Resenha A Missao

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Análise do filme “A missão” e a


perseguição política dos jesuítas

Lucas Moreira

A Missão. Direção: Roland Joffé. Reino Unido. Flashstar, 1986. Rmvb. (126
min.)

No ano de 1773, o então Papa Clemente XIV promulgou o documento


que extinguia a Companhia de Jesus por completo. Entretanto, antes mesmo
desta data, as missões jesuítas sofriam, incessantes vezes, com variadas
perseguições e até ataques dos portugueses nos territórios brasileiros. Por
volta de 1759, as missões jesuítas já não mais existiam no Brasil. Nesta
resenha, analisaremos as perseguições aos jesuítas principalmente pelo
governo português e as causas políticas que fizeram Marquês de Pombal a ser
tornar um dos principais perseguidores desta Companhia a partir do filme “A
Missão”, de 1986.
“A Missão” é um filme dirigido por Roland Joffé, em 1986, e se passa
nas fronteiras entre Brasil, Paraguai e Argentina, no ano de 1750. O filme trata
sobre uma das últimas missões jesuíticas no Brasil, a missão de São Miguel,
incendiada pelos portugueses nesta mesma década por ordens do secretário
de Estado do reino de Portugal, Sebastião José de Carvalho e Melo, então
Marquês de Pombal. O filme apresenta como contexto histórico central o
evento conhecido como a guerra guaranítica.
Em 1750, Portugal e Espanha assinam o Tratado de Madrid, em que
dividiam novamente seus limites territoriais na América do sul, uma vez que
tais limites foram desobedecidos diversas vezes, rompendo com o então
Tratado de Versalhes. A discussão sobre a permanência da missão de São
Miguel sob o poder da Igreja é o que levará o padre jesuíta Gabriel (Jeremy
Irons) a luta pelo aldeamento. Juntamente com um antigo mercenário de
escravos, Rodrigo Mendonza (Robert De Niro) que mais tarde se tornaria um
jesuíta (como remissão e arrependimento após matar seu irmão em duelo),
ambos levam o caso a Altamirano (Ray McAnally), representante da Igreja, que
julgaria as denúncias da inutilidade das missões jesuítas, embora seu destino
já estivesse há muito decidido pelos interesses econômicos dos Estados de
Portugal e Espanha.
Após visitar as missões, de São Carlos e São Miguel, a Eminência
(Altamirano) decide que os índios daquele aldeamento deveriam voltar às suas
antigas locações. Entretanto, o padre Gabriel explica que os territórios das
missões eram os únicos em que mercadores e mercenários portugueses não
podiam invadir para sequestrar índios para fazê-los de escravos. Neste
momento, encontramos uma das principais causas para a eliminação dos
jesuítas: o tráfico de índios para o trabalho escravo entre portugueses e
espanhóis, era um comércio lucrativo, principalmente para Portugal, uma vez
que para Espanha, todos que estavam sob seu poder eram considerados
súditos, sendo, portanto, proibido a escravidão daqueles índios que estavam
sob o império espanhol. Desta forma, o território sob o poder de Portugal
garantia a fluidez desse comércio de escravos.
Uma vez que a Companhia de Jesus crescia cada vez mais
economicamente e territorialmente, crescia também sua ameaça ao comércio
português. Ainda que no filme, padre Gabriel acredite que as razões para a
perseguição aos jesuítas era o medo de que a Igreja tinha acerca do poder do
evangelho, isto porque muitos padres relatavam serem os aldeamentos como
“um novo paraíso”, e que, portanto, o paraíso que se buscava após a morte
estaria ameaçado, a Eminência representante da Igreja deixa claro que as
razões que levariam à extinção da missão era a satisfação dos impérios de
Portugal e Espanha, e não de Deus.
O filme termina com a completa destruição da missão de São Miguel
juntamente com todos os índios que por ela lutaram e os padres que ali
permaneceram. Este episódio representa, também, a perseguição pombalina
aos jesuítas, uma vez que se fortaleciam cada vez mais economicamente,
tornando-se uma ameaça para o comércio português. Seu crescimento se
tornava, também, um impedimento para o tráfico de índios como escravos, uma
vez que grande parte dos índios se encontrava em aldeamentos e estavam a
serviço das ordens jesuíticas.
Esta resenha não apresenta as missões jesuítas como um ponto de
refúgio e libertação para os índios colonizados, como algumas vezes se poder
sentir no filme, entretanto, se preocupa em apresentar que as perseguições
sofridas por essa ordem existiram, e encontra suas explicações em diversos
interesses políticos e econômicos entre os Estados de Portugal e Espanha.
Assim, o filme apresenta de maneira romantizada e certamente poética, a
ameaça, a perseguição e a destruição das missões jesuítas no Brasil, e mais
ainda, o enfraquecimento da Igreja diante o governo de Pombal e o poder dos
Estados europeus.

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