Apostila Curso Análise A Fresco Na Carcinicultura

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ANÁLISES A FRESCO: O QUE SÃO? QUAL A METODOLOGIA?

O
QUE OBSERVAR E COMO INTERPRETAR? QUAL SUA
IMPORTÂNCIA PARA A PREVENÇÃO E CONTROLE DE
ENFERMIDADES NO CULTIVO DO L. VANNAMEI

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAMARÃO – ABCC

CONVENIO MAPA Nº 827739/2016

SETEMBRO 2017
APRESENTAÇÃO

O desafio de reduzir o uso dos recursos naturais no processo de

expansão da carcinicultura, mediante aumento da produtividade, minimizando

adicionalmente os prejuízos ocasionados pelas enfermidades de importância

econômica para o camarão cultivado, principalmente as infecciosas de origem

viral e bacterianas, levaram países como China, Tailândia, Indonésia, Vietnã e

Equador, a aperfeiçoarem procedimentos, métodos e práticas de cultivo, cuja

sistemática aplicação, além de aumentar a produtividade, assegura a produção

em convivência com as referidas adversidades.

Essa situação foi, em grande parte, o motivo que levou a Associação

Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), com apoio financeiro do Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a elaborar um Programa de

Aperfeiçoamento e Capacitação, para os carcinicultores cearenses, envolvendo

um abalizado conjunto de BPMs e Medidas de Biossegurança associado com o

Sistema Intensivo de produção, cuja aplicação contribuirá efetivamente para a

melhoria dos atuais níveis de produção comercial, assegurando a viabilidade

da atividade frente ao surto da “mancha branca” e, naturalmente, a oferta de

camarão para os mercados consumidores.

Em realidade, o conceito do Sistema Intensivo, que foi aprimorado e

será disseminado na Carcinicultura cearense, refere-se à forma mais eficiente

ou à que gera a melhor relação custo x benefício para garantir o desempenho

produtivo, a expansão vertical e o desenvolvimento sustentável da atividade de

carcinicultura, frente aos problemas associados com a presença da mancha

branca.
Da mesma forma, a Biossegurança, que para efeitos do presente

Programa, se junta às Boas Práticas de Manejo, é o termo aplicado na indústria

animal para descrever os procedimentos e cuidados especiais, cientificamente

comprovados, para a prevenção e controle das enfermidades virais, o que

significa o uso de práticas que previnem e/ou convivem com as enfermidades

que afetam o camarão cultivado.

Para assegurar o uso eficiente do Sistema Intensivo, combinados com

as indispensáveis Medidas de BPM e Biossegurança, o PROGRAMA DE

QUALIFICAÇÃO ESPECIAL EM BOAS PRÁTICAS DE MANEJO E

BIOSSEGURANÇA PARA MICRO E PEQUENOS PRODUTORES DE

CAMARÃO DO MÉDIO E BAIXO JAGUARIBE, ESTADO DO CEARÁ prevê a

partir de Abril/2017, a realização de cursos específicos, que priorizarão os

aspectos práticos da transferência de conhecimentos com a realização de

análises de água e solo e análises presuntivas do camarão, bem como, todo o

funcionamento e protocolo de um Sistema de Cultivo Intensivo de Camarão

Marinho, como parte da capacitação, e que capacitará, principalmente os micro

e pequenos produtores, nas práticas de manejo tecnológico e seguro da

produção de camarão cultivado.

Para assegurar a disseminação das BPMs com Biossegurança e

desenvolver a habilidade dos beneficiários para o seu uso eficaz, o presente

Programa prevê a realização de 04 (Quatro) Cursos com ênfase nos principais

e mais práticos aspectos de Biossegurança e das Boas Práticas de Manejo,

como instrumentos de nivelamento e conscientização, prioritariamente, para

micro e pequenos produtores de camarão do Estado do Ceará, bem como,


funcionários e técnicos de fazendas, bem como, pessoal qualificado que se

proponha a transferir esses conhecimentos para outros produtores.

Os Cursos Propostos no contexto do presente Programa são:

• Curso 1 – “Berçários Intensivos, Raceways e Crescimento Compensatório -

Aumentando o Número de Ciclos de Cultivo por Ano”;

• Curso 2 – “Técnicas de Manejo e Qualidade da Água com Ênfase no seu

Balanço Iônico”;

• Curso 3 – “Probióticos: O que são? Para que servem? Quando e como

utilizá-los? Qual seu papel na Dinâmica Físico-Química e Microbiológica de

Viveiros de Cultivo de L. vannamei”;

• Curso 4 – “Análises a Fresco: O que são? Qual a Metodologia? O quê

observar e como interpretar? Qual sua Importância para a Prevenção e

Controle de Enfermidades no cultivo do L. vannamei”.

A capacitação será levada a efeito nas principais regiões produtoras de

camarão marinho do Ceará, com o objetivo prioritário de transmitir não apenas

os conhecimentos e habilidades para o uso eficiente das BPMs associadas às

medidas de Biossegurança, mas, também, para desenvolver a reflexão e

conscientização dos produtores sobre sua importância, de tal maneira que,

conscientemente, assumam o compromisso de adotá-las regularmente e

disseminá-las para outros produtores, tendo presente, a segurança de seus

próprios empreendimentos, bem como, da produção local, regional e nacional.


