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2017
Copyright © UNIASSELVI 2017
Elaboração:
Profa. Elaine Hoffmann
Prof. Tiago Hermano Breunig
372.64
H699t Hoffmann, Elaine
232 p. : il.
ISBN 978-85-515-0104-7
Impresso por:
Apresentação
Caros acadêmicos, a disciplina de Teoria da Literatura I leva-nos a
um olhar mais aguçado sobre o material escrito. Quando somos instigados a
responder o que é um texto literário, geralmente a primeira resposta que nos
vem à mente é a de que a literatura deve demonstrar o belo, deve ser valorizada
por suas características estéticas. Essa resposta é verdadeira, mas, como vamos
estudar, há ainda muitas outras funções exercidas por essa nobre arte.
Bem-vindos!
III
NOTA
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?......................................................................... 1
VII
UNIDADE 2 – OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO...................................... 71
VIII
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................205
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................206
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................227
IX
X
UNIDADE 1
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. Ao final de cada um deles você
encontrará autoatividades que auxiliarão no seu aprendizado.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
“Só se pode chamar ciência ao conjunto de receitas que funcionam sempre.
Todo o resto é literatura”. Paul Valéry
A ideia de literatura como uma arte específica, tal como a música, a pintura,
a arquitetura etc., historicamente, ainda é recente. Atualmente, incorpora o sentido
de fenômeno estético e produção artística. Surge, então, um entendimento da
palavra literatura como referente a textos imaginativos e criativos em oposição
aos textos de caráter científico.
3
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Assim, meditava com seus botões (tanto quanto podia, porque o calor
aquele dia era tal que ela se sentia sonolenta e entorpecida) se o prazer de
fazer uma guirlanda de margaridas valeria o esforço de levantar-se e colher as
margaridas, quando de repente um coelho branco com olhos rosados passou
correndo perto dela.
Não havia nada de tão notável nisso; nem Alice achou tão estranho ouvir
o Coelho murmurar para si mesmo, “Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Estou muito
atrasado!” (quando pensou nisso, bem mais tarde, ocorreu-lhe que deveria ter
estranhado; porém, naquele momento, tudo lhe pareceu perfeitamente natural).
4
TÓPICO 1 | LITERATURA E SEUS CONCEITOS
NOTA
Quanto à citação acima, a mesma foi retirada de e-book kindle e não dispõe
de numeração de páginas e editora.
5
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
No excerto acima fica claro que, para o padre há textos que são considerados
literatura e outros que não o são. Ao entendermos a literatura como “formações
imaginárias”, Orlandi (1993) observa que é necessário compreender que estamos
em um terreno movediço, visto que, bem como observa Barthes (1988), o texto
é escrito sempre aqui e agora. Junto aos conceitos que podemos depreender
acerca do que é literatura, observamos, também, vários pré-conceitos que estão
imbricados pelos costumes sociais e temporais. Afinal, como observamos no
excerto do conto de James Joyce, há textos que historicamente e dentro de um
espaço determinado não são considerados. Julgando-se, nesse exemplo, não só a
obra quanto o seu escritor e leitor.
Nesse aspecto, Pierre Bourdieu (2004) aponta que a literatura, bem como
outros bens de consumo, adquire uma grife, um conceito ou moda que são
suscetíveis conforme o tempo e os anseios do mercado. Daí as obras que vendem
milhares de exemplares (muita gente lendo a mesma coisa), o que gera um capital
tanto financeiro para as editoras quanto um capital social, que serve de espaço para
a discussão entre membros detentores das mesmas leituras, mas são substituídas
constantemente por outras novas obras. Porém, é complicado pensar que, por si só,
os denominados clássicos estão além das leis de consumo. Eles continuam porque
existem instituições que mantêm o seu status ao longo dos tempos, na condição de
textos de estudo obrigatório. Seu consumo não se dá em quantidade tão grande
quando as obras que chamamos best-sellers, mas é permanente.
6
TÓPICO 1 | LITERATURA E SEUS CONCEITOS
Para encerrar este tópico, podemos concluir que a literatura como arte é
um clássico, ou seja, aquela que permanece na memória com o passar do tempo.
No entanto, Ítalo Calvino (2002, p. 10) aborda que “Os clássicos são livros que
exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e
também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como
inconsciente coletivo ou individual”. Nesse viés, podemos apontar ainda que
aquilo que é literatura pode ser um consenso, mas também cada um de nós pode
ter aquelas obras que consideramos literatura de forma individual, à revelia do
senso comum. Como vimos, há certa dificuldade em distinguir a literatura de
conceitos valorativos.
NOTA
7
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
8
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
9
AUTOATIVIDADE
10
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Podemos entender cultura como o cultivo da mente humana e as práticas
que dela advêm. Estas estão ligadas à sociedade em que se insere e sua história.
O termo culturas, no plural, refere-se ao fato de que em diferentes espaços os
indivíduos desenvolvem culturas singulares, o que as distingue das demais.
Dessa forma, a identidade de cada indivíduo se desenvolve em relação à cultura
a que está exposto e às suas experiências particulares.
A literatura, bem como outras artes, está implicada pela cultura e esta é
capaz de criar mundos, no plural. Ao falar de arte não há como dissociá-la da
cultura na qual ela nasce. Porém, a cultura não é estática, visto que, com o tempo
mudam-se os valores, os costumes, a maneira que cada sociedade tem de ver o
mundo e de organizar a vida.
2 A ARTE
"A ciência descreve as coisas como são; a arte como são sentidas, como se
sente que são". Fernando Pessoa
A palavra arte deriva do latim ars ou artis, que significa maneira de ser ou
de agir, habilidade. Na cultura greco-romana possuía o sentido de ofício. Nesse
aspecto, a arte está ligada ao fazer, construir manualmente. A ela também se atribui
o sentido de conhecimento, visão ou contemplação. Nesse sentido, não se coloca
como arte apenas o aspecto exterior, mas um sentido próprio de visão da realidade.
11
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Se, por um lado pode parecer difícil dar uma explicação incontestável
sobre o que é arte, por outro, se nos pedem para dar exemplos de artistas ou
obras artísticas, certamente lembraremos alguns itens que de maneira geral
compreendem-se como tal: o romance Dom Quixote de Cervantes, as pinturas
Mona Lisa de Leonardo da Vinci ou Abaporu de Tarsila do Amaral etc. Explicar o
porquê essas obras são arte é mais complexo.
FIGURA 1 - MICTÓRIO
12
TÓPICO 2 | NOÇÕES DE ARTE E CULTURA
Adorno (1997) explica que a arte em si não tem utilidade, logo não se
pode comparar com um utensílio. Ela não pode ter uma finalidade, pois é já uma
finalidade em si mesma. Só objetos são definidos não pelo que são, mas para o
que servem. A arte seria o espaço da liberdade, não visa a nada além de si mesma.
O autor ressalta, ainda, que o valor de comércio de dada arte não tem
relação com o valor estético, visto que o valor de uma obra de arte é inestimável.
Tampouco saber se um artista ganha muito dinheiro corresponde ao valor de sua
arte e sim a um valor de mercado.
Parece-nos bastante complexa essa discussão, não? Mas temos até aqui
uma boa reflexão a fazer.
13
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
3 A CULTURA
A cultura é a própria identidade nascida na história, que ao mesmo
tempo nos singulariza e nos torna eternos. É índice e reconhecimento da
diversidade. Campomori
14
TÓPICO 2 | NOÇÕES DE ARTE E CULTURA
DICAS
15
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
16
AUTOATIVIDADE
A sequência correta é:
a) ( ) V,V,V,V
b) ( ) F,F,F,F
c) ( ) F,V,F,V
d) ( ) F,V,V,V
17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 3
AS FUNÇÕES DA LITERATURA
1 INTRODUÇÃO
Assim como a arte pode ter um conceito mais comum, que está ligado
ao belo, à apreciação, essa é, também, uma das definições mais recorrentes de
literatura, sendo que, nesse viés, a literatura não teria outro compromisso além
do estético. Essa é a primeira função da literatura, a estética. Seria assim a
contemplação do belo.
O que vamos observar a seguir é que a literatura não tem uma finalidade
específica, porém não é ingênua, nem vaga, não acontece simplesmente ao acaso,
ela exerce várias funções em relação ao público leitor que vai desde a contemplação
da beleza à emotividade e à mobilização política e social.
19
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
NOTA
20
TÓPICO 3 | AS FUNÇÕES DA LITERATURA
Além disso, o escritor traz a seus poemas melodia, rima e métrica perfeita.
O que nos leva a compreender: existe uma preocupação com a forma, prevista pela
função estética. Você pode notar que aqui fazemos a escanção de cada verso do poema
(divisão em sílabas poéticas), de maneira que se observa mesmo uma preocupação
matemática do poeta ao fazer cada verso com o mesmo número de sílabas.
