DIGITUS v1n1 - Revista Completa
DIGITUS v1n1 - Revista Completa
DIGITUS v1n1 - Revista Completa
Número 1
Jan./abr. 2021
EDITORS
Prof. Dr. Raoni Borges Barbosa
Profa. Dra. Maria Cristina Rocha Barreto
Prof. Dr. Jean Henrique Costa
EDITORIAL BOARD
Raoni Borges Barbosa (UERN) Lázaro Fabrício de França Souza (UFERSA)
Maria Cristina Rocha Barreto (UERN) Lucas Rodrigo da Silva (UFSCar)
Jean Henrique Costa (UERN) Manuela Vieira Blanc (UENF)
Geilson Fernandes de Oliveira (UERN) Patrícia Oliveira S. dos Santos (UFCG)
Glício Freire de Andrade Júnior (UFPB) Pâmella R. R. Dias de Oliveira (UFERSA)
Jeanemeire Eufrásio da Silva (UERN) Priscila Tatianne Dutra (UERN)
João Pedro Borges Barbosa (UNESP) Shemilla Rossana de Oliveria Paiva (UERN)
Júnia Mara Dias Martins (UERN) Stamberg José da Silva Júnior (UERN)
COVER PHOTO
Abstract connected dots and lines on blue background. Communication and technology network concept with
moving lines and dots. Seamless loop. 4K
DIGITUS - Sociotechnological Studies in Communications and Media é um periódico acadêmico que visa
realizar um esforço interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas, abarcando discussões epistemológicas,
teóricas e metodológicas sobre Comunicação e Mídia e a emergência e o desenvolvimento de uma cultura
digital. Procura fomentar o debate sobre a Sociedade da Informação e do Conhecimento, o Capitalismo
Informacional, as Novas Mídias, as transformações nas relações sociais, em sentido amplo, no trabalho, nos
negócios, na economia e nas relações produtivas advindas da expansão do mundo digital. Visa também
refletir sobre as novas experiências artísticas e estéticas virtualizadas. DIGITUS é um encontro entre os
interesses teóricos do GEPLAT - Grupo de Pesquisa em Lazer, Turismo e Trabalho – e do BITs – Grupo de
Pesquisa em Informação, Cultura e Práticas Sociais –, grupos formados no ambiente acadêmico, mas que
pretendem extrapolar suas atividades para uma discussão mais ampla na sociedade.
DIGITUS - Sociotechnological Studies in Communications and Media is an academic journal that aims to
make an interdisciplinary effort in Social and Human Sciences, covering epistemological, theoretical and
methodological discussions on Communication and Media and the emergence and development of a digital
culture. It seeks to foster the debate on the Information and Knowledge Society, Information Capitalism, the
New Media, the transformations in social relations, in a broad sense, in work, in business, in the economy
and in the productive relations arising from the expansion of the digital world. It also aims to reflect on new
virtualized artistic and aesthetic experiences. DIGITUS is a meeting between the theoretical interests of
GEPLAT - Research Group in Leisure, Tourism and Work – and BITs - Research Group in Information, Culture
and Social Practices –, groups formed in the academic environment, but which intend to extrapolate their
activities to a broader discussion in society.
06 APRESENTAÇÃO
ARTIGOS
A CONVERSAÇÃO MEDIADA: APROPRIAÇÕES E RECONFIGURAÇÕES
35 MOSSORÓ - RN
Ailton Siqueira de Sousa Fonseca
44 GLAUBER ROCHA
Stamberg José da Silva Júnior
75 EM TEMPOS DE PANDEMIA
Maria Eduarda Pereira Leite
PODER E VIOLÊNCIA EM MICHEL FOUCAULT E HANNAH
resenhas
“ADMIRÁVEL MUNDO EM DESCONTROLE”: A POSIÇÃO DAS
A
sociedade digital já é uma realidade, mesmo que ainda em franco desenvolvimento e consolidação de
uma cultura com consequentes transformações nas relações sociais e interacionais. Nas palavras de
Deborah Lupton, não podemos entender a sociedade contemporânea sem o reconhecimento de que o
software de computador e de outros dispositivos não apenas sustentam, mas constituem ativamente
a individualidade, a personificação, a vida social, as relações sociais e as instituições sociais. Por isto, a
investigação de nossas interações com as tecnologias digitais pode contribuir para o entendimento sobre a
natureza da experiência humana e, ao mesmo tempo, do mundo social.
É por este motivo, que a DIGITUS - Sociotechnological Studies in Communications and Media deseja
realizar um esforço interdisciplinar nas Ciências Sociais e Humanas, abarcando discussões amplas sobre as
mudanças sociais, culturais, políticas, econômicas e históricas advindas da nossa imersão no mundo digital, a
partir da popularização da internet nos anos 1990 até a onipresença dos dispositivos móveis nos dias atuais.
As abordagens podem ser de catáter epistemológico, teórico, empírico e/ou metodológico sobre a Sociedade
da Informação e do Conhecimento, sobre o Capitalismo Informacional, as Novas Mídias; mudanças no
trabalho, nos negócios e nas relações produtivas advindas da expansão do mundo digital, assim como sobre
as novas experiências artísticas e estéticas virtualizadas.
Em seu universo de interesses, a DIGITUS pretende promover o debate em teorias sociais e da
comunicação, da língua e da linguagem em sua relação com as tecnologias digitais. Deseja estimular a
divulgação de estudos empíricos mais pontuais sobre o público, a opinião pública, as mídias sociais, a
construção de narrativas e de contos morais cotidianos, o papel dos meios de comunicação e das redes
sociais digitais, o hipertexto virtual, a publicidade, o fluxo comunicacional informal, na produção e
transformação das línguas e das atitudes ordinárias nas sociedades complexas.
Para finalizar, a revista DIGITUS é uma publicação periódica, quadrimestral, independente das amarras
burocráticas da academia, embora seja um resultado dos interesses dos grupos de pesquisa GEPLAT (Grupo
de Pesquisa em Lazer, Turismo e Trabalho) e do BITs (Grupo de Pesquisa em Informação, Cultura e Práticas
Sociais), que pretendem extrapolar suas atividades dentro dos muros da universidade para uma discussão
mais ampla na sociedade.
T culture with consequent transformations in social and interactional relations. In the words of
Deborah Lupton, we cannot understand contemporary society without recognizing that computer
software and other devices not only support, but actively constitute individuality, personification,
social life, social relations and institutions. For this reason, the investigation of our interactions with digital
technologies can contribute to the understanding of the nature of the human experience and, at the same
time, of the social world.
It is for this reason that DIGITUS - Sociotechnological Studies in Communications and Media wishes
to make an interdisciplinary effort in Social and Human Sciences, encompassing wide-ranging discussions
about the social, cultural, political, economic and historical changes arising from our immersion in the digital
world, since the popularization of the internet in the 1990s to the ubiquity of mobile devices today. The
approaches can be of an epistemological, theoretical, empirical and/or methodological nature on the
Information and Knowledge Society, on Informational Capitalism, the New Media; changes in work, business
and productive relationships as a result from the expansion of the digital world, as well as new virtualized
artistic and aesthetic experiences.
