Democracia Texto

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COLÉGIO ESTADUAL BRASÍLIO ITIBERÊ – ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

RUA ARION RIBEIRO DE CAMPOS, 885 ZONA 02 FONE: 32273928


MARINGÁ – PR
Disciplina de Sociologia – Atividade 1 - 2º Trimestre Data: ___/___/2020.
Material para o 2º ano

DEMOCRACIA

O conceito de democracia como “poder do povo” surgiu na Grécia antiga, aproximadamente no século
V a.C. O termo demokratia é composto dos vocábulos demos, “povo”, e Kratos, “poder”. A democracia
é, assim, um regime político que pressupõe a existência de um governo direto ou indireto da população
mediante eleições regulares para os cargos administrativos do país, do estado ou do município.
No entanto, o exato significado de “poder do povo” depende do período histórico e da sociedade que se
tem como referência, assim como de diferenças conceituais e ideológicas. Por exemplo, ao longo da
história, o atributo de cidadão já foi exclusivo de proprietários de terras, de homens brancos, de homens
letrados, de homens e mulheres adultos etc.
Em nossos dias, existem diferentes concepções de democracia presentes na sociedade. Há os que
defendem a ideia de democracia como algo que diz respeito apenas à esfera política (votar e ser votado,
por exemplo). Outras a aplicam também à áreas da vida econômica (como participar na definição do
orçamento público de certa localidade), social (decidir sobre leis que tratem da vida privada, como
questões ligadas à sexualidade ou à reprodução, como ocorre em relação ao aborto), cultural (opinar
sobre que aparatos de cultura, como teatros e cinemas, e de lazer, por exemplo, parques e praças,
serão instalados, em que quantidade e onde).
Essas diferenças indicam que as concepções de democracia sofrem influência de diferentes matizes
ideológicos. Nas sociedades em que a participação popular nas decisões governamentais é
significativa, o alcance da ideia de democracia perpassa as diferentes esferas da vida social. Há ainda
casos de nações que pretendem impor seu sistema de democracia a outros povos, como ocorre nas
intervenções armadas estadunidenses em outros países.
Expressões históricas da democracia
Somente a partir do século XX, a democracia passou a ser considerada por muitos um critério de
legitimação da vida política. Ao longo de sua trajetória, o pensamento democrático se modificou,
incorporando e abolindo diferentes elementos.
Democracia direta
É a forma clássica de democracia exercida pelos atenienses. Não havia eleições de representantes.
Havia um corpo de cidadãos que legislava. Os cidadãos reuniam-se na ágora, um local público que
abrigava as chamadas assembleias legislativas, onde eram criadas, debatidas e alteradas as leis
atenienses. Cada cidadão podia participar diretamente emitindo as suas propostas legislativas e
votando nas propostas de leis dos outros cidadãos.
Os cidadãos atenienses tinham muito apreço por sua política e reconheciam-se como privilegiados por
poderem participar daquele corpo tão importante para a cidade, por isso eles levavam a sério a política.
Os cidadãos preparavam-se, mediante o estudo da Retórica, do Direito e da Política, para as
assembleias. Eram considerados cidadãos apenas homens, em sua maioridade, nativos de Atenas ou
filhos de atenienses e livres. As decisões, então, eram tomadas por todos, o que era viável devido ao
número reduzido de cidadãos.
Democracia representativa
O conceito moderno de democracia representativa surgiu com as revoluções burguesas da Europa,
entre os séculos XVII e XIX, especialmente com os ideais iluministas de liberdade e primado da razão,
bem como da independência dos Estados Unidos, no século XVIII. O pilar desse modelo é a noção de
soberania popular, que se efetiva pelo exercício do voto. Além dela, outras instituições políticas foram
criadas e se tornaram indispensáveis para caracterizar um regime como democrático: a separação dos
poderes, o respeito às leis, a livre manifestação do pensamento e a cidadania.
O modelo se caracteriza pela representação política. Na democracia representativa as deliberações
coletivas não são tomadas diretamente pelos cidadãos, mas por pessoas eleitas para tal finalidade. A
participação dos cidadãos é indireta, periódica, formal e se expressa por meio das instituições eleitorais
e dos partidos políticos.
