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Artigo Ciêntifico - Docencia Do Ensino Superior I

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Desafio Docente do Ensino Superior na Inclusão de Alunos com Deficiência

Higher Education Teaching Challenge in Inclusion of Students with Disabilities

MOREIRA, K. S. L. – katia.moreira@ifac.edu.br
NASCIMENTO. Francisca Marcilene M. de Lima – marcimoraes28@gmail.com
SOUZA, N. C. – naidecaetano89@gmail.com
FACSIDRO, AC, Brasil

Resumo
Na década de 90, a Educação Inclusiva no Brasil foi marcada por grandes mudanças, com o lançamento de leis
e decretos que visam, até a atualidade, orientar e padronizar os sistemas educacionais no atendimento ofertado
aos alunos com necessidades educacionais específicas. Nesse contexto, a proposta é de que efetive-se com
legalidade um ensino de qualidade, espaço físico adequado à inclusão, materiais adaptados conforme a
necessidade da demanda, entre outras características oriundas ao objetivo de incluir o aluno com deficiência em
todos os âmbitos educacionais, promover a permanência, respeitando a inclusão e a individualidade do discente
em suas peculiaridades, onde o mesmo, deve ser visto como um ser social em totalidade. Em contexto geral,
prevalecendo a lei e diretrizes educacionais do país, as instituições de ensino superior também precisaram passar
por várias adequações para acompanhar essas mudanças, a fim de assegurar acessibilidade, desde o egresso a
Universidade, até a permanência deste público com suas especificidades. Em contrapartida, espera-se que as leis
e os decretos sancionados em prol do público alvo da educação especial, possa ir muito além dos documentos
supracitados, e que na prática possamos de fato, contemplar a eficácia garantindo assim, a igualdade de direitos
sem qualquer forma de discriminação. Contudo, os desafios passiveis de superação por parte das instituições
acadêmicas e principalmente do corpo docente do Ensino Superior, tem demonstrado com clareza a necessidade
de reformulação na capacitação do profissional docente (regente) para a formação acadêmica inclusiva no nível
superior.

Palavras-chave: Docente, Educação, Ensino Superior, Inclusão.

Abstract
In the 90s, Inclusive Education in Brazil was marked by great changes, with the launching of laws and decrees
that aim, until today, to guide and standardize educational systems in the service offered to students with specific
educational needs. In this context, the proposal is that quality education, legal space suitable for inclusion,
materials adapted to the needs of the demand, with other characteristics related to the objective of including the
student with disabilities in all educational spheres, promote permanence, respecting the inclusion and
individuality of the student in his peculiarities, where he must be seen as a social being in totality. In a general
context, prevailing the law and educational guidelines of the country, higher education institutions also had to
undergo several adjustments to keep up with these changes, in order to ensure accessibility, from the egress to
the University, until the permanence of this public with its specificities. On the other hand, it is hoped that the
laws and decrees sanctioned in favor of the target public of special education, can go far beyond the
aforementioned documents, and that in practice we can, in fact, contemplate effectiveness thus guaranteeing
equal rights without any form of discrimination. However, the challenges that can be overcome on the part of
academic institutions and especially the teaching staff of Higher Education, have clearly demonstrated the need
for reformulation in the training of the teaching professional (conductor) for inclusive academic training at the
higher level.

Keywords: Teacher, Education, University education., Inclusion.


