Resumo Sobre As Teorias Das Relações Internacionais
Resumo Sobre As Teorias Das Relações Internacionais
Resumo Sobre As Teorias Das Relações Internacionais
Realismo e Neorrealismo
A rigor, não se pode falar em origem das relações internacionais nem em
teorias absolutamente homogêneas. Tradicionalmente, porém, se considera
que o primeiro esforço sistematizado em pensar as relações internacionais
ocorreu em 1917 com a fundação na Escócia do primeiro departamento de
Relações Internacionais da história. Pensando numa forma de evitar os males
da guerra (tendo em vista os desastres da Primeira Guerra Mundial) os
cientistas dessa escola debateram formas de normatizar as relações
internacionais. Na véspera do início da Segunda Guerra Mundial, contudo, um
estudioso chamado Edward Carr criticou pela primeira vez os postulados
desses primeiros cientistas em seu livro Vinte Anos de Crise, denominando-os
como idealistas, por pensarem o mundo na forma como ele deveria ser ao
invés de pensarem o mundo como ele efetivamente era. O realismo se define,
sobretudo, baseado na oposição de Carr aos idealistas, ou seja, como uma
teoria que vê o mundo da forma como ele realmente é, desvinculado de
princípios morais. Não obstante, a expressão mais consolidada do realismo
toma forma apenas após a Segunda Guerra Mundial, com a publicação do
livro Política Entre as Nações de Hans Morgenthau. Com as mudanças no
campo das ciências humanas e a transformação do meio internacional (guerra
fria e degelo, expansão das organizações internacionais e aceleração do
processo de globalização, etc.), muitos autores, realistas ou não, começaram a
criticar e rever a obra de Morgenthau, oferecendo visões muito diversas de
realismo, como o realismo estruturalista de Kenneth Waltz, cuja obra Teoria Da
Política Internacional, de 1979, teve um impacto profundo nas ciências
políticas...[2]
Conceitos Realistas
Os realistas partilham algumas características que permitem que muitos
autores os reúnam em um só grupo teórico. Nas teorias realistas das relações
internacionais, que reivindicam um caráter objetivo, empírico e pragmático, o
Estado é colocado no centro das discussões, pois se considera que o Estado é
o ator principal das relações internacionais. Esse Estado sempre atua servindo
ao interesse nacional, que em sua forma mais básica é o desejo de sobreviver,
mas que também se traduz no acúmulo e na manutenção do poder. O poder é
tido como um instrumento por meio do qual os Estados garantem sua
sobrevivência no meio internacional. Este último é considerado, de acordo com
os realistas, anárquico, não no sentido de ausência completa de ordem, mas
por não haver a possibilidade de existir uma hegemonia global - apenas
hegemonias regionais - que garanta sua proteção. Os realistas não se
preocupam com a origem histórica dos Estados, mas os tomam como dados
(“naturais”), além de homogêneos, e geralmente pensam a natureza humana
de forma pessimista, reivindicando como base de suas ideias as obras
de Maquiavel, Hobbes e até mesmo Tucídides. Nas ciências sociais, e também
para os realistas, o Estado deve ser definido a partir de sua capacidade de
monopolizar a força coercitiva, ou seja, o poder interno sem o qual não há
ordem. No plano internacional, contudo, não há “Estado” e, portanto, não há
monopólio do poder coercitivo, resultando disso os conflitos e guerras em que
mergulha a humanidade frequentemente. Dessa forma, o âmbito internacional
é perigoso, e os Estados devem pensar em estratégias de segurança para
impedir que sua soberania (autoridade legítima de cada Estado sobre seu
território e sua população) seja ameaçada, e para assegurar sua sobrevivência.
Encontramos essa descrição dos fenômenos políticos em Hobbes, que
caracteriza a sociedade sem Estados como uma disputa constante de todos
contra todos. Muitas vezes os Estados são obrigados a cooperar e fazer
alianças para sobreviverem, sobretudo em função de um equilíbrio de poder,
isto é, buscando manter um equilíbrio na distribuição de poder no plano
internacional. Logo, se um estado se torna muito poderoso, os outros podem
formar um bloco para neutralizar seu poder e reduzir seu perigo para a
segurança de cada nação. No pensamento realista, a ética ocupa espaço
reduzido, uma vez que, buscando a sobrevivência, os Estados podem quebrar
qualquer acordo e desobedecer qualquer regra moral. A Realpolitik, do alemão
“Política Real”, prática da política externa definida como maquiavélica, é
normalmente associada a esse pensamento de cunho realista. Auto-ajuda é,
para os realistas, a noção de que os Estados só podem contar com a sua
própria capacidade no que diz respeito às relações internacionais. Em suma,
os realistas enxergam o sistema internacional como um espaço de disputa pelo
poder, motivada por um tema saliente em suas exposições: a segurança.
