Lugares Dos Saberes, Dialogos

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UNIVERSIDAD DE ANTIOQUIA

FACULTAD DE CIENCIAS SOCIALES Y HUMANAS


CENTRO DE INVESTIGACIONES SOCIALES Y HUMANAS
GRUPO DE INVESTIGACIÓN MEDIO AMBIENTE Y SOCIEDAD

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Lugares dos saberes: diálogos abertos

Ana Clara Torres Ribeiro


IPPUR/UFRJ*

“La semilla es la metáfora original: cae en el suelo, en


una hendidura del terreno, y se nutre de la sustancia
de la tierra”
(Octavio Paz – Corriente alterna, 2000, p.26)

**
Este texto resulta de exposição realizada no Seminário Internacional “Milton Santos e o Brasil: território,
lugares e saber”, organizado pela Universidade Federal da Bahia (Salvador, 17-19/7/02), devendo ser
publicado pela Fundação Perseu Abramo em coletânea organizada por Maria Brandão.
*
Bolsista do CNPq
Lugar e saber

Através do recurso à idéia-conceito de lugar tem sido desenvolvidas análises


críticas da modernidade que ensaiam a substituição do conceito de espaço que orientou
tantas modernizações responsáveis por destruição de culturas e formas alternativas de
organização da vida coletiva1. Já através da idéia-conceito de saber manifesta-se a frente de
investimentos reflexivos voltada ao diágnóstico dos efeitos nocivos da tecnociência,
associada ao esmaecimento da pauta humanista, e da produção científica que, abrigada nos
códigos do racionalismo ocidental, nega o diálogo com o senso comum. Assim, lugar e
saber são verdadeiros nortes reflexivos, posicionados no presente  futuro.
Estas idéias-conceitos inscrevem-se em disputas que, evidenciadas no presente,
sinalizam possíveis rumos para a ação social. Correspondem a verdadeiras ferramentas para
a elaboração de projetos voltados ao desvendamento de relações sociedade-espaço
conduzidas por racionalidades alternativas. Sem dúvida, Milton Santos legou-nos veios e
veredas para o pensamento crítico, através de um extraordinário mapa teórico-empírico
tensamente posicionado na fronteira entre a certeza e a incerteza, já que é nesta fronteira
que germinam as forças de transformação da realidade imediata. Este mapa nutre a
instrução e a imaginação; abrigando tanto leituras apaziguadas, que contentam-se com o
conhecimento, quanto leituras disruptivas, que se movem pelo anseio da criação e de
aplicação socialmente útil do conhecimento.
Aliás, quantas e competitivas racionalidades fermentam entretecidas numa noção,
conceito ou categoria? Como buscar a neutralidade, desvestindo conceitos dos projetos e
sonhos que sustentaram a sua proposição? A escrita, como a fala, realiza uma intervenção
no presente, movida por largas heranças intelectuais e por elementos da experiência única
da cada indivíduo. Como compreender de outra forma a valorização de lugar e saber no
pensamento de Milton Santos?

1
“O papel atribuído à geografia e a possibilidade de uma intervenção válida dos geógrafos no processo de
transformação da sociedade são interdependentes e decorrem da maneira como conceituamos a disciplina e
seu objeto” (Bernardes et al, 2000:1).

