Resumo Direito Constitucional

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

CURSO DE DIREITO
CONSTITUIÇÃO E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
PROFESSOR JOSEMAR ARAÚJO – Josemar.araujo@uva.br
FOLHA DE APOIO 1

1. Classificação do Direito Constitucional


Apesar de colocarmos o Direito Constitucional dentro do ramo do direito público
(fundamental), devemos alertar o leitor que, modernamente, vem sendo dito que o direito é
uno e indivisível, indecomponível. O direito deve ser definido e estudado como um grande
sistema, em que tudo se harmoniza no conjunto. A divisão em ramos do direito é meramente
didática, a fim de facilitar o entendimento da matéria, vale dizer: questão de conveniência
acadêmica.
Aceitando a classificação dicotômica (público e privado), apenas para fins didáticos, dentro
do direito público, poderemos alocar, também (destacando -se a particularidade
fundamental do direito constitucional), o direito administrativo, o urbanístico, o ambiental, o
tributário, o financeiro, o econômico, o penal, o processual, o internacional etc., ao contrário
do direito civil e comercial, que, historicamente, preencheriam a categoria do direito privado
2. A superação da dicotomia “público -privado”
Avançando, por outro lado, modernamente, sobretudo em razão da evidenciação de novos
direitos e das transformações do Estado (de autoritário/absolutista para liberal e de liberal
para social, podendo -se, inclusive, falar em Estado pós -social de direito), cada vez mais
se percebe uma forte influência do direito constitucional sobre o direito privado. Sob essa
perspectiva, especialmente diante do princípio da dignidade da pessoa humana,
fundamento da República Federativa do Brasil e princípio -matriz de todos os direitos
fundamentais (art. 1.º, III, da CF/88), parece mais adequado, então, falar em um direito civil
-constitucional, estudando o direito privado à luz das regras constitucionais e podendo,
inclusive, em muitos casos, reconhecer a aplicação direta dos direitos fundamentais nas
relações privadas (eficácia horizontal dos direitos fundamentais).
Essa situação, qual seja, a superação da rígida dicotomia entre o público e o privado, fica
mais evidente diante da tendência de descodificação do direito civil, evoluindo da
concentração das relações privadas na codificação civil para o surgimento de vários
microssistemas, como o Código de Defesa do Consumidor, a Lei de Locações, a Lei de
Direito Autoral, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, a Lei de
Alimentos, a Lei da Separação e do Divórcio etc. Todos esses microssistemas encontram
o seu fundamento na Constituição Federal, norma de validade de todo o sistema,
Portanto, apesar da “suposta” utilidade didática, parece adequado não mais falarmos em
ramos do direito, e sim em um verdadeiro escalonamento verticalizado e hierárquico das
normas, apresentando -se a Constituição como norma de validade de todo o sistema,
situação essa decorrente do princípio da unidade do ordenamento e da supremacia da
Constituição (força normativa da Constituição.
3. Origens e consequências desta classificação dicotômica
Referida classificação dicotômica pode ser atribuída a Jean Domat (afastando--se daqueles
que a imputam ao Direito Romano), que foi quem separou, pela primeira vez, as leis civis
das leis públicas e cuja obra influenciou a elaboração do Código de Napoleão de 1804,
despertando a denominada “Era da Codificação”, que conferiu ao Código Civil a natureza
de verdadeira “constituição privada”, regulando as relações particulares, as regras sobre
família, a propriedade, o estado civil, a capacidade etc.
4. AS dimensões de Direitos Fundamentais
Surgia então a ideia do dogma da completude, ou seja, de que os Códigos continham toda
a regulamentação das relações privadas, devendo o juiz simplesmente aplicá-las, era a
ideia de liberdade meramente formal perante a lei e de não intervenção do Estado (direitos
de primeira “geração”, ou, mais tecnicamente, de primeira “dimensão”) (absenteísmo
estatal).
Em outro momento, além da classificação dicotômica em ramo de direito público e de direito
privado, a evolução do Estado liberal para o Estado social de direito faz surgir a
necessidade de se reconhecer, ao lado da dicotomia, a categoria dos direitos sociais, cujas
normas de direito do trabalho e de direito previdenciário expressam a manifestação de um
Estado prestacionista, intervencionista e realizador da chamada justiça distributiva (esses
novos direitos, chamados de segunda geração ou dimensão, surgem, pela primeira vez, na
Constituição brasileira de 1934), tendo como marco a Revolução Industrial.
Durante o século XX, consagraram-se as ideias de direitos difusos, direitos individuais
homogêneos e direitos coletivos, conduzindo ao reconhecimento dos direitos de
solidariedade ou fraternidade, percebidos como direitos de segunda dimensão. Esses
últimos costumam ser identificados com os direitos à qualidade de vida e ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.
5. Conceito de Constituição
Existem várias concepções ou acepções a serem tomadas para definir o termo
“Constituição”. Alguns autores preferem a ideia da expressão tipologia dos conceitos de
Constituição em várias acepções.
Sentido sociológico
Valendo -se do sentido sociológico, Ferdinand Lassale, em seu livro “¿Qué es una
Constitución? ”, defendeu que uma Constituição só seria legítima se representasse o efetivo
poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder. Caso isso não ocorresse,
ela seria ilegítima, caracterizando -se como uma simples “folha de papel”. A Constituição,
segundo a conceituação de Lassale, seria, então, a somatória dos fatores reais do poder
dentro de uma sociedade.