A capacitação prevista no presente Programa levou em consideração o

parâmetro de 60 participantes por evento, de forma que a realização de 04

cursos contemplados pelo Convênio (ABCC/MAPA) cobrirá a participação

de 240 atendentes, distribuídos em todo estado do Ceará, sendo concentrados

em locais de maior densidade de fazendas de camarão e, de acordo com a

dimensão de cada um dos segmentos da cadeia produtiva da carcinicultura.

Na certeza de que, em colaboração e perfeita harmonia com sua afiliada

estadual (ACCC), contando com o importante apoio financeiro do MAPA, a

ABCC estará dando uma grande contribuição para a promoção sustentável do

desenvolvimento da Carcinicultura Cearense, pelo que vimos, conclamar o

apoio de toda a cadeia produtiva dessa estratégica atividade, destacando que

na atualidade, o cultivo de camarão, se constitui a ferramenta mais importante

para a geração de emprego e renda no meio rural da Região Nordeste, com

promoção da verdadeira inclusão social e, estabelecimento de uma nova

ordem econômica nessa carente Região, tendo como base, majoritária, a

participação do micro e pequeno produtor, que já representam 75% do total de

carcinicultores do Brasil.

Atenciosamente,

Itamar de Paiva Rocha

Engº de Pesca, CREA 7226-D/PE

Presidente da ABCC
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................... 3
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 8
1. Anamnese .......................................................................................... 12
2. Exame Clínico.................................................................................... 13
2.1 Método de exame clínico ............................................................. 21
3. Microscopia Direta ............................................................................. 22
3.1 Métodos de microscopia .............................................................. 24
4. Análise a Fresco ................................................................................. 29
4.1 Desenvolvimento da técnica ............................................................ 37
4.1.1 Brânquias .................................................................................. 38
4.1.2 Hepatopâncreas ......................................................................... 41
4.1.3 Intestino .................................................................................... 47
4.1.4 Músculo e Gônadas ................................................................... 50
4.1.5 Antenas ..................................................................................... 51
4.1.6 Urópodos ................................................................................... 52
INTRODUÇÃO

A Análise a Fresco é a técnica empregada para monitorar o estado


de saúde dos organismos durante a realização de diagnósticos
presuntivos realizado no laboratório ou em campo. Consiste na
dissecação do camarão em todos os estágios de desenvolvimento,
objetivando observar as principais alterações e patógenos
presentes nos órgãos e tecidos.

O diagnóstico presuntivo a fresco pode ser realizado a partir de


amostras observadas ao microscópio óptico, em que se podem
analisar as brânquias, apêndices orais, animais completos, como
larvas e pós-larvas. Fragmentos de tecidos são muito úteis para
demonstração de enfermidades.

Como prática rotineira, deve ser buscado o diagnóstico da doença


que atinge o cultivo, realizado a partir de diversos parâmetros:

- Aparência física

- Resposta comportamental

- Variáveis de produção (conversão; produção/ha/ano)

- Características populacionais do estoque criado

- Qualidade dos parâmetros ambientais ao longo da criação

A taxa de sobrevivência, o peso corporal e a taxa de crescimentos


são os índices mais sensíveis a alterações adversas na condição de
saúde da população criada em cativeiro.

Uma estratégia importante, e que sempre deve ser utilizada para


avaliar o estado de saúde dos animais, é a análise presuntiva,
protocolo aceito mundialmente, capaz de identificar modificações
anatômicas dos camarões, as quais podem ser relacionadas a
enfermidades.

Em seguida, exames confirmatórios e escolha do melhor fármaco


através de antibiograma e da concentração mínima inibitória (MIC),
sempre tendo o cuidado de ministrar produtos quando sua possível
eficácia seja comprovada.

O cuidado é imprescindível, pois os antibióticos podem permanecer


nos ambientes de criação, na água e nos vegetais por mais de duas
semanas e ser encontrados em organismos que consumiram restos
de alimentos com resíduos desses antibióticos.

O uso de antibióticos na criação animal, quando usado de forma


inadequada, pode causar o surgimento de cepas resistentes,
levando ao aumento na mortalidade.

A disseminação e a presença de resíduos de antibióticos no


camarão e no ambiente, quando despejados na água, podem
provocar a mortalidade de diversos organismos, mudando a
composição e a diversidade das comunidades locais.

Equilíbrio ecológico, qualidade de vida e bem-estar animal são


fatores prioritários na produção animal, por isso fornecer alimentos
que não levem contaminantes ao ambiente, aos produtores e aos
consumidores é urgente como detalhado na Instrução Normativa
46/2011 (MAPA, 2011).

Com base nas principais técnicas utilizadas na atualidade para


determinar enfermidades em camarões, a seguir serão
apresentados os passos básicos e métodos que servem como
ferramentas para realizar diagnósticos e detectar agentes
etiológicos nesses crustáceos de grande importância comercial para
a economia mundial.

Embora alguns desses procedimentos possam ser realizados pelos


próprios produtores nos laboratórios de larvicultura ou nas
fazendas, recomenda-se que sejam feitos por profissionais com
conhecimentos em sanidade aquícola.