Soneto de Fidelidade
Vinícius de Moraes
21
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Veja que as rimas são as mesmas em cada verso das duas primeiras estrofes
e se intercalam na penúltima e última estrofe. Quanto à métrica, temos um soneto
decassílabo, ou seja, todos os versos têm dez sílabas poéticas, que não são contadas
como na divisão de sílabas de palavras para outros fins. As sílabas poéticas fazem-se
de acordo com a sonoridade, de maneira que, por vezes, a sílaba final de uma palavra
aglutina-se à inicial de outra, geralmente isso acontece quando há encontro de vogais.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Manuel Bandeira
Ele contou que recolhe restos de carne crua para alimentar a família.
Sem trabalho, ele mora nas ruas do Rio de Janeiro há oito anos.
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz
o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
Ferreira Gullar
24
TÓPICO 3 | AS FUNÇÕES DA LITERATURA
E
IMPORTANT
As obras costumam ter direitos autorais até 70 anos após a morte de seu autor.
Ferreira Gullar faleceu em 2016. Porém, segundo Ana Beatriz Nunes Barbosa
(2017), “há usos que são permitidos, MESMO NO CASO DE OBRA PROTEGIDA. Seriam estes
casos os das chamadas limitações ao direito autoral:
[...]
• A citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens
de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a
atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra.
• A reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer
natureza ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não
seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra
reproduzida nem cause prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores.
Observação da autora deste material: Esse critério também é utilizado em outras obras que
constam neste estudo, onde poemas são citadas na íntegra para fins de entendimento e
análise, mas não obras completas dos autores. É muito importante saber distinguir o que
é a utilização necessária para fins de estudo do simples plágio (cópia, sem o resguardo da
autoria). Este último constitui crime.
25
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Castro Alves, também conhecido como o poeta dos escravos, retrata nesse
poema a dor dos negros durante as viagens marítimas, e vai brincando entre essa
dor (chora, de raiva delira, enlouquece) e elementos “lúdicos” (como a dança, a
risada, a canção...). Uma combinação sarcástica e cruel, retratando uma realidade
em que alguns seres humanos são torturados e têm suas vidas anuladas em prol
do conforto alheio. Da maneira como está configurado, faz uma crítica feroz a
essa realidade e esse jogo entre a dor e o riso que nos mostra a loucura de tal
situação. O mesmo poema foi musicado por Caetano Veloso e Maria Bethânia e
enaltece, além do problema representado pela poesia, toda a sua rima e melodia.
Vale a pena conferir.
26
TÓPICO 3 | AS FUNÇÕES DA LITERATURA
Giacon (s.d., p. 6) observa que “nas peças teatrais e no cinema essa função
atinge seu grau máximo pelo uso de visão e audição, contudo nos textos literários
é necessário que o escritor faça o leitor percorrer um caminho tortuoso até o
conflito para atingir o máximo do grau catártico de uma obra”.
27
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Versos Íntimos
NOTA
quimera = esperança
Escarro = Matéria viscosa expelida pela boca depois dos esforços da expectoração.
Chaga = pancada ou ferida
Afaga = acaricia
Escarra = O ato de expelir pela boca matéria viscosa.
28
TÓPICO 3 | AS FUNÇÕES DA LITERATURA
Era fixa a minha ideia, fixa como... Não me ocorre nada que seja assaz fixo
nesse mundo: talvez a lua, talvez as pirâmides do Egito, talvez a finada
dieta germânica. Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar,
veja e não esteja aí a torcer-me o nariz, só porque ainda não chegamos à
parte narrativa destas memórias. Lá iremos. Creio que prefere a anedota à
reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem.
NOTA
O exemplar do livro utilizado para a citação acima está em e-book Kindle e, por
esse motivo, não possui data de publicação e numeração de páginas.
30
AUTOATIVIDADE
I- Função estética
II- Função cognitiva
III- Função político-social ou engajada
IV- Função pragmática
V- Função catártica
VI- Função lúdica
31
2 Leia os poemas seguir e responda qual função da literatura está mais
presente em cada um deles.
POEMA 1
Psicologia de um vencido
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
a) ( ) Função estética
b) ( ) Função Cognitiva
c) ( ) Função Político-social ou Engajada
d) ( ) Função Pragmática
e) ( ) Função Catártica
f) ( ) Função Lúdica
POEMA 2
Oswald de Andrade
32
a) ( ) Função estética
b) ( ) Função Cognitiva
c) ( ) Função Político-social ou Engajada
d) ( ) Função Pragmática
e) ( ) Função Catártica
f) ( ) Função Lúdica
POEMA 3
a) ( ) Função estética
b) ( ) Função Cognitiva
c) ( ) Função Político-social ou Engajada
d) ( ) Função Pragmática
e) ( ) Função Catártica
f) ( ) Função Lúdica
33
34
UNIDADE 1
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
Para falarmos sobre cânone, primeiramente é necessário que você
compreenda o significado dessa palavra. O cânone literário é entendido como
um conjunto de autores e obras considerados exemplos de literatura ideal. Para
que uma obra seja considerada um cânone é necessário que alguém a eleja como
tal. Por que na escola estudamos determinadas obras e outras não? Você já
deve ter observado que para cada período/escola literária estudada no Ensino
Médio, por exemplo, há algumas obras que são referência. Nelas encontramos as
características específicas da escola literária em questão.
Porém, para que existam as obras denominadas clássicas, deve haver uma
organização para tal. É o que veremos a seguir.
UNI
A palavra clássico vem de classe, justamente por se referir aos livros lidos
nas salas de aula. O Dicionário Priberam (2017) define clássico como: 1. Que é de estilo
impecável. 2. Próprio para servir nas aulas. 3. Que de há muito é habitual; inveterado no uso.
35
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
2 A FORMAÇÃO DO CÂNONE
Uma história da literatura, de maneira geral, está preocupada em
relacionar história e literatura. Textos que fogem aos padrões estabelecidos, muito
provavelmente não se destacarão ou até mesmo serão ignorados no processo de
canonização. Há estudiosos que comentam que em todas as épocas temos não uma
história da literatura, mas uma delas apenas representa o ápice que é canonizado.
Nesse momento, você deve estar pensando que talvez muitas das obras
estudadas na escola como clássicas diziam pouco a você, a linguagem parecia
distante e, por isso, não provocavam o interesse para a leitura. Seria mais honesto
canonizar as obras que alcançassem fama entre o público leitor? Considerando
essa possibilidade, o cânone estaria desligado das instituições?
36
TÓPICO 4 | O CÂNONE LITERÁRIO E SUA FORMAÇÃO
Os clássicos não são lidos por dever ou por respeito, mas só por amor.
Exceto na escola: a escola deve fazer com que você conheça bem ou mal
um certo número de clássicos dentre os quais (ou em relação aos quais)
você poderá reconhecer os “seus” clássicos. A escola é obrigada a dar-lhe
instrumentos para efetuar uma opção: mas as escolhas que contam são
aquelas que ocorrem fora e depois da escola (CALVINO, 2002, p. 16).
37
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
DICAS
38
TÓPICO 4 | O CÂNONE LITERÁRIO E SUA FORMAÇÃO
intitulado Poesia narra a vida de uma senhora que se inscreve em um curso de poesia, o
que a faz notar o mundo de maneira diferente. Howl conta a biografia do poeta americano
Alen Ginsberg. O Carteiro e o Poeta, um livro clássico de Pablo Neruda adaptado ao cinema
por Michael Radford. E para fechar essas indicações com muita classe, temos Vinícius, um
documentário sobre a vida de um dos maiores poetas brasileiros.
39
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• Os PCN abrem uma brecha para uma nova concepção de ensino de literatura
no Ensino Médio, alegando que não há conexão entre as obras e a realidade do
estudante. Segundo esse documento, a língua e a literatura ensinadas na escola
estão divorciadas do contexto social.
40
AUTOATIVIDADE
a) ( ) V, V, V,V
b) ( ) F, F, F,F
c) ( ) F, V, V, F
d) ( ) F, V, F, V
41
42
UNIDADE 1
TÓPICO 5
1 INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, a literatura exerce uma dupla função, serve como
expressão artística e também como meio de transmitir conhecimentos. Começou
a existir através da oralidade com o objetivo de perpetuar as histórias e a cultura
para as gerações seguintes. Assim, podemos dizer que a literatura é o reflexo do
que somos, de nossas aspirações, e está sempre relacionada com as características
sociais e históricas de cada época. Retrata o homem em seu caráter mais subjetivo.
43
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
44
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
a) Elegia: Conforme Soares (2007, p. 32), elegia vem do grego elegeía, que se
refere a cantos de luto e tristeza ou “talvez à transcrição helênica do vocábulo
armênio (elegn, elegneay) que significava ‘bambu’ ou ‘flauta de bambu’, já que
esta acompanhava os cantos lutuosos”. O tema da elegia, de maneira geral, é a
tristeza e o pranto pela morte de um amigo ou pessoa ilustre ou mesmo a dor
por conta de um amor não correspondido ou interrompido. Seria o poema de
Camões exposto acima uma elegia?
Cântico do Calvário
NOTA
Algumas palavras não são comuns em nosso contexto. Então vamos aos
seus significados
.
Pegureiro = guardador de gado, relativo a pastor.
Messe = ceifa, colheita, aquisição, conquista.
Idílio = poesia de assunto pastoril.
Acerbo = que tem sabor áspero, amargo, duro, árduo.
