Teoria Dos Conjuntos Propriedades Ok
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Teoria Dos Conjuntos Propriedades Ok
16 de outubro de 2016
1 Alerta: Esse texto é apenas um roteiro usado pelo professor da disciplina para organizar suas aulas.
Como se trata de uma primeira versão, não passou por revisão e está incompleto. Logo você encontrará
erros de digitação, de português, de notação etc. Caso encontre qualquer problema, por favor me avise
para que eu possa corrigir. A disposição dos conteúdos é fortemente inspirada no livro do Introdução a
1 Conjuntos 5
1.1 Noção de conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2 Igualdade e inclusão 13
2.1 Igualdade de conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.4 Subconjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3
4 SUMÁRIO
3.2 Interseção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.3 Reunião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4 Produto Cartesiano 35
4.1 Quadrado cartesiano de um conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
5 Relações 41
Capítulo 1
Conjuntos
1.1 Noção de conjunto
A noção de conjunto, fundamental na Matemática de nossos dias, não é suscetível de denição
precisa a partir de noções mais simples, ou seja, é uma noção primitiva.
Intuitivamente, por conjunto entenderemos qualquer coleção bem denida de objetos dis-
tinguíveis, não importando sua natureza. Os objetos que constituem um conjunto são chamados
deelementos do conjunto.
Exemplo:
3. Uma reta pode ser considerada um conjunto dos pontos, neste caso cada ponto dessa reta
é um elemento do conjunto.
É costume denotar conjuntos usando letras maiúsculas e seus elementos por letras minúsculas.
Por exemplo: o conjunto A cujos elementos são a, b e c, será representado pela notação:
A = {a, b, c}
que deve ser lida: A é o conjunto cujos elementos são a, b e c . Observe que os elementos
devem ser separados por vírgulas e delimitados por chaves.
Exemplo:
1. O conjunto das letras da palavra `Matemática': L = {m, a, t, e, i, c}. Aqui foi escolhida a
letra L por lembrar a palavra letras, mas M também teria sido uma boa escolha;
3. O conjunto dos meses do ano com 30 dias: T = {Abril, Junho, Setembro, Novembro}.
5
6 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS
x ∈ A,
y 6∈ A.
Quando dois ou mais elementos pertencem a um mesmo conjunto é bastante comum listá-los
e usar apenas um símbolo de pertinência. Por exemplo, a notação a, b, c ∈ A signica que os
três elementos pertencem ao conjunto A, ou seja, a ∈ A, b ∈ A e c ∈ A.
Um elemento particular de A é um elemento especíco desse conjunto, o qual pode ser
distinguido dos demais por sua natureza ou denição. Ao contrário, um elemento arbitrário de
A é um elemento do qual nada se supõe, salvo sua pertinência ao conjunto A.
Exemplo: Considere o conjunto A = {1, 2, 3, 4, 5}, então:
1 ∈ A, 2 ∈ A, 6∈
/ A, 3, 4, 5 ∈ A.
é uma família de conjuntos, cujos elementos são {2, 3}, {2}, e {5, 6, 7}. Neste caso
Note que 2∈
/F e 5∈
/ F, pois os elementos de F não são números, são conjuntos!
Uma reta é um conjunto de pontos e, portanto, um conjunto de retas pode ser considerado
uma família de retas.
Também faz sentido considerar um conjunto no qual alguns elementos são conjuntos e outros
não. Por exemplo: F = {{2, 3}, 2, {5}} Aqui
{2, 3} ∈ F, 3∈
/ F, 2 ∈ F, {2} ∈
/ F, {5} ∈ F e 5∈
/F
1.4. CONJUNTO UNIVERSO 7
Por exemplo: em Aritmética o universo pode ser conjunto de todos os números inteiros e em
Geometria o universo pode ser o conjunto de todos os pontos de um plano ou do espaço.
• Conjunto dos números inteiros Z = {0, ±1, ±2, ±3, . . .} ou Z = {. . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . .};
• Conjunto dos números racionais Q, é conjunto de todos os números que podem ser escritos
como o quociente de dois números inteiros, ou seja, que podem ser escritos na forma p/q
com p, q ∈ Z e q 6= 0;
• Conjunto dos números reais R cujos elementos são todos os números racionais e irracionais
(não racionais);
Neste caso dizemos que o conjunto está denido por enumeração ou extensão. Num con-
junto denido por enumeração, a ordem dos elementos é indiferente e cada elemento deve
gurar somente uma vez.
Este critério de pertinência consiste em uma ou mais condições que os elementos do con-
junto devem satisfazer.
No universo U , o conjunto A dos elementos x que vericam a condição p(x) (ou possuem
a propriedade p(x)),é indicado pela notação:
A = {x : x ∈ U e p(x)} ou A = {x ∈ U : p(x)}
8 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS
Caso os elementos do conjunto A precisem vericar mais de uma condição, por exemplo,
p(x) e q(x) simultaneamente, podemos escrever:
A = {x ∈ U : p(x) e q(x)}
Quando não há risco de ambiguidade, pode-se suprimir a indicação do universo U nas de-
nições dos conjuntos escrevendo-se apenas:
Exemplo:
2. B = {x ∈ N : x < 20 e x é primo};
Exemplo:
1. P = {x ∈ N : x + 1 = 3} = {2};
2. Q = {x ∈ R : x2 = 0} = {0};
O conjunto dos elementos que vericam uma condição impossível é um conjunto sem ele-
mentos, portanto convencionaremos chamá-lo de conjunto vazio. Trata-se de uma convenção
Matemática que amplia o signicado usual da palavra conjunto.
1. A = {x ∈ R : x2 < 0} = ∅
2. R = {x ∈ N : x = x + 1} = ∅
1.9. CONJUNTOS FINITOS E INFINITOS 9
A = {x ∈ Z; |x| 6 2} e {1, 2, 3, 4, 5}
Para completar nossa denição, assumimos que o conjunto vazio é nito e possui zero ele-
mentos. Finalmente, diremos que um conjunto é innito quando ele não for nito.