Introdução

Em dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Educacionais Anísio Teixeira (INEP), no resumo técnico do censo da educação
superior em 2015, dos 7.305.977 estudantes Brasileiros que efetuaram a matrícula
no ensino superior no ano de 2013, um número considerável de 29.034 constam no
público alvo da educação inclusiva, sendo alunos com diversa deficiências e
comorbidades, tais como: TGD - transtornos globais do desenvolvimento,
síndromes diversas, altas habilidades/superdotação, limitações de psicomotricidade
e várias outras especificidades.
Há em evidencia o senso comum de que a inclusão é uma necessidade que
se resume apenas a alunos com deficiência física, mental ou de cotas raciais. Estas
estão inclusas nas diretrizes, porém, a educação inclusiva especial vai muito além,
considerando que todo aluno que necessita de atendimento diferenciado com
especificidades se torna um aluno da educação inclusiva. Este deve estar inserido
no âmbito educacional com os recursos necessários para atendê-lo, garantido a
aprendizagem, independentemente do nível de sua necessidade.
Este artigo tem como objetivo elencar alguns dos mais variados e
pertinentes desafios que permeiam a garantia legal do que rege o art. 205 da
Constituição Federal de 1988, onde prevê “a educação, como um direito de todos e
dever do Estado”, na inclusão de alunos com deficiência no ensino superior.
Posterior à constituição, surgem diversas políticas públicas voltadas para
a inclusão, a exemplo: A Conferência Mundial de Educação Para Todos realizada
em Jomtien na Tailândia em 1990; a Declaração de Salamanca em 1994; a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), 1996; A Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência no ano de 2015, entre outros. São ações
públicas que visam garantir não só o direito de acesso, mas, principalmente, a
permanência dos alunos que possuem algum tipo de deficiência e/ou necessidade
específica no contexto educacional das instituições de ensino.
A LDB é incisiva no que rege que a educação especial é uma modalidade
que atende pessoas com as mais diversas necessidades, devendo haver todo aparato
e suporte para a oferta consistente dos mais amplos recursos disponíveis, tratando
com extrema relevância a preservação curricular e o desenvolvimento e promoção
adequada do processo de aprendizagem em suas diversas dimensões. Definir
inclusão é muito amplo e requer mudanças e adaptações.
A palavra inclusão remete a uma definição ampla, indicando uma inserção
total e incondicional, enquanto integração socioeducacional, mas visa também à
inserção parcial e condicionada às possibilidades de cada pessoa. Portanto, a
inclusão exige a transformação não só do ambiente educacional, mas também
implica em mudanças atitudinais de toda comunidade escolar e acadêmica, para se
adaptar às necessidades dos alunos, exigindo a ruptura com o modelo tradicional de
ensino.
Sabemos que grandes são os avanços em se tratando do ensino especial,
mas será que de fato, na prática, as instituições de ensino e, principalmente, os
docentes, destacando os de ensino superior, estão preparados para promover e
garantir a inclusão efetiva? Ou será que estamos em passos de uma pseudoinclusão?

2 Desenvolvimento

2.1 Educação especial na docência do ensino superior

A educação especial é a modalidade de ensino que trabalha a inclusão de


pessoas com deficiência no amplo sistema educacional. É fruto de muitas lutas
históricas e tem sua conquista pautada constitucionalmente no art. 5º, que diz:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza se garantindo
aos brasileiros e residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade nos termos seguintes”; com base no
destaque da Carta Magna brasileira, houve engajamento para inclusão de todos nas
escolas, pois determina-se que, independente de raça, cor, credo ou condição social,
possuem os mesmos direitos incondicionalmente.
A Declaração de Salamanca, elaborada em 1994 pela UNESCO
(Organização das Nações Unidades para a Educação, a Ciência e a Cultura), tem
fundamentos primordiais referente ao que visa a inclusão social de pessoas com
deficiência e busca descontruir o paradoxo excludente que, historicamente, assola
pessoas com deficiências e especificidades no desenvolvimento motor, cognitivo e
sensorial.

Conforme os níveis de escolarização se elevam, as discussões e as


práticas educacionais voltadas para inclusão se tornam escassas, e,
quando ocorrem, o tema da educação inclusiva volta-se para a questão
da inclusão social das camadas mais pobres da população ou para as
ações afirmativas, como as cotas para estudantes negros ou
afrodescendentes (Moehlecke, 200, p. 774)

Considerando o acima exposto, é chamada a atenção para o


desenvolvimento da educação especial e inclusiva no ensino básico, tendo um
leque de possibilidades didáticas para dar suporte ao docente das primeiras series
educacionais. Contudo, quando tratamos de inclusão no ensino superior, as lacunas
são diversas, causando a empírica impressão de que o aluno com deficiência não
ultrapassa os limites do ensino básico, galgando seu lugar na formação acadêmica.
A inclusão no ensino superior tem relevância social incontestável. É importante que
seja desenvolvida com excelência, já que, nesse estágio, o docente tem como
responsabilidade a formação profissional desse aluno, a qual deve ser deveras
incentivada, oportunizando o exercício pleno do direito de ser atendido com
disponibilidade de todos os recursos possíveis e necessários para plena promoção
do processo acadêmico em sua totalidade.
Uma pesquisa realizada por alunos de uma instituição pública estadual de
ensino superior do estado de São Paulo mostra que, embora muitos professores
tenham titulação de doutorado, pouco sabem sobre a inclusão na prática, ou não
sabem como agir diante das deficiências que exigiam nível acentuado de adaptação.