In its universe of interests, DIGITUS intends to promote debates on social and communication theories,
of language and language in its relationship with digital technologies. Wishes to encourage the dissemination
of more specific empirical studies on the public, public opinion, social media, the construction of narratives
and daily moral tales, the role of the media and digital social networks, virtual hypertext, advertising, the
informal communicational flow, in the production and transformation of languages and ordinary attitudes in
complex societies.
Finally, DIGITUS journal is a quarterly publication, independent of the bureaucratic bonds of the
academy, and at the same time a result of the interests of the research groups GEPLAT (Research Group on
Leisure, Tourism and Work) and BITs (Research Group on Information, Culture and Social Practices), which
intend to bring to a broader discussion in society.
RESUMO:
O presente artigo tem como objetivo analisar a formação e constituição da conversa,
identificada como fator indispensável para a produção de vínculos, sociabilidades e
para o desenvolvimento da própria vida em sociedade, diante das transformações
proporcionadas pelo contexto tecnológico e informacional. Nesse sentido, atenta-se
para as suas reconfigurações frente aos processos socioculturais em curso, quando se
verifica a emergência de novas formas de ser e estar, o que se estende para os modos
de se conversar ou manter vínculos na sociedade em rede. Observa-se, com efeito, um
movimento de busca pela transposição de elementos inerentes à conversação
tradicional para a conversação efetivada na rede, o que é feito não somente por meio
dos dispositivos tecnológicos, mas também pelos próprios atores sociais.
ABSTRACT:
This article aims to analyze the formation and constitution of the conversation,
identified as an indispensable factor for the production of bonds, sociability and for
the development of one's life in society, in the face of the transformations provided
by the technological and informational context. In this sense, attention is paid to
their reconfigurations in the face of the ongoing socio-cultural processes, when there
is the emergence of new ways of being, which extends to the ways of talking or
maintaining bonds in the networked society. There is, in effect, a movement of
searching for the transposition of elements inherent in traditional conversation to the
conversation carried out on the network, which is done not only through technological
devices, but also by the social actors themselves.
A
imaginar
como o ato de conversar) pode ser vista
como uma das práticas mais recorrentes da
vida cotidiana, de modo que seria difícil
a formação e desenvolvimento
sociedades sem a sua presença. A partir dela, as
das
1996).
Para Marcuschi (2003, p. 5), a conversa é ―[...]
a prática social mais comum no dia-a-dia do ser
humano‖, perspectiva semelhante à de Sacks,
Schegloff e Jefferson (2003) que também a definem
pessoas interagem e se relacionam, momento no como o gênero mais básico dos processos de
qual podem ser expostas e compartilhadas opiniões interação humana, posição compartilhada por
e ideias. Também considerada como a primeira Simmel (2000), que a considera como o
forma de comunicação verbal a que os indivíduos instrumento mais utilizado na constituição das
são expostos, a conversa é tida como uma ―matriz interações e base das sociabilidades que se
para a aquisição da linguagem‖ (LEVINSON, 1983, produzem na vida em comum, possuindo, segundo o
p. 284), haja vista as trocas que se estabelecem autor, um fim em si mesma, de modo que os
desde a formação da criança, de tal modo que conteúdos que carrega, por sua vez, são os fios
durante o curso da vida nunca é abandonada, mas condutores que atuam na sua estimulação e
reestruturada. produção de sentidos que vão demarcar as trocas e
Em A Retórica, Aristóteles (2007) toma a possibilitar a vivacidade das relações, sendo de
conversa (no sentido de debate ou uma discussão) fundamental importância, nessa direção, a
a partir da perspectiva da persuasão, indicando presença de um outro.
que os envolvidos sempre exercem, um sobre os De modo similar, Goffman (1981) estuda a
outros, influências mútuas, havendo casos em que conversação como o equivalente a um encontro
o principal interesse da conversa é de fato falado, dando atenção ao seu caráter ritualístico,
persuadir ou convencer o outro a partir de técnicas considerando-a como um processo atravessado
específicas (como no caso dos discursos ou debates pela dimensão cultural. Enquanto um ritual, o autor
mais formais). Na Grécia antiga, a dialética foi assinala que nos processos conversacionais podem
entendida como a arte do diálogo, isto é, a arte de ser observadas formas determinadas de agir para
conversar, sendo esta concepção uma das bases da se iniciar, manter ou terminar uma conversa, as
filosofia desenvolvida por Platão. Para este, a quais por serem rituais e se apresentarem em
verdade tem como uma de suas bases ou princípios determinado contexto, são reciprocamente enten-
o diálogo, no sentido de que a partir da troca de didas. Outro ponto destacado pelo autor é que
ideias, o sujeito se aproxima da concepção do durante as conversas, os atores constroem e
verdadeiro. Esse posicionamento, porém, pressu- fornecem voluntária ou involuntariamente, meca-
põe que o diálogo acontece sobre um princípio de nismos que produzem modos de expressão de si
identidade, ou seja, entre iguais, que possuem mesmos, o que pode contribuir para influenciar os
objetivos semelhantes. No entanto, outro filósofo, sujeitos envolvidos.
Heráclito, já apontava que a conversa existe Por sua vez, Flusser (2007, p. 58) destaca que
aquilo ―[...] que transforma o caos em cosmos é a
1
Apesar do reconhecimento das diferenças lexicais entre
possibilidade de conversação, é o vai e vem da
conversa, diálogo e conversação, esses termos serão
utilizados como sinônimos no decorrer deste trabalho. língua [...]‖, apontando que o intelecto e o
3
Facebook, fóruns e etc. (RECUERO, 2009, p. 3-4), o
Para exemplos de cada uma das características elencadas
que já vem se modificando em alguns casos com o
pelos autores, consultar o texto original: SACKS, H.,
SCHEGLOFF, E.; JEFFERSON, G. Sistemática elementar para surgimento de outros recursos, os quais permitem
a organização da tomada de turnos para a conversa. In.:
VEREDAS - Rev. Est. Ling, Juiz de Fora, v.7, n.1 e n.2, p.9-
73, jan./dez. 2003.
5
enviada. Em uma conversação mediada, muitos
Funções que permitem o envio de mensagens diretas, as
indivíduos podem falar ao mesmo tempo, porém em
quais são direcionadas de forma particular a um
destinatário específico. nenhum momento uma fala será sobreposta a outra,
No que diz respeito a dimensão dessas apesar da similaridade e acesso objetivado pelas
conversas, é importante salientar que diversos ferramentas dos sites de redes sociais ou apli-
fatores podem implicar ou dificultar o início ou cativos de conversação, pode ser que alguns
manutenção de uma conversa na rede, como a indivíduos ainda não as vejam como um ambiente
forma de acesso (se com o uso de computador ou recomendado ou propício para a sustentação de
smartphone – levando em conta a sua variedade de diálogos mais longos.