Archotes = haste em que uma das extremidades é acesa para iluminar.
45
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
a) Ode: do grego oidê, que significa canto. São poemas compostos para serem
cantados, geralmente são compostos por quartetos e têm métrica variada. Os
hinos são exemplos de ode. Diferentemente da elegia, apresenta temas variados,
subdividindo a ode em pindáricas, que exaltam homens e acontecimentos ilustres;
as sacras, que exaltam a religiosidade; as filosóficas, que tratam de assuntos
filosóficos e meditativos; as sáficas, que tratam de assuntos morais; as báquicas,
que celebram os prazeres da mesa. De maneira que esses poemas apresentam
métrica variada. A poetisa Safo e os poetas Alceu e Anacreonte foram os primeiros
a compor odes. A seguir você pode conferir algumas dessas características no
poema de Álvaro de Campos, pseudônimo de Fernando Pessoa.
NOTA
46
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
Marília de Dirceu
Soneto de Separação
Soneto inglês nº 1
48
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
Como você pode observar, as duas primeiras estrofes estão entrelaçadas pelas
rimas, e nas estrofes finais, a rima se dá entre os últimos versos de cada uma delas.
3 GÊNERO NARRATIVO
Como o nome sugere, narrativo refere-se a narrar, ou seja, contar histórias
com personagens que se envolvem em uma ação que acontece em determinado
tempo e lugar. Funções cumpridas pelos contos, romances, fábulas, crônicas e
pelas epopeias, sobre as quais veremos a seguir.
49
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
A epopeia, por exemplo, é uma narração longa, que pode ser escrita tanto
em prosa como em versos, nesta última possibilidade carrega ainda características
da poesia. Conforme Soares (2007, p. 39), a epopeia é:
DICAS
50
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
NOTA
51
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
FONTE: A autora
52
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba
que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe
dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora
gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as
cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me
esquecesse, mas que não era verdade...
53
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Que você se sinta convidado a essa leitura que lhe permitirá perceber os
efeitos da não linearidade na narrativa, o que, nesse caso especificamente, faz
com que o leitor conheça o amor clandestino entre Rita e Camilo, enquanto o
suspense da narrativa é construído na tensão que se dá até o momento em que
Vilela descobre a traição, e o desfecho do conto. Além de apreciar a técnica, você
terá uma boa leitura.
NOTA
54
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
Édipo, tu que reinas em minha pátria, bem vês esta multidão prosternada
diante dos altares de teu palácio; aqui há gente de toda a condição: crianças que
mal podem caminhar, jovens na força da vida, e velhos curvados pela idade,
como eu, sacerdote de Júpiter (SÓFOCLES, s.d.).
A sensação que experimentava não diferia muito da que tinha tido ao ser
preso. Era como se as mãos e os braços da multidão fossem agarrá-lo, subjugá-
lo, espremê-lo num canto de parede. Olhou as caras em redor. Evidentemente
as criaturas que se juntavam ali não o viam, mas Fabiano sentia-se rodeado de
inimigos, temia envolver-se em questões e acabar mal a noite. Soprava e esforçava-
se inutilmente por abanar-se com o chapéu. Difícil mover-se, estava amarrado.
55
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
E
IMPORTANT
Você já ouviu falar no site Domínio Público? Pois então, lá você pode acessar
várias obras que já não dispõem mais de direitos autorais, na íntegra, e sem custos. Foi deste
site que retiramos os excertos utilizados para exemplificar os tipos de narrador estudados:
Édipo Rei, de Sófocles; A Metamorfose, de Franz Kafka, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
Por isso não conseguimos precisar ano de publicação ou numeração de páginas.
Esta é uma ótima maneira de ter acesso a vários clássicos. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2198>.
Acesso em: 30 maio 2017.
FONTE: A autora
56
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
DICAS
4 GÊNERO DRAMÁTICO
A origem do gênero dramático vem de dráo, que significa fazer/ação.
No século IV a.C., na Grécia antiga, o teatro apareceu como resultado de uma
transformação dos hinos cantados em honra ao Deus Dionísio, deus do vinho e
das festas. Nesse período também era comum a representação de comédias que
satirizavam o comportamento humano e os costumes. Uma das características do
teatro é que ele acontece por si mesmo, o enredo se desenrola a partir de diálogos
sem a interferência de narrador. O desenrolar da narrativa procura desenvolver a
expectativa do público até o desfecho da peça.
57
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
58
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
JOÃO GRILO
Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do major Antônio
Morais.
PADRE
O dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio Morais?
JOÃO GRILO
É, eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse, mas o major
é rico e poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de perder meu emprego,
fui forçado a obedecer, mas disse a Chicó: o padre vai se zangar.
PADRE, desfazendo-se em sorrisos.
Zangar nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter direito de
se zangar? Falei por falar, mas também vocês não tinham dito de quem era o
cachorro!
JOÃO GRILO, cortante.
Quer dizer que benze, não é?
PADRE, a Chicó.
Você, o que é que acha?
CHICÓ
Eu não acho nada demais.
PADRE
Nem eu. Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus.
JOÃO GRILO
Então fica tudo na paz do senhor, com cachorro benzido e todo mundo
satisfeito.
PADRE
Digam ao major que venha. Estou esperando.
Entra na igreja.
CHICÓ
Que invenção foi essa de dizer que o cachorro era do major Antônio Morais?
JOÃO GRILO
Era o único jeito de o padre prometer que benzia. Tem medo da riqueza do
major que se pela. Não viu a diferença? Antes era “Que maluquice, que besteira!”,
agora “Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus!”
CHICÓ
Isso não vai dar certo. Você já começa com suas coisas, João. E havia
necessidade de inventar que era empregado de Antônio Morais?
JOÃO GRILO
Meu filho, empregado do major e empregado do amigo do major é quase
a mesma coisa. O padeiro vive dizendo que é amigo do homem, de modo que a
diferença é muito pouca. Além disso, eu podia perfeitamente ter sido mandado
pelo major, porque o filho dele está doente e pode até precisar do padre.
CHICÓ
João, deixe de agouro com o menino, que isso pode se virar por cima de você.
JOÃO GRILO
E você deixe de conversa. Nunca vi homem mais mole do que você, Chicó.
O padeiro mandou você arranjar o padre para benzer o cachorro e eu arranjei sem
ter sido mandado. Que é que você quer mais? (SUASSUNA, 1989, p. 31).
59
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Como você pode notar, não há no texto um narrador, toda a história fica
clara através das falas dos personagens. Como o texto é feito para ser encenado, há
ora ou outra, em itálico, alguma instrução sobre como o ator deve agir. A introdução
das falas, ao contrário de outras narrativas, onde se usa o verbo dicendi e são
introduzidas por travessão, aqui são sempre indicadas pelo nome do personagem.
Quanto ao conteúdo, temos uma sátira dos costumes da igreja e sua relação
com as pessoas financeiramente mais abonadas da sociedade, ou seja, aquelas das
quais a instituição pode usufruir de patrocínios. A elas são abertas exceções. A
seguir, comentamos sobre um tipo específico de gênero dramático, a tragédia.
a) Tragédia
b) Comédia
60
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
Entra Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que anda
buscando alguma coisa que se lhe perdeu; e logo após ele um homem, vestido
como pobre. Este se chama Ninguém, e diz:
61
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
62
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
c) Drama
Essa forma teatral surge no século XVIII e, aos poucos, vai abandonando
os temas históricos, os famosos dramas de capa e espada, e passa a privilegiar um
teatro de atualidades, cuja obra inaugural é A Dama das Camélias, de Alexandre
Dumas Filho. Os curiosos podem ler o livro ou mesmo conhecer a versão
cinematográfica que se encontra facilmente on-line.
LEITURA COMPLEMENTAR
63
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
64
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
Então, não restaria mais nada, ou apenas a pequena pedagogia que descrevi?
Não inteiramente. Na fase áurea, por volta de 1970, a teoria era um contradiscurso
que punha em questão as premissas da crítica tradicional. Objetividade, gosto
e clareza, Barthes assim resumia, em Critique et Verité [Crítica da Verdade], em
1966, ano mágico, os dogmas do “suposto crítico” universitário, o qual ele queria
substituir por uma “ciência da literatura”. Há teoria quando as premissas do
discurso corrente sobre a literatura não são mais aceitas como evidentes, quando
são questionadas, expostas como construções históricas, como convenções. Em
seu começo, também a história literária se fundava numa teoria, em nome da qual
eliminou do ensino literário a velha retórica, mas essa teoria perdeu-se e edulcorou-
se à medida que a história literária foi se identificando com a instituição escolar e
universitária. O apelo à teoria é, por definição, opositivo, até mesmo subversivo
e insurrecto, mas a fatalidade da teoria é a de ser transformada em método pela
instituição acadêmica, de ser recuperada, como dizíamos. Vinte anos depois, o que
surpreende, talvez mais que o conflito violento entre a história e a teoria literária, é
a semelhança das perguntas levantadas por uma e por outra nos seus primórdios
entusiastas, sobretudo esta, sempre a mesma: “O que é literatura?”.