Sentido político
Na lição de Carl Schmitt, encontramos o sentido político, que distingue Constituição de lei
constitucional. Constituição “... só se refere à decisão política fundamental (estrutura e
órgãos do Estado, direitos individuais, vida democrática etc.); as leis constitucionais seriam
os demais dispositivos inseridos no texto do documento constitucional, mas não contêm
matéria de decisão política fundamental”. Portanto, pode -se afirmar, em complemento, que,
na visão de Carl Schmitt, em razão de ser a Constituição produto de uma certa decisão
política, ela seria, nesse sentido, a decisão política do titular do poder constituinte.

Sentido material e formal


Constituição também pode ser definida tomando -se o sentido material e formal, critério
este que se aproxima da classificação proposta por Schmitt. Do ponto de vista material, o
que vai importar para definirmos se uma norma tem caráter constitucional ou não será o
seu conteúdo, pouco importando a forma pela qual foi aquela norma introduzida no
ordenamento jurídico. Assim, constitucional será aquela norma que defina e trate das regras
estruturais da sociedade, de seus alicerces fundamentais (formas de Estado, governo, seus
órgãos etc.). Trata -se do que Schmitt chamou de Constituição.
Por outro lado, quando nos valemos do critério formal, que, em certo sentido, também
englobaria o que Schmitt chamou de “lei constitucional”, não mais nos interessará o
conteúdo da norma, mas sim a forma como ela foi introduzida no ordenamento jurídico.
Nesse sentido, as normas constitucionais serão aquelas introduzidas pelo poder soberano,
por meio de um processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e mais solene do que o
processo legislativo de formação das demais normas do ordenamento.
Destacamos uma forte tendência no direito brasileiro de se adotar um critério misto em
razão do art. 5.º, § 3.º, que admite que tratados internacionais de direitos humanos (matéria)
sejam incorporados como emendas, desde que obedeçam a uma forma, qual seja, a um
processo diferenciado de incorporação.
Sentido jurídico
Hans Kelsen é o representante desse sentido conceitual, alocando a Constituição no mundo
do dever ser, e não no mundo do ser, caracterizando -a como fruto da vontade racional do
homem, e não das leis naturais. Para ele, “... Constituição é, então, considerada norma
pura, puro dever -ser, sem qualquer pretensão a fundamentação sociológica, política ou
filosófica. A concepção de Kelsen toma a palavra Constituição em dois sentidos: no lógico
-jurídico e no jurídico -positivo. De acordo com o primeiro, Constituição significa norma
fundamental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da
validade da Constituição jurídico -positiva, que equivale à norma positiva suprema, conjunto
de normas que regula a criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau”.
Figura, no plano lógico -jurídico, prescrevendo a observância do estabelecido na
Constituição e nas demais normas jurídicas do sistema, estas últimas fundamentadas na
própria Constituição. A norma fundamental, hipoteticamente suposta, prescreve a
observância da primeira Constituição histórica.