• A vazio ⇒ n(A) = 0;
Para representar um conjunto nito, com um número não determinado de elementos, usamos
três pontos ente vírgulas, por exemplo:
E para representar conjuntos innitos, listamos uma quantidade representativa de seus ele-
mentos colocando de três pontos entre a última virgula e a chave que delimita o conjunto, por
exemplo:
{1, 2, 3, 4, . . .}
No parágrafo acima o termo quantidade representativa deve ser entendido como uma
quantidade de elementos suciente para caracterizar qual propriedade um elemento deve possuir
para estar nesse conjunto.
Para indicar que um conjunto nito possui exatamente k elementos (sendo k um número
natural qualquer) pode-se escrever
{a1 , a2 , a3 , . . . , ak }.
Não Negativos:
Os conjuntos numéricos Z+ , Q+ e R+ são obtidos a partir dos conjuntos numéricos Z, Q e R
considerando-se apenas os elementos não negativos (ou seja, maiores ou iguais a zero). Portanto:
. . .
Z+ = {x ∈ Z : x > 0}, Q+ = {x ∈ Q : x > 0} e R+ = {x ∈ R : x > 0}.
Não Positivos:
Os conjuntos numéricos Z− , Q− e R− são obtidos a partir dos conjuntos numéricos Z, Q e R
considerando-se apenas os elementos não positivos (ou seja, menores ou iguais a zero). Portanto:
. . .
Z− = {x ∈ Z : x 6 0}, Q− = {x ∈ Q : x 6 0} e R− = {x ∈ R : x 6 0}.
Combinando notações:
Também é comum considerar conjuntos numéricos não positivos, ou não negativos, sem o
zero, para isso usaremos as notações:
. . . .
Z∗+ = {x ∈ Z : x > 0} = N, Q∗+ = {x ∈ Q : x > 0}, R∗+ = {x ∈ R : x > 0},
. . .
Z∗− = {x ∈ Z : x < 0}, Q∗− = {x ∈ Q : x < 0}, R∗− = {x ∈ R : x < 0}.
.
Observação: Note que nos conjuntos acima foi usado o símbolo = em vez do símbolo de
igualdade = . Este é um símbolo de denição bastante comum em textos de Matemática. A
.
expressão A = {a, b, c} signica que o autor passará a denominar por A o conjunto {a, b, c}.
Alguns autores também usam o símbolo := com esse mesmo signicado.
Os números reais à direita do zero (que estão do mesmo lado que o 1) formam o conjunto
R∗+ dos números reais positivos, já os números reais à esquerda do zero formam o conjunto R∗−
dos números reais negativos. O número 0 não é positivo nem negativo.
.
• intervalo semi-aberto à direita de extremos a eb: [a, b) = {x ∈ R; a 6 x < b}
.
• intervalo semi-aberto à esquerda de extremos a e b: (a, b] = {x ∈ R : a < x 6 b}
.
• intervalo aberto de extremos a e b: (a, b) = {x ∈ R : a < x < b}
Em algumas situações particulares, pode ser interessante retirar a exigência a < b. Neste
caso vamos nos deparar com algumas situações incomuns, por exemplo:
• No caso em que b = a, obtemos o intervalo fechado degenerado [a, a] = {a}. Essa situação
ocorre em várias demonstrações da Análise Matemática na qual se usa o Teorema dos
Intervalos Encaixados.
• Para b < a, os intervalos limitados [a, b], [a, b), (a, b] e (a, b) serão todos vazios.
Para ajudar na compreensão desses exemplos abstratos, pense em alguns exemplos numéricos.
Para concluir, convém observar que todos os intervalos limitados, com a < b, são conjuntos
innitos, ou seja, cada um deles tem uma innidade de elementos.
.
1. intervalo fechado ilimitado a esquerda de origem a: (−∞, a] = {x ∈ R : x 6 a};
.
2. intervalo aberto ilimitado a direita de origem a: (a, +∞) = {x ∈ R : x > a};
.
3. intervalo aberto ilimitado a esquerda de origem a: (−∞, a) = {x ∈ R : x < a};
.
4. intervalo aberto ilimitado à esquerda e à direita: (−∞, +∞) = R.
12 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS
Capítulo 2
Igualdade e inclusão
2.1 Igualdade de conjuntos
Apesar de já termos usado o símbolo de igualdade previamente nesse texto e de todos nós
termos uma ideia intuitiva do que devam ser conjuntos iguais, daremos uma denição precisa
desse conceito e estudaremos suas propriedades com um pouco mais de cuidado.
Denição 2.1. Dizemos que os conjuntos A e B são iguais, e denotamos A = B, quando esses
conjuntos têm exatamente os mesmos elementos.
A denição acima pode ser reescrita na linguagem de lógica matemática de seguinte forma:
A = B ⇐⇒ (∀x)(x ∈ A ⇔ x ∈ B) (2.1.1)
Exemplo:
13
14 CAPÍTULO 2. IGUALDADE E INCLUSÃO
1. Reexiva: (∀A)(A = A)
Dem.: Como (∀x)(x ∈ A ⇔ x ∈ A), então A = A.
A ⊂ B ⇐⇒ (∀x)(x ∈ A ⇒ x ∈ B) (2.2.1)
A negação de A⊂B é indicada pela notação A 6⊂ B , que se lê: A não está contido em B
ou A não é subconjunto de B . Neste caso, existe pelo menos um elemento em A que não está
em B. Simbolicamente:
A 6⊂ B ⇐⇒ (∃x)(x ∈ A e x∈
/ B) (2.2.2)
2. P = {2, 4, 6, . . .} ⊂ N;
x ∈ Z∗+ =⇒ x ∈ Z e x > 0 =⇒ x ∈ Z e x 6= 0 =⇒ x ∈ Z∗ .