2
Ética da condição e ética da responsabilidade

Lugar e saber são idéias-conceitos e, também, idéias-projetos. Na obra de Milton


Santos, indicam experiências e expectativas que, desdobradas nos espaços opacos
(antagônicos aos espaços iluminados do agir operacional e do marketing), propiciam a
resistência social (Santos, 1994). Indicam contextos propícios à descoberta de temas que,
com prioridade, devem ser incorporados à pesquisa socialmente comprometida. Lugar e
saber são, desta maneira, idéias que conversam com a renovação desejada para a geografia,
com os deveres do intelectual público e o valor atribuído à ação. Orientam a busca do
sujeito da transformação e de um modelo cívico que favoreça a real experiência da
cidadania.
Aparecem, também, como referências para o combate à globalização perversa,
desenraizadora, mimética e voraz: “O território tanto quanto o lugar são esquizofrênicos,
porque de um lado acolhem os vetores da globalização, que neles se instalam para impor
sua nova ordem, e, de outro lado, neles se produz uma contra-ordem, porque há uma
produção acelerada de pobres, excluídos, marginalizados (…) Assim, junto à busca da
sobrevivência, vemos produzir-se, na base da sociedade, um pragmatismo mesclado com a
emoção, a partir dos lugares e das pessoas juntos. Esse é, também, um modo de insurreição
em relação à globalização, com a descoberta de que, a despeito de sermos o que somos,
podemos também desejar ser outra coisa” (Santos, 2000) (grifos da autora). É através de
formulações como esta que saber e lugar são articulados à teoria crítica do espaço, que
afirma-se afastada de rotinas acadêmicas e que deixa-se envolver pela radicalidade da
carência e da fala do outro.
Do ângulo da política, a proposição de conceitos (idéias e projetos) envolve a sua
subordinação aos princípios da ética da responsabilidade, como orienta Max Weber (1970
[1919]), com o mesmo rigor que, do ângulo da ciência, a proposição de conceitos exige a
orientação ética da condição de cientista. No presente, marcado pela mútua influência entre
tecnociência e pensamento único, encontram-se rompidas barreiras institucionais que, até
há algumas décadas, preservavam o espaço-tempo específico da ciência e aquele que é
próprio da política. A desinstitucionalização e a apropriação mercantil, sem peias, do

3
conhecimento conjugam-se à perda de significados da ação política formalizada pela
modernidade, produzindo desesperança mas, também, oportunidades de manifestação de
formas de agir e pensar transformadoras
Estes são tempos que expressam o amadurecimento de ameaças reconhecidas por
Max Weber já nas primeiras décadas do século passado. Trazem a possibilidade de
crescente obscurantismo. Não apenas aquele que se manifesta de imediato como
autoritarismo mas, também, o que apresenta-se na roupagem do misticismo, fazendo recuar
tanto a ciência como a política, estas verdadeiras matrizes da modernidade, que podem
conduzir, se transformadas, a formas mais justas de realização da vida coletiva. Na face
trágica da crise contemporânea, não acontecem a luta pela justiça social e o aprendizado de
realidades mas, sim, o acovardamento da razão e da vontade e, em decorrência, a anomia e
a barbárie.
É no âmago desta crise societária que torna-se necessário refazer papéis da ciência e
da política, e o sentido das suas relações, impedindo subalternidades espúrias entre esferas
da vida social, que propiciam falsas legitimidades. Trata-se, efetivamente, de garantir uma
rigorosa conjugação de valores éticos, que possibilite mudanças morais orientadas para a
radicalização da democracia e, portanto, para a garantia de soberania, autonomia, igualdade
e liberdade2. A força da presentificação, permitida pela renovação da base técnica da vida
coletiva, desafia, com novos meios e agentes, conquistas e rebeldias. É necessário, nesta
conjuntura, opor obstáculos à banalização da experiência social, à mercantilização da
cultura e à onipresença da ação instrumental, que atordoam percepções e desorientam
projetos.

Lugares, contextos

2
Recordemos palavras de Max Weber: “Nada se fez até agora com base apenas no fervor e na espera. É
preciso agir de outro modo, entregar-se ao trabalho e responder às exigências de cada dia – tanto no campo da
vida comum, como no campo da vocação. Esse trabalho será simples e fácil, se cada qual encontrar e
obedecer ao demônio que tece as teias da sua vida” (op cit, p. 52) (grifo no original).