Os 43% de docentes que manifestaram que se sentem seguros e


preparados tiveram experiências com alunos que apresentavam
deficiências que exigiam baixo nível de adequações, tais como alunos
cadeirantes ou com deficiência auditiva moderada. Já os 57% que
manifestaram insegurança e falta de preparo para atuar junto a esse
alunado tiveram experiências com alunos que demandavam adequações
muito significativas da aula, tais como alunos com cegueira, autismo
e/ou surdez. (Poker, 2008, p. 04)
O que se esperava é que o professor adaptasse as suas aulas com vistas a
atender as diversas necessidades dos alunos que frequentam as suas aulas,
considerando que, de acordo com a política nacional de educação especial, o
profissional docente (em tese) deve ter em sua formação a apropriação de técnicas
e mecanismos didáticos para a educação especial, além de formação específica na
sua área de domínio.
Incluir discentes com deficiência e necessidades específicas é uma
necessidade latente no fluxo do ensino superior. Em busca nas mais diversas
referências bibliográficas e até mesmo em observações na prática docente
rotineiramente vivenciada em instituições de ensino básico e superior, observa-se
que a educação inclusiva na prática do ensino superior, principalmente, não é
estruturada, muitas vezes mascarada pela falta de regulamentação específica,
sucumbindo à falta de estrutura física e humana que contemple de fato o direito do
público discente com especificidades e necessidades especiais.

O professor deve ter como base de sua formação, inicial e continuada,


conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos
específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no
atendimento educacional especializado e deve aprofundar o caráter
interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino
regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional
especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de
educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes
domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial
(Brasil, 2008, p.17)

É irrefutável a necessidade de abrir discussão e aprofundar o tema por esse


artigo proposto, considerando a imensa lacuna e a essencial garantia dos direitos
de discentes com necessidades especiais que chegam ao ensino superior sem
perspectiva de apoio, contando com a “sorte” de se deparar com alguns (poucos)
docentes capacitados e/ou com colegas dispostos a contribuir solidariamente com o
bom desempenho acadêmico desse aluno que não pode, infelizmente, contar com o
suporte devido de atendimento às suas especificidades. O que nos motiva é, através
da ciência, instigar politicamente por políticas públicas de inclusão educacional
especificamente para o ensino superior, dando suporte e autonomia às instituições
acadêmicas, bem como à gestão docente, para que haja uma efetiva capacitação
massiva, oportunizando ao profissional, condições para suprir as exigências
emergenciais da efetiva inclusão educacional no ensino superior.
A educação básica brasileira sempre se desenvolveu lentamente. Não é
diferente no nível superior. E, se falando em educação especial e inclusiva, torna-
se ainda mais complexo, pois não se desenvolveu ainda uma prática regulamentada
para atender esses educandos.
Para formular os argumentos dispostos neste artigo, realizamos diversas
pesquisas em busca de fontes confiáveis e de importantes referências bibliográficas.
Tais pesquisas nos levaram a uma compreensão mais ampla quanto ao que outros
estudiosos e pesquisadores da temática sobre da educação inclusiva no ensino
superior já haviam destacado, com relevância em suas hipóteses e conclusões
cientificas.