Devemos lembrar que o diagnóstico não consiste em um teste de


laboratório como tal, e sim na interpretação que faz o especialista
com base em seus conhecimentos e na informação coletada dos
testes feitos em campo e no laboratório.
Passos para o Diagnóstico

 Anamnese (informação histórica do caso, dados relacionados


com o evento)
 Exame clínico
 Microscopia
 Análise a fresco
 Bacteriologia (de tecidos de camarões ou de substratos
relacionados como água, sedimento e outros organismos
aquáticos)
 Histologia de espécimes fixados
 Testes baseados em anticorpos para a detecção de
patógenos utilizando anticorpos policlonais ou monoclonais
 Métodos moleculares
 Parâmetros imunológicos (hemogramas e medição de perfis
imunes)
 Microscopia eletrônica de varredura ou de transmissão
 Bioensaios com portadores suspeitos, utilizando hospedeiros
altamente suscetíveis como indicadores da presença de
patógenos

Esta apostila abordará os 4 primeiros temas da lista acima, até


análise a fresco, assunto foco deste curso.
1. Anamnese

Na medida do possível, o técnico responsável de realizar o


diagnóstico de uma enfermidade numa população de camarão,
deve incluir uma visita à instalação afetada (maturação,
larvicultura ou fazenda de engorda)

Durante a visita, o técnico deve reunir a informação histórica


prévia à aparição do surto da enfermidade. Isso pode incluir
mudanças nos parâmetros ambientais ou físico-químicos,
trânsito não usual de pessoas ou equipamentos pelas
instalações, presença de animais forasteiros ao sistema como
cachorros, aves, roedores ou vacas, alterações no regime e
tipo/qualidade do alimento ministrado, mudanças nos
procedimentos ou tipos de fertilizantes, uso de produtos químicos
ou biológicos no cultivo afetado, existência de surtos similares
anteriormente na empresa ou em outras próximas além de toda a
informação passada ou presente relacionada direta ou
indiretamente com a população em questão.

Deve ser obtido um registro desta informação adquirida na


empresa para estudos de correlação com os achados obtidos
nos exames clínicos e nos testes de laboratório complementares
que serão feitos após a visita ao campo.
2. Exame Clínico

Quando se trata de um surto de uma enfermidade, durante a


visita às instalações devem ser avaliadas as unidades de
produção (tanques e viveiros) que apresentam problemas.

Devem ser realizadas coletas de camarões in situ e feita uma


revisão individual dos animais, de forma a se ter uma ideia
aproximada da proporção do problema: quantidade da população
afetada (em %), grau de severidade das infecções observadas
nos organismos enfermos e que tipo de enfermidade pode estar
causando o surto.

O exame clínico deve incluir uma análise manual e visual muito


cuidados dos camarões que serão revisados, os quais não
devem ser coletados ao acaso, e sim selecionados por
apresentar alguma manifestação de enfermidade. Com base nos
achados nessa avaliação clínica, é possível em alguns casos
fazer um diagnóstico presuntivo, no qual se deve certificar com
provas complementares em laboratório.

O número de animais que se deve coletar para realizar um


estudo sobre a etiologia de enfermidades será em função da
habilidade de se reconhecer camarões enfermos em exames
gerais, a natureza do problema presente e pela experiência do
profissional especialista. Quando se escolhe camarões que
apresentam sinais clínicos, 5 a 10 indivíduos da população
analisados individualmente já serão suficientes.

A captura de camarões para se realizar um exame que busca


determinar a presença de enfermidades deve realizar-se
buscando o mínimo de estresse durante a manipulação dos
animais.

O exame clínico deve ser realizado em um lugar diferente ao da


captura dos animais e os camarões devem ser transportados
para outro local. Esse transporte deve ser feito em recipientes
com água do mesmo tanque ou viveiro em que o camarão foi
coletado. A água deve estar limpa (sem odor ou lodo nem restos
de vegetação), com adequada aeração e tendo uma densidade
baixa (para evitar o estresse dos animais). Caso os camarões
permaneçam um período de tempo no recipiente antes de serem
examinados, deve-se ter boa aeração e, dentro do possível, se
deve baixar a temperatura a 15-27 ºC mediante a adição de
sacos com gelo (fechados).

Em estudos de camarões presumidamente enfermos, deve-se


selecionar animais moribundos, descoloridos, com
comportamento anormal ou que apresentem outras formas
anormalidades macroscópicas com as quais se suspeite de uma
enfermidade. As principais observações que devem ser
realizadas nos camarões enfermos durante uma avaliação clínica
são as seguintes:

 Cor do animal
 Tamanho do corpo comparado com o resto da população
(nanismo)
 Expansão de cromatóforos
 Deformidades no rostro, abdômen e apêndices
 Flexão do músculo abdominal
 Cor das brânquias (amarelas, marrom ou pretas)
 Cor dos apêndices (pereiópodos, pleópodos, e urópodos)
 Cor das antenas
 Edema (presença anormal de líquido) em apêndices ou
em outras partes do corpo
 Transparência dos músculos do abdômen e do cefalotórax
 Repleção intestinal (porcentagem do intestino que se
encontra cheio)
 Textura do exoesqueleto (duro ou mole)
 Tono do músculo abdominal (firme ou flácido)
 Presença de muco sobre a cutícula (escorregadio ou
áspero ao toque)
 Manchas, lacerações, feridas, zonas escuras ou opacas,
gravetos cravados
 Cor do esôfago e estômago (alaranjado sugere
canibalismo ou mortalidade)
Morfologia Externa do Camarão
Morfologia Interna do Camarão