Portanto, para todo x, se x ∈ Z∗+ então x ∈ Z∗ , isto é, Z∗+ ⊂ Z∗ .
Na prova acima a primeira e a última implicações (⇒) poderiam ser substituídas por equi-
valências (⇔), pois essa é a denição desses conjuntos, apenas a segunda implicação não admite
essa substituição. Mas levando em conta o que precisa ser demonstrado, as implicações são
sucientes.
1. Reexiva: (∀A)(A ⊂ A)
Dem.: Como (∀x)(x ∈ A ⇒ x ∈ A), então A ⊂ A.
2. Transitiva: (∀A, B, C)(A ⊂ B e B ⊂ C ⇒ A ⊂ C)
Dem.: A⊂B B ⊂ C ⇒ (∀x)(x ∈ A ⇒ x ∈ B) e (∀x)(x ∈ B ⇒ x ∈ C).
e
Pela transitividade do bicondicional temos (∀x)(x ∈ A ⇒ x ∈ C) ⇒ A ⊂ C .
Exemplo:
1. {a} ⊂ {c, a, b} e a ∈ {c, a, b} são armações verdadeiras;
Analise cada uma das linhas da tabela acima com bastante cuidado, para certicar-se que
não pairam dúvidas a respeito do uso correto desses símbolos.
3. O conjunto dos números racionais Q e o conjuntos dos números irracionais não são com-
paráveis.
2.4 Subconjuntos
Denição 2.4. Diremos que A é subconjunto (ou parte) de B quando A ⊂ B.
Note que, para qualquer conjunto B temos B ⊂ B e ∅ ⊂ B, logo esses conjuntos são
chamados de subconjuntos triviais ou partes impróprias. No caso particular em que
A ⊂ B, A 6= ∅ e A 6= B
A B ⇐⇒ A ⊂ B e A 6= B (A é subconjunto próprio de B)
3. Um conjunto com dois elementos A = {a, b} possui quatro subconjuntos: ∅, {a}, {b}, A.
4. Ao analisar um conjunto com três ou mais elementos, precisamos tomar um pouco mais
de cuidado. A dica é enumerar todos os subconjuntos com um número xo de elementos
e ir aumentando esse número, da seguinte forma.
5. A ideia usada no item anterior pode ser extrapolada para um conjunto com n elementos.
O primeiro passo é recordar que a combinação
n n!
=
p p!(n − p)!
Teorema 2.1. Todo conjunto nito com n elementos tem 2n subconjuntos distintos.
Pn n
(x + y)n = xp y n−p ,
Nessa prova usamos o binômio de Newton p=0 p com x = y = 1.
Observação: O quadradinho que usamos no nal da demonstração acima serve apenas
para avisar o leitor que essa demonstração encerra-se aqui.
18 CAPÍTULO 2. IGUALDADE E INCLUSÃO
Essa notação é especialmente útil em textos matemáticos longos, pois permite que o leitor
pule uma demonstração e faça uma primeira leitura do texto sem entrar em detalhes técnicos
de algumas demonstrações, que podem ser bastante extensas e desviar a atenção do leitor do
objetivo nal do texto.
Em vez de quadradinho aberto, como foi usado acima, alguns autores preferem usar retân-
gulos ou quadradinhos pretos ou ainda a abreviatura CQD, cujo signicado é conforme
queríamos demonstrar.
P(E) = {A; A ⊂ E}
• A ⊂ E ⇐⇒ A ∈ P(E)
• b ∈ E ⇐⇒ {b} ⊂ E ⇐⇒ {b} ∈ P(E)
Note que:
E ⊂ F ⇐⇒ P(E) ⊂ P(F ).
1. E ⊂ F =⇒ P(E) ⊂ P(F ).
2. E ⊂ F ⇐= P(E) ⊂ P(F ).
Hipótese: E⊂F
Tese: P(E) ⊂ P(F ).
Note que: Para provar que P(E) ⊂ P(F ), devemos mostrar que todo elemento de P(E) está em
P(F ). Para isso basta tomar um elemento genérico A ∈ P(E) e mostrar que A ∈ P(F ).
Mas se A ∈ P(E) então A ⊂ E . Como E ⊂ F , por hipótese, e a inclusão é transitiva então
A⊂F e portanto A ∈ P(F ), o que conclui a prova da primeira implicação.
Todos os elementos da prova acima podem ser condensados em uma prova que usa apenas
símbolos, da seguinte forma:
E⊂F
A ∈ P(E) =⇒ A ⊂ E =⇒ A ⊂ F =⇒ A ∈ P(F ).
Aqui a prova é mais direta. Note que precisamos mostrar apenas que E ⊂ F. Como E ∈ P(E)
e P(E) ⊂ P(F ) então E ∈ P(F ), o que signica que E ⊂ F.
Limpando todos os comentários acima a respeito de como demonstrar um teorema que en-
volve uma equivalência, a demonstração nal poderia ser assim.
Dem.(Teorema 2.2):
(⇒) SeA ∈ P(E) então A ⊂ E . Como E ⊂ F então A ⊂ F , ou seja, A ∈ P(F ). Isso mostra
queP(E) ⊂ P(F ).
(⇐) Como E ∈ P(E) e, por hipótese, P(E) ⊂ P(F ), então E ∈ P(F ) ⇒ E ⊂ F.
Simbolicamente:
{E A = {x ∈ E; x 6∈ A}
P1 . {E ∅ = E
De fato, {E ∅ = {x; x ∈ E e x 6∈ ∅} = {x; x ∈ E} = E.
P2 . {E E = ∅
De fato, {E E = {x; x ∈ E e x 6∈ E} = ∅.