modelos) ou até mesmo o interesse de conversar A premissa ―fala um de cada vez‖, comum as
por meio do ato de digitar. Em outras palavras, interações face-a-face, é projetada pela ferramen-
Muitos elementos da conversação tradicional segundo Primo e Smaniotto (2006, p. 5), é um dos
são, assim, reconfigurados pela mediação e recursos mais importantes para o desenvolvimento
assumem formas distintas conforme o mecanismo e fomentação da conversação em blogs, o que pode
em que são (re)articuladas (se conversas privadas, ser estendido a outros espaços e redes sociais da
em comentários, ou outros). internet. Organizado de forma cronológica, as
De modo específico, o espaço dos comentários, trocas interativas e conversacionais dispostas nos
Compreendendo essas características, é tecem entre dois ou mais atores através de uma
notável um caráter mais impessoal, fluido e ferramenta de CMC, e cuja expectativa de resposta
dinâmico dessa forma de conversação, que ainda dos interagentes é imediata‖ (RECUERO, 2014, p.
podem ser síncronas ou assíncronas (RECUERO, 51). Nessa modalidade de interação, os aspectos
2009, p. 4; 2014, p. 51). A primeira forma se refere característicos da conversa elencados por
ao compartilhamento do mesmo contexto temporal Marcuschi (2013) são mais evidentes, como o
e midiático, ou seja ―[...] conversações que acon- centramento da interação e o compartilhamento de
E-Mail: geilson_fernandes@hotmail.com.
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3278-4044.
RESUMO:
Este trabalho, objetiva discutir em que medida o ato de narrar-se no ambiente virtual e,
consequentemente, mostrar-se, corrobora para um atual movimento de construção de si.
Problematizando os sujeitos contemporâneos que encontram na rede novos mecanismos de
subjetivação. Para tanto, realizamos uma discussão teórica amparada em alguns dos principais
autores da área das Ciências Sociais e Humanas que se debruçam a respeito dos temas expostos.
Além de nos determos sobre como o formato das redes sociais e, especialmente, dos blogs de
escrita íntima, contribuem para um voltar-se para si na mesma medida em que incentivam os
sujeitos a espetacularizarem suas existências no grande palco que é a rede.
ABSTRACT:
The present work aims to discuss the extent to which the act of narrating oneself in the virtual
environment and, consequently, showing oneself, corroborates a current movement of self-
construction. Questioning contemporary subjects who find new mechanisms of subjectification in
the internet. To this end, we held a theoretical discussion supported by some of the main
authors in the area of Social and Human Sciences who address the issues exposed. In addition to
dwelling on how the format of social networks (Internet) and, especially, blogs of intimate
writing contribute to a turn towards themselves to the same extent that they encourage subjects
to spectacularize their existence on the great stage that is the internet.
as últimas décadas, nos deparamos cibercultura, sendo para o autor um tema em que
N com o desabrochar de
repertório de práticas sociais que
emergem da esfera da comunicação e
das novas tecnologias da informação (TICs), mais
um
como o nascer de uma cultura da rede, nomeada de novo universal, diferente das formas culturais que
―cibercultura‖. Lemos (2005) a percebe como ―uma vieram antes dele, no sentido de que se constrói
estabelecer, sendo uma espécie de cultura móvel por manter a universalidade ao mesmo tempo em
que toma o mundo como seu lugar, virtualizando-o que dissolveria a totalidade. Corresponde, assim,
e comunicando-o a todos que estão conectados à ―ao momento em que nossa espécie, pela
rede 2 . Possui como principais características a globalização econômica, pelo adensamento das
agilidade, multiplicidade e interatividade. redes de comunicação e de transporte, tende a
formar uma única comunidade mundial, ainda que
O termo cibercultura surge na metade do
essa comunidade seja - e quanto! - desigual e
século XX diante de um novo ciclo de
conflitante‖ (LÉVY, 1999, p. 231).
desenvolvimentos tecnológicos, baseado na
expansão do maquinismo informático de Desse modo, mais do que informar, o ambiente
processamento de dados. Acredita-se que o termo virtual - por meio da cibercultura - passa a se
foi criado pela engenheira e empresaria norte- instaurar enquanto local em que novas práticas,
americana Alice Hilton, fundadora do Instituto de modos de ser e de estar se estabelecem. Neste
Pesquisas Ciberculturais (RUDIGUER, 2011, p. 8). entremeio, conceitos até então consolidados
Surge procurando dar conta dos fenômenos que diluem-se, reconfiguram-se. Como é o caso das
nascem junto com as novas tecnologias de noções de tempo, espaço, identidade e sujeito. A
comunicação, as mídias digitais e as redes sociais respeito dessas últimas, Lemos e Lévy (2010)
online. asseveram que os processos de construção da
identidade estão a partir de então cada vez mais
Com a publicação do livro A máquina do
fluidos. O que Haraway (1991) afirma ao se
universo, Pierre Lévy (1987) indagou questões
debruçar sobre o estudo dos sujeitos a partir de
uma perspectiva considerada pós-humana, em que
1O presente trabalho trata-se de um recorte da pesquisa defende que passamos a nos construir da mesma
de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação forma como construímos circuitos integrados ou
em Ciências Sociais e Humanas (PPGCISH) da Universidade
sistemas políticos.
do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), de título
“Subjetividade e escritas de si no blog “cem homens”: uma A partir dessa perspectiva, pretendemos
análise dos sujeitos contemporâneos no ciberespaço”, discutir; através de uma revisão teórica; como os
defendida e aprovada em 2016.
sujeitos da rede, aqueles que estão submersos na
2O termo rede é utilizado aqui como sinônimo de internet
cibercultura - eu, você e todos nós -, passamos a
e ambientes virtuais online.
perceber o ciberespaço como sendo também uma tempo humano ao organizar-se narrativamente. O
eu se constitui temporalmente para si mesmo na
espécie de dispositivo pedagógico, na medida em
unidade de uma história (LARROSA, 1994, p. 65).
que há uma constituição de si através da escrita e
imagem. Ao se narrar num blog confessional ou O tempo no qual uma subjetividade se produz é
numa rede social online o sujeito passa a refletir antes de qualquer coisa um tempo narrado, uma
sobre si mesmo na medida em que se descreve e se vez que ao narrar os acontecimentos de nossas
expõe. vidas e a percepção que temos sobre estes,
acabamos por nos colocar enquanto sujeitos
O termo ―narrar‖, vindo do latim ―narrare‖,
emersos numa realidade temporal. No entanto,
significa basicamente ―arrastar para frente‖,
seria simplificar por demasia afirmar que o sujeito
deriva da palavra ―gnarus‖ que tem como tradução
é fruto dessa temporalidade da qual faz parte,
ao mesmo tempo ―o que sabe‖ e o ―o que viu‖ e,
sendo sua narração apenas tal percepção.
por tanto, remete a uma expressão grega, ―istor‖,
da qual derivam os termos ―história‖ e ―historiador‖ A narrativa pode ser percebida enquanto
(LARROSA, 1994, p. 64). Percebemos, pois, uma discurso pré-existente, uma vez que o indivíduo já
associação entre o ver e o saber, sendo aquele que se encontra desde seu nascimento imerso em
narra ―o que leva para frente, apresentando-o de estruturas narrativas que se organizam por meio
novo, o que viu e do qual conserva um rastro em das práticas discursivas de forma que ―a narrativa
sua memória. O narrador é que expressa, no não é o lugar de irrupção da subjetividade, da
sentido de exteriorizar, o rastro que aquilo que viu experiência de si, mas a modalidade discursiva que
deixou em sua memória‖ (LARROSA, 1994, p. 64). estabelece tanto a posição do sujeito que fala (o
narrador) quanto às regras de sua própria inserção
Ao narrar-se o sujeito está pondo em evidência
no interior de uma trama (o personagem) ‖
o que guardou do que viu de si mesmo, não sendo
nossa existência, em que ―a ilusão de se dirigir ao vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da
outro é apenas um pretexto para falar apenas de si‖ Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque.
se coloca numa complexa relação de auto- modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo:
que nos leva a crer que o sujeito da rede é GIDDENS, Anthony. A transformação da
resultado dos diversos mecanismos e dispositivos intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas
que o levam a manter uma relação reflexiva sociedades modernas. Tradução de Magda Lopes.
consigo mesmo. Fato que ocorre de maneira cada São Paulo: Editora da Universidade Estadual
vez mais acentuada no ambiente virtual, fazendo Paulista, 1993.
