1 PB
1 PB
1 PB
23(3):480-495, 2019
https://doi.org/10.4257/oeco.2019.2303.08
Leandro Costa Silvestre1,2*, Juan Diego Lourenço de Mendonça3,4, Sergio Romero da Silva
Xavier2 & Jomar Gomes Jardim5,6
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Botânica, Programa de Pós-Graduação em Sistemática
e Evolução, Ecologia e Zoologia, Campus Universitário Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal, RN, Brasil.
2
Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Biológicas e Sociais Aplicadas, Departamento de Biologia, R.
Horácio Trajano de Oliveira, s/n, CEP58071-160, João Pessoa, Paraíba, Brasil.
3
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Centro de Ciências Exatas e da Natureza,
Universidade Federal da Paraíba, Campus I, Cidade Universitária s/n, CEP 58051-970, João Pessoa, PB, Brasil.
4
Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba, Rua Emíliano Rosendo da Silva, s/n, Bodocongó, CEP 58429-690,
Campina Grande, PB, Brasil.
5
Universidade Federal do Sul da Bahia, Universidade Federal do Sul da Bahia, Centro Formação em Ciências
Agroflorestais Campus Jorge Amado, Ilhéus-Itabuna, Km 22 Rod, CEP 45604-811, Itabuna, Bahia, Brasil.
6
Herbário Centro de Pesquisas do Cacau, Km 22 Rod, CEP 45604-811, Itabuna, Bahia, Brasil.
Resumo: A Floresta Atlântica apresenta uma fitofisionomia variável ao longo de sua extensão latitudinal,
reflexo das distintas condições climáticas, topográficas e geomorfológicas. Na região Semiárida do Nordeste
do Brasil são encontrados remanescentes desta floresta geralmente associados a encostas e topos de serras
com elevação acima dos 500 m. Este estudo objetivou inventariar a flora de samambaias e licófitas em dois
remanescentes de Floresta Atlântica e avaliar a similaridade florística destas áreas com diferentes formações
vegetacionais do Nordeste do Brasil. Foram realizadas coletas na Área de Relevante Interesse Ecológico da
Mata da Bica (estado do Rio Grande do Norte) e Área de Proteção Ambiental Serra da Meruoca (estado do
Ceará), visando registrar a ocorrência de samambaias e licófitas. Posteriormente, foi elaborada uma matriz
binária com a ocorrência das espécies registradas nas áreas coletadas e em estudos publicados no Nordeste
do Brasil. Utilizamos o índice de similaridade de Jaccard para comparar a composição florística entre as
áreas. Em seguida realizamos uma análise de agrupamento pelo método de associação média. Foram
registradas 18 espécies de samambaias e uma licófita. De acordo com a análise de similaridade, dois grupos
principais uniram de forma geral, áreas mais secas e úmidas associadas à Caatinga e Floresta Atlântica,
respectivamente. Também foi observada uma maior similaridade entre as áreas da Serra da Meruoca e Mata
da Bica com áreas do domínio fitogeográfico da Caatinga, mesmo ocorrendo em fitofisionomia da Floresta
Atlântica.
da Bahia (427 spp.) e Pernambuco (217 spp.) (Flora Estacional Semidecidual nas cotas mais altas
do Brasil 2019). A Floresta Atlântica compreende (acima de 450 m) e Savana-estépica (Caatinga) nas
além do conjunto de ecossistemas ao longo da cotas inferiores (IPECE 2016). A segunda UC, no Rio
costa, áreas interioranas disjuntas. Estas áreas Grande do Norte, é a Área de Relevante Interesse
estão associadas às encostas e topos de serra com Ecológico (ARIE) Mata da Bica (06°01’6,98” S,
mais de 500 m de elevação e precipitação média 37°59’40,81”O, Datum WGS84), município de
acima de 900 mm ao ano (Tabarelli & Santos 2004). Portalegre. A ARIE Mata da Bica possui 50,66 ha,
Segundo Moran & Riba (1995) e Moran (2008), altitude máxima de 720 m, precipitação anual
florestas montanas apresentam um número maior média de 1.200 mm nas cotas altimétricas mais
de hábitats devido a maior variação das condições elevadas (acima de 500 m) (Medeiros & Medeiros
abióticas e edáficas ao longo do gradiente de 2012), propiciando a ocorrência de Floresta
elevação. Por exemplo, a alta diversidade beta Estacional Semidecidual. Ambas as UCs são
de epífitas nos Andes é resultante da grande classificadas de acordo com o Sistema Nacional de
diferenciação de microhábitats típicos da região Unidade de Conservação (Brasil 2000) como áreas
montanhosa (Gentry & Dodson 1987). de uso sustentável, permitindo ocupação humana.
