1 - Sermão Introdutório 1 João

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 8

Texto: 1 Jo 1.

1-4
Nós estamos iniciando o mês de outubro do ano de 2020, ano que vai
ficar na história mundial como aquele que presenciou a pandemia de
Coronavirus.

Neste exato momento, vários laboratórios estão em busca de uma


vacina para imunizar as pessoas e a vida poder voltar ao normal. Muitos
estudos, pesquisas e principalmente testes têm sido feito para se chegar a uma
imunização eficaz. De tudo que temos ouvido, o que fica claro é que o caminho
é difícil e os testes são demorados e rigorosos!

E não é por menos! Imaginem se um determinado laboratório realiza as


suas pesquisas e seus testes sem o devido rigor, e então espalham a notícia que
possuem uma vacina eficaz, e começam a vacinar as pessoas. O que vocês
acham que podem acontecer? Dentre várias tragédias que podem acontecer,
uma delas é uma falsa imunização, onde as pessoas pensam que estão seguras,
mas não estão! Elas ainda estão vulneráveis ao vírus, mesmo após vacinadas. E
isso porque a vacina não foi devidamente testada.

Irmãos, eu afirmo a vocês que ocorre algo muito semelhante na vida


cristã! Muitas pessoas estão pensando que estão “imunizadas” da condenação
eterna, mas por causa de não testarem a sua vida conforme as Escrituras, essa
imunização é falsa! Elas ainda estão totalmente vulneráveis ao juízo de Deus!

Agora, no caso de ser encontrada uma vacina realmente eficaz, pode


acontecer o inverso: A pessoa já está imunizada, mas ela tem a impressão que
algo ainda está errado! É como se alguém, após ser imunizado pela vacina
contra o Coronavirus, começasse a tomar todo dia um comprimido da
hidroxicloroquina! Ela não confia totalmente na vacina que ela tomou!

E isso também acontece na vida cristã!

1
Pessoas que realmente crêem em Cristo, buscam obedecê-lo, não estão
mais debaixo da ira de Deus, mas são frágeis diante de heresias! Se alguém
disser a ela que, além da fé, ela precisa de outras coisas a mais, ela já começa a
ter dúvida!

O livro bíblico que nós vamos começar a estudar vai lidar exatamente
com estas questões! É uma carta compostas por testes! E o objetivo desses
testes é, por um lado, fortalecer e dar firmeza ao verdadeiro crente, enquanto,
por outro lado, advertir e mostrar com clareza o juízo de Deus sobre a cabeça
do falso crente!

Os testes que o apóstolo João aplica envolvem basicamente duas áreas:


doutrina e moral. Para ser aprovado nos testes, deve-se tanto crer na doutrina
correta quanto viver conforme a Palavra de Deus! Estes são dois fundamentos
que sustentam a fé cristã autêntica! Se um cai, tudo vem abaixo!

Essas duas áreas são tão importantes para João que ele demonstra
explicitamente que está escrevendo com essa preocupação. No capítulo 2, verso
1 ele demonstra que escreveu preocupando-se com a moral cristã (se você crê
no Filho de Deus, você não deve fugir do pecado). Já no capítulo 5, verso 13, ele
demonstra que escreveu com uma outra preocupação: a doutrina (se você crê
no nome do Filho de Deus, você tem a vida eterna). Portanto, o propósito de
João com os testes da moral e da doutrina é confirmar os verdadeiros crentes
em Cristo Jesus.

Agora, eu estou dizendo que essa é uma carta do apóstolo João, mas na
verdade, a carta não menciona o seu autor! Essa carta e a carta aos Hebreus são
as duas cartas do NT que não possuem indicação de quem as escreveu. Na carta
aos Hebreus, isso se tornou bem problemático porque, até hoje, não há
consenso sobre o seu autor (nós falamos sempre ‘o autor de Hebreus’ porque
não se sabe quem é). No entanto, na 1ª carta de João, a falta do remetente não
causou tantos problemas. E por dois motivos:

2
Primeiro pela similaridade do vocabulário dessa carta com o Evangelho
de João. Vejam como esses 4 versículos que nós lemos se assemelham a
introdução do Evangelho de João.

Nessa carta, João chama Jesus de Verbo da vida (1.1); no Evangelho,


Jesus é o Verbo no qual a vida estava nele (1.1,4). Na carta, Jesus é preexistente
a tudo. Ele existe ‘no princípio’(1.1); no Evangelho, temos a mesma informação
– ‘no princípio era o Verbo’. Na carta, a vida eterna, que é Jesus estava no
princípio com o Pai (1.2); no Evangelho, o Verbo estava com Deus (1.1). Na
carta, ele diz que a vida se manifestou e eles viram a sua glória (1.2); no
Evangelho, ele se fez carne e habitou entre nós e eles viram a sua glória (1.14).