Democracia participativa.
Em muitos países ocidentais como os da América Latina, a democracia representativa mostrou-se
incapaz de fazer que os governos agissem de acordo com os interesses da maioria dos cidadãos. Então,
a democracia participativa surgiu como alternativa de superação das deficiências do sistema
representativo, já que os dois não são necessariamente antagônicos. Suas principais propostas buscam
ampliar a participação cidadã nos assuntos públicos e reduzir a distância entre representantes e
representados.
Apesar de não ser amplamente adotada, a democracia participativa visa propiciar uma ação política
mais igualitária, baseada em grande número de grupos sociais, que, articulados em rede, contribuem
para orientar as ações governamentais no sentido de atender às necessidades da maioria dos cidadãos.
De acordo com o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, a democracia participativa é exercida por
mecanismos que buscam ampliar a participação social. Essa maneira de atuação do cidadão procura
superar falhas do modelo representativo, já que este se tornou um método de formação de governo
quando deveria ser uma prática social que inserisse na política os atores sociais excluídos
Teoria democrática moderna
Em meados do século XVI, surgiu a ideia de autonomia do indivíduo, que deu origem ao individualismo
e ao liberalismo político. A concepção de democracia que se desenvolveu com base nesses princípios
assumiu um perfil bastante diferente daquele utilizado na Grécia antiga.
Se antes a democracia estava diretamente ligada à ideia de igualdade, em sua nova versão passou a
se relacionar primordialmente com a ideia de liberdade. Em decorrência dos ideais desenvolvidos
naquele momento histórico, o principal dilema político fundamentava-se na limitação do poder do
soberano (que às vezes se confundia com o próprio Estado) e na ampliação das liberdades individuais,
como o direito a dispor da propriedade material e a defender-se judicialmente. Até hoje, grande parte
do debate político tem como tema a defesa dos ideais liberais ou a crítica deles.
Na perspectiva do filósofo inglês Thomas Hobbes, a constituição e o funcionamento de uma sociedade
pressupõem que os indivíduos cedam, por transferência, seus direitos naturais (mantendo somente o
direito de conservarem sua vida) ao soberano. O autor entendia que os seres humanos, em estado de
natureza (isto é, compartilhando do direito a tudo o que existe, em razão de não haver limitação legal),
tendem a agir pela força e pela violência para conseguir o que desejam, o que acabaria provocando
uma guerra contínua entre todos. Por isso, para disciplinarem a si mesmos e garantirem o bem-estar
físico e material, seria necessário que os indivíduos firmassem um contrato social regulado por uma
autoridade soberana. Hobbes manifestou preferência pela monarquia absolutista, pois acreditava que
as assembleias e os Parlamentares estimulavam os conflitos graças ás disputas entre diferentes
facções e partidos.
O poder absoluto defendido por Hobbes se justificava pela transferência dos direitos dos indivíduos ao
soberano. É em nome desse contrato social que o poder deve ser exercido, e não para realização da
vontade pessoal do soberano. Por conta dessa perspectiva, Hobbes não pode ser considerado defensor
da democracia. Entretanto, seu pensamento é importante, pois serve de parâmetro para as reflexões
sobre a organização do poder construídas posteriormente.
No século XVII, John Locke, também filósofo inglês, propôs uma reflexão bem diferente da de Hobbes.
Para ele, o poder soberano deve permanecer nas mão dos cidadãos, que são os melhores juízes dos
próprios interesses. Cabe ao governante retribuir a delegação de poderes ao garantir as prerrogativas
individuais: segurança jurídica e propriedade privada. Assim, o contrato social teria como função garantir
os direitos naturais para todos. Esse pensamento é uma das bases do liberalismo político. Entretanto,
deve ser ressaltado que sua implantação não permitiu a construção da igualdade propagada por Locke,
mas foi uma das estruturas de consolidação do poder da burguesia.