Os fragmentos interioranos da Floresta Atlântica A classificação aqui adotada para a vegetação está
geralmente estão circundados por outros domínios de acordo com a proposta do Manual Técnico da
fitogeográficos com fitofisionomia mais seca, Vegetação Brasileira (IBGE 2012).
como a Caatinga e o Cerrado. Na região Nordeste A delimitação da área de distribuição das
Brasil ocorrem ao menos 43 encraves de Floresta espécies foi baseada no registro de ocorrência.
Atlântica, distribuídos nos estados do Ceará, Rio A delimitação das áreas baseou-se em Udvardy
Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, em (1975), que apresenta as biorregiões existentes no
grande parte afetados por atividades antrópicas mundo. Acrescentamos a categoria pantropical
(Vasconcelos-Sobrinho 1971, Marques et al. para as espécies com ocorrência na região tropical.
2014). Estes remanescentes, também conhecidos Para coleta do material botânico foram
regionalmente como “brejos de altitudes”, realizadas caminhadas no interior e nas bordas da
apresentam uma flora de samambaias e licófitas área, observando barrancos, clareiras, afloramentos
mais rica (e.g., Santiago et al. 2004, Paula-Zárate et rochosos e cursos d’agua, forófitos, conforme a
al. 2007, Pietrobom & Barros 2007, Macedo et al. metodologia de Windisch (1992). Na ARIE Mata
2013) e expressiva que a matriz de Caatinga no qual da Bica foram obtidos os pontos de ocorrência
encontra-se inserida (Xavier et al. 2012). geográfica dos córregos e áreas alagadas. Na APA
O presente trabalho objetivou inventariar a Serra da Meruoca, informações sobre ambientes
flora de samambaias e licófitas em remanescentes mais úmidos foram obtidas por meio da gerência
de Floresta Atlântica na Serra da Meruoca (CE) da UC.
e Portalegre (RN), avaliando a similaridade Foram realizadas coletas durante a estação
florística destas áreas com diferentes formações chuvosa, com um total de cinco dias em campo
vegetacionais do Nordeste do Brasil. na ARIE Mata da Bica nos anos de 2014 e 2015,
e uma coleta com oito dias em campo na APA
MATERIAL E MÉTODOS Serra da Meruoca em 2016. As plantas coletadas
foram herborizadas e montadas de acordo com
Foram inventariadas as floras de samambaias e a metodologia proposta por Mori et al. (1989). A
licófitas de duas Unidades de Conservação (UCs) circunscrição das famílias de samambaias e licófitas
localizadas em encraves de Floresta Atlântica no estão de acordo com o proposto por PPGI (2016), e
Nordeste do Brasil (Figura 1). A primeira, no estado o material coletado foi identificado em laboratório
do Ceará, é a Área de Proteção Ambiental (APA) Serra por meio de literatura especializada. As observações
da Meruoca (03°32’3,70” S, 40°27’10,81”O, Datum ecológicas quanto ao hábitat (i.e., terrícola, rupícola,
WGS84), no município de Meruoca, com 29.361,27 corticícola) das samambaias e licófitas encontradas
ha, altitude superior à 670 m e precipitação anual foram baseadas em Ambrósio & Barros (1997) e
média de 1.600 mm. A área é composta por um Santiago et al. (2014). Informações relacionadas
mosaico de formações vegetacionais de Floresta aos microambientes foram obtidas a partir de
Figura 1. Localização das áreas no Nordeste do Brasil utilizadas na análise de similaridade. Mata do
Buraquinho, Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda Pacatuba e Área de Proteção das Onças no
Estado da Paraíba; Área de Relevante Interesse Ecológico Mata da Bica no Estado do Rio Grande do Norte;
Parque Nacional de Ubajara, Área de Proteção Ambiental Serra da Meruoca e Maciço de Baturité no Estado
do Ceará; Fragmento Florestal em Bonito, Timbaúba e Rio Formoso no Estado de Pernambuco; Serra da
Jiboia no Estado da Bahia e Zona de Ecótono em Cerrado e Floresta Amazônica no Estado do Maranhão.