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No atual período histórico3, tem sido fortemente alteradas as relações entre produzir
conhecimento e fazer política. Na ação hegemônica, predominam o pensamento
operacional e pragmático, assim como, a redução dos ideários democráticos aos ritos
formais da política. Um novo e transformador diálogo entre ciência e política precisaria
romper os pactos de poder que sustentam esta ação. Neste diálogo, torna-se essencial
reconher contextos que propiciem formas alternativas e generosas de sistematização dos
recursos. Este reconhecimento impõe a absorção analítica da complexidade e o advento de
uma mentalidade propositiva que, ao absorver singularidades do espaço herdado,
compreenda o universal e o teor das tarefas associadas à afirmação do humanismo concreto
(Santos, 1987).
É nesta ambiência reflexiva que Milton Santos propõe a valorização do lugar e,
também, do saber: “O conhecimento de outros lugares, mesmo superficial e incompleto,
aguça a curiosidade. Ele é certamente um subproduto de uma informação geral enviesada,
mas, se for ajudado por um conhecimento sistêmico do acontecer global, autoriza a visão da
história como uma situação e um processo, ambos críticos. Depois, o problema crucial é:
como passar de uma situação crítica a uma visão crítica – e, em seguida, alcançar uma
tomada de consciência. Para isso, é fundamental viver a própria existência como algo de
unitário e verdadeiro, mas também como um paradoxo: obedecer para subsistir e resistir
para poder pensar o futuro. Então a existência é produtora de sua própria pedagogia”
(Santos, 2000:116) (grifos da autora). Neste trecho, reconhece-se a radicalidade reflexiva,
que apenas a filosofia permite alcançar, e o olhar atento para conteúdos do espaço banal.
Emerge, na passagem citada, a irredutibilidade da liberdade aos comandos da
economia, o que exige investimentos em teoria. Afinal, como sugere Alain Badiou, com
referência a Lacan: “Pode-se admitir que toda teoria consiste em localizar o vazio que
autoriza a verdade; localizá-lo, fazer sua álgebra e sua topologia” (1994:60). Por outro lado,
na passagem citada de Milton Santos, orientações usuais da ciência e da política são refeitas
3
“A história do capitalismo pode ser dividida em períodos, pedaços de tempo marcados por certa coerência
entre as suas variáveis significativas, que evoluem diferentemente, mas dentro de um sistema. Um período
sucede a outro, mas não podemos esquecer que os períodos são, também, antecedidos e sucedidos por crises
(…) Essa foi a evolução comum a toda a história do capitalismo, até recentemente. O período atual escapa a
essa característica porque ele é, ao mesmo tempo, um período e uma crise, isto é, a presente fração de tempo
histórico constitui uma verdadeira supeposição entre período e crise, revelando características de ambas essas
situações” (Santos, 2000:33).

5
pelo valor atribuído à experiência vivida, aquela que é desenhada pelos passos dos homens
lentos (Santos, 1994), estes verdadeiros desbravadores de recursos na espacialidade que é
antagônica aos seus desígnos e à satisfação de suas necessidades mais urgentes.
A existência é mestra dedicada e insistente. No vanguardismo político e acadêmico,
que se distancia desta fonte de saberes, manifesta-se impotência propositiva nos difíceis
caminhos a serem percorridos nas lutas por justiça social. Assim, na conscientização que se
descola da pedagogia do existir, os modelos e as fabulações (Santos, 2000) impõem-se, em
geral, sobre as vozes dos lugares, desterritorializando e desenraizando aprendizados, que
são essenciais à presença de novos protagonistas e ideários na definição do futuro
desejável. Desta maneira, lugar e saber encontram-se implicados nos projetos que visem a
territorialidade cidadã, resistente à alienação territorial originada da apropriação anti-
democrática de recursos, apoiada na psicoesfera (Santos, 1996:203) construída pela
propaganda. Nas palavras de Maria Adélia de Souza: “Os lugares são reveladores, basta
atingí-los. Essa ruptura manifesta nos lugares pela alegria que, apesar de tudo, eles
irradiam, deve ser também compreendida não como a visão forjada pelo mundo (o da
globalização), de incerteza e caos: nos lugares busca-se furiosamente a liberdade” (1997).
Acontece, nos lugares, a resistência ao localismo que destina aos pobres a cidadania
restringida e limitada. Neles, também é possível reconhecer rugosidades impeditivas das
localizações ansiadas pela ação hegemônica, o que alimenta a noção de território que
deverá substituir a que orienta esta ação. Como afirma Eridan Passos, com base em
Boaventura de Souza Santos (2001), “(…) não existe globalização genuína, mas a
globalização bem sucedida de determinado localismo. A segunda implicação é que a
globalização pressupõe a localização. Vivemos num mundo tanto de localização como de
globalização” (Passos, 2002:63). Existe tensão analítica e política, portanto, entre as noções
de local e lugar. O local pode ser lido como o nicho ou o alvo de ações desenhadas noutras
escalas. Já o lugar abriga, além de conseqüências destas ações, enigmas, carências e
projetos do existir. Não se trataria, realmente, de propor uma oposição absoluta entre estas
idéias-conceitos mas, de indicar que local e lugar correspondem a sensibilidades analíticas
e políticas distintas. O local traz referências à heteronomia, enquanto que o lugar é portador
de anseios de autonomia. Complementam-se, portanto.