Sentido culturalista
Nesse sentido, pode -se dizer que a Constituição é produto de um fato cultural, produzido
pela sociedade e que sobre ela pode influir. A concepção culturalista do direito conduz ao
conceito de uma Constituição Total em uma visão suprema e sintética que “... apresenta,
na sua complexidade intrínseca, aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos,
a fim de abranger o seu conceito em uma perspectiva unitária”. Assim, sob o conceito
culturalista de Constituição, “... as Constituições positivas são um conjunto de normas
fundamentais, condicionadas pela Cultura total, e ao mesmo tempo condicionantes desta,
emanadas da vontade existencial da unidade política, e reguladoras da existência, estrutura
e fins do Estado e do modo de exercício e limites do poder político”.

. Constituição aberta
Grande parte dos publicistas vem destacando a ideia de uma Constituição aberta, no
sentido de que ela possa permanecer dentro de seu tempo e, assim, evitar risco de
desmoronamento de sua “força normativa”. (Constituição econômica, Constituição do
trabalho, Constituição social, Constituição cultural).
Elementos integrantes (componentes ou constitutivos) do Estado
A Constituição deve trazer em si os elementos integrantes (componentes ou constitutivos)
do Estado, quais sejam: soberania; finalidade; povo; território.
6. Classificação das constituições
Quanto à origem
De acordo com este critério, as Constituições poderão ser outorgadas, promulgadas ou
cesaristas (ou bonapartistas) e as pactuadas (ou dualistas).
Outorgadas são as Constituições impostas, de maneira unilateral, pelo agente
revolucionário (grupo, ou governante), que não recebeu do povo a legitimidade para em
nome dele atuar. No Brasil, as Constituições outorgadas foram as de 1824 (Império), 1937
(inspirada em modelo fascista, extremamente autoritária — Getúlio Vargas), 1967 (ditadura
militar), sendo que alguns chegam inclusive a mencionar como exemplo de outorga a EC
n. 1/69 (apesar de tecnicamente impreciso). As Constituições outorgadas recebem, por
alguns estudiosos, o “apelido” de Cartas Constitucionais.
Promulgada, também chamada de democrática, votada ou popular, é aquela
Constituição fruto do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita diretamente
pelo povo, para, em nome dele, atuar, nascendo, portanto, da deliberação da representação
legítima popular. Os exemplos são a de 1891 (primeira da República), 1934 (inserindo a
democracia social, inspirada na Constituição de Weimar), 1946 e, finalmente, a atual, de
1988.

Cesarista, não é propriamente outorgada, mas tampouco é democrática, ainda que criada
com participação popular”. É aquela “... formada por plebiscito popular sobre um projeto
elaborado por um Imperador (plebiscitos napoleônicos) ou um Ditador (plebiscito de
Pinochet, no Chile). A participação popular, nesses casos, não é democrática, pois visa
apenas ratificar a vontade do detentor do poder.
A participação popular pode se dar não apenas por plebiscito como, também, na hipótese
de ratificação, por referendo, já que este se caracteriza como instrumento de confirmação
das decisões políticas e governamentais, ou seja, toma--se a decisão para, posteriormente,
levar -se a referendo popular.
Nesse caso, contudo, “... os referendos são utilizados como um instrumento de autocracia
(regime do chefe), e não da democracia, pois geralmente nem todas as correntes
ideológicas participam do debate e não se concede liberdade para uma efetiva discussão
ou para eventual rejeição das propostas”.