Figure 1. Localization of areas in Northeast Brazil used in similarity analysis. Mata do Buraquinho, Private
Reserve of Pacatuba Farm and Enviromental Protection Area of the Onças in Paraíba state; Area of Relevant
Ecological Interest Mata da Bica in Rio Grande do Norte state; Ubajara National Park, Enviromental Protection
Area of the Serra da Meruoca and Baturité Massif in Ceará state; Forest fragment in Bonito, Rio Formoso
and Timbaúba in Pernambuco state; Serra da Jiboia in Bahia State and Ecotone Zone between Cerrado and
Amazonian Forest in Maranhão state.
et al. (2013), Macedo et al. (2013), Silvestre & Xavier Para análise das relações florísticas dos
(2013), Santiago et al. (2014) e Flora do Brasil (2019). fragmentos estudados, foi construída uma matriz
Os dados sobre as espécies foram verificados e binária (presença ou ausência) das espécies
atualizados conforme a Flora do Brasil (2019). O empregando-se o índice de Jaccard, seguido
material coletado foi incorporado ao Herbário do de uma análise de agrupamento pelo método
Parque das Dunas (RN) com duplicatas para os de associação média (UPGMA) e obtenção do
herbários da Universidade Federal do Rio Grande coeficiente de correlação cofenético utilizando
do Norte (UFRN), da Universidade Federal da o programa Paleontological Statistics – PAST
Paraíba (JPB) e Universidade Federal do Ceará (Hammer et al. 2001). Foram utilizados na análise
(EAC) (acrônimos segundo Thiers – continuosly os dados de levantamentos com samambaias e
updated). licófitas na região Nordeste do Brasil (Tabela 1).
Tabela 1. Dados gerais das unidades amostrais utilizadas na análise de similaridade florística de diferentes
formações vegetacionais do Nordeste do Brasil. Domínio fitogeográfico: CA = Caatinga, FA = Floresta
Atlântica, CE = Cerrado, FM = Floresta Amazônica. Tipo de Vegetação (IBGE 2012): ECO = Ecótono, FES
= Floresta Estacional Semidecidual, FOA = Floresta Ombrófila Aberta, FOD = Floresta Ombrófila Densa,
FODS = Floresta Ombrófila Densa Submontana, FODTB = Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, SVE
= Savana-Estépica. N = número de espécies de samambaias/número de espécies de licófitas incluídas na
análise. Códigos das áreas utilizadas na análise de similaridade: FB = Área de Caatinga segundo a Flora
do Brasil, CAA = Área semiárida no Nordeste do Brasil, MB = Mata do Buraquinho, CAX = Zona de Ecótono
entre Cerrado e Floresta Amazônica, PA = RPPN Fazenda Pacatuca, ME = Área de Proteção Ambiental Serra
da Meruoca, IB = Ubajara, SJT = Área de Proteção Ambiental das Onças, PO = Área de Relevante Interesse
Ecológico Mata da Bica, SJ = Serra da Jiboia, BO = Fragmento florestal em Bonito, TIM = Fragmento florestal
em Timbauba, RF = Fragmento florestal em Rio Formoso, BA = Maciço Baturité.