E-Mail: pamella_rochelle@hotmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3315-659X.
RESUMO:
O texto é resultado de uma conferência proferida em um evento que se propunha a repensar,
por diferentes percepções a cidade de Mossoró-RN. As reflexões aqui presentes se colocam
nessa perspectiva: fazer uma releitura do passado à luz das referencialidades desse momento
presente. O objetivo é repensar essa cidade para além das suas construções arquitetônicas,
físicas e práticas e enfocar seus aspectos imagéticos, sensíveis, narrativos e as paisagens
sentimentais que levam os sujeitos a elaborarem suas cartografias subjetivas da cidade para
melhor se relacionar com ela. Essas cartografias são menos traçáveis do que relatáveis. Elas são
móveis, fluídas, flexíveis, pois se trata de dimensões estão sempre em reconfigurações
performáticas e sensitivas dos sujeitos no seu dia a dia. Portanto, não se trata mais de uma
cidade construída para os sujeitos, mas como os sujeitos reconstroem a cidade a partir de suas
emoções, significações e subjetividades.
ABSTRACT:
The text is the result of a conference given at an event that proposed to rethink, by different
perceptions the city of Mossoró-RN. The reflections present here are placed in this perspective:
to make a reinterpretation of the past in the light of the referentialities of this present moment.
The objective is to rethink this city beyond its architectural, physical and practical
constructions and focus on its imagery, sensitive, narrative aspects and the sentimental
landscapes that lead the subjects to elaborate their subjective cartographies of the city to
better relate to it. These cartographies are less traceable than reportable. They are mobile,
fluid, flexible, because these are dimensions that are always in performative and sensitive
reconfigurations of the subjects in their daily lives. Therefore, it is no longer a city built for the
subjects, but how the subjects reconstruct the city from their emotions, meanings and
subjectivities.
O
texto é resultado de uma conferência nos permite falar.
proferida em um evento que se pro- Se é verdade, como pensa Paul Connerton, que
punha a repensar, por diferentes ―todos os inícios contêm um elemento de
percepções a cidade de Mossoró-RN. As recordação‖ (1999, p.7) não poderia começar essa
reflexões aqui presentes se colocam nessa fala sem relembrar minha dissertação de mestrado
perspectiva: fazer uma releitura do passado à luz intitulada ―Labirintos, errâncias, vidas: um estudo
das referencialidades desse momento presente. O sobre os nômades urbanos do país de Mossoró-RN‖
objetivo é repensar essa cidade para além das suas (1998). De imediato, esclareço que não irei
construções arquitetônicas, físicas e práticas e reapresentar aqui esta dissertação na qual busquei
enfocar seus aspectos imagéticos, sensíveis, os hippes ou ―nômades urbanos‖ da cidade de
narrativos e as paisagens sentimentais que levam Mossoró-RN para conhecer a leitura que esses
os sujeitos a elaborarem suas cartografias homens faziam dessa cidade, cenário de suas cenas
subjetivas da cidade para melhor se relacionar com cotidianas. Como disse Félix Guatarri: “toda leitura
ela. Essas cartografias são menos traçáveis do que do passado está, inevitavelmente, sobrecodificada
relatáveis. Elas são móveis, fluídas, flexíveis, pois por nossas referências ao presente‖ (1996, p.122).
se trata de dimensões estão sempre em Coloco-me aqui nessa perspectiva: fazer uma
reconfigurações performáticas e sensitivas dos releitura do passado à luz das referencialidades a
sujeitos no seu dia a dia. Portanto, não se trata esse momento presente.
mais de uma cidade construída para os sujeitos, Ao longo desse evento, percebi que muitos já
mas como os sujeitos reconstroem a cidade a partir falaram sobre os grandes fatos e personalidades
de suas emoções, significações e subjetividades. históricas dessa cidade bem como das várias
REPENSANDO A CIDADE DE MOSSORÓ-RN: UMA interpretações sobre a sua história. Falar dessas
POSSÍVEL CARTOGRAFIA SUBJETIVA marcas é como ir em busca de um tempo perdido,
de um tempo em que a memória coletiva guarda os
Durante esse simpósio16 já foram apresentadas
fragmentos mais relevantes de si mesma, para si
muitas imagens e falas sobre Mossoró. Uma cidade
mesma. Rememorar esses fragmentos históricos
que cresce horizontal e verticalmente, mas,
não deixa de ser uma forma de as pessoas se
sobretudo, uma cidade que, humanamente,
(re)encontrarem com pedaços de suas vidas
multiplica as imagens e discursos de si mesma por
construídas ao longo dos tempos. Na concepção de
meio daqueles que nela moram ou sobre ela pensam.
Joseph Campbell, contar mitos e relembrar as
Aqui já foram enfocadas diversas dimensões
histórias passadas são formas de harmonizar as
dessa cidade, físicas e humanas, ecológicas e
pessoas com seu mundo, com o mundo e com elas
sociais, práticas e subjetivas. Vendo e ouvindo as
mesmas, ao mesmo tempo. É isto que pode
vozes que falaram nesse simpósio, percebe-se
configurar uma identidade local na globalidade do
facilmente que Mossoró é uma cidade polifônica e
mundo (1990). E isto possui uma importância
psíquica muito forte (seja pessoal ou coletiva), que
16Conferência no Simpósio de Geografia da Universidade não cabe agora abordar.
do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, realizado de 16
Para além disso, é importante reconhecer que
a 18 de dezembro de 2015, revista a atualizada para esta
publicação. as pessoas gostam de ouvir o que as outras pessoas
BACHELARD, Gaston. Fragmentos de uma poética Alegre: Artes Médicas, 1996, p.121-137.
do fogo. Tradução: Norma Telles. São Paulo: GUATTARI, Félix. Práticas ecosóficas e
Brasiliense, 1990. restauração da cidade subjetiva. Revista tempo
BAUDELAIRE, Charles. A uma passante (poema). brasileiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, v.1,
Revista Prosa, verso e arte (on-line). Disponível n.116:5/8, jan-mar., 1994, p.9-25.
Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, professor do Departamento de Ciências Sociais e Políticas da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e do Mestrado Interdisciplinar em Ciências
Humanas e Sociais da UERN. Coordena o Grupo de Pesquisa do Pensamento Complexo GECOM/UERN.
