005 - Diáteses em Homeopatia

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DIÁTESES EM HOMEOPATIA – MIASMAS - PSORA –

SICOSE – LUETISMO – TUBERCULINISMO -


CANCERINISMO

Diátese é o conceito actual que além de englobar a doença


crónica resultante de acção miasmática a que se refere
Hahnemann, enquadra o conceito de modo reaccional
patológico – diátese é um conceito que surgiu com a Escola
Pluralista, correspondendo à doença hahnemanniana
crónica.
“Emanações que outrora eram consideradas, erradamente,
como causadoras de doenças e que provinham de detritos
orgânicos em decomposição ou de doenças infecto-
contagiosas e cujos efeitos se podem assemelhar, em
parte, à acção microbiana no organismo”.

Embora esta seja a definição de miasmas, que


comummente se pode encontrar num dicionário, a
realidade doutrinária homeopática subjacente ao conceito é
muito mais vasta do que aquela que a mera descrição
linguística pode denunciar. Efectivamente, Hahnemann
empregava o termo miasma no mesmo sentido em que ele
é definido actualmente, mas a sua conceptualização do
fenómeno miasmático era bastante mais abrangente do
que a priori se pode pensar.

Das palavras do Organon pode depreender-se, que para


Hahnemann, miasmas são estigmas de infecções contraídas
e suprimidas num passado remoto pelos nossos ancestrais.
Estes estigmas são perpetuados pela linha genética,
condicionando o modo reaccional de um organismo, que
pode apresentar uma predisposição particular para contrair
certas doenças e manifestar determinada realidade
sintomática. Este eminente fundador homeopata,

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desconhecendo os actuais conceitos de genética,
microbiologia, virologia e bacteriologia, desenvolveu um
corpo doutrinário capaz de explicar a perpetuação na
linhagem genética de marcas resultantes de infecções
bacteriológicas, e explica inclusivamente, as micromutações
cromossómicas que sofremos ao longo das décadas ou
séculos e que reflectem as adaptações aos meios
patológicos. Na realidade é mais fácil perceber as
inequívocas macromutações – adaptações – aparentemente
estáveis, que a nossa espécie sofreu ao longo de milénios,
do que as transformações que os seres experimentam num
espaço de tempo circunscrito a algumas décadas ou
séculos.

Traduz-se assim, numa modalidade reaccional patológica


específica dum indivíduo face a uma agressão patogénica
indiferenciada. Crê-se actualmente que o conceito de
miasma hahnemanniano se encontra ultrapassado -
principalmente devido às recentes concepções das Escolas
Pluralistas que o consideram lacunar –, devido ao facto de
este não englobar uma série de factores etiológicos de
carácter endógeno, nomeadamente a hereditariedade e a
adaptação dos genes humanos. Erradamente, esta
perspectiva actual resulta de interpretações restritivas da
obra de Hahnemann: da leitura atenta do capítulo do
Organon referente aos miasmas, depreende-se que
Hahnemann acreditava numa perpetuação dos efeitos
miasmáticos. O § 81 do Organon denuncia que Hahnemann
não descurou – embora não conhecesse – o conceito de
hereditariedade e de micromutação dos genes nos
organismos vivos face a agentes patogénicos exógenos.

Deve referir-se, que a remoção da superfície do organismo


das manifestações de uma doença miasmática interna,
deixando o miasma por curar, é a forma mais usual e
prolífica de produzir doenças crónicas – Organon §

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202/205. A supressão de um eczema na criança pode
conduzir a ulteriores crises asmáticas.

Hahnemann defendia que não se devia aplicar nas


enfermidades locais, crónicas ou agudas, externamente,
qualquer remédio, nem mesmo o homeopático correcto
(Organon § 194; § 195). Este conceito hahnemanniano,
embora teoricamente correcto, deve ser interpretado à
medida da experiência clínica do homeopata, dos efeitos
das diversas substâncias ou remédios no organismo, da
patologia em causa ou da idiossincrasia do enfermo. A
aplicação tópica de uma pomada de Arnica para um
traumatismo físico recente, dificilmente terá complicações
no organismo do paciente.

A doença crónica progride do exterior para o interior, do


baixo para o alto e os sintomas desaparecem na ordem
inversa do seu aparecimento.

Hahnemann, constatou que alguns doentes tratados


convenientemente com o remédio simillimum:

tinham apenas leves melhorias;

tinham recaídas;

eram acossados por novas patologias – não confundir esta


situação com aquela que pode surgir com administração do
simillimum imperfeito. Aqui, o paciente é acometido por
novas patologias e não por sintomas acessórios.