Representação esquemática do sistema digestório dos camarões


Peneídeos
Representação esquemática do estômago dos camarões
Peneídeos

Representação esquemática do intestino dos camarões Peneídeos


Representação esquemática do hepatopâncreas dos camarões
Peneídeos

Representação esquemática das brânquias dos camarões


Peneídeos
Representação esquemática do sistema circulatório dos camarões
Peneídeos

Quanto às manifestações de enfermidades em condições naturais


nos tanques ou viveiros, as seguintes são observadas em camarões
enfermos frequentemente:

 Nado errático
 Letargia e debilidade
 Perda de reflexo no nado (permitem serem capturados
sem exercer resistência)
 Vulnerabilidade a predadores (aves)
 Nado superficial
 Suscetibilidade à hipoxia
 Diminuição na alimentação

Quando se realizam amostras aleatórias intencionais para estimar a


prevalência de alguma enfermidade em uma população, os
camarões devem ser coletados ao acaso (não escolhidos). O
tamanho a amostra para estudos de enfermidades em camarões
será discutido mais adiante.
2.1 Método de exame clínico

Captura de camarões em um tanque de cultivo mediante o uso de


tarrafa para serem submetidos á exames

Amostra de camarões saudáveis, enfermos e mortos observados


num recipiente de fundo branco, depois de sua captura num viveiro
de engorda. Observa-se a ocorrência de alguns camarões mortos
sem apêndices devido à ocorrência de canibalismo.
Camarões L. vannamei sendo observados logo após terem sido
coletados em um viveiro de engorda durante um procedimento de
exame clínico. Neste caso, nos cinco camarões não se observa a
ocorrência de manifestações clínicas de enfermidade.

3. Microscopia Direta

Esta técnica é baseada na observação, em microscópio, de tecidos


ou partes de camarões afetados, com o objetivo de estabelecer na
medida do possível, um diagnóstico presuntivo. As partes
comumente mais analisadas em microscópio são: hepatopâncreas,
brânquias, conteúdo intestinal, músculo esquelético e conteúdo
gástrico.

Para uma avaliação sanitária com microscopia direta, deve-se


examinar as amostras o mais rápido possível depois da
amostragem e da preparação da montagem em uma lâmina.
Sempre que possível deve-se utilizar organismos vivos ou então
usar mortos, porém frescos que foram mantidos no frio (refrigerados
ou em gelo), ou espécimes fixados em formalina 10 % tamponada,
quando não seja possível trabalhar com camarões vivos. Se existir
um laboratório de campo adequado, deve-se usá-lo para processar
e examinar as amostras o mais próximo possível do local onde foi
feita a amostragem.

Uma aplicação importante do método de microscopia é o exame do


conteúdo gástrico em camarões. Para tal, devem ser sacrificados
ao menos 10 animais coletados ao acaso em uma população
determinada (tanque ou viveiro de engorda). Extrai-se
cuidadosamente o estômago logo após a realização da dissecção
do animal utilizando tesouras e pinças pequenas.

Deve ser realizada uma incisão pela linha média com as tesouras e
extraído o equivalente a uma gota de conteúdo gástrico. Em
seguida posicionar esse material retirado em cima de uma lâmina e
adicionar uma gota de solução salina. A seguir coloca-se outra
lâmina por cima da amostra e faz-se pressão com a pinça
cuidadosamente, com o objetivo de se separar o conteúdo gástrico.

Deve-se observar a amostra em microscópio utilizando lentes


objetivas de 4 X e 10 X, registrando a proporção estimada de
alimento artificial (pelets), microalgas, zooplancton, sedimentos e
outros componentes.

Em seguida faz-se uma estimativa média de porcentagem entre os


10 camarões para cada um dos itens observados, para se obter os
valores para a população em questão. Este método permite se
conhecer fatores que estejam afetando o crescimento, assim como
realizar correções na dieta dos animais.

3.1 Métodos de microscopia

(Montagens a fresco)

Camarões L. vannamei durante exame clínico. Nota-se a presença


de uma zona escura na parte média do cefalotórax e superior as
brânquias. A opacidade generalizada do músculo abdominal pode
ocorrer devido ao tempo que esses animais estiveram fora da água
(estresse por hipoxia). Não se observa manifestações adicionais de
enfermidades.
Camarão juvenil de L. vannamei, onde está se levantando a cutícula
posterior do cefalotórax para se extrair amostras do
hepatopâncreas, de brânquias e fezes do intestino médio, a partir
das quais se vai preparar uma montagem a fresco.