FONTE: COMPAGNON, Antoine. Teoria e Senso Comum. In: O Demônio da Teoria: literatura e
senso comum. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999.
65
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
NOTA
Hidra de Lerna: animal da mitologia grega, filho dos monstros Tifão e Equidna. Tinha o corpo
de dragão e sete cabeças de serpente, seu hálito era venenoso e, uma vez cortadas, as
cabeças podiam se regenerar rapidamente.
66
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:
a) Elegia: refere-se a cantos de tristeza e luto pela morte de uma pessoa querida
ou a tristeza de um amor não correspondido ou interrompido.
c) Conto: mais breve que o romance, pois apresenta apenas um núcleo narrativo.
67
o Gênero Dramático: representado pelo teatro que surgiu como resultado de
uma transformação dos hinos cantados em honra ao Deus Dionísio. Também
é representado por comédias que satirizam o comportamento humano e os
costumes. Subdivide-se em:
b) Comédia: está relacionada aos festejos populares, as peças não eram bem
aceitas nas cidades, por isso costumavam ser apresentadas em aldeias. Um dos
tipos de comédia muito comum são os autos.
68
AUTOATIVIDADE
Soneto 23
William Shakespeare
a) ( ) Elegia
b) ( ) Soneto
c) ( ) Écogla
2 Como observamos, os gêneros conto, romance e novela têm caraterísticas
semelhantes, visto que narram uma história real. Porém, há alguns
elementos que assemelham entre esses gêneros e outros que os distanciam.
Dessa forma, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
69
( ) O clímax é o momento de maior tensão da narrativa, mas não está presente
no conto.
( ) A estrutura do conto é composta por enredo, conflito, clímax e desfecho.
a) ( ) V, V, F, V
b) ( ) F, F, F, F
c) ( ) V, F, V, F
d) ( ) V, V, V, F
70
UNIDADE 2
OS GÊNEROS LITERÁRIOS:
DRAMÁTICO E LÍRICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você
terá atividades que vão ajudá-lo a refletir sobre os assuntos abordados.
71
72
UNIDADE 2
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Na primeira unidade do livro de Teoria da Literatura I você viu que,
desde a Antiguidade, a literatura se divide em gêneros literários, quais sejam,
o gênero lírico, o gênero dramático e o gênero épico ou narrativo. A teoria
dos gêneros literários, mais do que um importante intento de classificação da
literatura, designa uma forma de ver o mundo. Assim, podemos, por exemplo,
atribuir o adjetivo épico ou dramático a um jogo de futebol, não é verdade?
Nesta unidade, estudaremos mais detidamente os gêneros dramático e lírico, ou
seja, o teatro e o poema, respectivamente, com o objetivo de compreendermos a
especificidade de ambos os gêneros literários e nos capacitarmos, ao final, para
diferenciar cada gênero. Para tanto, consideramos importante contextualizarmos
e problematizarmos a teoria dos gêneros literários, considerando as principais
transformações ocorridas nas artes e na teoria da literatura desde a Antiguidade.
Iniciaremos esta unidade com a contextualização e problematização da teoria
para, em seguida, estudarmos o gênero dramático e, finalmente, o gênero lírico.
Seja bem-vindo!
73
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
TURO S
ESTUDOS FU
74
TÓPICO 1 | A TEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS
NOTA
75
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
76
TÓPICO 1 | A TEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS
77
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
Staiger conclui que podemos julgar (mas não valorar, uma vez que
acredita que o valor não se aplica a uma consideração dos gêneros) as obras a
partir da perspectiva dos gêneros literários, ou seja, da divisão tripartida em
lírico, épico e dramático. Desde que a consolidação do Romantismo faz ruir os
preceitos das poéticas clássicas, como vimos com Roberto Acízelo de Souza, os
valores românticos, como a originalidade e liberdade de criação literária, abalam
“a crença nos modelos”, confirma Staiger (1975, p. 97): “Se a Poética quer respeitar
tal sentimento, vê-se mais uma vez frente ao problema de diferenciar gênero
e modelos, e de não prejudicar a liberdade do poeta, ao delimitar os gêneros
separadamente”.
78
TÓPICO 1 | A TEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS
O que advém daí para a Poética? Tornou-se sem sentido descrever todos
os ramos nos quais se quer colocar as obras poéticas. Isso ensinou-nos
a roda de Petersen. Mas não é sem sentido lançar a questão da essência
do lírico, épico e dramático, pois essas qualidades são simples e não
deixam perturbar sua aparência serena pelas fulgurações e oscilações
do caráter de cada composição poética.
TURO S
ESTUDOS FU
79
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
A acepção “adjetiva”, por sua vez, “refere-se a traços estilísticos de que uma
obra pode ser imbuída em grau maior ou menor, qualquer que seja o seu gênero
(no sentido substantivo)” (ROSENFELD, 2014, p. 18). Aqui, os “traços estilísticos”,
conforme a expressão de Anatol Rosenfeld, não se diferenciam da “qualidade” das
obras literárias. Assim, segundo Rosenfeld (2014, p. 18), “poderíamos falar, no caso,
de um drama (substantivo) lírico (adjetivo)”, por exemplo.
80
TÓPICO 1 | A TEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS
Tragédia brasileira
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu
Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança
empenhada e os dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da
vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura…
Dava tudo quanto ela queria.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
81
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
82
TÓPICO 1 | A TEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS
Poética
83
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
84
TÓPICO 1 | A TEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS
85
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
ATENCAO
86
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• A classificação das obras a partir da teoria dos gêneros literários deve ser
contextualizada historicamente.
87
AUTOATIVIDADE
88
UNIDADE 2 TÓPICO 2
OS GÊNEROS LITERÁRIOS
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1, você viu uma contextualização da teoria dos gêneros
literários, apresentados aqui em uma perspectiva histórica e crítica. A partir deste
tópico você irá aprofundar os estudos sobre os gêneros literários analisando,
individualmente, cada um deles.
Vamos lá?
89
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
ARAUTO
Vós, que tanto respeito mereceis
neste país, ainda mais chorarei
pelas coisas que haveis de ver e ouvir,
se, como patriotas bem-nascidos,
ainda prezais a nossa dinastia!
As águas dos rios todos da terra
talvez não bastem para lavar a imundície
desta casa – tamanhos são os males
já mostrados, e os mais que há de mostrar,
premeditados, não ocasionais...
Quem se fere a si mesmo, sofre mais!
CORIFEU
O que sabemos já nos dá muito a chorar.
Que nova catástrofes anuncias?
ARAUTO
É breve o que ides ouvir
e breve o que eu vou dizer:
Nossa rainha Jocasta está morta!
CORIFEU
Pobre mulher! – Como se deu a morte?
ARAUTO
Por suas próprias mãos... O horror do quadro,
a vós, que o não vistes, será poupado;
mas eu, que o vi, dele não posso me esquecer!
ÉDIPO
Ai de mim! Ai de mim! Pobre de mim!
Onde estou eu? Para que fui nascer?
A minha voz espalha-se, por onde?
Ah, meu destino, aonde queres chegar?
90
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
CORO
A um ponto tão terrível de ver
quanto de escutar!
CORO
Concidadãos de Tebas, pátria nossa,
olhai bem: Édipo, decifrador
de intrincados enigmas, entre os homens
o de maior poder – aí está!
Quem, no país, não lhe invejava a sorte?
E agora, vede em que mar de tormento
ele se afunda! Por essa razão,
enquanto uma pessoa não deixar
esta vida sem conhecer a dor,
não se pode dizer que foi
feliz.
91
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
A lua já se pôs,
as Plêiades também:
meia-noite; foge o tempo,
e estou deitada sozinha.
NOTA
Safo de Lesbos (620 a.C. – 570 a.C.) foi uma poetisa grega, membro da
aristocracia. Faz parte dos nove poetas líricos do período arcaico.
92
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
FONTE: O autor
Platão (cerca de 428 a.C. - cerca de 347 a.C.), no livro III da República
(394 a.C.), nos deixou a primeira referência, no pensamento ocidental,
aos gêneros literários: a comédia e a tragédia se constroem inteiramente
por imitação, os ditirambos apenas pela exposição do poeta e a epopeia
pela combinação dos dois processos.
93
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
FONTE: O autor
94
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
95
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
96
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
NOTA
97
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
98
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
99
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
100
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
101
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
102
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
● mistura de gêneros
● rejeição das regras
● recusa da imitação dos modelos
● liberdade na arte
103
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
104
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
105
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
• Sottie: tipo de teatro breve de origem francesa que satirizava a vida do tempo,
por meio de personagens que simbolizavam alegoricamente tipos como o
parvo, o truão e o bobo, em funções invertidas da realidade, com objetivo de
entreter, empregando estruturas textuais complexas com metro e rima.
• Teatro de fantoches: teatro de bonecos ou de marionetes, manipulados pelos
atores.
• Teatro de revista: tipo de teatro popular caracterizado pela heterogeneidade e
apelo, recorrendo, para tanto, a acrobacias e apresentações musicais e sensuais.
• Teatro de sombras: tipo de teatro de origem oriental, proveniente da China, o
teatro de sombras utiliza a projeção de sombras como personagens.