Daqui deduziu que subjacente à patologia aguda teria que


existir uma crónica, que englobou em categorias diatésicas,
verdadeiras disposições latentes, de causa hereditária ou
adquirida, condicionantes do modo de reagir de um
organismo, predispondo-o a contrair um certo número de
doenças.

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Assim, os doentes cujas patologias não respondessem
satisfatoriamente ao simillimum, deveriam ser enquadrados
naquelas categorias para efeitos de tratamento – cada uma
das categorias engloba os pacientes cuja reacção patológica
é análoga, independentemente do agente agressor.

Atente-se que a noção de doença crónica, não foi


unanimemente aceite. Homeopatas como Kent e Hering,
não lhe atribuíram grande importância, desenvolvendo
todos os seus esforços na tentativa de descoberta
do simillimum aplicável às situações patológicas imediatas
do paciente em observação.

Gibson Miller, aluno de Kent, sustentou a necessidade de


serem administrados sucessivamente diversos remédios,
com o fim das doenças crónicas atingirem a cura.

Se no decurso de uma doença crónica surgir uma doença


aguda banal, deve ser prescrito o remédio mais indicado,
mas em baixa dinamização, de forma a não interferir ou
interferir o menos possível com a acção prioritária do
remédio de fundo.

Hahnemann individualizou três categorias:

PSORA, derivada de uma intoxicação crónica – endógena


ou exógena.

SICOSE, como resultado das consequências negativas das


vacinações – v.g. a antivariólica –, blenorragia mal tratada
e de todos os processos mórbidos repetitivos e rebeldes.

LUES ou SÍFILIS, modalidade reaccional do organismo em


face de agentes agressores diversos, caracterizada por
manifestações semelhantes à da infecção provocada

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pelo Treponema pallidum. Nos tempos antigos a sífilis era
considerada a causa da Luese.

Pelos trabalhos de Nebel e Vannier, incluem-se outras


duas:

TUBERCULINISMO, como conjunto de manifestações físicas


e psíquicas, bem como orientações mórbidas gerais
imprimidas ao organismo por uma tuberculose que remonta
a uma ou mais gerações.

CANCERINISMO, forma nativa que susceptibiliza o


organismo na direcção do risco oncológico.

Existindo um número considerável de remédios diatésicos,


o terapeuta terá de procurar nas suas patogenesias os
sintomas do quadro patológico apresentado pelo doente e
obtido com recursos que não se limitam aos sinais
recentes.

Ao lado de Sulfur, os medicamentos principais da PSORA


são: Arsenicum Album, Lycopodium e Nux Vomica. A
Calcarea Carbonica é o medicamento constitucional e o
nosodo é o Psorinum. (Constituição é um conceito
essencialmente pluralista).

Ao lado da Thuya – a Thuya é a SICOSE; a Sicose é a


Thuya –, Dulcamara e Natrum Sulfuricum. O constitucional
é a Calcarea Carbonica e o nosodo é o Medorrhinum.

Para a LUESE temos como principais ao lado de Mercurius


Solubilis: Argentum Nitricum, Lachesis e Phytolacca. O
constitucional é Calcarea Fluorica e o nosodo é o Luesinum.

No TUBERCULINISMO, encontramos Phosphorus, Natrum


Muriaticum, Pulsatilla e Sépia. O constitucional é a Calcarea
Phosphorica e o nosodo é o Tuberculinum.

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A série CANCERÍNICA é a mais recente e não está bem
definida. O nosodo é o Carcinosinum. Os três grandes
cancerínicos são: Thuya, Conium e Hydrastis.

É aqui de vital importância a anamnese e o simillimum terá


de estender a sua acção, quer aos sintomas imediatos quer
aos mediatos – os que constituem o modo reaccional
daquele paciente –. Numa doença crónica, a totalidade dos
sintomas, compreende os existentes desde o nascimento,
excluindo os que se apresentem como estruturadores de
um quadro agudo.

Em regra, o simillimum terá propriedades de cura quer no


agudo, quer no crónico, mas quando tal não aconteça,
terão de se receitar sucessivamente vários medicamentos,
em consonância com a reavaliação constante do paciente e
da patologia. Mas apenas um de cada vez. Recordamos que
as Escolas Pluralistas preconizam a utilização simultânea de
vários medicamentos e que as Complexistas misturam
várias substâncias na mesma solução excipiente. Embora a
prática clínica possa indicar a existência de resultados
favoráveis mediante a particular prescrição terapêutica
destas duas Escolas, aconselhamos a que os princípios
basilares da homeopatia sejam inteiramente respeitados,
até que a experiência clínica pessoal alicerçada os conteste.

É importante frisar que todos nós somos polidiatésicos – as


diáteses puras ou quase puras só surgem em pediatria – e
as diáteses devem ser tratadas na ordem cronológica
inversa ao seu aparecimento: primeiro a mais recente,
depois a seguinte em antiguidade e assim sucessivamente.