E-Mail: ailtonsiqueira@uol.com.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2031-0711
.
RESUMO:
Este artigo investiga a utilização da mise-en-scène audiovisual como ponto de partida para uma
estética revolucionária e anticolonialista no Cinema Novo, movimento cuja base foi a afirmação
de um arte ―da fome‖ ou ―terceiro-mundista‖, construída a partir de elementos diegéticos que
visaram suscitar a superação da ―dominação‖ cultural e social oriundas do exterior. A análise,
de natureza exploratória, tem como referência o filme O Leão de Sete Cabeças (Der Leone Have
Sept Cabeças, 1970), do cineasta Glauber Rocha. Discutimos a produção deste aclamado
diretor da sétima arte brasileira relacionando-a a autores das ciências humanas e sociais e
objetivando ampliar o diálogo para além do contexto artístico.
ABSTRACT:
This article investigates the use of audiovisual mise-en-scène as a starting point for a
revolutionary and anti-colonialist aesthetics in Cinema Novo, a movement based on the
affirmation of an art "from hunger" or "third world", built on starting from diegetic elements
that aimed to overcome the cultural and social ―domination‖ from abroad. The exploratory
analysis is based on the film The Lion of Seven Heads (Der Leone Have Sept Cabeças, 1970), by
filmmaker Glauber Rocha. We discussed the production of this acclaimed director of the
seventh Brazilian art, relating it to authors from the human and social sciences and aiming to
expand the dialogue beyond the artistic context.
Neocolonialismo (1968), de Jean Paul Sartre. Nesse o Cinema Novo com o miserabilismo (ROCHA, 2009,
p.56).
sentido, buscamos compreender a relação exígua
entre a estética da violência presente em O Leão e Em seu cinema de autor – que busca a inflexão
as teorias daquele período que possam ter política – o combate ao neocolonialismo e à
influenciado a obra. hegemonia cultural dos países centrais do
capitalismo figura-se como presente em toda a
A VIOLÊNCIA NA MISE-EN-SCÉNE DE O LEÃO DE
SETE CABEÇAS diegese de O Leão. O Terceiro Mundo se revela, por
meio de Pablo e Zumbi, como sujeito ativo da ação
Der Leone Have Sept Cabeças narra a história
revolucionária contra o imperialismo a partir de
de Pablo e Zumbi, guerrilheiro latino-americano e
uma estética da violência. Elementos como armas
líber negro, respectivamente, que se unem para
são ressaltados na mise-en-scène da trama e
libertar o continente africano a ferro, fogo e
parecem clamar ao espectador para que se junte
sangue. No processo revolucionário que
aos personagens. A diferença entre os meios para a
desencadeiam, os protagonistas enfrentam o
luta que o colonizado e o colonizador possuem
mercenário alemão que, auxiliado pelo agente
também explicitam a distância desigual a que estão
norte-americano e pelo assessor português,
submetidos: enquanto o primeiro possui armas
governa em nome da misteriosa Marlene. A
brancas, o segundo está repleto de armas de fogo e
produção apresenta, sucintamente, os 500 anos de
um conteúdo bélico claramente mais vantajoso.
progressiva dominação branca na África – que se
Embora o longa não apresente personagens
modifica entre colonialismo e imperialismo, mas se
populares como em Deus e o Diabo ou em Antônio
perpetua como hegemônica.
das Mortes, a dialética da colonização e a luta
Em O Leão, Glauber põe em prática suas ideias
contra ela prevalece aqui. O deslocamento do
sobre um cinema que conecte os três continentes
sertão – ambiente principal dos contextos de seus
frutos da exploração: África, América do Sul e
filmes anteriores – para o continente africano
América Central, a fim de apresentar um cinema
reflete o cenário internacional de opressão que o
épico-didático. Épico, pois visa estimular o caminho
cineasta discutira no livro supracitado.
revolucionário; didático no sentido da maneira
como os personagens se apresentam. Do sertão ao Brasil como um todo, e deste à América
Latina e ao Terceiro Mundo. Cada filme reitera o seu
As ideias do cineasta, escritas em Por uma
foco nas questões coletivas, sempre pensadas em
Estética da Fome (1965), tinham por objetivo a grande escala, através de um teatro da ação e da
reprodução e o entendimento de que ―o consciência dos homens onde as personagens
comportamento exato de um faminto é a violência, se colocam como condensações da experiência de
e a violência de um faminto não é primitivismo‖ grupos, classes, nações (XAVIER, 2001, p.118).
(ROCHA, 2009, p. 56). Para Glauber,
No início de O Leão, Zumbi, que é apresentado
O Cinema Novo narrou, descreveu, poetizou, como um revolucionário libertário que sonha com a
discursou, analisou, excitou os temas da fome: justiça social, narra a história do continente
personagens comendo terra, personagens comendo africano antes da colonização e a forma massa-
raízes, personagens roubando para comer,
crante que vivem os colonizados no contexto
personagens matando para comer, personagens
contemporâneo à narrativa:
fugindo para comer, personagens sujas, feias,
Em outros trechos do filme, a relação de O dia todo te alimentas de ervas, mas a comida do
rebaixamento das condições socioeconô-micas das branco é rica e suculenta. Tua mulher morreu ontem.
colônias e a pujança das metrópoles também é Sua doença não era grave, mas não havia remédios.
O mercenário branco violou tua filha e roubou o
apresentada. Zumbi mostra ao chefe da aldeia que
ouro da tribo. Isso te parece justo? Tua mulher,
o mundo colonizado é cindido em dois: enquanto as
teus irmãos, todos os teus parentes trabalham todo
colônias e os colonizados são famintos e miseráveis,
dia nos campos de amendoim. O branco compra a
as metrópoles e os colonizadores são ricos e colheita a preço baixo. Será que sabem que ele a
opulentos graças ao surrupiamento da região revende mil vezes mais caro? (O Leão de Sete
colonizada. Cabeças, 1970).
O branco mora numa bela casa, na cidade...mas tua Esse mundo dialético, segundo Fanon, é
casa, no bairro indígena, está ruindo. Estás vestido habitado por espécies diferentes. Para ele, o
pobremente, mas o branco está muito bem vestido. contexto colonial reside em realidades econômicas
econômica mas também cultural e simbólica: os colonialismo no cinema novo. Revista Temática.
personagens subalternos já não são mais a Ano XV-n.12.Dezembro/2019 Acesso em: 27 nov.
E-Mail: stambergjunior@gmail.com.
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8680-6501.
RESUMO:
Este artigo apresenta a proposta de pesquisa sobre as imagens lítero-musicais presentes na
obra do cantor e compositor Belchior e a relação destas com sua biografia, mostrando a
reciprocidade entre vida e obra. Partimos de uma breve reflexão sobre o campo de estudo
pluridisiciplinar do imaginário e da imagem, especialmente em COCCIA (2015), BACHELARD
(1978; 1990; 1991) e HILLMAN (2010). Esses autores discorrem sobre a dinamicidade e
autonomia da imaginação e do imaginário, bem como sua recursividade sobre os indivíduos e
grupos. Destarte, utilizamos essa reflexão teórica para propor uma leitura de imagens
bachelardiana de parte do cancioneiro belchiorano, propondo como eixo analíticos, a existência
de quatro espaço poéticos (sertão, cidade, América Latina, Arcádia), como resultados dessas
imagens lítero-musicais, o que constitui como possibilidade de interpretação da relação vida e
obra desse artista cearense.