Elencamos acima alguns dos principais tipos de teatro, aos quais podemos
acrescentar tipos tradicionais de teatro oriental, como o Noh e o Kabuki, de origem
japonesa, bem como tipos de teatro moderno, como o teatro do absurdo, criado por
Ionesco, e representado por dramaturgos como Samuel Beckett, Jean Genet, Antonin
Artaud, entre outros, ou o teatro do oprimido, criado pelo brasileiro Augusto Boal.
Atualmente, as performances representam um tipo de teatro, com suas peculiaridades,
assim como diferentes tipos de teatro de rua, apresentados publicamente.
DICAS
106
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
107
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
108
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
Emil Staiger (1975, p. 59) observa que na lírica não há oposição entre
sujeito e objeto, constatando o “um-no-outro lírico” em que a individualidade se
dissolve. “O que se dá é que ‘interno’ e ‘externo’, ‘subjetivo’ e ‘objetivo’ não estão
absolutamente diversificados em poesia lírica”, de modo que “não nos sentimos
como individualidade, como pessoa ou ser historicamente localizado”, afirma
Staiger (1975, p. 63), para quem no poeta lírico “os contornos do eu, da própria
existência, não são firmemente delineados” (STAIGER, 1975, p. 66).
109
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
NOTA
Você percebeu que Nietzsche, assim como Emil Staiger, depois dele, questiona
a individualidade e a subjetividade do eu lírico? E que o associa à música? Com isso,
Nietzsche não busca simplesmente recordar a origem do lirismo, que sabemos estar
relacionada com a lira e, portanto, com a música, mas evidenciar que, por força da
“música dionisíaca e, portanto, da música em geral”, o eu lírico se caracteriza por um
“desprendimento de si próprio” ou, numa palavra, pela “desindividuação”.
Este poema certamente deve sua grandeza ao fato de que não fala de
nada alienado e perturbador, de que, nele próprio, o desassossego do
objeto não é contraposto ao sujeito: pelo contrário, o poema reverbera
o desassossego do próprio sujeito. É prometida uma segunda
imediaticidade: o que é humano, a própria linguagem, aparece como
se fosse ainda uma vez a criação, enquanto tudo o que vem de fora se
extingue no eco da alma.
NOTA
Você percebeu que Adorno reitera a ideia de uma fusão entre sujeito e
objeto? A argumentação de Adorno pretende repensar a relação entre a poesia
e a sociedade a partir dos pressupostos que acabamos de ver. Para tanto, e a
partir do “primado da linguagem” que caracteriza a literatura e o seu efeito
de estranhamento, Adorno contraria o consenso que compreende a lírica como
incapaz de “reconhecer o poder de socialização” (ADORNO, 2003, p. 65-66).
111
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
NOTA
113
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
NOTA
114
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
Este soneto exprime, sob aparente rigidez lógica, uma densa e dramática
tensão existencial; é o encerramento de uma profunda experiência
humana, baseada na perplexidade ante o caráter contraditório (bilateral,
para usar a expressão aplicada à forma estrutural do soneto) da vida
humana. A vida é contraditória, e como os poetas não cansam de
lembrar, amor e ódio, prazer e dor, alegria e tristeza, andam juntos. [...]
No soneto de Camões há uma rebeldia apenas retórica, sob a
perplexidade do último terceto. Mas no corpo dialético do poema
reponta uma aceitação das duas metades da vida, pelo conhecimento
do seu caráter inevitável. A profunda experiência de um homem que
viveu guerras, prisão, vícios, gozos do espírito, leva-o a esta análise que
reconhece a divisão da unidade. E a própria conclusão perplexa do fim
é o reconhecimento de que a unidade se sobrepõe afinal à divisão do ser
no plano da experiência humana total. O amor é tudo o que vimos, e ele
é aspiração de plenitude graças à qual o nosso ser se organiza e se sente
existir. Grande mistério – sugere o poeta – que sendo tão aparentemente
oposto à unidade do ser, ele seja um unificador dos seres (na medida
em que é amizade).
A simetria antitética perfeitamente regular exprime a presença de uma
ordem no caos. O espírito unifica no plano da arte as contradições da
vida, não as destruindo, mas integrando-as (CANDIDO, 1994, p. 22-23).
4.2 O VERSO
O verso ordena em uma unidade um grupo de unidades menores, exigindo
uma continuação correspondente, que constitui a estrofe e, finalmente, o poema.
Por isso, Antonio Candido (1994, p. 60) considera o verso a “unidade do poema”. E,
mais do que uma unidade sonora e musical, uma unidade significativa, razão pela
qual Antonio Candido privilegia as palavras como unidades constitutivas do verso:
116
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
a) cesura: pausa no interior do verso, separando, por meio dos acentos, o verso
em partes:
117
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
4.2.1 A rima
A rima se define como a homofonia, ou reiteração de fonemas, geralmente
ao final dos versos (rima externa ou final), constituindo o principal efeito de
sonoridade do verso. A rima pode ocorrer ainda no interior dos versos (rima
interna ou interior). Segundo Antonio Candido (1994, p. 39), a decadência da
métrica quantitativa contribuiu para o aparecimento da rima nas literaturas latinas:
“Toda a história do verso português se fez sob a égide da rima, embora desde o
Renascimento haja voltado a prática do verso branco dos clássicos latinos”.
Podemos dizer, grosso modo, que ocorre uma identidade sonora na rima
consoante, ao passo que na rima toante, aproximação. Ainda segundo Antonio
Candido (1994, p. 40), “na rima toante, há concordância das vogais tônicas, ou
das vogais tônicas e outra, ou outras vogais átonas que a seguem”. Em suma,
enquanto na rima consoante ocorre a repetição de vogais e consoantes, na rima
toante apenas as vogais se repetem:
118
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
119
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
- UU | - UU | - UU | - UU | - UU | - UU
No verso, traduzido por Carlos Alberto Nunes como “As armas canto e o
varão que fugindo das plagas de Tróia”, podemos identificar seis dátilos ( - UU ).
Geralmente, os versos se compunham de um mesmo pé. Um hexâmetro composto
de seis dátilos, por exemplo, seria, assim, denominado hexâmetro datílico.
a) Troqueu: | - U |
b) Jambo: | U - |
c) Dátilo: | - UU |
d) Anapesto: | UU - |
e) Péonio primo: | - UUU |
f) Péonio quarto: | UUU - |
120
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
a) Eclipse
b) Sinérese
c) Sinalefa
d) Diérese
e) Dialefa
f) Aférese
g) Síncope
a) Sístole
b) Diástole
a) Anacruse
b) Sinafia
c) Compensação
121
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
A mais importante forma fixa de poema é o soneto, que, como você viu
no exemplo de Camões, é formado por dois quartetos e dois tercetos, geralmente
seguindo o esquema de rimas ABBA ABBA CDC DCD, sendo composto em
versos decassílabos ou alexandrinos. Quanto ao soneto, Sânzio de Azevedo (1997,
p. 191) esclarece:
Os tipos de poema podem se definir pelo tema ou pela forma, como o soneto.
Em geral, os tipos caracterizados pelo tema compreendem uma determinada
forma. As principais formas fixas são: ode, trioleto, sextina, epigrama, balada,
rondó, rondel, madrigal, écloga, idílio, pastoral, elegia, epitalâmio, glosa, haicai,
entre outras. Eis um exemplo de haicai:
122
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
Observe agora como a poetisa Ana Cristina Cesar recorre a diferentes tipos
de poema em seu poema em versos livres “Primeira lição”, que consiste, como
explica Maria Lucia de Barros Camargo (2003, p. 248), em “uma ‘aula básica’
sobre o que é a poesia lírica”, estruturada em “‘versos’ desprovidos de lirismo”:
Os gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático, épico, ligeiro.
O gênero lírico compreende o lirismo.
Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo, sincero e pessoal.
É a linguagem do coração, do amor.
O lirismo é assim denominado porque em outros tempos os
versos sentimentais eram declamados ao som da lira.
O lirismo pode ser:
a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a morte.
b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres.
c) Erótico, quando versa sobre o amor.
O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a endecha, o epitáfio e o
epicédio.
Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes.
Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta.
Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era incinerado.
Endecha é uma poesia que revela as dores do coração.
Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares.
Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma pessoa morta.
124
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
FIGURA 9 - URSONATE
125
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
126
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
127
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
128
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
Analisar um poema requer, como nota Antonio Candido (2002, p. 7), “ler
infatigavelmente o texto analisado”, “como sempre preconizou a velha explication
de texte dos franceses”. Para tanto, Candido não rejeita a intuição, suscitada pela
multiplicação das leituras. Analisar um poema requer ainda um tratamento
adequado àsua natureza, ou seja, respeitar a sua especificidade, considerando
alguns pressupostos comuns:
Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co’as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
130
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
Contente,
Tranquila,
Serena,
Sem pena
De mim!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
— Não negues,
Não mintas…
— Eu vi!…
Valsavas:
— Teus belos
Cabelos,
Já soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P’ra outro
Não eu!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
131
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
— Não negues,
Não mintas…
— Eu vi!…
Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem?!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
— Não negues,
Não mintas,..