Para Locke, o princípio da maioria é fundamental para o funcionamento das instituições políticas
democráticas, assim como as leis, que devem valer para todos. Por isso, segundo o filósofo, a
elaboração das leis precisa estar a cargo de representantes escolhidos pelo povo, que exerceriam o
papel de legisladores no interesse da maioria: o regime político proposto por Locke é, portanto, uma
democracia representativa.
O escritor e filósofo político suíço Jean-Jacques Rousseau se preocupou com o problema da
legitimidade da ordem política. Para ele, a desigualdade ocasionada pelo advento da propriedade
privada é a causa de todos os sentimento ruins do ser humano. No contrato social, é preciso definir a
questão da igualdade e do comprometimento de todos com o bem comum. Se a vontade individual é
particular, a do cidadão, que vive em sociedade e tem consciência disso, deve ser coletiva e voltada
para o bem comum.
A participação política é, portanto, ato de deliberação pública que organiza a vontade geral, ou seja,
traduz os elementos comuns a todas as vontades individuais. Esse seria, portanto, o núcleo do conceito
de democracia. Em seu livro Do contrato social, Rousseau afirma que a democracia só pode existir se
for exercida pelos cidadãos, sem representação política, pois a vontade geral não poderia ser
representada, apenas exercida diretamente. Para Rousseau, a democracia direta é o único sistema
legítimo de autoridade e de ato político.
Em O espírito das leis, o filósofo político Montesquieu, afirmou que igualdade na democracia é algo
muito difícil de garantir plenamente. Partindo do princípio de que é necessário um controle externo para
que os sistemas políticos funcionem bem, esse pensador defende a criação de regras que estabeleçam
limites aos defensores do poder a fim de manter a liberdade dos indivíduos. Por isso, propôs a divisão
da esfera administrativa em três poderes ou funções independentes entre si: o Legislativo, o Executivo
e o Judiciário.
De maneira resumida, cabem ao poder Legislativo as funções de fiscalizar o poder Executivo, votar leis
de interesse público nas instâncias relativas (municipal, estadual e federal) e, em situações específicas,
julgar autoridades como o presidente da República ou os próprios membros do Parlamento. O executivo
é o poder do Estado que, nos moldes da Constituição de um país, tem por atribuição governar a nação
e administrar os direitos. Por fim, o poder Judiciário é exercido pelos juízes, que têm a capacidade e a
prerrogativa de julgar com base nas regras constitucionais e nas leis criadas pelo poder legislativo.
A democracia, na perspectiva de Montesquieu, seria garantida pelo equilíbrio entre os três poderes,
assegurando assim maior liberdade aos indivíduos. A liberdade, porém, só existiria com moderação, o
que equivaleria a fazer tudo o que as leis permitissem (pois, se um cidadão pudesse fazer tudo o que
as leis proibissem, não teria mais liberdade, porque todos poderiam fazer o mesmo)
Podemos entender melhor a “igualdade política” defendida pelo pensamento liberal, que é a base
ideológica do sistema capitalista, quando lemos o que disseram grandes pensadores liberais, como
Benjamim Constant (1787-1874) Immanuel Kant (1724-1804) e Edmund Burke (1729-1797).
O pensador francês Benjamim Constant afirmava que as pessoas condenadas pela penúria ao trabalho
diário e a uma situação de eterna dependência não estavam mais bem informadas acerca dos assuntos
públicos que uma criança; por isso, não podiam desfrutar o direito eleitoral. Era necessário ter o tempo
livre indispensável para adquirir os conhecimentos e os critérios justos. Só a propriedade proporcionava
esse tempo livre e deixava os indivíduos em condições de exercitar os direitos políticos.
Immanuel Kant, filósofo alemão, afirmava que para exercer os direitos políticos era necessário não ser
criança ou mulher. Mas não bastava a condição de homem; era preciso ser senhor de uma propriedade
que lhe desse sustento. O dependente, o criado e o operário não podiam ser membros do Estado e não
estavam qualificados para ser cidadãos.