ABSTRACT:
This article will present the research proposal on the literary-musical images present in the
work of the singer and composer Belchior and their relationship with his biography, showing the
reciprocity between life and work. We start from a brief reflection on the multidisciplinary field
of study of the imaginary and image, especially in COCCIA (2015), BACHELARD (1978) (1990)
(1991) and HILLMAN (2010). These authors discuss the dynamics and autonomy of the
imagination and the imaginary, as well as their recursion on individuals and groups. Thus, we
used this theoretical reflection to propose a reading of Bachelardian images by part of the
belchiorano songbook, proposing as an analytical axis, the existence of four poetic spaces
(hinterland, city, Latin America, Arcádia), as a result of these literary-musical images, the
which constitutes a possibility of interpreting the life and work of this artist from Ceará.
M
eu primeiro contato com a música de expressões estéticas. É necessário explorar
Belchior veio por intermédio de uma também que tais expressões intersubjetivas, o
fita cassete que pertencia a meu pai, individual na trama da criação estética, enquanto
por volta dos meus 15, 16 anos de ato de imaginação. O objeto das expressões
idade, hábito que sempre alimentava com alguma artísticas é algo que está relacionada a uma época,
rebeldia - meu pai odiava o volume alto e desgaste sociedade, mas ao mesmo tempo consegue
da bateria do carro, pois vez, ou outra ouvia fitas ―fraturar‖ essa condição espaço-temporal, dada a
em seu toca-fitas - todavia ainda sim aquelas sua natureza imaginal. Sendo assim nosso estudo,
canções não havia me encantado, lembro de ouvir foca-se na leitura, a partir dos referenciais dos
―Tudo Outra Vez‖ e talvez ―Apenas um Rapaz estudos do imaginário presentes em autores como
Latino Americano‖, mas não com muito gosto, ou Emanuele Coccia, Gaston Bachelard e James
assiduidade com que ouvias outros artistas. O Hillman, as imagens que intuímos e lemos, nas
interesse e o gosto crescente pela obra musical do músicas de Belchior, partindo de uma leitura
cearense só viriam a se firmar mesmo já quando do bachelardiana e mostrar como essas imagens que
meu ingresso na universidade no curso de ciências identifico como ouvinte, não são apenas produto da
sociais na Universidade do Estado do Rio Grande do relação do artista com sua época, mas vetores de
Norte- UERN, entre os anos de 2004-2008. Nas construção pessoal e artística.
atividades de entretenimento e no acesso a outras
VOCÊ NÃO SENTE E NÃO VÊ, MAS NÃO POSSO
mídias, entre elas o cancioneiro da MPB em
DEIXAR DE DIZER MEU AMIGO, UMA NOVA
especial das décadas de 70 e 80.
MUDANÇA, BREVE VAI ACONTECER: IMAGINÁRIO E
O gosto pela música de Antônio Carlos Belchior DINAMISMO DAS IMAGENS
foi tão significativo a ponto de me inspirar a
A base da comunicação humana é decorrente
estudá-la, lê-la, sob uma perspectiva científica:
da produção das imagens. Ao concebê-las como
Como aquele sujeito, conterrâneo, conseguia
produto da imaginação, dos atos de imaginação, da
compor letras de tão largo alcance poético, de
formação do imaginário, pensava-se que estas não
beleza, de reflexões sobre os aspectos gerais sobre
se constituíam numa realidade com autônoma, ou
a vida humana numa época, cultura, ao passo que
relativa autonomia. Essa abordagem da imagem e
parece um relato atemporal, universal sobre
de sua influência se devia a própria da aura dos
dramas, relações, contexto político, cultural, enfim
objetos ligados ao imaginário como sendo um ramo,
sobre a condição humana? Busco não uma análise
da atividade mental, ou operações mentais, tido
das relações entre música e seu contexto social,
como ―irreais‖, ―engodo‖, ―ilusão‖, ―engano‖, uma
onde teríamos uma ―verdade‖ sobre a ―mensagem‖
vez que as expressões da religião, dos mitos, da
do artista, partindo da análise de sua biografia
literatura, poesia, das artes em geral, não seriam
individual e principalmente do contexto social,
objetivas, ou lógicas. A ideia de que uma análise
histórico e cultural em que aquelas canções e esse
racional (objetiva, neutra), não pode gerar um
artista estiveram em maior evidência social e
conhecimento seguro, logo não é real. Mesmo no
comercial.
domínio da filosofia, segundo para WUNENBURGER
belchiorano nos faz propor aqui a criação de um um quarto espaço poético de Belchior, espécie de
quarto espaço poético, uma vez que certas imagens Arcádia (lugar montanhoso habitado por pastores
no cancioneiro do artista cearense não se ligam a e poetas), um lugar desejado pelo poeta e nessa
nenhum dos outros espaços, aqui citados, como condição. Um movimento de saída experimentado
América Latina, Sertão ou Cidade. São imagens de pelo próprio sujeito em relação a música, aos
contemplação e mesmo refúgio, de desejo de exílio, palcos, a vida pública, como o que o artista
de contemplação e fruição artística, e não se protagonizou nos seus últimos dez anos de vida,
delimita a nenhuma fase ou álbum da carreira, pelo rejeitando contatos e convites para shows. Migrou
contrário, estão sempre presentes em toda obra, pra o sul do país, indo até o Uruguai, levantando a
interage e transmutam-se a partir dos demais curiosidade e o burilo de imprensa, fãs e familiares
espaços poéticos, tal como o bardo que Belchior sobre esse abandono da carreira. Belchior diria que
escreve Bachelard). Não há um destino específico arquétipo, uma imagem, ao qual o autor se apegou
para fuga, não há um lugar para ficar, porque a nos últimos anos? Talvez. Como atestado pelos
imaginação, o imaginário, enfim podem ser a única transcendência sobre o comportamento individual,
saída para a uma nova realidade; É o desejo de uma sendo as imagens elas próprias a ―substância‖ do
E-Mail: angelofelipevarela@hotmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1033-7411
RESUMO:
Alijada de representação efetiva nos mass media, a voz das minorias sociais se inscreve nos
espaços urbanos e pede atenção. O presente artigo analisa essa comunicação marginal em
períodos de rupturas democráticas na América do Sul. Sob abordagem dialética, análise
qualitativa e utilização de jornais de forma documental, o estudo traz Henri Lefebvre e José
D‘Assunção Barros como autores principais. Acredita-se que as mensagens expostas na cidade
em forma de pichações, lambes ou grafites podem ter caráter noticioso, artístico ou de denúncia
social; exigindo, assim, um olhar de maior compreensão científica.
