Práticas Educativas e Pedagógicas Com Bebês
Práticas Educativas e Pedagógicas Com Bebês
Práticas Educativas e Pedagógicas Com Bebês
5 - 2017
RESUMO: A inserção dos bebês em contextos de Educação Infantil vem se ampliando cada vez mais na
atualidade, isto devido ao fato da entrada e permanência das mulheres no mercado de trabalho. No contexto das
creches percebemos que os familiares e professores/as criam muitas expectativas em relação a aprendizagem
das crianças, especialmente em relação a dimensão cognitiva, a qual passa a ser desenvolvida por atividades
palpáveis em folha A4. Estamos nos referindo as atividades escolarizantes e padronizadas, que são realizadas
de maneira homogêneas com foco em um único resultado para todos. Utilizando autores como Barbosa (2010),
Horn (2015), Tristão (2015), Martins Filho (2013; 2015; 2016), Ostetto (2015), entre outros estudiosos da primeira
infância, buscamos problematizar e conceitualizar como proporcionar propostas significativas que tomem as
especificidades educativas e pedagógicas para os bebês e com os bebês. Pensar uma prática docente que
respeitem os bebês em suas especificidades geracionais é compreender que eles aprendem, desenvolvem e se
socializam por meio das brincadeiras e interações com os mais variados matérias, tempos e espaços. Para isso,
o olhar atento e sensível, a escuta para suas linguagens, o acolhimento e as intencionalidades são essenciais na
organização da vida cotidiana nos contextos de creches.
PALAVRAS-CHAVE: bebês; vida cotidiana; propostas educativas e pedagógicas; creches.
ABSTRACT: ABSTRACT: The insertion of infants in contexts of Childhood Education has been increasing more and
more in the present time, due to the fact of the entry and permanence of the women in the labor market. In
the context of day-care centers, we perceive that family members and teachers look forward very much to the
children’s learning, especially in relation to the cognitive dimension being developed by A4 sheet activities. We
are referring to the schooling and standardized activities, which are performed in a homogeneous way with a
focus on a single result for all children. Using authors like Barbosa (2010), Horn (2015), Tristão (2015), Martins
Filho (2013, 2015, 2016), Ostetto (2015) among others early childhood scholars, we try to problematize and
conceptualize how to provide meaningful proposals that take into account the pedagogical and educational
specificities for infants and babies. To think of a teaching practice that respects the babies in their generational
specificities is to understand that they learn, develop and socialize through play and interactions with the most
varied subjects, times and spaces. For this, the attentive and sensitive look, the listening for their languages, the
reception and the intentionalities are essential in the organization of daily life in the context of daycare centers.
KEYWORDS: babies; daily life; educational and pedagogical proposals; daycare.
1 Neste artigo temos como inspiração a obra: MARTINS FILHO, Altino José (Org.). Educar na Creche: Uma Prática
Construída com os Bebês e para os Bebês. Porto Alegre: Editora Mediação, 2016.
2 Compreendem-se bebês crianças de 0 a 18 meses, conforme o documento “Práticas Cotidianas na Educação Infantil:
bases para a reflexão sobre as orientações curriculares” (BRASIL, 2009).
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vez mais comum a inserção das mulheres no mercado de trabalho, optando pelas instituições de
educação infantil como lugar para deixar seus filhos. Neste sentido, torna-se primordial pensarmos
os espaços, tempos e materialidades para o acolhimento dos bebês.
Há uma necessidade de pensarmos as especificidades que enlaçam as práticas educativas
e pedagógicas. Temos ainda que compreender os bebês como sujeitos potentes, como sujeitos
heterogêneos, que utilizam a linguagem não verbal como forma de expressão de suas emoções,
sentimentos e comunicação. O trabalho pedagógico com os bebes e para os bebês, deve possibilitar
o agir docente revestido de intencionalidades educativas, permitindo a experimentação, a
descoberta, a autonomia, a interação e a brincadeira dos e entre os bebês.
