Lacan - Aula 10
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Clínica Psicanalítica
Aula #10
2- As estruturas clínicas
3- A estrutura da sessão
1- O Édipo
Eixo a————a (imaginário)
a (moi) = eu (ego) —-> criança (narcisismo; sua majestade o bebê)
No outro extremo do eixo temos a` = outro (mãe; a criança como falo da mãe)
“ ` “ é o apêndice no desejo materno, o ponto em que o filho(a) se identifica
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Aula #10
2- As Estruturas Clínicas
Psicose - Fixação no imaginário = o outro próximo demais; o outro da paranóia
Perversão - aparente localização no eixo simbólico, submetido à lei, mas visa “arrastar"o
outro para seus domínios (eixo imaginário)
O a (outro) assume lugar de objeto, porém objeto rígido. Ele não desliga pois sobre ele
o perverso coloca o véu do fetiche.
3- A estrutura da sessão
É por essa via que a análise se inicia, nas “entre vistas”, nos olhares, no conhecimento,
no espelhamento, a————-a`; o analista tomado em sua persona pelo analisando, e o
corte do início da análise para a passagem para o outro eixo.
E Também…
Essa estrutura do X se repete a cada sessão.
Lacan conservou a condição do divã, pois para ele a indicação do divã após as
entrevistas preliminares marcava a entrada em análise.
Comenta sobre a importância do divã, que nesta posição (no divã) favorece ao
analista o momento da transferência no dizer do analisando. Freud diz : insisto,
contudo, nesse procedimento, diz Freud, que tem como objetivo e como
resultado impedir que a transferência se misture imperceptivelmente às
associações do paciente e isolar a transferência, de tal maneira que a vemos
aparecer, num dado momento, em estado de resistência. Freud vê como uma
tática.
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O analista não deve prestar-se ao espetáculo, seu lugar é a invisibilidade.
Em oposição a encenação, a indicação do divã na entrada em análise é um ato
analítico que reproduz em cada análise o inicio da psicanálise.
O autor deixa claro que o olho institui, na relação do sujeito com o outro
imaginário, o desconhecimento de que sob esse desejável há um desejante.
Cabe a essa função chamada por Lacan de desejo do analista ir contra esse
desconhecimento, e fazer com que, sob esse objeto de desejo que detém o
analista, surja para o analisando a interrogação sobre sua própria posição em
relação ao desejo do Outro.
"A primeira vez que um analisante histérico se deitou — era sua primeira análise —
foi acometido por uma tonteira acompanhada de angústia que o fez sentir-se
como “num barco sem remos à deriva no mar”. À sua tentativa de se levantar para
reencontrar seu equilíbrio agarrando-se na imagem do outro, a recusa do
analista revelou-se como um encorajamento à deriva significante. Não poder ver
o efeito de suas palavras na expressão do analista, não ter esse ponto de apoio
de ancoramento na reciprocidade de olhares, faz o sujeito perder literalmente o
apoio, sentindo-se à deriva. Como efeito disso, surgiu o aturdito enquanto
sintoma transitório: ele encontra-se aturdido por seus ditos. Trata-se aqui de um
sintoma como mensagem do Outro [s(A)], cujo deciframento faz emergir a
conjunção da falta de apoio paterno com a queixa dirigida a ele enquanto I(A)
sob a forma de um Pai, não estás me vendo? na atualidade da transferência.
“ (idem).
Privação da Schaulust
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por nada que a análise não se faz em face a face”. Daí o divã ser um corte no olho-no-
olho, nesse corpo a corpo das entre-vistas preliminares. Esse corte na reciprocidade
implica uma postura ética, pois não há simetria entre o sujeito e o Outro, cuja relação
deve ser favorecida. Trata-se de abater o plano geometral da percepção para acentuar a
lógica significante nos entre-ditos, lá onde isso está. Na análise, não estamos numa two-
body psychology, num olhos nos olhos. Cortar a reciprocidade é ainda elidir o “ele olha”
para dar relevância ao “fazer-se olhar”, em que se manifesta no nível escópico a
atividade da pulsão sexual.