P3 . {E ({E A) = A
De fato, {E ({E A) = {x; x ∈ E e x 6∈ ({E A)} = {x; x ∈ E e x ∈ A} = A.
P4 . A ⊂ B ⇐⇒ {E A ⊃ {E B
(⇒) Suponha que A ⊂ B , queremos provar que {E B ⊂ {E A.
x ∈ {E B ⇒ x ∈ E e x ∈
/B⇒x∈E ex∈ / A ⇒ x ∈ {E A.
∅c = U, U c = ∅, (Ac )c = A e A ⊂ B ⇔ Ac ⊃ B c .
Capítulo 3
Num diagrama de Venn, os elementos do conjunto são indicados por pontos internos a região
delimitada por essas curvas e os elementos que não pertencem ao conjunto são representados
por pontos externos a essa região, como no exemplo abaixo.
Exemplo: Um diagrama de Venn para os conjuntos A = {a, b, c}, B = {c, d} e C = {a, b, c, d, e.f }.
Neste modelo de vizualização nenhum elemento pode ser representado por pontos exatamente
em cima da curva fechada que delimita a região (na fronteira).
3.2 Interseção
Denição 3.1. Chamaremos de interseção dos conjuntos A e B ao conjunto formado por todos
os elementos que pertencem simultaneamente a A e a B.
Esse conjunto é denotado A ∩ B, que se lê: A interseção B ou, A inter B.
Simbolicamente, temos:
A ∩ B = {x : x ∈ A e x ∈ B}.
Exemplo:
21
22 CAPÍTULO 3. OPERAÇÕES COM CONJUNTOS
5. Sejam r e s duas retas contidas um mesmo plano α. Então três situações distintas podem
ocorrer
6. Seja R o conjunto dos retângulos, L o conjunto dos losangos e Q o conjunto dos quadrados
da geometria euclidiana. Neste caso
Q = R ∩ L,
o que signica dizer que os quadrados são os retângulos e também são losangos.
Denição 3.2. Dizemos que dois conjuntos são disjuntos quando não possuem elementos em
comum, ou seja, A e B são disjuntos quando A ∩ B = ∅.
Exemplo:
1. Os conjuntos A = {1, 2, 3} e B = {−1, −2, −3} são claramente disjuntos.
Dem.: Para provar que A ∩ B ⊂ A devemos mostrar que qualquer elemento do conjunto A ∩ B
também está em A, o que segue diretamente da denição. Simbolicamente podemos usar a lei
da simplicação da lógica e escrever assim:
x ∈ A ∩ B ⇒ x ∈ A∧ ∈ B ⇒ x ∈ A.
(⇒) Sabendo que A ⊂ B, queremos provar que A ∩ B = A. Pelo item acima já sabemos que
A ∩ B ⊂ A logo, para termos a igualdade, só precisamos mostrar que A ∩ B ⊃ A.
Seja x ∈ A, como A ⊂ B então x ∈ A e x ∈ B , ou seja, x ∈ A ∩ B . Como x é um elemeto
qualquer de A, mostramos que qualquer elemento de A está em A ∩ B , logo, A ∩ B ⊃ A.
Dem.: Também dividiremos essa demonstração em duas partes. Ida(⇒) e volta (⇐). Mas em
vez de falar
Como x acima foi escolhido arbitrariamente, segue que todo elemento de X∩A está em
X ∩ B, ou seja X ∩ A ⊂ X ∩ B.
P2 . A ∩ U = A; [elemento neutro]
P4 . A ∩ A = A; [idempotência]
P5 . A ∩ B = B ∩ A; [comutatividade]
P6 . (A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C); [associatividade]
Denição 3.3. A interseção dos conjuntos A1 , A2 , . . . , An é o conjunto dos elementos que per-
tencem simultaneamente a todos esses n conjuntos. Neste caso usamos as notações
n
\
A1 ∩ A2 ∩ . . . ∩ An ou Aj
j=1
Dessa forma
n
\
Aj = {x; x ∈ A1 e x ∈ A2 e . . . x ∈ An },
j=1
ou ainda
n
\ n o
Aj = x; ∀j ∈ {1, 2, . . . , n} x ∈ Aj .
j=1
E teremos
n
\
x∈ Aj ⇔ ∀j ∈ {1, 2, . . . , n} x ∈ Aj .
j=1
Exemplo:
1. Se A1 = [0, 1], A2 = [0, 2], A3 = [0, 3], ..., An = [0, n]. Então
n
\
Aj = [0, 1]
j=1
2. Se A1 = [1, +∞), A2 = [2, +∞), A3 = [3, +∞), ..., An = [n, +∞). Então
n
\
Aj = [n, +∞)
j=1
3. Considere os conjuntos
5
\
Aj = {60, 120, 180, 240, . . .}
j=3
3.3 Reunião
Denição 3.4. Chamaremos de reunião (ou união) dos conjuntos AeB ao conjunto formado
por todos os elementos que pertencem ao conjunto A ou ao conjunto B.
Esse conjunto é denotado A ∪ B, que se lê: A reunião B ou A união B . Logo
A ∪ B = {x; x ∈ A ou x ∈ B}.
Exemplo:
Observação: Nos teoremas abaixo não especicamos quem são os conjuntos A, B e X. Sempre
que isso ocorrer, deve-se entender que o autor não está impondo nenhuma restrição adicional
aos objetos que estão sendo estudados.
Dem.: Seja x∈A um elemento qualquer então pela lei da adição da lógica
x∈A⇒x∈A ou x ∈ B ⇒ x ∈ A ∪ B.
Dem.: (⇒) Sabendo que A ⊂ B, queremos provar que A ∪ B = B. Pelo teorema anterior
sabemos que B ⊂ A ∪ B logo, para termos a igualdade, só precisamos mostrar que B ⊃ A ∪ B.