— Eu vi!…
Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
132
TÓPICO 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS
Eu triste
Vi tudo!
Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
— Não negues,
Não mintas,..
— Eu vi!…
Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida.
No chão!
Quem dera
Que sintas
As dores
133
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
— Não negues,
Não mintas,..
— Eu vi!…
Tu, ontem, na dança que cansa, voavas co’as faces em rosas formosas de
vivo, lascivo carmim;
Na valsa tão falsa, corrias, fugias, ardente, contente, tranquila, serena, sem
pena de mim!
Tu, | on | tem,
1 2
Na | dan | ça
1 2
Tu, ontem,
U - U
Na dança
U - U
Qual | pá | li | da
1 2
Ro | sa
1
Mi | mo | sa
1 2
135
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
136
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
137
AUTOATIVIDADE
138
UNIDADE 2
TÓPICO 3
LITERATURA DE CORDEL
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2 você aprofundou os estudos sobre os gêneros literários
analisando, individualmente, o gênero dramático e o gênero lírico. Neste terceiro
tópico você irá estudar a literatura de cordel, sua história e suas características.
Vamos lá?
2 LITERATURA DE CORDEL
A literatura de cordel remonta ao Renascimento, quando o surgimento
da imprensa na Europa permitiu a impressão de relatos orais dos trovadores
medievais em folhetos. O nome se origina do modo como tradicionalmente os
folhetos impressos eram expostos, pendurados em cordas, para comercialização
em Portugal. Por mediação dos colonizadores portugueses, a literatura de cordel
chegou ao Brasil como manifestação oral, mais exatamente na Bahia, de onde
migrou para outros estados do Nordeste.
139
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
FIGURA 14 - XILOGRAVURA
DICAS
Caso queira pesquisar mais sobre a xilogravura, visite o site do Museu Casa da
Xilogravura: <http://www.casadaxilogravura.com.br>.
140
TÓPICO 3 | LITERATURA DE CORDEL
Ao final, Pedro Cem morre sem nada: “Ontem teve, hoje não tem”, resume
o verso final do cordel. O tema deriva de uma antiga lenda portuguesa adaptada
a diferentes registros, incluindo a literatura de cordel portuguesa e brasileira
(NOGUEIRA, 2010, p. 18-19). A respeito da adaptação de Leandro Gomes de
Barros, Carlos Nogueira (2010, p. 24) afirma:
141
UNIDADE 2 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: DRAMÁTICO E LÍRICO
142
TÓPICO 3 | LITERATURA DE CORDEL
DICAS
NOTA
143
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
144
AUTOATIVIDADE
145
146
UNIDADE 3
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você
terá atividades que vão ajudá-lo a refletir sobre os assuntos abordados.
147
148
UNIDADE 3
TÓPICO 1
O GÊNERO ÉPICO
1 INTRODUÇÃO
Você viu na primeira unidade do livro de Teoria da Literatura I que,
desde a Antiguidade, a literatura se divide em gêneros literários, quais sejam: o
gênero lírico, o gênero dramático e o gênero épico ou narrativo. Nesta unidade,
estudaremos mais detidamente os gêneros épico e narrativo.
Seja bem-vindo!
149
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
150
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
NOTA
151
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
152
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
A razão para isso, segundo Culler, não é nenhuma novidade para nós:
“a literatura”, afirma Culler (1997, p. 17), “tem como matéria toda a experiência
humana e, particularmente, a ordenação, interpretação e articulação da
experiência”. Afinal, como vimos, a literatura analisa as relações humanas, ou
manifestações da psique humana, ou os efeitos das condições materiais sobre a
experiência individual, de modo que a abrangência da literatura possibilita que
qualquer teoria seja levada para a teoria literária, abrangendo questões mais gerais
da racionalidade, da autorreflexão e da significação. Portanto, e não apenas por
suas relações com outros conhecimentos, mas por constituir um conhecimento
singular, “é o conhecimento literário que se nos impõe defender”, como proclama
Compagnon (2012, p. 9) repetindo Barthes (2010).
153
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
NOTA
Homero: Poeta épico da Grécia antiga, a quem se atribui a autoria das epopeias
Ilíada e Odisseia.
154
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
Aristóteles, que considera a epopeia como uma das artes mais elevadas,
julga Homero o modelo a ser buscado. “Digno de louvor por muitos motivos”
(ARISTÓTELES, 2008, p. 94). Homero “era o maior autor de obras elevadas”
para Aristóteles (2008, p. 44), que, ao se referir aos elementos constitutivos da
epopeia, afirma: “Tudo isso Homero usou em primeiro lugar e na perfeição.
Assim, na verdade, compôs ele cada um dos seus poemas: a Ilíada, simples e de
sofrimento, e a Odisseia, complexa (com reconhecimentos ao longo de todo o
poema) e de caráter. E, além disso, superou todos na elocução e no pensamento”
(ARISTÓTELES, 2008, p. 93). A esse respeito, Paulo Martins (2009, p. 91) corrobora
o julgamento de Aristóteles:
155
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
NOTA
NOTA
156
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
157
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
158
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
NOTA
O seriado A Odisseia (1997), dirigido por Andrei Konchalovsky, e o filme Ulisses (Itália, 1954),
dirigido por Mario Camerini, são inspirados, por sua vez, em Odisseia.
159
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
Ao descrever o gênero épico, Aristóteles (2008), por sua vez, afirma que
a epopeia imita com palavras em verso. Adiante, Aristóteles (2008, p. 47) reitera
esse aspecto, associando a epopeia com a narrativa, ao observar que a epopeia se
caracteriza por “ter um metro uniforme e por ser uma narrativa”. E ao comparar
a epopeia e a tragédia, constata:
A epopeia tem uma característica particular muito importante para
aumentar a extensão, uma vez que, na tragédia, não é possível imitar
muitas partes da ação que se desenrolam ao mesmo tempo, mas
apenas a parte representada em cena pelos atores. Em contrapartida,
na epopeia, por ser uma narração, é possível apresentar muitas
ações realizadas simultaneamente, através das quais, desde que
sejam apropriadas ao assunto, se aumenta a elevação do poema. Este
privilégio contribui, assim, para dar grandiosidade, proporcionar uma
mudança ao ouvinte e introduzir variedade com episódios diversos
(ARISTÓTELES, 2008, p. 93-94).
ATENCAO
160
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
Essa distinção seria analisada por Hegel, que fundamentaria, por sua
vez, a teoria do romance de György Lukács e, por extensão, uma infinidade de
autores que teorizam o romance, como Mikhail Bakhtin, Erich Auerbach, Ian Watt,
Antonio Candido, Roberto Schwarz, Franco Moretti, entre outros, considerando o
aspecto da variedade ou pluralidade, constatado desde Aristóteles, que permite
compreender a complexidade da realidade. Aprofundaremos essa questão
adiante, quando estudarmos os gêneros narrativos. Por ora, concentremos
nossa atenção nas características da epopeia clássica. O que, então, caracteriza a
epopeia, ao lado dos aspectos que vimos, associados com o modo de narração?
Para respondermos a essa questão, vejamos como Massaud Moisés resume as
demais características do gênero épico:
161
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
1) Proposição
2) Invocação
3) Dedicatória
4) Narração
5) Remate, epílogo ou desfecho
Note que o poeta invoca a deusa, solicitando que cante “do Peleio Aquiles
a ira tenaz”, ou seja, que inspire o poeta em sua criação sobre a ira ou a luta de
Aquiles. Na proposição, o poeta revela, como podemos ver, o tema da epopeia,
neste caso, a Guerra de Troia ou, mais propriamente, as ações heroicas de Aquiles
na Guerra de Troia.
NOTA
163
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
164
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
NOTA
165
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
166
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
NOTA
167
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
NOTA
Luís Vaz de Camões (1524-1580) foi um poeta português. Escreveu poesia épica,
lírica e dramática. Considerado um dos maiores escritores da tradição ocidental.
168
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
169
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
170
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
DICAS
Este trecho exemplifica uma das contribuições dos poetas daquele tempo
para a configuração da nossa literatura: inserir as peculiaridades
locais num sistema expressivo tradicional, que as incorporasse à
civilização colonizadora. Foi o que fizeram o Uraguai e o Caramuru.
O índio e a natureza, tratados literariamente, importavam numa
espécie de integração do mundo americano à expressão culta das
fontes civilizadoras, sublimando o esmagamento das culturas locais.
Ao mesmo tempo importavam em renovar os símbolos cansados
da tradição de origem clássica, levando ao patrimônio comum da
literatura ocidental a perspectiva de um temário novo e uma nova
forma (CANDIDO, 2002, p. 17).