Preparação de uma montagem a fresco de um camarão L.


vannamei onde foi colocado na lâmina amostras de hepatopâncreas
(esquerda) e brânquias (centro). As fezes estão sendo extraídas do
intestino médio com o auxílio da ponta de uma tesoura.
Amostra de hepatopâncreas de um camarão juvenil de L. vannamei
preparada mediante uma montagem a fresco. Se observa grande
quantidade de vacúolos lipídicos (reservas de gordura) de coloração
amarelada e cinza com tamanhos variados (todas normais). No
centro há um processo de melanização (cor marrom) de um tubo do
hepatopâncreas, o qual está rodeado por várias capas de
hemócitos e apresenta um formato alargado sendo mais largo para
a esquerda. Amplificação 100 X.
Amostra de brânquias de um juvenil de L. vannamei preparada
mediante uma montagem a fresco. Observam-se duas lamelas
branquiais bifurcadas em seu extremo (superior), as quais
apresentam melanização de origem tóxica. Amplificação 100 X.

Montagem a fresco preparada a partir de uma amostra de fezes de


um camarão juvenil de L. vannamei. Se observam dois trofozoitos
de gregarina Nematopsis sp., um deles com o extremo posterior
bifurcado. Estes protozoários estão formados por 3 células (acima)
e por duas células (centro), respectivamente. Se pode diferenciar a
célula anterior (protomerito) e a célula posterior (deutomerito).
Amplificação 200X.

Montagem a fresco preparada a partir de fezes de uma pós larva,


na qual se observam trofozoitos de gregarina Paraophioidina sp.
(provavelmente P. scolecoides). Cada trofozoito está composto por
uma única célula com o núcleo visível. Este parasita possui a
particularidade de formar grupos nos quais vários organismos se
aderem a um. Amplificação 100X.
4. Análise a Fresco

Introdução

O diagnóstico implica no entendimento da causa e, se possível,


também no conhecimento dos fatores contribuintes que influenciam
a aparição da uma determinada enfermidade.

Com a realização do diagnóstico, aumenta-se a probabilidade de


um controle efetivo quando a causa exata do problema é
determinada e relacionada com seus fatores contribuintes. Porém
devemos aceitar que o conhecimento de sanidade e enfermidade
varia em diferentes animais aquáticos, incluindo os camarões, além
do fato de que nos laboratórios de larvicultura e nas fazendas de
engorda sempre surgem novos tipos de enfermidades. Portanto, em
uma situação particular, a precisão esperada e a qualidade de um
diagnóstico podem ser diretamente afetadas pelo conhecimento
disponível a respeito das enfermidades dos camarões, pelo
treinamento e experiência da pessoa encarregada de realizar o
diagnóstico, assim como pelas práticas de manejo adotadas no
sistema de cultivo.

Um dos objetivos principais do diagnóstico de uma enfermidade é a


determinação da causa (etiologia). A identificação dos agentes
etiológicos da enfermidade se realiza (ou deveria se realizar)
mediante a aplicação de métodos científicos de investigação. A
observação da amostra de órgãos e tecidos dos camarões (para
buscar bactérias, fungos, protozoários, metazoários e vírus) através
de microscopia de luz e histopatologia (resposta do hospedeiro-
patologia), são métodos comumente empregados para estabelecer
os agentes etiológicos, os quais levam a se determinar a causa das
enfermidades nos camarões.

Os agentes patógenos se encontram no ambiente de forma natural


e o meio aquático não é uma exceção. Muitos deles são
oportunistas, enquanto os camarões se encontrarem sãos e as
condições dos parâmetros de cultivo não alteradas, os patógenos
não atacarão. Esse é um dado muito importante, pois a ocorrência
de patógenos em uma fazenda ou laboratório não significa
precisamente que os organismos se encontrem enfermos. A
gravidade do problema dependerá:

- Do nível de incidência

- Do nível de prevalência

- Do tipo de patógeno

- De sua virulência

- De sua patogenicidade

- Da espécie cultivada

- Da genética da espécie (ciclo fechado ou espécie silvestre)

- Do nível de estresse dos camarões no momento de exposição ao


patógeno

O estresse é determinado pela qualidade da água, tipo de


alimentação, variação drástica nos parâmetros como oxigênio
dissolvido, temperatura, salinidade, pH, etc., assim como pelas
práticas de manejo. O cenário se complica com o transporte dos
organismos vivos, que é realizado frequentemente entre os estados
e até entre países. Isso tem propiciado a introdução e propagação
de agentes patogênicos exóticos em lugares onde eles não
existiam. Em alguns casos esses agentes patogênicos se propagam
nas populações de animais silvestres.

Análise a Fresco

A análise a fresco é a técnica que se utiliza para monitorar o estado


de saúde dos organismos e realizar diagnósticos presuntivos em
laboratório e campo. Consiste na dissecção do camarão em todos
os seus estágios para se observar possíveis alterações ou
patógenos presentes em seus órgãos e tecidos. A capacitação para
este tipo de análise consiste em um curto treinamento básico que
profissionais (biólogos, engenheiros de aquicultura e pesca,
médicos veterinários e etc.) podem receber na fazenda ou
laboratório.