Exemplo:
Essa articulação desvelou-se não tanto como sugestão, mas como síndrome de
influência, no caso de uma mulher que veio falar-me sobre o desmoronamento de seu
casamento. Após um relativo apaziguamento de seu desalento ao cabo de algumas
entrevistas, decido encaminhá-la a uma colega. No dia seguinte, a paciente me telefona
para dizer que eu a havia hipnotizado, “mexido em seu subconsciente”, pois, segundo
ela, eu a teria fitado fixamente querendo fazê-la passar por lésbica. O significante ideal
Doutor, pelo qual ela me chamava, vinha no mesmo lugar desse objeto de gozo que me
conferia o poder de vidência e manipulação de seu crânio através dos olhos — poder
que me atribuía, a seu ver, o qualificativo de lacraniano.
A vergonha
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do Outro implica uma transferência em que, contrariamente à neurose, não há erro, mas
acerto, encontro. A vergonha é, pois, um afeto do neurótico: é ao mesmo tempo sinal
de satisfação pulsional e barreira a esta, provocando a divisão do sujeito lá onde ele é
simultaneamente impedido de exibir-se e impelido a desnudar-se. O divã permite ao
analisante, com sua política de avestruz, vencer a vergonha da exibição para obedecer a
regra fundamental. Mas, longe de impedir, ele favorece o “fazer-se olhar” pelo Outro — a
vergonha é o sinal da atividade pulsional expressa pela pulsão escópica.
Evocarei em linhas gerais uma entrada em análise para melhor acentuar o caráter
particular da passagem para o divã, pois o fato de ter tentado depreender aqui o
universal da estrutura que condiciona o uso do divã em psicanálise não significa que
essa passagem não seja sempre particular. Apreender o particular de cada caso é o
único procedimento que temos para não fazer um padrão do uso do divã, assim como
com qualquer outro aspecto da experiência analítica:
Após a primeira entrevista comigo, durante a qual cuspiu um pedaço intragável de sua
história, Joana, que veio me falar de suas desventuras conjugais, torna-se afônica — o
que a fez faltar à segunda entrevista. Essa afonia se tornou rapidamente um sintoma
analítico cuja superdeterminação teve como denominador comum a demanda de
presença dirigida ao pai, que morrera quando era pequena. O pedaço intragável em
questão constituía também um apelo ao pai: quando criança, ao pular uma fogueira,
seu vestido se incendiara. Ela se tornou uma tocha viva, cujo fogo foi rapidamente
apagado. O vestido chamuscado colou em sua pele, e a mãe, ao tentar tirá-lo, arrancou
retalhos de pele colados aos farrapos do vestido. Desse corpo a corpo de horror com a
mãe, seu pai estava ausente. Em seguida, foi o único que ela permitia que fizesse os
curativos; o único com quem comia durante o período de anorexia que sucedeu à cura
das queimaduras; o único que cuidava de suas inúmeras anginas que, quando
pequena, a deixavam afônica.
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voyeurismo-exibicionismo em torno de um jogo de striptease — e que um dia ele
colocara seu sexo no dela. Interrompeu, então, seu relato para falar de sua dificuldade
em contar isso olhando para mim. Nesse momento indiquei o divã dizendo-lhe para
deitar-se, o que ela recusou apesar de minha insistência. Deixei-a continuar; ela
retomou dizendo-me que no enterro do pai não conseguira olhar para o irmão, pois
vinha-lhe à mente o jogo sexual em questão — lembrança que a deixou envergonhada
durante todo o enterro. Nas entrevistas seguintes, continuei insistindo para que se
deitasse. Em vão: minha insistência só fazia acentuar minha impotência. “Não consigo”,
dizia e acrescentava que, no entanto, tudo fazia para agradar aos homens(!). Decidi sair
dessa posição de mestre em que ela mesma me havia colocado com sua provocação e
deixá-la face a face nas entrevistas ulteriores. Foi neste momento que me contou que na
semana anterior tinha ido para a cama com cinco homens diferentes — todos
impotentes. E acrescentou que sempre procurava homens como seu pai. Interrompi a
sessão lhe dizendo: “Está bem, mas eu não sou seu pai.” Na sessão seguinte, ela pôde
dizer-me sentir-se excitada sexualmente em minha presença, conseguindo finalmente
deitar-se.
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