Mecanismos de Ruptura Eletrica em Dieletricos

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Mecanismos de Ruptura Elétrica em Dielétricos

Thiago Ramos Pereira

Resumo – Este artigo tem por finalidade apresentar e analizar valor muito alto, quando ocorre o estado de “curto-
teorias que tratam dos mecanismos de ruptura elétrica em circuito”.
dielétricos e polímeros isolantes. A corrente em “a” é da ordem de alguns microamperes e a
corrente em “h” algo em torno de 108 vezes maior que a
Palavras-chave – Dielétricos, dielétricos gasosos, dielétricos corrente em “a”. A tensão máxima Em depende da pressão e
líquidos, dielétricos sólidos, mecanismo de ruptura.
do espaçamento entre os eletrodos. Com ar a uma pressão de
76cm de Hg com 1cm de espaçamento entre os eletrodos,
I. Introdução
Em será da ordem de 30kV.
Basicamente existem 3 (três) tipos diferentes de
dielétricos: Gasosos, líquidos e sólidos. O mecanismo de
ruptura para cada um desses três tipos será apresentado na
seqüência.
Muitos dielétricos são combinações desses três tipos,
como papel (dielétrico sólido) impregnado com óleo
(dielétrico líquido).

II. Dielétricos Gasosos

Dos três tipos básicos de dielétricos, o mecanismo de


ruptura dos gasosos é o mais fácil de se entender. Isto se
deve ao fato de possuírem uma estrutura atômica e
molecular relativamente simples.

A. Ionização
Figura 1 – Características de ionização e ruptura nos gases
Quando se aplica um campo elétrico a um gás, há uma
força tendendo a atrair os núcleos dos átomos para o C. Lei de Paschen
eletrodo negativo e os elétrons para o eletrodo positivo. Isto
acontece também com os elétrons e íons positivos livres A lei de Paschen, descoberta por ele mesmo em 1889, dá
existentes nos gases. Como a tensão aplicada inicialmente é o potencial como função da massa de gás entre os eletrodos.
pequena, a corrente inicial será pequena também. Entre os Es = f (p,d)
pontos “a” e “b” (ver figura 1), não há aumento de onde p é a pressão absoluta e d o espaço entre os eletrodos.
corrente, apesar da tensão crescer. Quando o campo é A figura 2 ilustra a lei de Paschen para o ar com altos
aumentado (a partir do ponto “b” ) os elétrons livres valores de “pd”.
adquirem velocidades maiores e ao colidirem com átomos
neutros, muitos elétrons desses átomos saem de suas órbitas
e são separados dos núcleos, sobrando mais íons positivos e 1000
elétrons livres. Esses elétrons produzem novos íons
Tensão [kV]

800
positivos e elétrons livres por sucessivas colisões. Esta ação
é acumulativa e a corrente aumenta rapidamente quando a 600
tensão atinge o ponto “c”. 400
Apesar dos elétrons possuírem uma massa muito menos
200
que a dos íons positivos, gastam uma energia muito maior
nas colisões, devido à sua velocidade ser maior. 0
No ponto “c” os íons positivos atingem velocidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
suficiente para produzir novos íons e elétrons nas colisões, Pressão x espaçamento [mmHg x cm]x1000
contribuindo na ionização e aumento da corrente. Este
processo é chamado de “avalanche de elétrons”. Figura 2 – Lei de Paschen para o ar com grandes valores de “pd”

B. Ruptura III. Dielétricos Líquidos

A região “d-e” da figura 1 é a região chamada de Óleos e askarels são praticamente os únicos dielétricos
“ionização completa”. A tensão atinge seu valor máximo líquidos usados em componentes elétricos e serão
Em. Entre “e” e “f” o sistema elétrico torna-se instável (a considerados separadamente.
corrente aumenta rapidamente mesmo diminuindo-se a
tensão). Entre “f” e “g” a densidade de corrente chega a um A. Óleos de Grande Pureza
Com tratamento especial, é possível remover Óleos minerais apresentam várias dificuldades, como
praticamente todas as impurezas de um óleo. os problemas no refinamento, a degradação em altas
Para produzir ruptura num óleo de grande pureza, é temperaturas e o fato de serem altamente inflamáveis.
preciso que existam transmissões elétricas. Elas podem Existem líquidos sintéticos que não incendeiam, além de
acontecer de dois modos: Através dos íons naturais serem muito estáveis quimicamente, mas que também
existentes no óleo e por emissão de elétrons do catodo sob possuem ação de solvente em muitos dos materiais usados
alta tensão elétrica. na construção de aparatos elétricos. Nos Estados Unidos
No campo elétrico intenso deve haver uma propagação esses materiais são chamados “askarels”. Eles possuem
dessas transmissões; os íons positivos indo para o eletrodo várias composições diferentes e são conhecidos por vários
negativo e os íons negativos indo para o eletrodo positivo. nomes. O tipo usado pela General Electric, por exemplo, é
Isso contribui com uma pequena corrente de condução chamado de “Pyranol”. Devido à alta constante dielétrica
inicial. Sob a alta tensão elétrica alguns dos elétrons das esses líquidos são muito usados em capacitores e devido a
órbitas dos átomos são desprendidos do núcleo e ficam propriedade de não incendearem, são altamente usados em
livres, produzindo íons por colisão. transformadores.
Quando ocorre a ruptura, um arco é formado dentro do A ruptura elétrica para os askarels é similar à dos óleos
líquido e, por algum tempo, as propriedades que protegem o minerais, exceto pela sua composição química diferente, que
óleo contra o calor são perdidas. O calor do arco no líquido faz com que exista uma diferença na proporção de elétrons e
carboniza o óleo e por fim as partículas de carbono se íons livres. Como nos óleos, sob uma grande tensão elétrica,
espalham pelo óleo, contaminando-o. haverá ionização por colisão, que se tornará acumulativa,
A tensão de ruptura (breakdown voltage – BDV) é culminando em uma avalanche de elétrons e por fim, em um
também chamada de “tensão crítica”. arco.
Tensão de ruptura [kV]