Como A ⊂ B , se x ∈ A então x ∈ B . Logo valem as implicações
A⊂B
x∈A∪X ⇒x∈A ou x ∈ X =⇒ x ∈ B ou x ∈ X ⇒ x ∈ X ∪ B.
P1 . A ∪ ∅ = A; [elemento neutro]
P2 . A ∪ U = U;
Com efeito, como A ⊂ U ⇒ A ∪ U = U.
P3 . A ∪ Ac = U;
Basta observar que A ∪ Ac = {x; x ∈ A ou x ∈ AC } = {x; x ∈ A ou x∈
/ A} = U .
P4 . A ∪ A = A; [idempotência]
P5 . A ∪ B = B ∪ A; [comutatividade]
P6 . (A ∪ B) ∪ C = A ∪ (B ∪ C); [associatividade]
Com efeito, x ∈ (A ∪ B) ∪ C ⇔ x ∈ (A ∪ B) ou x ∈ C ⇔ (x ∈ A ou x ∈ B) ou x ∈ C
⇔x∈A ou (x ∈ B ou x ∈ C) ⇔ x ∈ A ou x ∈ (B ∪ C) ⇔ x ∈ A ∪ (B ∪ C).
3.3. REUNIÃO 27
Teorema 3.9. A ∩ (A ∪ B) = A e A ∪ (A ∩ B) = A.
Observação: Na prova acima usamos o termo analogamente para enfatizar que os argumentos
usados na prova da segunda identidade eram análogos. É muito comum o autor dizer apenas que
a prova da segunda identidade é análoga, deixando para o leitor a obrigação de vericar que
os argumentos usados são muito parecidos, apesar de poder guardarem diferenças substanciais.
Teorema 3.10.
1. A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C) e
2. A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C).
Dem.: A demonstração dessas propriedades usa apenas as leis distributivas da lógica. Faremos
uma delas e deixaremos a outra como exercício.
x ∈ A ∩ (B ∪ C) ⇔ x ∈ A e x∈B∪C ⇔ x∈A e (x ∈ B ou x ∈ C)
⇔ (x ∈ A e x ∈ B) ou (x ∈ A e x ∈ C)
⇔ (x ∈ A ∩ B) ou (x ∈ A ∩ C) ⇔ x ∈ A ∩ B) ∪ (A ∩ C)
O último teorema dessa subseção é conhecido como Leis de De Morgan que armam: O
complementar da interseção é a reunião dos complementares; e o complementar da reunião é a
interseção dos complementares.
Teorema 3.11.
1. (A ∩ B)c = Ac ∪ B c e
2. (A ∪ B)c = Ac ∩ B c .
Dem.: Aqui também a demonstração consiste em aplicar as leis de De Morgan da lógica. Como
no teorema anterior, faremos uma delas e deixaremos a outra como exercício.
x ∈ (A ∩ B)c ⇔ x ∈
/ A∩B ⇔ ∼ x∈A∩B ⇔∼ x∈A e x∈B
⇔ ∼ (x ∈ A) ou ∼ (x ∈ B) ⇔ x ∈
/A ou x∈
/B
c c c c
⇔ x∈A ou x∈B ⇔ x∈A ∪B
28 CAPÍTULO 3. OPERAÇÕES COM CONJUNTOS
n
[
A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ An ou Aj
j=1
Dessa forma
n
[
Aj = {x; x ∈ A1 ou x ∈ A2 ou . . . x ∈ An },
j=1
ou ainda
n
[ n o
Aj = x; ∃j ∈ {1, 2, . . . , n} x ∈ Aj .
j=1
E teremos
n
[
x∈ Aj ⇔ ∃j ∈ {1, 2, . . . , n} x ∈ Aj .
j=1
Exemplo:
1. Se A1 = [0, 1], A2 = [0, 2], A3 = [0, 3], ..., An = [0, n]. Então
n
[
Aj = [0, n]
j=1
2. Se A1 = [1, +∞), A2 = [2, +∞), A3 = [3, +∞), ..., An = [n, +∞). Então
n
[
Aj = A1
j=1
A álgebra de conjuntos possui uma analogia muito forte com a álgebra de números usual
(aritmética).
Obviamente também existem grandes diferenças, por exemplo, dois conjuntos AeB nem sempre
são comparáveis, enquanto que dois números (reais) serão sempre comparáveis, ou seja, dados
a, b ∈ R teremos a6b ou b 6 a.
Essa estrutura algébrica nos leva naturalmente a pensar em expressões algébricas e simplica-
ção de expressões, que simplicam a compreensão dos conjuntos que estamos estudando. A ideia
é usar todas as propriedades que provamos envolvendo reunião, interseção e complementação
para obter expressões mais simples.
Exemplo:
1. A ∩ (B ∩ Ac ) = A ∩ (Ac ∩ B) = (A ∩ Ac ) ∩ B = ∅ ∩ B = ∅.
2. A ∪ (Ac ∪ ∅) = A ∪ Ac = U.
3. (A ∪ B) ∩ B c = (A ∪ B c ) ∪ (B ∩ B c ) = (A ∪ B c ) ∪ ∅ = A ∪ B c .
x∈A−B ⇔ x∈A e x∈
/ B.
Observação:
B ⊂ A ⇒ {A B = A − B
A − B = {x ∈ E; x ∈ A e x∈
/ B} = {x ∈ E; x ∈ A e x ∈ {E B} = A ∩ {E B.
Exemplo:
P 1 . A − ∅ = A.
Basta observar que ∀x, x ∈ (A − ∅) ⇔ x ∈ A e x∈
/ ∅ ⇔ x ∈ A.
P 2 . U − A = Ac .
Observe que, x ∈ (U − A) ⇔ x ∈ U e x∈
/A⇔x∈U e x ∈ Ac ⇔ x ∈ Ac ..
P3 . A − A = ∅.