171
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
Assim, Hegel (2010, p. 450) resume a obra épica como “uma ação cujas
ramificações se confundem com a totalidade da sua época e da vida nacional;
portanto, uma ação que só pode ser concebida mergulhada no seio de um mundo
amplo e que comporta, por conseguinte, a descrição de toda a realidade de que
faz parte”. Como podemos perceber, para Hegel (2010, p. 477), a obra épica se
caracteriza, pois, por uma “multiplicidade” subordinada a uma “unidade concreta”,
uma vez que “o conteúdo de uma obra épica é o todo de um mundo em que se
realiza uma ação individual”, e são as transformações sociais que, diminuindo a
extensão da ação individual, inviabilizariam a epopeia no mundo moderno:
172
TÓPICO 1 | O GÊNERO ÉPICO
Nesse sentido, Hegel (2010, p. 509) identifica o épico nos tempos modernos
não mais na epopeia:
173
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
NOTA
174
RESUMO DO TÓPICO 1
• O gênero épico se caracteriza por sua longa extensão e pelo caráter elevado e
solene.
175
AUTOATIVIDADE
1 Assista ao filme Terra estrangeira (1996), dirigido por Walter Salles e Daniela
Thomas, e reflita sobre a permanência intertextual de elementos narrativos,
tais como motivos, imagens e temas provenientes das epopeias, como
as viagens, o retorno para casa, os navios como metáforas das nações, a
expansão imperial, a colonização e a exploração e assim por diante. Qual o
significado de tais elementos a partir de sua perspectiva?
a) ( ) I e II
b) ( ) II e IV
c) ( ) I, III e V
d) ( ) II, IV e V
e) ( ) III e IV
176
UNIDADE 3
TÓPICO 2
O GÊNERO NARRATIVO
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1, você viu que a literatura se constitui como um campo
privilegiado para a compreensão da realidade, especialmente porque estabelece
relações com diferentes campos do conhecimento. E que o gênero narrativo
se revela como um gênero apropriado para tanto, na medida em que permite
representar ou apresentar a complexidade da realidade pela variedade ou
pluralidade que o caracteriza.
Você viu ainda que o gênero épico, que origina, se não equivale ao gênero
narrativo, se caracteriza pela narração, ou seja, pela enunciação de um narrador e
de personagens, compreendendo a complexidade do mundo e da vida que narra,
característica possibilitada justamente pela narração, como já notava Aristóteles,
e que é transmitida ao gênero narrativo.
Vamos lá?
177
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
2 O GÊNERO NARRATIVO
O gênero narrativo, que, etimologicamente, remete ao ato de narrar
acontecimentos reais ou ficcionais, consiste em uma ramificação do gênero épico,
sendo, no entanto, escrito em prosa. A prosa, genericamente entendida como oposta
ao verso, como nota Marjorie Boulton (1968 apud MOISÉS, 1999, p. 418), apresenta,
a partir de uma sistematização tradicional, a narrativa, distinta da demonstrativa,
como um tipo que compreende a prosa de ficção. A partir de outra sistematização
igualmente tradicional, a prosa se divide em cinco modalidades segundo sua
função, entre as quais a narrativa, compreendida igualmente como prosa de ficção.
178
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
baixa”, mas Benjamin se refere a uma modalidade de narração que preserva uma
relação com as “histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos”,
cujos tipos arcaicos são representados, conforme Benjamin (1994, p. 198-199), pelo
“camponês sedentário” e pelo “marinheiro comerciante”: “A arte de narrar está
definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção”,
postula Benjamin (1994, p. 200-201).
Sem lamentos e sem nostalgias, Benjamin (1994, p. 201) afirma que “esse
processo, que expulsa gradualmente a narrativa da esfera do discurso vivo e ao
mesmo tempo dá uma nova beleza ao que está desaparecendo, tem se desenvolvido
concomitantemente com toda uma evolução secular das forças produtivas”. Esse
processo resulta no surgimento do romance que, na perspectiva de Benjamin, se
diferencia das demais formas narrativas por não manter relações com a tradição oral:
179
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou
do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios,
e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos
meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou.
Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por
graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou
jantar com você”. – "Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma
da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns
quinze dias comigo”. – "Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso
do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe
chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça”.
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles
lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom
veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando!
Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro
daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo
que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá
cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores;
alguns nem tanto.
180
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
Capitu um dia notou a diferença, dizendo que os dela eram mais bonitos
que os meus; eu, depois de certa hesitação, disse-lhe que eram como a pessoa que
sonhava... Fez-se cor de pitanga.
Minha mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que vivesse. Que
maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma
gratificação menor, e perder um emprego interino? Não, senhor, devia ser
homem, pai de família, imitar a mulher e a filha...
181
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
O romance
182
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
A novela
A novela, como explica Jolles (1972 apud SILVA, 1976, p. 253), caracteriza-
se por “contar um fato ou um incidente impressionantes, de tal modo que se
tivesse a sensação de um acontecimento real e que esse incidente nos parecesse
mais importante do que as personagens que o vivem”. Conforme resume Gancho
(2002, p. 7-8), a novela:
183
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
O conto
184
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
A crônica
A crônica consiste em uma narrativa breve que tem por objetivo comentar
algo do cotidiano, a partir da perspectiva pessoal do cronista. Segundo Gancho
(2002, p. 8): “Por se tratar de um texto híbrido, nem sempre apresenta uma
narrativa completa; uma crônica pode contar, comentar, descrever, analisar. De
qualquer forma, as características distintivas da crônica são: texto curto, leve, que
geralmente aborda temas do cotidiano”.
Soares (2007, p. 64) situa a ruptura entre o sentido de crônica “no início
da era cristã”, quando o termo designava “uma relação de acontecimentos
organizada cronologicamente, sem nenhuma participação do cronista”, e no
século XIX, quando “a crônica já apresenta um trabalho literário que a aproxima
do conto e do poema, impondo-se, porém, como uma forma especial, porque não
se permite classificar como aqueles”. Soares (2007, p. 64-65) explica:
185
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
Desenredo
Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada.
Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o amor.
Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau tingida a vela e
vento. Mas muito tendo tudo de ser secreto, claro, coberto de sete capas.
186
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
Mas.
Mais.
187
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
Nunca tivera ela amantes! Não um. Não dois. Disse-se e dizia isso Jó
Joaquim. Reportava a lenda a embustes, falsas lérias escabrosas. Cumpria-lhe
descaluniá-la, obrigava-se por tudo. Trouxe à boca-de-cana do mundo, de
caso raso, o que fora tão claro como água suja. Demonstrando-o, amatemático,
contrário ao público pensamento e à lógica, desde que Aristóteles a fundou. O
que não era fácil como refritar almôndegas. Sem malícia, com paciência, sem
insistência, principalmente.
188
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
Enredo
189
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
ATENCAO
190
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
191
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
Em nível mais geral, a obra literária tem dois aspectos: ela é ao mesmo
tempo uma história e um discurso. Ela é história, no sentido em que
evoca uma certa realidade, acontecimentos que teriam ocorrido,
personagens que, deste ponto de vista, se confundem com os da vida
real. Esta mesma história poderia ter-nos sido relatada por outros
meios; por um filme, por exemplo; ou poder-se-ia tê-la ouvido pela
narrativa oral de uma testemunha, sem que fosse expressa em um
livro. Mas a obra é, ao mesmo tempo, discurso: existe um narrador que
relata a história; há diante dele um leitor que a percebe. Neste nível,
não são os acontecimentos relatados que contam, mas a maneira pela
qual o narrador nos fez conhecê-los.
192
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
Todorov (2008, p. 221) reitera que “os dois aspectos, a história e o discurso,
são todos os dois igualmente literários”.
193
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
NOTA
194
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
DICAS
Personagem
195
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
196
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
Tempo
197
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
198
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
NOTA
Espaço
199
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
Narrador
Terceira pessoa: é o narrador que está fora dos fatos narrados, portanto
seu ponto de vista tende a ser mais imparcial. O narrador em terceira
pessoa é conhecido também pelo nome de narrador observador, e suas
características principais são:
a) onisciência: o narrador sabe tudo sobre a história;
b) onipresença: o narrador está presente em todos os lugares da
história.
200
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
NOTA
Visão “de fora”: o narrador sabe menos que qualquer um dos personagens,
podendo narrar apenas o que percebe externamente, sem ter acesso ao interior
das personagens.
201
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
NOTA
NOTA
202
TÓPICO 2 | O GÊNERO NARRATIVO
203
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
DICAS
Assista ao filme “Mais estranho que a ficção” (2006), dirigido por Marc Forster,
para se envolver mais profundamente e de forma divertida no mundo da narração.
204
RESUMO DO TÓPICO 2
205
AUTOATIVIDADE
1 Qual foi a última narrativa que você leu? Foi um romance, uma novela ou
um conto? Retome-a e analise-a a partir dos conhecimentos sobre o gênero
narrativo que você aprendeu neste tópico. Para tanto, divida o enredo,
classifique os personagens, observe o tempo e o espaço, classifique o narrador
e observe o foco narrativo.
Texto 1
Esta imensa campina, que se dilata por horizontes infindos, é o sertão de minha
terra natal.
Aí campeia o destemido vaqueiro cearense, que à unha de cavalo acossa o touro
indômito no cerrado mais espesso, e o derriba pela cauda com admirável destreza.
Aí, ao morrer do dia, reboa entre os mugidos das reses, a voz saudosa e
plangente do rapaz que aboia o gado para o recolher aos currais no tempo da ferra.