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Se constatarmos uma determinada diátese actual, a sua
cura fará com que surjam os sinais da diátese ou diáteses
mais antigas. Estas devem ser tratadas em ordem
sucessiva com o respectivo simillimum, até ao
desaparecimento integral de todos os sintomas.
Cada paciente, individualmente considerado, exibe apenas
uma parte total dos sintomas que constituem a extensão
total da diátese, extensão esta que foi obtida pela
observação de muitos pacientes acometidos dessa “doença
crónica”.
No domínio das diáteses, para além dos medicamentos de
referência, crê-se que exerçam um papel fundamental os
nosodos, policrestos de acção quer geral, quer local –
Psorinum, Medorrhinum, Luesinum, Tuberculinum e
Carcinosinum.

Os nosodos são produtos patológicos tecidulares ou


extraídos de secreções mórbidas de origem vegetal, animal
ou humana, diluídos e dinamizados segundo as técnicas da
farmácia homeopática, administrados a partir da 6ª diluição
decimal.
Os métodos bioterápicos foram desenvolvidos em França,
paralelamente à homeopatia.

O Psorinum é a diluição da substância sero-purulenta


contida na vesícula da sarna.

O Medorrhinum é a diluição da secreção purulenta


blenorrágica.

O Luesinum é o lisado das serosidades treponémicas de


cancros primitivos.

O Tuberculinum é a tuberculina bruta obtida


da mycobacterium tuberculosis.

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O Carcinosinum é preparado a partir de nódulos
cancerosos, particularmente do seio – adverte-se que não é
um remédio do cancro, mas da diátese cancerínica.

É necessário reconhecer que apenas uma pequena parte


dos bioterápicos podem ser considerados medicamentos
homeopáticos, porquanto a maioria carece de
experimentação, de patogenesia. Entre os que assim são
reconhecidos, estão os supramencionados.

Já referimos o medicamento constitucional de cada uma


das diáteses:

Psora – Calcarea Carbonica;

Sicose – Calcarea Carbonica;

Lues - Calcarea Fluorica;

Tuberculinismo – Calcarea Phosphorica.

As CONSTITUIÇÕES – o conceito de constituição tem o seu


domínio praticamente limitado à Escola Pluralista –,
carbónica, fosfórica e fluórica, que são uma constante dos
indivíduos, foram estudadas por Nebel e são determinadas
pela observação do esqueleto e da forma do corpo.

O carbónico apresenta formas arredondadas e o antebraço


apresenta na posição de repouso, relativamente ao braço,
um ângulo inferior a 180º.

O fosfórico é um longílineo, grande e magro. O antebraço


está exactamente no prolongamento do braço.

O fluórico é um longílineo ou brevílineo, com o rosto e o


corpo dissimétricos, decorrentes de deformações
esqueléticas. Os dentes estão mal implantados. O
antebraço apresenta relativamente ao braço, um ângulo
superior a 180º.

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Expomos a seguir, ainda que sumariamente, os principais
sinais e sintomas das várias diáteses, de forma a que o
homeopata possa expeditamente subsumir-lhes o quadro
clínico apresentado pelo doente sujeito a observação – para
o estudo desta matéria, é fundamental a obra: “As diáteses
homeopáticas”, de Max Tétau, Editora Andrei, 1998 – veja-
se ainda o desenvolvimento da mesma, no nosso livro
Homeopatia Essencial.

PSORA

A psora resulta na sua base conceptual Hahnemaniana, das


sarnas cutâneas. Estas abundavam na época e
encontravam-se mal definidas clinicamente. Deste modo, a
psora não resulta exclusivamente da sarna mas também
de toda uma série de enfermidades dermatológicas –
eczemas, dermatoses, dermatites, micoses, etc.
Este grande miasma, comporta assim uma componente
cutânea, seja ela adquirida ou congénita.

No que respeita ao quadro sintomático e de sinais clínicos


psóricos:

Dermatologicamente apresentam-se manifestações mais ou


menos intensas do miasma psórico. O simples prurido é um
sintoma da psora.

Sintomatologia respiratória, crónica, alternada e com


periodicidade.

Termoregulação alterada.

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A presença de sintomatologia pertencente ao aparelho
digestivo. Obstipação, funcionamento intestinal
comprometido, desejo de açúcares e alterações do apetite.

Todas as secreções e excreções apresentam um odor forte


e desagradável.

Problemas das faneras, especialmente das unhas.

Problemas ginecológicos – prurido vulvar, leucorreias


nauseabundas e irritantes.

Propensão a parasitoses.

Astenia e tristeza exacerbadas.