Com efeito, x ∈ (A − A) ⇔ x ∈ A e x ∈ / A. Como não existe x que satisfaça essas duas
condições simultaneamente, então A − A = ∅.
P 4 . A − Ac = A.
Note que x ∈ A − Ac ⇔ x ∈ A e / Ac ⇔ x ∈ A
x∈ e x ∈ A ⇔ x ∈ A.
P5 . (A − B)c = Ac − B .
Com efeito,
x ∈ (A − B)c ⇔ x ∈
/ A − B ⇔ ∼ (x ∈ A − B) ⇔ ∼ (x ∈ A e x∈
/ B)
⇔ ∼ (x ∈ A) ou ∼ (x ∈
/ B) ⇔ x ∈
/A ou x∈B
c c
⇔ x∈A ou x ∈ B ⇔ x ∈ A ∪ B.
P 6 . A − B = B c − Ac .
Pois, x ∈ B c − Ac ⇔ x ∈ B c e / Ac ⇔ x ∈
x∈ /B e x∈A⇔x∈A e x∈
/ B ⇔ x ∈ A − B.
P7 . (A − B) − C = A − (B ∪ C).
De fato,
x ∈ (A − B) − C ⇔ x ∈ A − B e x∈
/C
⇔ (x ∈ A e x∈
/ B) e x∈
/C
⇔ x∈A e (x ∈
/B e x∈
/ C)
⇔ x∈A e (∼ (x ∈ B) e ∼ (x ∈ C))
⇔ x∈A e ∼ (x ∈ B ou x ∈ C)
⇔ x∈A e ∼ (x ∈ B ∪ C)
⇔ x ∈ A − (B ∪ C).
P8 . A − (B − C) = (A − B) ∪ (A ∩ C).
Note que,
x ∈ (A − B) ∪ (A ∩ C) ⇔ x ∈ A − B ou x∈A∩C
⇔ (x ∈ A e x∈
/ B) ou (x ∈ A e x ∈ C)
⇔ x∈A e (x ∈
/B ou x ∈ C)
⇔ x∈A e ∼ (x ∈ B e x∈
/ C)
⇔ x∈A e ∼ (x ∈ B ∩ C)
⇔ x∈A e x∈
/ B∩C
⇔ x ∈ A − (B ∩ C).
3.5. DIFERENÇA SIMÉTRICA 31
P9 . A ∪ (B − C) = (A ∪ B) − (C − A) e
A ∩ (B − C) = (A ∩ B) − (A ∩ C).
P10 . A − (B ∪ C) = (A − B) ∩ (A − C) e
A − (B ∩ C) = (A − B) ∪ (A − C).
P11 . (A ∪ B) − C = (A − C) ∪ (B − C) e
(A ∩ B) − C = (A − C) ∩ (B − C).
P12 . A − (A − B) = A ∩ B e
(A − B) − B = A − B.
A4B = {x; (x ∈ A e x∈
/ B) ou (x ∈ B e x∈
/ A)}.
Note que
x ∈ A4B ⇔ (x ∈ A e x∈
/ B) ou (x ∈ B e x∈
/ A) ⇔ x ∈ (A − B) ∪ (B − A),
ou seja,
A4B = (A − B) ∪ (B − A).
Também é fácil ver que a diferença simétrica dos conjuntos A e B é o conjunto de todos os
elementos que estão na reunião de A e B e não estão na interseção de A e B, ou seja,
A4B = (A ∪ B) − (B ∩ A).
P1 . A4B = B4A;
P2 . (A4B)c = (A ∩ B) ∪ (Ac ∩ B c );
P3 . (A4B)4C = A4(B4C);
P5 . A ∪ (B4C) = (A ∪ B ∪ C) − (Ac ∩ B c ∩ C c );
32 CAPÍTULO 3. OPERAÇÕES COM CONJUNTOS
Há duas notações distintas que são comumente usados, dependendo do contexto. Suponha
primeiramente que para cada elemento i de algum conjunto I corresponde um conjunto Ai .
Vamos nos referir à coleção
{Ai ; i ∈ I}
como uma família indexada de conjuntos, sendo I o conjunto de índices dessa família.
Exemplo: Para cada j∈N considere o intervalo fechado Aj = [0, j]. A coleção de todos esses
intervalos pode ser denotada por
A = {Aj ; j ∈ N}
é uma família indexada de conjuntos cujo conjunto de índices é N.
Exemplo: Para cada numero racional a considere o conjunto Ra = {x ∈ Q; x < a}. Neste caso
a família indexada de conjuntos é
R = {Ra ; a ∈ R}
e o conjunto de índices é Q.
Observação: A família R acima é particularmente importante em análise matemática. Seus
elementos são chamados de cortes racionais e aparecem na construção dos números reais pelo
método dos cortes de Dedekind.
Denição 3.8.
S
A união de uma família indexada {Ai : i ∈ I} é o conjunto i∈I Ai formado
por todos os elementos que se encontram em um ou mais dos conjuntos Ai da família, ou seja
[
Ai = {x; (∃i ∈ I) x ∈ Ai }
i∈I
dessa forma
[
x∈ Ai ⇔ ∃i ∈ I, x ∈ Ai .
i∈I
Denição 3.9.
T
A interseção de uma família indexada {Ai : i ∈ I} é o conjunto i∈I Ai formado
por todos os elementos que se encontram em todos os conjuntos Ai da família, ou seja
\
Ai = {x; (∀i ∈ I) x ∈ Ai }
i∈I
dessa forma
\
x∈ Ai ⇔ ∀i ∈ I, x ∈ Ai .
i∈I
Observe que o caso em que o conjunto de índices I consiste de apenas dois elementos, digamos
I = {1, 2} então
[ \
Ai = A1 ∪ A2 e Ai = A1 ∩ A2 .
i∈I i∈I
3.6. REUNIÕES E INTERSEÇÕES ARBITRÁRIAS 33
assim as noções de união e intersecção arbitrária de famílias indexadas são generalizações das
noções de união e intersecção de pares de conjuntos e, portanto, também de reuniões e interseções
nitas de conjuntos.