Hans Morgenthau
Hans Morgenthau, o pai do realismo clássico, circunscreveu alguns princípios
que, em sua concepção, orientavam a política externa. Para ele, a natureza
humana era a referência básica de qualquer análise política, os Estados tinham
como objetivo comum a busca pelo poder e a moralidade seria limitada e
definida em termos particulares (ver: seis princípios do realismo político[3]). O
objetivo supremo de todo o Estado seria a sobrevivência e o poder seria
instrumentalizado para servir aos interesses nacionais.O prestígio poderia ser,
também, um objetivo dos Estados no sistema internacional.[4]
John Herz
Contemporâneo de Morgenthau, John Herz trouxe importantes contribuições
para o pensamento realista clássico. Embora partilhasse com Morgenthau
grande parte do núcleo da teoria realista, Herz admitia que a ética tivesse um
papel importante dentro das relações internacionais. Além disso, Herz
introduziu no pensamento realista a ideia de dilema de segurança: quando um
Estado se sente ameaçado, ele investe em armas, o que faz, em determinado
prazo, com que os Estados ao seu redor se sintam igualmente ameaçados, de
forma que eles também investem em armamentos. Dessa forma, todos os
Estados acabam numa situação pior do que antes em termos de segurança,
mesmo que o objetivo original de determinado Estado tenha sido o de
aumentar sua segurança.
Liberalismo/ Pluralismo
Nas relações internacionais o Liberalismo, ou Pluralismo, é uma corrente
teórica alicerçada principalmente na obra de Immanuel Kant. Normalmente
considerados como “idealistas” pelos expoentes das escolas realistas, os
liberais tem uma visão predominantemente positiva da natureza humana, e
veem o Estado como um mal necessário. Para os liberais, as relações
internacionais podem envolver cooperação e paz, possibilitando o crescimento
do comércio livre e a expansão dos direitos universais dos homens. Os liberais
enfatizam as relações internacionais como um palco em que atua uma
multiplicidade de personagens, como os Estados, as organizações
internacionais, as empresas transnacionais e os indivíduos, motivo pelo qual
são chamados também de pluralistas. Eles acreditam que as relações
internacionais podem assumir um aspecto mais otimista e sem guerras,
motivado basicamente pelo livre comércio.
Conceitos Liberais
Embora os liberais tendam a concordar com os realistas no que diz respeito à
caracterização do sistema internacional como anômico, suas teorias
normalmente enfatizam os aspectos desse sistema que privilegiam a paz e a
cooperação. Para os teóricos do liberalismo, herdeiros do iluminismo
de Kant, Montesquieu e do liberalismo de Adam Smith, a guerra seria
desfavorável ao desenvolvimento do livre-comércio, de forma que o
crescimento do comércio em escala internacional favoreceria a instauração de
uma era de paz e cooperação nas relações internacionais. Um conceito
particularmente importante desenvolvido pelos liberais é o de interdependência.
Num mundo cada vez mais integrado economicamente, conflitos em
determinadas regiões ou tomadas de decisões egoístas poderiam afetar
mesmo Estados distantes, a despeito de seus interesses. A crise do petróleo é
um exemplo de impacto da interdependência. Nesse caso, os Estados
tenderiam a cooperar visando evitar situações desastrosas para a economia. A
ideia de paz democrática também é muito importante para as relações
internacionais hoje. Ela se funda na ideia Kantiana de que Estados com
regimes em que prevalece a opinião pública não entrariam em guerra entre si.
A opinião pública alteraria os interesses dos Estados, colocando em pauta
questões que interessam aos indivíduos, como liberdades, bem-estar social e
outras questões de natureza moral.[5]
Direito Internacional e Instituições
Entre os instrumentos preconizados pelos pensadores liberais como forma de
regular os conflitos internacionais estão o direito internacional e as instâncias
supranacionais. Hugo Grotius, em seu Sobre o direito da guerra e da paz, foi o
primeiro a formular um direito internacional, pensando em princípios morais
universais (derivados do “Direito Natural”) alcançados por intermédio da razão
que cada homem detém. Grotius desenvolveu a ideia de Guerra Justa, isto é,
que existem circunstâncias em que a guerra pode ter legitimidade no direito. O
iluminista Immanuel Kant, por sua vez, pensava que a formação de uma
Federação de Estados refletindo princípios de direito positivo seria a melhor
forma de conter as guerras que assolavam a humanidade. Esses dois
elementos, o direito e a instituição internacional, são tidos como formas
eficientes e legítimas de assegurar a resolução de conflitos sem o uso da força.