Para se realizar o diagnóstico do estado de saúde de uma


população se requere a seleção e tomada adequada da amostra, a
qual é eleita de acordo com o estado de saúde dos organismos ou a
suspeita de alguma enfermidade. A intensidade da amostragem
(número de amostras no tempo até a despesca) dependerá da
necessidade da informação, do histórico da fazenda, da origem dos
organismos e da densidade cultivo. Portanto, para uma boa
seleção, deve-se ter em conta o seguinte:

Amostragem aleatória: somente quando se quer determinar o


estado de saúde ou para buscar a prevalência de patógenos, se
escolhe os tanques e animais ao acaso, coletando os animais de
pelo menos 4 áreas diferente do tanque.

A amostragem deve garantir no mínimo 95 % de confiança da


ocorrência de uma infecção. Para a determinação da prevalência, a
amostragem dependerá da prevalência estimada do patógeno e do
nível de confiança eleito (Tabela 1). Os camarões selecionados
devem ser colocados em recipientes com aeração de forma a
garantir o mínimo de estresse possível e o transporte até o
laboratório para posterior análise deve ser feito o mais rápido
possível.

Amostragem não aleatória: amostragem que contém somente


organismos enfermos. Este tipo de amostragem é realizada quando
se tem a suspeita da presença no viveiro ou tanque, de alguma
enfermidade ou síndrome. Devem ser selecionados no mínimo 10
organismos que apresentem sinais clínicos tais como:

- Descoloração

- Melanização

- Necrose na cutícula

- Anorexia (falta de apetite)

- Letargia (redução da atividade normal)

- Coloração avermelhada dos pleópodos e telson

Os organismos com essas características geralmente se encontram


na comporta de drenagem dos tanques.

As amostras devem ser processadas imediatamente, de acordo


com o procedimento ou procedimentos que foram eleitos para a
detecção do agente causal da enfermidade. Os organismos devem
ser enviados vivos ao laboratório de diagnóstico.

Viveiro de cultivo de camarão onde se observa as quatro áreas


diferentes para a coleta de organismos em uma amostragem ao
acaso.
Viveiro de cultivo de camarão onde se observa a comporta de
drenagem para a coleta de organismos numa amostragem não
aleatória.

Tabela 1 – Seleção do tamanho da amostragem e cálculo de


porcentagem de prevalência de um patógeno numa determinada
população.

*Prevalência = número de indivíduos de uma espécie de hospedeiro


infectada com uma espécie particular de parasito / número de
hospedeiros examinados.
Para a realização da análise a fresco é requerido contar com um
espaço limpo onde se tenha os seguintes materiais:

- Microscópio composto com objetivas de 4, 20, 40, 60, e 100 X

- Lâminas

- Lamínulas

- Bisturi

- Facas de dissecção

- Tesouras finas de dissecção

- Pinças de dissecção

- Tabua de dissecção

- Caixas de Petri

- Pipetas

- Luvas

- Água do mar estéril ou filtrada

- Resina

- Seringas descartáveis de várias medidas (1, 3 e 5 ml)

- Hematoxilina

- Eosina Y

- Solução de Davidson (AFA, Álcool-Formaldeído-Ácido acético)

- Solução de Davidson modificada (AFA, Álcool-Formaldeído-Ácido


clorídrico)
- Etanol absoluto

- Etanol 70 %

- Xileno

- Recipiente para amostras

- Folha de relatório

- Manuais
4.1 Desenvolvimento da técnica

Os organismos são medidos e pesados para se obter o peso e


tamanho médios.

 Analisa-se tanto a superfície do organismo para detectar


deformações no rostro e no sexto segmento abdominal,
como cutícula delgada (ou suave), epicomensais,
descoloração, coloração avermelhada, melanização,
ampolas e necroses de cutícula, pleópodos, pereiópodos e
antenas.
 Seleciona-se uma pequena porção de cada tecido e órgão.
Coloca-se individualmente a porção sobre a lâmina limpa
(não misturar porções), adicionam-se gotas de água do mar
estéril e em seguida coloca-se a lamínula. Deve-se ter
cuidado para que na amostra não se forme bolhas que
possam interferir, para isso deve ser realizada um leve
pressão sobre a lamínula com a pinça de dissecção.

Lâminas e lamínulas.
As amostras que se retiram do camarão são:

4.1.1 Brânquias

Com as tesouras finas se elimina o exoesqueleto que cobre as


brânquias. Retira-se uma pequena porção e a coloca sobre a
lâmina para buscar: mudanças na coloração dos filamentos
branquiais (como melanização, necroses, áreas esbranquiçadas
bem definidas), presença de protozoários (Zoothamnium sp,
Epistylis sp, Acineta, Asophris, Bodo sp), bactérias filamentosas
(Leucothrix mucor e Flexibacter sp), detritos do fundo do viveiro,
restos de microalga, fungos, bactérias, melanizações e
deformidades. Para detectar corpos de inclusão viral nas brânquias
por marcas é necessário fixá-las em Solução de Davidson
modificada (AFA, Álcool-Formaldeído-Ácido clorídrico) se forem ser
processadas rapidamente. Se não for esse o caso, podem ser
fixadas em Solução de Davidson (AFA, Álcool-Formaldeído-Ácido
acético), utilizada para fixar organismos para histologia.
Preparação de lâmina para avaliação de brânquias
Amostra de brânquias onde se pode observar as formas bem
definidas de Zoothamnium sp.
Avaliação de brânquias a luz de microscópio

4.1.2 Hepatopâncreas

Deve se eliminar todo o exoesqueleto do cefalotórax para descobrir


o hepatopâncreas e o estômago. Observa-se a coloração, o
tamanho do hepatopâncreas para decidir se há atrofia (redução do
tamanho) ou hipertrofia (aumento do tamanho) do órgão. Com
pinças, retira-se a membrana que cobre o hepatopâncreas e com
um bisturi deve ser partido pela metade para observar a coloração
do fluido, textura, melanização e necrose tubular. Toma-se uma
pequena amostra e a coloca numa lâmina para buscar: Baculovirus
penaei, Monodon baculovirus, gragarinas (trofozoitos e sigicias),
bactérias, deformação tubular, nódulos hemocíticos, melanização e
necroses nos túbulos.