Quando te tornarei a ver, sertão da minha terra, que atravessei há muitos anos
na aurora serena e feliz da minha infância?
Quando tornarei a respirar tuas auras impregnadas de perfumes agrestes, nas
quais o homem comunga a seiva dessa natureza possante?
FONTE: ALENCAR, José de. O sertanejo. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.
br/download/texto/bv000140.pdf>. Acesso em: 10 out. 2017.
Texto 2
206
de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de
grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais
são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou
pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.
FONTE: ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Nova Aguilar, 1994, p. 3-4.
Em seu texto, você deverá traçar um paralelo entre o narrador nos romances de
José de Alencar e de Guimarães Rosa.
207
208
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1 desta unidade, você estudou a relação da literatura com
outras áreas do conhecimento, e viu que os gêneros narrativos, por apresentarem
uma disposição para a totalidade, pluralidade ou variedade, especialmente
na representação da realidade, favorecem a relação com outras áreas do
conhecimento.
Vamos lá?
209
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
Vitor Manuel de Aguiar e Silva (1976, p. 108) resume o embate entre Platão
e Aristóteles a respeito da mimese, evidenciando a relação entre a literatura e o
mundo real estabelecida tanto pela verossimilhança quanto pela obra literária:
na Poética claramente se afirma que “a Poesia é mais filosófica e mais
elevada do que a História, pois a Poesia conta de preferência o geral
e, a História, o particular”. Por conseguinte, enquanto Platão condena
a mimese poética como meio inadequado de alcançar a verdade,
Aristóteles considera-a como instrumento válido sob o ponto de vista
gnosiológico: o poeta, diferentemente do historiador, não representa
fatos ou situações particulares; o poeta cria um mundo coerente em que
os acontecimentos são representados na sua universalidade, segundo a
lei da probabilidade ou da necessidade, assim esclarecendo a natureza
profunda da ação humana e dos seus móbeis. O conhecimento, assim
proposto pela obra literária, atua depois no real, pois se a obra poética
é “uma construção formal baseada em elementos do mundo real”, o
conhecimento proporcionado por essa obra tem de iluminar aspectos
da realidade que a permitem.
210
TÓPICO 3 | LITERATURA E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA E A SOCIEDADE
Por outro lado, Jonathan Culler (1999, p. 27), ao notar que os historiadores
explicam a história mostrando como uma coisa levou a outra, conclui que “o
modelo para a explicação histórica é, desse modo, a lógica das histórias: a maneira
como uma história mostra como algo veio a acontecer, ligando a situação inicial,
o desenvolvimento e o resultado de um modo que faz sentido”. Assim, Culler
(1999, p. 27) acrescenta: “O modelo para a inteligibilidade histórica, em resumo,
é a narrativa literária”.
211
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
212
TÓPICO 3 | LITERATURA E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA E A SOCIEDADE
213
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
214
TÓPICO 3 | LITERATURA E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA E A SOCIEDADE
Segundo Silva (1976, p. 142), a literatura deve ser considerada como uma
tensão entre complexos elementos – elementos afetivos, cognitivos, apelativos
etc., constituindo a escrita literária o modo específico de revelação desses valores.
“A escrita confere significado ao real, problematizando-o e revelando-o”, afirma.
Para Silva (1976), o poder da literatura dimana justamente de a capacidade da
escrita literária questionar o real. Deste modo, a autonomia da literatura, ou
seja, sua especificidade, sua especificação como arte e afirmação como atividade
diversa das outras, que confere a si mesma suas regras, não se fundamenta na
separação com a vida, a história e a sociedade.
DICAS
Para saber mais sobre Anatol Rosenfeld, remetemos ao estudo de Roberto Schwarz (1992)
intitulado “Anatol Rosenfeld, um intelectual estrangeiro”, publicado em “O pai de família e
outros estudos”.
215
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
LEITURA COMPLEMENTAR
Anatol H. Rosenfeld
Observações gerais
Por mais que a teoria dos três gêneros, categorias ou arquiformas literárias,
tenha sido combatida, ela se mantém, em essência, inabalada. Evidentemente ela
é, até certo ponto, artificial como toda a conceituação científica. Estabelece um
esquema a que a realidade literária multiforme, na sua grande variedade histórica,
nem sempre corresponde. Tampouco deve ela ser entendida como um sistema de
216
TÓPICO 3 | LITERATURA E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA E A SOCIEDADE
Ainda assim o uso da classificação de obras literárias por gêneros parece ser
indispensável, simplesmente pela necessidade de toda ciência de introduzir certa
ordem na multiplicidade dos fenômenos. Há, no entanto, razões mais profundas
para a adoção do sistema de gêneros. A maneira pela qual é comunicado o mundo
imaginário pressupõe certa atitude em face deste mundo ou, contrariamente, a
atitude exprime-se em certa maneira de comunicar. Nos gêneros manifestam-se,
sem dúvida, tipos diversos de imaginação e de atitudes em face do mundo.
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UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
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TÓPICO 3 | LITERATURA E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA E A SOCIEDADE
Observações gerais
Descrevendo-se os três gêneros e atribuindo-se-lhes os traços estilísticos
essenciais, isto é, à Dramática os traços dramáticos, à Épica os traços épicos e à
Lírica os traços líricos, chegar-se-á à constituição de tipos ideiais, puros, como
tais inexistentes, visto neste caso não se tomarem em conta as variações empíricas
e a influência de tendências históricas nas obras individuais que nunca são
inteiramente “puras”. Esses tipos ideais de modo nenhum representam critérios de
valor. A pureza dramática de uma peça teatral não determina seu valor, quer como
obra literária, quer como obra destinada à cena. Na dramaturgia de Shakespeare,
um dos maiores autores dramáticos de todos os tempos, são acentuados os traços
épicos e líricos. Ainda assim se tratam de grandes obras teatrais. Uma peça, como
tal pertencente à Dramática, pode ter traços épicos tão salientes que a sua própria
estrutura de drama é atingida, a ponto de a Dramática quase se confundir com a
Épica. Mas, ainda assim tal peça pode ter grande eficácia teatral. Exemplos disso
são o teatro medieval, oriental, o teatro de Claudel, Wilder ou Brecht. Trata-se
de exemplos extremos que em seguida serão abordados, da mesma forma como
exemplos de menor realce nos quais o cunho épico apenas se associa à Dramática,
sem atingi-la a fundo. É evidente que na constituição mais ou menos épica ou
mais ou menos pura da Dramática influem peculiaridades do autor e da sua
visão do mundo, a sua filiação a correntes históricas, tais como o classicismo ou
romantismo, bem como a temática e o estilo geral da época ou do país.
O gênero lírico foi mais acima definido como sendo o mais subjetivo: no
poema lírico uma voz central exprime um estado de alma e o traduz por meio de
orações. Trata-se essencialmente da expressão de emoções e disposições psíquicas,
muitas vezes também de concepções, reflexões e visões enquanto intensamente
vividas e experimentadas. A Lírica tende a ser a plasmação imediata das vivências
intensas de um Eu no encontro com o mundo, sem que se interponham eventos
distendidos no tempo (como na Épica e na Dramática). A manifestação verbal
“imediata” de uma emoção ou de um sentimento é o ponto de partida da Lírica.
Daí segue, quase necessariamente, a relativa brevidade do poema lírico. A isso se
liga, como traço estilístico importante, a extrema intensidade expressiva que não
poderia ser mantida através de uma organização literária muito ampla.
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UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
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TÓPICO 3 | LITERATURA E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA E A SOCIEDADE
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UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
a transformar-se neles. Isso, aliás, seria difícil, pois não poderia transformar-se
sucessivamente em todos eles e ao mesmo tempo manter a atitude distanciada
do narrador.
3)
O GÊNERO DRAMÁTICO E SEUS TRAÇOS ESTILÍSTICOS
FUNDAMENTAIS
Observações gerais
Na Lírica, pois, concebida como idealmente pura, não há oposição sujeito-
objeto. O sujeito como que abarca o mundo, a alma cantante ocupa, por assim
dizer, todo o campo. O mundo, surgindo como conteúdo desta consciência
lírica, é completamente subjetivado. Na Épica pura verifica-se a oposição sujeito-
objeto. Ambos não se confundem. Na Dramática, finalmente, desaparece de novo
a oposição sujeito-objeto. Mas agora a situação é inversa à da Lírica. É agora o
mundo que se apresenta como se estivesse autônomo, absoluto (não relativizado
a um sujeito), emancipado do narrador e da interferência de qualquer sujeito,
quer épico, quer lírico. De certo modo é, portanto, o gênero oposto ao lírico. Neste
último o sujeito é tudo, no dramático o objeto é tudo, a ponto de desaparecer
no teatro, por completo, qualquer mediador, mesmo o narrativo que, na Épica,
apresenta e conta o mundo acontecido.
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TÓPICO 3 | LITERATURA E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA E A SOCIEDADE
O diálogo
223
UNIDADE 3 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS: ÉPICO E NARRATIVO
FONTE: ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São Paulo: Perspectiva, 2014, p. 15-35.
224
RESUMO DO TÓPICO 3
225
AUTOATIVIDADE
FONTE: RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 89. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
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