Resumo Direito Constitucional
Resumo Direito Constitucional
Resumo Direito Constitucional
CURSO DE DIREITO
CONSTITUIÇÃO E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
PROFESSOR JOSEMAR ARAÚJO – Josemar.araujo@uva.br
FOLHA DE APOIO 1
Sentido político
Na lição de Carl Schmitt, encontramos o sentido político, que distingue Constituição de lei
constitucional. Constituição “... só se refere à decisão política fundamental (estrutura e
órgãos do Estado, direitos individuais, vida democrática etc.); as leis constitucionais seriam
os demais dispositivos inseridos no texto do documento constitucional, mas não contêm
matéria de decisão política fundamental”. Portanto, pode -se afirmar, em complemento, que,
na visão de Carl Schmitt, em razão de ser a Constituição produto de uma certa decisão
política, ela seria, nesse sentido, a decisão política do titular do poder constituinte.
Sentido culturalista
Nesse sentido, pode -se dizer que a Constituição é produto de um fato cultural, produzido
pela sociedade e que sobre ela pode influir. A concepção culturalista do direito conduz ao
conceito de uma Constituição Total em uma visão suprema e sintética que “... apresenta,
na sua complexidade intrínseca, aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos,
a fim de abranger o seu conceito em uma perspectiva unitária”. Assim, sob o conceito
culturalista de Constituição, “... as Constituições positivas são um conjunto de normas
fundamentais, condicionadas pela Cultura total, e ao mesmo tempo condicionantes desta,
emanadas da vontade existencial da unidade política, e reguladoras da existência, estrutura
e fins do Estado e do modo de exercício e limites do poder político”.
. Constituição aberta
Grande parte dos publicistas vem destacando a ideia de uma Constituição aberta, no
sentido de que ela possa permanecer dentro de seu tempo e, assim, evitar risco de
desmoronamento de sua “força normativa”. (Constituição econômica, Constituição do
trabalho, Constituição social, Constituição cultural).
Elementos integrantes (componentes ou constitutivos) do Estado
A Constituição deve trazer em si os elementos integrantes (componentes ou constitutivos)
do Estado, quais sejam: soberania; finalidade; povo; território.
6. Classificação das constituições
Quanto à origem
De acordo com este critério, as Constituições poderão ser outorgadas, promulgadas ou
cesaristas (ou bonapartistas) e as pactuadas (ou dualistas).
Outorgadas são as Constituições impostas, de maneira unilateral, pelo agente
revolucionário (grupo, ou governante), que não recebeu do povo a legitimidade para em
nome dele atuar. No Brasil, as Constituições outorgadas foram as de 1824 (Império), 1937
(inspirada em modelo fascista, extremamente autoritária — Getúlio Vargas), 1967 (ditadura
militar), sendo que alguns chegam inclusive a mencionar como exemplo de outorga a EC
n. 1/69 (apesar de tecnicamente impreciso). As Constituições outorgadas recebem, por
alguns estudiosos, o “apelido” de Cartas Constitucionais.
Promulgada, também chamada de democrática, votada ou popular, é aquela
Constituição fruto do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita diretamente
pelo povo, para, em nome dele, atuar, nascendo, portanto, da deliberação da representação
legítima popular. Os exemplos são a de 1891 (primeira da República), 1934 (inserindo a
democracia social, inspirada na Constituição de Weimar), 1946 e, finalmente, a atual, de
1988.
Cesarista, não é propriamente outorgada, mas tampouco é democrática, ainda que criada
com participação popular”. É aquela “... formada por plebiscito popular sobre um projeto
elaborado por um Imperador (plebiscitos napoleônicos) ou um Ditador (plebiscito de
Pinochet, no Chile). A participação popular, nesses casos, não é democrática, pois visa
apenas ratificar a vontade do detentor do poder.
A participação popular pode se dar não apenas por plebiscito como, também, na hipótese
de ratificação, por referendo, já que este se caracteriza como instrumento de confirmação
das decisões políticas e governamentais, ou seja, toma--se a decisão para, posteriormente,
levar -se a referendo popular.
Nesse caso, contudo, “... os referendos são utilizados como um instrumento de autocracia
(regime do chefe), e não da democracia, pois geralmente nem todas as correntes
ideológicas participam do debate e não se concede liberdade para uma efetiva discussão
ou para eventual rejeição das propostas”.