Também deve ser observada a quantidade de lipídeos presentes,


desprendimento de células do epitélio e dos túbulos do
hepatopâncreas e acumulação dentro de vacúolos citoplasmáticos
dos hepatócitos de uma substância de cor verde escuro (bolhas
negras). Para a realização de um perfil histológico, é necessário
fixar os órgãos e/ou tecidos do organismo selecionado no fixador
adequado para o diagnóstico eleito.
Preparação de lâmina para avaliação do hepatopâncreas

Hepatopâncreas com túbulos normais


Túbulos hepatopancreáticos apresentando necrose severa por
vibriose
Túbulos hepatopancreáticos apresentando necrose severa por NHP
e vibriose (VB)
Camarão com hepatopâncreas exposto para a coleta de uma
pequena porção para análise.

Amostra a fresco de hepatopâncreas com melanização e necrose


das células e dos túbulos.
4.1.3 Intestino

O abdômen se separa do cefalotórax, do telson e dos urópodos


para facilitar a extração do intestino. Pela parte posterior se localiza
o intestino (que pode ou não conter material fecal). Com a ajuda de
uma pinça fina, extrai-se com cuidado e coloca-se sobre a lâmina,
estendendo-o. A seguir se aplica algumas gotas de água do mar e
se pressiona ligeiramente ao colocar a lamínula. Ao observar a
amostra no microscópio, deve-se buscar: gregarinas em seus
diferentes estágios, distribuição e porcentagem de aderência no
intestino, inflamação, nemátodos, corpos de oclusão de Baculovirus
penaei e Monodon baculovirus.
Preparação de lâminas para avaliação do intestino

Amostra a fresco de um intestino de camarão.

Amostra a fresco de intestino médio onde se observa gregarinas de


2, 3, e 4 divisões aderidas ao epitélio e ao lúmen do intestino.
4.1.4 Músculo e Gônadas

Coleta-se uma pequena amostra de músculo e das gônadas


(especialmente aquele tecido que mostre opacidade do tipo leitosa).
Coloca-se em uma lâmina e se pressiona para facilitar a busca de
microsporídeos. Se esses órgãos e tecidos forem parasitados deve-
se observar massas de esporos de tamanho e forma uniformes.

Amostra a fresco de músculo onde se observam as cápsulas de


Ameson nelsoni

As mostras já preparada devem ser analisadas em microscópio,


iniciando com a objetiva de menor aumento e finalizando com a de
maior. Devido à sua rápida decomposição, a primeira amostra que
deve ser analisada é a do hepatopâncreas. Depois se analisa a
amostra de brânquias. Posterior às brânquias se analisa o intestino
e por último a amostra dos músculos e gônadas. Na folha de
relatório deve ser anotado tudo o que se observa com cada
objetiva. Após isso deve ser calculada a porcentagem de
prevalência e determinado o grau de severidade que apresentam os
organismos da amostra analisada. Finaliza-se com o diagnóstico e
com o relatório final.

4.1.5 Antenas

Deve-se observar a coloração, rugosidade e se elas estão


quebradiças.

Diferença entre uma antena vermelha, o que indica que o animal


está estressado, e uma antena de coloração normal.
4.1.6 Urópodos

Deve-se observar edemas, coloração e lesões.


Diferença entre um urópodo de um camarão estressado
(avermelhado) e um camarão saudável.
Tabela 2 – Formato de relatório para a análise a fresco.

Nº _________________________ Data __________________________________________________


Procedência _________________________________________________________________________
Espécie _____________________________________________________________________________
Tanque Nº___________ Tamanho da amostra _____________________________________________
Nº de mortos _________ Nº de examinados ______________________________________________
Estágio de vida __________ Peso padrão ___________ Tamanho padrão _______________________