Table 1. General data of sample units used in analysis of floristic similarity of different vegetation formations
in Northeast Brazil. Phytogeographical domain: CA = Caatinga, FA = Atlantic Forest, CE = Cerrado, FM =
Amazon Forest. Type of vegetation (IBGE 2012): ECO = Ecotone, FES = Semideciduous Seasonal Forest, FOA =
Open Ombrophilous Forest, FOD = Dense Ombrophilous Forest, FODS = Submontane Dense Ombrophilous
Forest, FODTB = Lowland Ombrophilous Dense Forest, SVE = Estepic Savanna. N = number of fern species /
number of species of lycophytes included in the analysis. Area codes used in similarity analysis: FB=Caatinga
area according to Flora do Brazil, CAA = Semi-arid area in Northeast Brazil, MB = Mata do Buraquinho,
CAX = Ecotone Zone between Cerrado and Amazonian Forest, PA = Private Reserve of Pacatuba Farm, ME
= Enviromental Protection Area Serra da Meruoca, IB = Ubajara, SJT = Enviromental Protection Area of the
Onças, PO = Area of Relevant Ecological Interest Mata da Bica, SJ = Serra da Jiboia, BO = Forest fragment in
Bonito, TIM = Forest fragment in Timbauba, RF = Forest fragment in Rio Formoso, BA = Baturité Massif.
Região
Flora do
Nordeste do CA SVE 84.445,300 300-800 35/4 FB
Brasil (2019)
Brasil
Região
Xavier et al.
Nordeste do CA SVE 84.445,300 300-800 34/5 CAA
(2012)
Brasil
RVS Mata do
Santiago et
Buraquinho, FA FES 471 1888 21/1 MB
al. (2014)
Paraíba
Caxias, Fernandes et
CE/FM ECO 531 1450 18/3 CAX
Maranhão al. (2010)
Tabela 1. ...Continuação
Table 1. ...Continued
Ibiapaba
Dados
(Ubajara), FA FOA 6.288 1383 34/1 IB
Herbário EAC
Ceará
Serra da
Jiboia (Santa Macedo et al.
FA FODS 44.000 1200 92/5 SJ
Teresinha), (2013)
Bahia
Bonito, Santiago et
FA FOM 100 1157 89/3 BO
Pernambuco al. (2004)
Maciço Paula-Zárate
FA FOD 32.690 1560 86/4 BA
Baturité, Ceará et al. (2007)
Table 2. Ferns and lyophyte with their respective ecological aspects and geographic distribution in the Environmental Protection Area of Serra da Meruoca (ME;
Ceará state) and Ecological Interest Relevance Area Mata da Bica (PO; Rio Grande do Norte state).