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É nos lugares, cujos limites desobedecem à escala da ação do Estado ou das firmas,
que a horizontalidade costurada por práticas de cooperação anula, ou refrata, vetores da
verticalidade dominante: “Por enquanto, o Lugar – não importa sua dimensão – é,
espontaneamente, a sede da resistência, às vêzes involuntária, da sociedade civil, mas é
possível pensar em elevar esse movimento a desígnos mais amplos e escalas mais altas.
Para isso, é indispensável insistir na necessidade de um conhecimento sistemático da
realidade, mediante o tratamento analítico do território, interrogando-o a propósito de sua
própria constituição no momento histórico atual” (Santos, 1996:206, 207). Existe, deste
ângulo, um conhecimento do lugar a ser obtido, que depende de conceitos que incorporem a
natureza do prático inerte local e que se abram a múltiplas vozes no desvendamento de
possíveis futuros. O lugar é, então, uma determinada manifestação da tecnicidade exigida
pela sobrevivência, de um ativismo da reprodução e de uma resistência do singular e do
diverso.
Assumindo tarefas conceituais associadas à valorização do lugar, Milton Santos
reposicionou a categoria território na teoria crítica do espaço, alertando para a sua
relevância na ação política (Santos, 1999; Santos e Silveira, 2001). Para a resposta às
exigências do presente, o território precisaria ser compreendido como território usado, isto
é, como acúmulo de tempos correlacionado à indissociabilidade entre forma e conteúdo. O
recurso à esta categoria permite compreender que o lugar é o cotidiano mas, é, ao mesmo
tempo, os futuros nele contidos, inclusive os que foram negados no passado. Assim, o lugar
é materialidade e socialidade mas, também, o conjunto dos eventos que as atingem e
transformam, por determinações oriundas de diferentes escalas: “Foi por isso que
propusemos considerar o espaço geográfico não como sinônimo de território, mas como
território usado; e este é tanto o resultado do processo histórico quanto a base material e
social das novas ações humanas. Tal ponto de vista permite uma consideração abrangente
da totalidade das causas e dos efeitos do processo socioterritorial” (Bernardes et al, op
cit:2) (grifos no original).

Saberes, emoções

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Talvez o lugar possa ser compreendido, ainda mais, como região, desde que relida
pela problemática filosófica e política do sujeito 4. Como indaga Milton Santos: “A
territorialidade é um atributo do território ou dos seus ocupantes? Vivo o meu cotidiano no
território nacional ou no lugar? Essas perguntas me parecem importantes porque estão
ligadas ao que eu chamaria de saber da região em contraposição ao saber do expert
internacional” (1999:21). As fronteiras do lugar não são rígidas. Ao contrário, são móveis
como móvil é a articulação do prático inerte aos desideratos da ação social. Desta forma, à
unificação de lugares que corresponde às exigências do agir hegemônico cabe contrapor a
unicidade que é sistematizada pelas estratégias e táticas de sobrevivência. É esta unicidade,
possibilitada pela energia social dos lugares, que pode revitalizar a sociedade civil, retendo
o produtivismo que orienta a leitura dominante do espaco.
O lugar é uma expressão da vontade organizadora, que excede as diretrizes
administrativas das organizações. Na construção social de lugares, encontram-se
envolvidas, como diria Michel de Certeau (1998), diferentes artes do fazer. Entretanto, a
valorização destas artes, assim como a sua memória, é geralmente impedida pelo ritmo da
vida social, por exigências de atualização de conhecimentos e pela sobrecarga da
informação sem análise. Surge, portanto, a tendência à anulação de saberes, que altera
conteúdos da relação sociedade-espaço: “(…) os eventos apagam o saber já construído
exigindo novos saberes. Quando, como nos dias atuais, os eventos são mais numerosos e
inéditos em cada lugar, a reinserção ativa (…) depende cada vez menos da experiência e
cada vez mais da descoberta” (Santos, 1996:264). Nestas circunstâncias, ocorrem
dramáticas perdas e, também, possibilidades de inovação radical, inclusive a que se dá pela
associação de novos projetos aos fragmentos da memória liberada pela aceleração do
mundo.
Neste ponto de clivagem, traçado pela destruição que caracteriza a atual fase do
capitalismo, o impulso em direção ao novo retem a ação realmente transformadora? A