As possibilidades de pensar as práticas pedagógicas para os bebês e com os bebês são
inúmeras, entretanto existem muitos desafios no cotidiano educativo que acabam fazendo
os professores e professoras, entrarem em rotinas rotineiras, no qual muitas vezes deixam
subsumido em seu pensar e fazer pedagógicos a dimensão do extraordinário e do insólito. Por
exemplo, a preocupação excessiva e equivocada dos pais por resultados imediatos em relação ao
desenvolvimento e a aprendizagem, a vida cotidiana engessada em atos mecânicos e automáticos,
muitas vezes não respeitam o ritmo próprio dos bebês. Citamos, também, as cobranças da gestão
administrativa em homenagens correspondentes as datas comemorativas ou pedido de acúmulos
de atividades estereotipadas com produções dos bebês. Neste sentido, concordamos com Tristão
(2015), quando assevera:
No imaginário das profissionais da educação e mesmo no
senso comum, há a noção de que deve haver a produção de
algo para estar caracterizado um processo educativo, bem de
acordo com a noção da sociedade capitalista em que vivemos
que valoriza os resultados como lógica estruturante da vida
dos bebês em creches. (TRISTÃO, 2015, p.146).
Essa compreensão sobre a aprendizagem dos bebês e a docência em creches, também está
presente no imaginário das famílias, comumente ouvimos expressões de que “a professora de
bebês não faz nada”, apenas cuida, alimenta e troca os bebês. Sendo assim, em uma concepção
equivocada e distorcida do que seja o cuidado e educação, entendidos aqui como ação de um
mesmo ato, leva as professoras à realizarem atividades palpáveis ou produção estereotipadas
em folhas A4, pois na mentalidade das mesmas, a força das atividades dá visibilidade ao trabalho
pedagógico.
Há uma necessidade explicita por um produto final, o qual é retratado e visualizado nas
atividades, mesmo as mais escolarizantes, como carimbar as mãos e pés dos bebês. Essa visão do
que seja a atividade pedagógica, ainda é muito presente propostas educativas desenvolvidas para
os bebês.
Diante dessa reflexão, ainda existem grandes equívocos sobre a prática da docência com os
bebês. Pairam incertezas sobre os atos de cuidados como aliados aos atos pedagógicos, como ação
indissociáveis e complementares no percurso cotidiano da prática educativa. Vargas (2016) aponta
que:
[...] as professoras demostram bastante resistência a
abandonar suas certezas. Sentem “medo” de fazer coisas que
não dominam e buscam justificativas que sustentam seu fazer
já consolidado. Elas demostram saber pouco sobre os bebês
[...] e se apegam a esse parco saber, advindo muitas vezes do
censo comum, para organizar as práticas educativas com os
bebês. (VARGAS, 2016, p.100).
Diante desse processo, encontro no trabalho de Martins Filho (2013) outro excerto que nos
ajuda a pensar em propostas que percebam as crianças. Novamente o trecho ressalta as colocações
de uma professora, através de narrativas escritas, ao falar sobre o seu papel e envolvimento nas
brincadeiras das crianças, onde esta enfatiza que:
Como é que eu vou perceber e compreender as formas
particulares destas crianças agirem, reagirem e muitas vezes
até de sobreviverem a este mundo pensado por adultos e para
adultos se eu não estiver aberta, sensível e disponível para
esta relação? Como é que eu vou entender a lógica da ação
das crianças, suas formas de organização, o que as interessam,
do que falam, o que pensam, o que sentem, o que vivem sem
ser companheira em suas brincadeiras? Estar misturada às
crianças, ser companheira de suas brincadeiras não quer dizer
estar no controle, determinando regras, isto ou aquilo. Muito
pelo contrário. Só consegue este movimento quem realmente
está disposto a romper com hierarquias (MARTINS FILHO,
2013, p. 273).
Para tanto, o que essa proposta de reflexão indica, é a necessidade emergente de considerar
a criança em suas especificidades. Especialmente em relação à docência em seu exercício sendo
valorizada em seus percursos cotidiano, como os momentos de troca, de compartilhamento de
saberes, de convivência no fazer “com” as crianças, de abertura para as interações, produções,
manipulações, criações, transgressões e autoria no contexto da creche.
Acreditar que os bebês não são homogêneos e estáticos mostra que a aprendizagem ocorre
em constante movimento, é contraste e relacional, sendo algo gerado de forma gradual e ao seu
tempo. Tempo de andar, falar, engatinhar, expressar, compreender a si, o mundo e seu semelhante.
Assim, a concepção de criança que o profissional se pauta para construções das propostas
pedagógicas poderá contribuir ou não para a criação de novas aprendizagens.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI/2010) apresentam a
concepção de crianças como sujeitos de direitos:
[...] que nas suas interações, relações e práticas cotidianas que
vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca,
imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta,
narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e
sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2010, p.12)
isto sim torna o professor e a instituição de educação infantil, como mediadores dos conhecimentos.