100
80
60
40
20
0
1

11

13

15

17

Espaçamento [mm x 10]

Figura 3 – Teste em óleo de grande pureza entre eletrodos esféricos

B. Óleos de Boa Pureza

O mecanismo de ruptura para óleos de boa pureza é Figura 5 – Características de ruptura de óleos e pyrenol
exatamente igual ao dos óleos de grande pureza. A maior
quantidade de impurezas nestes óleos fazem com que as IV. Dielétricos Sólidos
transmissões elétricas sejam aceleradas. Como
conseqüência, íons são formados mais rapidamente através Existem várias causas de ruptura em dielétricos sólidos e
das colisões, atingindo a condição acumulativa a valores de várias teorias relatando essas causas. Muitas vezes a ruptura
tensão bem menores que nos óleos de grande pureza. é causado por efeitos externos, como exposição à altas
Esferas são mais freqüentemente usadas como eletrodos temperaturas, produtos químicos e choques mecânicos. Isto
em testes de ruptura em óleos. pode produzir carbonização, quebra e degradação física e
química do dielétrico.
As análises a seguir serão dirigidas às falhas causadas
Tensão de ruptura [kV]

pelos efeitos das tensões elétricas e temperatura na estrutura


60
física e molecular dos isolantes.
50
40 A. Ionização Interna
30
20 O isolante é destruído internamente, geralmente devagar,
10 pelas descargas provocadas pela ionização de gases em
0 espaços vazios.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Espaçamento [mm x 10] B. Ruptura Intrínseca

Figura 4 – Teste em óleo de boa pureza entre eletrodos esféricos As altas tensões elétricas separam elétrons dos átomos e
estes se tornam carregadores de carga, produzindo corrente
C. Askarels elétrica. Este processo é conhecido como “emissão de
campo interno”. Quando a tensão é aumentada, mais e mais
elétrons são soltos até que a emissão de elétrons chega a um
valor crítico, aumentando a corrente a grandes valores. Esta
corrente é chamada de “densidade de corrente crítica”,
quando há um aumento grande na emissão, que culminará
com uma avalanche de elétrons semelhante aos gases.
Finalmente o processo resultará em um grande arco-
corrente e na ruptura do dielétrico.

Figura 6 – Característica Volt-ampere de papel impregnado com óleo

C. Ruptura Térmica

Também chamada de “teoria piroelétrica”, diz que a


ruptura é atribuída ao calor intrínseco do dielétrico, quando
sob tensão elétrica.
O isolante possui um coeficiente de temperatura resistivo
muito negativo. A resistência do isolante pode diminuir de 4
a 5% por grau Celsius aumentado na temperatura. Com a
resistividade do isolante caindo, permite-se um aumento da
densidade de corrente, que por conseqüência aumentará a
temperatura e o efeito se torna acumulativo.
Com a diminuição da resistência e o aumento irrestrito da
corrente a temperatura pode chegar a causar uma degradação
térmica no isolante, produzindo a ruptura.

V. Conclusão

Existem muitas outras teorias relativas ao mecanismo de


ruptura elétrica em dielétricos e isolantes, como a
instabilidade de sua estrutura cristalina, fadiga mecânica e
várias outras envolvendo mudanças em sua estrutura
atômica. Entretanto, as teorias que foram apresentadas tem
sido sujeitadas a muitos estudos e pesquisas e são
geralmente aceitas como sendo as de maior importância.

VI. Referências Bibliográficas

[1] C. L. Dawes, “Mechanisms of The Electric Breakdown


of Dielectrics”, Doble Engineering Company.
[2] Dr. Jorge Tomioka, “Panorama Geral Sobre Rigidez
Dielétrica em Polímeros Isolantes”, LACTEC.

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