2.2 Os Desafios da Inclusão no Ensino Superior

A prática da inclusão no ensino superior ainda é bastante defasada, tendo


em ênfase que as instituições de universitárias, em maioria, não foram adaptadas
para a recepção e manutenção de alunos com as mais variadas necessidades, a
considerar que o seu corpo docente, também em maioria, não foi preparado
academicamente para atender o público em questão com domínio e didática
apropriada. Raramente o docente do ensino superior passou por uma capacitação
específica para atender os discentes que precisam da inclusão, na prática, de forma
satisfatória. É de suma importância que o docente conheça seus alunos, para que
possam identificar as dificuldades e necessidades de cada um. Para tanto, faz -se
necessário um amplo estudo de caso, o que requer dedicação e disposição de tempo
por parte do corpo docente. No entanto, por muitas vezes, o profissional justifica-
se, declarando não estar preparado, ou simplesmente finge-se desapercebido diante
da realidade a ele exposta. Não há como promover inclusão sem o envolvimento do
professor para que as barreiras encontradas sejam extintas ou minimizadas e, assim,
haja plena garantia do direito a oportunidade de aprender. Desse modo,
concordamos que:
A inclusão de um estudante com necessidades especiais na
Universidade não implica um “nivelar por baixo”. Não significa mesmo
que os docentes tenham que reduzir o seu nível de exigência,
infantilizem os seus alunos e abdiquem de valores que consideram
essenciais, e sim uma oportunidade para refletir sobre a inevitabilidade,
à correção, as vias de acesso, as metodologias e a filosofia curricular e
de preparação profissional das suas práticas. (Rodrigues, 2004, p.4)

É válido salientar que, no trabalho docente, precisamos de flexibilidade,


não devendo ser uma prática estática ou permanente. Não se trata de uma receita
pronta ou de um cálculo exato, que é válido para todos da mesma maneira. Neste
labor, faz-se necessário ser adepto da inovação, pois é de grande valia o saber
quando se utiliza as inúmeras formas possíveis de ensinar. A este conjunto de
atribuições diferenciadas, Sacristán (1993, p 54), cita com profissionalismo que
“Como a expressão da especificidade da atuação na prática, isto é o conjunto de
atuações, destrezas, conhecimentos, atitudes e valores ligados à elas que
constituem o específico de ser professor”.
A legislação ampara a inclusão e o ensino especial em todos os âmbitos,
mas são minoria as instituições com esta identidade inclusiva. No geral, sofrem com
estrutura física, mão de obra qualificada e professores capacitados e especializados
para atender esses estudantes. Ainda assim, o atendimento especializado para
alunos com necessidades especiais e sua inclusão no ensino superior deve existir.
Além de estarem amparados pelo direito à educação, estes alunos também são
dotados de capacidades e habilidades, atribuindo suporte físico e cognitivo. Todo
cidadão tem direito a educação, independentemente de sua necessidade ou
especificidade. Por isso, a importância de não deixar ninguém para trás na jornada
de libertação intelectual, a qual o conhecimento acadêmico promove.
Ressaltando mais uma vez, a relevância na abordagem deste tema, pela
grande demanda de alunos especiais encontrados hoje na sociedade que,
infelizmente, não têm suporte nem atendimento devido nas instituições
educacionais fundamentais, muito menos nas instituições de Ensino Superior.

Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direito. Essa


constatação é imediatamente aplicável às pessoas portadoras de
deficiência cujos direitos de cidadania têm sido desrespeitados em
decorrência de outros fatores, da desinformação sobre as deficiências e
dos inúmeros preconceitos e estigmas que povoam o imaginário
coletivo acerca das pessoas (Bobbio, 1992, p.10).

A educação é sublime. Só através dela é possível construir um mundo


melhor, em qualquer âmbito da sociedade. Nessa construção de ensino e
aprendizagem, ninguém pode ser esquecido. Cada um tem potencialidades,
competências e habilidades individuais, todas indispensáveis na construção do
saber.
A questão mais intrigante na prática docente do ensino superior está na
adaptação e apropriação de como isso pode ser feito. O fator preponderante desta
pesquisa está em mostrar que é possível, a partir de transformações possíveis e
adaptáveis no cotidiano do contexto educacional inclusivo.
É primordial que o docente faça uma auto avaliação, pensando e
repensando suas práticas didáticas e pedagógicas, sempre buscando mecanismos
que venham contribuir para que sua prática, enquanto educador, seja realmente
eficaz para o aprendizado do aluno. E para tanto, uma das medidas a ser tomada é
a busca por novos conhecimentos. É necessário que haja planejamento de suas
aulas, conforme a necessidade do público discente. Segundo Libâneo (1994, p. 222)
“O planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da
ação docente articulando a atividade escolar e a problemática do contesto social”.
Ou seja, esse profissional, além do planejamento, deve atualizar-se com cursos
voltados para a educação inclusiva, além de buscar orientações nas instituições que
tenham rede de apoio e estejam em acordo com as Diretrizes Nacionais para
educação básica. Neste sentido, a inclusão é:

A garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em


sociedade, sociedade essa que deve estar orientada por relações de
acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças
individuais, de esforço coletivo na equiparação de oportunidades de
desenvolvimento, com qualidade, em todas as dimensões da vida
(Brasil, 2001, p.20)

Vale destacar também que, para o bom funcionamento do atendimento


prestado aos alunos com necessidades específicas, toda a comunidade escolar deve
estar envolvida e garantir os direitos que preconiza a Lei Brasileira de Inclusão, em
seu artigo 27, que diz:

A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurado


sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao
longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento
possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e
sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de
aprendizagem.
É dever do estado, da família, da comunidade escolar, da sociedade
assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência colocando-a
a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. (Brasil,
2015, p. 06)

Portanto, a pessoa com deficiência tem seus direitos garantidos em toda


modalidade de ensino e toda a comunidade escolar deve estar envolvida,
contribuindo para esse processo. Muitas vezes, o grande entrave não está somente
na resistência do professor (muitas vezes por receio do desafio), mas em toda
comunidade acadêmica, que reluta em acreditar no universo da inclusão,
demonstrando pessimismo e até mesmo preconceito velado ao ter em seu meio
alunos com deficiência, especificidades e necessidades especiais. As cotas para
egresso acadêmico são uma nítida comprovação comportamental da sociedade, em
maioria, que discriminam a capacidade de aprendizado de um discente por ter sido
aprovado por meio de cotas, direito pleno, com muita luta adquirido.

Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direito. Essa


constatação é imediatamente aplicável às pessoas portadoras de
deficiência cujos direitos de cidadania têm sido desrespeitados em
decorrência de outros fatores, da desinformação sobre as deficiências e
dos inúmeros preconceitos e estigmas que povoam o imaginário
coletivo acerca das pessoas (Bobbio, 1992, p.10).

A inclusão efetiva de discentes com necessidades especiais no ensino no


meio acadêmico, não pode desvincular o ser social do ser intelectual. Há que se
pensar em seu bem estar socioemocional e envolvê-lo sem constrangimentos no
desenrolar do desenvolvimento acadêmico, respeitando seus aspectos psíquicos,
motores, sensoriais e cognitivos, considerando que esse aluno pode aprender, mas
precisa de estímulos, cuidado e disposição em todo o processo de aprendizagem.
Esclarecendo não se tratar de vitimização do aluno, deixá-lo relaxar nas atividades
propostas e avaliá-lo de qualquer forma, visando apenas obtenção de nota, não é,
de forma alguma, inclusão educacional.

Uma das maiores dificuldades para a inclusão refere-se à formação de


professores em níveis teóricos, práticos e pessoais, em que as áreas da
saúde, trabalho e assistência social sejam integradas. É preciso edificar
práticas que estimulem autonomia, criatividade e ampliação das
competências dos alunos com necessidades especiais. (SILVEIRA;
NEVES, 2006, p.79).

A inclusão no ensino superior é de tal magnitude que não só inclui pessoas


com deficiência em um curso universitário, mas amplia os horizontes científicos e
sociais na busca incansável por uma sociedade mais justa e igualitária e humana.

3 Conclusão

O docente do ensino superior tem, sim, um grande desafio em sua jornada


laborativa. Incluir vai muito além do que está pautado na legislação e diretrizes.
Tem a ver com vivência, atitude, sensibilidade, com a busca incansável e exaustiva
de novas metodologias e possibilidades, pois, além dos discentes que necessitam de
atendimento diferenciado, existe um grupo que faz parte da turma e, por não
estarem nos parâmetros da inclusão, não são menos importantes no processo
acadêmico e no desenvolvimento da aprendizagem. Ora, na prática, o que pauta o
sucesso do profissional docente, é o retorno do sucesso de seus pupilos discentes.
Sendo assim, é indispensável que o docente tenha todo apoio e suporte do
governo, da família, da gestão e de toda comunidade para chegar o mais próximo
possível da tão sonhada e necessária inclusão do ensino superior. Afinal, somos
diferentes, igual a todo mundo.
Referências

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