Pactuadas, Surgem através de um pacto, são aquelas em que o poder constituinte


originário se concentra nas mãos de mais de um titular. Por isso mesmo, trata -se de
modalidade anacrônica, dificilmente ajustando -se à noção moderna de Constituição,
intimamente associada à ideia de unidade do poder constituinte. Tais Constituições
pactuadas foram bastante difundidas no seio da monarquia estamental da Idade Média

Quanto à forma
Quanto à forma, elas podem ser escritas (instrumental) ou costumeiras (não escritas ou
consuetudinárias). Escrita (instrumental), é a Constituição formada por um conjunto de
regras sistematizadas e organizadas em um único documento, estabelecendo as normas
fundamentais de um Estado. Como exemplo, citamos a brasileira de 1988, a portuguesa, a
espanhola etc.
Costumeira (não escrita), seria aquela Constituição que, ao contrário da escrita, não traz
as regras em um único texto solene e codificado. É formada por “textos” esparsos,
reconhecidos pela sociedade como fundamentais, e baseia -se nos usos, costumes,
jurisprudência, convenções. Exemplo clássico é a Constituição da Inglaterra.

Quanto à extensão
Quanto à extensão podem ser sintéticas (concisas, breves, sumárias, sucintas, básicas) ou
analíticas (amplas, extensas, largas, prolixas, longas, desenvolvidas, volumosas,
inchadas).
Sintéticas seriam aquelas enxutas, veiculadoras apenas dos princípios fundamentais e
estruturais do Estado. Não descem a minúcias, motivo pelo qual são mais duradouras, na
medida em que os seus princípios estruturais são interpretados e adequados aos novos
anseios pela atividade da Suprema Corte. O exemplo lembrado é a Constituição americana,
que está em vigor há mais de 200 anos (é claro, com emendas e interpretações feitas pela
Suprema Corte).
Analíticas, por outro lado, são aquelas que abordam todos os assuntos que os
representantes do povo entenderem fundamentais. Normalmente descem a minúcias,
estabelecendo regras que deveriam estar em leis infraconstitucionais, como, conforme já
mencionamos, o art. 242, § 2.º, da CF/88, que dispõe que o Colégio Pedro II, localizado na
cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. Assim, o clássico exemplo é a
brasileira de 1988.

Quanto ao conteúdo
Materialmente constitucional será aquele texto que contiver as normas fundamentais e
estruturais do Estado, a organização de seus órgãos, os direitos e garantias fundamentais.
Como exemplo Pedro Lenza cita a Constituição do Império do Brasil, de 1824, que, em seu
art. 178, prescrevia ser constitucional somente o que dissesse respeito aos limites e
atribuições respectivos dos poderes políticos e aos direitos políticos e individuais dos
cidadãos; tudo o que não fosse constitucional poderia ser alterado, sem as formalidades
referidas (nos arts. 173 a 177), pelas legislaturas ordinárias.

Formal, por seu turno, será aquela Constituição que elege como critério o processo de sua
formação, e não o conteúdo de suas normas. Assim, qualquer regra nela contida terá o
caráter de constitucional. A brasileira de 1988, segundo Lenza, é formal. Cabe observar (e
este tema ainda não está fechado) que, com a introdução do § 3.º no art. 5.º, pela EC n.
45/2004, passamos a ter uma espécie de conceito misto, já que a nova regra só confere a
natureza de emenda constitucional (norma formalmente constitucional) aos tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos (matéria), desde que observadas as
formalidades de aprovação (forma).

Quanto ao modo de elaboração


Quanto ao modo de elaboração as Constituições poderão ser dogmáticas ou históricas.
Dogmáticas, sempre escritas, consubstanciam os dogmas estruturais e fundamentais do
Estado, assim, partem de teorias preconcebidas, de planos e sistemas prévios, de
ideologias bem declaradas, de dogmas, políticos... São elaboradas de um só jato,
reflexivamente, racionalmente, por uma Assembleia Constituinte”. Como exemplo,
destacamos a brasileira de 1988.