Perceberam a semelhança? E há muitas outras semelhanças que serão


demonstradas nas exposições, se elas foram relevantes para a mensagem!
(Como o uso constante de termos como ‘luz e trevas’, por exemplo)

A segunda evidência da autoria joanina é o testemunho dos Pais da


Igreja: Policarpo, Papias, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Cipriano e Eusébio
dão testemunho eloquente que o apóstolo João foi o autor desta carta.

Portanto, a ausência do autor (ou do remetente) na carta de João não


causou muitos problemas devido a essas evidências citadas!

Agora, como se não bastasse a falta de remetente, nós temos também a


falta dos destinatários. A carta também não menciona para quem ela foi escrita.
E isso pode indicar que a intenção original realmente não era nenhuma igreja
específica, mas um grupo de igrejas que estavam sendo ameaças pelo mesmo
problema. Sem um destinatário específico, essa carta, provavelmente circulou
entre várias igrejas, sendo lida e obedecida por todos que a ouvissem!

E qual era o problema que essas igrejas estavam enfrentando e que


motivou a escrita do apóstolo João?

3
Bem, a grande maioria dos comentaristas acredita que João está
combatendo uma heresia que estava começando a mostrar as suas garras na
sua época, mas que no século 2 conseguiu se tornar um grande empecilho para
a fé cristã autêntica: é a heresia do gnosticismo.

Quando João escreveu a sua carta, não havia ainda um movimento


gnóstico organizado e bem definido, mas as ideias básicas desse movimento já
faziam parte da crença de muitas pessoas que se converteram ao cristianismo.

Desta forma, o que alguns tentaram fazer foi a união das teorias
gnósticas com a fé cristã, gerando ensinos tão absurdos que o apóstolo João
denominou os pregadores desses ensinos de “anticristos” (alguém que está
contra Cristo ou quer se colocar no lugar dele), tal era a perversidade do que
estava sendo ensinado.

A doutrina básica desse gnosticismo incipiente (inicial) é que a matéria é


totalmente má e o que realmente importa é o espírito porque ele é totalmente
bom! Esse ensino é chamado de dualismo. Portanto salvação na perspectiva
gnóstica consistia na alma (espírito) fugir da prisão que é o corpo (matéria), e
isso através de um conhecimento secreto e especial.

Então, na visão gnóstica, o que acontece conosco hoje? A nossa parte


boa (o espírito) está aprisionado por uma parte má (a nossa carne) e salvação
seria a fuga do espírito dessa prisão através de um conhecimento secreto e
especial que (detalhe!) nem mesmo os apóstolos possuíam! Esse conhecimento
era a “gnose”, por isso o nome “gnóstico” ou “gnosticismo”.

Agora, vejam o estrago que isso causou para fé cristã:

Se a matéria é má, Jesus, na verdade, não se encarnou! Ele não pode ter
assumido carne humana, porque isso significaria que Ele, um ser totalmente
puro e bom (por ser espírito), teria se submetido à prisão de algo totalmente
mal que é a matéria, a carne humana!

4
Então, eles explicavam que quando Jesus veio ao mundo, ele apenas
“aparentou” estar em um corpo. Na verdade, ele nunca possuiu um corpo de
carne e osso! Aquilo aparentava ser um corpo humano, mas na verdade não
era! Esse ensino tem o nome de docetismo!

Irmãos, esse é um desvio sério! Porque se Jesus não veio em carne real,
ele não passou por uma morte real, e não teve uma ressurreição real, e desta
forma, nós não tivemos uma expiação real, e não estamos realmente
justificados, e o que estamos vivendo, então, é pura ilusão, porque nós ainda
estamos sob a condenação dos nossos pecados! Vejam que coisa terrível!

Agora, a resposta de João é esmagadora! Ele testemunha que ele tocou


em Jesus (1.1) e diz sem rodeios que se alguém nega a encarnação de Cristo,
esse tal não procede de Deus e tem em si o espírito do anticristo (4.2-3).

Outro estrago para a fé cristã: Se o que importa é o espírito, porque nos


preocuparmos com as práticas do corpo? Porque preocuparmos com santidade?
Viver uma vida de pecado em nada influencia o nosso espírito! São coisas
distintas! Podemos dar vazão aos prazeres da carne porque isso em nada
atrapalha a libertação e salvação do espírito. Ou seja, o gnosticismo trazia um
estrago imenso para a santificação do cristão.