Preferência
Taxon PO ME Hábito Voucher Distribuição Geográfica
ambiental
ANEMIACEAE
Anemia dentata Gardner x Terrícola Heliófita RN 935 Neotropical
UFRN
Lygodium venustum Sw. x x Terrícola. Semi-ciófitas Neotropical
18601/ RN 946
POLYPODIACEAE
Neotropical, Neártica e
Phlebodium aureum (L.) J. Sm. x Corticícola Semi-ciófitas RN 954
Afro-tropical
Pleopeltis polypodioides (L.) E.G. Andrews &
x Rupícola Semi-ciófitas RN 953 Neotropical e Neártica
Windham
Serpocaulon triseriale (Sw.) A.R. Sm. x Corticícola Semi-ciófitas RN 952 Neotropical
PTERIDACEAE
Adiantum deflectens Mart. x x Terrícola Heliófita RN 938; 947 Neotropical
Preferência
Taxon PO ME Hábito Voucher Distribuição Geográfica
ambiental
UFRN
Adiantum raddianum C. Presl x Rupícola Ciófitas / Higrófitas Pantropical
18600
Doryopteris concolor (Langsd. & Fisch.) Kuhn x Terrícola Heliófita RN 934 Pantropical
UFRN
Pityrogramma calomelanos (L.) Link x Terrícola Ciófitas Pantropical
18598
SALVINIACEAE
Salvinia auriculata Aubl. x Aquática Hidrófita RN 949 Neotropical
SELAGINELLACEAE
Selaginella erythropus (Mart.) Spring x x Terrícola Ciófitas RN 936 Neotropical
THELYPTERIDACEAE
Christella dentata (Forssk.) Brownsey & Jermy x Terrícola Ciófitas RN 948 Pantropical
Christella hispidula (Decne.) Holttum x Rupícola Ciófitas RN 944 Pantropical
Macrothelypteris torresiana (Gaudich.) Ching x Terrícola Ciófitas RN 939 Pantropical
Figura 2. Dendrograma de similaridade florística para samambaias e licófita, entre as APA Serra da Meruoca,
ARIE Mata da Bica e outras doze áreas no Nordeste do Brasil, obtido através do índice de similaridade de
Jaccard e análise de agrupamento (Coeficiente de correlação cofenética: 0,835). Códigos das áreas: FB =
Área de Caatinga segundo a Flora do Brasil, CAA = Área semiárida no Nordeste do Brasil, MB = Mata do
Buraquinho, CAX = Zona de Ecótono entre Cerrado e Floresta Amazônica, PA = RPPN Fazenda Pacatuca, ME
= APA Serra da Meruoca, IB = Ubajara, SJT = APA das Onças, PO = ARIE Mata da Bica, SJ = Serra da Jiboia, BO
= Fragmento florestal em Bonito, TIM = Fragmento florestal em Timbauba, RF = Fragmento florestal em Rio
Formoso, BA = Maciço Baturité.
Figure 2. Dendrogram of floristic similarity for ferns and lycophyte, between APA Serra da Meruoca, ARIE Mata
da Bica and twelve other areas in Northeast Brazil, obtained through the Jaccard similarity index and cluster
analysis (Cophenetic correlation coefficient: 0.835). Area codes: FB=Caatinga area according to Flora do Brazil,
CAA = Semi-arid area in Northeast Brazil, MB = Mata do Buraquinho, CAX = Ecotone Zone between Cerrado
and Amazonian Forest, PA = Private Reserve of Pacatuba Farm, ME = APA Serra da Meruoca, IB = Ubajara, SJT
= APA das Onças, PO = ARIE Mata da Bica, SJ = Serra da Jiboia, BO = Forest fragment in Bonito, TIM = Forest
fragment in Timbauba, RF = Forest fragment in Rio Formoso, BA = Baturité Massif.
a Floresta Atlântica Setentrional nos estados de precipitação, umidade e o tipo de floresta. Entre estes
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará fatores, Costa et al. (2018), ao avaliar um fragmento
(Santiago 2006). Estas três famílias apresentam uma florestal no estado de Pernambuco, destacaram que
ampla distribuição na região tropical, sendo que a disponibilidade de água e o sombreamento são
Pteridaceae apresenta ampla variação morfológica, fatores-chave que afetam os padrões ecológicos.
com plantas terrícolas, rupícolas e aquáticas (Moran Embora estas duas áreas apresentem florestas
1995), possibilitando a ocupação de uma maior serranas, com uma precipitação acima de 1.000 mm
variedade de ambientes. Polypodiaceae é mais anual, a mesma ocorre de forma irregular durante o
restrita quanto ao tipo de hábito, predominando ano, concentradas principalmente entre os meses
o epifítico (Hennipman et al. 1990), dependendo de janeiro a maio, restando umidade característica
assim de outras plantas maiores para utilizarem de matas serranas apenas nas nascentes de água e
como forófito ou de afloramentos rochosos. Além pequenos córregos, o que pode limitar a ocorrência
disso, presenta outras estratégias adaptativas de espécies associadas a fragmentos florestais mais
como a abscisão foliar em períodos de estiagem, úmidos e conservados.