Históricas, constituem -se através de um lento e contínuo processo de formação, ao longo


do tempo, reunindo a história e as tradições de um povo. Aproximam -se, assim, da
costumeira e têm como exemplo a Constituição inglesa.

Quanto à alterabilidade
As Constituições poderão ser rígidas, flexíveis (também chamadas de plásticas, segundo a
denominação de Pinto Ferreira) e semirrígidas (ou semiflexíveis). Alguns autores ainda
lembram as fixas ou silenciosas, as transitoriamente flexíveis, as imutáveis (permanentes,
graníticas ou intocáveis) e as super -rígidas.

Rígidas são aquelas Constituições que exigem, para a sua alteração um processo
legislativo mais árduo, mais solene, mais dificultoso do que o processo de alteração das
normas não constitucionais. Pedro Lenza destaca que, à exceção da Constituição de 1824
(considerada semirrígida), todas as Constituições brasileiras foram, inclusive a de 1988,
rígidas!
A rigidez constitucional da CF/88 está prevista no art. 60, que, por exemplo, em seu § 2.º
estabelece um quorum de votação de 3/5 dos membros de cada Casa, em dois turnos de
votação, para aprovação das emendas constitucionais. Em contraposição, apenas para
aclarar mais a situação lembrada, a votação das leis ordinárias e complementares dá -se
em um único turno de votação (art. 65), com quorum de maioria simples (art. 47) e absoluta
(art. 69), respectivamente para lei ordinária e complementar.

Flexível é aquela Constituição que não possui um processo legislativo de alteração mais
dificultoso do que o processo legislativo de alteração das normas infraconstitucionais. Vale
dizer, a dificuldade em alterar a constituição é a mesma encontrada para alterar uma lei
que não é constitucional. Nesse sentido, do ponto de vista formal, devemos observar que,
em se tratando de constituição flexível, não existe hierarquia entre constituição e lei
infraconstitucional, ou seja, uma lei infraconstitucional posterior altera texto constitucional
se assim expressamente o declarar, quando for com ele incompatível, ou quando regular
inteiramente a matéria de que tratava a Constituição.

Semiflexível ou semirrígida é aquela Constituição que é tanto rígida como flexível, ou seja,
algumas matérias exigem um processo de alteração mais dificultoso do que o exigido para
alteração das leis infraconstitucionais, enquanto outras não requerem tal formalidade. O
exemplo sempre lembrado é o da Constituição Imperial de 1824, que, em seu art. 178, dizia:
“É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e atribuições respectivas dos Poderes
Políticos, e aos Direitos Políticos, e individuais dos Cidadãos. Tudo, o que não é
constitucional, pode ser alterado, sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas
ordinárias.

As fixas, “... são aquelas que somente podem ser alteradas por um poder de competência
igual àquele que as criou, isto é, o poder constituinte originário. São conhecidas como
constituições silenciosas, porque não estabelecem, expressamente, o procedimento
para sua reforma. Têm valor apenas histórico, sendo exemplos destas Constituições o
Estatuto do Reino da Sardenha, de 1848, e a Carta Espanhola de 1876”.

Para Bulos, as Constituições transitoriamente flexíveis “... são as suscetíveis de


reforma, com base no mesmo rito das leis comuns, mas apenas por determinado período;
ultrapassado este, o documento constitucional passa a ser rígido. Nessa hipótese, o
binômio rigidez/flexibilidade não coexiste simultaneamente. Apresenta –se de modo
alternado...”. Como exemplo, o autor lembra a Constituição de Baden de 1947 e a Carta
irlandesa de 1937 durante os primeiros três anos de vigência.

Imutáveis seriam aquelas Constituições inalteráveis, verdadeiras relíquias históricas e que


se pretendem eternas, sendo também denominadas permanentes, graníticas ou intocáveis.
Finalmente, segundo Alexandre de Moraes, a brasileira de 1988 seria exemplo de
Constituição super -rígida, já que, além de possuir um processo legislativo diferenciado
para a alteração de suas normas (rígida), excepcionalmente, algumas matérias apresentam
-se como imutáveis (cláusulas pétreas, art. 60, § 4.º).

