Tempestade e Chegada À Índia

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 2

Dentro já do segundo ciclo épico, surge este episódio naturalista, por envolver

elementos da Natureza, e é a última grande dificuldade que surge aos navegadores antes
da chegada à Índia.

► Tempestade — Canto VI (estrofes 70 a 91)

Baco, não superando a ideia de os portugueses se tornarem iguais ou superiores aos


deuses, reúne os deuses do mar para um novo consílio onde procura destruir os
navegadores antes da conquista do Oriente. Dando razão a Baco, os deuses marinhos
decidem ajudá-lo, ordenando a Éolo, deus do vento, que origine a tempestade marítima
que acabe com os portugueses: "Solte as fúrias dos ventos repugnantes,/Que não haja no
mar mais navegantes!" (estrofe 35). Por aqui podes comprovar de novo o entrelaçar dos
dois planos narrativos: o da viagem e o mitológico.

A tempestade é, por isso, mais uma tentativa de destruição da glória dos portugueses,
mas em que, como em todas as outras, se assistirá à vitória dos humanos sobre todos os
elementos que os afligem.

Este episódio pode ser dividido em três partes:


     • o desenrolar da tempestade (estrofes 70 a 79);
     • a súplica do Gama por proteção divina (estrofes 80 a 84);
     • a intervenção de Vénus e das ninfas (estrofes 85 a 91).

Na descrição da tempestade há a realçar:


•  a abundância de frases de tipo exclamativo, reforçando os sentimentos de aflição dos
navegadores e a necessidade urgente de agir: "Amaina (disse) amaina a grande vela!",
"À bomba, que nos imos alagando!";

•  o recurso aos verbos de movimento que fazem desta descrição uma descrição
dinâmica, impondo um ritmo muito acelerado, quer na progressão da tempestade, quer
na aproximação iminente da morte: "Amaina", "Alija" "Correm", "subiam", "desciam",
"derribaram", "arrancaram";

• a presença da sinestesia sugerida nas várias sensações apresentadas: visuais "Daquela


nuvem negra que aparece."; auditivas - "O céu fere com gritos nisto a gente"; e,
sobretudo, cinéticas (movimento) - "Correm logo os soldados animosos/a dar à
bomba...".

     O clímax desta descrição é atingido quando, diante da perspetiva de naufrágio,


Vasco da Gama, em nome de todos os marinheiros, e vendo que, tão perto de atingirem
o seu objetivo, iam perecer, suplica novamente a proteção divina "Divina Guarda,
Angélica, celeste", utilizando no seu discurso argumentos poderosos que se prendem
sobretudo com a dilatação da fé cristã.
     É Vénus que, confirmando a sua admiração pelos portugueses, surge juntamente com
as suas ninfas para salvá-los das obras de Baco.
 
► A chegada dos Portugueses à Índia —Canto VI (a partir da estrofe 92)

     Vencidos todos os medos e perigos, os portugueses avistam finalmente a terra


desejada, a Índia. A sua luta é coroada de êxito e de vitória. Por isso, na viagem de
regresso eles vão ser premiados com a Ilha dos Amores (Canto IX), preparada por
Vénus, onde recebem a recompensa pela sua coragem.
     No último canto, os portugueses conhecem profecias feitas por Tétis, favoráveis a
novas descobertas. Finalmente, os navegadores regressam à pátria, onde poderão contar
os seus feitos.

     Antes de terminar o poema, Camões dá conta da sociedade vil em que está inserido,
sabendo que nunca será reconhecido pelos seus contemporâneos, e volta a apelar ao rei
D. Sebastião para que, olhando para estes feitos relatados, faça da sua nação novamente
uma nação gloriosa, colocando-se à disposição do rei quer nas armas, combatendo se
necessário fosse, quer nas letras, estando pronto a celebrar novos feitos da pátria.

Você também pode gostar