“As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular de educação infantil devem ter como
eixos norteadores as interações e a brincadeira e garantir experiências [...]”. (BRASIL, 2010, p.25).
Entender a criança como ser social é o primeiro passo para uma prática significativa para os
bebês e com os bebês. Desta forma, planejar o acolhimento e as rotinas dos bebês na creche se
torna essencial para garantir o respeito aos mesmos. (MARTINS FILHO, 2016).
Desse modo, essa perspectiva de querer criar outras possibilidades para construir uma
prática pedagógica que considere o ponto de vista das crianças, pode ainda contribuir para se
“compreender o cotidiano para além da obviedade, da arbitrariedade e da obscuridade que o
esvazia de sua complexidade, quando o necessário seria viabilizar a afirmação da sua singularidade
no entretecer de sua diversidade educacional e pedagógica”. (MARTINS FILHO, 2013, p. 46).
Em relação aos adultos, implica em agir como uma pessoa-profissional que coloca andaimes
e abre avenidas para alimentar o ser das crianças com coisas boas, isso alude à mudança de
pensamento e concepção teórica e prática (MARTINS FILHO, 2013; 2015). Ou seja, a prática da
docência como estratégia balizadora para a discussão com o/s outro/s (bebês, crianças bem
pequenas e crianças pequenas, professores, coordenação pedagógica, gestores e famílias) em uma
lógica de compartilhamentos e confrontos sobre os objetivos comuns para as experiências plenas
das crianças e suas infâncias.
a) Conhecer e Acolher
Os bebês estão em processo de expressão de suas múltiplas linguagens, utilizam outras
formas de expressões verbais e não verbais, tais como: o choro, o balbucio, a agitação, gritos,
gargalhadas, entre outros. Vargas (2016, p. 99) reflete que: “Para muitos adultos, pelo fato
de ainda não fazerem uso da linguagem oral, bebês são considerados difíceis de entender e,
consequentemente, de conhecer”. Sabemos que cada bebê possui sua característica e que está
ligada as interações que este teve durante sua vida. Como vivemos em um mundo de culturas e
formas de pensar e agir diferenciados, encontramos em salas de referências bebês que carregam
consigo diferentes e diversificadas culturas:
Cada família tem um modo de alimentar, embalar, acariciar,
brincar, tranquilizar ou higienizar as crianças. E estas ações
podem ser realizadas de diversas formas, afinal as diferentes
culturas inventaram múltiplos modos de criar suas crianças
pequenas. E cada família tem um modo específico para
compreender o choro de uma criança, suas necessidades de
alimentação e de brincadeira e fazer suas escolhas tendo em
vista as tradições familiares ou concepções aprendidas com
diferentes interlocutores. (BARBOSA, 2010 p.4).
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O professor primeiramente deve buscar conhecer suas crianças, seus meios de comunicação
e expressão de desejos e sentimentos, construindo uma relação de afeto e segurança para que o
bebê se sinta acolhido neste ambiente. “Para poder compreender e comunicar-se com um bebê
pequeno é preciso observar.” (BARBOSA, 2010, p.10). Treinar o olhar, observar os bebês, registrar,
fotografar, filmar, realizar entrevista com a família, buscar elementos que possam contribuir para
compreender as crianças em suas formas plurais e heterogêneas, buscando acolher de forma
afetuosa e respeitosa cada uma delas.
A importância de um ambiente acolhedor é a premissa essencial para o bebê construir o seu
sentido de pertencimento a um grupo. Acolher envolve abraçar, pegar no colo, acalentar, ouvir e ver
as crianças permitir que se criem relações entre os bebês, espaço e materiais:
Outro aspecto relevante a ser considerado na educação dos
bebês diz respeito à construção da segurança afetiva que se
inicia com o entendimento de que cada bebê um ser único,
singular, cujo desenvolvimento depende da qualidade das
relações que estabelece com os adultos, com os bebês e
mesmo com materiais e objetos de seu entorno. Reitero, o
respeito ao bebê é fundamental. Deve-se encará-lo como
uma pessoa com características, necessidades e expectativas
próprias. (VARGAS, 2016, p.103).