Quanto à sistemática (
Valendo -se do critério sistemático, Pinto Ferreira divide as Constituições em
Reduzidas (ou unitárias) e variadas. Reduzidas seriam aquelas que se materializariam
em um só código básico e sistemático, como as brasileiras (Variadas seriam aquelas que
se distribuiriam em vários textos e documentos esparsos, sendo formadas de várias leis
constitucionais, destacando -se a belga de 1830 e a francesa de 1875.

Quanto à dogmática
No tocante à dogmática, Pinto Ferreira, valendo -se do critério ideológico e lembrando
as lições de Paulino Jacques, identifica tanto a Constituição ortodoxa como a eclética.
A ortodoxa é aquela formada por uma só ideologia, por exemplo, a soviética de 1977, hoje
extinta, e as diversas Constituições da China marxista. Por sua vez, eclética seria aquela
formada por ideologias conciliatórias, como a brasileira de 1988 ou a da Índia de 1949.
Nessa linha, alguns autores aproximam a eclética da compromissória.

Quanto à correspondência com a realidade


Karl Loewenstein distinguiu as Constituições normativas, nominalistas (nominativas ou
nominais) e semânticas. Trata -se do critério ontológico, que busca identificar a
correspondência entre a realidade política do Estado e o texto constitucional. Segundo Pinto
Ferreira, “as Constituições normativas são aquelas em que o processo de poder está de tal
forma disciplinado que as relações políticas e os agentes do poder subordinam -se às
determinações do seu conteúdo e do seu controle procedimental. As Constituições
nominalistas contêm disposições de limitação e controle de dominação política, sem
ressonância na sistemática de processo real de poder, e com insuficiente concretização
constitucional. Enfim, as Constituições semânticas são simples reflexos da realidade
política, servindo como mero instrumento dos donos do poder e das elites políticas, sem
limitação do seu conteúdo.

Enquanto nas Constituições normativas a pretendida limitação ao poder seimplementa


na prática, havendo, assim, correspondência com a realidade, nas nominalistas busca -se
essa concretização, porém, sem sucesso, não se conseguindo uma verdadeira
normatização do processo real do poder. Por sua vez, nas semânticas nem sequer se tem
essa pretensão, buscando -se conferir legitimidade meramente formal aos detentores do
poder, em seu próprio benefício.

Quanto ao sistema
Segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto, a Constituição, quanto ao sistema, pode ser
classificada em principiológica ou preceitual. Conforme anotou Guilherme Peña de
Moraes, na principiológica “... predominam os princípios, identificados como normas
constitucionais providas de alto grau de abstração, consagradores de valores, pelo que é
necessária a mediação concretizadora, tal como a Constituição brasileira”.
Por seu turno, na preceitual “... prevalecem as regras, individualizadas como normas
Constitucionais revestidas de pouco grau de abstração, concretizadoras de princípios,
Pelo que é possível a aplicação coercitiva, tal como a Constituição mexicana”.

Quanto à função
Quanto à função, as Constituições podem ser classificadas como provisórias ou
Definitivas. Conforme estabelece Jorge Miranda, “chama -se de pré -Constituição,
Constituição provisória ou, sob outra ótica, Constituição revolucionária ao conjunto de
normas com a dupla finalidade de definição do regime de elaboração e aprovação da
Constituição formal e de estruturação do poder político no interregno constitucional, a que
se acrescenta a função de eliminação ou erradicação de resquícios do antigo regime.
Contrapõe -se à Constituição definitiva ou de duração indefinida para o futuro como
pretende ser a Constituição produto final do processo constituinte

