Revista Terras Sem Amos
Revista Terras Sem Amos
Revista Terras Sem Amos
SOBRE A REVISTA
A Revista “Terra sem Amos” é uma produção da Editora Ter-
ra sem Amos, de periodicidade quadrimestral, apresentada de
forma impressa e on-line, que surge na tentativa de criar um
espaço de articulação, troca de informações e debate entre in-
divíduos e organizações autônomas de todo o mundo. Dedica-
rá suas páginas para destacar o pensamento insurgente e suas
práticas derivadas, tais como: teoria política crítica, socialismo,
anarquismo, marxismo, confederalismo democrático e outros;
antifascismo, antirracismo, antipatriarcalismo, internacionalis-
mo, anticapitalismo; experiências de autogoverno, insurreições,
greves, motins e revoluções, dentre outros.
CONSELHO CONSULTIVO
Alexandre Wellington dos Santos Silva
Francisco Raphael Cruz Maurício
Iara Saraiva Martins
Jessica Ellen da Rocha Silva
Priscila Greyce do Amaral Gomes
Selmo Nascimento da Silva
ISSN
2675-3642 impresso
2675-3650 online
www.terrasemamos.wordpress.com
tsa.editora@gmail.com
SUMÁRIO
Conhecimentos indígenas, autonomias e lu-
tas anticoloniais Kaiowá e Guarani contra a
necropolítica e o agronegócio
Elemir S. Martins, Gislaine C. Monfort e
Laura J. Gisloti 05
Conclusão
Contra a expansão da precarização territorial e dos espaços de morte
causados pelo agronegócio, insurge entre os kaiowá e guarani, novas ex-
periências de auto-organização comunitária e intercomunitária com novas
estratégias de recuperação do território e da floresta. Essas insurgências e
novos processos político-organizativos apresentam novos horizontes para as
atuais lutas anticoloniais e populares, e são ações políticas que potenciali-
zam caminhos possíveis nas lutas por libertação de todos os povos oprimi-
dos do mundo e pela construção da autogestão territorial.
Por fim, compartilhamos nosso respeito, admiração, solidariedade e
profundo aprendizado com as lutas dos kaiowá e guarani na retomada dos
territórios, na organização política e na construção de um mundo novo.
Seguimos firmes e lado à lado por terra e liberdade.
Conclusão
As cadeias brasileiras, mais do que nunca, se assemelham aos campos de
extermínio. Hoje, um sujeito preso, do menor infrator ao maior deles, não
está simplesmente com a sua liberdade individual restringida, mas com a
sua vida e sua integridade física expostas à morte. O encarceramento em
massa e a necropolítica que acontecem dentro dele são projetos fundamen-
tais para a preservação do Brasil como conhecemos hoje: um país onde a
desigualdade é um problema imenso, os direitos civis não alcançam a maior
parte da população, e o Estado tem a violência e o racismo como suas prin-
cipais características. Aqueles que sobrevivem aos horrores de tal ambiente
ainda têm de conviver com a morte social que marca a sua vida fora das
penitenciárias e os faz continuar na criminalidade em um processo cíclico
e, segundo Kropotkin (2011), vantajoso para a proteção da exploração que
acontece de forma direta através das leis, sobre a propriedade, e indireta
através da manutenção do estado.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Car-
neiro; Pólen, 2019
BAKUNIN, Mikhail. O Sistema Capitalista. São Paulo: Faísca, 2007
no prelo
BAKUNIN. Mikhail. Bakunin: Statism and Anarchy. M. Shatz ed.
New York: Cambridge: Cambridge University Press. 1990
Abstract: The analysis of this article starts from a critical position of criminal socio-
logy in relation to the system and criminal law, launching it as a basis of thought
to understand contemporary problems involving public security inside and outside
penitentiaries. Nowadays Brazil has been devasted by the health crisis generated by
Sars-Covid-19, wich has already caused milions of deaths worldwide, but mainly in
Latin America and the Caribbean. The situation of the virus inside the penitentiaries
is a common topic, but treated with less importance than necessary in any country.
The logic with which prisons operate all over the globe, especially in the cut-off of
the marginal countries of capitalismo, makes Covid-19 even more deadly, since it is a
system that has failed in all its proposals realated to the penal system – such as those
linked to the health and hygiene of the prison population. To understand the issue
and have a critical and concrete evaluation in relation to this impasse, wich involves
the whole society in diferente ways, it is necessary, first of all, to understand what
penitentiaries are, what their functions are, and how they functions as a policy of
extermination of marginalized populations in capitalista states.
Keywords: Penal System; Capitalist State; Covid-19
AS LUTAS QUE ASCENDEM NA
PANDEMIA: RESISTÊNCIA CON-
TRA O GENOCÍDIO EM TEMPOS
DE DEVIR NEGRO DO MUNDO
Gabriel Silva1
Conclusão
O ascenso internacional de lutas contra o cárcere e a violência policial
durante a pandemia se inscreve na tendencial centralidade que as lutas con-
tra a violência racializadora do Estado ganham em tempos de devir negro
do mundo. A proliferação de mobilizações pela vida dos racializados pode
abrir caminho para novas conquistas na luta contra a violência do Estado
e na constituição da autodefesa da nossa classe, tendo potencial para fazer
a luta de classes como um todo avançar. Precisamos fazer com que a atual
revolta internacional seja uma convocação a todos os anticapitalista para
aproveitarem a possibilidade real que pode se abrir com ela de avançarmos
nas lutas contra a repressão do Estado.