O próximo teorema, apesar de simples, ilustra muito bem o papel que essas denições arbi-
trárias de reunião e interseção desempenham na teoria e a forma correta de manipulá-las.
Teorema 3.12. Seja {Ai : i ∈ I} uma família indexada de conjuntos. Então para qualquer
io ∈ I temos [ \
Aio ⊂ Ai e Ai ⊂ Aio .
i∈I i∈I
Observe que nas demonstrações acima não foi mencionado nem uma vez se o conjunto de
índices era nito ou innito. Também não foi feito qualquer menção se determinado conjunto
Ai seria o primeiro ou o segundo ou ainda que exista uma ordem qualquer estabelecida entre
eles.
De fato, o conjunto de índices não precisa ter nenhuma ordem particular (por exemplo: do
menor para o maior), portanto não precisa haver uma maneira natural indexar uma família de
conjuntos. As demonstrações dependem exclusivamente das denições de união e intersecção
em termos de quanticadores sobre o conjunto de índices. Esse mesmo tipo de raciocínio será
usado nos próximos teoremas.
Teorema 3.13. Seja {Ai : i ∈ I} uma família indexada de conjuntos qualquer e B um conjunto
arbitrário, então:
S S
a. B∪ i∈I Ai = i∈I (B ∪ Ai ) ;
T T
b. B∩ i∈I Ai = i∈I (B ∩ Ai ) ;
Dem.: Faremos apenas a prova do item a., o item b. ca para o leitor.
[ [
x∈B∪ Ai ⇔ x ∈ B ou x∈ Ai ⇔ x ∈ B ou ∃i ∈ I, x ∈ Ai
i∈I i∈I
⇔ ∃i ∈ I, x ∈ B ou x ∈ Ai ⇔ ∃i ∈ I, x ∈ B ∪ Ai
[
⇔ x ∈ (B ∪ Ai )
i∈I
Teorema 3.14 (Leis Distributivas) . Seja {Ai : i ∈ I} uma família indexada de conjuntos
qualquer e B um conjunto arbitrário, então:
S S
a. B∩ i∈I Ai = i∈I (B ∩ Ai ) ;
T T
b. B∪ i∈I Ai = i∈I (B ∪ Ai ) ;
34 CAPÍTULO 3. OPERAÇÕES COM CONJUNTOS
Dem.: Como no teorema anterior, faremos apenas a prova do item a. e deixaremos o item b.
para o leitor.
[ [
x∈B∩ Ai ⇔ x ∈ B e x∈ Ai ⇔ x ∈ B e ∃i ∈ I, x ∈ Ai
i∈I i∈I
⇔ ∃i ∈ I, x ∈ B e x ∈ Ai ⇔ ∃i ∈ I, x ∈ B ∩ Ai
[
⇔ x ∈ (B ∩ Ai )
i∈I
Teorema 3.15 (Leis de De Morgan) . Seja {Ai : i ∈ I} uma família indexada de conjuntos
qualquer e B um conjunto arbitrário, então:
c
Aci ;
S T
a. i∈I Ai = i∈I
c
Aci ;
T S
b. i∈I Ai = i∈I
Existe uma notação alternativa para uniões e interseções arbitrárias quando o família de
conjuntos não é indexada. Seja F uma coleção de conjuntos qualquer. Vamos denotar a reunião
de todos os elementos da família por
[
F = {x; (∃A ∈ F) x ∈ A},
S
ou seja, x∈ F ⇔ (∃A ∈ F) x ∈ A.
Analogamente,
\
F = {x; (∀A ∈ F) x ∈ A},
T
e assim, x∈ F ⇔ (∀A ∈ F) x ∈ A.
Obviamente, caso a coleção F possa ser indexada por um conjunto de índices I, teremos
F = {Ai ; i ∈ I} e
[ [ \ \
F= Ai e F= Ai
i∈I i∈I
Capítulo 4
Produto Cartesiano
Denição 4.1. Dados dois elementos, x e y , chamaremos de par ordenado um terceiro elemento
denotado (x, y). Também dizemos que x é a primeira coordenada e y é a segunda coordenada do
par ordenado (x, y).
Aqui o adjetivo ordenado enfatiza que a ordem na qual os elementos x e y aparecem entre
os parênteses é essencial. Também é comum chamar os elementos x e y de de primeira projeção
e segunda projeção do par ordenado (x, y), respectivamente, e denotar isso por:
x = π1 (x, y) e y = π2 (x, y)
Note que o par ordenado (a, b) não é o mesmo que o conjunto {a, b}.
Denição 4.2. Dizemos que dois pares ordenados (x, y) e (a, b) são iguais se e somente se
x=a e y = b. Simbolicamente, temos:
Denição 4.3. Sejam AeB dois conjuntos quaisquer. O conjunto de todos os pares ordenados
(x, y), com x ∈ A e y ∈ B, é chamado o produto cartesiano de A e B, e denotado A × B.
Simbolicamente
A × B = {(x, y); x ∈ A e y ∈ B}
A × B = {(a, 1), (a, 2), (a, 3), (b, 1), (b, 2), (b, 3)} e
B × A = {(1, a), (1, b), (2, a), (2, b), (3, a), (3, b)}.
35
36 CAPÍTULO 4. PRODUTO CARTESIANO
Observação: A
B são nitos, com número de elementos n(A) = m e
Se os conjuntos e
n(B) = n, então o produto cartesiano A×B também é um conjunto nito com n(A×B) = m·n,
ou seja,
n(A × B) = n(A) · n(B).