Quanto à forma
Quanto à forma, elas podem ser escritas (instrumental) ou costumeiras (não escritas ou
consuetudinárias). Escrita (instrumental), é a Constituição formada por um conjunto de
regras sistematizadas e organizadas em um único documento, estabelecendo as normas
fundamentais de um Estado. Como exemplo, citamos a brasileira de 1988, a portuguesa, a
espanhola etc.
Costumeira (não escrita), seria aquela Constituição que, ao contrário da escrita, não traz
as regras em um único texto solene e codificado. É formada por “textos” esparsos,
reconhecidos pela sociedade como fundamentais, e baseia -se nos usos, costumes,
jurisprudência, convenções. Exemplo clássico é a Constituição da Inglaterra.
Quanto à extensão
Quanto à extensão podem ser sintéticas (concisas, breves, sumárias, sucintas, básicas) ou
analíticas (amplas, extensas, largas, prolixas, longas, desenvolvidas, volumosas,
inchadas).
Sintéticas seriam aquelas enxutas, veiculadoras apenas dos princípios fundamentais e
estruturais do Estado. Não descem a minúcias, motivo pelo qual são mais duradouras, na
medida em que os seus princípios estruturais são interpretados e adequados aos novos
anseios pela atividade da Suprema Corte. O exemplo lembrado é a Constituição americana,
que está em vigor há mais de 200 anos (é claro, com emendas e interpretações feitas pela
Suprema Corte).
Analíticas, por outro lado, são aquelas que abordam todos os assuntos que os
representantes do povo entenderem fundamentais. Normalmente descem a minúcias,
estabelecendo regras que deveriam estar em leis infraconstitucionais, como, conforme já
mencionamos, o art. 242, § 2.º, da CF/88, que dispõe que o Colégio Pedro II, localizado na
cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. Assim, o clássico exemplo é a
brasileira de 1988.
Quanto ao conteúdo
Materialmente constitucional será aquele texto que contiver as normas fundamentais e
estruturais do Estado, a organização de seus órgãos, os direitos e garantias fundamentais.
Como exemplo Pedro Lenza cita a Constituição do Império do Brasil, de 1824, que, em seu
art. 178, prescrevia ser constitucional somente o que dissesse respeito aos limites e
atribuições respectivos dos poderes políticos e aos direitos políticos e individuais dos
cidadãos; tudo o que não fosse constitucional poderia ser alterado, sem as formalidades
referidas (nos arts. 173 a 177), pelas legislaturas ordinárias.
Formal, por seu turno, será aquela Constituição que elege como critério o processo de sua
formação, e não o conteúdo de suas normas. Assim, qualquer regra nela contida terá o
caráter de constitucional. A brasileira de 1988, segundo Lenza, é formal. Cabe observar (e
este tema ainda não está fechado) que, com a introdução do § 3.º no art. 5.º, pela EC n.
45/2004, passamos a ter uma espécie de conceito misto, já que a nova regra só confere a
natureza de emenda constitucional (norma formalmente constitucional) aos tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos (matéria), desde que observadas as
formalidades de aprovação (forma).
Quanto à alterabilidade
As Constituições poderão ser rígidas, flexíveis (também chamadas de plásticas, segundo a
denominação de Pinto Ferreira) e semirrígidas (ou semiflexíveis). Alguns autores ainda
lembram as fixas ou silenciosas, as transitoriamente flexíveis, as imutáveis (permanentes,
graníticas ou intocáveis) e as super -rígidas.
Rígidas são aquelas Constituições que exigem, para a sua alteração um processo
legislativo mais árduo, mais solene, mais dificultoso do que o processo de alteração das
normas não constitucionais. Pedro Lenza destaca que, à exceção da Constituição de 1824
(considerada semirrígida), todas as Constituições brasileiras foram, inclusive a de 1988,
rígidas!
A rigidez constitucional da CF/88 está prevista no art. 60, que, por exemplo, em seu § 2.º
estabelece um quorum de votação de 3/5 dos membros de cada Casa, em dois turnos de
votação, para aprovação das emendas constitucionais. Em contraposição, apenas para
aclarar mais a situação lembrada, a votação das leis ordinárias e complementares dá -se
em um único turno de votação (art. 65), com quorum de maioria simples (art. 47) e absoluta
(art. 69), respectivamente para lei ordinária e complementar.
Flexível é aquela Constituição que não possui um processo legislativo de alteração mais
dificultoso do que o processo legislativo de alteração das normas infraconstitucionais. Vale
dizer, a dificuldade em alterar a constituição é a mesma encontrada para alterar uma lei
que não é constitucional. Nesse sentido, do ponto de vista formal, devemos observar que,
em se tratando de constituição flexível, não existe hierarquia entre constituição e lei
infraconstitucional, ou seja, uma lei infraconstitucional posterior altera texto constitucional
se assim expressamente o declarar, quando for com ele incompatível, ou quando regular
inteiramente a matéria de que tratava a Constituição.