ABSTRACT:
Excluded from effective representation in the mass media, the voice of social minorities is
inscribed in urban spaces and calls for attention. This article analyzes this marginal
communication during periods of democratic rupture in South America. Under a dialectical
approach, qualitative analysis and use of newspapers in a documentary manner, the study brings
Henri Lefebvre and José D‘Assunção Barros as main authors. It is believed that the messages
displayed in the city in the form of graffiti, lambs or graffiti may have a news, artistic or social
denunciation character; thus requiring a view of greater scientific understanding.
A
o longo das décadas, as Ciências da para aqueles que também querem pulsar de algum
Comunicação têm pautado como modo nas veias da cidade; numa espécie de
objetos de pesquisa diversos elementos movimento contracultural dotado de maior ou
midiáticos dispersos no cotidiano – menor consciência política, mas sempre buscando a
textos jornalísticos, quadrinhos, filmes, materiais expressividade, o comunicar-se.
em áudio, fotografias, cartazes, propagandas e O conteúdo aqui apresentado é tangente às
outros conteúdos audiovisuais. Entre os conteúdos análises desenvolvidas pelo Projeto de Pesquisa
analisados, nem sempre a estética da cidade em si, Muros Que Falam 3 , coordenado pela autora e
no âmbito dos seus discursos periféricos, é sediado na Universidade do Estado do Rio Grande
vislumbrada como medium, como instrumento do Norte (UERN), em Mossoró-RN. O projeto,
catalisador da reflexão e leitura de mundo. iniciado em 2018, visa o mapeamento e análise dos
Acreditamos que as mensagens deixadas nas discursos dispostos em forma de lambe, pichação
paredes da cidade sejam um desses instrumentos ou grafite registrados no espaço urbano. Em sua
potencializadores de reflexão normalmente primeira etapa, a pesquisa teve foco nas
desprezados, elas subentendem uma racionalidade mensagens encontradas na cidade de Mossoró-RN;
na prática comunicativa, no uso de linguagem na etapa atual, contudo, as análises se estendem a
própria e argumentos que incitam a crítica mensagens registradas em qualquer lugar do Brasil
(HABERMAS, 2012). Em forma de textos imagéticos e do mundo. A intenção é mapear e perceber o
ou escritos, as mensagens nas paredes urbanas caráter noticioso, artístico e de denúncia social
decerto incitam mais que pura intervenção do desses conteúdos.
autor no espaço público, podem simbolizar um grito Para compor a estrutura teórica, utilizamos
individual ou coletivo; podem refletir o pensamento como base o conceito da ―cidade como texto‖, a
e as inquietações de determinados grupos partir dos escritos de José D‘Assunção Barros
socioculturais, as questões silenciadas pelos mass (2011), e a noção de espaço preconizada por
media, as formas de resistência, as tentativas de Milton Santos (2006). A dialética passível de ser
contrapoder – visto que ―toda comunicação é percebida nas mensagens pesquisadas, por sua
comunicação de algo, feita de certa maneira em vez, ganha ressonância na microssociologia do
favor ou na defesa, sutil ou explícita, de algum cotidiano delineada por Henri Lefebvre (1999;
ideal ou contra algo e contra alguém, nem sempre 2001); enquanto o vínculo entre estética, política e
claramente definido‖. (FREIRE, 2011, p. 136). comunicação está abalizado nos estudos de Jürgen
Neste ínterim, pressupomos que o grafite, o
2
Conhecido popularmente como “lambe”. A técnica
1 consiste em colar pôsteres no espaço público. Esse pôster
Versão atualizada de artigo apresentado na DTI 13 -
normalmente tem tamanho de papel A3 ou A4, no qual é
Folkcomunicação do XVI Congresso IBERCOM,
impressa, pintada ou grafada mensagem textual e/ou
Departamento de Comunicação, Faculdade de
imagética.
Comunicação e Linguagem, Pontificia Universidad
3
Javeriana, Bogotá, Colômbia, 27 a 29 de novembro de Projeto vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de
2019. Iniciação Científica (PIBIC).
16
RUFFATO, Luiz. O golpe contra Dilma Rousseff. El País.
15 01 set. 2016. Disponível em
Os procedimentos tomados pela Operação Lava Jato
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/08/31/opinion/1472
foram colocados sob suspeita depois das investigações
650538_750062.html. Acesso em 16 nov. 2020.
lideradas pelo jornalista Glenn Greenwald. Em parceria
17
com jornais de diferentes linhas editoriais, Glenn divulgou Em outro processo, relacionado a recebimento de
conteúdos de interesse público que comprovaram ações propina para a reforma de um sítio em Atibaia, a juíza
da Lava Jato direcionadas a afastar Lula da Presidência da Gabriela Hardt, substituta de Moro, condenou Lula a 12
República. Essas informações foram obtidas por meio de anos e 11 meses de prisão. O Ministério Público Federal
acesso a áudios de diálogos mantidos no aplicativo (MPF) mais tarde reconheceu, contudo, que o sítio não
Telegram, envolvendo partícipes da Operação Lava Jato. pertencia a Lula, e sim ao empresário Fernando Bittar.
Publicados pela equipe de Glenn, os áudios também (REVISTA FÓRUM. MPF reconhece que dono do sítio de
comprovaram, entre outras coisas, a troca de informações Atibaia é Fernando Bittar e autoriza venda do imóvel.
confidenciais entre procurador e juiz do processo (Deltan Revista Fórum. 27 mai. 2019. Disponível em
Dallagnol e Sérgio Moro) e a proteção de determinados https://revistaforum.com.br/politica/mpf-reconhece-que-
correligionários políticos, que foram poupados de dono-do-sitio-de-atibaia-e-fernando-bittar-e-autoriza-
investigações de corrupção. venda-do-imovel. Acesso em 16 nov. 2020).
resultantes das mediações sociais – aquilo que é cidade como um espaço geográfico, como um
vivido, percebido, também faz parte do espaço conjunto de sistemas de objetos e ações
atuação de sujeitos que produzem coisas e econômicas. A cidade pode ser pensada, portanto,
sociabilidades. Esses sujeitos, portanto, não como um sistema composto de vários subsistemas
somente organizam, mas produzem o espaço da interagentes em menor ou maior escala, com níveis
Enquanto organismo vivo, a cidade – ora gerida LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo:
estabelecendo como lugar da administração, da OLIVEIRA, Rodrigo Cássio de. Grafite e pichação
moradia e do trabalho, mas também da produção são formas de arte? Estadão, São Paulo, 03 fev.
de mitos e ritos, como galeria, como livro aberto, 2017. Estado da Arte. Disponível em:
como território de reinvenção do cotidiano. https://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-
Enquanto livro aberto, ela mesma conta a sua daarte/grafite-e-pichacao-sao-formas-de-arte/.
história transpassada na arquitetura das ruas e Acesso em 16 nov. 2020.
casarios; na mobilidade dos seus cidadãos; na PEREIRA, Thiago. Panorama da arte rupestre
efemeridade ou permanência das suas obras e brasileira: o debate interdisciplinar. Revista de
diálogos; e nos escritos deixados nos muros como História da Arte e Arqueologia. Campinas-SP:
berro, informação, poesia ou agressão, como Unicamp, ano 11, n. 16, p. 21-38, jul./dez. 2011.