Certamente inspiradas pelo pensamento kantiano, uma série de entidades
supranacionais foram criadas durante o século XIX, como as entidades de
cooperação técnica e outras de conteúdo mais explicitamente político, como
o Concerto Europeu.
Os Quatorze pontos de Wilson
Marxismo
Ver também: Neogramscismo
Embora o próprio Karl Marx não tenha dedicado muita atenção ao estudo das
relações internacionais, vários autores de inspiração marxista (entre
eles Lênin e Trotsky) efetivaram algumas generalizações teóricas a respeito da
relação entre os Estados. Segundo a teoria do materialismo histórico do próprio
Marx, o sistema capitalista de produção tenderia a se universalizar, chegando a
se tornar o modo de produção dominante em todo o mundo
(portanto, internacional). Na teoria marxista, o capitalismo seria uma fase
histórica de desenvolvimento econômico caracterizada por algumas
contradições, entre elas o surgimento de duas classes sociais antagônicas, a
burguesia e o proletariado, a primeira gerando lucro a partir da exploração
do trabalho desta última. Nessa teoria, o papel do Estado seria o de assegurar
a ordem burguesa garantindo que os trabalhadores seguissem as normas
do capitalismo. Essa sociedade, contudo, seria inevitavelmente superada
graças a um fenômeno conhecido como luta de classes, no qual a classe social
explorada (proletariado) subverteria a ordem em seu favor após
uma revolução política. Para Marx, o proletariado seria uma categoria social
universal e, portanto, a teoria marxista só pode ser entendida do ponto de vista
do internacionalismo.[6]
Lênin
Vladimir Lênin foi o primeiro a pensar as relações internacionais a partir de uma
perspectiva marxista. Lênin publicou o livro Imperialismo, fase superior do
capitalismo, no qual argumenta que a contradição entre nações capitalistas
(para Lênin, nações "imperialistas") e nações exploradas seria essencial para a
compreensão do processo revolucionário. De acordo com Lênin, o capitalismo
em fase de estagnação seria caracterizado pela busca de novos mercados e
novas riquezas (colônias). O autor marxista também defendeu que as nações
imperialistas em busca de riquezas seriam levadas a guerras e conflitos
violentos. Ao contrário das teorias liberais e realistas das relações
internacionais, a teoria marxista de Lênin admite a existência de mais de um
ator político nesse meio, isto é, deve-se levar em consideração um corte
vertical (entre classes sociais: burguesia e proletariado) e um corte horizontal
(entre nações: imperialistas e colonizadas). Lênin também compreende que o
Estado age em favor dos interesses de uma classe social (a burguesia) e dos
interesses nacionais (o que incluiria os proletários nas nações desenvolvidas),
apresentando uma concepção de Estado bastante particular. As afirmações
teóricas do leninismo a respeito das relações internacionais fundamentaram
orientações políticas da Rússia pós revolucionária, como o pacifismo e a
defesa da autodeterminação dos povos.
Teorias da Dependência
Ver artigo principal: teoria da dependência
As teorias da dependência são inspiradas pelo marxismo (Immanuel
Wallerstein) ou pelo keynesianismo (Celso Furtado), diferindo quanto à
radicalidade de suas posições políticas. De acordo com essas teorias, o mundo
capitalista é marcada por uma divisão clara entre nações "desenvolvidas" (ou
"do centro") contra nações "subdesenvolvidas" e dependentes (ou
"periféricas"). O sistema capitalista mundial, por sua vez, impediria, de maneira
estrutural, que nações periféricas alcançassem um nível de desenvolvimento
econômico similar ao das nações ditas desenvolvidas, uma vez que a
hegemonia política e econômica dos países do centro estabeleceria limites aos
esforços de substituição de importações por parte das nações periféricas.
Segundo alguns teóricos dessa corrente, a única forma de combater essa
situação seria o estabelecimento de um Estado anti-imperialista, caracterizado
por uma postura combativa em relação aos interesses das multinacionais e do
capital estrangeiro.[7]
Referências
1. ↑ «The IR Theory Home Page» (em inglês)
2. ↑ Jack Donnelly. «Realism And International
Relations» (PDF) (em inglês)
3. ↑ «Six Principles of Political Realism» (em inglês)
4. ↑ «Hans Morgenthau» (em inglês)
5. ↑ «Classical Liberalism and International
Relations» (em inglês)
6. ↑ «Marxist-Leninist Theory of International
Relations» (PDF)
7. ↑ «A Teoria da Dependência: interpretações sobre
o (Sub)desenvolvimento na América Latina» (PDF)