Nesta esteira, também consideramos importante o que Kramer (2012) vem alertando em
suas pesquisas com crianças:
[...] o papel do outro é central na constituição do eu no
desenvolvimento e aprendizagem do sujeito ao longo da
vida. Processos manifestos na infância constroem realidades
históricas que se traduzem na subjetividade de casa um.
(KRAMER, 2012, p. 40).
Acolher não se remete apenas ao início do ano quando as crianças são inseridas no contexto
das creches. Vai muito além disso, o acolhimento é aquele que é pensado e planejado todos os dias,
é receber as crianças com sorriso, é falar bom dia, é dialogar com os pais sobre as inseguranças
e frustrações, é receber o bebê e conversar com ele, perguntar se ele está bem, acomodá-lo
confortavelmente. É o pensar em receber com uma música calma, com a leitura de uma bela história,
com brinquedos, com tecidos coloridos, com cantigas, levar ao ambiente externo com almofadas,
uma rede, um violão, etc.. Para tudo isso acontecer há o planejamento e a intencionalidade de fazer
do espaço um lugar acolhedor e de vida cotidiana.
O bebê deve explorar seu corpo, conhecer a si e ao seu redor, ampliando sua capacidade
motora, construindo aos poucos sua autonomia. A organização dos espaços deve permitir o
movimento corporal, correr, engatinhar, pular, rolar, soltar, pegar, abaixar, encostar, jogar, explorar
objetos, permitir que se explore o espaço com todos os sentidos. Sentir o calor que vem do sol, a
brisa que bate no rosto levemente, o movimento que a sombra do objeto realiza ao longo do dia,
perceber diferentes luminosidades ao entrar e sair do ambiente, reconhecer e interagir com as
outras crianças, maiores, menores, meninos e meninas...
Disponibilizar objetos atrativos aos bebês como chocalhos, bolas, potes de tamanhos
variados, livros de pano ou de banho para sentir a forma, levar a boca, sentir o cheiro, descobrir
a cor, colocar músicas calmas, pendurar objetos com elástico ao teto, colocar fotos dos próprios
bebês nas paredes e chão da sala, colocar móbiles, pendurar um sino de vento, por exemplo, para
que eles possam descobrir de onde vem o som, confeccionar um tapete sensorial para descobrirem
as diferentes sensações. Colocar em saquinhos de pano essências naturais como café, camomila,
hortelã, canela, alecrim para aguçar os sentidos, permitindo que se leve ao nariz e boca.
Ao organizar a sala para os bebês pequenos, é importante
arranjar pequenos espaços, confortáveis, com espelho,
tapetes, rolinhos, almofadas, que possam auxiliar na
sustentação das crianças e favorecer seus movimentos. Tal
espaço é organizado para que as crianças interajam com
outras crianças, brinquem com os objetos e brinquedos
podendo, assim, vivenciar diferentes experiências. (BARBOSA,
2010, p. 8).
Organizar cantos com diferentes materiais, estruturados e não estruturados onde os bebês
possam brincar e interagir, trazendo elementos da cultura afro e indígena, ampliando o acesso às
histórias e culturas diversificadas. O interessante é organizar cantos, caixas, cestos onde se possam
guardar os materiais e que os mesmos estejam acessíveis aos bebês.
Promover o encontro dos bebês com o mundo externo ao da sala, abre um leque de
múltiplas possibilidades sobre o meio social, cultural e sobre a natureza. Além disso, também com
Kramer reforçamos a noção de que “a brincadeira (experiência de cultura e forma privilegiada de
expressão infantil) é direito das crianças e deve ser garantido por instituições e adultos que nelas
trabalham”. (KRAMER, 2012, p.41).
Uma prática pedagógica realizada com base em rotinas rotineiras aumenta as frustrações
das crianças e as levam a realizar as atividades com uma pressa excessiva, sem contemplar, sem
admirar, sem poder construir a autonomia, sem ter um verdadeiro significado. Neste sentido,
trazemos os questionamentos de Ostetto (2015), por considerá-los pertinentes:
Essencial perguntarmos: como olhamos? Procurando o
novo ou voltando-nos exclusivamente para o já conhecido?