escamas que protegem o rizoma (Barros & Xavier A baixa riqueza e composição florística híbrida
2013), como também poiquiloidria (Xavier et al. entre Floresta Atlântica e Caatinga nos fragmentos
2012), permitindo ao grupo uma grande amplitude da APA Serra da Meruoca e ARIE da Mata da Bica
de ocorrência. Por sua vez Thelypteridaceae tem pode ser também um reflexo da forte influência
como áreas de elevada riqueza de espécies os Andes de perturbações ambientais ocorrentes nas áreas.
tropicais e subtropicais, os bosques do planalto Destacamos que o tipo de floresta influencia na
meridional do Brasil e as florestas montanas da riqueza de modo que o número reduzido de espécies
costa do Atlântico (Ponce 2007). também foi evidenciado em outras áreas com
Os gêneros mais representativos são recorrentes florestas estacionais (Barbosa et al. 2011, Farias et
entre os trabalhos com samambaias para a região al. 2012, Barros & Xavier 2013, Santiago et al. 2014).
Nordeste (e.g., Pietrobom & Barros 2006, Pereira et Observa-se também a ocorrência de espécies com
al. 2011, Lourenço & Xavier 2013, Silvestre & Xavier distribuição Pantropical, como Christella dentata
2013). As áreas de Floresta Atlântica em “brejos de e Macrothelypteris torresiana (Arantes et al. 2007),
altitude” apresentam uma riqueza expressiva de que foram introduzidas no Brasil e são indicadoras
samambaias e licófitas devido as suas características de ambientes degradados, perturbados ou em
ambientais, tais como altitude elevada, chuvas regeneração (Figueiredo & Salino 2005).
orográficas e maior percentual de umidade (Tabarelli Quanto ao hábitat, nas áreas inventariadas
& Santos 2004). Entretanto, nas áreas visitadas predominaram as espécies terrícolas e rupícolas.
observou-se uma baixa riqueza quando comparado O terrícola é comumente encontrado entre as
com outras áreas de encrave (e.g., Xavier & Barros famílias de samambaias e licófitas na Floresta
2003, Santiago et al. 2004, Xavier & Barros 2005). Atlântica Setentrional (Santiago 2006, Silva
Destaca-se também a ocorrência de espécies típicas 2014) e para a flora do Brasil (Prado et al. 2015).
de condições semiáridas (Xavier et al. 2012, 2015), tais Já o rupícola, apresenta maior ocorrência em
como Adiantum deflectens, Anemia dentata, A. villosa ambientes submetidos às condições abióticas com
e Doryopteris concolor. Foram registradas também intensa radiação solar, baixa disponibilidade de
espécies com ampla distribuição geográfica entre nutrientes e água, características estas comuns nos
as áreas avaliadas (Lygodium venustum e Selaginella afloramentos rochosos na região semiárida (Kluge
erythropus). Embora considerados remanescentes & Brulfert 2000, Xavier et al. 2015). Entretanto, nas
de Floresta Atlântica, a APA da Meruoca e a ARIE áreas estudadas houve variação quanto ao tipo de
da Bica apresentam uma composição híbrida entre ambiente, pois as espécies rupícolas ocorreram
o esperado de um brejo de altitude e da matriz em locais parcialmente sombreados e paludosos,
de Caatinga no qual está inserida (Campanili & geralmente associados a locais com maior umidade.
Schäffer 2010). De acordo com Silva (2014) a riqueza Na APA das Onças ocorreu um maior registro de
de espécies de samambaias e licófitas nas florestas espécies rupícolas, porém, associadas a ambientes
serranas no Nordeste do Brasil, apresenta correlação ensolarados e parcialmente sombreados (Xavier et
positiva com o tamanho do fragmento florestal, al. 2015).
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