Semiflexível ou semirrígida é aquela Constituição que é tanto rígida como flexível, ou seja,
algumas matérias exigem um processo de alteração mais dificultoso do que o exigido para
alteração das leis infraconstitucionais, enquanto outras não requerem tal formalidade. O
exemplo sempre lembrado é o da Constituição Imperial de 1824, que, em seu art. 178, dizia:
“É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e atribuições respectivas dos Poderes
Políticos, e aos Direitos Políticos, e individuais dos Cidadãos. Tudo, o que não é
constitucional, pode ser alterado, sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas
ordinárias.
As fixas, “... são aquelas que somente podem ser alteradas por um poder de competência
igual àquele que as criou, isto é, o poder constituinte originário. São conhecidas como
constituições silenciosas, porque não estabelecem, expressamente, o procedimento
para sua reforma. Têm valor apenas histórico, sendo exemplos destas Constituições o
Estatuto do Reino da Sardenha, de 1848, e a Carta Espanhola de 1876”.
Quanto à sistemática (
Valendo -se do critério sistemático, Pinto Ferreira divide as Constituições em
Reduzidas (ou unitárias) e variadas. Reduzidas seriam aquelas que se materializariam
em um só código básico e sistemático, como as brasileiras (Variadas seriam aquelas que
se distribuiriam em vários textos e documentos esparsos, sendo formadas de várias leis
constitucionais, destacando -se a belga de 1830 e a francesa de 1875.
Quanto à dogmática
No tocante à dogmática, Pinto Ferreira, valendo -se do critério ideológico e lembrando
as lições de Paulino Jacques, identifica tanto a Constituição ortodoxa como a eclética.
A ortodoxa é aquela formada por uma só ideologia, por exemplo, a soviética de 1977, hoje
extinta, e as diversas Constituições da China marxista. Por sua vez, eclética seria aquela
formada por ideologias conciliatórias, como a brasileira de 1988 ou a da Índia de 1949.
Nessa linha, alguns autores aproximam a eclética da compromissória.
Quanto ao sistema
Segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto, a Constituição, quanto ao sistema, pode ser
classificada em principiológica ou preceitual. Conforme anotou Guilherme Peña de
Moraes, na principiológica “... predominam os princípios, identificados como normas
constitucionais providas de alto grau de abstração, consagradores de valores, pelo que é
necessária a mediação concretizadora, tal como a Constituição brasileira”.
Por seu turno, na preceitual “... prevalecem as regras, individualizadas como normas
Constitucionais revestidas de pouco grau de abstração, concretizadoras de princípios,
Pelo que é possível a aplicação coercitiva, tal como a Constituição mexicana”.
Quanto à função
Quanto à função, as Constituições podem ser classificadas como provisórias ou
Definitivas. Conforme estabelece Jorge Miranda, “chama -se de pré -Constituição,
Constituição provisória ou, sob outra ótica, Constituição revolucionária ao conjunto de
normas com a dupla finalidade de definição do regime de elaboração e aprovação da
Constituição formal e de estruturação do poder político no interregno constitucional, a que
se acrescenta a função de eliminação ou erradicação de resquícios do antigo regime.
Contrapõe -se à Constituição definitiva ou de duração indefinida para o futuro como
pretende ser a Constituição produto final do processo constituinte
Autônomas são as Constituições elaboradas e decretadas dentro do próprio Estado que irão reger. Podemos,
assim, denominá-las, nesse sentido, Constituições autônomas, ou autoconstituições, ou, por que não
homoconstituições (fazendo um contraponto à terminologia proposta por Miguel Galvão Teles).
muito se fala em Constituição -dirigente. Esta seria a Constituição que estabeleceria um plano para dirigir uma
evolução política. Ao contrário da Constituição -balanço que refletiria o presente (o ser), a Constituição -
programa anunciaria um ideal a ser concretizado.
Esta Constituição -dirigente se caracterizaria em consequência de normas programáticas (que para não caírem
no vazio reclamariam a chamada inconstitucionalidade por omissão...). A ideia de Constituição -dirigente é
sobremodo encarecida por juristas de inspiração marxista, como o português Canotilho, que desejam prefigurar
na Constituição a implantação progressiva de um Estado socialista, primeiro, comunista, a final. Exemplo, a
Constituição portuguesa de 1976”.
Fonte