Como resposta a isso, João responde que Deus é luz, e não há nele treva
alguma (1.5). Luz e trevas, nesse contexto, significam santidade e pecado.
Portanto, se dissermos que temos comunhão com Deus e andamos nas trevas
(ou no pecado), mentimos! (1.6). Ele também diz que quem vive pecando não
permanece e nem conhece a Deus (3.6). Aliás, João vai além: Ele diz que quem
vive na prática do pecado é filho do diabo (3.8).

Outra consequência desastrosa para a fé cristã: Se a salvação é através


de um conhecimento secreto e especial que nem mesmo os apóstolos
possuíram, então a mensagem do Evangelho está incompleta!

5
O que Jesus mandou os seus discípulos pregarem (o arrependimento e a
fé Nele para o perdão dos pecados) não era suficiente. Outro problema é que o
Espírito Santo não é o transmissor de toda a verdade! Os cristãos precisam de
uma verdade que vem por outros meios!

Como resposta a essa perversão, João usa 25 vezes o verbo “saber” e 15


vezes um verbo correlato ao verbo “saber”. E ele faz isso para garantir aos
crentes que o que eles precisam saber para serem salvos eles já sabem! Não
lhes falta absolutamente nada! João lhes diz que quanto a salvação, eles não
precisam que ninguém os ensine (2.27).

E vejam como ele termina a sua carta demonstrando a certeza do


conhecimento cristão (5.20). Ou seja, Jesus veio e nos deu o entendimento que
precisamos para reconhecer o que é verdadeiro, e assim todos nós estamos: no
verdadeiro! Não nos falta nenhuma informação para obtermos a verdade!

É claro, irmãos, que as teorias gnósticas causaram outros estragos,


como uma visão distorcida da Criação; uma visão distorcida das duas naturezas
de Cristo; e outras que, no momento, não vem ao caso expor!

Agora, talvez você esteja pensando assim: Bem, irmão, é muito


interessante isso tudo, mas não existem gnósticos hoje, existem? Esse problema
de ‘matéria má e espírito bom’ não é um problema enfrentado pela igreja hoje,
não é? Bem, ideias gnósticas ainda existem em algumas religiões. Por exemplo,
a teosofia contém ideias gnósticas em seu ensino. Mas, realmente, essas ideias
não são consideradas ameaças sérias para a igreja cristã nestes dias!

No entanto, os testes e os critérios apresentados pelo apóstolo João


para combater essa heresia são muito importantes para a igreja em qualquer
situação que ela esteja vivendo! Por meio destes ‘testes’, João traça uma linha
entre o verdadeiro e o falso de modo que os seus destinatários poderiam sem
dificuldades posicionarem quem quer que fosse no campo correspondente.

6
Essa é uma carta que coloca diante do leitor a verdade e o erro, dizendo
pra ele abertamente: se você faz isso, você está andando com Deus, mas se
você faz o oposto, você está afastado de Deus. E pronto! Os testes de João não
permitem mais do que duas respostas. De acordo com estes testes ou alguém
tem Deus ou não tem; ou conhece a Deus ou não conhece; ou nasceu de Deus
ou não nasceu de Deus; ou tem vida ou permanece na morte; ou caminha na
escuridão ou na luz; ou são filhos de Deus ou filhos do diabo. Não há meio
termo nos seus testes!

Essa característica da carta demanda um cuidado na interpretação dos


textos, mas ela está bem alinhada com a realidade de que não existe alguém
que, mais ou menos, nasceu de novo! Ou ele nasceu de novo ou ainda está
morto em seus pecados! É dessa forma que João escreve! E é dessa forma que
ele quer dar certeza e alívio para os crentes verdadeiros e demonstrar com
clareza quem são os falsos mestres dos quais devemos nos afastar
completamente!

A intenção principal de João é que os cristãos tenham certeza de que


estão salvos e que, de fato, conhecem a Deus. A apóstolo quer que, diante dos
testes, os crentes tenham a certeza que eles têm a vida eterna! Mas, é óbvio,
que essa certeza só se concretizará se eles passarem nos testes. Por isso, muitos
consideram que essa é uma carta de autoexame!

Nós devemos ler os testes propostos pelo apóstolo e avaliarmos


seriamente as nossas suas vidas de forma que, por uma lado, nenhum de nós
esteja dentre os “falsamente imunizados”, mas que, por outro lado, uma vez
aprovados nos testes, confiemos e descansemos que os efeitos da vacina, que é
o sangue de Cristo, realmente nos trouxe a cura e nos destinou para a vida
eterna!

Que Deus nos abençoe no estudo dessa carta e que nossa jornada seja
feita com espírito de humildade, oração e quebrantamento.

7
8

Você também pode gostar