Exemplo:
Uma forma mais comum de escrever esse conjunto é observar que [0, 1]×[0, 1] é subconjunto
de R×R e escrever
O conjunto de todos os pares ordenados da forma (x, x), com x ∈ A, é chamado de diagonal
2
do quadrado A e indicado por DA2 , ou seja,
A2 = {(a, a), (a, b), (a, c), (b, a), (b, b), (b, c), (c, a), (c, b), (c, c)}
e
DA2 = {(a, a), (b, b), (c, c)}
Observe-se que o quadrado A2 tem exatamente 32 = 9 elementos e que a sua diagonal DA2 tem
3 elementos.
4.2. PROPRIEDADES DO PRODUTO CARTESIANO 37
Observação: Dispondo os elementos de A2 em forma de quadrado, os pares ordenados (a, a), (b, b),
e (c, c) estarão dispostos na diagonal indicada abaixo,
P1 . A × B = ∅ ⇔ A = ∅ ou B = ∅;
Suponha, por absurdo, que A 6= ∅ e B 6= ∅, neste caso existe pelo menos um elemento
xo ∈ A e pelo menos um elemento yo ∈ B , logo (xo , yo ) ∈ A × B, o que contraria a hipótese
de A × B = ∅.
Observação: Note que a prova acima não está completa, pois a demonstração de um teorema
do tipo se e somente se deve sempre ter duas partes: suciência (⇒) e necessidade (⇐). Na
propriedade acima está provada somente a suciência (usando a técnica de redução ao absurdo).
Isso é bastante comum quando a demonstração da outra implicação é trivial. Neste caso,
para provar a necessidade, devemos supor que um dos conjuntos, A ou B, é vazio, neste caso é
óbvio que não existirão pares ordenados em A × B.
A moral da história aqui é a seguinte: quando o autor não fala nada de uma parte da
demonstração é porque (muito provavelmente) essa parte da demonstração é trivial. No seu
caso, como estudante, jamais deixe de fazer uma demonstração por achá-la fácil. Caso não haja
realmente o que escrever, diga pelo menos que a prova é trivial, evidente ou consequência direta
da denição ou de outro resultado.
Na propriedade abaixo um dos lados também é trivial. Antes de ler a prova, tente descobrir
qual é o lado trivial e qual merece uma prova mais detalhada.
P3 . A ⊂ B ⇒ (i) A × C ⊂ B × C e (ii) C × A ⊂ C × B;
Para provar (i), basta mostrar que todo elemento (x, y) ∈ A × C também é elemento
de B × C . Mas (x, y) ∈ A × C ⇔ x ∈ A e y ∈ C . Como A ⊂ B então x ∈ B e
y ∈ C ⇔ (x, y) ∈ B × C. A prova de (ii) é análoga e ca como exercício.
38 CAPÍTULO 4. PRODUTO CARTESIANO
a. A × (B ∩ C) = (A × B) ∩ (A × C)
b. (A ∩ B) × C = (A × C) ∩ (B × C)
c. A × (B ∪ C) = (A × B) ∪ (A × C)
d. (A ∪ B) × C = (A × C) ∪ (B × C)
e. A × (B − C) = (A × B) − (A × C)
f. (A − B) × C = (A × C) − (B × C)
Vamos fazer a prova de apenas duas das proposições acima para ilustrar todos os passos.
Pense na justicativa para cada uma das passagens e porque essa lista de equivalências é
suciente para garantir a prova.
(x, y) ∈ A × (B ∪ C) ⇔ x ∈ A e y ∈ (B ∪ C)
⇔ x∈A e (y ∈ B ou y ∈ C)
⇔ (x ∈ A e y ∈ B) ou (x ∈ A e y ∈ C)
⇔ (x, y) ∈ A × B ou (x, y) ∈ A × C
⇔ (x, y) ∈ (A × B) ∪ (A × C)
(x, y) ∈ A × (B − C) ⇔ x ∈ A e y ∈ (B − C)
⇔ x∈A e (y ∈ B e y∈
/ C)
⇔ (x ∈ A e x ∈ A) e (y ∈ B e y∈
/ C)
⇔ x∈A e (x ∈ A e y ∈ B) e y∈
/C
⇔ x∈A e (y ∈ B e x ∈ A) e y∈
/C
⇔ (x ∈ A e y ∈ B) e (x ∈ A e y∈
/ C)
⇔ (x, y) ∈ A × B (x, y) ∈
/ A×C
e
⇔ (x, y) ∈ (A × B) − (A × C)
Assim como no caso de pares ordenados, a ordem dos elementos é importante e a lista de
elementos x1 , x2 , . . . , xn pode conter repetições.
Com essa notação, um par ordenado é uma n-upla ordenada com n = 2. Quando n = 3, 4, 5 . . .
costuma-se usamos os nomes tripla ordenada, quadrupla ordenada, quintupla ordenada etc.
Também é válido falar 5-upla ordenada, 8-upla ordenada e assim por diante.
Denição 4.5. Dizemos que duas n-uplas ordenadas (a1 , a2 , . . . , an ) e (x1 , x2 , . . . , xn ) são iguais
se todo elemento da primeira é igual ao elemento correspondente da segunda. Isto é
n
Y
A1 × A2 × . . . × An ou Aj ,
j=1
dessa forma
n
Y
Aj = {(x1 , x2 , . . . , xn ); x1 ∈ A1 e x 2 ∈ A2 e ... e x n ∈ An }
j=1
= {(x1 , x2 , . . . , xn ); ∀j ∈ {1, 2, . . . , n}, xj ∈ Aj },
ou seja
n
Y
(x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Aj ⇔ ∀j ∈ {1, 2, . . . , n}, xj ∈ Aj .
j=1
Qn
Os conjuntos Al , A2 , . . . , An são chamados de fatores do produto cartesiano j=1 Aj .
Relações
41