4
Esta proposta encontra apoio no livro de Milton Santos O trabalho do geógrafo no terceiro mundo. Neste
livro, são tratadas a geografia geral e geografia regional no que concerne às suas exigências específicas de
coerência teórica e metodológica: “(…) é essa originalidade regional que acima de tudo se procura. No
entanto, como a pesquisa regional não pode progredir sem os progressos da ciência geral, o único caminho a
percorrer é o de uma abstração medida, prudente, que leve em conta as realidades já estudadas objetivamente”
(1978:13).

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dissolução de saberes pode ser compensada pelo descarte de práticas impeditivas de
verdadeiras descobertas? Estas perguntas só podem ser respondidas pela pesquisa que
trabalhe a dialética entre saber e conhecimento e que apreenda, como propôs Milton Santos,
a face ativa do território. Pela territorialidade, manifesta-se o saber, eivado de
conhecimentos pretéritos, que aproxima-se das verdades físicas e do confronto, que é
diário, entre fisionomia, paisagem e essência das relações sociais.
Trata-se, portanto, de aceitar que o saber é o noturno e, tantas vezes o invisível e o
não-dito, da construção de lugares (Certeau, op cit). O saber é, também, um manto
progressivo da ação, tecido no contrato da existência e, não, através da adesão a-crítica ao
decisionismo (Bosoer e Leiras, 1999), esta real doutrina da política hoje praticada. O saber
é a força dos lugares, da mesma forma que o lugar é a seiva de diferentes saberes. Ambas
idéias (conceitos e projetos) correspondem à tenacidade do existir, à insistência do fazer
vida, à riqueza do agir realmente experimentado. São idéias que conduzem, sem separá-los
para além do que a ética exige, conhecimento e ação política, e que, ao trazerem concretude
à luta por cidadania, obrigam o repensar de relevantes fenômenos sociais. Afinal, como
ainda lembra Milton Santos, “(…) a datação do mundo faz com que tenhamos sempre que
estar revendo conceitos” (1999:25).
A função dos conceitos não é sempre a mesma, na medida em que se altera a
totalidade refletida e os sentidos da ação social. Antigas palavras ganham novos conteúdos
e novas palavras são encontradas para designar experiências banais. Aliás, a
interdisciplinariedade é instável, num mundo em que a velocidade da mudança manifesta-se
como hipertexto, em conjugação com a inércia como destino outorgado à maioria. Neste
período, existem obrigações, que são verdadeiros irredutíveis, com relação ao trabalho com
a linguagem. Deste trabalho, dependerá tanto a preservação de memória como a ampliação
de conteúdos da democracia. Como propõe Octavio Ianni: “Quando se abalam os quadros
sociais e mentais de referência, embaralham-se os territórios e as fronteiras, as nações e as
nacionalidades, as línguas e as religiões, as culturas e as civilizações. Esse o clima em que
se torna necessário e urgente dar-se conta de que a linguagem é um momento essencial da
cultura e da comunicação, do entendimento e da fantasia, do exorcismo e da sublimação”
(2000:222).

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Referências bibliográficas

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