Bibliografia
ANDRADE, R. de O. “Ameaça para além dos muros”, Revista Pesquisa
FAPESP, 2 jul.2020. Disponível em: <https://tinyurl.com/y4bdttwq>
Resumen: El filósofo camerunés Achille Mbembe llama “el devenir negro del mun-
do” al proceso de tendencial generalización mundial de la condición negra, marcado
por la condición de objeto permanente de la violencia racista de los Estados y del
Capital, que implica en constante despojo, sobreexplotación, encarcelamiento y eje-
cuciones. La pandemia del covid-19 marcó la intensificación de la gestión necropolí-
tica de los Estados, evidenciando en todo el planeta el negro devenir del mundo, con
la promoción de la muerte de los más pobres y racializados condenados a morir de
covid-19. También agrava el genocidio históricamente en curso en las periferias del
Brasil, donde jóvenes pobres, negros y de la periferia son ejecutados por las fuerzas
policiales y en cárceles superpobladas, que ya vivían una rutina diaria de masacres y
enfermedades antes de la pandemia. La profundización de la política de la muerte no
se produce sin una resistencia creciente. En este artículo presento un breve resumen
de las luchas que han surgido contra el encarcelamiento en la pandemia, así como
las luchas contra la violencia policial, con un enfoque en São Paulo. Entendiendo que
la lucha contra el encarcelamiento y contra la violencia estatal adquiere una nueva
centralidad en la lucha de clases en tiempos del negro devenir del mundo, invito a los
anticapitalistas a fortalecer estas luchas históricamente descuidadas.
Palabras clave: desencarcelamiento; violencia policial; devenir negro del mundo.
CRÔNICAS DE UMA PANDEMIA
NEGLIGENCIADA: DA PULSÃO
DE MORTE DO SUJEITO À NE-
CROPOLÍTICA BOLSONARISTA
Beatriz de Souza Silva1
Marcus Bernardes2
Hárllen Eric Benevides de Castro3
I.
A morte vem como a última colherada de café do pote. Assim inicia El
Coronel no tiene a quien le escriba de Gabriel García Márquez. A necropolí-
tica se relaciona, mais do que com os ditames da razão, aos limites da vida
e da morte. A morte que aflige o sujeito, porém também a “industrializa-
ção da morte” como mecanismo do imperialismo colonial, das revoluções
industriais, das Grandes Guerras Mundiais, do eterno combate às drogas
(consideradas ilegais), das guerras civis, do holocausto, do genocídio da
população negra e indígena, dos pobres, do feminicídio, etc. A morte estru-
tura a noção dos limites da soberania que, por sua vez, envolve a destruição
material das populações.
II.
No Brasil, a pandemia do novo coronavírus, além de gerar uma crise
de saúde pública, intensificou as crises políticas. Enquanto a maioria dos
países discutiam recomendações para o enfrentamento da pandemia da Co-
vid-19, como a implantação do isolamento social e as medidas de higiene,
tendo em vista que a OMS já sinalizara a gravidade em que o surto da
doença se apresentava, o presidente do Brasil realizava declarações aterro-
rizantes. Em rede nacional Bolsonaro, em um dos seus pronunciamentos,
III.
Neste ensaio, foram analisadas declarações públicas do presidente du-
rante os meses de março a junho do ano de 2020. As frases citadas tiveram
ampla divulgação no país e serviram de base para a análise do entrelaçamen-
to entre a pulsão de morte refletida na estruturação de uma necropolítica
bolsonarista.
Através da ligação cruel que se estabelece entre conservadorismo, ultra-
liberalismo e estado de exceção, o governo Bolsonaro é exemplificado nas
manifestações da pulsão de morte por meio da agressividade, uma vez que,
ao direcionar o seu ódio para alguns grupos (minorias sociais), desenvol-
ve uma política afastada das premissas de um Estado de bem-estar Social.
Tais efeitos se potencializam em contextos de extrema desigualdade social.
Como afirma Frantz Fanon a vida é percebida “não como o florescimento
ou desenvolvimento de uma fertilidade essencial, mas como uma luta per-
Referências
FREUD, S. Além do princípio do prazer. In: STRACHEY, J. Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud. (Vol. 18). Rio de Janeiro: Imago, 1920/1996.
FREUD, S. O mal-estar na cultura e outros escritos. Coleção Obras
Incompletas de Sigmund Freud, Tradução de Maria Rita Salzano Moraes,
Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
36 | Revista Terra sem Amos, ano I, n. 02. out. 2020
FANON, F. Medicina e Colonialismo. Editora Terra Sem Amos: Bra-
sil, 2020.
MBEMBE, A. Necropolítica. In: Revista do PPGAV/EBA/UFRJ, Rio
de Janeiro, n. 32, 2016, p. 123-151.
MBEMBE, A. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exce-
ção, política de morte. São Paulo: n-1 edições, 2018.