Profunda ou superficialmente? Com um olhar que, ao se
dirigir às crianças, busca apenas o que ‘deveriam fazer’
(correspondendo a um modelo ideal, padrão), que facilmente
localiza a falta? Que não percebem o que fazem e dizem as
crianças nos seus gestos, quando choram ou riem? Sem nos
darmos conta, é assim que inúmeras vezes olhamos para o
cotidiano: através de um olhar paralisado, que se gastou,
domesticado por uma prática rotineira, enraizada no hábito,
que monotonamente se repete, repete, repete. (OSTETTO,
2015, p. 22).
Todas as ações realizadas com os bebês durante seu tempo de permanência na creche
devem ter intencionalidade. Precisam ser planejadas, pensadas e registradas para que se possa
buscar alternativas quando algo não sai como esperado e também buscar novas formas de desafiar
os bebês na ampliação de suas experiências e potencialidades.
As crianças aprendem brincando e os bebês não são diferentes, eles brincam com seu próprio
corpo, levam a mão próxima aos olhos, colocam os pés na boca, tocam nas pessoas ao seu redor,
sentem curiosidade em mexer nos dedos, cabelos, olhos e boca. Os bebês identificam as texturas,
o calor e o sabor das partes do corpo. “O bebê começa brincando com os próprios sentidos, num
crescente jogo de descoberta, desenvolvimento de habilidades e construções de significados”
(ORTIZ, CARVLHO, 2012, p 103). Os professores devem considerar que os bebês aprendem
brincando e interagindo com tudo que está a sua volta, assim poderão criar espaços de vivências
ofertando os mais variados materiais que contribuem de forma qualitativa no desenvolvimento dos
bebês.
A criança é competente autora de suas aprendizagens. Ela
interroga o mundo, e nesse interrogar estão os aspectos
que são o suporte para suas aprendizagens. Ao adulto cabe
considerar que as experiências do indivíduo com as do outro,
pela engrenagem que une umas às outras e pela presença dos
sujeitos no mundo. (VARGAS, 2016, p.115)
Vargas (2016) no livro Educar na Creche, publicado pela Editora Mediação, traz experiências
reais de atividades realizadas com grupos de bebês, como o Cesto dos Tesouros e o que podemos
fazer com base nessa metodologia. No Cesto do Tesouro, foram oferecidos objetos da natureza,
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“[...] folhas secas, esponjas com texturas naturais, cascas de frutas, madeira, pedaços de tronco
de árvore, pinhas [...]” (Vargas, 2016, p.109). Em outra atividade proposta, as professoras deixam
a alcance das crianças latas dos mais variados tamanhos, aguçando a curiosidade, promovendo o
movimento, abrindo caminho para descobertas simples, porém repletas de significado. “[...] Logo
vimos um dos meninos, mais velho, tentando colocar uma lata dentro da outra, já que anteriormente
ele já tinha descoberto que havia uma abertura grande na lata [...]” (VARGAS, 2016, p. 109).
A autora demostra que ao possibilitar o contato com os mais variados tipos de materiais,
as crianças aguçam a curiosidade, experimentam, aprendem interagindo com o outro e com os
objetos, dão novos significados aos objetos, construindo novos saberes.
Qualquer objeto para elas é um brinquedo. [...] É olhando,
pegando, levando à boca, chocalhando, batendo, que elas vão
descobrir as diferentes facetas do objeto, conhecê-lo em todas
as suas nuances, criar uma imagem mental do objeto por meio
da ação sobre ele, para aos poucos ir aprendendo para que
serve cada um deles. (ORTIZ, CARVLHO, 2012, p. 126).
Ao organizar uma proposta pedagógica para os bebês e com os bebês, devemos enfatizar
as múltiplas possibilidades de aprendizagem por meio da brincadeira, experimentação, execução
da proposta e participação dos próprios bebês. Não é simplesmente pintando em uma folha
A4 com tinta, é necessário experimentar a pinta com a mão, com o corpo, misturando as cores,
descobrindo novas cores, passar na folha e perceber que a mesma muda de cor, colocar o dedo,
a mão, o pé e ver a mudança das formas. Possibilitar que os bebês entrem em contato com areia,
água, terra, trigo, massinha, panelas, tampas de potes, colheres de pau, que inventem outra forma
de brincar. As múltiplas possibilidades que estamos acenando e trazendo como desafios para a
prática pedagógica é pensar a importância dos bebês interagirem com os objetos, terem tempo e
espaço de ser bebê na creche. Tais possibilidades proporcionam um significativo envolvimento dos
bebês com as propostas.
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