Quanto à origem de sua decretação


: heterônomas (heteroconstituições) X autônomas (“autoconstituições” ou
“homoconstituições”) Quando surge um novo Estado, ou o Estado que já existia restaura -
se, ou sofre radical transformação de sua estrutura, essa nova manifestação atrela -se a
uma Constituição material que já vem acompanhada da Constituição formal, ou que passa
a ter uma Constituição formal estabelecida em momento seguinte.
A doutrina identifica Constituições que foram decretadas de fora do Estado por outro (ou
outros) Estados(s) ou por organizações internacionais. São as constituições heterônomas.
Conforme anota Jorge Miranda, além da raridade, causam certa perplexidade, dando como exemplo: “...
algumas das Constituições, ou das primeiras Constituições, dos países da Commonwealth aprovadas por leis
do Parlamento britânico (Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Jamaica, Maurícia, etc.), a primeira Constituição
da Albânia (obra de uma conferência internacional, de 1913) ou a Constituição ou a Constituição da Bósnia
-Herzegovina (após os chamados acordos de Dayton de 1995)”.

Autônomas são as Constituições elaboradas e decretadas dentro do próprio Estado que irão reger. Podemos,
assim, denominá-las, nesse sentido, Constituições autônomas, ou autoconstituições, ou, por que não
homoconstituições (fazendo um contraponto à terminologia proposta por Miguel Galvão Teles).

Constituições garantia, balanço e dirigente (Manoel Gonçalves Ferreira


Filho)
A Constituição garantia busca garantir a liberdade, limitando o poder; a balanço reflete um degrau de
evolução socialista e a dirigente estabelece um projeto de Estado (ex.: portuguesa). Segundo Manoel
Gonçalves Ferreira Filho, “modernamente, é frequente designar a Constituição de tipo clássico de Constituição
-garantia, pois esta visa a garantir a liberdade, limitando o poder. Tal referência se desenvolveu pela
necessidade de contrapô -la à Constituição -balanço. Esta, conforme a doutrina soviética que se inspira em
Lassalle, é a Constituição que descreve e registra a organização política estabelecida. Na verdade, segundo
essa doutrina, a Constituição registraria um estágio das relações de poder. Por isso é que a URSS, quando
alcançado novo estágio na marcha para o socialismo, adotaria nova Constituição, como o fez em 1924, 1936 e
em 1977. Cada uma de tais Constituições faria o balanço do novo estágio. Hoje mui

muito se fala em Constituição -dirigente. Esta seria a Constituição que estabeleceria um plano para dirigir uma
evolução política. Ao contrário da Constituição -balanço que refletiria o presente (o ser), a Constituição -
programa anunciaria um ideal a ser concretizado.

Esta Constituição -dirigente se caracterizaria em consequência de normas programáticas (que para não caírem
no vazio reclamariam a chamada inconstitucionalidade por omissão...). A ideia de Constituição -dirigente é
sobremodo encarecida por juristas de inspiração marxista, como o português Canotilho, que desejam prefigurar
na Constituição a implantação progressiva de um Estado socialista, primeiro, comunista, a final. Exemplo, a
Constituição portuguesa de 1976”.

Constituições liberais (negativas) e sociais (dirigentes)


conteúdo ideológico das Constituições André Ramos Tavares propõe outra classificação, levando em conta
o conteúdo ideológico das Constituições, classificando -as em liberais (ou negativas) e sociais (ou
dirigentes).
Raul Machado Horta inscreve a brasileira de 1988 no grupo das Constituições expansivas. Para o ilustre
autor, “a expansividade da Constituição de 1988, em função dos temas novos e da ampliação conferida a
temas permanentes, como no caso dos Direitos e Garantias Fundamentais, pode ser aferida em três planos
distintos:” conteúdo anatômico e estrutural da Constituição; comparação constitucional interna
e comparação constitucional externa.

A Constituição Brasileira de 1988


singulariza -se por ser: promulgada, escrita, analítica, formal (cf. nova perspectiva classificatória
decorrente do art. 5.º, § 3.º, introduzido pela EC n. 45/2004, dogmática, rígida, reduzida, eclética,
pretende ser normativa, principiológica, definitiva (ou de duração indefinida para o futuro), garantia,
dirigente, social e expansiva.

Fonte

LENZA. Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2017.

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