expressão comunicativa incitante da percepção de Disponível em: http://migre.me/wqa4o. Acesso em:
quem por ela passa. Essas expressões, em tempo de 16 nov. 2020.
cerceamento de liberdades, fazem gritar os SANTOS, Felipe Caetano dos; SANTOS, Juvandi de
silenciamentos, consubstanciando-se como voz
E-Mail: juniamartins@uern.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8580-7430
RESUMO:
Neste pequeno ensaio busco refletir sobre a complexidade de se fazer pesquisa em tempos de
pandemia, a partir de minha experiência enquanto pesquisadora mulher. O coronavírus trouxe
dificuldades novas e passados mais de oito meses desde o início da pandemia, nós,
pesquisadoras (e pesquisadores) precisamos nos reinventar para manter a pesquisa ativa, ligada
à realidade e atenta aos acontecimentos. Dessa forma, abordo neste ensaio questões sobre o
processo criativo da escrita acadêmica a fim de identificar alguns imaginários socialmente
compartilhados sobre que é escrever academicamente. O objetivo é mostrar que os bastidores
que envolvem o ato de fazer ciência são uma importante fonte de conhecimento para o
aprimoramento de uma escrita reflexiva, capaz de fomentar qualidade à pesquisa acadêmica.
ABSTRACT:
In this essay I seek to reflect on the complexity of doing research in times of pandemic, from my
experience as a woman researcher. The coronavirus brought new difficulties and more than
eight months after the beginning of the pandemic, we researchers (and researchers) need to
reinvent ourselves to keep the research active, linked to reality and attentive to events. Thus, I
address in this essay questions about the creative process of academic writing in order to
identify some socially shared imaginings about what it is like to write academically. The objective
is to show that the backstage surrounding the act of doing science is an important source of
knowledge for the improvement of reflexive writing, capable of fostering quality in academic
research.
E-Mail: mariamepleihte@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6222-9490
RESUMO
O presente artigo tem a pretensão de fazer uma breve e sucinta discussão acerca da ideia de
poder e violência a partir da análise de algumas das obras de Michel Foucault e Hannah Arendt,
buscando entender de que forma estes dois autores abordaram estes fenômenos, bem como suas
contribuições para a compreensão nos dias atuais de tão importante temática.
ABSTRACT
The present article aims to make a brief and succinct discussion of the idea of power and
violence from the analysis of some works of Michel Foucault and Arendt, trying to understand
how these two authors addressed these phenomena as well as their contributions to understand
nowadays so important subject.
aceitável e até mesmo natural. De fato, se para orientação e de justificativas pelo fim que busca
(2001, p. 32).
uma linha de pensamento hobbesiana, a violência
consistiria um caminho possível para realização de Hannah Arendt lamenta o fato de a ciência
intentos do homem, algo mesmo da natureza do política moderna conviver com uma espécie de
comportamento humano, Arendt pensa diferente e confusão conceitual entre poder, força, vigor,
faz críticas a questão da naturalização da violência, autoridade e violência, fenômenos distintos, mas
bastante presente, aliás, nos discursos e debates que segundo ela são comumente utilizados
que permearam a segunda metade do século XX, enquanto sinônimos pelo fato de expressarem ao
época em que os chamados pensadores entendimento comum à mesma ideia de ―quem
revolucionários proclamavam o uso legítimo da domina quem‖. Nas palavras de Arendt:
violência enquanto meio para enfrentar e combater O “poder” corresponde à habilidade humana de não
o poder instituído que também era violento. apenas agir, mas de agir em uníssono, em comum
Uma das consequências da naturalização da acordo. O poder jamais é propriedade de um
violência é que ela constantemente aparece indivíduo. Pertence ele a um grupo e existe apenas
enquanto o grupo se mantiver unido. Quando
vinculada ao poder e para os defensores deste
dizemos que alguém está “no poder” estamos na
ponto de vista, a violência assume o status não
verdade nos referindo ao fato de encontrar-se esta
apenas de algo inerente ao ser humano, mas
pessoa investida de poder, por um certo número de
também de algo quase inevitável. Poder e violência
pessoas, para atuar em seu nome. No momento em
seriam as duas faces de uma mesma moeda. Mas que o grupo de onde originara-se o poder (potestas
para a autora, poder e violência são fenômenos in populo, sem um povo ou um grupo não há poder),
distintos, pois onde há a ausência de poder, aí desaparece, “o seu poder” também desparece. Na
impera a violência, para Arendt: ―[...] a violência linguagem comum, quando falamos de um “homem
sempre pode destruir o poder; do cano de uma poderoso” ou de uma “personalidade poderosa”,
Arendt vai buscar na polis grega a base do poder, contra os vários tipos de desafios – do inimigo
estrangeiro, do criminoso local parece realmente ser
aquilo que é o fundamento de sua legitimação, que
a violência o pré- requisito do poder, e o poder nada
é justamente o diálogo, o consenso, o
mais que uma fachada, a luva de pelica que ou
convencimento, o discurso, as palavras. A partir
esconde a mão de ferro, ou que mostrará pertencer
deste raciocínio não é difícil compreender porque a um tigre de papel. Em um exame mais detido,
para a autora, poder e violência se situam em polos entretanto, perde essa noção muito de sua
opostos. Ela trabalha com a noção de espaço plausibilidade (2001, p. 29).
E-Mail: betaniabarrosrn@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7225-602X
Recebido: 08.12.2020
Aprovado: 12.12.2020
O
livro que nos dedicaremos a resenhar implicações causadas pela Pandemia. Cobra-se
foi feito a pa rtir do trabalho muito dessa área que ela consiga gerar resoluções
colaborativo de cientistas sociais de na vida prática da população: o livro ―Admirável
diferentes áreas, sendo dividido em Mundo em Descontrole‖ vai nesse caminho. O
capítulos que abordam uma série de elementos segundo ponto diz respeito ao contexto de
surgidos a partir do contexto de pandemia da deslegitimação das Ciências Humanas no Brasil, a
Covid-19. Mesmo com essa divisão, o conjunto da partir de uma política conservadora que confunde o
obra consegue demarcar o espaço das Ciências fazer científico com o fazer militante. O
Sociais dentro do discurso científico contem- empreendimento moral que tem como conteúdo
porâneo. uma política conservadora cerca os profissionais da
A demarcação desse espaço é de grande valor área em um regime de constrangimento e censura.
devido a dois fatores. O primeiro é a do O projeto político ‗Escola sem partido‘ é um
protagonismo dado às ciências naturais para a exemplo: persegue professores da área de
resolução dos problemas gerados pelo Coronavírus: humanidades e os impede de debater assuntos
está encarregada de descobrir o funcionamento essenciais para a área. Com a eleição do presidente
desse novo vírus, a forma como este age no nosso Jair Bolsonaro, a perseguição ganhou força
corpo, quais os melhores tratamentos de saúde e institucional, com cortes de verbas para a
qual o desenvolvimento de uma vacina para a Educação e para a Ciência; e as ciências humanas
imunização da população mundial. A partir desse sendo categorizadas como ―não essenciais‖ nas
livro, podemos visualizar as contribuições das políticas governamentais. A publicação dessa obra
Ciências Sociais para uma série de outras resenhada serve não somente como prova da