Modalidades:

Agrava pelo frio ou pelo calor.

Agravamento com o tipo de Lua – cheia, nova, quarto


minguante.

SICOSE

A sicose resulta da evolução crónica de uma gonorreia. O


conceito de sicose além de se enquadrar no quadro
patológico da blenorragia, ultrapassava os seus limites e
englobava qualquer tipo de tumoração benigna.

Os principais sinais e sintomas clínicos são:

Corrimentos genitais.

Diarreias de cor esverdeada.

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Sudação exacerbada.

Exsudação rinofaríngea e do aparelho respiratório.

Neoformações cutâneas.

Tumoração volumosa, lenta, regular e benigna.

Aumento de peso.

Ruminação de pensamentos, angústia e mau humor.


Quadros fóbicos, especialmente o receio de neoplasias.
Ideias fixas e sensações corporais bizarras.

Agravamento das enfermidades pela humidade,


especialmente pelo frio húmido.

Dores articulares.

Ingestão exagerada de chás.

Modalidades:

Agrava mediante todas as formas de humidade.

Má reacção à vacinação.

Agrava por certos alimentos – chá, café, cebola.

Melhora com a secura e o calor.

Melhora com eliminações líquidas.

LUETISMO OU MIASMA SIFILÍTICO

Hahnemann descreveu-a originalmente como sífilis visto


resultar etiologicamente de uma infecção pelo Treponema
Pallidum. A Lues – como é conhecida actualmente – reflecte
a evolução de uma doença pelo chamado “cancro duro”.
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Sinais e sintomas da Lues:

Instabilidade de carácter com distúrbios da actividade e


agitação.

Condutas obsessivas.

Insónias.

Exacerbação das secreções que atinge os diversos


aparelhos.

Algias ósseas insustentáveis.

Ulcerações associadas aos diferentes aparelhos.

Progressão regular da hipertensão arterial severa.

Varizes e úlceras varicosas.

Amigdalites, anginas recidivantes e repetidas,


parodontoses.

Dissimetrias morfológicas evidentes.

Modalidades:

Agravamento geral de todas as patologias à noite.

Melhoria geral na montanha.

TUBERCULINISMO

Esta é uma diátese actual, identificada por Nebel e Léon


Vannier. É fruto da tuberculose e os seus órgãos alvos são
os respeitantes ao aparelho respiratório.

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Principais sinais e sintomas da diátese tuberculínica:

Sensibilidade reactiva aumentada a todas as agressões do


aparelho respiratório.

Insuficiência respiratória.

Desmineralização global – dores dorsais frequentes,


magreza apesar do apetite voraz, esgotamento físico e
intelectual rápidos, agitação permanente.

Variação extrema de todos os sintomas, sejam físicos ou


mentais.

Cefaleias frequentes.

Apetite intenso.

Disfunções cardíacas – nomeadamente, hipotensão,


taquicardias, precordialgias.

Diarreias fáceis.

Hipersexualidade.

Fluxo menstrual abundante.

Algias articulares.

Congestão venosa periférica.

Sudação profusa.

Cistalgias e cistites frequentes no sexo feminino.

Tosse fraca e frequente.

Tendência hemorrágica.

Ataques febris inesperados.

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CANCERINISMO

Esta diátese é fruto de estudos recentes e caracteriza-se


como um modo reaccional que pende sobre o risco da
oncogénese.

Como principais sinais e sintomas clínicos desta diátese


temos:

Propensão à formação de nódulos inflamatórios – próstata,


gânglios, útero, cólon, seios.

Dores que queimam, lancinantes, repetitivas, localizadas


nos processos inflamatórios.

Falência da energia vital – fadiga e tristeza profundas,


emagrecimento lento, frio excessivo.

Alterações do aparelho digestivo – ardor e sensação de


queimadura na boca, ardor no estômago, dores que
queimam e cãibras abdominais, hemorróidas permanentes.

Afecções pulmonares, renais e geniturinárias.

Alterações de monta na pele.

Modalidades:

Agrava pelo frio, pelas alimentações excessivamente ricas e


por um esforço mental excessivo e constante.

Melhora com um clima ameno e temperado, alimentação


desintoxicante e pelo repouso.

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Expostas as diáteses homeopáticas, fazemos um reparo a
respeito da sua utilização na prática homeopática.

Efectivamente, a sua importância clínica não deve ser


descurada de modo algum, mas o modo como se efectua a
terapêutica nalguns casos conhecidos deixa muito a
desejar.
A prescrição de nosodos ou de qualquer remédio diatésico
deve ser sempre precedida por um estudo profundo, que
tome em linha de conta as leis da similitude.

José Maria Alves

https://homeoesp.org/

https://josemariaalves.blogspot.com/

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