Edmund Burke, pensador inglês de visão conservadora, ao analisar os perigos da Revolução Francesa
para a sociedade burguesa, afirmava que somente uma elite tinha o grau de racionalidade e de
capacidade analítica necessário para compreender o que convinha ao bem comum. Afirmava ainda que
a propriedade garantia a liberdade, mas exigia a desigualdade.
Essas ideias ainda estão presentes nos dias de hoje, expressando-se, por exemplo, quando se afirma
que o povo não sabe votar, que para ser deputado, senador ou mesmo presidente da República são
necessários determinados atributos que, normalmente, só os membros das classes proprietárias
possuem, como nível universitário, experiência administrativa, etc. A ação e o discurso contra a
presença de trabalhadores, ou daqueles que defendem seus direitos, no Parlamento ou em cargos
executivos, é algo muito antigo, mas está presente na sociedade contemporânea em geral, e muito
claramente no Brasil.
Muitas pessoas também pensam que só se pode fazer política institucional por meio dos partidos
políticos. Mas os partidos nasceram por causa da pressão exercida por quem não tinha acesso ao
Parlamento. No início do Estado liberal, a ideia de partido era inaceitável, pois se considerava que o
Parlamento devia ter unidade de formação e pensamento, não comportando divisões ou “partes” (o que
a palavra partido expressa). Votavam e eram votados, na prática apenas os que possuíam propriedades
e riqueza. Assim o Parlamento reunia os proprietários. Estes discutiam as leis que regeriam a sociedade
como um todo com base na visão deles.
Somente quando outros setores da sociedade começaram a lutar por participação na vida política
institucional, principalmente os trabalhadores organizados, os partidos políticos começaram a aparecer
e a defender interesses diferentes: de um lado, o daqueles que queriam mudar a situação e, de outro o
daqueles que queriam mantê-la.
Pelas razões expostas, o pensador Claude Lefort, em seu livro A invenção democrática (1983), afirma
que é uma aberração considerar a democracia uma criação da burguesia. Essa classe sempre procurou
impedir que o liberalismo se tornasse democrático, limitando o sufrágio universal e a ampliação de
direitos, como os de associação e de greve, e criando outras tantas artimanhas para excluir a maior
parte da população da participação nas decisões políticas. Por isso, para ele, a democracia é a criação
contínua de novos direitos. Não é apenas consenso, mas principalmente a existência de dissenso.
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos propõe outros elementos para analisar a questão
da democracia e da representação. Ele afirma que a democracia no mundo contemporâneo nos oferece
duas imagens muito contrastantes. Por um lado, a democracia representativa é considerada
internacionalmente o único regime político legítimo. Por outro, existem sinais de que os regimes
democráticos, nos últimos vinte anos, traíram as expectativas da maioria da população, principalmente
das classes populares.
As revelações mais frequentes de corrupção permitem concluir que os governantes legitimamente
eleitos usam o mandato para enriquecer à custa do povo e dos contribuintes, há também o desrespeito
dos partidos por seus programas eleitorais logo após as eleições, o que faz os cidadãos sentirem-se
pessimamente representados e acreditarem cada vez menos na democracia representativa.
Teoria democrática contemporânea
A partir do século XIX, a teoria democrática foi desenvolvida com base no confronto entre duas doutrinas
políticas: o liberalismo e o socialismo. O liberalismo é um projeto que defende as limitações dos poderes
governamentais, buscando a proteção dos direitos econômicos, políticos, religiosos e intelectuais dos
membros da sociedade. Ou seja, para os liberais o poder do Estado deve ser limitado, pois eles
acreditam que a verdadeira liberdade depende da menor interferência possível do Estado e das leis
nesses direitos.
Para a doutrina socialista, o sufrágio universal é apenas o ponto inicial do processo de democratização
do Estado, enquanto para o liberalismo é o ponto de chegada. Alguns dos principais teóricos do
socialismo, como Antonio Gramsci e Rosa Luxemburgo, afirmam que o aprofundamento do processo
de democratização na perspectiva das doutrinas socialistas, ocorre de dois modos: por meio da crítica
à democracia representativa (e da retomada de alguns temas da democracia direta) e pela ampliação
da participação popular e do controle do poder por meio dos chamados “conselhos operários”.

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