CARACTERÍSTICAS EXTERNAS OBSERVAÇÕES CARACTERÍSTICAS OBSERVAÇÕES


INTERNAS
Atividade dos camarões HEPATOPÂNCREAS
Conteúdo do intestino Atrofia
Presença de fezes em forma de
Coloração
cadeia o descontinua
Presença de epibiontes, Presencia dos vírus: BP y
bactérias e fungos no camarão MBV
Deformidades no rostro,
antenas, abdômen, telson, Deformação dos túbulos
urópodos e pleópodos
Apêndices danificados Coloração do fluido
Melanização (coloração café Presença de gregarinas
claro) em todos os estágios
Coloração anormal Túbulos melanizados
Presença de massa de
Características da cutícula
bactérias e quantidade de
lipídeos
BRÂNQUIAS INTESTINO
Coloração Presença de gregarinas
em todos os estágios
Presença de epibiontes Massas melanizadas de
hemócitos
Nódulos de bactérias nas Corpos de oclusão de BP
lamelas branquiais
Micoses (hifas, conídios) MÚSCULO
Corpos de inclusão de WSSV Textura
Matéria orgânica Coloração
Presença de melanização e
Microsporídios
necrose
Tabela 3 – Guia geral para a determinação de um valor numérico
qualitativo do grau de severidade da infecção, infestação e
síndrome.
Tabela 4 – Guia para determinar um valor numérico qualitativo do
grau de severidade da deformação tubular no hepatopâncreas com
análises a fresco.
Tabela 5 – Guia para determinar um valor numérico qualitativo do
grau de severidade da infestação por gregarinas utilizando análises
a fresco.
Tabela 6 – Guia para determinar um valor numérico qualitativo do
grau de severidade da infestação por epicomensais em lamelas
branquiais.
Amostras de camarão para a realização de análises a fresco.
O FUTURO DA CARCINICULTURA

Um novo paradigma está surgindo no cenário da


carcinicultura mundial. Lugares onde outrora era
inimaginável cultivar camarão, como na Letônia, país
báltico onde as temperaturas chegam a 30 graus negativos,
hoje surpreendem com cultivos sustentáveis de alta
produtividade.

"Indoor Shrimp Production System - ISPS" é a


nomenclatura que vem sendo utilizada para classificar este
novo sistema de cultivo. Em português significa algo como
"Cultivo de Camarão em Ambientes Fechados". Para
facilitar a incorporação do conceito aqui no Brasil, será
adotado o termo "Carcinicultura Indoor - CI".

A ideia de que é inescusável dispor de grandes áreas


e altas temperaturas para praticar a carcinicultura pode se
tornar coisa do passado. Em 2015 já observamos a
ocorrência, em diversos (e adversos) locais do mundo, de
cultivos super intensivos em ambientes fechados, desde
países mais ricos como o Japão, Espanha e Estados
Unidos até nações menos favorecidas como África do Sul,
México e Mongólia.
No Brasil esses cultivos vêm surgindo discretamente.
Ainda existem desafios a serem superados para que esta
prática se torne habitual por aqui. O descaso do governo
com a real potência da aquicultura nacional, a carência de
investimentos eficientes em ciência e tecnologia e a
resistência por parte dos produtores em adotar métodos
inovativos são algumas das barreiras para o processo de
intensificação sustentável dos sistemas de carcinicultura no
país.

A ciência por trás do atual sucesso da Carcinicultura


Indoor se dá principalmente devido aos avanços em três
linhas de pesquisa: Sistema de Recirculação de Água,
Sistema de Cultivo Mixotrófico e Cultivo Livre de Patógenos
Específicos. A conjunção prática desses novos saberes
culmina em uma nova forma de pensar a carcinicultura.

O aprimoramento das técnicas de recirculação


contribui para a diminuição significativa do volume de água
necessário para abastecer e manter o cultivo, além de
promover a recirculação dos nutrientes. O cultivo
mixotrófico aumenta a disponibilidade de alimento natural,
reduzindo as taxas de conversão alimentar e aumentando a
estabilidade do sistema. Um cultivo livre de patógenos
específicos promove a redução do risco de enfermidades, o
que incrementa os níveis de sobrevivência.

A Carcinicultura Indoor maximiza a produção num


contexto limitado de terra e água; possibilita o completo
controle das variáveis físicas, químicas e biológicas do
ambiente de cultivo; independe das condições climáticas
naturais da região; possui relativa facilidade na obtenção
de licenças ambientais, pois o impacto ambiental é baixo
ou nulo; oportuniza o cultivo integrado com salicornia
(planta tolerante à água salgada, considerada o sal do
futuro); viabiliza o cultivo em regiões afastadas da costa,
podendo ser implantado próximo a grandes mercados
consumidores. Em suma, a principal vantagem é o fato de
não ser necessário muita água nem grandes áreas para
produzir em uma escala comercial considerável. As
maiores dificuldades desse sistema são a necessidade de
trabalhadores capacitados e treinados para administrar
este tipo de cultivo e o custo relativamente alto de
implantação.

Atualmente cerca de 90% do camarão consumido no


Japão é importado. Especialistas apontam que, num futuro
próximo, todo o camarão consumido no país poderá ser
advindo da CI. Devemos começar também a repensar a
carcinicultura no nosso país. A Carcinicultura Indoor
representa uma ameaça ao cultivo convencional? Ambos
existirão em consonância? Ainda não temos essas
respostas, no entanto podemos presumir que haverá uma
reestruturação da indústria e do mercado do camarão no
Brasil e no mundo decorrente da (r)evolução tecnológica
desse setor. Um novo paradigma está surgindo no cenário
da carcinicultura mundial e ainda nem todos o perceberam.

Fazenda de cultivo intensivo indoor em Las Vegas, Estados Unidos.


Esquema feito em Sketchup de um cultivo indoor intensivo de
camarão.

Esquema de um modelo de cultivo indoor de camarão.

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