a sério seus votos maritais.
Como devota católica, coube a Santa Mônica ensinar a seu filho que existe um Deus,
que é todo justiça, todo bondade, a quem devemos considerar como nosso pai
verdadeiro e que é a Ele, acima de todos os outros, que devemos obediência e respeito.
Todavia, no período da puberdade Santo Agostinho se emancipou completamente da
autoridade de sua mãe.
Quando se converteu ao maniqueísmo, Santo Agostinho chegou a ponto de tentar
convertê-la à sua doutrina, o que a fez perder a paciência e expulsá-lo de casa.
Agostinho foi obrigado a mudar-se para a casa de seu rico protetor Romaniano.
Embora Santo Agostinho viesse a se converter ao catolicismo somente em idade adulta,
o ensino de sua mãe permaneceu segredado em seu peito até o momento em que a sua
razão finalmente assentiu a fé no Deus encarnado. Em Roma, poucos dias antes de
morrer, sua mãe e ele tiveram uma conversação mística, em que “mãe e filho erguiam-
se acima das coisas do mundo e uniam-se numa mística visão das verdades eternas,
vemos Agostinho e Mônica, pela primeira vez, como Santo Agostinho e Santa Mônica,
a quem a Igreja venera” (René Fülöp-Miller, Os Santos que abalaram o mundo).

Estrutura da família
O homem, é impelido irresistivelmente, por sua fortíssima tendência natural para a
felicidade, a propor e a resolver a profunda questão vital sobre o fim último da vida
humana e da morte. Essa felicidade plena não se encontra na vida terrestre e material,
mas na vida eterna e transcendente. Se observamos a natureza da realidade, veremos
que o sentido de uma coisa se encontra para além dessa coisa mesmo. O sentido de uma
escola não se encontra na própria escola, mas visa uma formação técnica ou superior,
assim como o ensino superior não tem sentido em si mesmo, mas adquire sentido no
exercício de uma profissão para a qual a pessoa foi qualificada, e o sentido dessa
profissão não se encerra nela mesmo, mas no provável retorno financeiro que ela
garanta, e assim por diante.
Assim, o homem possui algo de profundamente distinto dos animais, que não são
capazes de amar e, por isso mesmo, não exercem em sentido próprio nenhum papel
familiar. As relações que os bichos estabelecem entre si regem-se por inclinações
naturais ordenados à satisfação de necessidades biológicas (comer, beber, reproduzir-se
etc.). O ser humano, no entanto, traz em seu coração, animado por uma alma espiritual,
muito mais do que carências orgânicas: há nele um anseio mais fundamental, que prazer
físico e material nenhum pode substituir: amar e ser amado.
Comida, sexo, dinheiro, realização profissional, nada disso é capaz de nos tirar aquele
anseio infindável, aquele desejo por alguma coisa a mais que fica bem no fundo de
nossa alma. Ainda que tudo tenhamos neste mundo, ainda assim sentimos que algo nos
falta. É justamente aí que se encontra o papel e a finalidade de uma família, de um pai e
de uma mãe que nos ponham no mundo e, transmitindo-nos valores e amor, nos deem as
ferramentas necessárias para forjarmos o nosso caminho nesta vida em direção àquela
outra que nos espera na eternidade. Precisamos, pois, ter e ser família, porque ser
família com Deus no Céu, em comunhão com toda a Igreja e com todos os santos, é a
finalidade última de nossa existência terrena.
Entretanto, diante de um mundo cada vez mais fechado em si mesmo, as pessoas foram
levadas a se esquecerem da importância da família como ponto de partida para a nossa
comunhão no Céu. Ideologias perniciosas corromperam o sentido da família
estabelecido por Deus. Ele mesmo, que poderia ter se encarnado da forma que quisesse,
escolheu ser gerado no seio de uma família, recebendo o carinho e o amor de seus pais
humanos.
Nunca a família esteve tão ameaçada quanto está na modernidade. Legalização do
aborto, ideologia de gênero, poligamia, uniões homoafetivas, tudo isso forma um
conjunto de fatores cuja finalidade é a destruição da família tradicional, não porque se
pretenda substituí-la em sua finalidade transcendente, mas porque ela também
desempenha um papel fundamental na existência terrena como instância continuadora
dos ensinamentos de Cristo, como transmissora de valores materiais e espirituais e
como núcleo dentro do qual nenhum poder temporal pode se imiscuir. Os inimigos da
família sabem que um indivíduo fora desse núcleo familiar está desprotegido e se torna
uma presa fácil para poderes mundanos mais fortes do que ele.

Você também pode gostar